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APS-D REAIS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES
METROPOLITANAS UNIDAS-FMU
CURSO - DIREITO
APS-DIREITO CIVIL APL REAIS E PROP IN
 4º SEMESTRE
PROFESSOR MARCELO BARBARESCO
RA: 8538971
2233726
1643339
1853391
TURMA: 003204A01
São Paulo 2019
RECURSO ESPECIAL Nº 1.622.555 - MG (2015/0279732-8)
RELATOR: MINISTRO MARCO BUZZI R.P/ACÓRDÃO: MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE RECORRENTE: BANCO VOLKSWAGEN S.A
ADVOGADO: ANA LUIZA DURO KELLER - MG117879
NATHÁLIA PORTO FRÓES KASTRUP - RJ155144 RODRIGO
LELIS RIBEIRO LEITE - MG150292
MANOEL ARCANJO DAMA FILHO – MT004482N
RECORRIDO: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
ADVOGADO: SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M
1- Resumo dos fatos:
O recorrente BANCO VOLKSVAGEM S/A, interpõe recurso para reaver bem móvel tratando se de busca e apreensão ajuizada pela financeira em face do recorrido, sendo este havido em fiduciariamente. Entretanto, a parte recorrida estava em pendencia das 4 (quatro) últimas parcelas de (48) quarenta e oito. O magistrado julgou extinto o processo, sem resolução do mérito, por entender a autora carecedora da ação, haja vista que, 91,66% do contrato foi cumprido, assim sendo com base na boa fé objetiva e no que tange o enriquecimento sem causa a decisão da 4º Turma foi parcialmente equipada, decidindo tornar o conflito de forma satisfatória.
2- Resumo dos Argumentos:
· Banco Volkswagen S/A (recorrente): Asseverou em sua petição inicial que o demandado não realizou o pagamento das quatro últimas prestações vencidas com o montante de R$ 2.052,36 estando assim em mora, requereu o deferimento liminar de busca e apreensão do veículo, e se decorrido o prazo de cinco dias sem o pagamento integral que seja consolidado a propriedade e posse plena do bem no patrimônio do credor fiduciário.
· Magistrado (1º grau): Foi julgado improcedente e extinto o processo, sem a resolução do mérito por considerar a autora carecedora de ação, pois teria sido utilizada a satisfação de seu crédito a via inadequada, porque desautoriza a rescisão do ajuste adimplido substancialmente o contrato 91,66%.
· TJ/MG: Manteve o mesmo entendimento adotado pelo juízo de 1º grau, em face de interpretação sistemática dos princípios da boa-fé objetiva, da função social dos contratos e da vedação ao enriquecimento sem causa, negou provimento motivo pelo qual o recorrente interpôs o presente recurso especial.
· Inadmitido o recurso na origem, adveio agravo, visando destrancar a insurgência tendo o signatário negado provimento, o colegiado da 4ª turma por maioria conheceu o agravo regimental e determinou a conversão do agravo em recurso especial, acolhendo questão de ordem suscitada pelo relator, afetou o julgamento na segunda seção.
· Exmo. Min. Marco Buzzi (Relator): Julgou o recurso especial entendendo pela prudência a teoria do adimplemento substancial da avença e o cumprimento equivalente a 91,66% do contrato, considerou ser medida desproporcional o ajuizamento de busca e apreensão e a resolução do contrato da forma proposta. Destacou que a dívida não quitada permanece, mas o meio da realização de crédito que optou o recorrente não se mostra apropriado com o inadimplemento e com os princípios da boa-fé objetiva e conservação dos contratos e reconheceu parcialmente a procedência do recurso especial, afastando a extinção do processo sem a resolução do mérito e o retorno aos autos a origem, facultando a parte autora à emenda da petição inicial para que a satisfação do crédito se faça pelo modo menos gravoso ao devedor.
· Exmo. Min. Marco Aurélio Bellizze: O voto proferido inaugurou a divergência, pois se afigura incompatível a utilização da ação de busca e apreensão em que o inadimplemento revela-se incontroverso – desimportando sua extensão se de pouca monta ou expressão considerável , quando a lei especial de regência condiciona a possibilidade de o bem ficar com o devedor fiduciário ao pagamento integral da dívida pendente, a aplicação da teria do adimplemento com argumento destinado a inviabilizar o manejo de ação de busca e apreensão desvirtua a própria finalidade da teoria em comento, pois é um incentivo ao inadimplemento das últimas parcelas contratuais, com o propósito de desestimular o credor. A aplicação da tese do adimplemento substancial na hipótese, a pretexto de proteger o consumidor, acaba, em última análise, a prejudicar o consumidor adimplente, que terá que assumir o ônus pelo enfraquecimento do instituto da alienação fiduciária, com o pagamento de juros mais elevados.
· DECISÃO FINAL – 2ª SEÇÃO 
Após o voto do Sr.Ministro Relator dando parcial provimento ao recurso especial e o voto divergente do Sr.Ministro Marco Aurélio Bellizze dando provimento ao recurso especial , a Seção por maioria deu provimento ao recurso especial para reconhecer a existência de interesse de agir do demandante em promover ação de busca e apreensão, independente de extensão da mora ou proporção do inadimplemento, dando prosseguimento do feito tal como proposto (busca e apreensão) nos termos do voto do Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze.
· Votaram com o Sr. Ministro Marco Aurélio Bellizze: os Srs. Antônio Carlos Ferreira Moura Ribeiro, Nancy Andrighi, Maria Isabel Gallotti e Ricardo Villas Bôas Cueva.
Vencidos os Srs. Ministros Marco Buzzi (Relator) e Luís Felipe Salomão. 
Ausente justificadamente, o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.
3- Descrição segundo posicionamento dos doutrinadores acerca dos argumentos discutidos nas decisões.
“A origem da teoria se encontra no Direito Costumeiro Inglês, especialmente na utilização do termo substancial performance, sendo mencionado como um dos seus primeiros casos a contenda Boone v. Eyre, de 1779. No Código Civil Italiano, há previsão expressa sobre o adimplemento substancial, no seu art. 1.455, segundo o qual o contrato não será resolvido se o inadimplemento de uma das partes tiver escassa importância, levando-se em conta o interesse da outra parte. A evidenciar o grande desafio da ideia de cumprimento relevante, deve-se analisá-lo casuisticamente, tendo em vista a finalidade econômico-social do contrato e dos negócios envolvidos. Sobre a análise dos critérios para a aplicação da teoria, elucida Anderson Schreiber que “o atual desafio da doutrina está em fixar parâmetros que permitam ao Poder Judiciário dizer, em cada caso, se o adimplemento afigura-se ou não significativo, substancial. À falta de suporte teórico, as cortes brasileiras têm se mostrado tímidas e invocado o adimplemento substancial apenas em abordagem quantitativa. A jurisprudência tem, assim, reconhecida a configuração de adimplemento substancial quando se verifica o cumprimento do contrato ‘com a falta apenas da última prestação’, ou o recebimento pelo credor de ‘16 das 18 parcelas do financiamento’, ou a ‘hipótese em que 94% do preço do negócio de promessa de compra e venda de imóvel encontrava-se satisfeito’. Em outros casos, a análise judicial tem descido mesmo a uma impressionante aferição percentual, declarando substancial o adimplemento nas hipóteses ‘em que a parcela contratual inadimplida representa apenas 8,33% do valor total das prestações devidas’, ou de pagamento ‘que representa 62,43% do preço contratado’.” (A boa­ fé objetiva e o adimplemento substancial. Direito contratual. Temas atuais. In: HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes e TARTUCE, Flávio. São Paulo: Método, 2008, p. 140).
“Segundo a estrutura peculiar do negócio fiduciário, uma vez concluída sua formalização, com o eventual registro da transmissão da propriedade, quando for o caso, o fiduciário passa a ser o titular pleno do bem ou do direito; incorporado ao seu patrimônio, o bem passa a constituir garantia dos seus credores. De outra parte, o fiduciante, depois de efetivada a transmissão, deixa de ser o titular do bem, passando a ter um direito de crédito contra o fiduciário.
Dada essa estruturação, a insolvência produz, logicamente, duas consequências básicas: se insolvente o fiduciário, o bem transmitido em fidúcia, que se encontrava no ativo do seu patrimônio, passará a integraro ativo da massa e será́ arrecadado, não se conferindo ao fiduciante outro direito senão o de credor, pois, em decorrência do pactum fiduciae, passou a ser titular apenas de um crédito contra o fiduciário; se insolvente o fiduciante, integraria a massa somente o direito de crédito que este tem contra o fiduciário.”
CHALHUB, Melhim Namem. Alienação Fiduciária (Negócio Fiduciário), Editora Forense, 2017, p.56.
4- Crítica dos argumentos da decisão: Concordando ou discordando e expondo as razões e fundamentando as razões pelas quais concorda ou discorda.
A decisão final proferida é, de fato, justa. Levando em consideração a espécie de contrato realizado entre as partes consensualmente, houve a instituição da alienação fiduciária sobre o bem e consequentemente a condição para a posse deste. 
Em relação ao adimplemento substancial, não existe previsão legal para tal e não pode se utilizar deste, tendo em vista a espécie de contrato realizado e que não se trata de uma dívida simples onde se pode realizar apenas uma ação de cobrança, isso altera toda a forma do contrato e cláusula específica ao qual a parte teve a oportunidade de conhecer e aceitar. O contratante teve conhecimento de como ocorreria o negócio jurídico, suas consequências e em questão, a condição para que de fato obtivesse a posse do bem. 
Portanto alegar a teoria em questão apenas geraria incontroversa com a própria e consequente não pode ser utilizada para justificar a não execução do bem. Existe dívida em aberto e que condiciona a posse do bem, então se torna cabível a execução de busca e apreensão do veículo até que o valor seja quitado e finalmente o bem móvel seja entregue com sua posse ao devedor. 
Não existe justificativa para alegar a execução como extravagante ou exagerada para o caso, pois se trata de cláusulas especificadas e com previsão legal, acordada pelas partes no momento de realização do negócio, a alienação fiduciária, e de fato o bem não pertence ao devedor até que a dívida seja paga em sua totalidade. 
Como citado pelo min. Marcos Aurélio Bellizze em sua decisão - utilizar-se da teoria do adimplemento substancial desvirtuaria a própria finalidade desta e geraria maiores consequências ruins, como o aumento nos inadimplementos contratuais das últimas parcelas e prejudicaria o devedor, ao qual pagaria maiores juros consequentemente pelo atraso. 
Em resumo, a decisão de dar provimento ao recurso especial de execução da busca e apreensão do bem encontra muito mais embasamento e previsão legal para tal em relação às alegações utilizadas como argumento pela parte contratante. Os julgamentos iniciais não configuram justificativas cabíveis para a extinção do processo sem resolução do mérito e menos ainda para a inexecução da dívida.
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