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Bioquímica dos Alimentos Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Anderson Sena Barnabe Revisão Textual: Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos Bioquímica de Proteínas • Proteínas. • Apresentar aos alunos as bases de conhecimento técnico a respeito das características das estruturas proteicas, seus elementos formadores e constituição em alimentos. OBJETIVOS DE APRENDIZADO Bioquímica de Proteínas Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Bioquímica de Proteínas Proteínas Conceito Os seres vivos são constituídos por macromoléculas responsáveis pela maioria das funções vitais. Uma delas é a proteína, nome derivado do grego “protos”, que significa a “mais importante” ou “a primeira” (NELSON & COX, 2014). As proteínas são macromoléculas de alto peso molecular, polímeros de compos- tos orgânicos simples, os α-aminoácidos. Aminoácidos Os aminoácidos são formados por um grupo amino e o radical R ligados ao pri- meiro átomo de carbono, em relação ao grupo ácido carboxílico. Essa estrutura é comum a todos os tipos de α-aminoácidos, exceto a prolina. O grupo R, ou cadeia lateral (roxo), ligado ao carbono α (cinza) é diferente em cada aminoácido (Figura 1). Um mesmo aminoácido pode aparecer várias vezes na mesma molécula. Parte des- tes é essencial (precisam ser obtidos da alimentação), a partir dos quais o organismo pode sintetizar todos os demais (aminoácidos naturais). Segundo Nelson e Cox (2014), esta grande variabilidade proporciona arranjos in- contáveis entre as cadeias peptídicas em sua estrutura tridimensional, bem como na função da proteína, uma vez que os diferentes aminoácidos possuem diferentes pro- priedades químicas, que, em conjunto, serão responsáveis pela função da proteína. Vinte aminoácidos diferentes são comumente encontrados em proteínas (Figura 2). COO− R C�H3N H+ Figura 1 – Estrutura geral de um aminoácido 8 9 Figura 2 – Fórmulas estruturais de 20 aminoácidos encontrados em proteínas Fonte: Marchini et. al, 2016 A anemia falciforme é uma doença caracterizada pela forma em foice dos eri- trócitos do paciente, resultante da substituição do glutamato, um aminoácido com grupo R polar, pelo aminoácido valina, com grupo R apolar, na posição da subuni- dade β da hemoglobina. Além de atuar como subunidades estruturadoras das proteínas, os próprios ami- noácidos também atuam como precursores de coenzimas, hormônios, ácidos nu- cleicos e outras moléculas essenciais para o funcionamento do organismo. Aliás, dos 20 aminoácidos comuns, as proteínas podem conter resíduos criados por modificações de resíduos comuns já incorporados em um polipeptídeo. Entre esses aminoácidos incomuns, estão a 4-hidroxiprolina, encontrada em proteínas da parede celular de células vegetais e no colágeno (proteína fibrosa de tecidos conectivos), e a 5-hidroxilisina, também encontrada no colágeno. A N-metil-lisina é um constituinte da miosina e o y-carboxiglutamato encontra-se na proteína de 9 UNIDADE Bioquímica de Proteínas coagulação pro-trombina e em outras proteínas que se ligam ao Ca+ como parte de suas funções biológicas (Figura 3). Ainda existem a desmosina, encontrada na proteína fibrosa elástica, e a selenocistina, um resíduo raro de aminoácido que é introduzido durante a síntese proteica (MOTTA, 2011). A adição de grupos fosforil, metil, acetil, adenilil e outros a resíduos de aminoá- cidos específicos pode aumentar ou diminuir a atividade de uma proteína. Segundo Motta (2011), cerca de 300 aminoácidos adicionais são descritos na literatura, estes apresentam várias funções e nem todos são constituintes de pro- teínas. A ornitina e a citrulina são um exemplo, pois o primeiro é um metabólito essencial na biossíntese da arginina e o outro no ciclo da ureia (Figura 4). Figura 3 – Aminoácidos especiais I Fonte: Motta, 2011 Figura 4 – Aminoácidos especiais II Fonte: Motta, 2011 Aminoácidos funcionando como Ácidos e Bases Os aminoácidos, em solução aquosa, contêm grupos α-carboxila fracamente ácidos e grupos a-amino fracamente básicos. Além disso, cada grupo apresenta em sua cadeia lateral um grupo ionizável (Marchini et al., 2016). 10 11 Para cada aminoácido, existe determinado valor de pH em que a forma dipolar predomina e as quantidades das formas catiônicas e aniônicas são iguais. Esse pH é chamado de ponto isoelétrico (pI) e representa a média aritmética dos valores de pKα1 (correspondentes ao grupo –COOH) e pKα2 (correspondentes ao grupo a-NH3+) (Tabela 1). Tabela 1 – Valores de pKα e ponto isoelétrico para os 20 aminoácidos comumente encontrados em proteínas Aminoácidos pKα1 (α-COOH) pKα2 (α-ΝH3 +) pKα3 (Grupo R) pI Glicina 2,3 9,6 6,0 Alanina 2,3 9,7 6,0 Valina 2,3 9,6 6,0 Leucina 2,4 9,6 6,0 Isoleucina 2,4 9,7 6,1 Fenilalanina 1,8 9,1 5,5 Asparagina 2,0 8,8 5,4 Glutamina 2,2 9,1 5,7 Triptofano 2,4 9,4 5,9 Prolina 2,0 10,6 6,3 Serina 2,2 9,2 5,7 Treonina 2,6 10,4 6,5 Tirosina 2,2 9,1 10,1 5,7 Cisteína 1,7 10,8 8,3 5,0 Metionina 2,3 9,2 5,8 Ácido aspártico* 2,1 9,8 3,9 3,0 Ácido glutâmico* 2,2 9,7 4,3 3,2 Lisina** 2,2 9,0 10,5 9,8 Arginina** 2,2 9,0 12,5 10,8 Histidina** 1,8 9,2 6,0 7,6 *Aminoácido ácido. ** Aminoácido básico. Fonte: Marchini et. al, 2016 Estes íons dipolares são também chamados de zwitterions, possuem caráter áci- do e básico ao mesmo tempo, predominam no ponto isoelétrico (pHi) (Figura 5). A forma catiônica predominará em pH abaixo do pHi, enquanto que a forma ani- ônica predominará em pH acima do pHi, uma vez que abaixo ou acima do pHi haverá deficiência ou excesso de H+ na solução respectivamente, o que varia a carga elétrica, pois o grupamento COO- receberá H+ e o NH3+ doará seu H+ (Figura 6). O valor do pHi varia de acordo com o aminoácido e corresponde a um valor que ser- ve como identificador classificador dos aminoácidos de acordo com a variação do pH. Pela técnica de eletroforese, os aminoácidos podem ser separados de acordo com seu pI. 11 UNIDADE Bioquímica de Proteínas Figura 5 – Os íons zwitterions e sua relação com pH Fonte: Marchini et. al, 2016 Figura 6 – Íons doadores e receptores Fonte: Marchini et. al, 2016 Para relacionar pH, Ka e as concentrações de ácido e base conjugados,é usada a equação de Herdenson-Hasselbalch, que demonstra a dissolução de um ácido fraco e que determina sua capacidade de manter um pH dentro de variações acei- táveis (MOTTA, 2011). Classificou-se, assim, uma solução tampão, ou seja, uma solução constituída de um ácido fraco e sua base conjugada que segura variações de pH quando adicionados ácidos ou bases. Além do pH e do Ka, há uma terceira constante, o pKa, que determina a força de um ácido pelo logaritmo negativo do Ka. Com a equação de Herdenson-Hasselbalch, observa-se o ponto isoelétrico, quando as concentrações de ácido e sua base conjugada são iguais, sendo 50% do ácido e 50% da base, o pH e o pKa possuem o mesmo valor. Assim, consegue-se maior eficiência dessa solução tampão, determinada por uma curva de titulação em gráfico pH x concentração de OH- (Figura 7). Figura 7 – Curva de titulação da glicina Fonte: Motta, 2011 12 13 Em sistemas biológicos, a existência de soluções tamponamento são fundamen- tais para manter o metabolismo em equilíbrio. Muitas moléculas são extremamente sensíveis às variações de pH, sofrendo mudanças significativas quando se está mui- to acima ou abaixo de seu pH ótimo. Fluidos como o sangue e o citoplasma têm um pH definido, geralmente em torno de 7,4, e permanecem constantes graças à presença de diversas substâncias tamponantes dissolvidas. Macromoléculas como as proteínas podem desnaturar, perdendo sua função quando os valores de pH se alteram drasticamente, provocando um desequilíbrio ao metabolismo. Ligação Peptídica Nas moléculas proteicas, os aminoácidos se ligam covalentemente formando lon- gas cadeias não ramificadas, através de ligações peptídicas envolvendo o radical ami- no (NH2) de um aminoácido e o radical ácido carboxílico (-COOH) de um outro, ha- vendo a liberação de uma molécula de água durante a reação, segundo Motta (2011) e como podemos observar na Figura 8. Figura 8 – Ligação peptídica Fonte: Motta, 2011 As proteínas apresentam funções como enzimas, transportadores de membra- na, moléculas de transporte do sangue, matrizes intracelulares, cabelo, unhas, albu- mina de soro, queratina e colágeno, assim como muitos hormônios reguladores dos processos fisiológicos, são todas moléculas proteicas. Assim, uma oferta adequada de proteínas na dieta é essencial para manter não apenas a integridade, mas tam- bém a função celular, para saúde e reprodução (IOM, 2005). Diante de tamanha importância, é fundamental que as proteínas sejam obtidas por meio de uma boa alimentação. Entre os alimentos que se destacam pela grande quantidade desse nutriente, podemos citar as carnes, leite, ovos, cereais integrais, feijão, legumes e vegetais folhosos. 13 UNIDADE Bioquímica de Proteínas Estruturas das Proteínas Motta (2011) aborda que as proteínas podem se organizar de forma diferente e, assim, podem ser divididas em 4 estruturas, sendo essas primárias, secundárias, terciárias e quaternárias (Figura 9). Figura 9 – Estrutura de proteínas Fonte: Motta, 2011 Estrutura Primária A estrutura primária de uma proteína é dada pela sequência de aminoácidos e li- gações peptídicas do esqueleto covalente da molécula. Este é o nível estrutural mais simples e mais importante, pois dele deriva todo o arranjo espacial da molécula. A estrutura primária pode variar em três aspectos, definidos pela informação genética da célula, sendo número de aminoácidos (aa), sequência de aa e natureza dos aa. A estrutura primária da proteína resulta em uma longa cadeia de aminoácidos semelhante a um “colar de contas”, com uma extremidade amino terminal e uma extremidade carboxi terminal. A estrutura primária de uma proteína é destruída por hidrólise química ou enzimática das ligações peptídicas, com liberação de pep- tídeos menores e aminoácidos livres. Esta sequência deve ser fundamentalmente mantida, sob o peso de a proteína perder sua função, como é o caso da presença de valina em vez de glutamato no sexto aminoácido da cadeia polipeptídica da hemoglobina, que causa a doença genética denominada de anemia falciforme (Figura 10). Os eritrócitos, cujo conteúdo predominante é a hemoglobina S, assumem, em condições de hipóxia, forma semelhante à de uma foice, daí o nome falciforme, decorrente da polimerização da hemoglobina S. As hemácias em forma de foice não circulam adequadamente na microcircula- ção, resultando tanto em obstrução do fluxo sanguíneo capilar como em sua pró- pria destruição precoce (ZAGO et al., 2001). 14 15 Figura 10 – Hemácias normais e falciformes Fonte: Adaptado de Zago, 2001 Estrutura Secundária Refere-se ao arranjo espacial dos radicais de aminoácidos que estão perto uns dos outros na sequência linear. Algumas dessas relações estéricas são de um tipo regular, dando origem a uma estrutura periódica. A alfa-hélice e a fita beta são elementos da estrutura secundária. A estrutura supersecundária refere-se a aglomerados de estrutura secundária. Por exemplo, uma fita beta separada de uma outra fita beta por uma alfa-hélice é encontrada em muitas proteínas. Tal padrão é chamado de unidade beta-alfa-beta. É válido considerar as estruturas supersecundárias como intermediárias entre estru- turas secundária e terciária. Estrutura Terciária Corresponde às relações da cadeia polipeptídica no sentido de estabilizar a con- formação tridimensional. Os arranjos espaciais de aminoácidos estão bem longe na sequência linear. As proteínas que contêm mais de uma cadeia polipeptídica exibem mais de um nível de organização estrutural. Cada cadeia polipeptídica em tal proteína é chamada de uma subunidade. Estrutura Quaternária É o arranjo espacial entre cadeias peptídicas das proteínas oligoméricas, definido por interações não covalentes entre as cadeias peptídicas e outros compostos de origem não proteica que, frequentemente, fazem parte da proteína. A estrutura quaternária, portanto, diz respeito ao arranjo não covalente formado por várias ca- deias polipeptídicas. Por exemplo, na hemoglobina (constituída de quatro cadeias), as interfaces das subunidades participam da transmissão de informação entre os centros de ligação para O2, CO2 e H + (Figura 11). A hemoglobina é a principal 15 UNIDADE Bioquímica de Proteínas proteína solúvel que se encontra presente nos eritrócitos do sangue de diversos organismos (representa cerca de 75% da proteína total do sangue) e cuja capacida- de de ligação a gases é conhecida. É responsável pelo transporte do oxigénio, dos pulmões até os tecidos, e parte do dióxido de carbono no sentido inverso. A versa- tilidade da hemoglobina reside na capacidade para se ligar e desligar facilmente ao O2, conforme varie a pressão deste gás nos tecidos. Figura 11 – Estrutura da hemoglobina – A - demonstra a cadeia polipeptídica; e B - mostra as hélices Fonte: Champe, 2006 Nas moléculas de anticorpos ou imunoglobulinas, o centro de combinação ao an- tígeno é formado de segmentos de dois tipos diferentes de cadeias. As imunoglobu- linas são glicoproteínas produzidas pelos plasmócitos em resposta a um imunógeno. As imunoglobulinas derivam seu nome da descoberta de que elas migram com as proteínas globulares quando soro contendo anticorpos é colocado em um campo elétrico. São específicas e apresentam papel crucial na imunidade adaptativa. Classificação de Proteínas quanto à forma As proteínas podem ser classificadas em globulares e fibrosas. Proteínas Globulares As proteínas globulares apresentam uma ou mais cadeias polipeptídicas. Com forma final esférica e compacta. São bastante solúveis em água e possuem funções diversificadas. As proteínas globulares incluem: enzimas, proteínas de transporte, alguns hormônios peptídicos e imunoglobulinas. Exemplos: hemoglobina e mioglo- bina (Figura 12). 16 17 Figura 12 – Arranjo de proteínas globulares Fonte: Nelson & Cox, 2011 Proteínas Fibrosas As proteínas fibrosas apresentam uma ou mais cadeias polipeptídicas. Com for- mato cilíndrico, apresentam baixa solubilidade em água e possuemfunções estru- turais. Exemplos: colágeno e queratina. O colágeno é uma proteína de origem animal, cuja função é contribuir com a integridade estrutural dos tecidos. Contém cadeias peptídicas dos aminoácidos glicina, prolina, lisina, hidroxilisina, hidroxiprolina e alanina. Essas cadeias são or- ganizadas de forma paralela a um eixo, formando as fibras de colágeno, que pro- porcionam resistência e elasticidade à estrutura presente (Figura 13). A variação na sequência de aminoácidos dessas cadeias levou à descrição de 28 moléculas de colágeno, as quais se apresentam como moléculas individuais ou associadas em redes, fibrilas ou até fibras. Figura 13 – Estrutura do colágeno: a) cadeia do colágeno com estrutura secundária em repetição; b) modelo de volume atômico da mesma cadeia; c) três dessas hélices se enrolam no sentido horário; d) a super-hélice de colágeno formada por três cadeias mostrada a partir de uma das extremidades Fonte: Nelson & Cox, 2014 17 UNIDADE Bioquímica de Proteínas O colágeno é encontrado nos tecidos conjuntivos do corpo, tais como os ossos, tendões, cartilagens, veias, pele, dentes, bem como nos músculos e na camada córnea dos olhos. Porém, com o início da fase adulta, a deficiência de colágeno co- meça a ser notada, pois o organismo diminui sua produção, sendo necessária a sua suplementação. Assim, ele tem sido adicionado em suplementos alimentares e em produtos alimentícios, como iogurtes, embutidos (salsicha e presunto), chás, sucos e em sobremesas de fácil preparo, tais como gelatina, pudins e maria-mole. Esses alimentos adicionados de colágeno podem ser utilizados em tratamentos para me- lhorar a elasticidade e firmeza da pele e prevenção de doenças, como a osteoartrite, osteoporose, hipertensão e úlcera gástrica (SILVA & PENNA, 2012). O ácido ascórbico (vitamina C) é importante para a síntese do colágeno. Ele é cofator das enzimas prolil-hidroxilase e lisil-hidroxilase. Se não houver a hidroxila- ção da prolina, não há formação da tripla hélice da molécula do colágeno, e as ca- deias são degradadas. As manifestações clínicas do escorbuto incluem hemorragias pelo rompimento dos vasos sanguíneos, retardo na cicatrização de feridas e perda dos dentes, porque o ligamento periodontal, que fixa o dente no osso alveolar, tem uma renovação rápida de colágeno (JUNQUEIRA & CARNEIRO, 2017). Desnaturação Proteica É o processo pelo qual as proteínas apresentam modificações físicas em sua conformação tridimensional e em sua função fisiológica (Figura 14). Desta forma, a perda da configuração espacial modifica completamente sua função, podendo até significar a destruição da proteína. Isso ocorre quando a proteína é exposta a pH extremo ou temperaturas elevadas, mesmo por períodos curtos. Outros agentes desnaturantes são: solvente orgânico, agitação mecânica, ácidos ou bases fortes, detergentes ou íons e metais pesados. Na desnaturação, a sequência de aminoácidos não se altera e nenhuma ligação peptídica é rompida. Por isso, é um processo reversível quando cessa a causa da variação de temperatura e/ou pH. Este processo de renaturação, entretanto, não é visualizado em condições experimentais extremas, onde a desnaturação protei- ca é irreversível. Figura 14 – Desnaturação Proteica Fonte: Adaptado de Getty Images 18 19 Enzimas A maioria das reações do organismo é mediada por enzimas, as quais são prote- ínas catalisadoras que aumentam a velocidade das reações sem sofrerem alteração durante o processo. As enzimas são substâncias sólidas, mas difíceis de serem cris- talizadas devido à complexidade de suas estruturas químicas. Uma reação química pode ser termodinamicamente viável ou espontânea, con- teúdo energético dos produtos menor do que o dos reagentes, mas ter velocidade igual a zero ou próxima a zero. A enzima permite que essas reações ocorram em velocidade muito rápida e a tempo reduzido em segundos ou milissegundos. Elas são altamente específicas para determinada reação e substrato (Figura 15). Uma reação enzimática pode ser expressa pela seguinte equação: E + S [ES] E + P↔ ↔ Onde: • E = Enzima; • S = Substrato; • P = Produto; • ES = Complexo enzima substrato. Substrato entrando no centro activo da enzima Complexo enzima/substrato Complexo enzima/produto Produtos deizando o centro activo da enzima Substrato Centro activo A enzima altera ligeiramente a sua forma à medida que o substrato se liga Produtos Figura 15 – Interação enzima e substrato Fonte: Motta, 2011 A velocidade de uma reação enzimática depende das concentrações de enzima e de substrato. A velocidade inicial aumenta com o incremento na concentração do substrato, quando é mantida constante a concentração da enzima. Esse aumento continua até o ponto em que se obtém a velocidade máxima, onde se tem a satura- ção da enzima. A partir desse ponto, a velocidade da reação é mantida constante (Figura 16). 19 UNIDADE Bioquímica de Proteínas Figura 16 – Gráfi co de Velocidade enzimática versus concentração de substrato Fonte: Motta, 2011 A temperatura e o pH também são fatores que influenciam na atividade ade- quada da enzima. Variações de temperatura e pH podem provocar a desnaturação (Figura 17). Figura 17 – Gráfi co de Atividade enzimática versus temperatura e pH Fonte: Motta, 2011 As enzimas são classificadas de acordo com o tipo de reação que catalisam. São descritas seis classes principais: oxirredutases, transferases, hidrolases, liases, isomerases e ligases (Tabela 2). Tabela 2 – Classes de enzimas e suas atuações Classifi cação Tipo de reação que catalisa Exemplos Modo de atuação Oxirredutases Reações de óxido-redução Desidrogenaseoxidase Remove átomos de hidrogênio Adiciona átomos de oxigênio Transferases Transferências de grupos funcionais Metiltransferase Transfere grupos metil (-CH3) Hidrolases Reações de hidrólise LipasesProteases Quebra lipídios Quebra proteínas Liases Quebra de ligações duplas Descarboxilase Remove CO2 Isomerases Isomerizações Cis-trans Isomerase Converte formas cis e trans Ligases Formação de ligações Sintetase Combina dois grupos Fonte: Motta, 2011 20 21 Enzimas e Alimentos As reações enzimáticas são muito importantes nos alimentos, dependendo delas não só a formação de compostos altamente desejáveis, como também podem ter consequências indesejáveis. As reações enzimáticas ocorrem não somente no alimento natural, mas também durante o seu processamento e armazenamento. As oxidoredutases, por exemplo, são enzimas relacionadas com as reações de óxido-redução em sistemas biológicos e, portanto, com os processos de respiração e fermentação. Estão incluídas nesta classe não somente as hidrogenases e oxida- ses, mas também as peroxidases, que usam o peróxido de hidrogênio como agente oxidante, as hidroxilases, que introduzem hidroxilas em moléculas insaturadas, e as oxigenases, que oxidam o substrato, a partir de 02. As esterases estão envolvidas na hidrólise de acoplamentos de éster de vários tipos. Os produtos formados são ácidos e álcool. Estas enzimas podem hidrolisar triglicérides e incluem várias lipases; por exemplo, fosfolipídios são hidrolisados através de fosfolipases e ésteres de colesterol são hidrolisados através de esterase de colesterol. O carboxilesterase são enzimas que hidrolisam triglicérides, como o tributirin. Podem ser distinguidos das lipases, porque hidrolisam substratos solúveis, considerando que as lipases só agem nas interfaces de lipídio de água de emul- sões. Assim, qualquer condição que resulta no aumento da área de superfície da interface do lipídio de água aumentará a atividade da enzima. Esta é a razão pela qual a atividade da lipase é muito maior na homogeneização (não pasteurização) do leite do que no produto não homogeneizado. A maioria das enzimas lipolíticas são específicas para o ácido ou o componente de álcool do substrato e, no caso de ésteres de álcoois polihídricos, pode haver também uma especificidade posicional. As lipases podemcausar desperdício de alimentos, porque os ácidos gordurosos livres provocam o ranço. As fontes tradicionais de enzimas para processos alimentícios são os tecidos de plantas e animais (Tabela 3). Tabela 3 – Enzimas proveniBentes de animais e plantas usadas na fabricação de alimentos Enzima Fonte Ação nos Alimentos Aplicação dos Alimentos α-amilase Sementes de cereais(trigo, cevada) Hidrólise do amido em polissacarídeos. Panificação; malteação. α-amilase Batata doce Hidrólise do amoido em maltose pura. Produção de xaropes de alta maltose. Papaína Látex dos frutosverdes de papaia Hidrólise de proteínas em alimentos e bebidas. Tenderização de carnes; prevenção de névoa na cerveja. Bromelina Suco de Abacaxi e caule Hidrólise de proteínas muscularese do tecido conjuntivo. Tenderização de carne. Ficina Látex de Figueiras Tropicais Idem a Bromelina. Idem a Bromelina e a papaína, mas não amplamente utilizado devido ao custo. 21 UNIDADE Bioquímica de Proteínas Enzima Fonte Ação nos Alimentos Aplicação dos Alimentos Quimosina (coalho) Abomaso de Bezerros Hidrólise da Kappa-caseína. Coagulação do leite em queijos. Pepsina Abomaso de Bovinos Como a quimosina + hidrólise da caseína em geral, em queijos. Usualmente presente com quimosina como parte do coalho. Lipase/Esterase Esôfago de caprinos e ovinos; abomaso de bezerro; pâncreas de porco Hidrólise de Triglicerídeos (gordura). Realce do sabor em queijos; modificação da função de gordura por interesterificação. Lipoxigenase Soja Oxidação de Ácidos Graxos, insaturados na farinha. Melhora a massa do pão. Lisozima Clara de ovo de galinha Hidrólise de polissacarídeos. Prevenção em queijos de media e longa duração dos riscos de estufamento tardio pela ação do Clostridium tyrobutyricum. Lactoperoxidase Soro de queijo; colostro bovino Oxidação do íon tiocianato para hipotiocianato bactericida. Esterilização a frio de leite. Fonte: Revista Food ingredientes Brasil. Enzimas e alimentos, 2011 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Princípios de Bioquímica de Lehninger NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6 ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Princípios de Bioquímica de Lehninger NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. Bioquímica Ilustrada de Harper RODWEL, W. V. et al. Bioquímica ilustrada de Harper. 29ª ed. Porto Alegre: Artemd, 2014, 168 p. Leitura Colágeno: Características Químicas e Propriedades Funcionais SILVA, T. F.; PENNA, A. L. B. Colágeno: Características Químicas e Propriedades Funcionais. Rev. Inst. Adolfo Lutz. 71(3):530-9, 2012. https://bit.ly/2Dy394F 23 UNIDADE Bioquímica de Proteínas Referências BERG, J. M.; STRYLER, L.; TYMOCZKO, J. L. Bioquímica. 7ª ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2014, 189 p. CHAMPE, P. C.; HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica Ilustrada. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, p. 1-9, 2009. FANI, M. (editor) Enzimas e Alimentos. Revista Food ingredientes Brasil. Dispo- nível em: <http://revista-fi.com.br/>. Acesso em: 12 nov. 2018. HORTON, R. H. et al. Princípios de bioquímica. 4ª ed. Pearson Educaction, 2008, p. 138. IOM - INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary references intakes for energy, carbohydrates, fiber, fat, fatty acids, cholesterol, protein and amino acids. Food and Nutrition Board. Institute of Medicine of the National Academies, 2005, p. 589–738. JUNQUEIRA, L. C; CARNEIRO, J. Histologia básica. 13ª ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 2017, p. 89. MARCHINI, J. S. et al. Aminoácidos. São Paulo: ILSI Brasil - International Life Sciences Institute do Brasil, 2016, p. 13-36. MOTTA, V. T. Bioquímica Clínica para Laboratório: Princípios e Interpretações. 5ª ed. Porto Alegre: Editora Médica Missau, 2009, 182 p. MOTTA, V. T. Bioquímica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2011, 122 p. MURRAY, R. K. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29ª ed. Rio de janeiro: Atheneu, 2012, p. 140 -151. NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 6 ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. NELSON, D. L; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. RODWEL, W. V. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 29ª ed. Porto Alegre: Artemd, 2014, 168 p. SILVA, T. F.; PENNA, A. L. B. Colágeno: Características Químicas e Propriedades Funcionais. Rev. Inst. Adolfo Lutz, 71(3):530-9, 2012. ZAGO, M. A.; FALCÃO, R. P.; PASQUINI, R. Hematologia: Fundamentos e Prática. 1ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2004, p. 289-307. 24
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