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A sedução das ruínas

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FÁBRICA MARTINS IRMÃO & CIA. 
Trajetória fabril na dinâmica urbana de São Luís 
 
 
 
 
Antonia da Silva Mota & Ulisses Pernambucano (Orgs) 
 
 
 
 
São Luís 
2014 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
Prof. Dr. Natalino Salgado Filho – Reitor 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS 
Prof. Dr. Francisco de Jesus Silva de Sousa – Diretor de Centro 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA 
Prof. Dr. Josenildo de Jesus Pereira - Coordenador 
EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
Prof. Dr. Sanatiel de Jesus Pereira – Diretor 
 
 
PROJETO GRÁFICO: 
Stúdio Edgar Rocha 
Fotografias: Edgar Rocha 
Diagramador: Nazareno 
Imagem da capa: foto Gaudêncio Cunha, Álbum da Alfaiataria Teixeira,1899. 
 
Mota, Antonia da Silva 
 Fábrica Martins Irmão & Cia: trajetória fabril na dinâmica urbana de São Luís / 
Antonia da Silva Mota, Ulisses Pernambucano. (Orgs.). - São Luís: Edufma, 2014. 
 250 p. 
 ISBN 978-85-7862-364-7 
 1.Manufaturas – Maranhão 2. Maranhão - Economia séc. XIX e XX 3. Fábrica 
Martins – trajetória I. Pernambuco, Ulisses II. Título 
 CDD 338.476 781 21 
 CDU 620.2(812.1).06 
 
SUMÁRIO 
 
 Apresentação 
Cap. 1 SÃO LUÍS DO MARANHÃO - A FORMAÇÃO DO 
CONJUNTO FABRIL E A ATIVIDADE MANUFATUREIRA 
DO SÉCULO XVIII AO XX. 
Antonia da Silva Mota 
 
 A Fábrica do Capitão Salgado Moscoso. 
 A Fábrica dos Irmãos Martins. 
 A crise na economia do arroz e do algodão e a reorientação 
econômica para extração de óleos vegetais. 
 
 Novos produtos da Fábrica: algodão medicinal e gelo. 
 Os trabalhadores da Fábrica, estratégias de sobrevivência. 
 O pioneirismo na extração do óleo do babaçu. 
 A família Martins, inovação na arquitetura urbana, abertura de 
novos bairros na cidade de origem colonial....... 
 
 As dificuldades financeiras com o fim do ciclo econômico do 
babaçu. 
 
Cap. 2 A FÁBRICA MARTINS E A SOCIEDADE 
MARANHENSE...... 
Nivaldo Germano 
 
 Crise da Agroexportação e Atividade Fabril..... 
 Instalação e Expansão Industrial 
 Estratégias Empresariais e Projeção Comercial 
 O Trabalho entre Ideias e Práticas 
 O Colapso Industrial Desde Alguns Pontos de Vista 
 Considerações Finais 
Cap. III ARQUITETURA INDUSTRIAL E O ESPAÇO URBANO 
Claudia Andrade 
 
 Arquitetura da Fábrica Martins & Irmãos 
 Processo Evolutivo do Entorno Imediato 
 
A Quinta dos Salgado 
 
 Conclusão 
 Notas 
 Currículo dos autores 
 
 
LISTA DAS ILUSTRAÇÕES 
 
Mapa de São Luís, 1844 p. 
 
 
 
 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
Esse livro possui uma história, que remonta ao encontro de profissionais de 
diversas áreas. Ele se iniciou a partir da compra do terreno onde funcionou a antiga 
Fábrica Martins & Irmão por quase um século, de 1870 a 1968, pelo Grupo Mateus. 
Como ainda estavam de pé ruínas dos casarões do entorno da fábrica, tombadas pelo 
patrimônio estadual, o IPHAN autorizou a construção de um supermercado 
condicionado às obras de sustentação das ruínas, a fundação de um museu com os 
artefatos resultantes da pesquisa arqueológica e a publicação de um livro sobre a firma 
Martins & Irmão. A partir daí, ocorreu a interação profícua de profissionais de diversas 
áreas - da arqueologia, da história, da arquitetura e da arte, para a reconstituição de um 
passado apagado pelo descaso das autoridades e de seu povo com o patrimônio 
histórico. 
O trabalho de pesquisa histórica foi difícil, pois pouco foi guardado, uma 
vez que nenhum valor se dá à história empresarial de uma região tão rica em 
implicações econômicas e sociais. Inúmeros trabalhadores, das mais variadas 
especializações, até mesmo escravizados e forros, labutaram e tiraram seu sustento 
destas Fábricas, portanto, sua importância social transcende as épocas e as classes 
sociais. O trabalho de reconstituição histórica foi feito, a partir de notícias de jornais, de 
mapas, dos álbuns de fotografias, de revistas da associação comercial, da historiografia 
do período e do relato de descendentes dos proprietários e de antigos operários. 
Como o tempo que nos foi dado era pouco, a equipe encarregada da 
pesquisa histórica resolveu se dividir em busca de fontes que ajudassem a trazer à tona o 
passado da fábrica. Dois historiadores e uma arquiteta se aplicaram na árdua tarefa, o 
resultado foram três artigos que caminham separados mas possuem um mesmo objetivo: 
a reconstituição da história da fábrica. Ao final, cada autor se responsabilizou pelo 
conteúdo de seu texto. 
Oferecemos ao público visões possíveis sobre a história da Fábrica Martins 
& Irmão. Os autores estão abertos às críticas e contribuições que nos permitam avançar 
mais no conteúdo apresentado. A intenção é mesmo esta: a partir deste trabalho inicial, 
surgirem outras visões, que desejo mais aprofundadas, sobre nossa história empresarial, 
que, como o texto sugere, iniciou ainda nas primeiras décadas do século XVIII, com os 
curtumes - as “fábricas de sola”, e se intensificou sobremaneira na segunda metade 
deste mesmo século, com as fábricas de soque de arroz. Portanto, longa tradição possui 
São Luís com unidades manufatureiras, não sendo estranha aos proprietários a atividade 
fabril, cujo período áureo foi marcado pelos investimentos nas fábricas têxteis. 
Espero que a leitura desse livro seja agradável. 
Antonia da Silva Mota & Ulisses Pernambucano 
Abril de 2014. 
 
 
ARQUITETURA INDUSTRIAL E ESPAÇO URBANO 
Cláudia Andrade, arquiteta 
 
“Na quitanda 
O tempo não flui 
Antes se amontoa 
Em barras de sabão Martins 
 
Mantas de carne-seca 
Toucinho mercadorias 
Todas com seus preços e 
Cheiros 
Ajustados ao varejo (...) “ 
Ferreira Gullard 
 
Passada a reconquista da Capitania do Maranhão das mãos dos franceses em 
1615 e da dos neerlandeses em 1644, este trecho da colônia portuguesa do Atlântico 
empobrecido pelas lutas contra os invasores, carecia de mão de obra e de divisão do 
trabalho, tendo a geografia como fator agravante das comunicações além dos constantes 
ataques indígenas. Assim, “a São Luís dos primeiros 150 anos não prosperou como a 
Olinda, Recife e Salvador do açúcar e do poder, e o Rio de Janeiro que sofreu a 
influência do eldorado mineiro dos primeiros anos do século XVIII”, i tanto que em 
1720 contava com menos de mil “vizinhos”. ii 
 Em janeiro de 1750, foi assinado o Tratado de Madrid entre o Rei Dom 
João V de Portugal e Dom Fernando VI da Espanha no qual se estabeleceu o princípio 
do Uti Possidetis como base para a divisão territorial, ou seja, a terra deveria ser 
possuída pelos que nela moravam e trabalhavam. Portugal foi privilegiado, 
consolidando suas conquistas e presença no imenso território que constitui o Brasil, 
muito além do que estabelecia o Tratado de Tordesilhas (1494), abocanhando a bacia 
amazônica. São Luís que disputava com Belém desde o século XVII o posto de 
principal porto de entrada para a região norte ampliou sua importância principalmente 
porque em meados dos anos setecentos, ocorre o boom econômico e político na Europa, 
culminando na Revolução Industrial. Nesse ambiente foram criadas novas 
oportunidades de inserção das economias coloniais americanas no âmbito internacional, 
sendo o início da circulação de dinheiro amoedado no Brasil e Maranhão (em 1749) um 
elemento facilitador. 
Em função da morte de Dom João V em Julho de 1750, subiu ao trono de 
Portugal seu filho Dom José I, que escolheu para Ministro e Secretário de Estado a 
Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal. Este, no que se refere às 
colônias portuguesas, “incrementou a imigração; espalhou escolas primárias, 
reorganizou a máquina administrativa, aumentou e melhorou a defesa militar e 
incentivou o comércio e a lavoura.” 
iii 
O Marquês de Pombal enviou seu irmão, capitão-tenente da Armada Real 
Francisco Xavier de Mendonça Furtado para governar o então Estado doGrão-Pará e 
Maranhão, tendo este chegado ao Araçagi com uma frota de 12 naus em meados de 
1751, porém só tomou posse no final de setembro em Belém do Pará, onde fixou 
residência. Ficou no Maranhão um governador subalterno, sendo o primeiro Luiz de 
Vasconcellos Lobo. Aqui encontraram tanta pobreza, que foi expressa em carta dirigida 
ao Ministro Diogo de Mendonça Corte-Real em 22 de janeiro de 1752, nos termos que 
seguem: 
Tenho informado a V. Ex.ª do que tenho podido averiguar das plantações deste 
Estado; e parece incrível que havendo nestas tantas e tão preciosas drogas, 
coubesse na possibilidade que ele chegasse até o último precipício e miséria e 
pobreza em que se acha, e que, finalmente, chegasse a Fazenda Real a extinguir-se; 
e podendo ser um Estado poderoso, se reduziu a termos de estar a cargo de S.M. 
para o mandar socorrer como a qualquer pobre. 
iv
 
O Maranhão que até então tinha a economia voltada principalmente para a 
subsistência, teve seu primeiro ciclo econômico de rápido desenvolvimento em 
decorrência das “Reformas Pombalinas” implantadas por Mendonça Furtado as quais 
incluíram a libertação dos índios; a expulsão dos padres Jesuítas e a criação da 
Companhia Geral [de Comercio] do Grão Pará e Maranhão em 1755 “com o volumoso 
capital de 1.200.00 cruzados” 
v
, fornecendo aos lavradores os meios necessários ao 
desenvolvimento de suas atividades tais como: escravos, ferramentas, sementes, 
mantimentos e capital de custeio, para o primeiro ano, além de estabelecer a navegação 
para o Reino, fomentando a monocultura do algodão e da cana de açúcar voltada para 
exportação calcada no trabalho escravo em detrimento da policultura comercial, 
medidas estas que a antiga condição de penúria em fartura e riqueza. 
Assim ocorreu a primeira exportação de algodão (651 arrobas) em 1760
vi
; a 
primeira importação de escravos negros em 1761; a introdução do arroz da Carolina 
juntamente com a chegada de José de Carvalho com o intuito de estabelecer fábricas de 
descascar arroz, em 1765. Neste sentido a primeira exportação do arroz de Carolina,vii 
em 1767, chegou a 100.000 arrobas em 1773 e a 360.000 cinco anos depois. 
A economia maranhense atraiu os olhares especialmente dos portugueses 
sobreviventes do terremoto e incêndio de Lisboa [1755] tendo a capital passado, após a 
chegada de escravos africanos,“seu primeiro choque populacional. Para se ter ideia do 
incremento demográfico, basta observar que, se em 1720 o contingente humano pouco 
ultrapassava o milheiro, no recenseamento promovido em 1788, radicavam nela 16.580 
pessoas”viii e a cidade- que até 1750 ocupava a área da Praia Grande, tendo como limites 
a atual Avenida Pedro II, o Largo do Carmo e o Desterro expandiu-se ao espaço depois 
ocupado pelas Ruas dos Afogados, do Sol, da Paz, Grande e de Santana, chegando até 
ao Campo d’Ourique. No entanto, não foi possível estruturar a urbe para receber esse 
explosivo crescimento populacional. Ao final do século XVIII, Dom Sales de Noronha 
oficiou ao Senado da Câmara dizendo “ter presenciado no corpo da cidade muitas casas 
cobertas de pindoba, e assim ordenava que não se concedessem chãos a pessoas sem 
possibilidade para fazerem edifícios nobres, e que quando fossem concedidos, devia ser 
sob essas condições.”ix Fernando Pereira Leite de Fóios ao assumir o governo e 
examinar a cidade “viu a decadência da cadeia pública e as funestas consequências 
resultadas da sua incapacidade, viu a ruína da única fonte pública que tinha esta cidade 
para socorrer os seus numerosos habitantes, viu as ruas intransitáveis, sem calçadas e 
com barracas, os terreiros e praças públicas cheias de matas e tabocas, e com admiração 
viu pela primeira vez uma cidade sem pelourinho.” x 
Ao lado dos solares, com suas sacadas de ferro, magníficos portais trabalhados em 
pedra de cantaria, maçanetas de cristal colorido em portas de madeira almofadadas, 
iluminados por lampiões ou candeeiros de porcelana, guarnecidos com mobílias 
austríacas ou francesas em dourado, ricas alfaias estrangeiras, tais como porcelana 
de Limoges, baixelas de prata portuguesa, cristais da Baviera, decorados com 
cortina de ‘voile’ suíço, enfileiravam-se, em ruas tortuosas, humildes casebres, 
alumiados por lamparinas, com seus bancos toscos, um jirau, algumas redes e 
utensílios de barro.
xi
 
Em 1776, pelo decreto de 3 de maio, o rei Dom José mandou dividir o 
Estado em duas capitanias, a do Pará e a do Maranhão, e em decorrência, no ano 
seguinte nesta última teve início a edificação do Palácio do Governo, (qual??) para isso 
taxando 160 réis sobre cada arroba de algodão exportado. xii 
Em 1777, morreu o rei Dom José e subiu ao trono Dona Maria I, que 
exonerou o Marquês de Pombal e extinguiu por provisão régia de 25 de fevereiro de 
1778 a Companhia Geral do Comércio do Grão Pará e Maranhão
xiii
 além de extinguir, 
pelo Alvará Régio de 5 de Janeiro de 1785 as fábricas, permitindo apenas aquelas que 
produzissem tecidos mais grosseiros para a produção de sacos e roupas para escravos. 
Apesar do fim da Companhia, do surto de varíola ocorrido de 1787 a 1789, 
que fez muitas vítimas, às quais se somaram àquelas da grande cheia do rio Itapicuru, e 
consequente epidemia de febres que ceifou um quinto dos moradores daquela região 
considerada o celeiro do Maranhão, aliados ao turbulento cenário político, a colônia do 
Maranhão continuou seu ciclo de desenvolvimento até o primeiro quartel do século XIX 
aproveitando o desabastecimento de fio de algodão, em função do aumento da demanda 
do produto para a produção industrial europeia e das guerras de independência nas 
colônias da Inglaterra na América do Norte, que provocou um grande aumento do valor 
dessa commodity. 
Durante este período, foram realizadas diversas obras na Capital 
Maranhense como a construção do Forte da Ponta da Areia, do Quartel do Campo 
d’Ourique, da Ponte d’Alfandega (1797), das barracas na Praia Grande (1804); a 
transferência do Hospital Militar para o antigo Hospital da Madre Deus (1811); do 
Hospital de São José, da Santa Casa de Misericórdia (1814); do Teatro União (Artur 
Azevedo) na Rua do Sol (iniciado em 1815 e concluído em 1817); do calçamento das 
primeiras ruas (1819); da instalação da primeira tipografia maranhense (1821) e dez 
anos mais tarde, da Biblioteca Pública e finalmente da iluminação pública abastecida 
com azeite (1825). Também nesta época foi implantado o Cais da Sagração e realizada a 
reurbanização das principais praças da cidade. 
A independência do Brasil trouxe consigo um período conturbado. Tendo o 
Maranhão relações mais estreitas com a metrópole portuguesa que com o restante do 
Brasil foi o penúltimo estado a aderir à independência, que só ocorreu em 1823. Após 
esse período, em 1828 foi estabelecido o Regimento das Câmaras Municipais do 
Império, no qual foi definido como um dos papéis a tarefa de formular minucioso 
Código de Posturas, visando a ordenar as relações entre os munícipes e o espaço 
citadino. 
Com a população em declínio durante as primeiras décadas do século XIX, 
apenas em 1842 foi aprovado o primeiro Código de Posturas de São Luís, quando então 
já crescia com a consolidação do capitalismo e o incremento da vida urbana
xiv
. Este 
código foi depois substituído pela Lei n° 775 de 4 de julho de 1866 e após a 
Proclamação da República por novas e sucessivas legislações (1893, 1936 e 1968). 
Engenheiros, sanitaristas e médicos, detentores de conhecimentos técnicos e científicos 
que preveniriam as epidemias, passaram a dividir poder com os vereadores na criação 
de leis, e principalmente dos códigos de posturas levando para as periferias as atividades 
grosseiras e insalubres, onde progressivamente se avizinharam os mais pobres que em 
função da precária condição econômica não poderem pleitear terrenos dentro do limite 
urbano. 
Se, em 1814, levado pelos últimos numeramentos feitos pelos róisda desobriga, 
dava o historiador Gaioso
xv
 (...), uma população aproximada de 30.000 almas à 
cidade do seu tempo; e se,em 1814, quando a cidade para o rumo de L., pouco além 
da matriz da Conceição se estendia, e havia muitos terrenos por edificar ainda, 
como ele próprio o refere, sendo considerado sítio de recreio, e já fora da cidade, o 
do comendador José Gonçalves da Silva (atual Quinta do Barão ou das 
Laranjeiras); se, em 1821, davam-lhe o autor da Poranduba e o coronel Lago uma 
população de 20.000 almas; se, pelo lançamento de 1836-1837, contavam-se-lhe 
2.199 casas habitadas, com uma população presumível de 25.000, não é muito dar-
se-lhe, atualmente, uma população de 60.000 habitantes, depois das grandes e 
numerosas edificações que se vêem por toda a parte, hoje que tem ela mais do 
triplo das casas que tinha em 1836.
xvi
 
Em 1844, em São Luís já havia um plano de urbanização com o lançamento 
das quadras, que refletia as determinações do Código de 1842, uma adaptação pela 
Assembleia Legislativa Provincial (fundada em 1835)
xvii
 da Constituição do Império à 
realidade local, normatizando a ocupação do espaço urbano e as diversas atividades na 
cidade, inclusive as comerciais tendo como base princípios de salubridade e o bom 
convívio no espaço público. 
 
 
A partir daquele momento, todas as edificações na cidade e nos subúrbios 
deveriam antes ser aprovadas pela Câmara Municipal. Uma das preocupações refletidas 
no código era regulamentar o crescimento urbano e melhorar a circulação com o livre 
trânsito de pedestres e veículos de tração animal, determinando a desobstrução de 
calçadas e a largura média das novas ruas em oito braças (17,6m – para possibilitar o 
plantio de árvores em canteiro central) e largura mínima de quatro braças
xviii
, no caso da 
ocorrência de edificações preexistentes. Desta forma, estava proibido: construir 
alpendres na calçada; pôr vasos de flores nos parapeitos das janelas; ocupar mais da 
metade da rua com entulho das construções; expor mercadoria para venda nas calçadas; 
armar barracas nas ruas. O código também obrigava os proprietários a calçar a testada 
de seus imóveis e manter preservadas as referências de localização de ruas e prédios. No 
entanto, eram comuns as infrações como se vê no 
Relatório apresentado à Câmara Municipal da capital pelo Fiscal da 2ª Freguezia 
em 6 de Abril do corrente anno... 
Mapa base de São Luís, em 1844. Assinalada área de chácaras para onde foram deslocadas atividades 
potencialmente incômodas, e onde foi instalada a Fábrica Martins, Irmãos & Cia. 
Reprodução de “O Maranhão no Centenário da Independência” de Ribeiro do Amaral. 
A traveça da Palha, Mizericordia, o fim da Rua do Mucambo, Madre de Deos, 
junto as casas do cidadão Miguel Tavares, Ruas de Santa Anna, Affogados e outras 
muitas tem diversas ruínas, achando-se as duas primeiras totalmente intranzitaveis. 
(...) 
Publicador Maranhense, de 27 de junho de 1846. 
Trinta e sete dos 113 artigos integrantes do código limitavam os locais onde 
diferentes atividades comerciais potencialmente incômodas poderiam ser realizadas, 
como a venda de gêneros alimentícios, instalação de ferrarias e curtumes, venda de 
pólvora, abate de animais, desembarque de gado nas praias, distanciando essas 
atividades fora do limite urbano. 
20ª 
D’ora em diante não se poderá estabelecer tenda alguma de ferreiro dentro da 
cidade, só sim no bairro do Desterro; pena de dezesseis mil réis e nas reincidências 
de trinta e dois mil réis; porém as tendas que atualmente existem, serão 
conservadas durante a vida de seus donos. 
21ª 
Ficam proibidas todas as fábricas de curtume dentro da cidade e só poderão 
estabelecer-se fora dos subúrbios da mesma; e sendo nas suas imediações terão 
lugar somente na parte que fica a sotavento do Apicum por diante; pena de seis mil 
réis e doze na reincidência. 
22ª 
Fica igualmente proibido todo o fabrico de artifício e bem assim a venda de 
pólvora e a de quaisquer gêneros suscetíveis de explosão dentro da cidade; e sendo 
que seja nas imediações de seus subúrbios será na parte que fica a sotavento, por 
exemplo, o Distrito da Madre de Deus, e sendo já a distância dos subúrbios na 
mesma direção especificada será em lugar arredado do atual a Armazém da 
Pólvora, mil tesas pelo menos: pena aos contraventores pela primeira vez de trinta 
mil réis e oito dias de prisão; e no caso de reincidência sessenta mil réis e trinta 
dias de prisão. 
(...) 28ª 
Proíbe-se a criação de porcos em chiqueiros dentro da cidade; e só se permitem em 
todas as praias a sotavento, nos distritos das Barraquinhas e Madre de Deus; os 
contraventores pagarão três mil réis e nesta proporção, até ao máximo da multa, 
que a Câmara pode impor pelas reincidências; são excetuadas aquelas pessoas que 
em seus quintais engordam alguns destes animais para seu consumo. 
(...) 96ª 
Do 1º de abril de 1836 em diante, ficam de todo extintos os salgadouros de couros 
verdes que se acham dentro da Cidade, e só assim se poderão estabelecer na praia 
da Madre de Deus: aos contraventores desta Postura será imposta a multa de trinta 
mil réis, pela primeira vez, para o cofre da Câmara, e na reincidência a de sessenta 
mil réis, e quinze dias de prisão, evitando-se por esta forma as grandes imundícies 
e pestilento cheiro de sangue pútrido que diariamente infecciona a atmosfera, 
vindo, portanto, a saúde pública a sofrer grande detrimento. 
Código de Posturas de São Luís do Maranhão, 1842. 
Impulsionadas pela injeção de capital em função da abertura de instituições 
de crédito entre elas o Banco Maranhense (1841) e o Banco Comercial do Maranhão 
(1847), multiplicaram-se as atividades comerciais, existindo nessa época pelo menos 
seis fábricas de pilar arroz, três de sabão e de velas, vinte e duas de cal, oito olarias, 
duas prensas de algodão e seis tipografias instaladas na cidade.
xix
 Em 1849 havia lojas, 
alfaiates, chapelarias, sapateiros, charutarias, livreiros, ourives, relojoeiros, boticários, 
além de armazéns, padarias, quitandas, barracas, talhos, casa de pasto, botequins e 
bilhares, lojas de ferragens, vidraceiros, marceneiros, torneiros, armeiros, caldeireiros, 
cochoeiros, correeiros, ferrarias, funileiros, tanoeiros, refinadores de açúcar.
xx
 
O capital mercantil oriundo destas atividades pôde ser então investido nos 
serviços urbanos que surgiram naquele período. Daí em meados do século XIX, São 
Luís despontar “como a quarta Capital do Império Brasileiro, pela circulação de 
dinheiro e padrão construtivo do conjunto arquitetônico. Isso se deu em um acelerado 
processo de renovação urbana, com ricos comerciantes se estabelecendo em grande 
casario de comércios e residências”
xxi
, em substituição às construções arruinadas do 
povoamento anterior reflexo de uma economia menor voltada para o mercado interno. 
Esse avanço rápido da economia, valorizou o espaço urbano, forçando alterações na 
estrutura de distribuição de terras, possibilitando a hierarquização espacial uma vez que 
passou a se evitar a doação de “chãos” a pessoas que não tivessem recursos para 
construírem edificações de bom padrão. 
Essa movimentação urbana fez nascer a necessidade de revisão do Código 
de Posturas, sendo publicada nova legislação (Lei n.º 775, em 4 de julho de 1866) 
acrescida de novos artigos divididos em três partes intituladas: Regularizações e 
Aformoseamento Urbano; Segurança e Salubridade. 
Com a população ludovicense “em torno de 30 mil habitantes, distribuídos 
em 72 ruas, 19 vielas, 10 praças, 55 edifícios públicos, 2.764 casas, sendo 450 com mais 
de um andar”
xxii
, maior atenção foi dada aos veículos que transitavam na cidade, 
tornando necessário o licenciamento de carros, carruagens, carroças ou carretões por 
meio de matrícula na Câmara e fixação de placas numeradas. Foi estabelecido um 
padrão para esses veículos e aqueles que apresentassem desconformidade,não poderiam 
ultrapassar o perímetro urbano, tendo que descarregar no Campo d’Ourique ou na Praça 
da Alegria
xxiii
. 
Quanto ao aformoseamento da cidade, as posturas tinham como principal 
objetivo ordenar e embelezar o espaço urbano e assim foram normatizados os 
logradouros públicos, o alinhamento das ruas, calçadas e testadas, as construções 
(definindo inclusive o tipo de material que deveria ser usado dentro do limite urbano) e 
determinando a forma de escoamento das águas pluviais, a necessidade de arejamento 
dos porões, conjunto de medidas esta que veio impactar a arquitetura de época. A partir 
daquele momento, seria necessário ao menos o risco ou desenho da obra para a 
aprovação pelo Senado da Câmara. 
Em relação à seguridade, além das normas e recomendações sobre os 
insultos em espaço público, disparo de armas de fogo nas ruas, toque de recolher, entre 
outros, foi regulamentada a iluminação das casas, principalmente nos locais onde não 
havia iluminação pública, esta a base de gás hidrogênio a partir de 1858. 
Ao Dr. Chefe de policia – Comunico a V. S., para seu conhecimento, que já foram 
colocados dois lampiões, um na Rua do Mocambo, no lugar em que é cortada pela 
da Madre de Deus, e outro na esquina da casa de Antonio Joaquim Moscoso 
Salgado, que faz canto com o largo da igreja de Santiago; os quais lampiões 
começarão a acender-se d’amanhã em diante. 
Publicador Maranhense, 4 de janeiro de 1862 
Em resposta às epidemias de Febre Amarela e Sarampo, entre outras, a 
salubridade determinou a canalização de esgotos, o aterramento de pântanos (leia-se 
mangues) e partes alagadas. Também houve grande discussão sobre o enterramento dos 
mortos e o destino dos doentes,quando infectados de bexigas, que independente da 
condição social eram obrigados pelo Código de Posturas de 1842 a recolherem-se ao 
Hospital do Bonfim. Com a ruína deste, os acometidos pela varíola passaram a ser 
tratados na Enfermaria para Bexiguentos, esta transferida em 1865, devido ao aumento 
do número de doentes, para o sobrado pertencente a Raimundo Lamagnere Moniz que 
ficava no Largo de Santiago. O Dr. Antônio Henriques Leal foi autorizado a dispor de 
até 70$000 para o pagamento de aluguel do sobrado e 40$000 para o pagamento das 
gratificações de uma enfermeira e um cozinheiro. 
xxiv
 
Os possuidores de terrenos pantanosos e alagados dentro desta cidade são 
obrigados no prazo de seis meses depois de intimados pelos fiscais a aterrá-los e 
beneficiá-los de modo a tornarem-se enxutos e salubres. Aos contraventores multa 
de trinta mil reis e no fim de quinze dias depois disto não derem começo aos 
benefícios dos mesmos terrenos serão multados em dobro, fazendo a Câmara os 
aterros à custa dos possuidores.
xxv
 
O poder público também demonstrou especial atenção à circulação e abate 
de gado e a comercialização da carne bovina, um dos principais itens do abastecimento 
alimentar, a qual precisava ser consumida fresca. Como solução em São Luís, instalou-
se o matadouro na periferia, ao sul da cidade onde também passou a ser feita a curtição 
de couro, sendo o gado conduzido por estrada própria a partir do Portinho, local 
designado para o desembarque do gado que vinha do interior. 
Fica proibido o desembarque de gado vacum que se destina à matança em praias e 
cais da cidade, à exceção do lugar do Portinho, onde se acha a manga que o deve 
conduzir ao Curral do Conselho, para que cesse o trânsito do gado pelas ruas da 
cidade, com que ultimamente tem sido incomodado o público; e o dono ou mestre 
da canoa que contravier, pagará a multa de quatro mil réis e na reincidência doze 
mil réis. 
xxvi
 
Entre 1850 e 1880, foram abertas boutiques, farmácias, fábricas de 
chocolate, de licores, de fogos de artifício e agências de leilões, que evidenciam os 
problemas financeiros de muitos habitantes. 
xxvii
 
A crise do sistema agro-exportador algodoeiro resultou de mudanças na conjuntura 
internacional, com a recuperação da produção americana de algodão e as pressões 
inglesas pelo fim da escravidão, e uma situação interna de instabilidade política e 
econômica, com a escassez de terras e de mão-de-obra para o plantio de algodão, 
falta de capitais para investimento, endividamento dos produtores e tributação dos 
produtos. 
xxviii
 
A estagnação econômica que se seguiu em parte ocorreu em função do 
cenário político mundial, com o rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e 
Inglaterra (1861), da invasão do Mato Grosso por Solano Lopes (1861), da guerra 
contra Aguirre, no Uruguai (1864), da Guerra do Paraguai (1865), da desvalorização da 
moeda e principalmente das pressões para o fim da escravatura, na qual a economia se 
baseava. 
Com a aprovação da Lei Eusébio de Queiroz proibindo o tráfico negreiro 
em 1850 muitos senhores encontraram na venda de escravos para as fazendas de café no 
sudeste uma forma mais fácil de obter lucros imediatos, desestruturando a lavoura 
maranhense. 
Durante a Guerra da Secessão, quando os Estados Unidos se retiraram do 
mercado mundial do algodão, e o preço da commodity chegou a índices nunca vistos, os 
fazendeiros no Maranhão tentaram se reestruturar mais uma vez, mas o custo da 
produção já era bastante elevado principalmente em função da escassez de mão-de-obra. 
No último quartel dos oitocentos, os Estados Unidos retornaram ao mercado 
mundial com um produto de maior aceitação e os produtores de algodão se viram 
incapazes de cumprir seus compromissos com os agentes financeiros, assim como os 
produtores de açúcar. 
Neste cenário, a Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 1888, foi o 
derradeiro golpe do qual resultou 
o êxodo dos ex-escravos, que das fazendas partiam para a festa da redenção da 
raça, o lavrador maranhense esmoreceu, perdeu a energia e a coragem sentiu que 
faltava a condição em si mesmo e... baqueou (...) 70% dos engenhos de cana e 30% 
das fazendas algodoeiras fecharam as portas. 
xxix
 
Em busca da sobrevivência, a elite agroexportadora investiu o capital que 
lhe restava em plantas industriais ligadas à produção primária local, adaptando-se a um 
novo estilo de vida em uma cidade que queria ser a Manchester do Norte, contribuindo 
para que o Maranhão fosse considerado o segundo estado mais industrializado do país, 
ficando atrás apenas de Minas Gerais. “Entre 1872 e 1900, instalaram-se em São Luís, 
vinte e quatro estabelecimentos fabris – principalmente têxteis, mas também de 
fósforos, cerâmicas, chumbo, sabões, prego, calçados e outras [...]. De fato, a instalação 
deste parque fabril teve pouco impacto sobre o crescimento demográfico, mas 
contribuiu para a desconcentração dos serviços e da malha viária, até o Anil”. 
xxx
 
As fábricas foram instaladas na periferia da cidade expandindo os limites da 
urbe, tendo ao sul, pela proximidade de fontes de água potável e facilidade de 
escoamento da produção pelos portos e praias, a instalação de quatro grandes indústrias 
têxteis: a Companhia de Lanifícios Maranhenses, depois substituída pela Fábrica Santa 
Amélia, a Fábrica Progresso, a Fábrica São Luís e a Cânhamo. 
A capital maranhense também se viu beneficiada com a localização ao sul 
da fábrica de sabão, que aproveitaria o sebo vindo do matadouro, somando-se às de 
beneficiamento de arroz que existiam desde o tempo de Colônia. Esses 
empreendimentos criaram grande demanda de mão de obra fazendo com que o bairro da 
Madre Deus se tornasse atrativo para ocupação pelos mais pobres, contribuindo ainda 
para isso as pressões da legislação (Códigos de Postura de 1842 e 1866) e da 
fiscalização sanitarista sobre a população que habitava os baixos dos sobrados. 
Interessa que, em regra, essa região (São Pantaleão e a contígua Madre-Deus) deu 
lugar a infra-estruturas urbanas se especializando em destino sanitário, numa 
transição mediada pela implantação de sítios doados a nobres e altos funcionários 
de terras de aforamentoda Câmara ou de realengos do governo. Desta forma, 
muitas terras foram retornadas ao domínio municipal, possibilitando uma posterior 
ordem de distribuição espacial dentro da cidade, cuja última consequência foi 
tornar-se reserva urbana, na qual irão se instalar moradias populares, 
principalmente após o fim da escravatura, quando o trabalhador livre precisava se 
avizinhar dos lugares de produção na cidade. 
xxxi
 
Se em 1814, a cidade pouco se estendia além da igreja matriz da Nossa 
Senhora da Conceição, em 1891, foi dividida em quatro distritos para melhor controle, 
conforme proposta do chefe de polícia aprovada pelo governo do Estado. Os distritos 
tinham como divisores a Rua de São João, da Praia do Prego (Norte) até a praia de São 
Thiago (Sul); o Eixo Leste – Oeste iniciado no Outeiro da Cruz, passando pela Rua 
Grande até o Largo do Carmo, descendo pela Rua do Quebra Costa e Beco do 
Boaventura até a praia. 
 
Com a instalação das fábricas, multiplicaram-se as construções ao longo das 
Ruas de São Pantaleão e da Madre Deus, recebendo uma linha de bonde que chegava à 
Praia da Madre Deus conforme atestam o mapa de São Luís do Álbum do Tricentenário 
elaborado pelo deputado Justo Jansen Ferreira em 1912 e o artigo de José Ribeiro do 
Amaral, xxxiide fevereiro de 1912, do qual consta: 
Detalhe da Planta da Cidade de São Luiz, Capital do Estado do Maranhão, 
adaptada ao ensino escolar pelo Lente de Geographia do Lyceu Maranhense Dr. 
Justo Jansen Ferreira em 1912 – terceiro centenário do estabelecimento dos 
Franceses no sítio onde depois se fundou a cidade, onde se vê a divisão em 
distritos (1891). 
(...) bastará lembrar que na direção S., para além de São Pantaleão, encontra-se 
hoje uma cidade inteiramente nova, composta, é verdade, de pequenas e modestas 
habitações, mas que enchem a grande área compreendida entre esta igreja, o Largo 
de Santiago, Hospital Militar, Cemitério Municipal e Rua Senador João Pedro. 
(...) em 1836, existiam já aí os cemitérios dos Ingleses e o da Misericórdia (o 
cemitério velho) e o primeiro Hospital dos Lázaros, por detrás deste, ambos não há 
muito arrasados, e bem se compreende que edifícios tais não seriam levantados nos 
lugares em que, até há pouco, ainda eram vistos, se já então se derramasse a cidade 
para além deles. 
O que parece certo é que, à exceção do Hospital Militar, Quinta da Boa Hora, que 
primitivamente pertenceu ao cirurgião-mor José Maria Barreto (atual Fábrica de 
Tecidos São Luís) e de uma outra que foi do falecido comendador João Gualberto 
da Costa (atual Fábrica Cânhamo), e que são as construções mais antigas do bairro, 
raríssimas edificações deveriam então por ali haver. 
E tanto isto assim é, que as Ruas de São Pantaleão e da Madre Deus, que por 
aquele lançamento (1836-1837) tinham 63 casas cada uma, possuem 
presentemente, a primeira, 279 prédios, e a segunda, 172, não compreendidos neste 
número os por concluir. 
Quanto à arquitetura das fábricas, as mais antigas eram adaptações do 
sistema construtivo tradicional para os usos específicos, sendo construídas em pedra e 
cal e cobertas com telha e/ou palha, enquanto as construções mais simples eram 
construídas em taipa ou adobe e recobertas com palha. 
Com a revolução industrial, foi possível importar além do maquinário 
necessário para a produção em série, telhas “tipo francesas” e estruturas metálicas que 
permitiam vãos mais amplos que os gerados pela arquitetura tradicional. 
Assim, uma nova tipologia baseada na arquitetura industrial inglesa foi 
adotada com fachadas autoportantes em alvenaria de pedra e cal ou tijolos queimados, 
que traduziam o conceito de funcionalidade, utilidade, eficiência e economia despojada 
de ornamentos: 
The architect’s skill lies in his ability to resolve two problems: one, given a sum of 
Money, to produce the most decente building possible, as in a private building; 
two, given the decencies required of a building, to produce the building for the 
smallest expense possible, as in a public building. 
xxxiii
 
 
Planta da Cidade de São Luiz, Capital do Estado do Maranhão, adaptada ao ensino 
escolar pelo Lente de Geographia do Lyceu Maranhense Dr. Justo Jansen Ferreira em 
1912 – terceiro centenário do estabelecimento dos Franceses no sítio onde depois se 
fundou a cidade. Nela estão marcadas as igrejas, sendo possível perceber que já não 
existia a igreja de Santiago, a capela das Barraquinhas e a da Madre Deus. Na época, 
havia duas praças: a Praça 13 de Maio, que ladeava a Igreja de São Pantaleão e estava 
limitada pela Rua das Cajazeiras, Rua do Passeio e São Pantaleão, onde se localizava o 
Cemitério dos Ingleses, e onde também estava a Casa dos Expostos; a Praça 1º de 
Maio,nome dado ao antigo Largo de Santiago,quando ali já não existia a igreja era 
limitada pelas ruas da Cajazeiras, da Madre Deus, de São Tiago e de São João. No 
mapa estão lançadas fábricas sendo duas de pilar arroz, localizadas na Rua de São João 
e a fábrica de sabão dos Irmãos Martins, as Fábricas São Luís e Cânhamo, com acesso 
pela Rua de São Pantaleão Quanto ao itinerário dos bondes, a linha “São Pantaleão” 
tinha como ponto final a Praia da Madre Deus, junto à Quinta do Matadouro. 
As fachadas apresentavam predomínio do vazio sobre o cheio, privilegiando 
a simetria e mantendo o alinhamento das aberturas. Estas,na grande maioria das fábricas 
do final do século XIX e início do século XX tinham verga,de tijolos rebocados,em arco 
abatido e ressaltada do plano das fachadas, tendo fechamento em madeira, com janelas 
de abrir muitas vezes compostas por caixilhos de vidro na parte superior e venezianas na 
metade inferior, guarnecidas por gradis de ferro. 
Muitas apresentavam platibandas demarcadas por cimalhas e barrado liso. 
Para quebrar a horizontalidade, pilastras destacadas do pano da fachada contribuíam 
para obter ritmo. O item mais marcante eram as grandes chaminés, em tijolos cerâmicos 
maciços e sessão circular, que podiam ser avistadas a distancia. 
Próximo às fábricas mais afastadas surgiram vilas operárias construídas 
pelos empresários com a finalidade de assegurar fácil acesso ao local de trabalho, como 
no caso da Fabril, Cânhamo, Santa Isabel e Anil. 
No entanto, com a disponibilidade de terras públicas ociosas nas 
proximidades das indústrias no sul da cidade, surgiu o bairro operário da Madre Deus, 
cujas edificações foram executadas por autoconstrução que adaptava a tipologia “porta-
e-janela colonial” aos lotes estreitos, que resultou na redução das áreas livres, criando 
por vezes ambientes precários e insalubres. 
A indústria têxtil maranhense possuía um mercado consumidor, de certa forma, 
assegurado. Seus produtos eram bem aceitos nos estados e territórios (à época) do 
Norte do Brasil, e no Nordeste, com destaque para os estados do Piauí, Ceará, e do 
próprio Maranhão. 
xxxiv
 
Com o desenrolar da I Guerra Mundial houve necessidade de aumento da 
produção e consequente aumento de maquinário e de empregos. No entanto, mesmo 
com o aparecimento de novos bairros, a população de São Luís permaneceu estável, 
crescendo menos de 1% ao ano. Em parte porque a indústria têxtil empregava 
principalmente mulheres e crianças; as epidemias como a gripe espanhola, peste 
bubônica e tuberculose mantinham as taxas de mortalidade altíssimas; a mão-de-obra 
masculina havia se deslocado para a Amazônia atraída pelo Ciclo da Borracha e a 
aristocracia ludovicense, durante os séculos XIX e XX, foi se transferindo para a Corte, 
posteriormente, a Capital da República. 
A Lei Orgânica dos Municípios aprovada em 1927 marcou a política de 
melhoramentos urbanos, dotando “a cidade [de São Luís] de infra-estrutura viária e de 
espaços públicos adequados às novas tecnologias de transporte, os automóveis, de 
serviços – energia elétrica – e de construção, com o uso de cimento e concreto 
armado...”.
xxxv
 Com a melhoria das estradas que ligavamos principais núcleos 
habitacionais da ilha, as famílias abastadas começaram a se mudar para edificações 
novas e mais saudáveis como bangalôs, quintas e chácaras que cumpriam a legislação 
sanitarista em vigor, abandonando os antigos casarões no centro. Estes por sua vez 
começaram a ser adaptados, assim como os edifícios públicos, para, cumprindo com as 
novas exigências de higiene e estética, receberem o funcionalismo em suas repartições 
oriundas da reorganização da máquina administrativa da República. 
Com o funcionalismo público municipal estabelecido, a administração 
voltou suas atenções para o espaço urbano “lançando-se a uma obra de remodelação e 
reforma urbanística da velha cidade”. 
xxxvi
 Durante o governo do Interventor Federal do 
Estado Novo no Maranhão, Paulo Martins de Sousa Ramos, valendo-se dos benefícios 
do aumento da produção da indústria têxtil advindo da Segunda Guerra Mundial, foi 
lançado o Plano de Remodelação da Cidade, com a criação do Serviço de Salubridade 
das Habitações, voltados aos casarões então transformados em cortiços no centro da 
cidade; demolição de ruínas; arborização urbana; abertura das avenidas Magalhães de 
Almeida e Getúlio Vargas; alargamento e alinhamento de vias; reformas de praças e 
jardins; reforma do Hospital Geral e Instituto Oswaldo Cruz; construção do Novo 
Mercado Municipal. Para financiar estas obras, foram criados novos impostos que 
geraram protestos, principalmente daqueles ligados à Associação Comercial. 
É desta época o loteamento do antigo Largo de Santiago [Praça 1º de Maio] 
limitado pelas Ruas das Cajazeiras (antiga José Barreto – por onde passava o bonde), 
Rua Cândido Ribeiro (das Crioulas), Rua de Santiago e Rua Frederico Figueira 
(projetada para separar o loteamento da Fábrica Martins, Irmão & C.) para abrigar 26 
(vinte e seis) casas divididas em quatro diferentes tipologias: “A” e “B” com três 
dormitórios e edícula com quarto para empregados cada e “C” e “D” com dois 
dormitórios e área de serviço externa cada para o funcionalismo público do estado. 
 
Foto aérea do mesmo quarteirão em 2012. Foto: Edgar Rocha. 
Processo evolutivo do entorno imediato 
As primeiras notícias sobre a ocupação da área de entorno do antigo Largo 
de Santiago se referem à chegada do segundo bispo do Maranhão, Dom Frei Timóteo do 
Sacramento. 
Encontrando São Luís desregrada na perspectiva religiosa, logo que assumiu 
o cargo, o religioso condenou à prisão, degredo e multa pessoas de todas as classes 
sociais acusadas de concubinato, hábito generalizado na sociedade maranhense, 
ignorando os privilégios conquistados com a expulsão dos holandeses
xxxvii
. 
Desrespeitando a ordem do Juízo da Corte para a soltura dos acusados, o bispo acabou 
sitiado em sua residência, localizada nas imediações do local que mais tarde veio a ser 
conhecido como Largo de Santiago. Por ordem do ouvidor, as portas e janelas do 
sobrado foram pregadas quando o bispo foi pessoalmente buscar água em uma fonte 
próxima. Dom Timóteo excomungou o capitão-mor João Duarte Franco, comandante da 
tropa que cumpriu a ordem, mas acabou cedendo à argumentação do sub-prior José 
Ferreira e suspendeu as sanções até a resolução da autoridade superior. 
A fonte onde o religioso foi buscar água ficou então conhecida como “Fonte 
do Bispo” e está localizada ao fim da Rua das Crioulas, chamada a partir do século 
XVIII de Rua da Madre de Deus por ser o Caminho Velho para uma pequena capela 
construída na “ponta de Santo Amaro” com esta invocação. Iniciada pelo Capitão-mor 
Manoel da Silva Serrão, a capela foi finalizada pelo capitão Constantino de Sá com a 
concessão pela câmara em 10 de dezembro de 1713. 
xxxviii
 
Em data incerta a capela da Madre Deus passou a ser administrada pelos 
jesuítas, que construíram ao lado desta a Casa dos Exercícios e Religiosa Recreação de 
Nossa Senhora da Madre Deus cujas atividades - para os alunos do Colégio Máximo - 
foram descritas pelo Padre jesuíta João Tavares em 1724 em “As recreações do Rio 
Munim do Maranhão”. 
Com o confisco dos bens dos jesuítas, expulsos em 1760, a capela passou à 
administração civil e o prédio de dois pavimentos onde funcionara o seminário foi 
destinado ao Colégio dos Nobres do Maranhão, que não chegou a ser instalado. 
xxxix
 
A biblioteca com mais de mil volumes encadernados foi transferida para o 
bispado e o prédio acabou ocupado “temporariamente” pelo Governo da Capitania 
durante as obras do novo Palácio, iniciadas em 1777 e só concluídas em 1811. 
Concluída a sede do governo o prédio foi adaptado em hospital militar. 
Os terrenos remanescentes do entorno foram, com o passar do tempo, 
arrematados ou cedidos a outras famílias que ali instalaram as suas quintas, como a da 
Madre de Deus, da Boa Hora, da Boa Vista, do Gavião e dos Salgados. 
De acordo com César Marques, no Dicionário Histórico Geográfico do 
Estado do Maranhão, em 9 de janeiro de 1774, no palácio do governador Joaquim de 
Mello e Povoas, perante o ouvidor, intendente geral, corregedor e provedor da comarca 
Miguel Marcellino Velloso e Gama, o Dr. Juiz de Fora provedor da Fazenda Real 
Henrique Guilhon e o procurador da câmara J. Miguel d’Araújo, Bernardo da Silva 
Gatinho arrematou por 35$000 réis setenta e quatro braças de terra dentro dos limites da 
cidade, no Caminho Velho, que ia para a igreja da Madre de Deus que pertenceram aos 
Jesuítas para a Sra. Lourença (Brígida) da Cruz Pinheiro, viúva de João de Mello. 
Dona Lourença fez voto de construir uma ermida dedicada a Nossa Senhora 
das Barraquinhas requerendo licença ao vigário geral e prometendo ainda dar todo o 
necessário para o culto divino. O requerimento neste sentido foi despachado pelo 
vigário capitular cônego Francisco Matabosque, com vista ao promotor do juízo 
eclesiástico, em 13 de setembro de 1779, data em que a viúva assinou escritura pública 
lavrada pelo tabelião Ignácio de Loyola Beckman doando para patrimônio da capela os 
aluguéis das casas em que morava na Rua do Açougue e, na falta destes a quantia de 
6$400 reis anuais. 
No dia seguinte o promotor do juízo eclesiástico Dr. Bernardo Bequimão 
deu parecer favorável à pretensão, colocando como condição que o local fosse 
adequado, que a construção fosse de pedra e cal e que não se celebrasse missa sem antes 
a mesma ser benzida e convenientemente paramentada. 
César Marques ainda refere que cinco dias depois, o local chamado Sítio 
Bôa Vista fora vistoriado e achando-se bom o lugar, foi expedida licença para a 
edificação, tendo-se gasto com estes papeis a quantia de 2$765 réis. Em 1782 a capela 
estava pronta e decentemente paramentada. 
No dia 16 d’esse mesmo mês foi a capela visitada pelo Dr. Vigário geral e 
governador do bispado João Duarte da Costa, e “achou-a bem acabada, com os 
paramentos necessários para nela se poder celebrar o santo sacrifício da missa e 
mais ofícios divinos com decência, e sendo assim visitada benzeu a dita capela e 
seu adro na distância de trinta passos, sendo presentes o rvm. Cura da freguesia 
Bernardo Bequimão, o promotor do juízo Miguel Maciel Aranha, e o cônego José 
Bernardo da Fonseca, escrivão da câmara eclesiástica. 
xl
 
Ainda de acordo com Marques, em 1784, foi deferido o pedido de escritura 
das terras que Dona Lourença possuía junto à capela das Barraquinhas que construiu, 
sendo as terras avaliadas em 300$000 réis pelos avaliadores do Conselho alferes Jordão 
Clemente Pereira e Xavier Francisco de Queiroz, em outubro daquele ano. 
Hoje, não há mais vestígios da antiga capela, restando apenas o nome de 
Rua das Barraquinhas àquela que tem início na Rua da Palha (Casimiro Júnior) e 
termina na Rua das Cajazeiras, próximo ao velho Largo de Santiago, local da antiga 
Quinta [da família dos] dos Salgado.
xli
 
A Quinta da Madre de Deus, por sua vez, esteve na posse de Manoel João 
Correia de Souza até 1830 quando passou por herança para a Santa Casa de 
Misericórdiajuntamente com outros bens. Oito anos mais tarde, a Santa Casa vendeu a 
Quinta para Manoel Duarte Godinho, que ali instalou o açougue público. Com sua 
morte, por sugestão do vereador Guilhon, em 1843 a Câmara Municipal arrematou dos 
herdeiros parte do terreno, aproveitando as instalações do açougue e assim suspendendo 
as obras do novo matadouro que estava sendo construído na Fonte do Bispo, conforme 
resoluções da Câmara Municipal nas edições de setembro e outubro de 1843 colhidas 
nas páginas do Publicador Maranhense nas quais se declara na Parte Oficial da edição 
de n°185 endereçada ao Inspetor do Tesouro Publico Provincial, que se liberasse 
3:973$360 réis “a fim de completar o pagamento da quantia por que foi arrematada a 
parte da Quinta do finado Manoel Duarte Godinho, que serve de açougue público.” 
Em 1892 a Santa Casa da Misericórdia publicou anúncios no Diário do 
Maranhão para a venda da Quinta da Boa Hora, antiga propriedade do cirurgião-mor 
José Maria Barreto, que esteve alugada a Luiz Parga, tendo sido adquirida pela 
Companhia de Fiação e Tecelagem São Luiz, pelo valor de 24:313$984.
xlii
 A quinta 
estava situada no extremo sul da Rua de São Pantaleão, junto à fábrica de Cânhamo, 
ainda em construção nos terrenos da antiga quinta de João Gualberto da Costa. 
 
 
Arredores de São Luís.Giuseppe Leone Righini, 1862. 
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo. 
Outra importante propriedade naquela região era a Quinta dos Salgado, cujo 
primeiro proprietário, José Salgado de Sá Moscoso, era natural da Vila Nova dos 
Infantes, Reino de Galiza, cujo registro de capitão foi emitido em Lisboa em 24 de maio 
de 1788 e assinado no Maranhão em 10 de abril de 1789. A propriedade ficava 
localizada nos “arrabaldes da cidade, rodeada de árvores, numa pequena elevação, que 
em plano inclinado, vai terminar no mar” (Marques, 1970). Este historiador menciona 
que no arquivo do escrivão de Capelas e Resíduos está lançada uma escritura, feita em 6 
de dezembro de 1788, vazada nos seguintes termos: 
Em que o cap. José Salgado e sua mulher fizeram doação de patrimônio a essa 
capela de 120$000 cada ano, na forma seguinte: a fábrica de descascar arroz, 
16$000; as casas místicas à mesma capela, 40$000; e mais 64$000 por ano no 
rendimento das casas que possuíam na Rua do Desterro, bem como 120 braças de 
terra de comprido e 60 de largo, onde se achava ereta a mesma capela do Senhor 
São Tiago e fábrica. 
Falecendo o capitão em 23 de maio de 1793, com 70 anos de idade, a capela 
ficou em poder de seu filho o Tenente Rodrigo Luís Salgado de Sá Moscoso. 
Tempos depois, já na patente de Capitão-Mor, Rodrigo Luís Salgado de Sá 
Moscoso foi Governador de Armas entre setembro de 1823 e fevereiro de 1824, quando 
após prender Miguel Inácio dos Santos Freire e Bruce, presidente da junta governativa 
da província eleito em dezembro de 1823
xliii
, sob a acusação de ser republicano foi 
deposto e enviado preso para a Corte no Rio de Janeiro.
xliv
 Faleceu em 1835. 
A capela ficou abandonada por longos anos até que em 14 de março de 1848 
o neto do fundador, o Capitão Tiago José Salgado de Sá Moscoso,na qualidade de 
procurador-geral de sua mãe Dona Luísa Rita de Sousa Salgado, contratou com o 
capuchinho Frei Doroteu de Dronero, visando a obter o beneplácito do Imperador e a 
autorização do bispo (esta através de sentença canônica alcançada em de 20 de julho de 
1854) para transformar a capela e casas contíguas em hospício regular, “com todos os 
privilégios, graças, isenções e imunidades”, a que se seguiu a solenidade de inauguração 
com grandes celebrações quatro dias depois. 
S. Exa. Revma. o Sr. Bispo Diocesano D. Manuel J. da Silveira dirigiu-se nessa 
tarde para ali assistir o ato da ereção, sendo antes dêsse ato exaltada uma cruz 
grande, em frente da capela, que benta por S. Exa. Revma. foi pelo mêsmo bispo e 
mais dois cônegos assistentes elevada ao seu assento por meio de três longas fitas 
(numa pegou o bispo, e nas outras duas os dois cônegos assistentes) ajudadas pelo 
socorro de grossos cabos de linho, sustentados pelo povo que devotadamente se 
prestou a êsse serviço. - Concluída a exaltação da cruz, S Exa., cônegos e povo 
entraram para a capela, S. Exa. subiu ao sólio e em sua presença e dos mêsmos 
cônegos e missionários Frei Doroteu de Dronero(vice-prefeito)e Frei Lourenço M° 
do Monte Leone, e de um não pequeno concurso de povo foi lida a provisão da 
ereção; finda a leitura, Frei Lourenço fez (do púlpito) um discurso análogo.
xlv
 
À frente da Igreja e do Hospício, Frei Dorotheu, mandou erguer um altar 
para Santa Severa, colocando uma relíquia dos Santos Mártires que trouxe consigo para 
o Maranhão em 1852. 
xlvi
 
Neste cenário, a partir de agosto de 1856, começou a ser comemorada 
anualmente a Festa da Virgem Mártir Santa Severa, com novena, procissão pelas Ruas 
de Santiago, São Pantaleão, Grande até o quartel, do Sol até a Praia Grande, retornando 
pelo Beco do Quebra Costa, Rua Grande, Madre de Deus, finalizando com a queima de 
fogos de artifício e leilão. 
Esta festividade tomou cada vez maior vulto, movimentando toda a cidade, 
sendo necessários cuidados como mudanças no trânsito e multas aos infratores para se 
evitarem acidentes como o encontro de carros e atropelamentos no entorno do Largo de 
Santiago durante as comemorações. 
Durante anos, os capuchinos tiveram a “posse mansa e pacífica”
xlvii
 do 
templo, porém com a doença do Frei Dorotheo de Dronero, e consequente morte em 
agosto de 1868, o espaço ocupado pela igreja e hospício passou a ser motivo de 
cobiça.
xlviii
 
O bispo comissionou o Reverendo João Luiz Martins para assistir o 
religioso enfermo e inventariar as imagens, alfaias, paramentos, joias de ouro e prata 
que pertenciam à igreja assim como os demais objetos de valor da Ordem dos 
Capuchinhos, ficando com a guarda destes até a entrega ao Rvm° Frei José Maria de 
Lôro, missionário apostólico capuchinho do hospício de Santiago em 22 de dezembro 
de 1868. 
xlix
 
Neste ínterim, o Dr. Ricardo Décio Salazar, casado com uma das herdeiras 
de Rodrigo Salgado, solicitou a entrega do hospício, e não conseguindo lavrou um 
protesto judicial julgando assim acautelar os direitos que supunha ter para o domínio da 
capela. 
Ofendido por este ato o reverendo vigário da freguesia da Conceição, 
Revm° Pedro Nicolau Ribeiro, dirigiu uma consulta ao Exm° Senhor Bispo, que 
respondeu que não havia razão para que fosse considerada extinta a ordem dos 
Missionários Apostólicos Capuchinhos em São Luís em função da morte do Frei 
Dorotheo de Dronero, mantendo os direitos de posse daquela Missão estabelecida na 
Diocese. 
Por sua vez, o Senhor Comendador Luiz José Joaquim Rodrigues Lopes, 
vice-cônsul da Itália tentou arrecadar os bens fazendo valer a convenção consular de 4 
de fevereiro de 1863 entre o Brasil e aquele reino. O Bispo diocesano respondeu 
publicamente que aqueles bens não pertenciam ao religioso, mas à ordem missionária da 
qual Frei Dronero fazia parte. 
A justiça permitiu que a Igreja se mantivesse por mais alguns anos e até 
mesmo passasse por melhorias em 1870, sendo o vice-prefeito Frei Celestino de 
Pedavoli encarregado da mesma e do Hospício, onde continuavam a realizar a catequese 
e “civilização” dos índios. 
l
 
A Festa de Santa Severa de 1874 foi grandiosa como nos tempos de Frei 
Dronero sendo digna de nota na imprensa local. O programa elaborado pelo 
encarregado da festividade Antônio Joaquim Moscoso Salgado, iniciava com novena, 
com o Santíssimo exposto, e música sacra e partitura de Sergio Marinho. 
li
 Durante as 
festividades, uma banda marcial tocou de um coreto próprio. Na véspera subiu ao céu 
“um magnífico balão acompanhado de foguetes de lindas vistas”. 
lii
 
No dia 27 de setembro, houve missa rezada das 4 às 7 da manhã e missa 
solene com sermão do Evangelho às 10 horas. Às 16 horas, anunciado pela Banda 
Marcialteve início o leilão das oferendas. Às 19 horas um Te-Deum a grande 
instrumental, finalizando as festividades às 21 horas com show pirotécnico. 
Em fevereiro de 1876 o Frei Pedavoli embarcou para Pernambuco por 
ordem de seu superior geral, ficando em seu lugar o Frei José Maria de Lóro, pessoa 
envolvida em diversos escândalos na Fazenda Dois Braços da ordem dos capuchinhos. 
Em maio daquele ano, noticiou-se o fim à contestação sobre a posse da igreja de São 
Thiago entre Missionários capuchinhos e o Dr. Raimundo Decio Salasar. Este último, 
saindo vencedor, propôs a venda da Igreja e terreno adjacente, oferecendo para as 
urgências do Estado um terço do produto da venda. Passados dois anos, a imprensa 
denunciava o estado do templo que teria se tornado moradia particular, exacerbando os 
ânimos dos cristãos. 
Estamos convencidos de que o revd. Sr. dr. Tavares envidará os seus esforços no 
sentido de cessar esta ordem de coisas, e o Sr. Dr. Salasar, cujo espírito religioso 
invocamos, não desejará de forma alguma que os vindouros, quando passarem por 
aquelle lugar, digam: este Templo e Hospício erguidos pelo capitão José Salgado 
de Sá Moscoso em 1789, foi destruído, aniquilado em 1877 pelo Dr. Ricardo Decio 
Salasar, casado com uma das descendentes daquele pio varão 
Um devoto. 
Diário do Maranhão nº 1419, 1º de Maio de 1878. 
Logo vieram denúncias sobre o sumiço das alfaias e paramentos da igreja, 
sendo esclarecido o traslado dos mesmos para a Igreja de São Pantaleão, doada a Santa 
Casa de Misericórdia. Essas denúncias devem ter sido motivadas pela notícia na 
Pacotilha de 28 de julho de 1883 de que o encarregado da Igreja havia se negado a 
entregar as alfaias de Santiago ao bispo diocesano sem antes receber ordem expressa do 
Dr. Salasar e sua família, proprietários daquele templo. 
Ainda naquele ano, se tentou arrecadar dinheiro para a reconstrução da 
igreja e ainda se comemorou a festa de Santa Severa, tendo ao fim a queima de fogos de 
artifício. Porém, a Festividade teve a programação usual alterada, transferindo a parte da 
celebração para a igreja de São Pantaleão, mas mantendo-se por mais alguns anos a 
tradição do largo de Santiago onde se reuniam mais de duas mil pessoas, sendo que a 
principal atração passou a ser um “pau de sebo”. 
Hoje, o único resquício da antiga Igreja de Santiago é uma pedra mármore 
com inscrições, que ficava por cima da porta principal a qual se encontra recolhida na 
Igrejade São Josédo Desterro, no bairro do mesmo nome. 
 
http://averequete.blogspot.com.br/2011/10/templos-desparecidos-capela-de-sao.html) 
Durante a década de 1860, foram leiloados diversos terrenos penhorados ao 
casal do falecido capitão-mor Rodrigo Luiz Salgado de Sá Moscoso e sua mulher, 
localizados na Rua do Norte ou Imprensa, na Rua de Santa Rita, na Rua de São 
Pantaleão, na Rua da Madre de Deus, na Rua das Cajazeiras, na Rua de Santiago e no 
Largo de Santiago conforme anúncios nos jornais da época
liii
, conforme se pode ver do 
documento abaixo transcrito: 
EDITAES 
O cirurgião-mor José Silvestre dos Reis Gomes, primeiro suplente em exercício de 
juiz municipal da 1ª vara da cidade do Maranhão & 
Faço saber aos que o presente edital de praça virem ou dele tiverem noticia, que 
findosos dias da lei e do estilo que principiarão a correr do dia vinte e um do 
corrente mês, e terminarão no dia dezoito de agosto próximo vindouro, se hão de 
arrematar no dia seguinte dezenove de Agosto pelas dez horas da manhã, a porta 
das casas dos auditoiros, a quem mais der e maior lanço oferecer diversos terrenos 
penhorados ao casal do falecido capitão-mor Rodrigo Luiz Salgado de Sá Moscoso 
e sua mulher por execução que lhe move José da Silva, cujos terrenos e seus 
valores são os seguintes: Um na rua do Norte ou Imprensa, que tem principio desde 
a medição da casa arrematada por Joaquim Alves dos Santos até o canto fronteiro a 
quina do hospital da Misericórdia com dezesseis e meia braças de frente para o 
nascente e oito e meia braças de fundo para a rua de Santa Rita, a razão de quinze 
mil RS a braça – duzentos e quarenta e sete mil e quinhentos RS 247$5000. Outro 
terreno na rua de Santa Rita, com oito e meia braças de fundo para o poente com o 
fundo a encostar na medivisão com J. Alves dos Santos já descontadas três braças 
que arrematou Pedro Luiz de Azevedo Troça, partindo da casa de Lourença 
Joaquina da Conceição, a razão de vinte mil reis, cento e setenta mil reis – 
176$000. Outro terreno na rua de S. Pantaleão, indo para o hospital militar em o 
qual se acha edificada uma casa de pretas minas, com treze braças de frente para o 
poente e quinze de fundo para o nascente e vinte mil reis, duzentos e sessenta mil 
reis 260$000. Outro terreno na rua da madre de Deus a partir da fonte do Bispo 
lado esquerdo até onde tem principio o muro fronteiro ao preto Domingos Salgado 
com cinqüenta e nove e meia braças de frente ao nascente e quarenta e uma braças 
e sete palmos de fundo para o poente, com um poço em pedra porem arruinado 
denominado – Cassange a vinte e cinco mil reis a braça. Um conto quatrocentos 
oitenta e sete mil e quinhentos reis 1:487$500 – Outro terreno contiguo o acima 
com muro de pedra e cal até o canto da rua de Sant’Iago com vinte quatro braças 
de frente ao nascente e quarenta e uma braças e sete palmos de fundo a encostar a 
um paredão fronteiro a porta da ilharga da igreja de Sant’Iago também murado a 
quarenta mil reis a braça, novecentos e sessenta mil réis 96$000. Outro terreno na 
rua da Madre de Deus com três braças de frente ao poente e dezesseis braças e três 
palmos de fundo ao nascente, com três paredes de pedra e cal místico de um lado 
com a preta Valeria, terreno e obra pela quantia de duzentos e cinqüenta mil reis – 
250$000. Outro terreno pegado ao acima e doe canto com quatro e meia braças de 
frente e dezesseis braças de fundo com o qual teve casa a preta Valeria, a vinte mil 
reis a braça, noventa mil reis 90$000. Outro terreno na mesma rua da Madre de 
Deus, pegado a casa de Pedro José da Silva com duas e meia braças de frente e 
quatorze de fundo a vinte mil reis, sessenta mil reis 60$000. Outro terreno na 
mesma rua com três braças de frente e quatorze de fundo fazendo canto para a rua 
das Cajazeiras em que tem casa Antonio Joaquim Ramos, a vinte e cinco mil reis: 
75$. Outro terreno na rua das Cajazeiras com vinte três braças de frente até 
encostar no terreno e casa comprada por Antonio Martins Ferreira, ao sul com doze 
braças e três palmos de fundo para o norte, duzentos e sessenta mil reis 260$. 
Quem pois nos ditos terrenos quiser lançar o poderá fazer no escrito da praça em 
mão do porteiro da semana ou comparecer no dia, hora e lugar indicados. Pra 
constar se passou o presente que será afixado no lugar de costume e publicado pela 
imprensa. Maranhão dezenove de julho de mil oitocentos e sessenta e dois. Eu 
Joaquim Pereira dos Santos Queiroz, escrivão que o escrevi. – José Silvestre dos 
Reis Gomes – Selo – n. 103. R$ 400. Pagou quatrocentos reis em branco – 
Maranhão, 19 de julho de 1862 – Sabino – Algarve – Está conforme, O escrivão, 
Joaquim Pereira dos Santos Queiroz. 
Publicador Maranhense, ed.176 de 7 de Agosto de 1862. 
Acredita-se que os Martins tenham adquirido o terreno nesta época, quando 
ao redor do Largo de Santiago se instalam algumas fábricas. Entre elas, a Fábrica de 
Sabão de Motta & Martins, localizada no Largo de Santiago n° 3, conforme listado na 
página 363 do Almanak Administrativo da Província do Maranhão 1869-1875. 
 
 
 
A ATIVIDADE FABRIL EM SÃO LUÍS DO MARANHÃO, SÉCULO 
XVIII AO XX. 
Antonia da Silva Mota – historiadora. 
Das primeiras décadas do século XVIII, datam as referências iniciais às 
atividades manufatureiras no entorno da cidade de São Luís. Na documentação do 
Arquivo Histórico Ultramarino encontram-se registros de uma contenda entre 
moradores da cidade acerca da “fábricade curtir sola” de Lourenço Belfort. São Luís, 
em seu núcleo urbano, contabilizava somente mil e duzentos moradores, quando esse 
irlandês naturalizado recebeu autorização da Coroa portuguesa para instalar a primeira 
fábrica de “atanados” 
liv
, “na Praça do Mercado”. Tal fábrica poderia “curtir cada ano 
até oito mil meios de sola, [...] ainda que esta terra não produza esta quantidade de 
couros” 
lv
. Como a Coroa havia estabelecido a obrigatoriedade dos couros exportados 
pelo porto de São Luís passarem por tal curtume, os moradores, revoltados, se dirigiram 
ao rei por meio do Senado da Câmara, solicitando a revogação de tal obrigatoriedade. 
Não conseguiram. Segundo as autoridades metropolitanas, o sentido da medida era 
coibir os constantes roubos de gado, facilitada pela exportação feita com os couros “em 
cabelo”. 
Nas capitanias do Norte, desde o século XVIII, se adensavam os rebanhos 
bovinos para atender à demanda de carne dos enclaves populacionais localizados no 
litoral; bem como para abastecer a agroindústria açucareira e, mais tarde, as atividades 
mineradoras. Na cidade de São Luís, os curtumes localizavam-se nos arrabaldes do 
limitado centro urbano, nas margens dos rios Anil e Bacanga, alguns deles utilizavam 
dezenas de escravos. Proprietário de uma dessas unidades de produção, José Bernardes 
Teixeira, nascido na Vila Torre de Moncorvo, arcebispado de Braga, Portugal, fez sua 
vida na capitania do Maranhão, onde se casou e deu origem a numerosa descendência. 
“Lavrador” 
lvi
 e negociante, disse em seu testamento possuir cento e dois escravos, 
“entre grandes e pequenos, mulatos, negros crioulos e negros de Cacheu, entre os quais 
se acham oficiais de carapina, ferreiros, tecelões e pedreiros”. 
Pelo extrato seguinte, fica patente a constatação de que os proprietários do 
período investiam em vários ramos de negócios, sem buscar necessariamente a 
especialização: 
Declaramos que possuímos uma légua de terra lavrada com meia de fundo, e mais mil 
braças em quadra neste Sítio de Sam Payo cuja terra a houvemos por compra, e nela 
estamos situados com casas de sobrado, cobertas de telha, plantações de cana, café, e 
mais benfeitorias, engenho de canas com dois alambiques, uma caldeira, uma “cayxa”, 
uma caldeirinha, e dois tachos grandes, um engenho de mandioca, um moinho e uma 
fábrica de cortar sola = Declaramos que possuímos uma fazenda de gado vacum, e 
cavalar nos Campos de Anajatuba, donde temos meia légua de fundo [...] em cuja 
fazenda fizemos o patrimônio da nossa capela da Senhora Santa Ana que consta de 
trinta vacas e duas éguas, e todas as multiplicações. 
lvii
 
 
Bernardes Teixeira menciona ainda a arrematação dos dízimos do Itapecuru e 
sociedade em negócios mercantis, evidenciando a versatilidade dos proprietários do 
período, característica de agentes que se movimentavam em uma economia pré-
capitalista. 
Na segunda metade do século XVIII, com a inserção econômica ao mercado 
Atlântico realizada pelo ministério pombalino, por meio da Companhia de Comércio 
do Grão-Pará e Maranhão, foi iniciado o cultivo de gêneros agrícolas para exportação. 
Na capitania do Maranhão, o cultivo do arroz branco da Carolina foi imposto aos 
lavradores e logo obteve resultados favoráveis, pois “no primeiro ano de sua plantação 
exportaram-se 2.847 arrobas para Lisboa”. Zelando pelo melhoramento da atividade, 
“no ano de 1766, a Companhia de Comércio enviou à capitania o tenente-coronel José 
de Carvalho com todos os utensílios próprios para a construção de uma fábrica de soque 
de arroz, montada junto às margens do rio Anil”. A recomendação era de que “se tivesse 
muito cuidado no descascamento do arroz”. Logo no início da década de 1770 “já havia 
três moinhos ou fábricas de soque, pertencentes à Companhia e já se projetava o 
assentamento de mais dez.” 
lviii
 Esses estabelecimentos manufatureiros ocupavam as 
áreas periféricas da cidade, pois necessitavam da força motriz dos rios e rias para 
viabilizar suas atividades. Por outro lado, aproveitavam os portos naturais para obterem 
abastecimento de matérias-primas e da lenha com maior facilidade. 
As manufaturas para o trabalho de descasque do arroz em São Luís estavam 
situadas preferencialmente nos terrenos baixos, acessíveis pela maré, tais como Santo 
Antônio, Remédios e os terrenos indicados como do “Salgado”, no caminho da ermida 
da Madre de Deus, na ponta sul da cidade em formação. Além da ampla utilização de 
escravizados, naturalmente trabalhadores forros e livres dessas “fábricas” começaram a 
ocupar o entorno delas com construções rústicas, para moradia. 
No século XVIII, era utilizado regularmente como conceito de “fábrica”: 
“estabelecimentos especializados em atividades de beneficiamento de algum produto”. 
Rafael Bluteau, em seu dicionário, definiu fábrica como “construção, edifício; casa ou 
oficina onde se fabricam alguns gêneros” como “panos e tabacos” 
lix
. Logo, o conceito 
de época é próximo ao atual e plenamente aplicável ao quadro geral que vem sendo 
montado nesse texto. Por exemplo, Bernardo José Prego, nascido na Vila de Vianna, 
Comarca de Valença do Minho, morador de São Luís, registrou em seu testamento de 
1798: “tenho uma fábrica de socar arroz, que terá para o manejo desta, oitenta 
negros, meus escravos, pouco mais ou menos, contando pequenos e grandes. Também 
para o dito serviço da mesma fábrica tenho dezessete cavalos, pouco mais ou menos.” 
lx
 
Mediante as doações de chãos urbanos realizados pelo Senado da Câmara de 
São Luís, constata-se a multiplicação dessas unidades produtivas. Ao que parece, o 
empreendimento era vantajoso para os proprietários daquele período, pois não eram 
raros os pedidos de novos terrenos para sua expansão. O trecho da carta abaixo é claro a 
esse respeito: 
Fazemos mercê (...) de dar e conceder por data e sesmaria deste Senado ao 
Immenoribus Roque Jacinto Lopes Tourinho e a viúva dona Francisca Xavier de 
Sousa Lopes um terreno de setenta braças de terras em quadra, que corre por detrás 
da ermida de N. S. dos Remédios para o nascente, buscando o Armazém de 
Pólvora desta cidade a beira de um apicum que se acha na dita paragem donde 
tinham já edificado duas fábricas de sola e outra de descascar arroz e por ser 
muito pouco terreno para as ditas manufaturas, casas de vivenda, e ranchos para os 
seus escravos [...] Maranhão, 15 de dezembro de 1790. 
lxi
 
 
Nos Livros de Registro do Senado da Câmara de São Luís foram 
encontradas cartas de doação de chãos urbanos para as “fábricas” de Lourenço Belfort, 
de Manoel Loudos Reys, de um certo Trindade, de Joaquim José Gomes, de João 
Rodrigues de Almeida, de Simão dos Santos Malheiros e de Elena Correa. 
Não só os donos das fábricas recorriam à Câmara para adquirir chãos 
urbanos e expandir seus negócios. Inúmeros moradores também pediam terreno e 
davam como referência determinada “fábrica”. Alguns desses solicitantes demostravam 
com muita evidência sua ligação com a atividade, pois se diziam “oficial de pica-
couro”, “oficial de picassola” etc. 
Sentindo a ameaça representada pelo avanço das atividades manufatureiras nas 
Colônias portuguesas, o alvará da rainha D. Maria I, de 1785, tentou controlar esse 
movimento ao permitir apenas fábricas de roupas mais simples para os escravos, 
extinguindo assim todas as outras que trabalhavam com outros materiais e produtos, sob 
pena de aplicar multa, cujo valor seria três vezes o valor da propriedade.
lxii
 No Estado 
do Grão-Pará e Maranhão, notadamente nos arredores da cidade portuária de São Luís, 
verificou-se que tal vigilância foi burlada, pois os registros locais dão conta de que se 
multiplicavam unidades fabris, a maioria delas beneficiando produtos da pauta de 
exportação local, como o couro e o arroz. 
As fábricas também eram instaladas em terrenos mais afastados do núcleo 
urbano inicial, como as localizadas no Sítio de Sam Payo, noSítio Pearenga, Tamancão 
e o Sítio do “Físico.” Esse último, de propriedade do físico-mor Antônio José da Silva 
Pereira, abrigava um complexo de atividades voltadas para o beneficiamento de vários 
produtos, como o couro e o arroz e ainda a fabricação de cera e cal. Faziam parte do 
conjunto, além das casas de vivenda dos proprietários e de seus escravos, fornos, 
conjunto de tanques, poços, armazéns, cais, laboratório, rampas, telheiros e canalizações 
com caixa de distribuição para os tanques. 
 
A Fábrica do Capitão Salgado Moscoso. 
No final do século XVIII, na área onde mais tarde se implantariam inúmeras 
unidades fabris, já se verificava a existência de algumas edificações importantes: a 
Santa Casa de Misericórdia, a Igreja de São Pantaleão e o Cemitério dos Ingleses, no 
Alto do Carrapatal, mais à frente o Colégio da Madre de Deus, erigido pelos Jesuítas, e 
mais abaixo, a Capela e o Largo de Santiago, e uma fábrica de descasque de arroz, 
pertencente à família Salgado Moscoso. 
Segundo César Marques, a propriedade do capitão José Salgado de Sá e 
Moscoso, natural da Vila Nova dos Infantes, Reino de Galiza, ficava localizada nos 
“arrabaldes da cidade, rodeada de árvores, numa pequena elevação, que em plano 
inclinado, vai terminar no mar”. Escreveu o mesmo autor, que no arquivo do escrivão 
de Capelas e Resíduos está lançada uma escritura, feita em 6 de dezembro de 1788, 
Em que o capitão José Salgado e sua mulher fizeram doação de patrimônio a 
essa capela de 120$000 cada ano, na forma seguinte: a fábrica de descascar 
arroz, 16$000; as casas místicas à mesma capela, 40$000; e mais 64$000 por 
ano no rendimento das casas que possuíam na rua do Desterro, bem como 120 
braças de terra de comprido e 60 de largo, onde se achava ereta a mesma capela 
do Senhor São Tiago e fábrica. 
lxiii
 
 
 
 
Mapa de São Luís, 1844, versão modificada, em que aparecem os arredores da cidade e o 
lugar denominado “Salgado”, onde se situava a Quinta e a Fábrica de soque de arroz. 
Desenho feito a partir do livro “O Maranhão no Centenário da Independência”, de J. 
Ribeiro do Amaral. 
 
No mapa acima fica nítida a indicação “Salgado”, onde estava localizada 
uma grande edificação, à qual convergiam as ruas de São João, das Crioulas (antiga 
Madre de Deus) e de São Pantaleão. Provavelmente seria essa a propriedade do capitão 
Salgado Moscoso, com a fábrica, empreendimento responsável por atrair contingentes 
das populações de baixa renda para essa ponta extrema do núcleo urbano, pois as ruas se 
alongam até chegar aos seus limites. Por outro lado, foram as inúmeras “quintas” 
existentes nessa área as responsáveis por impedir a expansão natural da cidade para esse 
espaço. Certo é que nesses espaços foram erigidas, no século XIX, as unidades fabris 
que conhecemos hoje: a Fábrica Santa Amélia, a Fábrica Santiago, a São Luís e a 
Cânhamo. 
Sobre a propriedade dos Salgados, com a morte do capitão e patriarca da 
família, no final do século XVIII, a capela e casas místicas ficaram abandonadas por 
muito tempo, até que em 14 de março de 1848, o neto do fundador, o capitão Tiago José 
Salgado de Sá Moscoso, como procurador-geral de sua mãe, D. Luísa Rita de Sousa 
Salgado, fez um contrato com o capuchinho Frei Doroteu de Dronero. O religioso 
conseguiu, após longo processo, o beneplácito do Imperador e a autorização do bispo, 
para transformar a capela e casas contíguas em hospício regular
lxiv
, “com todos os 
privilégios, graças, isenções e imunidades.” A solenidade de inauguração dessa 
benfeitoria ocorreu com grandes celebrações a 24 de julho de 1854. 
César Marques registra que os capuchinhos estiveram mansa e 
pacificamente à frente da casa e capela de Santiago até a morte do Frei Doroteu, em 
1869, quando “apresentou-se o Dr. Ricardo Décio Salazar, casado com uma das 
herdeiras de Rodrigo Salgado, pedindo a entrega das propriedades por julgar ter direitos 
ao domínio da capela.” A briga seguiu acirrada. A longa contenda arregimentou 
defensores pró e contra, que se manifestaram nos tribunais como jornais da época.
lxv
 
 Ao que parece, a disputa judicial acabou por condenar a capela e o largo, 
que hoje já não existem mais, tendo seus terrenos sido vendidos aos poucos pelos 
herdeiros da família Moscoso. 
Infelizmente, a historiografia nada informa sobre o destino da fábrica de 
descasque de arroz pertencente à propriedade dos Moscoso. Tudo leva a crer que foi 
comprada, ou arrendada, e continuou a beneficiar arroz, pois o Maranhão, durante todo 
o século XIX exportou este gênero agrícola em larga escala, sendo o segundo na pauta 
de exportação da província. 
Obviamente que tais unidades de produção logo atraíram para seu entorno 
uma população de moradores livres e alforriados de poucas posses. A Câmara de São 
Luís emitiu inúmeros títulos de terra para moradores que ali construíram suas casas. 
Essa população de trabalhadores de menor renda passou a constituir significativo 
contingente urbano que foi se concentrando na periferia da cidade. Os registros de 
doações de chãos urbanos evidenciam a diversificação social e étnica da população no 
final do século XVIII. O exemplo seguinte é elucidativo de tal premissa: 
O Doutor Jozé Thomas da Sylva Quintanilha (...) e mais senadores que servimos 
(...), fazemos mercê de dar e conceder a cafuza forra Anna Raymunda, casada, e a 
seu irmão Antonio da Trindade um chão de cinco braças de testada e quinze de 
fundos na rua da Madre de Deus, com a frente para o poente e os quintais ao 
nascente, místicos da parte do sul a outro chão concedido a Luísa, cafuza forra, 
mãe dos ditos acima (...). São Luís do Maranhão, 13 de setembro de 1781.
lxvi
 
 
Semelhantes a esses, existem inúmeros registros de terras concedidos pela 
Câmara a moradores nos terrenos baixos localizados próximos à Fonte das Pedras e no 
“caminho da ermida da Madre de Deus”, depois rua de São Pantaleão. Tais registros 
permitem constatar a expansão do perímetro urbano para essa área periférica da cidade 
de São Luís. 
 
 A Fábrica dos Irmãos Martins. 
Consultando a documentação relativa ao período, verifica-se que, ainda no 
século XIX, o português de Aveiro, Manoel Pereira Martins, tendo começado a produzir 
sabão de andiroba em Morros, decidiu tentar a sorte em São Luís, capital da província. 
Na segunda metade do mesmo século, conforme anúncio citado por Jerônimo de 
Viveiros, os Martins já aparecem associados à Fábrica de Santiago, como proprietários 
desse negócio, perfilando-se o empreendimento na tradição das antigas fábricas de 
descasque de arroz existentes nos arredores de São Luís. 
Ao discorrer acerca das saboarias pioneiras nesta região, Jerônimo Viveiros 
assinala que, 
Depois da pilação de arroz, a indústria mais importante era a de sabão, artigo que 
importávamos em larga escala da Inglaterra, apesar das três fábricas que 
possuíamos. Uma pertencia à firma Bottentuit & Chavanes, ficava à rua do 
Pespontão, servida por força a vapor e produzia 2.000 libras de sabão, 100 de velas 
estearinas e 250 frascos de azeite; a outra era de Lázaro Moreira de Sousa, sita na 
praia dos Remédios, com a produção mensal de 32.000 libras de sabão amarelo e 
60 caixas de sabão branco; e a terceira, situada no largo de Santiago, era 
propriedade de Manuel Pereira Martins. 
lxvii
 
 
Um problema constatado na obra de Jerônimo de Viveiros é que ele 
raramente cita suas fontes, mas é um fato que no Largo de Santiago existiam várias 
fábricas de descasque de arroz, tendo sido uma delas adquirida por Manoel Pereira 
Martins. Nessa empresa ele continuou a descascar arroz, a fabricar sabão e logo iniciou 
a atividade de extração de óleos vegetais. Sobre as fábricas pioneiras ainda em 
funcionamento no terceiro quarto do século XIX, Jerônimo de Viveiros mencionou 
como as mais importantes as de “pilar arroz”, destacando-se a Feliz Esperança, de João 
Gualberto da Costa, situada à rua da

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