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Gênero e História Joan Scott Palavras, como ideias e coisas, têm história. Em relação à gramática: Uso gramatical envolve regras formais que resultam da atribuição do masculino ou do feminino; Algumas línguas: 3ª.categoria – sem sexo ou neutro. *Gênero é forma de classificar fenômenos, sistema consensual de distinções e não descrição objetiva de traços inerentes. Feministas americanas: enfatizar caráter fundamentalmente social de distinções baseadas no sexo. Rejeição do determinismo biológico.Definição relacional entre homens e mulheres. Historiadoras feministas: gênero, raça e classe como cruciais para a escrita de uma nova história – narrativa dos oprimidos. Desigualdade de poder nos 3 eixos. Necessidade de se construir uma teoria sobre gênero e não apenas descrição histórica. Descritivo Realiza uma história das mulheres, afirmando que elas são sujeitos históricos válidos. Uso de gênero como sinônimo de mulheres: objetividade, neutralidade. Busca de legitimidade acadêmica para estudos feministas nos anos 80, mas não marca a desigualdade. Também utilizado para sugerir que informações sobre as mulheres é necessariamente sobre os homens. Para designar relações sociais entre os sexos, indicando uma construção cultural. Problema: não diz porque as relações são construídas como são, como funcionam ou como mudam. Aplicado apenas à relação entre os sexos, deixando de fora a política e o poder. Gênero apenas como novo tema, novo domínio de pesquisa histórica, mas sem poder analítico suficiente para questionar e mudar os paradigmas existentes. Teoria Tentativa de conciliar teoria enquanto universal com específico: resultado eclético. 3 posições teóricas: Feminista Tradição marxista Dividida entre pós-estruturalismo francês e as teorias anglo-americanas da relação do objeto (inspiração na psicanálise). Feminismo e patriarcado Necessidade masculina de dominar as mulheres. Chave do patriarcado: reprodução (paternidade), objetificação sexual. Problemas: Afirma primazia do gênero na organização social, não relacionando desigualdade de gênero com outras desigualdades. Baseia-se em diferença física. Significado permanente e imutável ao corpo humano. A-histórico. Marxismo Explicação “material” para gênero. Família e sexualidade como produto de modos de produção. Patriarcado e capitalismo como sistemas separados, mas em interação. Feministas marxistas: subordinação da mulher é anterior ao capitalismo e persiste no socialismo. Questão de gênero não é determinado de maneira direta por um modo de produção. Mas permanece busca por explicação materialista que exclua as diferenças físicas. Powers of Desire: volume de ensaios publicado em 1983.Mantém relação entre sexos em referência às relações de produção.Mas abre possibilidade para estrutura psíquica de identidade de gênero. Teoria psicanalítica Escola Anglo-Americana: teoria de relações de objeto. Nancy Chodorow e Carol Gilligan. Escola francesa: baseadas nas leituras estruturalistas e pós-estruturalistas de Freud no contexto das teorias da linguagem (sistemas de significação). Lacan (e o inconsciente) como figura central. Ponto central de ambas: processos pelos quais a identidade é criada, focando nas primeiras etapas do desenvolvimento da criança. Na teoria das relações de objeto: foco na influência das experiências concretas da criança, em especial, nas relações com os pais. No estruturalismo e pós: foco no papel da linguagem na comunicação, na interpretação e na representação do gênero. Através da linguagem é construída a identidade generificada.Masculino e feminino não são categorias inerentes, mas construções. Sujeito em processo constante de formação. Supressão de ambiguidade para criar ilusão de coerência; desejos reprimidos que “ameaçam” a estabilidade da identificação de gênero. Crítica de Scott: Teoria de relações de objeto: gênero a partir da divisão de tarefas feminino/masculino no âmbito da família. Limita-se à experiência doméstica. E as relações de poder? Valorização dos traços tidos como masculinos e sua relação com o poder? Estruturalismo e pós: fixação no sujeito individual, reificação, como categoria central de gênero, do antagonismo subjetivamente produzido entre homens e mulheres (polaridade sexual), universalização das categorias e relações entre feminino e masculino (construção do sujeito é sempre o mesmo – castração, falo). Gênero como categoria analítica Final do século XX para explicar a desigualdade entre homem e mulher. Conceito de poder social de Foucault – microfísica, campos de força desiguais. Conceito de gênero para Scott envolve a relação entre 2 proposições: 1- gênero é elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos. Implica em 4 elementos interrelacionados: A- símbolos culturalmente disponíveis que evocam representações simbólicas, como também mitos de luz e escuridão, inocência e corrupção. B- conceitos normativos que expressam interpretações dos significados dos símbolos, que tentam limitar e conter suas possibilidades metafóricas. Oposições binárias, fixas, inequívocas – homem e mulher. Alternativas apagadas. Ideia de consenso e não conflito. C- ir além de gênero enquanto sistema de parentesco (lar, família): também mercado de trabalho, educação, sistema político. D- identidade subjetiva. Contribuição da psicanálise, mas pretensão universal (medo da castração). Historiadores: devem buscar formas pelas quais identidades generificadas são substantivamente construídas. 2- gênero é campo primário no interior do qual o poder é articulado. Conceitos de gênero estruturam a percepção e a organização concreta e simbólica da vida social. Legitima e constrói as relações sociais. Bonald (1816) – contra o divórcio. Este seria uma democracia doméstica, permitindo à mulher rebelar-se contra autoridade do marido. Mesmo fundamento para crítica à democracia política – povo rebelando contra autoridade política. Relação política e gênero; se constroem reciprocamente. Ideologias políticas a partir de conceitos generificados (como a guerra), traduzindo-se em políticas concretas. Estes conceitos, para proteger o poder político, devem parecer ser parte da ordem natural ou divina. Homem e mulher são, ao mesmo tempo, categorias vazias e transbordantes. Contextualmente e repetidamente construído.
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