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Resumo NP1

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O surgimento da filosofia 
O nascimento do pensamento filosófico se deu na cidade de Mileto, com o primeiro filósofo, Tales de Mileto, concebido como uma cosmologia, ou seja, buscava o conhecimento racional da ordem do mundo entendido como natureza. É muito importante ressaltar que, em um período da história humana em que o saber filosófico e o saber científico eram quase a mesma coisa, é fundamental o conceito formulado pelos filósofos naturalistas como um marco central de evolução em relação ao conhecimento mítico. 
Para começar, o esforço de buscar elementos naturais para então formular teorias a respeito do universo está contido na base da formulação sobre os conceitos iniciais da sofisticada descoberta do átomo. Por isso, as abstrações de Anaximandro geram surpresa pela genialidade de lidar com um princípio natural como fonte de todos os demais processos naturais, revelando um nível de maturidade bastante desenvolvido.
Até mesmo sua teoria sobre a ordem do mundo, coordenada por opostos, encontra parâmetros com os princípios atuais da dialética. Também o equilíbrio pela relação entre os opostos possui uma equivalente no pensamento oriental nos princípios do Tao, que ainda hoje fundamenta a medicina tradicional oriental. Entre as principais características da cosmologia, está uma explicação racional e sistemática sobre a origem, a ordem e a transformação da natureza, da qual o homem faz parte, pois humanos e natureza, pela sua identidade, são explicados filosoficamente. Essa natureza é eterna e tudo se transforma em outra coisa sem jamais desaparecer. No entanto, não é possível afirmar que o mundo tenha vindo de algo, uma vez que se apresenta eternamente. Esse fundo de eternidade passa então a ser o elemento primordial da natureza e chama-se physis, sendo visível apenas ao pensamento e não aos nossos sentidos. Mesmo que physis seja imortal, é dele que vêm todos os seres mais variados e diferentes do mundo, que, ao contrário do seu princípio gerador, são mortais.
Outro princípio comum aos filósofos desse período é que todos os seres vivos, além de serem gerados e mortais, encontram-se em transformação constante, mudando em todos os sentidos; mas sem por isso perder sua forma e sua estabilidade. Esse processo todo é percebido como movimento, sendo denominado de devir, ou seja, a passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário não é caótica; mas obedece a leis determinadas pela physis ou pelo princípio fundamental do mundo. Os filósofos escolheram diferentes physis em seus modelos, isto é, cada um encontrou justificativas para alegar qual era o princípio eterno e imutável que está na origem da natureza e de suas transformações. Tales, por exemplo, dizia que o princípio era a água ou o úmido; já Anaximandro tomava o ilimitado sem qualidades definidas. Para Anaxímenes, era o ar ou o frio e Heráclito considerou o fogo. Já Leucipo e Demócrito acreditaram que eram os átomos.
Fazem parte da escola pitagórica muitos filósofos famosos, com destaque para Filolao, que dizem ser o primeiro a indicar o movimento da Terra ao redor do Sol, e Hicetas, que indicou o movimento da Terra em redor de seu eixo. Essa doutrina, reproduzida por Aristarco de Samios, no século III a.C., foi desacreditada depois pela autoridade de Aristóteles, e retomada e desenvolvida cientificamente por Copérnico, que confirmou ter sido inspirado por Hicetas, que conheceu nos escritos de Cícero.
Os primeiros filósofos gregos preocupavam-se apenas com o mundo exterior, em detrimento dos aspectos psicológicos e éticos dos problemas humanos. Até o surgimento de Sócrates, a filosofia grega não possuía um centro comum, sendo desenvolvida em diversas regiões, que dão origem ao termo “as quatro escolas”: Jônica em Mileto, Pitagórica ou Itálica, Eleática na Elea e Abderítica ou Atomística na Abdera.
Ainda nesse contexto, vale destacar que o tema central dos pré-socráticos, herança dos antigos mitos cosmológicos, foi o problema do mundo que os assombrava, em especial o movimento, compreendido a partir de um sentido amplo equivalente à mudança ou à variação. Com relação a esse questionamento, podemos separar a filosofia pré-socrática em três estudos: o primeiro como sendo o cosmológico dos jônicos e pitagóricos, o segundo como a antinomia do ser e devir de Heráclito e dos eleatas e, em terceiro, vêm as novas cosmologias mecanicistas dos atomistas.
Divisão da filosofia antiga
Primeiro período: estende-se desde o século VII até o ano de 450 a.C., de Tales até Sócrates. Período de formação ou juventude, já que é nele que se estuda principalmente a natureza, e passa a se chamar Cosmológico. 
Segundo período: estende-se desde 450 a.C. até o século III d.C., desde Sócrates até o ecletismo. Destaca-se pela perfeição ou pela virilidade da antiga filosofia. Como seu objetivo predominante é o homem, esse período recebe o nome de Antropológico. 
Terceiro período: estende-se desde o século I até o século VI d.C. e, durante três séculos, coincide com o período antropológico. Traz a decadência da filosofia grega, e seu objetivo principal é Deus ou a união teosófica com Deus. Por isso, denomina-se período Teosófico. 
Heráclito de Éfeso (mobilismo) e Parmênides (imobilismo) 
Não há registros sobre as datas do nascimento e da morte de Heráclito, mas existem informações de que ele atingiu o auge de sua existência durante a 69ª Olimpíada, que ocorreu entre 504 e 500 a.C. Essa informação é suficiente para contextualizá-lo em uma geração após Xenófanes, ao qual fez oposição, e uma anterior à de Parmênides, seu maior opositor. Pouco se sabe sobre a sua vida, além de ter nascido de uma família aristocrática de Éfeso, que fundou a cidade. Tudo leva a crer que Heráclito não quis exercer os direitos de participar do governo da sua terra natal. Ele expôs sua filosofia na obra Da Natureza, da qual restam apenas fragmentos que suscitaram muitos temas da filosofia contemporânea.
Para Heráclito, tudo aquilo que vemos nunca mais será igual ao que era no momento anterior e que, no instante seguinte, já não será mais o que foi antes. Com isso, ele afirmou que as coisas se transformam permanentemente e que, quando se quer fixar algo e revelar sua essência, já não se trata mais da mesma coisa, pois tudo parte da realidade que flui. É de autoria dele a frase: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio”. 
Assim, não existe um ser estático, mas sim dinâmico, que pode ser capturado num determinado momento para que se diga como era naquele instante. Sendo assim, a essência dessa reflexão filosófica consiste em determinar que nada existe, já que tudo existe num instante e no momento seguinte deixa de existir, porque já sofreu um processo de transformação. Dessa maneira, a existência define-se como uma eterna mutação e como um estado de mudança perene em que estão incluídas todas as coisas de forma infinita.
O pensamento de Parmênides pode ser melhor compreendido por meio da sua inquietação diante da solução proposta por Heráclito de que todas as coisas são e não são ao mesmo tempo, uma vez que permanecem em constante mutação. Ele acreditava ser isso impossível, porque uma coisa é ou não é. Por isso, raciocinava no sentido de afirmar que as coisas possuem um ser e este ser é. Com essa postura reflexiva, Parmênides chegou ao princípio lógico que os filósofos atuais denominam de “princípio da identidade”. Por meio dele, é possível afirmar que o ser é único, pois não pode haver mais de um para cada coisa. Pode-se afirmar ainda que o ser é eterno, pois se ele tivesse um princípio, antes dele, haveria o não ser, o que não é possível, porque o não ser inexiste. Caso existisse, ele também seria um ser, o que, por si só, seria um erro, já que apenas o ser pode existir.
O filósofo observou também que o ser é imutável, uma vez que a mutabilidade resulta no não ser, o que é inadmissível para Parmênides. Assim sendo, o ser é infinito, porque a finitude pressupõe o não ser. Por último, ele declarou a imobilidade do ser, pois a mobilidade significaria a aceitação do não ser heraclitiano, o queé insustentável para Parmênides.
A Tríade Grega
Sócrates Um divisor de águas na história da filosofia terrena e o fundador do pensamento filosófico.
A história da filosofia na Grécia Antiga divide-se entre os filósofos pré-socráticos e pós-socráticos, tamanha foi a importância de Sócrates para a instauração do pensamento filosófico ocidental.
Considerado pelos homens do tempo como o mais sábio e inteligente, Sócrates demonstrava em sua forma de pensar a necessidade de levar o conhecimento para os cidadãos gregos da época pelo diálogo como forma de transmissão de sabedoria. Nascido em 470 ou 469 a.C., em Atenas, era filho de um escultor e de uma parteira. Aprendeu a arte paterna; mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, apesar da pobreza. Ao desempenhar cargos políticos, sempre foi um modelo irrepreensível de bom cidadão. Adquiriu sabedoria principalmente por intermédio da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que havia de mais ilustre na época.
Por meio da palavra, ele se ocupava da missão de fazer conhecer as coisas do mundo e do ser humano. Seus pensamentos e suas ideias atravessaram os séculos pelas obras de seus discípulos mais importantes: Platão, Xenofontes e Aristóteles, porque ele mesmo nada deixou por escrito. Por defender ideias contrárias à sociedade instaurada na Grécia, Sócrates não foi bem aceito por grande parte da aristocracia grega, uma vez que a tônica do seu discurso criticava diversos aspectos da cultura grega, ressaltando que muitas tradições, crenças religiosas e costumes não colaboravam para o desenvolvimento intelectual dos cidadãos.
A inovação presente nas suas ideias para a sociedade logo começou a chamar a atenção de jovens atenienses, impressionados pelo seu dom de orador e pela sua inteligência, o que o tornou popular em pouco tempo. No entanto, por temer mudanças na sociedade, a elite conservadora de Atenas viu em Sócrates um inimigo público, além de um agitador da ordem pública. Por isso, ele foi preso, acusado de subversão, de corromper a juventude e também de provocar mudanças na religião grega. Sua condenação foi o suicídio por envenenamento, dentro da cela, em 399 a.C. Esse fim trágico, porém, não impediu que esse filósofo ateniense, e um dos fundadores da atual filosofia ocidental, entrasse para a história de forma definitiva; embora existam historiadores que afirmam que só é possível falar de Sócrates como um personagem de Platão. Nos diálogos escritos por Platão, Sócrates aparece como mestre que se recusava a ter discípulos, além de ser um homem piedoso que não valorizava os prazeres dos sentidos, mas colocava o belo entre as maiores virtudes, juntamente com a bondade e a justiça.
Tanto o julgamento como a execução de Sócrates são episódios centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). Sócrates admitiu que poderia ter evitado sua condenação se tivesse desistido da vida justa que levava e, mesmo depois de condenado, ele poderia ter evitado a morte por ingestão de cicuta, se tivesse escapado com a ajuda de amigos. Nesse sentido, a vontade de colaborar com a justiça da pólis e com seus próprios valores revela a grandiosidade do seu pensamento. Todos os detalhes a respeito da vida e da morte de Sócrates que são historicamente conhecidos vêm dos diálogos de Platão, das peças de Aristófanes e dos diálogos de Xenofonte. Não se sabe direito qual era a função de Sócrates, se ele se ocupava de algo além da filosofia.
De acordo com os registros, aprendeu a profissão de oleiro com o pai e aparece na obra de Xenofonte declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou a ocupação mais importante de todas: maiêutica, ou seja, o nascimento das ideias. 
Platão atesta que Sócrates não recebia pagamento algum por suas aulas, e sua pobreza consistia na prova maior de que não era um sofista. Diversas fontes citam que ele tinha servido ao exército em várias batalhas. Na Apologia, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus problemas no tribunal, e alega que qualquer jurado que achasse que ele deveria se retirar da filosofia, deveria também acreditar que os soldados devessem se retirar do campo de batalha, quando era provável que pudessem morrer lutando.
As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de diferenciar, uma vez que há poucas diferenças entre os dois tipos de pensamento filosófico. Por essa razão, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, de Platão e de Xenofonte consiste em uma missão bastante difícil, devendo sempre ter em mente que aquilo que é atribuído a Sócrates pode muito bem refletir o pensamento dos outros autores.
Certamente, se existe algo que pode ser atestado sobre as ideias de Sócrates, é que ele se destacou por ser moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em um dado momento da sua vida, uma missão especial do deus Apolo, que pode ser traduzida na defesa do logos apolíneo “conhece-te a ti mesmo”. Ele também tinha dúvidas sobre a possibilidade de a arete (virtude) ser ensinada, considerando que a moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, uma vez que pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Sócrates alegou com frequência que suas ideias não eram próprias, mas sim de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas. Ele sempre dizia que sua sabedoria era limitada, assim como a sua própria ignorância, atribuindo os atos errados como consequência da ignorância, embora nunca tenha assumido ser um sábio.
O fundador do pensamento ocidental também acreditava que a maneira mais apropriada para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento intelectual, ao invés de buscar a riqueza material. Ele costumava convidar outras pessoas a se concentrar na amizade e em um sentido de comunidade, uma vez que acreditava ser esse o melhor modo de um povo evoluir. Suas ações são a maior prova dessa crença, pois aceitou sua sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas.
Para Sócrates, os seres humanos possuíam virtudes tanto no campo filosófico quanto no intelectual, conferindo à virtude o papel mais importante para o desenvolvimento do ser humano. Segundo seus discípulos, ele acreditava que as ideias faziam parte de um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o governante ideal para um Estado. Ao se opor declaradamente à democracia aristocrática praticada em Atenas durante a sua época, ele afirmava que a república perfeita deveria ser governada apenas por filósofos.
Os ideais libertários contidos nos discursos proferidos por Sócrates, assim como o rigor do seu caráter e da sua postura crítica, acabaram gerando um mal-estar geral, além da rejeição popular, fazendo com que ele contraísse inimigos pessoais. Diante do povo e de lideranças reacionárias, era considerado como parte atuante da casta intelectual da época. Essa hostilidade toda manisfestou-se por meio jurídico na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon, no sentido de subverter os jovens a renegar os deuses da própria pátria, introduzindo novas crenças. Para não entrar em confronto com a justiça humana, Sócrates humilhou-se e pediu perdão, pois tinha dentro da alma algo que ia muito mais longe do que uma simples explicação para a vida na Terra, que era o juízo da razão destinado à eternidade. Por esse motivo, ele preferiu abrir mão da própria vida a enfrentar o poder judiciário. Quando foi declarado culpado, ficou em silêncio perante o tribunal, que o condenou à pena de morte pela maioria dos votos.
Tendo que esperar mais de um mês para ser executado na prisão, Sócrates aproveitou o tempo para ministrar palestras espirituais aos amigos. Vem dessa fase o famoso diálogo a respeito da imortalidade da alma, que eleteria proferido pouco antes de morrer e que foi relatado por Platão no Fédon. De acordo com ele, as palavras derradeiras dirigidas pelo seu mestre aos discípulos, após ter ingerido o veneno, foram: “Devemos um galo a Esculápio”, referindo-se ao Deus da medicina, que o tinha liberado do mal da existência com o poder da morte. Apesar de gerar polêmica, Sócrates restabeleceu a possibilidade do saber ao determinar o objeto real da ciência, que não é o sensível e o particular, como pensavam os sofistas.
De maneira contrária, ele acreditava no inteligível, um conceito que se expressa pela própria definição, sendo obtido por intermédio de um processo dialético chamado de indução, que pode ser descrito pela comparação de vários seres da mesma espécie, visando eliminar as diferenças individuais, bem como as qualidades mutáveis, para atingir aquilo que existe de comum, estável e permanente na natureza e na essência da coisa em si. Trata-se, portanto, de uma forma de generalização que parte do indivíduo à concepção universal da natureza humana.
Durante a exposição didática dessas ideias, Sócrates sempre utilizava o diálogo, com a dupla função de confrontar um oponente às suas ideias ou de instruir um discípulo. No primeiro caso, assumia de forma humilde a postura de quem aprende e, com isso, conseguia aumentar o número de perguntas até conseguir apanhar o adversário em uma contradição evidente para constrangê-lo à declaração humilhante da ignorância. Essa estratégia era a ironia socrática. Já no segundo caso, por ser um discípulo, ele mesmo multiplicava as perguntas, com a habilidade e o objetivo de obter, pelo processo indutivo, um conceito e uma definição geral de um objeto. Esta era sua proposta pedagógica.
A introspecção sempre foi uma característica marcante da filosofia de Sócrates, que se revela no famoso lema “conhece-te a ti mesmo”, ou seja, que nos leva a entrar em contato com a nossa prória ignorância. Alcançava em Sócrates uma importância tão grande que se personificava na voz interior divina, que poderia ser de um gênio ou de um demônio. Como ele não deixou nada registrado, as informações que temos de sua vida e de seu pensamento nos foram legadas pelos seus dois discípulos, Xenofonte e Platão, de formação intelectual muito diferente. Xenofonte, ao escrever Anábase, em seus Ditos Memoráveis, nos revelou mais os aspectos pragmáticos e morais do pensamento socrático. No entanto, seu estilo simples e sem profundidade, apesar da sua devoção para com o mestre, deixam claro que ele não compreendeu a complexidade do pensamento filosófico de Sócrates, por ser mais um homem de ação do que um pensador legítimo da sua época.
É possível afirmar que Sócrates atua como protagonista de todas as obras platônicas, mesmo tendo este conhecido seu mestre já idoso e na última década de vida. O conhecimento perfeito do ser humano coloca-se como objetivo maior de todas as suas reflexões, assim como a moral está posicionada no centro de tudo, para o qual convergem todas as vertentes filosóficas. No campo da psicologia, Sócrates deixou sua contribuição ao pensar sobre a espiritualidade e a imortalidade da alma, destacando a diferença entre as duas ordens de conhecimento, o sensitivo e o intelectual, sem definir a capacidade de escolha, mas relacionando a vontade com a inteligência. Na teodiceia, ele admitiu a existência de Deus com o seguinte argumento teológico: tudo aquilo que possui uma finalidade resulta de uma inteligência e, se o homem é inteligente, também deve ser inteligente a causa eficiente que o concebeu.
Pela moral socrática, a lei natural pressupõe um ser superior ao homem, um legislador, que a sancionou. Portanto, Deus não só existe, como também é Providência, uma vez que governa o mundo com sabedoria, e o homem pode atingi-lo por meio de sacrifícios e com orações. Apesar da elevação dessas doutrinas, Sócrates aceita os preconceitos contra a mitologia da sua época, que ele pretendia reformular. Nesse aspecto, a moral constitui a parte crucial da filosofia socrática, pois ensina a pensar para viver bem, mostrando que a única forma de alcançar a felicidade ou a semelhança com Deus está na prática da virtude, que pode ser adquirida com a sabedoria ou com a identificação com ela. Essa doutrina consiste em um desdobramento natural da falha psicológica de não conceituar a vontade e a inteligência de maneira diferenciada. Sócrates reconhece ainda, acima de todas as leis criadas, a existência de uma lei natural que não depende do conhecimento humano, uma vez que é universal e se estabelece como fonte primordial de todo direito como expressão da vontade divina ditada pela voz interior da consciência. Mesmo sublime na forma de descrever os princípios gerais de sua ética, Sócrates, de fato, sempre atribui à utilidade a razão e o estímulo de toda e qualquer virtude.
A filosofia socrática, portanto, está restrita à gnosiologia e à ética. A gnosiologia de Sócrates, que se concretizava na sua doutrina dialógica, resume-se em seis aspectos fundamentais: a ironia, a maiêutica, a introspecção, a ignorância, a indução e a definição. Porém, é necessário separar o espírito dos falsos conhecimentos, dos preconceitos e das opiniões. Sócrates, juntamente com os sofistas, mesmo com finalidade diversa, reclama pela libertação da autoridade e da tradição, tendo em vista a reflexão livre e a crença na razão para tornar possível conceber o verdadeiro conhecimento e a ciência. Isso significa que a instrução não deve consistir apenas na exposição de um assunto ao aluno, já que o mestre deve retirá-lo da própria mente do discípulo, pela constituição inerente do espírito humano como um dado estrutural e universal da sua existência.
Para Sócrates, a forma lógica para chegar ao conhecimento científico de fato consiste na indução, quer dizer, no percurso do que é particular até o universal, do foco opinativo à ciência, do experimento ao conceito, leva à definição, para demonstrar o ideal e a reflexão final do processo gnosiológico socrático sobre a essência da realidade. Ele também é considerado o fundador da ciência, em especial da ciência moral, defendendo a doutrina de que ética é sinônimo de racionalidade. Além disso, a virtude é considerada como inteligência, razão e ciência, e não um sentimento, uma tradição, uma lei e o senso comum. Isso tudo precisa ser superado, fazendo com que a razão prevaleça.
Diante do seu legado para a humanidade, torna-se visível que Sócrates não deixou um pensamento filosófico fechado. Porém, cabe a ele o mérito de ter descoberto o método e de ter fundado uma grande escola no campo da filosofia. Por esse motivo, dele depende, de forma direta ou indireta, a evolução do pensamento na Grécia Antiga, que se desenvolveu a partir da linha socrática, valorizando a herança dos pré-socráticos e organizando-se em sistemas originais e múltiplos. Mesmo diferentes entre si, todas essas correntes possuem em comum a crença de que o bem maior do ser humano está na sabedoria. A escola socrática mais expressiva é a platônica e seguiu a evolução lógica do objeto central do pensamento socrático, que é o conceito, assim como com o aspecto fundamental do pensamento antecessor, tendo seu auge em Aristóteles, discípulo de Platão, como o grande desfecho da metafísica grega.
Platão O pensador das ideias
Platão nasceu em Atenas em 427 a.C., durante da Guerra do Peloponeso, no tempo da revolução oligárquica e aristocrática que tirou os democratas do poder em Atenas, impondo o Conselho dos 400. Nesse período, a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, derrotou a Liga da Hélade, liderada por Atenas, dando início ao governo dos Trinta Tiranos. No entanto, sua vida transcorreu entre a fase áurea da democracia ateniense e o final do período helênico, o que confere ao seu legado filosófico a tônica da liberdade e da expressão política. Ele fundou a Academia e foi mestre de Aristóteles. Aos 20 anos de idade, conheceu Sócrates, de quem foi discípulo. 
O interesse de Platão pelos assuntos políticos decorreu das condições em que vivia na GréciaAntiga, onde a vida cultural foi se desenvolvendo muito vinculada aos acontecimentos da cidade-estado, a pólis, e em torno da organização política, constituída por várias cidades-estados que mantinham suas tradições e sua religiosidade. A própria dimensão dessas comunidades exigia o fortalecimento dos vínculos solidários entre seus habitantes, ao mesmo tempo em que permitia a cada uma a construção da sua fisionomia social particular como um patrimônio comum a todos os cidadãos. Os fenômenos geográfico e político estavam tão associados que a palavra pólis servia para indicar tanto o lugar da cidade quanto a natureza da soberania. Sendo assim, qualquer indivíduo nesse contexto pensava em si mesmo como um ser político.
Perto de completar 40 anos, Platão partiu para a Magna Grécia com o intuito de entrar em contato com as comunidades pitagóricas. Nessa jornada, foi convidado por Dionísio I para ir à Siracusa, na Sicília. Ele partiu para essa região com a esperança de implementar seus ideais políticos; mas acabou se desentendendo com o tirano local e retornou para Atenas, onde fundou a Academia de Física. A instituição ganhou prestígio em pouco tempo, sendo procurada por um grande número de jovens que buscavam instrução e até mesmo por homens já ilustres, com a finalidade de debater ideias. Ao regressar para Atenas, em 360 a.C., Platão comandou a Academia até em 347 a.C., quando faleceu.
Grosso modo, Platão criou a noção de que o homem está em contato permanente com duas realidades: a inteligível e a sensível, sendo a primeira concreta e imutável. Já a segunda, refere-se a todas as coisas que afetam os sentidos do homem. São, portanto, realidades dependentes, mutáveis e imagens das realidades inteligíveis. Essa concepção platônica de mundo também é conhecida por Teoria das Ideias ou Teoria das Formas, tendo sido elaborada como hipótese no diálogo Fédon, constituindo assim uma forma de assegurar a possibilidade do conhecimento, além de oferecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos. Na visão platônica de mundo, aquilo que é captado pelos sentidos humanos significa apenas uma cópia simplificada do mundo das ideias. Assim, tudo o que existe de forma concreta faz parte, junto com todos os outros objetos semelhantes, de uma ideia perfeita. Por exemplo, uma faca terá características próprias, como cor, forma, tamanho, entre outras. Já outra terá outros atributos, sem deixar de ser faca, tanto quanto a outra. O que faz com que ambas sejam facas consiste na ideia perfeita que se tem desse objeto, sendo capaz de conter todas as possibilidades de ser aquilo que é.
De acordo com Platão, algo é na medida em que participa da ideia desse objeto, e seu foco se detém em coisas como o ser humano, o bem ou a justiça. A teoria platônica explica a forma de conhecimento das coisas, alegando que, ao ver um objeto muitas vezes, nos lembramos da ideia dele, que já vimos no mundo das ideias. Para isso, Platão cria o mito de que, antes mesmo de nascer, a alma de cada um habitava em uma estrela, onde estão as ideias. Ao nascer, seríamos arremessados em direção à Terra. Com o impacto produzido, acabamos por esquecer o que vimos onde estávamos anteriormente. Porém, à medida que vemos um objeto aparecer de várias maneiras, a alma recorda-se da ideia primordial daquele objeto que foi visto na estrela de onde partiu. A essa recordação Platão dá o nome de anamnesis.
Assim sendo, uma das bases para a investigação sobre as ideias consiste em saber que não estamos completamente ignorantes sobre elas. Isso se torna necessário para que tenhamos em nossa alma um tipo de conhecimento ou de recordação do contato original com o mundo ideal antes do nosso nascimento, para que possamos nos lembrar delas sendo reproduzidas no mundo concreto. Isso faz com que toda a ciência platônica seja uma forma de reminiscência, pois a investigação das ideias supõe que as almas preexistiram em uma região divina onde as contemplavam.
Platão acreditava que o filósofo deveria buscar a verdade plena, que poderia ser encontrada apenas em uma instância superior, uma vez que a verdade é invariável, e, se existe uma verdade essencial para a humanidade, ela deve valer para todos. Dessa maneira, a existência das coisas físicas deve ter outro pressuposto, que transcende a forma de buscar essas realidades e que está no conhecimento daquilo que está além das coisas. Em Platão, essa busca racional possui caráter contemplativo, o que significa buscar a verdade no interior do próprio homem como um participante das verdades essenciais do ser.
Assim como Sócrates, Platão dedicou-se à descoberta das verdades essenciais das coisas pelo conhecimento, sempre destacando o homem não na condição de corpo, mas sim enquanto alma. Na visão dele, a alma humana, por ser perfeita, faz parte do mundo perfeito das ideias, embora isso só possa ser concretizado por intermédio dos sentidos. Nesse aspecto, também o conhecimento tinha fins morais, com o intuito de levar o homem à bondade e à felicidade, o que faz do conhecimento uma forma de reconhecimento capaz de fazer com que haja um reencontro com as verdades que sempre soubemos existir, permitindo com isso diferenciar as aparências de verdades e as verdades. Sendo assim, a obtenção do autoconhecimento apresentava-se como um caminho árduo a ser seguido de maneira meticulosa.
É interessante observar que Platão não defendia que todas as pessoas tivessem igualdade de acesso à razão, pois ele reconhecia que, apesar de todos terem a alma perfeita, nem todos conseguiriam chegar à contemplação absoluta do mundo das ideias, lembrando que o conhecimento para Platão tem fins morais. De acordo com ele, existiam três tipos de virtude na alma humana – a sabedoria, que deveria ser o governo, a coragem, que deveria equivaler à força dos soldados, e a temperança, que estaria relacionada ao baixo-ventre do Estado, ou seja, aos trabalhadores, uma vez que a alma desses indivíduos é guiada pelos sentidos.
Na visão platônica, o homem divide-se entre corpo, matéria e alma – o imaterial e o divino. O corpo vive em processo contínuo de mudança de aparência, mas a alma não muda nunca. A partir do momento em que nascemos, apesar da alma perfeita, estamos aprisionados ao corpo e nos esquecemos das verdades essenciais escritas eternamente na alma. Para Platão, a alma está dividida em três partes: Racional: cabeça – tem que controlar as outras duas partes, e sua virtude está na sabedoria ou na prudência (phrónesis); Irrascível: tórax – parte da impetuosidade, dos sentimentos. A virtude está na coragem (andreía); e Concupiscente: relativa ao baixo-ventre, incluindo o apetite e o desejo carnal ligado à libido.
Vale destacar que, para Platão, depois da morte, a alma reencarnava em outro corpo; mas se ocupava com a filosofia, graças ao desapego material, estando a ela concedido o prazer de passar a eternidade ao lado dos deuses. Assim, somente por meio da relação de sua alma com a Alma do Mundo o ser humano pode acessar o mundo das ideias. A ação do homem pode atingir somente o mundo material, pois, no mundo das ideias, ele não pode transformar nada, uma vez que já existe a perfeição.
A ascensão ao conhecimento está representada por Platão na Alegoria da Caverna, que descreve um prisioneiro que contempla, no fundo de uma caverna, os reflexos de simulacros que, sem que perceba, são transportados à frente de uma fogueira, no sentido figurado. Como sempre, as projeções do que existe acredita serem elas a realidade e permanece na ilusão. No entanto, essa situação muda com a libertação desse homem, que reconhece seu engano ao descobrir a encenação que o iludia. Depois de subir a rampa que leva à saída da caverna, ele pode contemplar do lado de fora a verdadeira realidade. Acostumado às sombras, primeiro ele enxerga através dos reflexos, até ter condições de olhar diretamente para a luz solar como fonte de toda a realidade. Essa alegoria de dimensão emocional, filosófica, religiosa e científica guarda também uma conotação política, ou seja, aquele que se liberta das ilusõese se eleva à visão da realidade é quem pode e deve governar para libertar os demais prisioneiros das sombras.
Trata-se do filósofo político, capaz de fazer da sua sabedoria um instrumento de libertação de consciências e de justiça social. Sendo assim, o conhecimento no platonismo se constrói como uma articulação entre o intelecto e a emoção, entre razão e vontade, como resultado da inteligência e do sentimento de amor.
Platão e Aristóteles
Sócrates fez a Filosofia preocupar-se com nossa possibilidade de conhecer e indagar quais as causas das ilusões, dos erros e da mentira. No esforço para definir as formas de conhecer e as diferenças entre o conhecimento verdadeiro a ilusão, Platão e Aristóteles introduziram na Filosofia a idéia de que existem diferentes maneiras de conhecer ou graus de conhecimento e que esses graus e distinguem pela ausência ou presença do verdadeiro, pela ausência ou presença do falso.
Platão distingue quatro formas ou graus de conhecimento, que vão do grau inferior ao superior: crença, opinião, raciocínio e intuição intelectual. Para ele, os dois primeiros graus devem ser afastados da Filosofia – são conhecimentos ilusórios ou das aparências, como os dos prisioneiros da caverna – e somente os dois últimos devem ser considerados válidos. O raciocínio treina e exercita nosso pensamento, preparando-o para uma purificação intelectual que lhe permitirá alcançar uma intuição das idéias ou das essências que formam a realidade ou que constituem o Ser.
Para Platão, o primeiro exemplo do conhecimento puramente intelectual e perfeito encontra-se na matemática, cujas idéias nada devem aos órgãos dos sentidos e não se reduzem a meras opiniões subjetivas. O conhecimento matemático seria a melhor preparação do pensamento para chegar à intuição intelectual das idéias verdadeiras, que constituem a verdadeira realidade. 
Platão diferencia e separa radicalmente duas formas de conhecimento: o conhecimento sensível (crença e opinião) e o conhecimento intelectual (raciocínio e intuição) afirmando que somente o segundo alcança o Ser e a verdade. O conhecimento sensível alcança a mera aparência das coisas, o conhecimento intelectual alcança a essência das coisas, as idéias. Aristóteles distingue seis formas ou graus de conhecimento: sensação, percepção,imaginação, memória, raciocínio e intuição. Para ele, ao contrário de Platão, nosso conhecimento vai sendo formado e enriquecido por acumulação das informações trazidas por todos os graus, de modo que, em lugar de uma ruptura entre o conhecimento sensível e o intelectual, Aristóteles estabelece uma continuidade entre eles.
A separação se dá entre os cinco primeiros graus e o último, ou a intuição, que é puramente intelectual ou um ato do pensamento puro. Essa separação, porém, não significa que os outros graus ofereçam conhecimentos ilusórios ou falsos e sim que oferecem tipos de conhecimentos diferentes, que vão de um grau menor a um grau maior de verdade.
Em cada um deles temos acesso a um aspecto do Ser ou da realidade e, na intuição intelectual, temos o conhecimento pleno e total da realidade ou os princípios da realidade plena e total, aquilo que Aristóteles chamava de “o Ser enquanto Ser”.
A diferença entre os seis primeiros graus e o último decorre da diferença do objeto do conhecimento, isto é, os seis primeiros graus conhecem objetos que se oferecem a nós na sensação, na imaginação, no raciocínio, enquanto o sétimo lida com um objeto que só pode ser alcançado pelo pensamento puro.
Princípios gerais
Com os filósofos gregos, estabeleceram-se alguns princípios gerais do
conhecimento verdadeiro:
•	as fontes e as formas do conhecimento: sensação, percepção, imaginação, memória, linguagem, raciocínio e intuição intelectual;
•	a distinção entre o conhecimento sensível e o conhecimento intelectual;
•	o papel da linguagem no conhecimento;
•	a diferença entre opinião e saber;
•	a diferença entre aparência e essência;
•	a definição dos princípios do pensamento verdadeiro (identidade, não contradição, terceiro excluído, causalidade), da forma do conhecimento verdadeiro (ideias, conceitos e juízos) e dos procedimentos para alcançar o conhecimento verdadeiro (indução, dedução, intuição); 
•	a distinção dos campos do conhecimento verdadeiro, sistematizados por Aristóteles em três ramos: teorético (referente aos seres que apenas podemos contemplar ou observar, sem agir sobre eles ou neles interferir), prático (referente às ações humanas: ética, política e economia) e técnico (referente à fabricação e ao trabalho humano, que pode interferir no curso da Natureza, criar instrumentos ou artefatos: medicina, artesanato, arquitetura, poesia, retórica, etc.).
Para os gregos, a realidade é a Natureza e dela fazem parte os humanos e as instituições humanas. Por sua participação na Natureza, os humanos podem conhecê-la, pois são feitos dos mesmos elementos que ela e participam da mesma inteligência que a habita e dirige.
Memória e teoria do conhecimento
Do ponto de vista da teoria do conhecimento, a memória possui as seguintes funções:
Retenção de um dado da percepção, da experiência ou de um conhecimento adquirido;
Reconhecimento e produção do dado percebido, experimentado ou conhecido numa imagem, que, ao ser lembrada, permite estabelecer uma relação ou um nexo entre o já conhecido e novos conhecimentos;
Recordação ou reminiscência de alguma coisa como pertencente ao tempo passado e, enquanto tal, diferente ou semelhante a alguma coisa presente;
Capacidade para evocar o passado a partir do tempo presente ou de lembrar o que já não é, através do que é atualmente.
Por essas funções, a memória é considerada essencial para a elaboração da experiência e do conhecimento científico, filosófico e técnico. Por esse motivo, Aristóteles escreveu, na Metafísica:
É da memória que os homens derivam a experiência, pois as recordações repetidas da mesma coisa produzem o efeito duma única experiência. A memória é retenção. Graças à lembrança e à prospecção, o conhecimento filosófico, técnico e científico podem elaborar a experiência e alcançar novos saberes e práticas.
Graças à memória, somos capazes de lembrar e recordar. As lembranças podem ser trazidas ao presente tanto espontaneamente, quanto por um trabalho deliberado de nossa consciência. Lembramos espontaneamente quando, por exemplo, diante de uma situação presente nos vem à lembrança alguma situação passada. Recordamos quando fazemos o esforço para lembrar.
Assim como há perturbações e problemas perceptivos (cegueira, surdez, perda de tato) e imaginativos (loucura, ideologia), também existem problemas e perturbações da memória, indo desde uma dificuldade momentânea para recordar alguma coisa, até a amnésia, perda total ou parcial da memória.
Quando perdemos a capacidade para lembrar palavras ou construir frases, sofremos a afasia. Quando perdemos a capacidade para lembrar e realizar gestos e ações, sofremos de apraxia. Essas perturbações podem ser causadas por lesões físicas (no cérebro ou no sistema nervoso) ou traumas psicológicos, isto é, por situações de grande sofrimento psíquico que nos forçam a esquecer alguma coisa,algum fato, alguma situação.
Seja por lesão física, seja por sofrimento psíquico, seja por uma perturbação momentânea e passageira, o esquecimento é a perda de nossa relação com o passado e, portanto, com uma dimensão do tempo e com uma dimensão de nossa vida. Na amnésia, perdemos relação com o todo de nossa existência. Na afasia perdemos a relação com os outros através da linguagem ou da comunicação. Na apraxia, perdemos a relação com o nosso corpo e com o mundo das coisas.
Esquecer é ficar privado de memória e perder alguma coisa. Algumas vezes, porém, essa perda é um bem: esquecer alguma coisa terrível é ultrapassá-la para poder viver bem novamente.
A memória não é um simples lembrar ou recordar, mas revela uma das formas fundamentais de nossa existência, que é a relação com o tempo, e, no tempo, com aquilo que está invisível, ausente e distante, isto é, o passado. A memória é o que confere sentidoao passado como diferente do presente (mas fazendo ou podendo fazer parte dele) e do futuro (mas podendo permitir esperá-lo e compreendê-lo).
A importância da linguagem
Na abertura da sua obra Política, Aristóteles afirma que somente o homem é um “animal político”, isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais, escreve Aristóteles, possuem voz (phone) e com ela exprimem dor e prazer, mas o homem possui a palavra (logos) e, com ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em comum esses valores é o que torna possível a vida social e política e, dela, somente os homens são capazes.
A Filosofia conheceu diferentes concepções de método.
Platão, por exemplo, considerava que o melhor caminho para o conhecimento
verdadeiro era o que permitia ao pensamento libertar-se do conhecimento sensível (crenças, opiniões), isto é, das imagens e aparências das coisas. Atribuía esse papel liberador à discussão racional, sob a forma do diálogo.
No diálogo, os interlocutores, guiados pelas perguntas do filósofo (no caso, Sócrates), examinam e discutem opiniões que cada um deles possui sobre alguma coisa; descobrem que suas opiniões são contraditórias e não levam a conhecimento algum. Aceitam abandoná-las e conseguem, pouco a pouco, chegar à idéia universal ou à essência da coisa procurada. Por se tratar de um confronto entre imagens e opiniões contrárias ou contraditórias, esse método ou caminho era chamado por Platão de dialética (discussão de teses contrárias e em conflito ou oposição).
Aristóteles, no entanto, considerou a dialética inadequada ao pensamento, pois, dizia ele, tal procedimento lida com meras opiniões prováveis, não oferecendo qualquer garantia de que tenhamos superado o conflito de opiniões e alcançado a essência verdadeira da coisa investigada. Por esse motivo, definiu o procedimento filosófico-científico como um método demonstrativo que se realiza por meio de silogismos. O silogismo é um conjunto de três juízos ou proposições que permite obter uma conclusão verdadeira. Trata-se de um método dedutivo no qual, de duas premissas, deduz-se uma conclusão. Por exemplo:
Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Aristóteles considerava, porém, que os objetos que são conhecidos por experiência, e não só pelo puro pensamento, deveriam seguir um método indutivo, no qual o silogismo seria o resultado final conseguido pelo conhecimento. Desde Aristóteles, a Filosofia considera que, ao lado de um método geral que todo e qualquer conhecimento deve seguir, tanto para a aquisição quanto para a demonstração e verificação de verdades, outros métodos particulares são necessários, pois os objetos a serem conhecidos também exigem métodos que estejam em conformidade com eles e, assim, haverá diferentes métodos conforme a especificidade do objeto a ser conhecido. Dessa maneira, são diferentes entre si os métodos da geometria e da física, da biologia e da sociologia, da história e da química, e assim por diante.
Aristóteles sistematizou lógica e racionalmente as cosmologias ou teorias sobre a Natureza numa física, isto é, numa teoria ou ciência sobre a matéria e a forma dos seres naturais e sobre as causas de seus movimentos.
Para os gregos, como vimos, movimento (kinesis) significa:
Toda mudança qualitativa de um ser qualquer (por exemplo, uma semente que se torna árvore, um objeto branco que amarelece, um animal que adoece, algo quente que esfria, algo frio que esquenta, o duro que amolece, o mole que endurece, etc.);
Toda mudança ou alteração quantitativa (por exemplo, um corpo que aumente e diminua, que se divida em outros menores, que encompride ou encurte, alargue ou estreite, etc.);
Toda mudança de lugar ou locomoção (subir, descer, cair, a trajetória de uma flecha, o deslocamento de um barco, a queda de uma pedra, o levitar de uma pluma, etc.);
Toda geração ou nascimento e toda corrupção ou morte dos seres. Esses movimentos, diz Aristóteles, possuem causas, pois tudo o que existe possui causa, e o conhecimento verdadeiro é o conhecimento das causas. São quatro as causas dos movimentos:
1. causa material, isto é, a matéria de que alguma coisa é feita (madeira, pedra, metal, líquido);
2. causa formal, isto é, a forma que alguma coisa possui e que a individualiza e diferencia das outras (a mesa é causa formal da madeira, a estátua é causa formal da pedra, a taça é causa formal do metal, o vinho é causa formal do líquido);
3. causa motriz ou eficiente, isto é, aquilo que faz uma matéria receber uma forma determinada (no caso dos objetos artificiais ou artefatos, a causa eficiente é o artesão – o carpinteiro que faz a mesa, o escultor que faz a estátua, o ferreiro que faz a taça, o vinicultor que faz o vinho; no caso dos seres naturais, a causa eficiente também é uma coisa natural – por exemplo, o calor derrete o metal, o Sol esquenta um corpo e lhe dá outra consistência ou forma, etc.);
4. causa final, isto é, o motivo ou finalidade para a qual a coisa existe, se transforma e se realiza (a mesa existe para que possamos usá-la para refeições, escrever, depositar objetos, etc.; a estátua, para o culto de um deus; a taça, para colocarmos bebidas; o vinho, para bebermos).
Com a física aristotélica vemos a Natureza tornar-se inteligível ao pensamento, que pode explicá-la, descrevê -la, compreendê-la e interpretá-la conceitualmente. O objeto da lógica é a proposição, que exprime, através da linguagem, os juízos formulados pelo pensamento. A proposição é a atribuição de um predicado a um sujeito: S é P. O encadeamento dos juízos constitui o raciocínio e este se exprime logicamente através da conexão de proposições; essa conexão chama-se silogismo. A lógica estuda os elementos que constituem uma proposição (as categorias), os tipos de proposições e de silogismos e os princípios necessários a que toda proposição e todo silogismo devem obedecer para serem verdadeiros (princípio da identidade, da não-contradição e do terceiro excluído).
A proposição
Uma proposição é constituída por elementos que são seus termos. Aristóteles define os termos ou categorias como “aquilo que serve para designar uma coisa”. São palavras não combinadas com outras e que aparecem em tudo quanto pensamos e dizemos. Há dez categorias ou termos:
1. substância (por exemplo, homem, Sócrates, animal);
2. quantidade (por exemplo, dois metros de comprimento);
3. qualidade (por exemplo, branco, grego, agradável);
4. relação (por exemplo, o dobro, a metade, maior do que);
5. lugar (por exemplo, em casa, na rua, no alto);
6. tempo (por exemplo, ontem, hoje, agora);
7. posição (por exemplo, sentado, deitado, de pé);
8. posse (por exemplo, armado, isto é, tendo armas);
9. ação (por exemplo, corta, fere, derrama);
10. paixão ou passividade (por exemplo, está cortado, está ferido).
As categorias ou termos indicam o que uma coisa é ou faz, ou como está. São aquilo que nossa percepção e nosso pensamento captam imediata e diretamente numa coisa, não precisando de qualquer demonstração, pois nos dão a apreensão direta de uma entidade simples. Possuem duas propriedades lógicas: a extensão e a compreensão. 
Extensão é o conjunto de objetos designados por um termo ou uma categoria. Compreensão é o conjunto de propriedades que esse mesmo termo ou essa categoria designa. Por exemplo: uso a palavra homem para designar Pedro, Paulo, Sócrates, e uso a palavra metal para designar ouro, ferro, prata, cobre. A extensão do termo homem será o conjunto de todos os seres que podem ser designados por ele e que podem ser chamados de homens; a extensão do termo metal será o conjunto de todos os seres que podem ser designados como metais. Se, porém, tomarmos o termo homem e dissermos que é um animal, vertebrado, mamífero, bípede, mortal e racional, essas qualidades formam sua compreensão. Se tomarmos o termo metal e dissermos que é um bom condutor de calor, reflete a luz, etc., teremos a compreensão desse termo. Quanto maior a extensão de um termo, menor sua compreensão, e quanto maior a compreensão,menor a extensão. Se, por exemplo, tomarmos o termo Sócrates, veremos que sua extensão é a menor possível, pois possui todas as propriedades do termo homem e mais suas próprias propriedades enquanto uma pessoa determinada. Essa distinção permite classificar os termos ou categorias em três tipos: 1. gênero: extensão maior, compreensão menor. Exemplo: animal;
2. espécie: extensão média e compreensão média. Exemplo: homem;
3. indivíduo: extensão menor, compreensão maior. Exemplo: Sócrates.
Na proposição, as categorias ou termos são os predicados atribuídos a um
sujeito. O sujeito (S) é uma substância; os predicados (P) são as propriedades
atribuídas ao sujeito; a atribuição ou predicação se faz por meio do verbo de
ligação ser. Por exemplo: Pedro é alto.
A proposição é um discurso declarativo (apofântico), que enuncia ou declara verbalmente o que foi pensado e relacionado pelo juízo. A proposição reúne ou separa verbalmente o que o juízo reuniu ou separou mentalmente. 
A reunião ou separação dos termos recebe o valor de verdade ou de falsidade quando o que foi reunido ou separado em pensamento e linguagem está reunido ou separado na realidade (verdade), ou quando o que foi reunido ou separado em pensamento e linguagem não está reunido ou separado na realidade (falsidade). 
A reunião se faz pela afirmação: S é P. A separação se faz pela negação: S não é P. A proposição representa o juízo (coloca o pensamento na linguagem) e a realidade (declara o que está unido e o que está separado). 
Do ponto de vista do sujeito, existem dois tipos de proposições: 
1. proposição existencial : declara a existência, posição, ação ou paixão do sujeito. Por exemplo: “Um homem é (existe)”, “Um homem anda”, “Um homem está ferido”. E suas negativas: “Um homem não é (não existe)”, “Um homem não anda”, “Um homem não está ferido”; 
2. proposição predicativa: declara a atribuição de alguma coisa a um sujeito por meio da cópula é. Por exemplo: “Um homem é justo”, “Um homem não é justo”. As proposições se classificam segundo a qualidade e quantidade. Do ponto de vista da qualidade, as proposições de dividem em: proposições afirmativas: as que atribuem alguma coisa a um sujeito: S é P. proposições negativas: as que separam o sujeito de alguma coisa: S não é P. Do ponto de vista da quantidade, as proposições se dividem em: proposições universais: quando o predicado se refere à extensão total do sujeito, afirmativamente (Todos os S são P) ou negativamente (Nenhum S é P); proposições particulares: quando o predicado é atribuído a uma parte da extensão do sujeito, afirmativamente (Alguns S são P) ou negativamente (Alguns S não são P); proposições singulares: quando o predicado é atribuído a um único indivíduo, afirmativamente (Este S é P) ou negativamente (Este S não é P). Além da distinção pela qualidade e pela quantidade, as proposições se distinguem pela modalidade, sendo classificadas como: proposições necessárias: quando o predicado está incluído necessariamente na essência do sujeito, fazendo parte dessa essência. Por exemplo: “Todo triângulo é uma figura de três lados”, “Todo homem é mortal”; proposições não-necessárias ou impossíveis: quando o predicado não pode, de modo algum, ser atribuído ao sujeito. Por exemplo: “Nenhum triângulo é figura de quatro lados”, “Nenhum planeta é um astro com luz própria”; proposições possíveis: quando o predicado pode ser ou deixar de ser atribuído ao sujeito. Por exemplo: “Alguns homens são justos”. 
Como todo pensamento e todo juízo, a proposição está submetida aos três princípios lógicos fundamentais, condições de toda verdade: 
1. princípio da identidade: um ser é sempre idêntico a si mesmo: A é A; 
2. princípio da não-contradição: é impossível que um ser seja e não seja idêntico a si mesmo ao mesmo tempo e na mesma relação. É impossível que A seja A e não-A; 
3. princípio do terceiro excluído: dadas duas proposições com o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma afirmativa e outra negativa, uma delas é necessariamente verdadeira e a outra necessariamente falsa. A é x ou não-x, não havendo terceira possibilidade. 
Graças a esses princípios, obtemos a última maneira pela qual as proposições se distinguem. Trata-se da classificação das proposições segundo a relação: proposições contraditórias: quando temos o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma das proposições é universal afirmativa (Todos os S são P) e a outra é particular negativa (Alguns S não são P); ou quando se tem uma universal negativa (Nenhum S é P) e uma particular afirmativa (Alguns S são P); proposições contrárias: quando, tendo o mesmo sujeito e o mesmo predicado, uma das proposições é universal afirmativa (Todo S é P) e a outra é universal negativa (Nenhum S é P); ou quando uma das proposições é particular afirmativa (Alguns S são P) e a outra é particular negativa (Alguns S não são P); proposições subalternas: quando uma universal afirmativa subordina uma particular afirmativa de mesmo sujeito e predicado, ou quando uma universal negativa subordina uma particular negativa de mesmo sujeito e predicado. 
Quando a proposição é universal e necessária (seja afirmativa ou negativa), disse que ela declara um juízo apodítico. Quando a proposição é universal ou particular possível (afirmativa ou negativa), diz-se que ela declara um juízo hipotético, cuja formulação é: Se… então… Quando a proposição é universal ou particular (afirmativa ou negativa) e comporta uma alternativa que depende dos acontecimentos ou das circunstâncias, diz-se que ela declara um juízo disjuntivo, cuja formulação é: Ou… ou… Assim, a proposição “Todos os homens são mortais” e a proposição “Nenhum triângulo é uma figura de quatro lados” são apodíticas. A proposição “Se a educação for boa, ele será virtuoso” é hipotética. A proposição “Ou choverá amanhã ou não choverá amanhã” é disjuntiva. 
O silogismo Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. Inferir é tirar uma proposição como conclusão de uma outra ou de várias outras proposições que a antecedem e são sua explicação ou sua causa. O raciocínio é uma operação do pensamento realizada por meio de juízos e enunciada lingüística e logicamente pelas proposições encadeadas, formando um silogismo. Raciocínio e silogismo são operações mediatas de conhecimento, pois a inferência significa que só conhecemos alguma coisa (a conclusão) por meio ou pela mediação de outras coisas. A teoria aristotélica do silogismo é o coração da lógica, pois é a teoria das demonstrações ou das provas, da qual depende o pensamento científico e filosófico. 
O silogismo possui três características principais: 1. é mediato: exige um percurso de pensamento e de linguagem para que se possa chegar a uma conclusão; 2. é dedutivo: é um movimento de pensamento e de linguagem que parte de certas afirmações verdadeiras para chegar a outras também verdadeiras e que dependem necessariamente das primeiras; 3. é necessário: porque é dedutivo (as conseqüências a que se chega na conclusão resultam necessariamente da verdade do ponto de partida). Por isso, Aristóteles considera o silogismo que parte de proposições apodíticas superior ao que parte de proposições hipotéticas ou possíveis, designando-o com o nome de ostensivo, pois ostenta ou mostra claramente a relação necessária e verdadeira entre o ponto de partida e a conclusão. O exemplo mais famoso do silogismo ostensivo é: 
Todos os homens são mortais. 
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Um silogismo é constituído por três proposições. A primeira é chamada de
premissa maior; a segunda, de premissa menor; e a terceira, de conclusão,
inferida das premissas pela mediação de um termo chamado termo médio. As
premissas possuem termos chamados extremos e a função do termo médio é
ligar os extremos. Essa ligação é a inferência ou dedução e sem ela não há
raciocínio nem demonstração. Por isso, a arte do silogismo consiste em saber
encontrar o termo médio que ligará os extremos e permitirá chegar à conclusão.
O silogismo, para chegar a uma conclusão verdadeira, deve obedecer a um
conjuntocomplexo de regras. Dessas regras, apresentaremos as mais
importantes, tomando como referência o silogismo clássico que oferecemos
acima:
A premissa maior deve conter o termo extremo maior (no caso, “mortais”) e o
termo médio (no caso, “homens”);
A premissa menor deve conter o termo extremo menor (no caso, “Sócrates”) e
o termo médio (no caso, “homem”);
a conclus ão deve conter o maior e o menor e jamais deve conter o termo
médio (no caso, deve conter “Sócrates” e “mortal” e jamais deve conter
“homem”). Sendo função do médio ligar os extremos, deve estar nas premissas,
mas nunca na conclusão.
A idéia geral da dedução ou inferência silogística é:
A é verdade de B.
B é verdade de C. Logo, A é verdade de C.
A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA
Marcada pela queda do Império Romano do Ocidente (476), e pelo começo dos tempos modernos, que têm seu início a partir da conquista de Constantinopla (1453)ou do princípio da Reforma Religiosa em 1517. A essa filosofia medieval costuma-se dar o nome de filosofia escolástica, que começou mesmo no século IX. Por isso, vamos dividir a filosofia da Idade Média em dois grandes períodos – a filosofia patrística e a filosofia escolástica.
Desde Santo Agostinho e de Anselmo de Cantuária, todos obedeciam ao mote: “saber para crer, crer para poder saber”. Durante esse período, a filosofia, que tem por objetivo tratar dos grandes problemas do mundo, do homem e de Deus só com as forças da razão, alia-se com a fé religiosa no pressuposto de uma unidade ideológica.
Nesse sentido, o ser humano podia dizer com segurança que sabia da origem do mundo e da sua própria natureza, cheia de sentido, bem como sua essência homem e sua posição no universo, tendo em vista a significação da sua vida e a imortalidade. Trata-se de uma filosofia comprometida com juízos de valor preconcebidos, o que deixa um rastro de dúvida quanto à existência de uma filosofia de fato na Idade Média.
A Patrística
A filosofia cristã dos primeiros sete séculos foi denominada de patrística, por ter sido elaborada pelos padres da Igreja, considerados como os primeiros teóricos. Ela consiste no conjunto de doutrina das verdades da fé cristã e na sua defesa contra os “pagãos” e os hereges. Esse conjunto foi responsável pela defesa da fé e da criação dos costumes que decidiram os rumos da Igreja no decorrer dos sete primeiros séculos do cristianismo. A patrística também se ocupou da elucidação progressiva dos dogmas cristãos e daquilo que chamamos de Tradição Católica.
Se procura interpretar o cristianismo por intermédio de conceitos tomados da filosofia grega e encontra-se o significado que a filosofia grega dá ao cristianismo. Os primeiros pensadores cristãos também se debateram com os filósofos, Platão, Aristóteles, sobretudo com os estoicos e os epicureus. Sem perder de vista os ideais da doutrina cristã, eles buscaram encontrar, frente à filosofia e aos filósofos, o local adequado da reflexão filosófica e do pensamento cristão.
Costuma-se dizer que os filósofos convertidos ao cristianismo buscaram conferir à doutrina cristã um status filosófico, mas sem o cuidado de salientar as fontes filosóficas.
Podemos dividir a Patrística em três fases:
• Período ante-niceno – corresponde ao período anterior ao Concílio Ecumênico de Niceia. Inclui todos os escritos surgidos entre o século I e o início do século 4.
• Período niceno – faz menção ao período entre os anos anteriores até aqueles posteriores ao Concílio Ecumênico de Niceia. Abrange os escritos que surgiram entre o início e o fim do século 4.
• Período pós-niceno – trata-se do período compreendido entre os séculos 5 e 8.
Aurélio Agostinho foi um padre que merece destaque entre os representantes do clero, da mesma forma que Tomás de Aquino se diferenciou entre os escolásticos. Enquanto Agostinho buscou inspiração na filosofia platônica, Tomás de Aquino preferiu os pensamentos de Aristóteles para elaborar a filosofia metafísica cristã.
A filosofia de Agostinho
Nascido em Tagasta, na Numídia, em 354, Agostinho pertencia a uma família burguesa comandada pelo pai, que era pagão, tendo sido batizado somente antes de morrer. No entanto, a mãe era uma cristã fervorosa que influenciou muito o filho nesse aspecto. Ele foi para Cartago para aperfeiçoar seus estudos e, ao terminá-los, abriu uma escola lá mesmo. Em seguida, partiu para Roma e depois para Milão. Ele deixou de ensinar aos 32 anos, por motivo de saúde e de natureza espiritual. Após uma reflexão crítica e madura das suas ideias, acabou abandonando o maniqueísmo para adotar a filosofia neoplatônica, que lhe ensinou a espiritualidade divina, bem como a negatividade do mal. 
Agostinho retirou-se do mundo durante meses, visando ao isolamento, na companhia da mãe, do filho e de alguns discípulos, nos arredores de Milão. Foi durante essa fase da sua vida que redigiu seus diálogos filosóficos. Logo após a conversão aos 33 anos, Agostinho deixou Milão, doou tudo o que tinha para os pobres e fundou um mosteiro em uma de suas propriedades. Foi ordenado padre em 391 e consagrado bispo em 395, tendo governado a igreja de Hipona até a morte, aos 75 anos, durante o assédio da cidade pelos vândalos em 430. Ele também de dedicou, em tempo integral, a estudar a Bíblia e a redigir suas obras, especialmente as de caráter filosófico. Entre elas, estão Contra os acadêmicos, Os solilóquios, Sobre a imortalidade da alma, Sobre a quantidade da alma, Sobre o mestre, Sobre os costumes, Do livre arbítrio, Sobre as duas almas, Da natureza do bem. 
De acordo com Agostinho, a filosofia poderia resolver o problema da vida, a qual apenas o cristianismo poderia dar uma solução real. Nesse sentido, seu grande interesse estava relacionado aos problemas de Deus e da alma, por serem os mais importantes. No início, ele garantiu a certeza da própria existência espiritual, de onde tirou uma verdade superior e imutável como condição e origem de toda verdade individual. Mesmo ao desvalorizar o conhecimento sensível em relação ao conhecimento intelectual, alegava que os sentidos e o intelecto consistem nas fontes de conhecimento. Como para ver algo com os olhos humanos, é necessária a luz física, da mesma forma, para o conhecimento intelectual, seria preciso uma luz espiritual que vem de Deus, sendo esta a Verdade e o Verbo divino, para onde são levadas as ideias do pensamento platônico. 
Com relação à natureza de Deus, Agostinho demonstrou uma noção exata, ortodoxa e cristã, definindoo como um poder racional infinito, eterno, imutável, simples, espírito, pessoa, consciência. Para ele, Deus é ainda ser, saber e amor, e, no tocante às relações mundanas, Deus é concebido como criador. Vale lembrar que o pensamento clássico grego concebia uma dualidade metafísica. Já no pensamento cristão agostiniano, esse dualismo persiste, mas agora incorporando a moral e os pecados dos espíritos que se erguem contra Deus, preferindo o mundo a Ele. Portanto, no cristianismo, o mal estaria, do ponto de vista metafísico, na negação e na privação. 
Basicamente, Agostinho tratou do problema das relações entre Deus e o tempo, uma vez que este último é considerado uma criatura de Deus, porque passa a existir a partir da criação das coisas. Ainda é possível afirmar que a psicologia de Agostinho encontrou ressonância no seu platonismo cristão. Nesse sentido, o corpo não é mau por natureza, uma vez que a matéria não pode ser essencialmente má, por ter sido criada por Deus. No entanto, a união do corpo com a alma é acidental, pois alma e corpo não formam a unidade metafísica, substancial, da doutrina da forma e da matéria.
Entretanto, demonstrou indecisão entre o criacionismo e o traducionismo, ou seja, se a alma é criada diretamente por Deus ou provém da alma dos pais. A única certeza é que ela é imortal pela sua simplicidade. Agostinho a classificou platonicamente em vegetativa, sensitiva e intelectiva; mas destacou que estão todas forjadas na substância humana. Dessa forma, a inteligência é divina em intelecto intuitivo, a razão consiste em fruto da vontade. Enquanto no homem a vontadeé amor, no animal funciona como instinto, e nos seres inferiores está representada pelo apetite. Sem sombra de dúvida, a moral agostiniana é cristã e transcendente. A característica mais importante da sua moral está no voluntarismo, na ação própria do pensamento latino, de forma oposta ao pensamento grego. 
Dessa forma, a vontade não é determinada pelo intelecto, pois vem antes dele. Para a filosofia agostiniana, como a vontade é livre, pode querer o mal; pois se trata de um ser limitado, capaz de ir ao encontro da vontade de Deus. O pecado, portanto, possui em si mesmo o dado estrutural da pena da sua desordem e, como o homem não pode prejudicar Deus, acaba prejudicando a si mesmo, dilacerado pela sua natureza. A teoria agostiniana sobre a liberdade em Adão, antes do pecado original, consiste justamente em poder não pecar. Depois do pecado original cometido, está em não poder não pecar e nos bem-aventurados será não poder pecar. 
Dessa forma, o mal físico tem outra explicação mais profunda, uma vez que o mal moral foi remediado pela redenção de Cristo, Homem-Deus, que devolveu à humanidade os dons divinos, bem como a possibilidade do bem moral, mas deixou permanecer o sofrimento como consequência do pecado, como meio de purificação e expiação. Para explicar o mal moral e seus desdobramentos, Agostinho atestou o fato de ser muito mais glorioso para Deus retirar o bem do mal, em vez de simplesmente impedir o mal. De maneira resumida, a doutrina agostiniana sobre o mal consiste basicamente na privação do bem ou devido a uma natureza específica. 
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