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LIMITAÇÕES AO PODER DE TRIBUTAR: PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS A Constituição Federal estabelece duas espécies de limitações ao exercício da competência tributária: (1) Princípios Constitucionais Tributários; (2) Imunidades Tributárias. A seção constitucional, intitulada “Das Limitações do Poder de Tributar”, no art. 150 da CF constitui um rol exemplificativo. ATENÇÃO: o STF entende que os princípios constitucionais tributários são cláusulas pétreas, pois são garantias individuais do contribuinte. Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Fede- ral e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; (Princípio da Legalidade) II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distin- ção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; (Princípio da Isonomia) III - cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; (Princípio da Irretroatividade) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publi- cada a lei que os instituiu ou aumentou; (Princípio da Anterio- ridade Anual) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Princípio da Anterioridade Nonagesimal) IV - utilizar tributo com efeito de confisco; (Princípio do Não Confisco) V - estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressal- vada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conserva- das pelo Poder Público; (Princípio da Vedação de Limitação ao Tráfego de Pessoas e Bens) ............................................................................................................. - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR SEGURANÇA JURÍDICA: · Princípio da Legalidade; . Princípio da Irretroatividade; · Princípio da Anterioridade (Anual e Nonagesimal); - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR JUSTIÇA: · Princípio da Isonomia; · Princípio da Capacidade Contributiva (proporcionalida- de, progressividade fiscal, seletividade); . Princípio do Não Confisco; - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR LIBERDADE: · Princípio da Vedação de Limitação ao Tráfego de Pes- soas e Bens; · Princípio de Proibição de diferença tributária em razão da origem ou destino; - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR FEDERALISMO: · Princípio da Vedação de isenção heterônoma; · Princípio da Uniformidade Geográfica. ............................................................................................................. - PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS DIRIGIDOS A TODOS OS ENTES: · Princípio da Legalidade; · Princípio da Irretroatividade; · Princípio da Anterioridade (Anual e Nonagesimal); · Princípio do Não-Confisco; · Princípio da Liberdade de Tráfego; · Princípio da Isonomia, Capacidade Contributiva, Pes- soalidade e Progressividade. - PRINCÍPIOS TRIBUTÁRIOS DIRIGIDOS À UNIÃO: · Princípio da Uniformidade Geográfica; · Uniformidade de Tributação da Renda; · Princípio da Vedação às Isenções Heterônomas. - PRINCÍPIO TRIBUTÁRIO DIRIGIDO A ESTADOS, DF E MUNICÍPIOS: · Princípio da não-discriminação pela procedência ou des- tino. ..................................................................................... - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR SEGURANÇA JURÍDICA: · Princípio da Legalidade; . Princípio da Irretroatividade; · Princípio da Anterioridade (Anual e Nonagesimal); Imagine como seria se você firmasse um contrato para a pres- tação de um serviço. Uma das atividades mais importantes para aqueles que se aventuram no mundo dos negócios é a precificação de seus produtos e serviços. Para isso você conta com a previsão de seus custos com fornecedores, mão-de-obra e, naturalmente, com a carga tributária. Mas imagine que se depois de firmado o negócio, após você ter entregue, por exemplo, a mercadoria ao cliente e ele ter efetua- do o pagamento, fosse publicada uma lei que duplicasse o valor do tributo. Isso é a insegurança, que trazida para o Direito é denomi- nada insegurança jurídica. Cada ramo do Direito tem a sua forma de limitar ou evitar a insegurança jurídica. No Direito Tributário, temos como resultado genericamente 3 grandes princípios (legalidade, irretroatividade e não-surpresa) que estendidos correspondem a 4 novos princípios: legalidade, irretroatividade, anterioridade e noventena. E fique claro que estamos estudando partindo do pressuposto de que à natureza jurídica das limitações ao poder de tributar é de garantia constitucional (CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tri- butário e Financeiro. 4a. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 386) 1 – Princípio da Legalidade João, conhecido como João Sem Terra, foi rei da Inglaterra de 1199 a 1216. Seu reinado sofreu de grandes ataques militares e guerras com a França que deixaram suas contas bastante deficitárias. Como recurso para reforça seu exército e seu reino de forma geral, aumentava tributos, o que deixava os barões bastante insatisfeitos. Assim, para tentar um acordo com os barões, se viu forçado a assinar um dos documentos mais famosos de toda a história, a Magna Carta. Nela, dentre outros compromissos, havia o de somente cobrar os tributos que fossem aprovados por lei, ou seja, submetidos ao parlamento, que era também composto pelos próprios barões. Esta regra vige até hoje e é assim que se criam os tributos, na forma do art. 150, I, da Constituição da República. Este princípio está relacionado ao preceito maior de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer em algo senão em virtude de lei (art. 5º, II, CF). Ele está previsto na CF, art. 150, I: “É vedado à U, aos E, ao DF e aos M: (I) exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.” Como regra, a criação de tributos se dá por lei ordinária. Ao contrário do que muitos estudantes do Direito acabam por decorar, a criação de tributos não será objeto de lei complementar. A lei complementar tem como principal função o estabelecimento de normas gerais, ou seja, aquelas que estabelecem um padrão de comportamento a ser observado por todos os entes federativos na fiscalização e cobrança de qualquer tributo, salvo exceções fixadas em leis específicas. Os tributos que serão criados por lei comple- mentar são: os Empréstimos Compulsórios (art. 148 CR), o Imposto Sobre Grandes Fortunas (art. 153, VII, CR), os Impostos Residuais (art. 154, I, CR) e as Contribuições da Seguridade Social Residuais (art. 195, §4º, CR). A CF determina explicitamente a necessidade de previsão legal para instituição e majoração de tributos, porém o preceito também é aplicado em relação à sua redução devido ao princípio da separação dos poderes. ATENÇÃO: no quadro abaixo, se encontra o ponto mais cobrado do princípio da legalidade: Atenção! Perceba que não há exceção ao princípio da legalidade no que se refere à criação de impostos. As exceções referem-se, somente, à sua majoração e redução. Vejamos agora o que dispõe o CTN a respeito do tema: conforme o art. 97, o conjunto de matérias submetidas à reserva legal é o seguinte: “I – a instituição de tributos, ou a sua extinção; II – a majoração de tributos, ou sua redução; III – a definição do fato gerador da obrigação tributária prin- cipal e do seu sujeito passivo; IV – a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálcu- lo; V – a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI – as hipóteses de exclusão,suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalida- des. Da leitura do dispositivo acima, extrai-se que há mais duas exceções à legalidade: (1) atualização do valor monetário da base de cálculo do tributo (§ 2º, art. 97) e (2) fixação do prazo para recolhimento (jurisprudência do STF – exemplo: RE 195.218/2002). O Município, utilizando-se de índices oficiais, pode atualizar os valores venais do IPTU por meio de Decreto do Prefeito, pois não estará aumentando a base de cálculo, mas apenas impedindo que ela seja diminuída. CUIDADO! Não confunda a atualização do valor monetário da base de cálculo com o aumento desta base de cálculo, a qual requer previsão legal, conforme a Súmula STJ 160: “É defeso, ao Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao índice oficial de correção monetária”. 1.1 – Concessão de benefícios fiscais Aliás, na dicção do artigo 150, I, da Constituição, a limitação imposta traz garantia ao contribuinte. E a pergunta que lhe faço é: você precisaria ser protegido contra uma redução ou extinção de tributo? Já antecipo a resposta que tenho certeza você me deu: não! Afinal, ninguém reclama de boas surpresas. Então, poderia pa- recer que para reduzir-se um tributo bastaria a edição de qualquer ato normativo. Mas isso só não é correto porque a Constituição traz no §6º do mesmo artigo a exigência de lei específica para conces- são de qualquer benefício ao contribuinte. 1.2 – Medida Provisória Ainda outro ponto, que há muito se discutiu, é a possibili- dade de medida provisória criar ou aumentar tributo. Medida provi- sória não é lei. Mas tem força de lei. Sendo assim, como ficamos? A insatisfação poderia surgir do fato de que a medida provisória é ato normativo editado diretamente pelo executivo e que já começa a produzir efeitos antes mesmo de qualquer chancela do legislativo, poder que representa a vontade do povo na criação de atos norma- tivos. Mas o STF nunca reconheceu nenhuma inconstitucionalidade em medida provisória e recorrentemente temos novas medidas pro- visórias sobre a matéria. Aliás, a EC 32/2001, que introduziu novas regras relativas à medida provisória, estabelece a sua possibilidade e a sua aplicação. O texto poderia ser inconstitucional, já que o po- der de reforma da Constituição não é ilimitado, mas como dito, tal inconstitucionalidade nunca foi afirmada pelo STF. 1.3 – Exceções Um último ponto a tratarmos sobre a legalidade é que há ex- ceções. Mas devemos entender antes as razões destas exceções. Nem todos os impostos têm função arrecadatória, nem todos se prestam a prover, simplesmente, dinheiro aos cofres públicos. Al- guns tributos têm a função de intervir na economia, de servir de ins- trumento de política pública. Assim é com os impostos sobre o co- mércio exterior (importação e exportação), sobre produtos industria- lizados e sobre operações financeiras. E nesse sentido, caso fosse necessária a publicação de uma lei para qualquer aumento ou re- dução em suas alíquotas, considerando a quantidade de leis que ocupam a jornada do legislativo, estas alterações somente seriam aprovadas depois da intervenção não mais ser necessária. É por isso que esses quatro impostos, acima relatados, são, na forma do art. 153 §1º da CR, verdadeiras exceções à legalidade. Mas isso, só no que diz respeito às suas alíquotas, ou seja, o per- centual correspondente. Todos os outros elementos desses tributos deverão ser fixados por lei. 2 – Princípio da Irretroatividade Não basta para a segurança que o tributo seja fixado por lei. Até porque a lei poderia criar regras para situações já ocorridas e isto traria uma grande insegurança. Então, o art. 150, III, a, da Constituição determina que as leis somente podem alcançar fatos geradores/situações que ocorrem na vigência que os instituiu ou aumentou. É vedado aos entes da Federação cobrar tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado (CF, art. 150, III, “a”). Essa regra visa garantir a segurança jurídica dos contribuintes. ATENÇÃO: essa regra é válida para todos os tributos! As bancas costumam confundir os candidatos menos atentos, trocando a palavra tributos por impostos. Assim, como regra geral, a lei tributária não retroagirá. Quanto à instituição ou majoração de tributos, a lei tributária NUNCA RETROAGIRÁ. Contudo, em relação a outros temas, o princípio da irretroatividade não é um postulado absoluto. Exceção: . Imposto de Renda Súmula 584 STF - Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser apresentada a declaração. O fato gerador do imposto de renda é definido, por muitos doutrinadores, como complexivo ou periódico (formado por um conjunto de fatos ocorridos ao longo de determinado período, a saber, 1º de janeiro a 31 de dezembro). Caso uma lei entre em vigorem qualquer outro dia que não 1º de janeiro, a pergunta lançada é: qual é a lei aplicável ao imposto de renda? A antiga, até que feche o ano? A nova, a partir da sua vigência? A nova para o ano todo? Pela Súmula 584, STF, a lei que deve ser aplicada é a que estiver em vigor, não no ano da ocorrência do fato, mas no ano em que deve ser feita a declaração. É isso mesmo, aos rendimentos que você tem recebido será aplicada a lei que estiver em vigor no ano que vem! 3 – Princípio da Anterioridade / Princípio da Não Surpresa Se refletirmos sobre o propósito de garantir segurança jurídica ao contribuinte, tão somente legalidade + irretroatividade não produzem um resultado satisfatório. Imagine você firmar um contrato, contando com uma carga tributária tal e, amanhã, ser publicada (com vigência imediata) uma lei que duplique esta carga tributária. Ainda assim, haveria insegurança. É por isso que o ordenamento jurídico brasileiro conta com o princípio da anterioridade, a lei que cria ou aumenta um tributo tem de ter sido publicada até o ano anterior para que possa ser aplicada. Também conhecido como princípio da não-surpresa, está previsto na CF, art. 150, III, “b” e “c”, e divide-se em: . Anterioridade anual: Proíbe a cobrança do tributo no mesmo ano da publicação da lei que o instituir ou majorar. . Anterioridade nonagesimal: Publicação da lei que instituir ou aumentar tributo deve ser feita pelo menos 90 dias antes de sua exigência. O princípio da anterioridade nonagesimal foi criado pela EC 42/2003 em virtude de a anterioridade do exercício ter se transformado numa garantia meramente formal, já que havia o costume de realizar as alterações da legislação tributária no final do exercício. Desse modo, a anterioridade nonagesimal consiste em uma garantia bem mais eficiente para o contribuinte, pois assegura um período mínimo de dias para que possa se preparar para o aumento do tributo a ser pago. Obs. O STF entende que a revogação de isenção não se equipara à criação ou à majoração de tributo, por se tratar apenas de dispensa legal do pagamento de exação já existente, de modo que o tributo volta a ser imediatamente exigível, não sendo aplicável o princípio da anterioridade (RE 204.062/1996). Já, quando a surpresa for vantajosa para o contribuinte, como a redução ou extinção de um tributo, a Corte entende que não há que se falar no princípio da anterioridade, podendo produzir efeitos imediatos. Outro importante posicionamento do STF é a Súmula nº 669 do STF, a qual diz respeito ao prazo de recolhimento da obrigação tributária: “Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.” Em regra, os tributos submetem-se a ambos tipos de anterioridade, mas há exceções para cada um deles. Vejamos no quadro abaixo. Abaixo mais um esquema para facilitarsua assimilação: . Anterioridade e Medida Provisória Conforme o art. 62 da CF, “Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.” Logo, a medida provisória pode tratar de matéria tributária. O art. 62, § 1º, III, da CF, por sua vez, afirma que: “É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria reservada a lei complementar”. Assim, os tributos sujeitos à sua criação ou majoração por meio de lei complementar estão impedidos de ser regulados por meio de medida provisória. Contudo, isso não ocorre para a lei ordinária, tendo a medida provisória força equivalente a esta. - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR JUSTIÇA: · Princípio da Isonomia; · Princípio da Capacidade Contributiva (proporcionalida- de, progressividade fiscal, seletividade); . Princípio do Não Confisco; Você tem ideia da carga tributária brasileira? Você tem ideia do quanto o brasileiro paga por cada tributo? Nem imagina? Pois eu começo te convidando a visitar um site bastante curioso: impostômetro.com.br. Nele você pode conferir o quanto já foi pago/arrecadado no Brasil e em cada um dos Estados e capitais. Os valores são exorbitantes. E dependendo do dia em que você está acessando essa aula, as cifras poderão ser cada vez mais absurdas. 1 – Princípio da isonomia Determina o art. 150, II da CF: “é vedado instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos.” Tenha em mente que essa norma não determina que se dê o mesmo tratamento a todas as pessoas, pois igualdade é tratar desigualmente os desiguais. É vedado os chamados privilégios odiosos, benefícios que não encontram qualquer justificativa ou razão. Fique atento a outras jurisprudências do STF: . “Ao instituir incentivos fiscais a empresas que contratam empregados com mais de quarenta anos, a Assembleia Legislativa paulista usou o caráter extrafiscal que pode ser conferido aos tributos, para estimular conduta por parte do contribuinte, sem violar os princípios da igualdade e da isonomia.” (ADI 1.276); . “A sobrecarga imposta aos bancos comerciais e às entidades financeiras, no tocante à contribuição previdenciária sobre a folha de salários, não fere, à primeira vista, o princípio da isonomia tributária, ante a expressa previsão constitucional” (AC 1.109-MC); 2 – Princípio da Generalidade e Universalidade Como decorrência imediata do princípio da isonomia, encontram-se no art. 153, §2º, I, da Constituição, os princípios da generalidade e da universalidade. Generalidade significa que “todo aquele que manifestar riqueza será, em princípio, contribuinte. É por isso que a Constituição veda tratamento privilegiado a determinadas categorias” como é comum ocorrer em regimes ditatoriais que tendem a privilegiar a categoria que se encontra no poder. Já Universalidade significa que “todo fato que demonstre riqueza será em princípio gerador de tributo”. Então, encontramos aqui o fundamento para a tributação de várias situações, até mesmo do ato ilícito “princípio do pecúnia non olet”. 3 – Princípio da Capacidade Contributiva Cada um deve contribuir (ainda que forçosamente) para as despesas públicas na medida das forças de sua riqueza. Neste momento você deve abrir a sua Constituição e ler o §1º do art. 145 da Constituição. Nele você encontra a positivação do princípio. E como essa capacidade contributiva é avaliada? Através do que chamamos de subprincípios ou princípios-técnicos. a) Pessoalidade. Como visto é a análise de características do contribuinte como forma de avaliar o montante de tributo devido. b) Proporcionalidade. Esta é a regra geral. Os tributos devem ser proporcionais. Não devemos buscar a existência de tributos que tenha o mesmo valor para todo mundo. Isto seria a maior das injus- tiças, que um milionário pagasse o mesmo valor que um mendigo. c) Progressividade. Há dois aspectos para a progressividade. A progressividade fiscal, que veremos aqui. E a progressividade ex- trafiscal, que significa que a alíquota será aumentada de forma a desestimular algum comportamento do contribuinte, como forma, portanto de política pública. Ela é prevista na Constituição para o ITR (art. 153 §4º III) e para o IPTU (art. 182 §4º II), como forma de estimular a função social da propriedade. Mas a progressividade fiscal é que é a técnica de aferição da capacidade contributiva. Se- gundo ela, quanto maior a riqueza, maior será a alíquota. d) Seletividade. Como última forma de aplicarmos o princípio da capacidade contributiva podemos apontar a técnica em que as alíquotas serão fixadas em função da essencialidade do bem objeto de tributação. Isso ocorre ao IPI (art. 153 §3º I), ao ICMS (art. 155 §2º III), ao IPVA (art. 155 §6º II) e ao IPTU (art. 156 §1º II). ?A es- sencialidade é aquilo que for essencial para a dignidade humana, para a vida ou para a saúde do homem. (ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5a. Ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 380) 4) Não-confisco. Com previsão expressa no art. 150, IV, da Constituição. E o que é confisco? Poderíamos dizer que tributação confiscatória é aquela que é tão elevada que capaz de extinguir a riqueza tributada. Decorrência da garantia à propriedade privada, prevista no art. 5º, XXII, a CF determina a proibição de utilizar tributo com efeito de confisco no art. 150, IV. Não há um parâmetro pré-determinado do que seria um tributo confiscatório. Deve ser considerado o caráter extrafiscal de alguns tributos, como o IPI, que pode ser utilizado para estimular ou desestimular uma conduta por parte do contribuinte. Como exemplo, temos o caso dos cigarros, cuja alíquota do IPI pode ultrapassar 300%. A definição de o tributo ser ou não confiscatório é feita pelo Poder Judiciário, no caso concreto, quando provocado por algum contribuinte. Assim, nas palavras do STF: “A caracterização do efeito confiscatório pressupõe a análise de dados concretos e de peculiaridades de cada operação ou situação, tomando-se em conta custos, carga tributária global, margens de lucro e condições pontuais do mercado e de conjuntura social e econômica (...) O isolado aumento da alíquota do tributo é insuficiente para comprovar a absorção total ou demasiada do produto econômico da atividade privada, de modo a torná-la inviável ou excessivamente onerosa.” (RE 448432/2010) Importante! Entende o STF que a identificação do efeito confiscatório deve ser feita em função da totalidade da carga tributária, mediante verificação da capacidade de que dispõe o contribuinte para suportar a incidência de todos os tributos que deverá pagar, dentro de um determinado período, à mesma pessoa política que os houver instituído (ADIn 2.010-2/1999). Outro importante posicionamento do STF afirma que o princípio do não-confisco se aplica tanto para tributos como para multas, sejam de mora ou de ofício. ATENÇÃO: o princípio do não confisco não deve ser confundido com impenhorabilidade dos bens do devedor, pois assim não haveria garantias aos credores. - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR LIBERDADE: · Princípio da Vedação de Limitação ao Tráfego de Pes- soas e Bens; · Princípio de Proibição de diferença tributária em razão da origem ou destino; O custo de tudo que fazemos é um grande impeditivo para seguirmos em uma ou outra direção. Assim, ao fixar os tributos o Estado pode acabar tolhendo os particulares de adotarem uma conduta ou outra devido ao custo dos tributos 1 – Princípio da liberdade de tráfego Também chamado de“não-limitação ao tráfego ‟, esse princípio está previsto no art. 150, V, da CF: “é vedado estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias conservadas pelo Poder Público.” Com relação à ressalva, devemos lembrar que, atualmente, ela não se justifica, já que a cobrança de pedágio ocorre pelo regime de tarifa, que não é tributo. Esse pedágio considerado como tributo, seria apenas aquele cobrado pelo Poder Público pela utilização de vias por ele conservadas, o que teria natureza de taxa, embora não venha ocorrendo mais. Ainda assim, por óbvio, os valores do pedágio não podem ser abusivos para não ferir a garantia da liberdade de locomoção (art. 5º, XV, CF). Outra ressalva a esse princípio é a cobrança do ICMS em relação à circulação de mercadorias e serviços, pois esse tributo interestadual acaba por constituir uma limitação ao tráfego de bens pelo território nacional. Contudo, como a cobrança tem embasamento constitucional, é plenamente válida, sendo exigida razoabilidade na tributação. 2 – Princípio da Vedação de diferença tributária entre a Origem ou Destino O art. 152 tem o intuito de proibir que tais entes federados criem diferenças tributárias em razão da procedência ou destino dos bens e serviços. Na esteira desse entendimento, cabe dizer que à União é permitido criar distinções entre as regiões do país, pois o art. 151, I, permite a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-econômico. Note que esse princípio se aplica internamente com o objetivo de preservar o pacto federativo. Não se aplica ao comércio internacional, em que é possível estabelecer diferenças de acordo com a origem ou destino das mercadorias. É por isso que não podemos ter alíquota de IPVA diferenciada em razão dos veículos serem ou não importados. - PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS VINCULADOS AO VALOR FEDERALISMO: · Princípio da Vedação de isenção heterônoma; · Princípio da Uniformidade Geográfica. O art. 151 da CF, em seus incisos I, II, e III, institui princípios aplicáveis especificamente à União. 1 – Princípio da Uniformidade Geográfica . O Princípio da Uniformidade Geográfica (art. 151, I) proíbe a União de instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que implique distinção ou preferência a estado, DF ou Município. Mas admite-se a concessão de incentivos fiscais para promover equilíbrio do desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do país, o que atende a um dos objetivos fundamentais do Estado brasileiro: reduzir as desigualdades regionais (CF, art. 3º, III). Exemplo: Zona Franca de Manaus. 2 – Princípio da Uniformidade da Tributação da Renda . O Princípio da Uniformidade da Tributação da Renda (art. 151, II) veda à União tributar a renda das obrigações da dívida pública dos estados, DF e Municípios bem como a remuneração e proventos dos respectivos agentes públicos em níveis superiores ao que fixar para suas obrigações e para seus agentes. Ao analisar a própria nomenclatura conferida pela doutrina a esse princípio, percebemos que o que se busca é a tributação uniforme da renda, sem privilegiar o seu ente instituidor – que é a União. Exemplo: Se a remuneração dos servidores federais sofresse menor carga tributária do que os servidores pertencentes às carreiras dos demais entes federativos, seria natural que houvesse migração para os cargos públicos federais. 3 – Princípio da Vedação às Isenções Heterônomas . O Princípio da Vedação às Isenções Heterônomas (art. 151, III) proíbe a União de instituir isenções de tributos da competência dos Estados, DF e Municípios. Assim, em regra, somente quem é competente para instituir o tributo poderá conceder isenções. Contudo, existem exceções a essa regra: AULA 2 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS Esse assunto é uma continuação do estudo sobre as limitações ao poder de tributar. Iniciaremos o presente estudo explicando o conceito de imunidade, isenção e não incidência. Posteriormente estudaremos as imunidades em espécie, em toda a sua riqueza de jurisprudência. Obs. Ainda que em gozo de imunidade tributária, a pessoa jurídica não está dispensada de cumprir obrigações acessórias (fazer, tolerar, ou deixar de fazer algo) e de se submeter à fiscalização tributária. STF (RE 250.844) “exigir de entidade imune a manutenção de livros fiscais é consentâneo com o gozo da imunidade tributária (...)” 1. CONCEITO DE IMUNIDADE, ISENÇÃO E NÃO INCIDÊNCIA a) Não Incidência – Não há a incidência de tributo pelo fato de haver uma lacuna na lei, ou seja, não se deve nenhum tributo pois nenhum tributo foi instituído. Exemplo: incidência de imposto sobre a propriedade de bicicletas (não existe). b) Isenção – Trata-se de um benefício fiscal concedido pelo ente político, por intermédio de lei (infraconstitucional). É uma hipótese de exclusão do crédito tributário. . A isenção decorre do exercício da competência tributária e o fato gerador do tributo chega a ocorrer, e a obrigação tributária chega a existir, ou seja, o ente poderia cobrar aquele tributo, mas decide isentar os contribuintes, mediante a edição de uma lei (o que não se constitui é o Crédito Tributário). . Hipótese de não incidência legalmente qualificada. c) Imunidade – É uma limitação constitucional ao poder de tributar, ou seja, existe um limite além do qual o ente instituidor não poder tributar, por expressa disposição constitucional. Obs. Não importa a terminologia utilizada pela CF/88 para tratar das imunidades, visto que o simples fato de estar no texto constitucional dá ao instituto o título de imunidade. STF (RMS 22.192/DF) já decidiu que, embora o art. 195§7° da CF/88, mencione a palavra “isentas”, a interpretação que deve ser dada é a de que se trata de verdadeira imunidade. . Hipótese de não incidência constitucionalmente qualificada. d) Alíquota Zero – É mais uma hipótese em que o tributo acaba não sendo cobrado. Nesse caso ocorre o fato gerador, contudo, o valor do tributo é nulo, já que a alíquota é zero. . É muito comum nos tributos regulatórios em que a alíquota é uma exceção ao princípio da legalidade e pode ser alterada pelo próprio executivo. Assim quando se quer incentivar algum setor econômico (ao invés de criar uma isenção, o que demandaria todo um processo legislativo demorado) o governo reduz a alíquota a zero. Exemplo: Se o Governo Federal decidisse reduzir a alíquota de II a zero sobre determinados produtos essenciais ao País. 2. ESPÉCIES DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS As imunidades que serão tratadas agora estão no art. 150 VI da CF e tratam de vedações para qualquer ente federativo e para todo e qualquer imposto. Aqui há uma proteção da liberdade de várias espécies: política, religiosa etc. Esta imunidade se aplica aos impostos (em princípio todo e qualquer imposto) pois eles não possuem qualquer parâmetro para a sua fixação. Como se trata do único tributo não vinculado Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Fede- ral e aos Municípios: VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros; (Imunida- de Recíproca) b) templos de qualquer culto; (Imunidade Religiosa) c) patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos, in- clusive suas fundações, das entidades sindicais dos trabalha- dores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei; (Imunidade os Partidos Políticos, Entidades Sindicais dos Trabalhadores, Instituições de Educação e de Assistência Social) d) livros, jornais, periódicos e o papel destinado à suaimpressão. (Imunidade Cultural / Imunidade de imprensa) e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas bra- sileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser. (Imunidade musical) 2.1 Imunidade Recíproca Também denominada de imunidade intergovernamental, existe para proteger a autonomia financeira dos entes federados, e consequentemente, o pacto federativo. Art. 150, VI, a, da CF/88 – É vedado à União, aos Estados, ao DF e aos Municípios instituir impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços uns dos outros. Obs. Tal imunidade apenas abrange os impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços. Súmula 591 STF - A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de contribuinte de direito, mas não na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante para a verificação da existência do beneplácito constitucional a repercussão econômica do tributo envolvido. [Tese definida no RE 608.872, rel. min. Dias Toffoli, P, j. 23-2-2017, DJE 219 de 27- 9-2017, Tema 342.] http://www.stf.jus.br/portal/inteiroTeor/obterInteiroTeor.asp?idDocumento=13686215 http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudenciaRepercussao/verAndamentoProcesso.asp?incidente=3837900&numeroProcesso=608872&classeProcesso=RE&numeroTema=342 Obs. Para o STF a imunidade recíproca somente se aplica se o ente beneficiado estiver na condição de contribuinte de direito, não o alcançando como contribuinte de fato. . Contribuinte de Direito x Contribuinte de Fato Contribuinte de direito é aquele eleito pela lei para recolher o tributo, e contribuinte de fato é o que arca realmente com o ônus do tributo. . Embora o texto constitucional restrinja a aplicação desta imunidade às autarquias e às fundações públicas, o entendimento predominante no STF (RE 407.099/RS e AC 1.550-2) é o de que a benesse é extensível também às empresas públicas (EP) e às sociedades de economia mista (SEM) prestadoras de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado. Nesse sentido, o STF já concedeu imunidade às seguintes EP e SEM: . Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) – (STF, RE 407.099); . Infraero – (STF, RE 524.615-AGR); . Companhia de Águas e Esgoto de Rondônia (CAERD) – (STF, AC 1.550-2/RO); . Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) – (STF, RE 253.472); . Casa da Moeda do Brasil (CMB) – (STF, RE 610.517). A OAB – Entidade não integrante da administração pública indireta – também foi alcançada pela imunidade recíproca, no entendimento do STF (RE 259.976-AgR), pois a OAB desempenha atividade própria de Estado, motivo que faz com que ela também esteja imune. Obs. A OAB é imune, mas a Caixa de Assistência dos Advogados não é. Não são imunes: Serviços de registros públicos, cartorários e notariais, que por terem intuito lucrativo e serem devidamente remunerados, não estão imunes (STF, ADI 3.089). Obs. O simples fato de o serviço ter natureza pública não basta para ficar caracterizada a imunidade! Súmula 583 STF – Promitente-comprador de imóvel residencial transcrito em nome de autarquia é contribuinte do IPTU. A situação se refere a quando uma pessoa particular (promitente comprador) assina um contrato de compra e venda, adquirindo um imóvel de um ente imune. A assinatura do contrato não transfere a propriedade do bem, mas o comprador passa a ter sobre o bem o direito real de aquisição de coisa alheia, bastando, segundo a CF/88, para ser tributado normalmente. 2.2 Imunidade Religiosa O art. 150, VI, b, da CF veda que todos os entes federativos cobrem impostos sobre os templos de qualquer culto. Pelo Brasil ser um país laico, a imunidade religiosa alcança todas as religiões, sem qualquer distinção. A Imunidade religiosa abrange os templos, o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais da entidade religiosa. Obs. . Ainda que um imóvel pertencente a determinada entidade religiosa encontre-se alugado para terceiros, a imunidade subsiste, desde que os recursos gerados estejam sendo direcionados para as finalidades essenciais de tais entidades. . Os cemitérios que são extensões destas entidades também são alcançados pela vedação constitucional em tela. . Decisão STF (RE 562.351), a Maçonaria não é alcançada pela imunidade religiosa, já que nas lojas maçônicas não se professa qualquer religião. 2.3 Imunidade os Partidos Políticos, Entidades Sindicais dos Trabalhadores, Instituições de Educação e de Assistência Social De acordo com o art. 150, VI, c, da CF/88, é vedado a todos os entes políticos cobrar impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços dos partidos políticos e suas fundações, dos sindicatos de trabalhadores e das instituições de educação e assistência social, sem fins lucrativos, atendidos os requisitos da lei. Obs. Somente sindicatos de trabalhadores estão abrangidos pela imunidade. Os sindicatos dos empregadores ou de setores (ou categorias) econômicas não estão. No art. 14 do Código Tributário Nacional (Lei 5.172/66) são elencados os requisitos para que as já mencionadas entidades gozem da imunidade: “Art. 14 – (...) I – não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas rendas, a qualquer título; II – aplicarem integralmente, no País, os seus recursos na manutenção dos seus objetivos institucionais; III – manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros revestidos de formalidades capazes de assegurar sua exatidão.” Obs. . Se atente que a imunidade religiosa não se submete às restrições do art. 14 do CTN. . Atente-se que somente o patrimônio, a renda e os serviços vinculados às finalidades essenciais da entidade estarão imunes aos impostos sobre eles incidentes. . Para o STF, as escolas de ensino profissionalizante estão enquadradas no rol de entidades do art. 150, VI, c. Exemplo: SENAC e o SENAI. . O ensino de línguas estrangeiras também caracteriza-se como atividade educacional para aplicação da imunidade tributária, conforme entendimento do STF no RMS 24.283. (a cobrança de mensalidades pelas entidades educacionais não descaracteriza a imunidade, desde que não haja distribuição de renda, lucro ou participação nos seus resultados) Obs. Atente-se que a CF/88 não abarcou no art. 150, VI, c, as entidades de previdências, mas tão somente as de assistência social. 2.4 Imunidade Cultural (imunidade de imprensa) O art. 150, VI, d, da CF/88 estabelece que é vedado a todos os entes federados instituírem impostos sobre os livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão. Obs. Esta imunidade é objetiva, incidindo sobre “coisas”, ao passo que as demais são subjetivas, sendo parâmetro para concessão a “pessoa”. De acordo com a jurisprudência do STF, além dos livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, também estão imunes os outros insumos assimiláveis ao papel, abrangendo portanto os filmes e papéis fotográficos necessários à publicação de jornais e periódicos. Obs. Segundo o STF a presente imunidade não abrange a tinta para impressão de jornais. Somente sendo imunes livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua impressão, bem como outros insumos, desde que assimiláveis ao papel. . Não há proteção constitucional à prestação de serviços de composição gráfica ou de impressão onerosos a terceiros (RE 723.018-AgR); Exemplo: Copiadoras . Os serviços de distribuição de periódicos, revistas, publicações, jornais e livros não estão abrangidos pela imunidade cultural, devendo portanto incidir o ISS normalmente (STF,RE 630.462-AgR). Obs. . A concessão da imunidade sobre livros, jornais, periódicos e apostilas (impressas, no que se refere às apostilas virtuais, o tema será decidido no RE 330.817/RJ), independe da prova do valor cultural ou pedagógico da publicação. . A inserção de anúncios e publicidade em listas telefônicas, com o objetivo de permitir a divulgação das informações a custo zero para os assinantes, não descaracteriza a imunidade em tela (RE 199.183). 2.5 Imunidade em favor da produção musical brasileira Trata-se da EC 75/2013, conhecida como PEC da Música. “Art. 1º O inciso VI do art. 150 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido da seguinte alínea e: VI. instituir impostos sobre: e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser.” Obs. . A etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser foi excepcionada, não estando imune aos impostos. . Levando em consideração que a grande maioria dos CDs e DVDs fabricados no Brasil sai da Zona Franca de Manaus, o que houve foi a tentativa de manter aquele polo industrial atrativo para as empresas. . A imunidade impõem uma restrição de que apenas os fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil e que contenham obras de autores brasileiros – e/ou interpretadas por artistas brasileiros – estão imunes aos impostos. 3. OUTRAS ESPÉCIES DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS Além das imunidades até agora estudadas, há várias outras espalhadas pela Constituição, as quais seguem abaixo. a) São a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: (a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; (b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal (art. 5º, XXXIV); b) Ação popular, salvo comprovada má-fé, é isento (imune) de custas judiciais, as quais são consideradas taxas pelo STF (art. 50, LXXIII); c) São gratuitos para aos reconhecidamente pobres, na forma da lei, o registro civil de nascimento e a certidão de óbito (art.5°, LXXVI); d) O IPI não incidirá sobre produtos industrializados destinados ao exterior (art. 153, §3º, III); e) O ITR não incidirá sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei, quando as explore o proprietário que não possua outro imóvel (art. 153, §3°, II); f) O ouro, quando definido em lei como ativo financeiro ou instrumento cambial, sujeita-se exclusivamente à incidência do IOF (na operação de origem), sendo imune de qualquer outro tributo (art. 153, §5°); O ouro, depois de extraído nos garimpos, pode ser convertido em ativo financeiro, efetuando-se o pagamento do IOF no momento em que houver a sua primeira aquisição por instituição integrante do Sistema Financeiro Nacional, autorizada pelo Banco Central do Brasil a praticar tais operações. O ouro circulará desde então como ativo financeiro, portanto, sem IOF, desde que comercializado no mercado financeiro. g) À exceção do II, IE e ICMS nenhum outro imposto poderá incidir sobre operações relativas à energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País (art. 155, §3°); Observação: A imunidade se refere a todos os demais impostos, com exceção do II, IE e ICMS. Nesse sentido, vejamos uma importante súmula do STF: Súmula STF 659 - É legítima a cobrança da COFINS, do PIS e do FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País. h) São isentas (imunes) de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária (art. 184, §5°); i) A contribuição previdenciária não incide sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social (art. 195, II); j) São isentas (imunes) de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei (art. 195, §7°); l) A celebração do casamento é gratuita, portanto, imune a taxas (art. 226, § 1°).
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