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TEORIAS CONTEMPORANEAS DAS RI - AULA 4

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27/08/2021 UNINTER - TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/18
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA CONTEMPORÂNEAS DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
AULA 4
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Natali Hoff
27/08/2021 UNINTER - TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/18
CONVERSA INICIAL
Nesta aula, serão discutidas as implicações das temáticas de gênero e de sexualidade para a
análise da realidade internacional e, por essa via, para as discussões teórico-metodológicas na área
de Relações Internacionais. Tais temáticas foram introduzidas na disciplina a partir das contribuições
do feminismo e, mais recentemente, da chamada teoria queer, reforçando a virada pós-positivista do
final dos anos 1980 e começo dos anos 1990.
No Tema 1 da aula, o feminismo será apresentado em sua dualidade de movimento político-
social contemporâneo e de abordagem teórico-metodológica na Filosofia e nas ciências humanas.
Serão apresentadas brevemente as três “ondas” que caracterizam a periodização convencional da
história do movimento, assim como alguns dos conceitos basilares que têm orientado sua produção
intelectual, como os de “gênero” e de “patriarcado”.
No Tema 2, os conceitos basilares dessa perspectiva serão aprofundados, delineando as ligações
entre a construção social do binarismo masculino/feminino e as relações de poder que esse
binarismo expressa e ao mesmo tempo reforça, o que é designado a partir de noções como
“androcentrismo” e “patriarcado”. A diversidade interna ao pensamento feminista (liberal, socialista,
interseccional etc.) também será brevemente apresentada.
O Tema 3 tratará da maneira como a abordagem feminista inseriu-se, ainda que tardiamente, na
área de Relações Internacionais, além de como a temática de gênero vem sendo operacionalizada
por autoras e pesquisas na disciplina. Serão mostradas algumas das contribuições trazidas por essas
abordagens para a crítica e a reformulação de alguns dos pressupostos metateóricos e, também,
metodológicos da área.
O Tema 4 será dedicado à apresentação da chamada teoria queer, abordagem que propõe uma
ruptura radical com as visões essencialistas e monolíticas a respeito das identidades de gênero e de
sexualidade. Alguns conceitos-chave, como os de heteronormatividade e homonormatividade serão
abordados.
27/08/2021 UNINTER - TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 3/18
Por fim, o Tema 5 apresentará como os princípios fundamentais da teoria queer têm sido
utilizados para a crítica e a desconstrução de alguns dos pressupostos tradicionais da área de
Relações Internacionais, ao enfatizar o caráter sexualizado das relações e dinâmicas de poder que
têm lugar na esfera internacional.
TEMA 1 – O MOVIMENTO E O PENSAMENTO FEMINISTA
De maneira geral, o termo feminismo designa as expressões – tanto no âmbito da ação política
prática quanto na produção intelectual – de defesa dos direitos das mulheres e de combate às
desigualdades de gênero. Ainda que se possam elencar manifestações bastante antigas dessa prática
e desse pensamento político-social ao longo da história, convencionou-se apontar a metade do
século XIX como o início do feminismo contemporâneo (Ribeiro, 2020, p. 24).
Um dos pontos basilares do pensamento feminista, em que pese sua imensa diversidade interna,
reside no questionamento dos papéis e das relações de gênero vigentes nas sociedades humanas ao
longo da história, em especial no Ocidente. O conceito de “gênero”, central a essa discussão, deve ser
compreendido em sua diferença em relação à noção biologizante de “sexo”: este, o “sexo”, destaca as
características fisiológicas, morfológicas e anatômicas que diferenciam os corpos de mulheres e
homens (ou fêmeas e machos) pertencentes à espécie humana; o “gênero”, por outro lado, busca
designar “comportamentos socialmente aprendidos, performances repetidas e expectativas
idealizadas que são associadas com e distinguem entre os papéis de gênero [...] de masculinidade e
feminilidade” (Runyan; Peterson, 2014, p. 2).
Dito de outra forma, a noção de gênero pretende chamar a atenção para os processos sociais e
simbólicos que, a partir das diferenças fisiológicas e anatômicas entre os corpos humanos,
pretendem extrapolar distinções essencialistas a respeito do devido lugar – e, portanto, do
comportamento a ser esperado – de mulheres e homens na organização da vida social.
Historicamente, tais lugares têm sido concebidos como partes de uma relação assimétrica e
hierárquica entre a masculinidade – as prescrições culturais a respeito de como “ser homem” – e a
feminilidade – as prescrições correspondentes ao “ser mulher”. Essa relação assimétrica e hierárquica,
baseada na simbolização da diferença biológica como signo de superioridade ou inferioridade
sociais, sustenta e é sustentada por uma visão androcêntrica de mundo (Ribeiro, 2020, p. 25).  [1]
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A visão androcêntrica não apenas postula a superioridade do masculino, mas o eleva à condição
de sinônimo da própria ideia de humanidade, como se nota na ampla utilização – na literatura, na
filosofia ou mesmo na fala comum – do termo homem como sinônimo de “humano”. O
androcentrismo encobre, portanto, por meio desse universalismo enviesado, as experiências e
contribuições femininas, além de conceber simbolicamente a feminilidade a partir do registro da
“falta” ou do “negativo”, quer dizer, da ausência das características (positivas) atribuídas ao
masculino, sinônimo da humanidade em sua completude .
A visão androcêntrica do mundo, por ser uma construção histórica e política, só pode se
sustentar por meio da intervenção constante de uma série de instituições sociais – como o Estado, a
família, a religião, entre inúmeras outras –, cujo efeito é a cristalização dessas estruturas assimétricas
e hierárquicas na relação entre os gêneros (Bourdieu, 1998; Pereira; Blanco, 2021). Conceitualmente, o
pensamento feminista trata tal complexo de instituições sociais, responsáveis pela reprodução de tais
estruturas, a partir da noção de “patriarcado”, um “sistema social de estruturas e crenças que
sustentam o privilégio da masculinidade” (Enloe, 2007, p. 106), gerando “dividendos patriarcais” aos
homens, quer dizer, uma série de vantagens e benefícios oriundos da subordinação coletiva das
mulheres (Runyan; Peterson, 2014, p. 58).
Como movimento político-social, a historiografia tem periodizado o desenvolvimento histórico
do feminismo contemporâneo em três grandes “ondas” : a primeira onda localiza-se em meados do
século XIX e estende-se até o início do século seguinte, eclodindo sobretudo nos Estados Unidos e
no Reino Unido. Essa primeira onda caracteriza-se pela luta por direitos civis e políticos, como o
direito à herança e à abertura de conta em bancos, o direito ao divórcio e a oposição aos casamentos
arranjados. De maneira ainda mais notória, esse feminismo inicial foi o responsável pela luta por
participação política e pela extensão do direito de voto às mulheres, constituindo-se em momento
fundamental da criação dos sufrágios universais contemporâneos e, portanto, das democracias atuais
(Ribeiro, 2020, p. 37).
A segunda onda do feminismo data de meados do século XX, tendo atingido seu ápice nas
décadas de 1960 e 1970, na Europa e nos Estados Unidos, com ramificações em várias outras partes
do mundo. Naquele momento, o feminismo inseriu-se em um contexto mais amplo de mudanças
culturais e comportamentais iniciadas no pós-guerra, momento crítico de contestação à ordem social
e política imposta pelas gerações anteriores. A segunda onda, profundamente marcada pelos escritos
de autoras como Virginia Woolf (1882-1941) e Simone de Beauvoir (1908-1986), caracteriza-se por
[2]
[3]
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uma extensão da crítica feminista ao campo das relações privadas, da moral e da sexualidade: “o
pessoal é político”, frase da ativista Carol Hanisch, tornou-se um dos motes dessa fase do movimento
(ibidem, p. 88), expressando a politização de esferas até então naturalizadas, como é caso do corpo
feminino e dos direitos reprodutivos e sexuais a ele ligados, ambos revolucionados pela chegada da
pílula anticoncepcional e pela consequente ruptura entre reprodução e prazeres sexuais (ibidem).
A terceira onda do movimento surgiu na metade da década de 1980, trazendo um
questionamento de muitos dos pressupostos do feminismo até então, o que tem levado analistas a
tratarem tal momento de revisão crítica interna como uma forma de “pós-feminismo”. Influenciada
pelo pós-estruturalismo e pela teorização interseccional das relações entre gênero, raça e classe – tal
como presente em autoras como Angela Davis –, a terceira onda passou a questionar a visão
essencialista e universalizante a respeito da “mulher”, principalmente a indevida universalização das
experiências específicas da mulher branca de classe média, sobretudo daquela oriunda dos centros
de poder do sistema internacional, como Estados Unidos e Europa. Assiste-se, em vez disso, a um
esforço em pluralizar as diferentes formas de se conceber o “feminino”, incluindo aí as discussões
sobre transexualidade, colonialismo, raça e classe (ibidem, p. 219-225).
TEMA 2 – GÊNERO E RELAÇÕES DE PODER
Como dito anteriormente, o conceito de “gênero” é central ao pensamento e à prática política
do feminismo contemporâneo, servindo a uma desnaturalização das normas e prescrições culturais –
as noções históricas de masculinidade e de feminilidade – impostas aos corpos biologicamente
sexuados de homens e mulheres. A partir da diferenciação entre gênero e sexo, o feminismo
pretende dar visibilidade e legitimidade às diversas formas de se conceber os papéis sociais de
gênero, rompendo com a visão tradicional a respeito do lugar de mulheres e homens na organização
da vida social.  
Pensar o gênero significa, assim, necessariamente abordar as relações de poder que se
estabelecem com base nele, entendido aqui como um poder de ordenação social (Runyan; Peterson,
2014, p. 56). Essa “ordem de gênero” cumpre a função não apenas de categorizar os corpos com base
em uma lógica binária – naturalizada a partir da analogia com o sexo biológico –, mas também de
hierarquizar tais corpos, dando privilégio ao homem e ao masculino sobre a mulher e o feminino:
“estereótipos idealizados de gênero retratam homens/masculinidade como fortes, independentes, do
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mundo, assertivos, racionais, duros, e ‘sob controle’; [e as] mulheres/feminilidade são retratadas
como o oposto: fracas, dependentes, ingênuas, pacíficas, emocionais, e frequentemente
imprevisíveis” (ibidem, p. 58).
Podem se identificar ao menos quatro pressupostos que sustentam tal ordem naturalizada de
gênero: (i) primeiramente, que a diferença de sexo é inequivocamente binária, podendo-se
determinar, sem ambiguidades, o pertencimento dos corpos às categorias de “mulher” e de
“homem”; (ii) em segundo lugar, que o pertencimento a uma ou a outra categoria determina
naturalmente um roteiro pré-estabelecido de comportamentos, emoções e atitudes para homens e
mulheres e para o masculino e o feminino; (iii) tais maneiras de se comportar, pensar e sentir são
estruturantes o suficiente para determinar também esferas de atividade “naturais” para cada sexo, no
lazer, no trabalho, na política etc.; (iv) pessoas que se desviem de tais roteiros, constituídos como
norma e como “normal”, são identificadas como desviantes e anormais, necessitando de alguma
forma de intervenção (ibidem).
Como dito, tais crenças – que sustentam uma visão androcêntrica do mundo – cristalizam-se ao
longo do tempo por intermédio de uma série de instituições sociais, identificadas pelo feminismo a
partir do conceito de “patriarcado”, que determinam relações de poder em que os homens possuem
dominância e beneficiam-se desproporcionalmente de ganhos simbólicos e materiais. Pensar a
realidade internacional, portanto, pressupõe que se analise o papel do androcentrismo e do
patriarcado na configuração dos fenômenos da política global, bem como na moldagem dos
conceitos e teorias utilizadas para analisar tais fenômenos. Como se verá adiante, as contribuições do
feminismo à área ocorrem nesse duplo foco: o da revisão dos instrumentos teórico-metodológicos e
o da análise das relações de poder com base em gênero que organizam os fenômenos da realidade
internacional.
Abordar a contribuição do feminismo especificamente à disciplina de Relações Internacionais
pressupõe, contudo, que se saliente a diversidade interna a esse pensamento – sobretudo após a
chamada terceira onda –, responsável ela mesma pela diversidade de contribuições trazidas à área.
Sem pretender esgotar o debate interno ao pensamento feminista, nem apresentar uma lista
exaustiva de suas várias correntes, o apanhado a seguir evoca algumas das tendências com maior
impacto sobre a área de Relações Internacionais.
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Primeiramente, o chamado feminismo liberal preocupa-se com a presença das mulheres nas
instituições e posições de poder da sociedade, secularmente dominadas pelos homens, como é o
caso do campo político ou da esfera pública de modo geral (Runyan; Peterson, 2014, p. 76). A
solução, nessa visão, residiria na remoção dos obstáculos legais e culturais à presença feminina nas
posições de poder (Tickner, 2001 p. 277). A partir de tais preocupações, o feminismo liberal tende a
ser classificado como uma defesa de direitos sobretudo individuais, sem um questionamento radical
das estruturas sociais (Enloe, 2007; Pereira; Blanco, 2021).
O chamado feminismo socialista ou marxista, por outro lado, preocupa-se com os direitos das
mulheres como coletividade, chamando a atenção para as desigualdades socioeconômicas entre
mulheres e homens. Aqui, a preocupação é a de compreender o patriarcado em sua relação com o
modo de produção capitalista, bem como o reforço que as desigualdades de classe produzem sobre
as de gênero. Pode se dizer que o feminismo socialista ou marxista se preocupa com as
desigualdades que operam simultaneamente na esfera privada da “casa” e na esfera pública do
“trabalho” (Runyan; Peterson, 2014, p. 76). 
Outra vertente importante para as Relações Internacionais é a do feminismo pós-estruturalista.
Típico da terceira onda do movimento, essa abordagem apresenta uma crítica à maneira como os
feminismos anteriores ainda se mostraram incapazes de romper com o binarismo que fundamenta as
concepções convencionais sobre sexo e gênero. Muito influenciado pela filosofia francesa de autores
como Foucault e Derrida, o feminismo pós-estruturalista chama a atenção para o poder constitutivo
da linguagem na produção das desigualdades de gênero (Runyan; Peterson, 2014; Tickner, 2001).
O feminismo pós-colonial, por seu turno, critica o privilégio dado, pelo movimento, às
experiências das mulheres do Ocidente e do Norte Global, em detrimento da vivência feminina nas
zonas periféricas do sistema internacional. Como salienta Enloe (2007, p. 104), essa abordagem
pretende mostrar o “funcionamento sutil das hierarquias racializadas de gênero que sustentaram o
colonialismo e persistiram mesmo muito tempo depois que o domínio colonial formal foi
oficialmente desmantelado”. Em outras palavras, o feminismo pós-colonial problematiza os
fundamentos racistas e imperialistas da realidade internacional, concebidos como mecanismos
estruturantes de subjugação e exploração das mulheres não brancas (Runyan; Peterson, 2014; Nair,
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Ao problematizar o papel da raça/etnia e do imperialismo para as desigualdades de gênero, a
vertente pós-colonial estabelece importante diálogo com a noção de interseccionalidade, trazida ao
debate pelo pensamento feminista negro pelo menos desde a década de 1980: essa noção chama a
atenção para o caráter intrinsicamente relacional dos diferentes tipos de opressão e de desigualdade,
como as de classe, raça e gênero. Em resumo, uma análise feminista interseccional pretende mostrar
como o “gênero é sempre racializado, classista, sexualizado e nacionalizado, assim como raça, classe,
nacionalidade e sexualidade são sempre genderizadas” (Runyan; Peterson, 2014, p. 14).
TEMA 3 – MULHERES E GÊNERO NA ANÁLISE DAS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS
No que diz respeito à disciplina de Relações Internacionais, a visibilidade do feminismo ocorreu
de maneira tardia quando comparada a outras áreas das ciências humanas, o que não significa que,
desde os primórdios da área, não tenha havido contribuições de diferentes autoras à análise da
realidade internacional. Foi no final dos anos 1980 e no começo da década seguinte que o feminismo
passou a ganhar espaço, sobretudo por meio de conferências e publicações que problematizavam
muitos dos pressupostos teórico-metodológicos das teorias dominantes (Pereira; Blanco, 2021). Já no
início dos anos 1990, duas associações acadêmicas importantes da área – a International Studies
Association e a British International Studies Association – haviam institucionalizado seções dedicadas
às discussões de gênero no âmbito internacional (Tickner, 2001, p. 275).
Entre as publicações desse período inicial, destacam-se obras como Women and War, de Jean
Bethke Elshtain; Bananas, Beaches and Bases, de Cynthia Enloe; Gender in International Relations:
Feminist Perspectives on Achieving Global Security, de J. Ann Tickner; Global Gender Issues, publicado
por V. Spike Peterson e Anne Runyan; e Feminist Theory and International Relations in a Postmodern
Era, publicado por Christine Sylvester (Pereira; Blanco, 2021).
Resumidamente, o feminismo ampliou as possibilidades analíticas da disciplina em duas
direções: primeiramente, na do estudo dos mecanismos de invisibilização das mulheres na política
internacional; em segundo lugar, na operacionalização do gênero como categoria analítica
fundamental para as Relações Internacionais. Em relação ao primeiro ponto, Cynthia Enloe (1989, p.
1) lança uma pergunta e uma provocação à área: onde estariam as mulheres na política
internacional? Tal ausência leva a autora a questionar os pressupostos das teorias dominantes e a
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maneira como elas constroem a noção de “internacional”, objeto de reflexão da disciplina. Ao excluir
aquilo que é considerado privado, doméstico, local ou trivial, tais teorias apagam as mulheres – suas
experiências, ações e ideias – das análises presentes na disciplina. A contribuição feminista, aqui,
reside justamente na inclusão do “pessoal” e do “privado” nas agendas de pesquisa, mostrando como
eles constituem e são também constituídos pelo internacional (Enloe, 1989, p. 343).
True (2005, p. 2005) classifica esses trabalhos, centrados na visibilidade das mulheres na política
internacional, como pertencendo à “primeira geração” de abordagens feministas nas Relações
Internacionais. A preocupação, nesse caso, era de natureza sobretudo metateórica e residia em
problematizar o viés androcêntrico da epistemologia e da ontologia da área, desconstruindo
conceitos-chave, como os de soberania, Estado, segurança, desenvolvimento e economia (Runyan;
Peterson, 2014, p. 80).
Uma segunda direção em que a abordagem feminista ampliou as possibilidades analíticas da
área diz respeito à operacionalização da categoria “gênero” como dimensão central da política
internacional. Os trabalhos guiados por essa preocupação compõem o que Jacqui True denominou
como segunda geração dos estudos feministas na disciplina (True, 2005, p. 216), centrados no
desvelamento do caráter genderizado das estruturas e dinâmicas internacionais (Tickner, 2001, p.
278). Nesses trabalhos, o gênero é analisado como fator estruturante das relações de poder em geral,
inclusive daquelas encontradas entre nações e Estados: “as ‘naturezas’ feminina e masculina não
estão simplesmente inscritas no que se assume serem os distintos corpos de homens e mulheres,
mas também são aplicadas a outros objetos, incluindo coisas, seres não humanos, grupos,
instituições e até mesmo nações e Estados” (Runyan; Peterson, 2014, p. 7).
Aqui, as autoras pretendem chamar a atenção para a onipresença das categorias e hierarquias de
gênero – convencionalmente pensada como a dualidade hierárquica entre masculino e feminino – na
maneira como se enxerga e se nomeia a realidade, inclusive a internacional: expressões como pátria-
mãe (motherland) ou simplesmente pátria (fatherland), ou ainda as categorizações dos Estados como
“fracos” ou “fortes” seriam exemplos de como o pensamento “genderizado” opera no âmbito das
mentalidades, das práticas e das instituições, produzindo e sustentando relações desiguais de poder
(ibidem, p. 8).
O feminismo nas Relações Internacionais pretende, dessa forma, romper com a definição
tradicional do sistema internacional como um complexo de disputas de poder entre Estados
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soberanos em um ambiente anárquico, para, em seu lugar, definir as relações internacionais como
um conjunto de estratificações sociais e de desigualdades estruturadas em nível global (ibidem, p.
18). Nessa estrutura de desigualdade em escala global, os indivíduos, instituições e práticas
associadas à masculinidade – os Estados, a guerra, a produção de riqueza – são privilegiados na
teoria e na prática política, enquanto os indivíduos, práticas e instituições associados à feminilidade –
a política local, a promoção da paz (peacemaking), a redução da pobreza, bem como as instituições
ligadas a tais temáticas ou objetivos – são desvalorizados ou simplesmente invisibilizados (ibidem, p.
19).
TEMA 4 – ALGUNS CONCEITOS CENTRAIS DA TEORIA QUEER
Outra importante abordagem a trazer, para o âmbito das Relações Internacionais, as temáticas
concernentes a sexo, gênero e sexualidade, é a chamada teoria queer . Área desde sempre
interdisciplinar, a teoria queer nasceu da confluência de contribuições oriundas de diferentes
disciplinas acadêmicas, como Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicanálise, Teoria Literária, entre
outras. De maneira mais direta, foi influenciada sobretudo pelos estudos de gênero, pela teoria
feminista e pelos estudos sobre sexualidade, em particular aqueles ligados à discussão sobre gays e
lésbicas (atualmente incluídos na categorização mais ampla de LGBTQIA+) .
A definição do conceito de queer presta-se a diferentes disputas, existindo autoras e autores que
defendem inclusive a manutenção do caráter indefinido do termo, deixando-o assim explicitamente
aberto a um processo contínuo de crítica e reflexividade (Weber, 2014, p. 596). Ainda assim,
tentativas de definição podem ser encontradas: Eve Sedgwick, por exemplo, importante autora da
teoria queer, a define como “malha aberta de possibilidades, lacunas, sobreposições, dissonâncias e
ressonâncias, lapsos e excessos de significado quando os elementos constituintes do gênero de
alguém, da sexualidade de alguém não são feitos (ou não podem ser feitos) para significar
monoliticamente” (Sedgwick, 1994, p. 7).
Em outras palavras, pode se dizer que o fio-condutor das reflexões reunidas sob o rótulo queer é
o da crítica à naturalização e à normalização da heterossexualidade – como padrão de identidade e
orientação sexual – e daestrutura de gênero baseada no binarismo homem/mulher e na visão
essencialista e mutuamente excludente de “masculino” e “feminino”. O interesse da teoria queer
reside, portanto, na contestação das “identidades rígidas e compartimentadas, as quais classificam
[4]
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subjetividades e corpos [...]. Seu intuito é pôr em foco os padrões de normalidade” (Ribeiro, 2020, p.
186-187).
Bastante influenciada pelo pós-estruturalismo, a teoria queer procura desconstruir os discursos
sobre sexo, gênero e sexualidade baseados em binarismos e pares de oposição: no que diz respeito,
por exemplo, ao aspecto biológico da sexualidade humana, a teoria chama a atenção para a
impossibilidade de reduzi-lo ao binarismo macho/fêmea. A existência (invisibilizada) de indivíduos
intersexuais – portadores de características sexuais pertencentes aos dois sexos (cromossomos
masculinos e genitália feminina, por exemplo) – mostra como mesmo as categorias tidas como as
mais “naturais” (as de “macho” e “fêmea”) são, elas próprias, o produto de uma interpretação cultural
e da aplicação de técnicas de normalização .
Judith Butler, importante autora do feminismo e da teoria queer, procura romper com a própria
distinção, durante muito tempo canônica entre as feministas e as estudiosas de gênero, entre o sexo
– supostamente pertencente à biologia e, portanto, não influenciado pela cultura ou pela política – e
o gênero – este sim pensado como uma construção social historicamente variável. De acordo com
Butler, partindo aqui da discussão foucaultiana sobre a história da sexualidade, as próprias categorias
de sexo (macho/fêmea ou homem/mulher) baseiam-se em discursos e regimes normativos médico-
jurídicos que sustentam uma hegemonia heterossexual e reprodutiva (Butler, 2015, p. 47). É por se
privilegiar os objetivos reprodutivos (a produção de uma prole) de um sistema de heterossexualidade
compulsória – a norma cultural e moral que torna o desejo pelo “sexo oposto” o único legítimo ou
“natural” –, que a categorização discursiva do aspecto sexuado dos corpos humanos adquire o
caráter binário de um par de opostos, invisibilizando outras formas de categorização (ibidem).
Ainda de acordo com Butler, “sexo” e “gênero” devem ser, portanto, pensados como um mesmo
fenômeno: o de corpos socialmente construídos e categorizados por meio de práticas discursivas e
de tecnologias de poder (médicas, religiosas, midiáticas etc.) que tendem a sustentar a hegemonia da
heteronormatividade (a construção do desejo sexual ou amoroso pelo “sexo oposto” como “normal”
ou “natural”) e da concepção binária (e hierárquica) do sexo/gênero (“homem” e “mulher” como
categorias únicas, mutuamente excludentes e em relação de hierarquia).   
O que a abordagem queer, como teoria e como prática política, procura mostrar, assim, é o
caráter eminentemente performativo do sexo, do gênero e da sexualidade; ou seja, como, em vez de
essências fixas ou identidades imutáveis, eles são na verdade processos contínuos e nunca acabados,
[6]
[7]
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séries de performances ou atuações realizadas de acordo (ou em desacordo) com as expetativas
normativas hegemônicas em uma dada sociedade e momento histórico. Ao explicitar tais
normatividades, a teoria queer coloca-se ao lado de uma “contrassexualidade”, quer dizer, de uma
desconstrução sistemática do discurso disciplinar que procura moldar corpos e desejos de acordo
com um binarismo de gênero assentado na heteronormatividade (Ribeiro, 2020, p. 208-209).   
Levando a crítica ainda mais longe, a teoria queer também identifica a existência de uma
homonormatividade, referente à “suposição de que todas as minorias sexuais estão ou devem estar
em conformidade com as concepções ocidentais de identidade lésbica, gay e bissexual e com as
formas ocidentais de política LGBTQ” (Runyan; Peterson, 2014, p. 36). Ao legitimar e normalizar
seletivamente algumas minorias, em detrimento de outras ainda invisibilizadas ou sem voz política, a
homonormatividade não contestaria as “premissas e instituições heteronormativas dominantes”,
colaborando assim para o seu reforço (ibidem).
Assim, ainda que em estreito diálogo, a teoria queer e os estudos LGBT não se confundem,
havendo diferentes pontos de oposição crítica entre as duas perspectivas. Mesmo que ambas
questionem os entendimentos hegemônicos a respeito da heterossexualidade como sexualidade
“normal” ou “legítima” (heteronormatividade) e a respeito do binarismo “masculino/feminino” como
sistema de gênero “natural” baseado em um par de opostos complementares (cis-normatividade ),
a teoria queer procura romper com o pressuposto de que existiriam sujeitos coletivos anteriores a
qualquer processo de mobilização política e de luta por direitos. Em vez de um sujeito “LGBT” estável
e pré-formado, a abordagem insiste no caráter processual, instável e dinâmico da formação de
sujeitos políticos – incluindo aqueles ligados a minorias de gênero e de sexualidade –, rompendo
assim com a visão liberal e monolítica implícita a certas perspectivas LGBT (Richter-Montpetit, 2018,
p. 223).
TEMA 5 – A TEORIA QUEER NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Como visto, a teoria queer busca problematizar a relação entre corpo, gênero e sexualidade, de
um lado, e poder e conhecimento, de outro. Nas Relações Internacionais, essa teoria vem
contribuindo à elucidação de como as normatividades ligadas às identidades sexuais e de gênero
sustentam (ou contestam) relações de poder no âmbito internacional (Richter-Montpetit; Weber,
2017). Mais do que simplesmente tratar a sexualidade como objeto de estudo ou como mais uma
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variável a ser incluída nas análises tradicionais da área, a abordagem queer pretende mostrar como a
política internacional e as teorizações acerca desta são moldadas por discursos normatizadores
referentes à sexualidade (ibidem; Pereira; Blanco, 2021).
Ao mostrar como as relações de poder no cenário internacional são estruturadas de acordo com
lógicas e normas sexualizadas e genderizadas, a noção do que é considerado “político” expande-se,
permitindo que se examine como as subjetividades de gênero e de sexualidade são afetadas por
entendimentos institucionalizados do que é considerado “normal” ou, ao contrário, “perverso” e
estigmatizado. A teoria queer contribui, dessa maneira, para a identificação e problematização de
“regimes do normal”, inclusive para além do foco exclusivo em minorias de gênero e de sexualidade,
nas esferas nacional e transnacional (Richter-Montpetit, 2018, p. 224). Um exemplo do
comprometimento da abordagem com a análise de normatividades para além das referentes
exclusivamente a essas minorias é o crescente número de trabalhos referentes à produção discursiva
e racializada da figura do “terrorista ou insurgente muçulmano” como sujeito heterossexual anormal
e perverso (ibidem, p. 225). 
 Entre as principais questões de pesquisa levantadas pela teoria queer, as seguintes destacam-se:
(i) como valores e ideias sobre gênero e sexualidade moldam a política externa e as operações
militares dos Estados?; (ii) como as necessidades de segurança e desenvolvimento de sujeitos LGBT
se tornam centrais em lutas geopolíticas em torno de guerra e segurança, assim como em
processos de difusão de direitos humanos?; (iii) como a heteronormatividade, a
homonormatividade e a cisnormatividade informam a política econômica global?; (iv) como
entendimentos normativos a respeito de gênero e de sexualidade se cruzam com entendimentos
normativos a respeito da guerra, do militarismo e da figura do soldado, a fim de criar noções como
as de “soldados normais”, “políticas militares normais”e guerras normais? (v) como entendimentos
não normativos de gênero e de sexualidade se cruzam com entendimentos de diferença racial e de
formas de poder colonial, a fim de construir figuras internacionais perigosas, como o “terrorista” e o
“insurgente”?; (vi) como os processos de formação dos Estados modernos estão conectados a
relações familiares heteropatriarcais e às normatividades de sexualidade e de gênero a elas
associadas?. (Richter-Montpetit; Weber, 2018, p. 4-5)
A crescente inclusão de populações LGBT em regimes internacionais de direitos humanos, assim
como o endosso e a promoção dos direitos dessas minorias por atores estatais e não estatais na
esfera internacional têm constituído uma das áreas mais intensas de debate na teoria queer. Por meio
de conceitos como “homonormatividade”, “homonacionalismo” e “homocolonialismo”, autoras
vinculadas a essa abordagem têm analisado tais reconfigurações – nacionais e internacionais – das
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normatividades sexuais, como o aparecimento, por exemplo, de noções como as de homossexual
“normal”, “respeitável” ou “patriota” (em geral concebido, no caso dos Estados Unidos, como branco,
de classe média, monogâmico e orientado para a construção de uma família nuclear) em oposição a
figurações que continuam a desenhar tipos “perversos” de homossexualidade (Richter-Montpetit,
2018, p. 229). Ou ainda a utilização dos direitos LBGT como parte de um discurso colonialista e
racializado de afirmação da superioridade ocidental perante outras culturas (Rao, 2010).        
A crítica queer procura acima de tudo desestabilizar concepções monolíticas e essencialistas a
respeito da sexualidade – sejam tais concepções hétero ou homonormativas – chamando a atenção
para as relações de poder envolvidas na produção desses “regimes do normal” nas esferas nacionais
e internacional. Nesse ponto, vê-se a influência de metodologias pós-estruturalistas como a
“desconstrução”, que busca justamente desestabilizar as ordens discursivas e os binarismos nos quais
elas se assentam. A própria categoria analítica “queer” – pensada mais como um verbo (“queering”)
do que como um substantivo – pretende apontar para uma concepção não monolítica e não
essencialista de gênero e de sexualidade, apostando, ao contrário, na indeterminação e na
ambiguidade do termo como forma de escapar às tentativas de normalização, disciplinamento e
capitalização da sexualidade por parte de Estados, ONGs e corporações internacionais (Weber, 2014,
p. 597).
 NA PRÁTICA
Uma das temáticas caras ao feminismo nas Relações Internacionais tem sido a dos processos e
mecanismos que garantem ou impedem a presença de mulheres em cargos de liderança na política
mundial. O site da ONU Mulheres é uma fonte valiosa de informações a esse respeito: no link a
seguir, podem ser encontradas informações a respeito da presença feminina nos poderes Executivos
(em cargos de liderança ou como ministras) e Legislativos (como representantes em parlamentos) de
vários países ao redor do globo. Link disponível em: <https://www.unwomen.org/-/media/headquart
ers/attachments/sections/library/publications/2021/women-in-politics-2021-es.pdf?la=es&vs=5427>.
Acesso em: 19 jul. 2021.
FINALIZANDO  
https://www.unwomen.org/-/media/headquarters/attachments/sections/library/publications/2021/women-in-politics-2021-es.pdf?la=es&vs=5427
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Nesta aula, foram abordadas as contribuições do feminismo e da teoria queer à disciplina de
Relações Internacionais. Como parte da virada pós-positivista, tais abordagens colaboram para a
crítica dos vieses e pressupostos inquestionados inerentes às teorias tradicionais, mostrando como as
principais categorias analíticas da área (soberania, Estado, ordem e anarquia etc.) possuem um
caráter genderizado e sexualizado, refletindo normatividades de gênero e de orientação sexual. Ao
fazer isso, as teorias feministas e queer ampliam consideravelmente o que se concebe como objeto
das Relações Internacionais, enfatizando o papel do corpo, da sexualidade, do sexo e do gênero na
constituição das estruturas e dinâmicas da política mundial. 
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 Oriundo do grego antigo, “andro” designa “homem” ou “varão”.
 Da mesma forma, o eurocentrismo reflete a mesma estratégia simbólica de construção de
uma experiência histórica particular – aquela de alguns países europeus – como sinônimo de
experiência universal comum a toda a humanidade. A teoria pós-colonialista procura justamente
desconstruir tal estratégia.
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 Atualmente, discute-se a designação da irrupção feminista da década de 2010 como uma
possível “quarta onda”.
 A palavra não possui tradução exata no português, tendo sido usada, historicamente, na
Inglaterra e nos Estados Unidos, como termo pejorativo para se referir a indivíduos e grupos
marginalizados e estigmatizados em geral e, também, mais especificamente, a homossexuais e
transsexuais.
 O acrônimo LGBTQIA+ é formado a partir das letras iniciais referentes a lésbicas, gays,
bissexuais, transgêneros, queer, intersexuais e assexuais.Sendo o produto da ação política de
mobilização de diferentes minorias, tal acrônimo possui caráter dinâmico, estando exposto a
contestações, alterações e diferentes interpretações. A ideia central, entretanto, reside na referência à
uma população cuja identidade de gênero ou orientação sexual não estão de acordo à normalização
heterossexual e cis gênero tradicional.
 Fausto-Sterling (2000) explora detalhadamente o tema da intersexualidade, mostrando como
as características sexuais humanas (cromossomos, hormônios, gônadas, genitália externa etc.) variam
mais do que o senso comum espera, não podendo ser encaixadas no binarismo sexual de
macho/fêmea. Presos à concepção binária, durante muito tempo a medicina procurou “corrigir” – por
meio de intervenções cirúrgicas e/ou medicamentosas –, os indivíduos intersexuais, “adaptando-os” a
este ou àquele sexo. Sobre esse mesmo tema, ver Dreger (2003). 
 De acordo com Kendall e Wickham (1999, p. 39-40), para Foucault, quando nos dedicamos a
compreender e problematizar como as concepções sociais a respeito do sexo e da sexualidade
operam sobre os corpos dos indivíduos, é preciso considerá-los em seu caráter discursivo – tanto
sexo/sexualidade, como os corpos. Essa questão tem relativa importância para a teoria queer e
demanda o esclarecimento sobre como a ideia de discurso é empregada por Foucault para evitar
confusões analíticas e “alongamentos” conceituais. Dentro de uma leitura foucaultiana, nem ‘tudo’
pode ser considerado discurso. Nesse sentido, ao se estudar sexo e sexualidade, é preciso ter em
mente que os corpos dos indivíduos não são discursos. Os corpos são considerados elementos não-
discursivos em decorrência da sua própria materialidade. No entanto, esses corpos não existem e
operam em um “vácuo não discursivo”. A palavra corpo, por si, constitui-se em um produto
discursivo, mas além disso, a entidade corpo está sob a constante soberania do discurso. O discurso
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é, portanto, aquilo que torna o corpo um elemento visível, objeto do pensamento e da ação da social
e política.
 Cis-normatividade refere-se à norma cultural e moral que legitima e naturaliza a condição
cisgênero, quer dizer, a identificação do indivíduo com o gênero atribuído a ele quando do
nascimento, excluindo da ideia de normalidade outras formas identitárias, como a transgênero.
 Sobre isso, conferir Puar e Rai (2002) e Richter-Montpetit (2007).
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