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TCC EM SEGURANÇA PÚBLICA - Victor Amadeu Santos

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – UNESA 
CURSO SUPERIOR TECNÓLOGICO EM SEGURANÇA PÚBLICA – CSTSP 
 
 
VICTOR AMADEU OLIVEIRA PIRES DOS SANTOS 
 
ECONOMIA DO CRIME 
Teoria sobre as causas da criminalidade com destaque 
na literatura sobre a teoria econômica do crime 
 
Artigo a ser apresentado à Banca do Exame do Curso 
Superior de Tecnólogo em Segurança Pública da 
Universidade Estácio de Sá – CSTSP/UNESA, como 
requisito para aprovação na disciplina de TCC em 
Segurança Pública. 
 
 
ORIENTADOR 
Professora Kátia de Mello Santos 
 
 
Rio de Janeiro – RJ 
Maio de 2020
2 
 
ECONOMIA DO CRIME - TEORIA SOBRE AS CAUSAS DA 
CRIMINALIDADE COM DESTAQUE NA LITERATURA SOBRE A 
TEORIA ECONÔMICA DO CRIME. 
 
ECONOMY OF CRIME - THEORY ABOUT THE CAUSES OF CRIME FEATURED 
IN THE LITERATURE ON THE ECONOMIC THEORY OF CRIME. 
 
 
[Victor Amadeu Oliveira Pires dos Santos]
1
 
 
[Kátia de Mello Santos]
2
 
 
RESUMO 
 
Diante dos danos causados pelo crime à sociedade, esse artigo tem como objetivo central entender e 
identificar os determinantes socioeconômicos que influenciam a criminalidade brasileira, a partir da 
teoria econômica do crime de Becker (1968). O enfoque econômico do crime aborda as escolhas 
realizadas pelos indivíduos e explica o comportamento criminoso como um processo de decisão 
racional, no qual o indivíduo age como um agente econômico que avalia custos, benefícios e riscos 
antes de praticar um ato ilícito. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão bibliográfica sobre a 
teoria econômica do crime e os trabalhos empíricos sobre a criminalidade brasileira, visando identificar 
as possíveis variáveis e fatores socioeconômicos que motivam esse comportamento desviante, e traçar 
um perfil que possa servir de subsídio para a elaboração e implementação de políticas eficientes para o 
controle e redução da criminalidade. 
 
Palavras-chave: Teoria econômica do crime; Escolha racional; Comportamento criminoso. 
 
ABSTRACT 
 
In view of the damage caused by crime to society, this article has the central objective of understanding 
and identifying the socioeconomic determinants that influence Brazilian criminality, based on Becker's 
(1968) economic theory of crime. The economic approach to crime addresses the choices made by 
individuals and explains criminal behavior as a rational decision-making process, in which the 
individual acts as an economic agent who assesses costs, benefits and risks before committing an 
illegal act. The objective of this work is to carry out a bibliographic review on the economic theory of 
crime and the empirical studies on Brazilian crime, aiming to identify the possible variables and 
socioeconomic factors that motivate this deviant behavior, and to draw a profile that can serve as a 
subsidy for the elaboration and implementing effective policies to control and reduce crime. 
 
Keywords: Economic theory of crime; Rational choice; Criminal behavior. 
 
1 Graduando em Tecnólogo em Segurança Pública pela UNESA – Universidade Estácio de Sá. E-mail: victorosantos@yahoo.com.br 
 
2 Professor orientador– Universidade Estácio de Sá. Especialista em Políticas de Segurança Pública e Mestre em Saúde da Família. E-mail: 
katia.mello@estacio.br 
3 
 
 1 – INTRODUÇÃO 
 De acordo com a pesquisa, realizada em 2018, pelo Instituto DATAFOLHA, a 
segurança pública é a segunda maior preocupação dos brasileiros, segundo 25,0% dos 
entrevistados, ficando atrás somente da saúde, 32,0%. Temas como: o desemprego, a inflação, 
os juros altos e impostos elevados não são mais as principais preocupações da opinião pública 
e, por outro lado, a criminalidade vem ganhando importância e atenção especial da sociedade, 
pois os elevados custos associados a esse fenômeno impõem restrições sociais, econômicas e 
afetam grande parcela da população. 
 Nos últimos vinte anos, houve um aumento do número de estudos sobre a 
criminalidade no Brasil, inclusive entre os economistas, refletindo a preocupação com as 
perdas e danos que o crime provoca à sociedade, assim como os elevados custos 
socioeconômicos envolvidos. Estudos e estimativas do Banco Interamericano de 
Desenvolvimento (BID), demonstram que o Brasil é um dos países que apresentam, em termos 
nominais, os mais elevados custos de crime, incluindo: custos de vitimização em termos de 
perda de qualidade de vida devido a homicídios e outros crimes violentos e de renda não 
gerada da população encarcerada; custos incorridos pelo setor privado em termos das 
despesas de empresas e domicílios com prevenção do crime, especificamente gastos com 
serviços de segurança; e os custos incorridos pelo governo em termos de despesas públicas 
com o sistema judicial, serviços policiais e administração de prisões. Segundo os cálculos 
contidos no relatório emitidos pelo BID (2017) intitulado "Os custos do crime e da violência", 
em 2014 a violência no Brasil custou US$ 75.894 milhões ou US$ 103.269 milhões em 
paridade do poder de compra (PPC) para o país, ou, em termos relativos, o crime custa um 
montante equivalente a 3,14 % do PIB brasileiro (BID 510, 2017.p. 55). 
 O fenômeno da criminalidade é um problema social, econômico e político de 
importância inquestionável. É um problema social, pois afeta a qualidade e expectativa de vida 
da população, é um problema econômico, pois limita o potencial de desenvolvimento das 
economias, e é um problema político, pois as ações necessárias para combater o crime 
envolvem a participação ativa dos governos e a alocação de recursos públicos escassos em 
detrimento de outros objetivos de políticas públicas. (ARAÚJO JR. e FAJNZYLBER, 2001) 
4 
 
 Apesar dos estudos teóricos e da série de trabalhos empíricos, não se chegou a uma 
conclusão a respeito da melhor proposta de política pública de redução da criminalidade. 
Alguns pensadores políticos e autoridades competentes sugerem que o crime deve ser 
combatido com ênfase na repressão policial, o que não se mostra eficiente a partir de dados 
estatísticos e teste de significância, e outros argumentam que o comportamento criminoso é 
um fenômeno oriundo das condições econômicas e sociais e que políticas devem ser 
desenvolvidas visando os seus determinantes. Desta forma, entender as causas da 
criminalidade seria fundamental para a correta formulação e implementação de políticas que 
permitiriam a prevenção e redução do crime e da violência. 
 O objetivo deste trabalho é, justamente, contribuir para o entendimento do fenômeno 
da criminalidade no Brasil, realizando uma pequena revisão bibliográfica do Modelo de Gary 
Becker (1968), as contribuições de Andrade e Lisboa (2000), Pereira e Fernandez (2000), 
Araújo Jr. e Fajnzylber (2001), Shikida (2002), Cerqueira e Lobão (2003), Lobo e Fernandez 
(2003), Almeida (2007), entre outros, e analisando, segundo o conceito econômico, o processo 
decisório individual que motiva um agente a ingressar na criminalidade. Para isso, além deste 
primeiro capítulo introdutório, este trabalho é composto por outros capítulos, onde serão 
apresentados os referenciais teóricos sobre a teoria da escolha racional, a qual suporta as 
pesquisas empíricas e estudos econômicos sobre a criminalidade. 
 Sendo assim, ao explorar e identificar quais variáveis são mais significantes ao 
processo decisório de ingresso na criminalidade, é possível traçar o perfil criminológico 
brasileiro e determinar as características socioeconômicas que motivam à ilegalidade, 
permitindo a elaboração de política mais eficiente para redução dos crimes motivados por 
fatores econômicos como: tráfico de drogas, furto e roubo, crimes estes responsáveis por mais 
de 50,0% dos aprisionamentos no Brasil, segundo dados de 2016 do Departamento 
Penitenciário Nacional (DEPEN) contidos no levantamento nacional de informações 
penitenciárias (INFOPEN) de 2017. 
5 
 
 2 – TEORIA ECONÔMICA DO CRIME 
 A teoriaeconômica do crime analisa a atividade criminosa como uma atividade 
econômica ilegal, e não como uma atividade oriunda de patologias e/ou desvios sociais. 
Becker (1968) foi um dos primeiros estudiosos a estudar o crime como uma atividade 
puramente econômica, onde o crime pode ser definido como: 
Although the word ‘crime’ is used in the title to minimize terminological 
innovations, the analysis is intended to be sufficiently general to cover all violations, 
not just felonies – like murder, robbery, and assault, which receive so much 
newspaper coverage – but also tax evasion, the so-called white-collar crimes, and 
traffic and other violations. Looked at this broadly, ‘crime’ is an economically 
important activity or ‘industry’, notwithstanding the almost total neglect by 
economists. (BECKER, 1968, p.170) 
 Em seu artigo Crime and Punishment: An Economic Approach, Becker (1968) 
desenvolveu um modelo teórico microeconômico sobre a criminalidade, onde a decisão de 
cometer ou não um crime era tomada pelo indivíduo a partir dos benefícios e custos esperados 
do ato criminoso em comparação aos ganhos da alocação de seu tempo no mercado de 
trabalho legal. 
 Segundo esta teoria, o indivíduo se comporta como um maximizador racional e comete 
um crime somente se a utilidade esperada de uma atividade ilegal exceder a utilidade que 
obteria se empregasse seu tempo e seus recursos em uma atividade legal, fazendo a escolha 
com o maior retorno. O agente econômico é, na verdade, egoísta e racional, e visa à 
maximização da utilidade, prazer, e a minimização de seus custos, sofrimentos. Os criminosos 
em potencial atribuem um valor monetário ao crime, e comparam este valor ao custo 
monetário envolvido na realização do mesmo, que inclui os custos de planejamento e 
execução, o custo esperado de serem detidos e condenados, e o custo de oportunidade, isto é, a 
renda que não obterão enquanto estiverem fora do mercado de trabalho legal. Para Becker 
(1993) a racionalidade existente na teoria econômica do crime [...] “implies that some 
individuals become criminals because of the financial and other rewards from crime compared 
to legal work, taking account of the likelihood of apprehension and conviction, and the 
severity of punishment.” (1993, p.390) 
 O comportamento criminoso é, na verdade, um comportamento humano em situação de 
escassez, onde os indivíduos têm desejos que podem ser satisfeitos cometendo crimes, o que 
6 
 
implica em custos como o risco de ser capturado e punido (BALBINOTTO, 2003). Nesse 
sentido, a teoria econômica utilitarista do crime, substitui a teoria das patologias individuais, 
dos desvios psicológicos e da anomia por uma teoria puramente econômica, onde o crime é 
uma atividade como outra qualquer, onde o agente faz uma escolha econômica e busca 
maximizar os seus ganhos. 
 Para formular a teoria econômica do crime, Becker (1968) une a teoria do bem-estar 
com a do problema do agente-principal, onde a sociedade é o principal, os criminosos são os 
agentes, e o problema, previsto na teoria, é que os objetivos do principal e dos agentes são 
divergentes. Os criminosos possuem desejos ilimitados e a sociedade dispõe de recursos 
limitados, o que causa o conflito de objetivos entre o principal e o agente, que é intensificado 
pela impossibilidade do principal saber o comportamento dos agentes, dada as falhas de 
mercados existentes pela assimetria de informações. 
 O modelo de Becker (1968), conhecido como rational criminal model (RCM), não leva 
em consideração questões éticas e/ou morais, pressupondo que as pessoas são criminosas em 
potencial, indivíduos racionais que fazem escolhas e estão sujeitos a comparações entre 
ganhos e custos esperados, com o resultado incerto de sucesso ou de condenação. Pela teoria 
econômica racional do crime, algumas pessoas se tornam criminosas por questão de escolhas 
individuais, pois seus ganhos e custos são diferentes das demais. O autor aborda o crime como 
uma atividade econômica como qualquer outra, tendo como única diferença a sua ilegalidade e 
os elevados custos sociais, e a decisão de investir ou cometer um crime depende das 
expectativas de retorno. 
 Para calcular a utilidade esperada e entender melhor quais são os fatores levados em 
consideração ao se planejar um ato criminoso, é utilizada a equação utilitarista do modelo, 
desenvolvida por Becker (1968): 
EUi = pi Ui(Yi - fi) + (1 − pi)∙Ui(Yi) 
 Onde EUi é a função utilidade do indivíduo; pi é a probabilidade do indivíduo de ser 
encontrado e condenado; Yi é o rendimento monetário do crime e fi são as punições no caso do 
indivíduo ser preso e condenado. Segundo a equação do modelo, se o rendimento monetário 
do crime Yi for superior que a probabilidade do indivíduo ser descoberto, condenado e punido 
7 
 
pelo ato criminoso pi e fi, a utilidade esperada EUi será positiva e o indivíduo, teoricamente, 
escolheria cometer um crime e atuar na ilegalidade. Nas palavras do próprio autor: 
[...] Both pj and fj might be considered distributions that depend on the judge, jury, 
prosecutor, etc., that j happens to receive. Among other things, Uj depends on the p's 
and f's meted out for other competing offenses. For evidence indicating that 
offenders do substitute among offenses, see Smigel (1965)The utility expected from 
committing an offense is defined as EUj = pjU(Yj -fj) + (1 -pj)Uj (Yj), where Yj is 
his income, monetary plus psychic, from an offense; Uj is his utility function; and fj 
is to be interpreted as the monetary equivalent of the punishment. Then […] as long 
as the marginal utility of income is positive. One could expand the analysis by 
incorporating the costs and probabilities of arrests, detentions, and trials that do not 
result in conviction. (BECKER, 1968, p.177) 
 O modelo teórico microeconômico contido nesta teoria aborda a escolha do indivíduo 
maximizador de utilidade esperada frente a duas situações distintas e opostas: de um lado os 
ganhos potenciais de um ato criminoso e a probabilidade de punição, e de outro, o custo de 
oportunidade de praticar o ato criminoso, medido pela renda obtida no mercado de trabalho 
legal. Se a vantagem esperada for maior que o risco, medida pela probabilidade de ser pego e 
condenado, o agente racional irá cometer o crime, caso contrário, se o valor da punição do ato 
for elevado e o risco do crime superar os ganhos potenciais, a decisão racional será por não 
cometer do crime. A análise sobre a decisão de cometer um ato criminoso pode ser comparada 
à decisão de investimento quanto à análise de riscos, possibilidade de ganhos e posição do 
indivíduo à exposição ao risco. 
 Segundo esta abordagem, o criminoso em potencial calcula os possíveis ganhos da 
atividade ilegal e os compara com os ganhos reais no mercado legal e sua disposição para 
cometer um crime, segundo o seu nível de exposição ao risco. Desta forma, se a renda no 
mercado de trabalho legal for inferior aos custos-benefícios e a probabilidade de ser pego e 
condenado for menor que o risco que ele está disposto a correr, o indivíduo irá optar pelo 
crime como forma de obtenção de renda. 
 Com a finalidade de tornar mais simples e objetiva o entendimento sobre a teoria 
econômica do crime de Becker (1968), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001) elaboraram uma 
equação que resume e identifica as variáveis mais importante deste modelo: 
NBi = li − ci − wi − (pr∙pu) 
8 
 
 Onde NBi é o benefício líquido do indivíduo i; li é o valor monetário do ganho do 
crime, loot; ci é o custo de planejamento e execução do crime; wi é o custo de oportunidade, 
baseado na renda da atividade legal; pr é a probabilidade de captura e condenação; pu é o 
valor monetário do castigo. 
 Entre essas variáveis, as que estimulam o indivíduo a não cometer um crime e atuar no 
mercado de trabalho legal, fatores positivos, são: renda, benefícios, educação, oportunidades 
de crescimento, entreoutros. Os fatores negativos deterrence são as variáveis que 
desestimulam o indivíduo a cometer um crime, via aumento dos riscos e dos custos como: 
nível de policiamento, eficiência do aparato da justiça criminal, severidade da lei, punições 
entre outros. Segundo Becker (1968) o cálculo das punições deve ser calculado via otimização 
das condições e recursos disponíveis, como forma de minimização dos custos sociais do 
crime, visando o bem-estar geral da sociedade. 
 Essa equação possibilita a previsão e entendimento da resposta dos criminosos frente 
às mudanças dos custos e benefícios. O maior rigor das atividades de execução penal, aumenta 
a probabilidade pr de punir o criminoso, do mesmo modo que a elevação das punições, 
aumenta a severidade pu do castigo empregado. Desta forma, o risco de se cometer um ato 
criminoso aumenta e o número de indivíduos racionais disposto a infringir a lei diminui, dado 
o aumento do risco da atividade ilegal. 
 Becker (1968) demonstrou matematicamente que a relação entre p e f, da equação de 
utilidade esperada EU original do modelo, é negativa sobre o montante de retorno esperado, 
pois acréscimos em p e/ou f alteram a utilidade esperada do indivíduo, podendo torná-la 
negativa e dissuadindo-o a cometer crimes. 
 Segundo Becker (1968) o modelo de combate ao crime e otimização dos recursos deve 
ser dividido em cinco categorias distintas: o número de crimes e o custo social destes, o 
número de crimes e a punição imposta, o número de crimes, prisões e condenações e o gasto 
público com polícia e judiciário, o número de condenações e o custo das penitenciárias e 
outros tipos de punições, e o número de crimes e o gasto privado com proteção e apreensão. 
 Como analisado, o comportamento criminoso pode ser reprimido e incentivado através 
de variáveis deterrence e uma melhor distribuição dos recursos da economia. Nos próximos 
itens, são estudadas detalhadamente cada uma das categorias que explicam, segundo este 
9 
 
modelo, os gastos públicos e privados com a criminalidade e, segundo a análise de Becker 
(1968), qual o critério mais eficiente de políticas de combate ao crime, para obter de forma 
eficaz os benefícios da justiça com o menor custo à sociedade e maior bem-estar social. 
 Com a pioneira interpretação econômica sobre o crime, Becker (1968) cria um ponto 
de partida para a análise do comportamento criminoso segundo aspectos microeconômicos, 
desenvolvendo uma condição teórica e prática aos estudos sobre o comportamento criminoso. 
As ciências econômicas têm como objetivo a alocação de produção e recursos segundo 
conceitos de escassez e de otimização, desta forma, seguindo esta mesma linha de raciocínio, 
políticas ótimas de combate ao crime podem ser alcançadas via alocação ótima dos recursos 
disponíveis. Segundo o próprio autor: 
The main contribution of this essay, as I see it, is to demonstrate that optimal policies 
to combat illegal behavior are part of an optimal allocation of resources. Since 
economics has been developed to handle resource allocation, an "economic" 
framework becomes applicable to, and helps enrich, the analysis of illegal behavior. 
At the same time, certain unique aspects of the latter enrich economic analysis: some 
punishments, such as imprisonments, are necessarily non-monetary and are a cost to 
society as well as to offenders; the degree of uncertainty is a decision variable that 
enters both the revenue and cost functions; etc. (BECKER, 1968, p.209) 
 Como apresentado nos itens anteriores, a teoria econômica do crime utiliza a análise 
econômica para o desenvolvimento de políticas, público e privado, ótimas e eficientes para 
combater o comportamento criminoso. As políticas públicas de alocação de recursos podem 
ser expressas pelos gastos com polícia e tribunais, que, determinam a probabilidade de um 
crime ser descoberto p e o agressor preso e condenado; pelas leis que determinam a severidade 
da pena para os condenados f; e pela forma de a punição b como: prisão, multas, liberdade 
condicional, entre outras. 
 Segundo Becker (1968) o montante de recursos destinados para estipular os valores 
ótimos para as variáveis p, f e b são determinadas objetivando três relações comportamentais: 
os danos causados por um determinado número de ações criminosas, o custo da realização de 
uma determinada probabilidade do criminoso pagar pelo crime e o efeito das alterações de p e 
f no número de crimes. Desta forma, ainda segundo o autor, decisões ótimas são interpretadas 
como as decisões que minimizem a perda social, calculada pela soma dos danos, custos de 
apreensão, condenação e execução das penas impostas, custos estes que podem ser 
minimizados via determinação de p, f e b. 
10 
 
 A escolha individual sobre atuar ou não em uma atividade ilegal pode ser explicada 
pelo mesmo modelo de escolha que os economistas usam para explicar entrada em atividades 
legais, uma vez que os agressores são, na margem, preferenciais ao risco (BECKER, 1968) 
Desta forma, as atividades ilegais não compensariam se a renda real recebida for menor do que 
o que poderia ser recebido em atividades legais de menor risco. 
Consequently, illegal activities "would not pay" (at the margin) in the sense that the 
real income received would be less than what could be received in less risky legal 
activities. The conclusion that "crime would not pay" is an optimality condition and 
not an implication about the efficiency of the police or courts; indeed, it holds for any 
level of efficiency, as long as optimal values of p and f appropriate to each level are 
chosen. If costs were the same, the optimal values of both p and f would be greater, 
the greater the damage caused by an offense. Therefore, offenses like murder and 
rape should be solved more frequently and punished more severely than milder 
offenses like auto theft and petty larceny. (BECKER, 1968, p.208) 
 A teoria desenvolvida por Becker (1968) foi tão importante e inovadora que muitos dos 
estudos que foram e são desenvolvidos sobre o crime, segundo a abordagem da escolha 
racional, basicamente são inovações em torno deste modelo teórico original. No próximo 
capítulo, serão apresentados os estudos econômicos sobre a criminalidade brasileira de autores 
que identificaram os fatores socioeconômicos como determinantes da criminalidade, e como 
aplicaram a teoria da escolha racional e econômica do crime de Becker (1968) para analisar as 
práticas criminosas no Brasil. 
11 
 
3 – LITERATURA NACIONAL SOBRE A CRIMINALIDADE 
 No Brasil, ainda existem poucos estudos que utilizam a teoria econômica de Becker 
(1968) e a econometria empírica como forma de estimação sobre os determinantes da 
criminalidade no Brasil. Outras disciplinas, como a demografia, saúde pública, sociologia e 
ciência política vêm contribuindo para a discussão sobre esses determinantes, mas não se 
mostraram conclusivos sobre quais seriam as causas da criminalidade. 
 A falta de estudos empíricos está relacionada à [...] “extrema limitação derivada da 
inexistência quase que absoluta de dados minimamente confiáveis, com cobertura nacional e 
reproduzidos temporalmente.” (CERQUEIRA e LOBÃO, 2004, p.253). Os estudos sobre a 
criminalidade, geralmente, mesclam observações sociais e/ou antropológicas com dados 
oriundos de indicadores econômicos, obtendo êxito no detalhamento de características sobre o 
aspecto do indivíduo como ser criminoso e das práticas criminosas e da vida penitenciária no 
país, mas não apresentam um denominador comum sobre as causas motivadoras do 
comportamento criminoso. 
 Este capítulo discorre sobre as contribuições, de cunho econômico, sobre as causas da 
criminalidade no Brasil a partir da revisão bibliográfica da literatura nacional. São destacados 
os estudos de autores como: Pezzin
3
 (1986 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), Andrade e 
Lisboa (2000), Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. eFajnzylber (2001), Shikida (2002), 
Cerqueira e Lobão (2003), Lobo e Fernandez (2003), Almeida (2007), entre outros; assim 
como a metodologia e as variáveis utilizadas pelos mesmos. 
 Cerqueira e Lobão (2003) perceberam que os estudos empíricos sobre os determinantes 
do crime no Brasil baseados na teoria econômica do crime e no modelo de Becker (1968), 
como os trabalhos de Pereira e Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001) e Shikida 
(2002), apresentavam alta significância da variável desigualdade de renda como causa ou 
fator característico para as regiões com elevadas taxas de homicídios. Entretanto o modelo 
teórico original de Becker (1968) não equaciona esta variável, causando uma distorção entre o 
modelo teórico e o modelo empírico. Desta percepção, os autores fizeram uma enorme 
contribuição para a teoria econômica do crime, desenvolvendo um modelo de produção 
 
3
 PEZZIN, L. Criminalidade urbana e crise econômica. São Paulo: IPE/USP, 1986. 
12 
 
criminal onde a variável desigualdade de renda consta explicitamente na equação, assim como 
as variáveis: renda esperada no mercado de trabalho legal, densidade demográfica, efetivo 
policial e punição. 
 Desta forma, munido deste novo modelo e dos dados oriundos dos Registros de 
Ocorrências da Polícia Civil, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e do 
Sistema de Saúde (SIM/SUS), os autores puderam analisar empiricamente as possíveis causas 
do número de homicídios, variável dependente proxy escolhida como medida de 
criminalidade, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, nas décadas de 70 e 80; e 
concluíram que, para enfrentar o crime, a exclusão social e econômica deveria ser combatida e 
que não basta somente aumentar os investimentos em segurança pública e/ou em medidas de 
combate direto à criminalidade. 
A pesquisa concluiu, pois, que a diminuição da desigualdade tem impacto fortemente 
negativo sobre o número de homicídios, o que referenda várias teorias econômicas, 
sociológicas e psicossociais que procuram explicar as causas da criminalidade. Os 
resultados sugerem ainda um efeito pífio do aumento dos gastos em segurança 
pública na diminuição do número de homicídios. Considerando-se inúmeras 
experiências internacionais, além das diversas pesquisas nacionais e internacionais 
que enfatizam o papel crucial da polícia em coibir a criminalidade, acreditamos que 
esse resultado derive do fato de se estar lidando com um modelo exaurido de 
segurança pública, mais especificamente no que diz respeito às instituições policiais. 
(CERQUEIRA e LOBÃO, 2003, p.24) 
 Lobo e Fernandez (2003), tendo conhecimento da importância dos fatores sociais, 
demográficos e econômicos como agentes causadores ou motivadores da criminalidade, 
desenvolveram um modelo econométrico, segundo a teoria econômica, para estudar as 
principais modalidades de crimes nos municípios da Região Metropolitana de Salvador, no 
período de 1993 a 1999, utilizando dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública do 
Estado da Bahia (SSP-BA). Ao analisar as curvas de oferta das atividades criminosas 
agregadas e algumas específicas como: furto, roubo e crimes contra o patrimônio, os autores 
identificaram que nível de educação, eficiência da polícia, concentração de renda, densidade 
demográfica, grau de urbanização e as rendas dos municípios e do governo municipal são as 
variáveis mais significantes aos índices de criminalidade. 
 Segundo a análise e interpretação dos resultados econométricos, dentre as variáveis 
supracitadas, a elevação dos níveis de educacionais, das rendas dos municípios e do governo 
municipal e da eficiência da polícia, assim como reduções da concentração de renda e do grau 
13 
 
de urbanização, são as variáveis que reduziriam a criminalidade com maior significância. A 
maior contribuição de Lobo e Fernandez (2003) foi a análise da influência da 
urbanização/densidade demográfica sobe a incidência de crimes, algo, até então, pouco 
estudado teórica e empiricamente: 
A densidade demográfica, a despeito de ter se correlacionado negativamente com os 
indicadores de criminalidade, mostrou uma correlação positiva com a probabilidade 
de variações nos índices de criminalidade, revelando que os municípios com maior 
densidade demográfica são também aqueles que apresentam as maiores 
probabilidades de aumentos em seus indicadores de criminalidade. Esse resultado 
vem reforçar o efeito perverso de aumentos no grau de urbanização tanto sobre o 
aumento do nível de criminalidade, detectado anteriormente, quanto sobre o 
crescimento da probabilidade de aumentos nos indicadores de crime. Esse resultado 
abre novas perspectivas para as políticas que favorecem a fixação da população no 
campo ou estabelecem condições para redirecionar as pessoas para as áreas rurais, 
como é o caso específico da reforma agrária. (LOBO e FERNANDEZ, 2003, p.18) 
 Outra contribuição dos autores foi a análise da criminalidade pela própria 
criminalidade onde, explicando melhor, quanto maior for a quantidade de crimes em uma 
determinada região, menor será a probabilidade de aumento do próprio índice de 
criminalidade, evidenciando que os níveis de criminalidade reduzem ou freiam o crescimento 
dos mesmos, evidenciando uma grau de saturação criminal. “Esse resultado possibilita 
estabelecer medidas de curto prazo que possam combater eficazmente a criminalidade, 
amortecendo ou refreando seus indicadores através do tempo.” (LOBO e FERNANDEZ, 
2003, p.18) 
 Almeida (2007) foi mais além do que os outros autores estudados neste capítulo. Ele 
inovou os estudos sobre teoria econômica do crime analisando a dinâmica e os determinantes 
da criminalidade, segundo a abordagem racional, não de forma agregada como fizeram os 
autores anteriores, mas de forma espacial, através da análise exploratória e econometria 
espacial das atividades sociais, econômicas e demográficas de seiscentos e quarenta e cinco 
municípios de São Paulo, utilizado dados provenientes do Consórcio de Informações Sociais 
(CIS), Centro de Análise Criminal (CAC) e da Secretaria de Segurança Pública do Estado de 
São Paulo (SSP-SP) de 2001. 
 A análise espacial revelou uma concentração de crimes contra o patrimônio e contra 
pessoa na Região Metropolitana de São Paulo, o que demonstra que, da mesma forma que 
Lobo e Fernandez (2003) concluíram, a urbanização e a densidade demográfica está 
14 
 
relacionada com o índice de criminalidade, principalmente desses dois tipos específicos de 
crime. Além disso, outras conclusões foram destacadas pelo autor: 
A proxy de urbanização mostrou-se diretamente relacionada com o delito desta 
regressão. Por outro lado, a diminuição da vulnerabilidade e um aumento do 
percentual da renda derivado das transferência [sic] do governo, reduziriam o crime 
contra o patrimônio de forma mais enérgica que outros fatores, com exceção ao 
logaritmo da renda per capta. A diminuição da vulnerabilidade, política estrutural, 
traria consequências [sic] a longo prazo enquanto um controle imediato do crime 
estaria ligado a transferências do governo como percentual da renda, política 
compensatória. (ALMEIDA, 2007, p.80) 
 Os resultados apresentados nesta seção sugerem que a teoria e o modelo econômico 
podem contribuir para o entendimento dos determinantes do crime, também no Brasil. A 
literatura brasileira foi eficiente ao identificar algumas variáveis mais significantes para a 
determinação do comportamento criminoso, evidenciando que há uma alta relação entre o 
crime e a desigualdade, a educação e a idade. Os estudos brasileiros mostram claramente que 
não somente a desigualdade de renda afeta o nível de criminalidade, como também outras 
características a ela associadas como: a desigualdade na distribuição da educação e o padrão 
de mobilidade social existente, tanto no sentido ascendente quanto descendente. 
 Considerandoque a maioria dos homicídios ocorridos no Brasil e o número de 
presidiários cumprindo pena, tem relação com crimes de cunho econômico como: tráfico de 
drogas, furto e roubo, 65,0% do total de detentos, segundo dados consolidados referentes a 
todo o ano de 2015 e o primeiro semestre de 2016 do Departamento Penitenciário Nacional 
(DEPEN), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, divulga a edição 
mais recente do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN), é 
possível afirmar que a teoria econômica de Becker (1968) está adaptada ao caso brasileiro, 
reafirmando a hipótese de que o crime é, fundamentalmente, uma atividade econômica, com 
todos os custos e benefícios envolvidos. Dos 726.712 mil presidiários cumprindo pena no 
Brasil (DEPEN, Junho de 2016), 30,0% estão cumprindo por tráfico de drogas, 35,0% por 
furto e roubo, crimes contra o patrimônio e apenas 16,0% estão cumprindo pena por crimes 
contra a pessoa, crimes que, pela literatura, são originários de sentimentos e características 
desviantes. 
 Segundo os estudos empíricos apresentados neste capítulo, ratificados com os dados do 
Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) de 2017, a população carcerária brasileira é 
15 
 
composta, em sua maioria, por jovens, reincidentes, solteiros, presos por envolvimento com o 
tráfico de drogas, furto e roubo, e com baixo nível de escolaridade, muitos sem o ensino 
fundamental completo, tendo como grande motivo para a paralisação dos estudos a 
necessidade de contribuição com a renda familiar. Shikida (2002) constatou que 70,8% dos 
presidiários da Penitenciária Estadual de Piraquara no Paraná são reincidentes, percentual este 
em linha com os dados nacionais, que demonstram que mais da metade dos presidiários 
brasileiros apresentam o mesmo perfil. 
 O baixo nível escolar do perfil criminoso brasileiro evidencia a falta de eficiência da 
gestão pública ao priorizar gastos com segurança pública em detrimento da educação, fator 
primário de equidade socioeconômico. Segundo os dados, de 2017, do Ministério da Justiça e 
do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), dos presidiários brasileiros, 3,0% são 
analfabetos, 45,0% tem fundamental incompleto e 12,0% tem fundamental completo, 
totalizando quase 60,0% dos detentos com baixo nível educacional. Brasil gasta com presos 
quase o triplo do custo por aluno, o país investe mais de R$ 40 mil por ano em cada preso em 
um presídio federal, gasta uma média de R$ 15 mil anualmente com cada aluno do ensino 
superior — cerca de um terço do valor gasto com os detentos, segundo dados obtidos da 
Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) e do Ministério da Educação (MEC), em 
2020. 
 Desta forma, fica evidente que para a maioria dos estudiosos sobre a criminalidade 
brasileira, fatores como: desigualdade de renda, educacional e/ou de acesso, urbanização e 
falta de políticas voltadas para os jovens entre 18 e 29 anos de idade, 55,0% do total de 
detentos, estão diretamente relacionadas com o nível de criminalidade, constatação lógica e 
correta, confirmada pelo perfil criminológico dos detentos brasileiros. No próximo capítulo, 
está contida uma breve conclusão sobre a segurança pública no Brasil e sobre as possíveis 
causas da criminalidade brasileira. 
16 
 
 3 – CONCLUSÃO 
 Atualmente, um dos maiores problemas da sociedade brasileira é a criminalidade. 
Segundo dados do Ministério da Justiça e do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), 
o número total de presos em penitenciárias e delegacias brasileiras era de 726.712 mil presos 
em Junho de 2016, 578,7% maior do que em 1992, 10 mil. 
 O Brasil, mesmo apresentando taxas de crescimento econômico, redução da 
desigualdade e avanços educacionais, convive com a triste realidade da violência, fenômeno 
presente na sociedade atual, ao ponto de constituir um verdadeiro desafio para os governantes. 
A necessidade de intervenção sobre as ocorrências criminais torna necessária o entendimento 
sobre os motivadores e o próprio comportamento criminoso, de forma teórica e empírica, para 
a correta elaboração e aplicação de políticas para controle e redução da criminalidade. 
 É justamente desta necessidade e da complexidade do tema, que se justifica a 
elaboração deste e de outros trabalhos, assim como o esforço acadêmico para entender o 
comportamento criminoso visando à identificação das variáveis significantes que motivam um 
indivíduo a efetuar um delito, ao invés de atuar no setor de trabalho legal. Desta forma, neste 
trabalho, foi revisada a bibliografia sobre o crime e analisadas as várias teorias, modelos e 
empirismos que explicam o comportamento desviante do criminoso, objetivando contribuir 
para o entendimento do crime, no caso brasileiro. 
 Uma vez que a determinação da criminalidade está sujeita às diferenças institucionais, 
sociais, jurídicas e regionais, dependendo também da fragilidade física e psicológica dos 
indivíduos, o segundo e o terceiro capítulos apresentam algumas das mais importantes e 
estudadas teorias sobre a criminalidade, englobando ciências sociais, antropológicas, 
psicológicas e econômicas, descrevendo de forma clara e sucinta a lógica por trás das teorias e 
induzindo o leitor a entender a criminalidade não como um fenômeno subjetivo de difícil 
explicação e sim, objetivo e que pode ser entendido e quantificado. 
 Ao analisar as teorias apresentadas no segundo capítulo, fica evidente a complexidade 
do fenômeno criminológico e a dificuldade de identificação das variáveis sociológicas e 
antropológicas determinísticas da criminalidade, que, segundo as teorias da desorganização 
social, do estilo de vida, do controle social e do autocontrole, por exemplo, tem raízes no 
17 
 
processo de aculturação da criança desde a fase infantil até a pré-adolescência, entre dois e 
treze anos de idade, passando pela supervisão e interação com a família, os amigos e a escola, 
e terminando com outras fontes de tensão que envolve as instituições e as formas de 
organização social. 
 Como forma de simplificar o fenômeno da criminalidade e permitir a identificação e 
quantificação de suas variáveis determinísticas, o terceiro capítulo apresenta uma análise 
completa sobre a teoria econômica do crime, desenvolvida por Becker (1968) e 
complementada por Ehrlich (1973), Block e Heineke
4
 (1975 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 
2004), Eide
5
 (1994 apud BRENNER, 2001), Levitt (1996) Freeman (1994) e Glaeser et al 
(1995). Essa teoria estuda o crime segundo uma abordagem econômica, conhecida como teoria 
da escolha racional, e analisa a atividade criminosa como uma atividade econômica ilegal, e 
não, como uma atividade oriunda de patologias e/ou desvios sociais; introduzindo uma visão 
da escolha individual, quanto este, o indivíduo, compara as expectativas de lucro e de risco no 
mercado de trabalho legal e no crime. Além disso, esta teoria evidencia que alguns fatores 
como: aumento do custo de se cometer um crime e da probabilidade de punição afetam 
negativamente os indicadores de criminalidade, revelando também que se a atividade ilícita 
for mais rentável que a legal, a decisão racional do indivíduo seria a de se voltar para a 
atividade criminosa. 
 Segundos os autores supracitados e a teoria econômica do crime, podemos interpretar o 
comportamento criminoso e desenvolver políticas adequadas para controle e redução da 
criminalidade a partir de variáveis como: renda per capita, graus de desigualdade, taxa de 
desemprego e acesso a serviços como: moradia, saúde, alimentação, educação e cultura pelos 
indivíduos; e também a partir de variáveis dissuasórias que levariam o indivíduo a se abster de 
cometer crimes, dada as probabilidades de aprisionamento e a severidade das punições, 
diretamente relacionadas ao efetivo e eficiência policial, da justiça criminal e às leis. 
 Munido do entendimento sobre as teorias do crime, o quarto capítulo investigaa 
criminalidade e suas causas no Brasil, segundo o conceito econômico e os trabalhos empíricos 
 
4
 BLOCK, M. K. e HEINECKE, J. M. A labor theoretic analysis of the criminal choice. American Economic 
Review, v.65, p.314-325, 1975. 
5
 EIDE, E. Models of crime. University of Oslo. n.C1, Noruega, 1994. 
18 
 
de Pezzin
6
 (1986 apud CERQUEIRA e LOBÃO, 2004), Andrade e Lisboa (2000), Pereira e 
Fernandez (2000), Araújo Jr. e Fajnzylber (2001), Shikida (2002), Cerqueira e Lobão (2003a), 
Lobo e Fernandez (2003) e Almeida (2007), concluindo que fatores como: desigualdade de 
renda, educacional e/ou de acesso, urbanização e falta de políticas voltadas para os jovens, 
estão diretamente relacionadas com o nível de criminalidade. 
 O baixo investimento em educação mantém a grande parte da população marginalizada 
e em condições precárias, sem as condições necessárias para aproveitar o crescimento 
econômico e incapaz de buscar a igualdade socioeconômica pelas próprias vias do trabalho, 
sem a necessidade de ajudas assistencialistas. É fato que há mais investimentos no sistema 
prisional e na segurança pública do que na educação e, possivelmente, pela teoria econômica 
do crime, se houvesse mais recursos para melhorar o ensino, parte da população carcerária não 
estaria na cadeia, pois os custos de oportunidade seriam maiores que a rentabilidade e riscos 
de agir ilegalmente e o agente racional não optaria pelo crime como forma aquisição de renda. 
É conclusivo que os jovens de classe social mais baixa, com menor acesso à educação e 
vítimas da desigualdade de renda são mais propícios a serem introduzidos no mundo do crime, 
principalmente em atividades ilegais com maior rentabilidade como: tráfico de drogas, roubos 
e furtos, reafirmando a teoria de cunho econômico sobre a criminalidade. 
 Apesar das estimativas dos trabalhos empíricos sobre a criminalidade brasileira se 
mostrarem significativos, ratificando a teoria econômica do crime, os resultados devem ser 
interpretados com cautela devido à curta e pouco confiável série de dados sobre a 
criminalidade, medida, pela grande maioria dos trabalhos, pela variável dependente proxy 
homicídios. Entretanto, mesmo com base nos limitados dados disponíveis, os trabalhos já 
realizados atestam a viabilidade e a importância das contribuições econômicas ao assunto e 
não há motivos para se rejeitar a hipótese de que problemas socioeconômicos afetam 
significativamente o nível de crimes, sendo a desigualdade, nas suas várias modalidades, o 
principal fator a ser combatido pelas políticas governamentais, agindo indiretamente sobre a 
criminalidade, diferentemente das políticas governamentais estão sendo implementadas 
atualmente. 
 
6
 PEZZIN, L. Criminalidade urbana e crise econômica. São Paulo: IPE/USP, 1986. 
19 
 
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