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41 CAPÍTULO 3 CORROSÃO ELETROQUÍMICA A corrosão eletroquímica ocorre na interface metal/meio eletrolítico através de uma reação total de oxi-redução irreversível na qual estão envolvidas as reações parciais irreversíveis de oxi-redução do metal e do oxidante. As reações parciais irreversíveis de oxi-redução são conjugadas e seus deslocamentos dos estados de equilíbrio são rigorosamente equivalentes, mas apostos. A reação parcial irreversível de oxi- redução do metal está deslocada no sentido de oxidação, e a reação parcial irreversível de oxi-redução do oxidante está deslocada no sentido de redução. Visto que os processos eletroquímicos irreversíveis envolvidos na corrosão eletroquímica são complexos, tem razão abordar primeiramente os processos eletroquímicos reversíveis para entender melhor os fenômenos da corrosão eletroquímica. 1 Processos eletroquímicos reversíveis Os processos eletroquímicos reversíveis, que estão num estado de equilíbrio, podem ser caracterizados pelo potencial reversível, pela corrente de troca, pelo potencial padrão, pela série eletroquímica e pela equação de Nernst. 1.1 Potencial reversível e corrente de troca Para introduzir o conceito sobre o potencial reversível e a corrente de troca, admitimos que um metal (Me), sem qualquer heterogeneidade física, química e estrutural, é imerso em uma solução aquosa de um de seus sais (MeCl ou MeSO4), isenta de qualquer espécie oxidante (Fig.1). Figura 1. Representação esquemática da reação de oxi-redução de um metal. Me=Men++ne υox = υre iox = ire Ee io = iox = |ire| ∆Geq=∆G+nFEe=0 Ee = −∆G/nF [Men+] Me E Aquo-íon Men+m(H2O) Me Me→Men++ne Reação de oxidação υox iox Me Solução Me←Men+ + ne Reação de redução υre ire + - + + + - - - + + - - + + - - DCE Perfil de concentração de cátions metálicos e tensão de campo elétrico na dupla camada elétrica Dupla camada elétrica (DCE) 42 No início de imersão, os cátions metálicos vão passar para a solução na forma de aquo-íons Men+m(H2O) deixando o metal com cargas elétricas negativas, isto é, na interface metal/solução começa a se processar a reação parcial de oxidação do metal com a velocidade υox e densidade de corrente iox: Me→Men++ne υox iox A passagem de cátions metálicos para a solução faz com que a solução adquire um excesso de cargas elétricas positivas, isto é, na interface metal/solução se forma uma dupla camada elétrica que gera um campo elétrico. O campo elétrico gerado, de um lado, vai limitar a passagem de cátions metálicos para a solução, por outro lado, vai promover a deposição de cátions metálicos dissolvidos sobre o metal, isto é, na interface metal/solução começa a se processar a reação parcial de redução do metal com a velocidade υre e densidade de corrente ire: Me←Men++ne υre ire A partir de um determinado instante (segundos), as reações parciais de oxidação e redução do metal se igualam em velocidade e, portanto, em densidade de corrente, isto é, a reação de oxi-redução do metal atinge um estado de equilíbrio: Me=Men++ne υox = υre iox = ire No estado de equilíbrio, a dupla camada elétrica, bem como o gradiente do campo elétrico, já não muda com o tempo e o metal adquire com relação à solução um potencial elétrico estacionário, chamado de potencial de equilíbrio ou potencial reversível: Ee No estado de equilíbrio, o metal não sofre corrosão, pois a densidade de corrente conduzida pela reação parcial de oxidação do metal é rigorosamente igual à densidade de corrente conduzida pela reação parcial de redução do metal. A densidade de corrente de reação parcial seja de oxidação ou de redução do metal é chamada de densidade de corrente de troca (io): io = iox = |ire| O potencial reversível não pode ser medido diretamente em valor absoluto, pois essa medida implica a utilização de um outro eletrodo que irá dar a origem a um outro potencial. Entretanto, é possível calcular o potencial reversível (Ee) a partir de variação de energia livre química (∆G), levando em conta que no estado de equilíbrio a variação de energia livre eletroquímica é nula (Tab.1): ∆Geq = ∆G + nFEe=0 nF G Ee ∆−= A densidade de corrente de troca também não pode ser medida diretamente em valor absoluto. Entretanto, é possível estimar a densidade de corrente de troca através do método de autodifusão de isótopos radiativos (Tab.1). O potencial reversível e a corrente de troca dependem do metal, da composição da solução, da temperatura e da pressão. Tabela 1. Potencial reversível e densidade de corrente de troca para alguns metais. Reação de eletrodo Solução (T=25oC; P=1atm) Ee (V) io (A/cm 2) Ni2++2e=Ni 1M NiSO4 - H2O -0,250 2,0x10 -9 Fe2++2e=Fe 1M FeSO4 - H2O -0,440 1,0x10 -8 Zn2++2e=Zn 1M ZnSO4 - H2O -0,763 2,5x10 -5 Cu2++2e=Cu 1M CuSO4 - H2O +0,337 2,3x10 -5 43 1.2 Potencial padrão O potencial padrão (Ee o) de um metal, também chamado de potencial de eletrodo padrão, pode ser definido como o potencial reversível que o metal apresenta, sob as condições padrões, em relação ao eletrodo de referência de hidrogênio, cujo potencial é atribuído nulo. As condições padrões são: temperatura de 25oC, pressão de 1atm e soluções de concentração de 1M de cátions metálicos e cátions de hidrogênio em suas meias células, o que corresponde à atividade unitária destas espécies iônicas (Fig.2). Para medir o potencial padrão constrói-se uma célula eletroquímica, constituída de duas meias células (Fig.2): de um lado, eletrodo do metal a estudar e, de outro lado, eletrodo de referência de hidrogênio. A medida deve ser feita com o circuito aberto, utilizando um milivoltímetro eletrônico de altíssima impedância de entrada (1012Ω) para evitar a passagem de corrente elétrica na célula. Os potenciais reversíveis podem ser medidos também com o auxílio de outros eletrodos de referência, mais simples (Fig.3), porém, neste caso, os valores obtidos devem ser convertidos para os potenciais padrão correspondentes à escala de hidrogênio (Tab.2). Figura 2. Medida de potencial padrão de um metal com eletrodo de referência de hidrogênio. Figura 3. Eletrodos de referência de calomelano (a) e de cobre-sulfato de cobre (b). Tabela 2. Potenciais reversíveis de alguns eletrodos de referência com relação ao eletrodo de hidrogênio. Eletrodo de referência Meia pilha | Solução Reação de eletrodo Eeo, V de hidrogênio Pt, H2 | H+(1,0M) 2H++2e=H2 0 de calomelano Hg, Hg2Cl2 | KCl (0,1M) Hg22++2e=2Hg +0,3337 de calomelano Hg, Hg2Cl2 | KCl (1,0M) Hg22++2e=2Hg +0,2800 de calomelano saturado Hg, Hg2Cl2 | KCl (saturada) Hg22++2e=2Hg +0,2415 de prata-cloreto de prata Ag, Ag2Cl | KCl (0,1M) Ag++e=Ag +0,2881 de prata-cloreto de prata Ag, Ag2Cl | KCl (1,0M) Ag++e=Ag +0,2224 de cobre-sulfato de cobre Cu | CuSO4, Cu2+ (saturada) Cu2++2e=Cu +0,3180 C(Men+)=1M Me=Men++ne H2 1atm Me C(H+)=1M 2H++2e=H2 25oC 1atm Pt Cu CuSO4 saturado CuSO4 cristais Material poroso Material poroso KCl Hg2Cl2 Hg Material poroso a) b) 44 1.3 Série eletroquímica A série eletroquímica representa os potenciais padrão (Ee o) de diferentes espécies químicas medidos com relação ao eletrodo de referência de hidrogênio ou calculados a partir dos dados termodinâmicos (Tab.3): n G E o o e 5,96 ∆−= onde: Ee o (V); ∆Go (kJ/mol); F=96,5 (kJ/mol); n - numero de elétrons envolvidos na reação de eletrodo. Tabela 3. Potenciais padrão das reações de eletrodo para algumas espécies químicas. Reação de eletrodo Ee o (V) Reação de eletrodo Ee o (V) Reação de eletrodo Ee o (V) Li++e=Li -3,045 Cr3++3e=Cr -0,740 Cu2++e=Cu+ +0,153 Rb++e=Rb -2,980 Ga3++3e=Ga -0,530 Cu2++2e=Cu +0,337 Ba2++2e=Ba -2,905 Fe2++2e=Fe -0,440 O2+2H2O+4e=4OH − +0,401K++e=K -2,925 Cr3++e=Cr2+ -0,410 Cu++e=Cu +0,521 Ca2++2e=Ca -2,870 Cd2++2e=Cd -0,403 Fe3++e=Fe2+ +0,771 Na++e=Na -2,714 Ti3++e=Ti2+ -0,370 Hg2 2++2e=2Hg +0,789 La3++3e=La -2,520 In3++3e=In -0,342 Ag++e=Ag +0,799 Ce3++3e=Ce -2,480 Tl++e=Tl -0,336 Rh3++3e=Rh +0,800 Mg2++2e=Mg -2,370 Co2++2e=Co -0,277 Pd2++2e=Pd +0,987 Be2++2e=Be -1,850 V3++e=V2+ -0,255 Pt2++2e=Pt +1,188 U3++3e=U -1,800 Ni2++2e=Ni -0,250 O2+4H ++4e=2H2O +1,229 Al 3++3e=Al -1,660 Mo3++3e=Mo -0,200 Cl2+2e=2Cl − +1,360 Ti2++2e=Ti -1,630 Sn2++2e=Sn -0,136 Au3++3e=Au +1,500 Zr4++4e=Zr -1,530 Pb2++2e=Pb -0,126 Au++e=Au +1,700 Mn2++2e=Mn -1,180 2H++2e=H2 0,000 Co 3++e=Co2+ +1,820 Nb3++3e=Nb -1,100 S+2H++2e=H2S +0,141 Ag 2++e=Ag+ +1,980 Zn2++2e=Zn -0,763 Sn4++2e=Sn2+ +0,150 OH+H++e=H2O +2,800 A série eletroquímica foi elaborada com base nos seguintes princípios adotados pela IUPAC (International Union of Pure and Aplied Chemistry): − A reação de eletrodo é escrita no sentido de redução (espécie oxidada + ne = espécie reduzida) 2H++2e=H2 Zn 2++2e=Zn − O potencial padrão (Eeº) refere-se à reação de redução (espécie oxidada/espécie reduzida) Eeº(H +/H2) Eeº(Zn 2+/Zn) − O potencial padrão será positivo (Eeº>0) se, na célula eletroquímica fechada, os elétrons forem transferidos do eletrodo de hidrogênio para o eletrodo metálico − Se o potencial padrão for positivo, o eletrodo de hidrogênio vai funcionar como anodo e o hidrogênio vai se oxidar, e o eletrodo metálico vai funcionar como catodo e o metal vai se reduzir ne Pt,H2|H+||Men+|Me ne anodo Pt,H2|H+||Men+|Me catodo 2H++2e←H2 Cu2++2e→Cu 45 − Se o potencial padrão for positivo, a reação de eletrodo (de redução do metal) será espontânea, mas não a reação de oxidação do metal inversa à reação de eletrodo de redução do metal ∆Go(Cu2++2e→Cu)= −96,5x2x0,337= −65,04kJ/mol ∆Go(Cu2++2e←Cu)= −96,5x2x(−0,337)= +65,04kJ/mol − O potencial padrão será negativo (Eeº<0) se, na célula eletroquímica fechada, os elétrons forem transferidos do eletrodo metálico para o eletrodo de hidrogênio − Se o potencial padrão for negativo, o eletrodo de hidrogênio vai funcionar como catodo e o hidrogênio vai se reduzir, e o eletrodo metálico vai funcionar como anodo e o metal vai se oxidar − Se o potencial padrão for negativo, a reação de eletrodo não será espontânea, mas sim a reação de oxidação do metal inversa à reação de eletrodo de redução do metal ∆Go(Fe2++2e→Fe)= −96,5x2x(−0,44)= +84,9kJ/mol ∆Go(Fe2++2e←Fe)= −96,5x2x(+0,44)= −84,9kJ/mol A séria eletroquímica é a termodinâmica e não pode ser aplicada diretamente aos casos práticos, contudo é muito usada para prever o comportamento eletroquímico de metais especificamente em seus pares galvânicos expostos a vários meios corrosivos, por exemplo: − O metal eletronegativo será anódico e corroído e outro eletropositivo será catódico e não corroído Eeº(Zn 2+/Zn) = −0,763 Zn anódico || Pd catódico Eeº(Pd2+/Pd) = +0,987 Eeº(Fe 2+/Fe) = −0,440 Fe anódico || Cu catódico Eeº(Cu2+/Cu) = +0,337 Eeº(Ni 2+/Ni) = −0,250 Ni anódico || Ag catódico Eeº(Ag+/Ag) = +0,799 − O metal mais eletronegativo será anódico e corroído e outro menos eletronegativo será catódico e não corroído Eeº(Zn 2+/Zn) = −0,763 Zn anódico || Fe catódico Eeº(Fe2+/Fe) = −0,440 Eeº(Fe 2+/Fe) = −0,440 Fe anódico || Ni catódico Eeº(Ni2+/Ni) = −0,250 Eeº(Ni 2+/Ni) = −0,250 Ni anódico || Pb catódico Eeº(Pb2+/Pb) = −0,126 − O potencial padrão galvânico resultante (Eerº) de um par de metais dissimilares é a diferença entre o potencial padrão do metal catódico (Eecº) e o potencial padrão do metal anódico (Eeaº) Eerº=Eecº − Eeaº Eerº(Fe/Zn) = Eeº(Fe 2+/Fe) − Eeº(Zn2+/Zn) = −0,440 − (−0,763) = 0,323 Eerº(Ni/Fe) = Eeº(Ni 2+/Ni) − Eeº(Fe2+/Fe) = −0,250 − (−0,440) = 0,190 Eerº(Pb/Ni) = Eeº(Pb 2+/Pb) − Eeº(Ni2+/Ni) = −0,126 − (−0,250) = 0,124 ne Pt,H2|H+||Men+|Me ne catodo Pt,H2|H+||Men+|Me anodo 2H++2e→H2 Fe2++2e←Fe 46 1.4 Equação de Nernst A equação de Nernst verifica, para as condições não padrões, a dependência entre o potencial reversível (Ee) de um metal e a temperatura e a concentração de cátions metálicos do mesmo metal na solução: )(ln ++= noee MeCnF RT EE (1) Ee o - potencial padrão (V); R=0,008314 - constante dos gases (kJ/molxK); T - temperatura absoluta (K); F=96,5 - constante de Faraday (kJ/mol); n - número de elétrons envolvidos na reação de eletrodo C(Men+)<1M - concentração de cátions metálicos na solução; Passando para o logaritmo decimal (ln = 2,303 log) e agrupando constantes, obtemos: )(log 000198,0 ++= noee MeCn T EE (2) Para a temperatura padrão de 298K (25oC), o potencial reversível pode ser calculado por: )(log 059,0 )25( ++= noe o e MeCn ECE (3) A Tab.4 lista os potenciais de alguns metais em soluções com a concentração de seus íons de 0,1M calculados por meio da equação (2) a diferentes temperaturas. Os resultados apresentados mostram que em maiores temperaturas os metais apresentam menores potenciais, ou seja, tornam-se mais eletronegativos e mais anódicos. Tabela 4. Potenciais reversíveis de Zn, Fe, Ni e Cu (Ee, V) em soluções com concentração de seus íons de 0,1M, a diferentes temperaturas. Reação de eletrodo T=10oC (283K) T=25oC (298K) T=45oC (318K) T=75oC (348K) Zn2++2e=Zn − 0,791 − 0,792 − 0,794 − 0,797 Fe2++2e=Fe − 0,468 − 0,469 − 0,471 − 0,474 Ni2++2e=Ni − 0,278 − 0,279 − 0,281 − 0,284 Cu2++2e=Cu + 0,309 + 0,307 + 0,305 + 0,302 A Tab.5 lista os potenciais dos mesmos metais em soluções com diferentes concentrações de seus íons calculados por meio da equação (3) à temperatura padrão de 25oC. Os resultados apresentados mostram que em soluções mais diluídas os metais apresentam menores potenciais, ou seja, tornam-se mais eletronegativos e mais anódicos. Tabela 5. Potenciais reversíveis de Zn, Fe, Ni e Cu (Ee, V) em soluções com diferentes concentrações de seus íons, à temperatura padrão (T=25oC=298K). Reação de eletrodo C(Me2+)=1M C(Me2+)=0,1M C(Me2+)=0,01M C(Me2+)=0,001M Zn2++2e=Zn − 0,763 − 0,792 − 0,822 − 0,852 Fe2++2e=Fe − 0,440 − 0,469 − 0,499 − 0,529 Ni2++2e=Ni − 0,250 − 0,279 − 0,309 − 0,339 Cu2++2e=Cu + 0,337 + 0,307 + 0,278 + 0,248 47 A equação de Nernst é aplicável também às reações catódicas de redução do hidrogênio catiônico e oxigênio molecular em função do pH do meio. Estas espécies oxidantes são mais comumente presentes nos meios eletrolíticos e quando reduzem-se sobre a superfície metálica conduzem a dissolução eletroquímica contínua de metais em regiões anódicas. 1) A reação de redução do hidrogênio catiônico em meios ácidos é dada por (Tab.3): 2H++2e=H2 Nesta reação, são envolvidos dois elétrons (n=2). O potencial padrão desta reação é nulo (Ee o=0). A concentração de hidrogênio no meio pode ser expressa através do pH do meio: logC(H+) = −pH Substituindo estes valores na equação de Nernst (3) obtemos: pHHC x HCEe 059,0)(log2 2059,0 )(log 2 059,0 2 −=== ++ Assim, no meio com o pH nulo, o potencial reversível desta reação é também nulo (Ee=Ee o=0) e, nos meios de menor acidez, o potencial reversível desloca-se para os valores mais eletronegativos. 2) A reação de redução do oxigênio molecular em meios ácidos aerados é dada por (Tab.3): O2+4H ++4e=2H2O Nesta reação, são envolvidos quatro elétrons (n=4). O potencial padrão desta reação é Ee o=1,229V. A concentração de hidrogênio no meio pode ser expressa através do pH do meio: logC(H+) = −pH Substituindo estes valores na equação de Nernst (3) obtemos: pHHC x HCEe 059,0229,1)(log4 4059,0 229,1)(log 4 059,0 229,1 4 −=+=+= ++ Assim, no meio com o pH nulo, o potencial reversível desta reação é positivo (Ee=1,229V) e, nos meios de menor acidez, o potencial reversíveldesloca-se para os valores menos eletropositivos. 2 Processos eletroquímicos irreversíveis 2.1 Potencial irreversível e corrente de corrosão Para introduzir o conceito sobre o potencial irreversível e a corrente de corrosão, admitimos que um metal (Me), sem qualquer heterogeneidade física, química e estrutural, é imerso em uma solução aquosa eletrolítica na qual está presente uma espécie oxidante catiônica Xn+ (Fig.4). Neste caso, sobre a superfície metálica vão se processar simultaneamente duas reações conjugadas irreversíveis de oxi-redução do oxidante e do metal que não estão num estado de equilíbrio: Xn++ne↔X Me↔Men++ne Devido a uma grande tendência termodinâmica do oxidante a se reduzir, sua reação de oxi- redução será deslocada no sentido de redução. Isto significa que a densidade de corrente da reação parcial de redução do oxidante é maior que a densidade de corrente da reação parcial de oxidação do oxidante: (redução do oxidante) Xn++ne→X ireX > ioxX Xn++ne←X (oxidação do oxidante) 48 As reações de oxi-redução do oxidante e do metal são conjugadas, por isso, o deslocamento da reação de oxi-redução do oxidante conduz o deslocamento equivalente da reação de oxi-redução do metal, mas no sentido de oxidação. Isto significa que a densidade de corrente da reação parcial de redução do metal é menor que a densidade de corrente da reação parcial de oxidação do metal: (redução do metal) Me←Men++ne ireM < ioxM Me→Men++ne (oxidação do metal) As quantidades de cargas elétricas transferidas através destas reações parciais de redução (da solução para o metal) e de oxidação (do metal para a solução) devem ser rigorosamente equivalentes. Isto significa que a soma das correntes de redução do oxidante e do metal deve ser rigorosamente igual à soma das correntes de oxidação do oxidante e do metal: (redução do oxidante e do metal) ireX + ireM = ioxX + ioxM (oxidação do oxidante e do metal) Figura 4. Reações parciais de oxi-redução do oxidante e do metal. Admitimos que as correntes de oxidação do oxidante e de redução do metal são nulas: (oxidação do oxidante) ioxX=0 ireM=0 (redução do metal) Neste caso, as correntes de redução do oxidante e de oxidação do metal, isto é, as correntes catódica (ic) e anódica (ia) são rigorosamente iguais (Fig.5): (redução do oxidante) ireX = ioxM (oxidação do metal) ic = ia A densidade de corrente da reação parcial seja catódica (negativa por convenção) ou anódica (positiva por convenção) é chamada de densidade de corrente de corrosão ou simplesmente corrente de corrosão (i): i = |ic| = ia Assim, a corrente de corrosão, na forma da corrente catódica e da corrente anódica, atravessa a interface metal/solução na direção aposta à transferência de elétrons no metal da região anódica para a região catódica. Figura 5. Reações parciais da reação total de oxi-redução do metal. Me Xn++ne←X ioxX Me→Men++ne ioxM Me←Men++ne Xn++ne→X ireX ireM ireX > ioxX ireM < ioxM ireX + ireM = ioxX + ioxM R ed u çã o O xi d aç ão Xn++ne↔X Me↔Men++ne Me→Men++ne ioxM Xn++ne→X ireX Me R ed u çã o O xi d aç ão A n o d o C at o d o ioxX = 0 ireM = 0 ireX = ioxM ic = ia i = |ic| = ia Ee→Ene Me+Xn+→Men++X ne 49 A corrente de corrosão que atravessa as interfaces catódica e anódica faz com que o metal adquire com relação à solução um novo potencial que difere do potencial reversível (Ee). Este novo potencial é chamado de potencial irreversível, de não equilíbrio ou de corrosão (Ene). O potencial irreversível depende do metal, da solução e da temperatura (Tab.6,7). Tabela 6. Potenciais irreversíveis de alguns metais em solução aquosa de 3% de NaCl, à 25oC. Metal Ene (V) Ee o (V) Metal Ene (V) Ee o (V) Metal Ene (V) Ee o (V) Mg -1,39 -2,36 Cr -0,36 -0,74 Cu +0,06 +0,34 Al -1,36 -1,66 Pb -0,23 -0,13 Ag +0,19 +0,80 Zn -0,82 -0,76 Sn -0,20 -0,14 Au +0,46 +1,70 Fe -0,41 -0,44 Ni -0,03 -0,26 Pt +0,54 +1,19 Tabela 7. Potenciais irreversíveis de ferro em diferentes soluções aquosas, à 25oC. Solução 3% NaCl 0,1M H2SO4 0,1M KCl 0,1M KMnO4 Ene (V) -0,41 -0,21 -0,14 +1,16 Desta maneira, quando o metal adquire um potencial irreversível e uma corrente atravessa a interface metal/solução, a superfície metálica muda com o tempo, isto é, na região anódica o metal sofre a dissolução contínua na solução, entretanto, a região catódica é intacta da corrosão, pois, nesta região, o oxidante reduz-se e volta para a solução na forma reduzida estável. A relação entre a corrente de corrosão (i) e o potencial irreversível (Ene) verifica-se por meio da equação de Butler-Volmer : −−− − − = TR EEFn i TR EEFn ii eneo ene o )()1( exp )( exp αα Ee - potencial reversível; F - constante de Faraday; n - número de elétrons envolvidos na reação; T - temperatura absoluta; R - constante dos gases; α - coeficiente de transferência de cargas (0<α<1). De acordo com esta equação, quanto mais deslocado o potencial irreversível do potencial reversível, ou seja, mais afastada a reação total de oxi-redução do metal do seu estado de equilíbrio, tanto maior a corrente de corrosão. 2.2 Mecanismo de corrosão eletroquímica O mecanismo de corrosão eletroquímica de metais expostos a soluções eletrolíticas pode ser decomposto nos seguintes processos (Fig.6): 1) Reação anódica de oxidação do metal. O metal deixa seus elétrons de valência e passa para a solução na forma catiônica. Esta reação transfere as cargas elétricas do metal para a solução, gerando uma corrente anódica. Me→Men++ne ia>0 2) Transferência de elétrons livres no metal da região anódica para a região catódica que constitui componente eletrônica (ie) de corrente de corrosão. 3) Reação catódica de redução do oxidante. O oxidante assimila os elétrons cedidos pelo metal na região anódica e passa para a solução na forma reduzida. Esta reação transfere as cargas elétricas da solução para o metal, gerando uma corrente catódica. Xn++ne→X ic<0 50 4) Migração dirigida de ânions e cátions presentes na solução para as regiões anódica e catódica que constitui componente iônica (ii) de corrente de corrosão. 5) Reação total irreversível de oxi-redução do metal deslocada do seu estado de equilíbrio no sentido de oxidação do metal e redução do oxidante: Me+Xn+→Men++X 6) Passagem, entre as regiões anódica e catódica na direção aposta à transferência de elétrons no metal, de uma corrente de corrosão que muda o potencial reversível do metal para o potencial irreversível. i Ee→Ene Figura 6. Representação esquemática do mecanismo de corrosão eletroquímica. 2.3 Reações anódicas e catódicas As reações anódica e catódica são conjugadas, isto é, uma delas não pode ocorrer independentemente da outra, apesar de que se processam em regiões distintas da superfície metálica. A nomenclatura das reações anódicas e catódicas é bastante ampla e varia de um meio corrosivo a outro meio corrosivo. No caso mais simples, quando o meio contém o hidrogênio catiônico (H+), oxigênio molecular (O2), hidroxilas (OH −) e certos ânions (A−) e cátions (C+) das substâncias nele dissolvidas, se pode citar, como as principais, as seguintes reações anódicas e catódicas. Reações anódicas que levam à formação dos produtos solúveis no meio: 1) cátions metálicos hidratados (aquo-íons) Me+mH2O→Men+mH2O+ne 2) oxi-ânions metálicos, na interação do metal com água Me+nH2O→(MeOn)n−+2nH++ne 3) oxi-ânions metálicos, na interação do metal com hidroxilas Me+nOH−→(MeOn)n−+nH++ne 4) ânions metálicos, na interação do metal com água Me+mH2O→(MeOHm)(n−m)−+ne 5) ânions metálicos, na interação do metal com ânions Me+mA−→(MeAm)(n−m)−+ne que levamà formação dos produtos insolúveis no meio: 6) hidróxidos, na interação do metal com água Me+nH2O→Me(OH)n+nH++ne 7) hidróxidos, na interação do metal com hidroxilas Me+nOH−→Me(OH)n+ne 8) oxi-hidróxidos, na interação do metal com hidroxilas Me+nOH−→MeOOH+H++ne 9) óxidos, na interação do metal com água (oxidação anódica) Me+nH2O→MeOn+2nH++2ne 10) sais metálicos, na interação do metal com ânions Me+nA−→MeAn+ne Solução eletrolítica oxidante Metal (Ee→Ene) i i Xn++ne→X ic<0 Região catódica Me→Men++ne ia>0 Região anódica ie ⊕ i i Me+Xn+→Men++X 51 Reações catódicas de redução de hidrogênio: 1) em meios ácidos não aerados 2H++2e→H2 2) em meios neutros e alcalinos não aerados H2O+e→1/2H2+OH− de redução de oxigênio: 3) em meios ácidos aerados O2+4H ++4e→2H2O 4) em meios neutros e alcalinos aerados O2+2H2O+4e→4OH− Em meios corrosivos específicos, em função do pH, as seguintes espécies iônicas e moleculares podem ser catodicamente reduzidas: 1) Cu2+mH2O+e→Cu++mH2O pH<7 7) 2HSO3−+2H++2e→S2O42−+2H2O pH<7 2) Fe3+mH2O+e→Fe2++mH2O pH<7 8) ClO3−+H2O+2e→ClO2−+2OH− pH>7 3) Ag+mH2O+e→Ag+mH2O pH<7 9) H2O2+2e→2OH− pH=7 4) Cr2O7 2−+14H++6e→2Cr3++7H2O pH<7 10) O3+2H2O+2e→O2+2OH− pH>7 5) S2O8 2−+2e→S2O84−→2SO42− pH=7 11) Cl2+2e→2Cl− pH=7 6) NO3 −+3H++2e→HNO2+H2O pH<7 12) I2+2e→2I− pH=7 3 Polarização De uma maneira geral, o fenômeno de polarização eletroquímica de um metal imerso em um meio corrosivo pode ser definido como o deslocamento do potencial deste metal que antes era reversível (Ee) para um novo potencial que é o potencial irreversível (Ene). 3.1 Sobretensão A sobretensão é a medida quantitativa de polarização de metais que representa a diferença entre o potencial irreversível e o potencial reversível (Fig.7): η=Ene-Ee A sobretensão, bem como a polarização, pode ser anódica e catódica: − a sobretensão será anódica se a diferença entre o potencial irreversível anódico e o potencial reversível for positiva ηa=(Enea-Ee)>0 − a sobretensão será catódica se a diferença entre o potencial irreversível catódico e o potencial reversível for negativa: ηc=(Enec-Ee)<0 Figura 7. Sobretensões anódica e catódica de um metal. −E Enec Ee Enea +E Polarização catódica Polarização anódica ηc=(Enec-Ee)<0 ηa=(Enea-Ee)>0 52 3.2 Diagramas de polarização Os diagramas de polarização mostram, de maneira gráfica, a variação de potencial irreversível (Ene) ou de sobretensão (η) de metais em função de densidade de corrente de corrosão (i). 3.2.1 Diagramas de Butler-Volmer Os diagramas de polarização de Butler-Volmer são as soluções gráficas da equação de Butler- Volmer: −−− − − = TR EEFn i TR EEFn ii eneo ene o )()1( exp )( exp αα −−− = TR Fn i TR Fn ii oo ηαηα )1( expexp Os diagramas de polarização de Butler-Volmer podem ser construídos em diferentes escalas de densidade de corrente (Fig.8): a) linear – corrente assume os valores relativos (ia>0 ic<0); b) linear – corrente assume os valores absolutos (i=ia=|ic|); c) logarítmica – corrente assume os valores absolutos (i=ia=|ic|). Independentemente da maneira de apresentação das curvas de polarização anódica e catódica, os diagramas de Butler-Volmer fazem evidente que: − quando a sobretensão é nula (η=0), o metal não sofre a corrosão (i=0) − quando a sobretensão é anódica (ηa>0), o potencial irreversível desloca-se, em relação ao potencial reversível, para os valores menos eletronegativos ou mais eletropositivos − quando a sobretensão é catódica (ηc<0), o potencial irreversível desloca-se, em relação ao potencial reversível, para os valores mais eletronegativos ou menos eletropositivos − em maiores valores absolutos de sobretensão anódica e catódica, a corrente de corrosão é maior. Figura 8. Diagramas de Butler-Volmer em diferentes escalas de densidade de corrente. ηc<0 i 0 Enec Enea −E +E Ee η=0 ηa>0 −E Ee +E ηc<0 ic<0 ia>0 0 ηa>0 η=0 Enec Enea a) b) ηc<0 logio logi −0,03V Enec ηa>0 +0,03V −E Ee +E η=0 Enea c) 53 3.2.2 Diagramas de Tafel Os diagramas de polarização de Tafel são as soluções gráficas particulares da equação de Butler- Volmer validas para sobretensões (η) superiores, em valor absoluto, a 0,03V. Os diagramas de polarização de Tafel podem ser construídos em escala (Fig.9): a) linear – corrente assume os valores absolutos (i=ia=|ic|) b) logarítmica – corrente assume os valores absolutos (i=ia=|ic|). Nos diagramas construídos em escala logarítmica, as variações de sobretensão anódica e catódica com a corrente seguem às funções lineares, chamadas de equações (leis) de Tafel anódica e catódica: ηa = aa + ba logi ηc = ac − bc logi onde: aa=−(2,303RTlogio)/αnF, ba=2,303RT/αnF, ac=(2,303RTlogio)/(1-α)nF, bc=(2,303RT)/(1-α)nF são as constantes de Tafel anódicas e catódicas. Figura 9. Diagramas de Tafel em escala linear e logarítmica de densidade de corrente. 3.3 Polarização anódica Para a maioria dos meios eletrolíticos, a polarização anódica de metais, isto é, a variação de sobretensão anódica em função da densidade de corrente obedece à lei de Tafel anódica (Fig.10a): ηa = aa + ba logia A causa principal de polarização anódica é uma corrente anódica gerada pela reação anódica de oxidação do metal que transfere as cargas elétricas positivas do metal para o meio. O potencial anódico irreversível do metal polarizado desloca-se para os valores menos eletronegativos, ou seja, aumenta, sendo que, quanto maior corrente tanto maior a sobretensão anódica (Fig.10b). Figura 10. Diagramas de polarização anódica conduzida pela reação de oxidação do metal. +E ia −E Enea(Me1) Enea(Me2) Ee(Me1) Ee(Me2) ηa(Me1) ηa(Me2) b) +η logia 0 ηa(Me1) ηa(Me2) a) 0 −η logi ηc<0 −0,03 0 +0,03 +η ηa>0 θa tgθa=ba θc tgθc=bc −E i ηc<0 −0,03 Ee +0,03 +E ηa>0 0 Enea Enec 54 A causa particular de polarização anódica e de um aumento do potencial anódico irreversível consiste em transferência de cargas elétricas positivas do metal para o meio com a velocidade que é menor que a velocidade com que os elétrons transferem-se no metal da região anódica para a região catódica. Como já foi dito, a transferência destas cargas elétricas positivas ocorre através da reação anódica de oxidação do metal: Me+mH2O→Men+mH2O+ne Esta reação anódica procede em etapas através dos dois seguintes processos parciais: a) oxidação do metal para os cátions que permanecem na superfície metálica no estado adsorvido Me→Men+ads+ne b) desorção de cátions metálicos da superfície metálica que passam para o meio na forma de aquo-íons Men+ads+mH2O→Men+mH2Odis O processo parcial mais lento é a desorção de cátions metálicos (b), o que leva a um acumulo de cargas positivas na interface anódica e a um aumento do potencial anódico irreversível. A polarização anódica conduzida pela desorção lenta de cátions metálicos da superfície metálica é chamada de polarização anódica por ativação de metal. 3.4 Polarização catódica Dependendo de concentração de hidrogênio e oxigênio no meio corrosivo, a polarização catódica de metais pode ser conduzida exclusivamente pela reação de redução de hidrogênio (polarização catódica por hidrogênio), exclusivamente pela reação de redução de oxigênio (polarização catódica por oxigênio) ou pelas reações de redução simultânea de oxigênio e hidrogênio (polarização catódica mista). 3.4.1 Polarização catódica por hidrogênio A polarização catódica de metais conduzida exclusivamente pela reação de redução de hidrogênio ocorre nos meios ácidosnão aerados e obedece à lei de Tafel catódica (Fig.11a): ηc(H+) = ac − bc log|ic| A causa principal de polarização catódica por reação de redução de hidrogênio é uma corrente gerada pela esta reação que transfere as cargas elétricas positivas do meio para o metal. O potencial catódico irreversível do metal polarizado desloca-se para os valores mais eletronegativos, ou seja, diminui, sendo que, quanto maior corrente tanto maior a sobretensão catódica (Fig.11b). Figura 11. Diagramas de polarização catódica conduzida pela reação de redução de hidrogênio nos meios ácidos não aerados. ηc(H+Me1) ηc(H+Me2) −η log|ic| 0 a) Ee o(H+)=0 |ic| −E Enec(H +Me1) Ee(H +)= −0,059pH ηc(H+Me1) ηc(H+Me2) b) Enec(H +Me2) 0 55 A causa particular de polarização catódica por hidrogênio e de uma diminuição do potencial catódico irreversível consiste em transferência de cargas elétricas positivas do meio para o metal com a velocidade que é menor que a velocidade com que os elétrons chegam à região catódica. Como já foi dito, a transferência destas cargas elétricas positivas ocorre através da reação de redução de hidrogênio: 2H++2e→H2 Esta reação de redução procede em etapas através dos sete seguintes processos parciais: a) transporte de hidroxônio ao metal H+mH2O=H3O +→Me b) adsorção de hidroxônio sobre a superfície metálica H3O +→H3O+ads c) dissociação de hidroxônio adsorvido para hidrogênio catiônico H3O + ads→H+ads+H2O d) redução de hidrogênio catiônico para hidrogênio atômico H+ads+e→Hads e) recombinação de hidrogênio atômico para hidrogênio molecular Hads+Hads→H2ads f) coalescência de bolhas de hidrogênio na superfície metálica H2ads...+...H2ads→mH2ads g) desorção (desprendimento) de bolhas de hidrogênio mH2ads→mH2 O processo parcial mais lento de todos é a redução de hidrogênio catiônico (d), o que leva a um acumulo de cargas negativas eletrônicas na interface catódica e a uma diminuição do potencial catódico irreversível. A polarização catódica conduzida pela assimilação lenta de elétrons pelo hidrogênio catiônico adsorvido é chamada de polarização catódica por ativação de hidrogênio. 3.4.2 Polarização catódica por oxigênio Dependendo do grau de aeração dos meios neutros e alcalinos, a polarização catódica de metais conduzida pela reação de redução de oxigênio pode ser exclusivamente por ativação de oxigênio, exclusivamente por concentração de oxigênio e por ativação e concentração de oxigênio. Polarização por ativação de oxigênio A polarização catódica de metais exclusivamente por ativação de oxigênio ocorre nos meios neutros e alcalinos altamente aerados ([O2]>12ml/l, 25 oC) e obedece à lei de Tafel catódica (Fig.12a): ηca(O2) = aca − bca log|ic| A causa principal de polarização catódica por ativação de oxigênio é uma corrente gerada pela reação de redução de oxigênio que transfere as cargas elétricas negativas do metal para o meio. O potencial catódico irreversível do metal polarizado desloca-se para os valores menos eletropositivos, ou seja, diminui, sendo que, quanto maior corrente tanto maior a sobretensão catódica (Fig.12b). Figura 12. Diagramas de polarização catódica conduzida pela reação de redução de oxigênio nos meios neutros e alcalinos altamente aerados ([O2]>12ml/l, 25 oC). ηca(O2Me1) ηca(O2Me2) −η log|ic| 0 a) Ee o(O2)=0,401 |ic| Enec(O2Me1) Ee(O2)= 1,227−0,059pH ηca(O2Me1) ηca(O2Me2) b) Enec(O2Me2) E=0 0 56 A causa particular de polarização catódica por ativação de oxigênio e de uma diminuição do potencial catódico irreversível consiste em transferência de cargas elétricas negativas (OH−) do metal para o meio com a velocidade que é menor que a velocidade com que os elétrons chegam à região catódica. Como já foi dito, a transferência destas cargas elétricas negativas ocorre através da reação de redução de oxigênio: O2+2H2O+4e→4OH− Esta reação de redução procede em etapas através dos oito seguintes processos parciais: a) transporte de oxigênio ao metal O2→Me b) adsorção de oxigênio sobre a superfície metálica O2→O2ads c) redução de oxigênio molecular para oxigênio aniônico O2ads+e→O2−ads d) formação de moléculas de perhidroxila O2 − ads+H +→HO2ads e) redução de perhidroxila para perhidroxil-íon HO2ads+e→HO2−ads f) formação de moléculas de peróxido HO2 − ads+H +→H2O2ads g) redução de peróxido para hidroxil-íon e hidroxil-radical H2O2ads+e→OH−+OH h) redução de moléculas hidroxil-radical para hidroxil-íon OH+e→OH− O processo parcial mais lento de todos é a redução de oxigênio molecular adsorvido (c), o que leva a um acumulo de cargas negativas eletrônicas na interface catódica e a uma diminuição do potencial catódico irreversível. A polarização catódica conduzida pela assimilação lenta de elétrons pelo oxigênio molecular adsorvido é chamada de polarização catódica por ativação de oxigênio. Polarização por concentração de oxigênio A polarização catódica de metais exclusivamente por concentração de oxigênio ocorre nos meios neutros e alcalinos naturalmente e mal aerados ([O2]≤5,7ml/l, 25oC) e não segue à lei de Tafel catódica. Nestes meios, a variação de sobretensão catódica por concentração de oxigênio com a corrente catódica obedece à seguinte função logarítmica (Fig.13a): −= l c cccc i i cO 1log)( 2η onde: ccc - constante que depende do metal; ic - densidade de corrente catódica; i l - densidade de corrente-limite; representa a corrente catódica sob a qual a sobretensão catódica torna-se infinita (ηcc=∞; ic/i l=1); aumenta à medida que aumenta a concentração de oxigênio no meio (Fig.13b); pode chegar a 20-25µA/cm2 nos meios naturalmente aerados [O2]=5,7ml/l, 25oC. Figura 13. Diagramas de polarização catódica conduzida pela reação de redução de oxigênio nos meios neutros e alcalinos naturalmente ou mal aerados ([O2]≤5,7ml/l, 25oC). ηcc(O2) −η |ic| 0 a) |il| Ee o(O2)=0,401 |ic| Ee(O2)= 1,227−0,059pH b) E=0 Aeração |il|[O21] ηcc[O22] Enec[O22] Enec[O21] ηcc[O21] [O21]<[O22] |il|[O22] 0 0 57 A causa principal de polarização catódica por concentração de oxigênio é uma corrente gerada pela reação de redução de oxigênio que transfere as cargas elétricas negativas do metal para o meio. O potencial catódico irreversível do metal polarizado desloca-se para os valores menos eletropositivos, ou seja, diminui, sendo que, quanto maior corrente tanto maior a sobretensão catódica (Fig.13b). A causa particular de polarização catódica por concentração de oxigênio e de uma diminuição do potencial catódico irreversível consiste em transferência de cargas elétricas negativas (OH−) do metal para o meio com a velocidade que é menor que a velocidade com que os elétrons chegam à região catódica. A transferência destas cargas elétricas negativas ocorre através da reação de redução de oxigênio que procede em etapas através dos oito processos parciais já enumerados acima (a→h): O2+2H2O+4e→4OH− O processo parcial mais lento de todos é o transporte de oxigênio ao metal (a), o que leva a um acumulo de cargas negativas eletrônicas na interface catódica e a uma diminuição do potencial catódico irreversível. A polarização catódica conduzida pelo transporte lento do oxigênio ao metal é chamada de polarização catódica por concentração de oxigênio. Polarização por ativação e concentração de oxigênio Nos meios neutros e alcalinos com a concentração do oxigênio dissolvido nem baixa nem alta (aeração forçada), variando entre 5,7ml/l (aeração natural) e 12ml/l (aeração alta), a polarização catódica de metais, chamada de polarização catódica combinada por oxigênio, ocorre por ativação e concentração de oxigênio. Nestes meios (Fig.14a), a polarização catódica combinada descreve-se pela curva de polarização (ηc(O2)) que soma as sobretensõesparciais de redução por ativação (ηca(O2)) e concentração (ηcc(O2)) de oxigênio: [ ] −+−=+= l c ccccacacccac i i cibaOOO 1loglog)()()( 222 ηηη O potencial catódico irreversível do metal (Enec(O2)) desloca-se para os valores menos eletropositivos, ou seja, diminui (Fig.14b). O deslocamento deste potencial é atribuído aos deslocamentos parciais dos potenciais irreversíveis conduzidos por ativação (Eneca(O2)) de oxigênio e por concentração de oxigênio (Enecc(O2)). A causa principal de polarização catódica combinada é uma corrente gerada pela reação de redução de oxigênio que transfere as cargas elétricas negativas do metal para o meio. A causa particular de polarização catódica combinada e de uma diminuição do potencial catódico irreversível consiste em transferência de cargas elétricas negativas (OH−) do metal para o meio com a velocidade que é menor que a velocidade com que os elétrons chegam à região catódica. Figura 14. Diagramas de polarização catódica conduzida por ativação e concentração de oxigênio nos meios neutros e alcalinos de aeração forçada (5,7ml/l<[O2]<12ml/l, 25 oC). 0 −η ηca(O2) ηc(O2) ηcc(O2) |il| |ic| ηc(O2) ηca(O2) ηcc(O2) 0 Ee o(O2)=0,401 |ic| Enec(O2) Ee(O2)= 1,227−0,059pH ηc(O2) E=0 0 |il| Eneca(O2) Enecc(O2) a) b) 58 3.4.3 Polarização catódica mista Nos meios ácidos aerados, as reações de redução de hidrogênio e oxigênio podem ocorrer simultaneamente sobre as regiões catódicas da superfície metálica: 2H++2e→H2 O2+4H ++4e→2H2O A polarização catódica de metais conduzida pelas reações de redução simultânea de hidrogênio e oxigênio é chamada de polarização catódica mista. A polarização catódica mista descreve-se pela curva de polarização (Fig.15) que soma as sobretensões parciais conduzidas pelas reações de redução de oxigênio (ηc(O2)) e de redução de hidrogênio (ηc(H+): [ ] { }ccaca l c ccccacaccc ibai i cibaHO log1loglog)()( 2 −+ −+−=+= +ηηη Na curva de polarização catódica mista, o ponto “h” corresponde à corrente-limite sob a qual o metal adquire com relação ao meio (pH>0) o potencial catódico de redução de hidrogênio: Ee(H +)=−0,059pH Em potenciais mais eletropositivos em relação ao potencial de redução de hidrogênio (abaixo do ponto "h"), a polarização catódica do metal é conduzida exclusivamente pela reação de redução de oxigênio, sem nenhuma contribuição de hidrogênio. Em potenciais mais eletronegativos em relação ao potencial de redução de hidrogênio (acima do ponto "h"), a polarização catódica do metal é conduzida pelas reações de redução de oxigênio e hidrogênio que ocorrem simultaneamente sobre as regiões catódicas da superfície metálica. Figura 15. Diagramas de polarização catódica mista conduzida pelas reações de redução de oxigênio e hidrogênio nos meios ácidos e aerados. h 0 |il| −E Ee(H +)= −0,059pH Ee(O2)= 1,229−0,059pH Ee o(H+)=0 Ee o(O2)=1,229 ηc ηc(O2) ηc(H+) |ic| Enec(H +) Enec(O2) 0 |il| −η |ic| h ηc ηc(O2) ηc(H+) 0 ηc(H+) ηc(O2) a) b) pH>0 pH=0 pH>0 pH=0 59 4 Diagramas de corrosão Os diagramas de corrosão, também chamados de diagramas de Evans, são os diagramas de polarização nos quais as curvas de polarização anódica e catódica de um dado metal são traçadas juntas. Estes diagramas fornecem informações sobre o efeito do pH e do grau de aeração dos meios corrosivos na corrente e no potencial de corrosão. 4.1 Meios ácidos desaerados Nos meios ácidos desaerados, a polarização anódica de um dado metal, conduzida pela reação de oxidação do metal, e a polarização catódica do mesmo, conduzida pela reação de redução de hidrogênio, obedecem à lei de Tafel anódica e catódica, respectivamente (Fig.16): Me→Me2++2e Enea(Me) ηa(Me) = aa +ba logi 2H++2e→H2 Enec(H+) ηc(H+) = ac − bc logi À medida que aumenta a corrente, o potencial anódico irreversível aumenta Enea(Me) e o potencial catódico irreversível diminui Enec(H +), isto é, os potenciais irreversíveis aproximam-se um ao outro. Quando as resistências ôhmicas do metal e do meio são nulas, as curvas de polarização anódica e catódica se interceptam num ponto. No ponto de interseção das curvas de polarização: − os potenciais irreversíveis assumem um potencial comum que é o potencial de corrosão (Ecor) − a densidade de corrente atinge um valor máximo que é a densidade de corrente de corrosão máxima possível (icorm) − a sobretensão total do metal (η) é igual à soma das sobretensões anódica e catódica (η=ηa+ηc). Se a acidez do meio aumentar (pH4→pH3), a corrosão será essencialmente estimulada (Fig.17), pois a curva de polarização catódica desloca-se para os potenciais menos eletronegativos e intercepta a curva de polarização anódica no ponto 2 que é muito afastado do ponto 1 (icormpH3>>icormpH4). Figura 16. Diagrama de corrosão de um metal em um meio ácido desaerado. Figura 17. Efeito do pH de um meio ácido desaerado na densidade de corrente de corrosão. Ee o(H+)=0 icorm −Ee(Me) Ee(H +)= −0,059pH ηa(Me)>0 Ecor ηc(H+)<0 0 Enea(Me) Enec(H +) η=ηa+ηc icormpH4 Ee o(H+)=0 icormpH3 −Ee(Me) Ee(H +pH4) EcorpH3 0 Enea(Me) Enec(H +pH4) EcorpH4 Enec(H +pH3) Ee(H +pH3) Acidez 1 2 60 Na realidade, as curvas de polarização anódica e catódica nunca se interceptam, pois o metal e o meio eletrolítico apresentam uma certa resistência ôhmica. Uma vez que a resistência ôhmica do metal é desprezível em relação ao eletrólito, a resistência ôhmica do eletrólito vai interferir na polarização total do metal através de sobretensão ôhmica ηr (Fig.18): η=ηa+ηc+ηr A sobretensão ôhmica (ηr), causada pela queda ôhmica no eletrólito, representa a diferença entre o potencial catódico irreversível e o potencial anódico irreversível do metal corroído: ηr = (Enec−Enea) De acordo com a lei de Ohm, a corrente de corrosão (icor) de um metal num eletrólito com resistência ôhmica R é diretamente proporcional à sobretensão ôhmica e inversamente proporcional à resistência ôhmica do eletrólito: R i rcor η = Nos meios com alta resistência ôhmica, a corrente de corrosão é muito menor que a corrente de corrosão máxima possível (R↑ icor↓) e, vice-versa, nos meios com baixa resistência ôhmica, a corrente de corrosão é próxima à corrente de corrosão máxima possível (R→0 icor→icorm). Nos meios que apresentam uma certa resistência ôhmica, o potencial de corrosão não é bem definido, flutuando entre o potencial irreversível anódico (Enea) e o potencial irreversível catódico (Enec) do metal corroído. Figura 18. Efeito de resistência ôhmica de um meio ácido desaerado na densidade de corrente de corrosão. 4.2 Meios neutros e alcalinos altamente aerados Nos meios neutros e alcalinos altamente aerados ([O2]>12ml/l, 25 oC), a polarização anódica de um dado metal, conduzida pela reação de oxidação do metal, e a polarização catódica do mesmo, conduzida pela reação de redução de oxigênio por sua ativação, obedecem à lei de Tafel anódica e catódica, respectivamente (Fig.19): 2Me→2Me2++4e Enea(Me) ηa(Me) = aa +ba logi O2+2H2O+4e→4OH− Enec(O2) ηca(O2) = aca − bca logi Ee o(H+)=0 icorm −Ee(Me) Ee(H +) 0 icor icor R=0 ηa ηc ηa ηc Enea(Me) ηr R Enec(H +) η R 61 Para simplificar a situação, admite-se que a resistência ôhmica destes meios é desprezível. Neste caso, o ponto de interseção das curvas de polarização indica sobre: − o potencial de corrosão (Ecor) − a densidade de corrente de corrosão máxima possível (icorm) − a sobretensão total do metal (η) que é igual à soma das sobretensõesanódica e catódica (η=ηa+ηca). Se a aeração do meio aumentar [O2]↑, a corrosão quase não será estimulada (Fig.20), pois a curva de polarização catódica desloca-se um pouco para os potenciais mais eletropositivos e intercepta a curva de polarização anódica no ponto 2 que não é muito afastado do ponto 1 (icorm[O22]≈icorm[O21]). Figura 19. Diagrama de corrosão de um metal em um meio neutro ou alcalino altamente aerado. Figura 20. Efeito de aeração de um meio neutro ou alcalino altamente aerado na densidade de corrente de corrosão. 4.3 Meios neutros e alcalinos naturalmente e mal aerados Nos meios neutros e alcalinos naturalmente e mal aerados ([O2]≤5,7ml/l, 25oC), a polarização anódica de um dado metal, conduzida pela reação de oxidação do metal, obedece à lei de Tafel anódica e a polarização catódica do mesmo, conduzida pela reação de redução de oxigênio por sua concentração, obedece a uma função logarítmica (Fig.21): 2Me→2Me2++4e Enea(Me) ηa(Me) = aa +ba logi O2+2H2O+4e→4OH− Enec(O2) ηcc(O2) = ccc log(1-i/il) Quando a resistência ôhmica destes meios é desprezível, o ponto de interseção das curvas de polarização indica sobre: − o potencial de corrosão (Ecor) − a densidade de corrente de corrosão máxima possível que é a densidade de corrente-limite (icorm=il) − a sobretensão total do metal (η) que é igual à soma das sobretensões anódica e catódica (η=ηa+ηcc). icorm −Ee(Me) ηa(Me)>0 Ecor ηca(O2)<0 0 Ee o(O2)=0,401 Ee(O2)= 1,227−0,059pH Ee o(H+)=0 Enea(Me) Enec(O2) η=ηa+ηca Ecor[O21] Ecor[O22] −Ee(Me) Aeração Enea(Me) icorm[O21] icorm[O22] 0 Ee o(O2)=0,401 Ee(O2)= 1,227−0,059pH Enec[O22] Enec[O21] [O21]<[O22] Ee o(H+)=0 1 2 62 Se a aeração do meio aumentar [O2]↑, a corrosão será essencialmente estimulada (Fig.22), pois a curva de polarização catódica desloca-se para os potenciais mais eletropositivos e intercepta a curva de polarização anódica no ponto 2 que é muito afastado do ponto 1 (icorm[O22]>>icorm[O21]). Figura 21. Diagrama de corrosão de um metal em um meio neutro e alcalino naturalmente e mal aerado. Figura 22. Efeito de aeração de um meio neutro ou alcalino naturalmente e mal aerado na densidade de corrente de corrosão. 4.4 Meios ácidos aerados Nos meios ácidos aerados, a polarização anódica de um dado metal, conduzida pela reação de oxidação do metal, obedece à lei de Tafel anódica e a polarização catódica mista do mesmo, conduzida pelas reações de redução de oxigênio e hidrogênio, obedece a uma função complexa (Fig.23): 3Me→3Me2++6e Enea(Me) ηa(Me) = aa + ba logi O2+4H ++4e→2H2O Enec(O2) 2H++2e→H2 Enec(H+) Quando a resistência ôhmica destes meios é desprezível, o ponto de interseção das curvas de polarização indica sobre: − o potencial de corrosão (Ecor) − a densidade de corrente de corrosão máxima possível que é igual à soma das densidades de corrente- limite e de corrente de redução de hidrogênio (icorm=il+iH +) − a sobretensão total do metal (η) que é igual à soma das sobretensões anódica e catódica (η=ηa+ηc). ηc(O2H+) = ηc(O2) + ηc(H+) ηcc(O2)<0 Ee o(O2)=0,401 Enec(O2) icorm=il 0 −Ee(Me) Ecor ηa(Me)>0 Eeo(H+)=0 Ee(O2)= 1,227−0,059pH Enea(Me) η=ηa+ηcc Ee o(O2)=0,401 0 −Ee(Me) Enea(Me) Aeração Ecor[O21] Ecor[O22] Ee(O2)= 1,227−0,059pH icorm[O21] icorm[O22] [O21]<[O22] Enec[O22] Enec[O21] Ee o(H+)=0 1 2 63 Se a aeração ou acidez do meio aumentar ([O2]↑ pH↑), a corrosão será essencialmente estimulada (Fig.24), pois a curva de polarização catódica desloca-se para os potenciais menos eletronegativos e intercepta a curva de polarização anódica no ponto 2 que é muito afastado do ponto 1 (icorm[O22]>>icorm[O21] icorm(pH3)>>icorm(pH4)). Se o meio for submetido a desaeração completa será eliminada a curva de polarização catódica por ativação e concentração de oxigênio (Enec(O2)) e essencialmente diminuída a corrente de corrosão (Fig.25). Neste caso, a corrente e o potencial de corrosão correspondem ao ponto "d" onde se interceptam as curvas anódica de oxidação do metal e catódica de redução de hidrogênio. Figura 23. Diagrama de corrosão de um metal em um meio ácido aerado. Figura 24. Efeito de aeração (a) e pH (b) de um meio ácido aerado na densidade de corrente de corrosão. Figura 25. Efeito de desaeração completa de um meio ácido na densidade de corrente de corrosão. 0 i l iH + −Ee(Me) Ee(H +) Ee(O2)= 1,229−0,059pH Ee o(H+)=0 Ee o(O2)=1,229 ηc<0 h ηa>0 icorm=il+iH + Enea(Me) Enec(H +) Ecor Enec(O2) η=ηa+ηc 0 icorm(md)=iH + −Ee(Me) Ee o(O2) meio desaerado (md) icorm(ma)=il+iH + Enec(H +) Ecor(md) Ecor(ma) Ee(O2pH4) Ee(H +pH4) Ee o(H+)=0 Enea(Me) meio aerado (ma) d Enec(O2) h Ee o(O2) 0 Enea(Me) −Ee(Me) Acidez [O2]=const Ee(O2pH4) Ee(O2pH3) Enec(pH3) Enec(pH4) EcorpH4 EcorpH3 icorm(pH4) icorm(pH3) Ee(H +)= −0,059pH Ee o(H+)=0 a) 0 icorm[O21] icorm[O22] Enea(Me) −Ee(Me) Ee o(O2) [O21]<[O22] Ecor[O21] Ecor[O22] Enec[O22] Enec[O21] Aeração pH=4 Ee(O2pH4) Ee(H +pH4) Ee o(H+)=0 b) pH4→pH3 1 1 2 2 64 5 Passivação e transpassivação Passivação e transpassivação são os fenômenos eletroquímicos específicos que ocorrem em certos meios eletrolíticos, chamados passivadores. Os meios passivadores representam os meios altamente oxidantes (HNO3, NaNO3, NaNO2 e K2CrO4) e/ou de alto nível de aeração (superaerados). Nestes meios, o comportamento anódico de metais não obedece à lei de Tafel, ou seja, a curva de polarização anódica apresenta um desvio essencial da curva de Tafel anódica clássica (Fig.26). 5.1 Passivação O fenômeno de passivação consiste em formação na superfície metálica de uma fina película protetora, chamada passiva. A película passiva pode ser constituída de vários óxidos, hidróxidos e oxi- hidróxidos do metal base e/ou de elementos de liga. Em função do potencial anódico que o metal adquire com a relação ao meio passivador, a curva de polarização anódica deste metal pode ser decomposta por seguintes regiões características (Fig.26): Região ativa, entre o potencial reversível (Eea) e o potencial de passivação (EP). Nesta região, o metal sofre a corrosão ativa e sobre a sua superfície começa a se formar uma película passiva. No potencial de passivação (EP), a corrente de corrosão, chamada de corrente de passivação (iP), atinge um valor máximo. Região transitória, entre o potencial de passivação (EP) e o potencial de passivação completa (EPC). Nesta região, a película passiva já recobre toda a superfície metálica e a corrente de corrosão cai até um valor muito baixo. Região passiva, entre o potencial de passivação completa (EPC) e o potencial de transpassivação (ETPO). Nesta região, o metal assume um potencial estacionário, chamado de potencial de passivação completa (EPC), e a corrente de corrosão, chamada de corrente de passivação completa (iPC), atinge um valor mínimo possível. Figura 26. Diagrama de polarização anódica de um metal que se passiva e se transpassiva. ETPP ia 0 ETPO ETPE +Eea(Me) iPC Região transpassiva Dissolução uniforme Dissolução por pites Eletroerosão −Eea(Me) EP EPC Região passiva iP Região ativa Região transitória Curva de Tafel anódica clássica 65 5.2 Transpassivação O fenômeno de transpassivação consiste em perda de passividade quando o metal passivo assume, por qualquer razão, um determinado potencial anódico, chamado de potencial de transpassivação (ETP). Em potenciais superiores ao potencial de transpassivação, ometal começa a se corroer de novo com alta velocidade (Fig.26). Dependendo do meio e do potencial de transpassivação, a perda de passividade pode ocorrer por razão de dissolução uniforme, dissolução por pites e eletroerosão da película passiva. Dissolução uniforme da película passiva ocorre quando o metal passivo assume os potenciais superiores ao potencial de transpassivação por oxidação (ETPO). Nos diagramas de Pourbaix, estes potenciais situam-se acima da reta "b" e provocam a decomposição eletrolítica da água para o oxigênio molecular: 2H2O→O2+4H++4e O oxigênio molecular desprendido oxida os óxidos (hidróxidos e oxi-hidróxidos) de menor valência metálica presentes na película passiva, que são insolúveis no meio, para os óxidos (hidróxidos e oxi-hidróxidos) de maior valência metálica facilmente solúveis no meio na forma aniônica: Dissolução por pites da película passiva ocorre nos meios contendo ânions ativos (como cloro Cl−) quando o metal passivo assume os potenciais superiores ao potencial de transpassivação por pites (ETPP). Nestes meios, os ânions de cloro reagem, em certos locais da película passiva, com os óxidos (hidróxidos e oxi-hidróxidos) para o cloreto metálico facilmente solúvel e o metal desprotegido (nestes locais) pela película passiva sofre a corrosão intensa por pites: MeO2+Cl −→MeCl4+O2 Eletroerosão da película passiva ocorre em qualquer meio quando o metal passivo assume os potenciais superiores ao potencial de transpassivação por eletroerosão (ETPE). Sob estes potenciais, na película passiva se estabelece um grande gradiente do campo elétrico que provoca descargas elétricas através da película. Como a temperatura no local da descarga elétrica é muito alta, o material da película passiva se vaporiza e o metal desprotegido (nestes locais) pela película passiva sofre a corrosão por pites. O comportamento anódico dos metais expostos a um dado meio passivador é diferente, isto é, eles apresentam distintos parâmetros eletroquímicos de passivação e transpassivação (Tab.8). Os metais que apresentam menores correntes de passivação completa são mais resistentes ao meio passivador e vice- versa. Daí segue que para melhorar a resistência à corrosão de um metal de maior corrente de passivação completa, como Fe (iPC=6x10 -5A/cm2), outro metal de menor corrente de passivação completa, como Cr (iPC=2x10 -8A/cm2), pode ser adicionado, em quantidade suficiente, ao ferro. Tabela 8. Parâmetros eletroquímicos de passivação e transpassivação dos metais em uma solução de 0,5M H2SO4. Metal EP (V) iP (A/cm 2) iPC (A/cm 2) ETPO (V) Fe +0,46 2x10-1 6x10-5 +1,65 Ni +0,25 1x10-2 2x10-6 +0,70 Ti −0,25 3x10-4 3x10-6 +1,55 Mo −0,20 3x10-6 1x10-7 +0,40 Cr −0,50 1x10-2 2x10-8 +0,80 (Cr6+O4) 2− ânions de cromato (pH>7) (Cr2 6+O7) 2− ânions de bicromato (pH<7) Cr2 3+O3+O2→Cr6+O3 66 6 Diagramas de Pourbaix Os diagramas de Pourbaix são representações gráficas, em coordenadas “potencial reversível” versus “pH”, dos equilíbrios termodinâmicos das reações químicas e eletroquímicas possíveis de ocorrer nos sistemas metal – água, à temperatura de 25oC e pressão de 1atm (Fig.27). As retas traçadas nos diagramas de Pourbaix referem-se às seguintes reações químicas e eletroquímicas que estão num estado de equilíbrio termodinâmico. Figura 27. Diagramas de Pourbaix simplificados para Zn-H2O, Al-H2O, Cu-H2O e Fe-H2O. − Reta inclinada tracejada "a" refere-se ao equilíbrio da reação eletroquímica de redução da água (redução do hidrogênio catiônico). O potencial desta reação depende do pH, sendo nulo no pH nulo. Nos potenciais situados abaixo desta reta, a água sofre decomposição eletrolítica para o hidrogênio molecular. Nos potenciais situados entre as retas “a” e “b”, a água é termodinamicamente estável. 2H++2e=H2 Ee= −0,059pH − Reta inclinada tracejada "b" refere-se ao equilíbrio da reação eletroquímica de oxidação da água. O potencial desta reação depende do pH, sendo positivo no pH nulo. Nos potenciais situados acima desta reta, a água sofre decomposição eletrolítica para o oxigênio molecular. Nos potenciais situados entre as retas “b” e “a”, a água é termodinamicamente estável. 2H2O=O2+4H ++4e Ee=1,229−0,059pH − Reta horizontal cheia refere-se ao equilíbrio da reação eletroquímica de oxi-redução do metal. O potencial desta reação não depende do pH e verifica-se por meio da equação de Nernst. Nos potenciais situados acima desta reta, o metal oxida-se para os cátions metálicos. Nos potenciais situados abaixo desta reta o metal reduz-se. Me=Men++ne Ee=Ee o+0,059 n−1 logC(Men+) 67 − Reta vertical cheia à esquerda refere-se ao equilíbrio da reação química entre o metal catiônico e a água que depende do pH, mas não do potencial. Nos valores de pH situados à esquerda desta reta, a reação desloca-se no sentido de formação do metal catiônico. Nos valores de pH situados à direita desta reta, a reação desloca-se no sentido de formação do óxido ou hidróxido. Me2++H2O=MeO/Me(OH)2+H + − Reta vertical cheia à direita refere-se ao equilíbrio da reação química entre o óxido ou hidróxido e a água que depende do pH, mas não do potencial. Nos valores de pH situados à esquerda desta reta, a reação desloca-se no sentido de formação de óxido ou hidróxido. Nos valores de pH situados à direita desta reta, a reação desloca-se no sentido de formação de oxi-ânion metálico. MeO/Me(OH)2+H2O=MeO2 2−+H+ − Retas inclinadas cheias referem-se ao equilíbrio das reações eletroquímicas entre o metal e a água que depende do potencial e pH. Nos potenciais situados acima destas retas, as reações deslocam-se no sentido de formação de óxido, hidróxido ou oxi-ânion metálico, dependendo do pH. Nos potenciais situados abaixo destas retas, as reações deslocam-se no sentido de formação do metal. Me+H2O=MeO/Me(OH)2/MeO2 2−+H++ne Desta maneira, as retas cheias definem as fronteiras de estabilidade termodinâmica das espécies químicas envolvidas nas reações químicas e eletroquímicas que ocorrem nos sistemas metal/água, ou seja, dividem os diagramas de Pourbaix nas seguintes zonas características: − zona de corrosão onde situam-se os valores do potencial e do pH favoráveis para estabilidade termodinâmica de cátions metálicos e oxi-ânions metálicos; − zona de passivação onde situam-se os valores do potencial e do pH favoráveis para estabilidade termodinâmica de óxidos e hidróxidos; − zona de imunidade onde situam-se os valores do potencial e do pH favoráveis para estabilidade termodinâmica do metal. Os diagramas de Pourbaix, apesar de ser termodinâmicos, são muito úteis para prever o comportamento eletroquímico dos metais em diferentes meios corrosivos. 7 Pilhas de corrosão A corrosão só será possível de ocorrer se na interface metal/meio for formada, pelo menos, uma pilha eletroquímica de corrosão constituída da região anódica e da região catódica. Na realidade, na interface metal/meio se formam múltiplas pilhas de corrosão provenientes de várias heterogeneidades existentes no metal e no meio. Estas pilhas podem estar fixas promovendo a corrosão localizada do metal na região anódica, ou podem se mover sobre a superfície metálica seguindo às mudanças nas condições de corrosão e envolvendo na corrosão toda a superfície metálica. 7.1 Pilhas de corrosão provenientes do metal Em termos estruturais, qualquer metal não é homogêneo. Como as principais heterogeneidades que promovem a formação de pilhas de corrosão (pares anódicos-catódicos) podem ser citadas (Fig.28): a) Os defeitos pontuais (de Schottky e Frenkel), lineares (discordâncias) e bidimensionais (contornos de grãos) que são anódicos em relação aos grãos inteiros da mesma fase que são catódicos. 68 b) Os grãos da mesma fase com diferentes orientações dos planos cristalográficos. O grão com o planocristalográfico de menor densidade atômica é anódico em relação a outro com o plano cristalográfico de maior densidade atômica que é catódico. c) Os grãos da mesma fase que diferem por seus tamanhos. O grão de menor tamanho é anódico em relação ao grão de maior tamanho que é catódico. d) As regiões deformadas e não deformadas. A região deformada é anódica em relação à outra não deformada que é catódica. e) Os grãos das fases diferentes. O grão da fase menos nobre (ferrita) é anódico em relação ao grão da fase mais nobre (austenita) que é catódico. f) Os precipitados intermetálicos (FeCr) e semimetálicos (Fe3C) que são catódicos em relação à matriz metálica que é anódica. g) As inclusões não metálicas (veios e glóbulos grafiticos, óxidos, sulfetos, fosfetos, etc.) que são catódicas em relação à matriz metálica que é anódica. h) Os grãos da mesma fase segregados com o elemento de liga menos nobre e não segregados. O grão segregado é anódico em relação ao grão não segregado que á catódico. Desta maneira, em função do seu potencial, os elementos de liga podem ser anódicos e catódicos (Fig.29). Figura 28. Pilhas de corrosão (pares anódico-catódicos) provenientes do metal. Figura 29. Efeito de elementos de liga anódicos e catódicos na corrosão de Cu e Zn em H2SO4. P er d a d e m as sa Cu-1%Zn Cu-1%Cd Cu-1%Pb Ee o(Zn)=−0,76V Ee o(Cd)=−0,40V Ee o(Pb)=−0,13V Ee o(Cu)=+0,34V P er d a d e m as sa Zn-1%Cu 0 2 4 6 8 horas Zn-1%Pb Zn-1%Cd Zn 0 2 4 6 8 horas Cu Zn, Cd, Pb - anódicos Cu, Pb, Cd - catódicos a) b) c) d) A C A C A A A C A C A C ferrita austenita A C e) f) g) h) A C ferrita grafite A C ferrita Fe3C FeCr 69 7.2 Pilhas de corrosão provenientes do meio Como as principais pilhas de corrosão (pares anódicos-catódicos) provenientes de heterogeneidades existentes nos meios corrosivos podem ser citadas (Fig.30): a) Pilha de concentração iônica. Se forma quando o metal está imerso num meio onde existe um gradiente de concentração de cátions do mesmo metal. A área do metal em contato com o meio de menor concentração de cátions metálicos é anódica em relação à outra, que está em contato com o meio de maior concentração de cátions metálicos, que é catódica (segundo a equação de Nernst). b) Pilha térmica. Se forma quando o metal está imerso num meio onde existe um gradiente de temperatura. A área do metal em contato com o meio mais aquecido é anódica em relação à outra, que está em contato com o meio menos aquecido, que é catódica (segundo a equação de Nernst). c) Pilha de aeração diferencial. Se forma quando o metal está imerso num meio onde existe um gradiente de concentração de oxigênio. A área do metal menos aerada é anódica em relação à outra mais aerada que é catódica (segundo a equação de Nernst). As pilhas de aeração diferencial são responsáveis por muitos casos de corrosão localizada, por exemplo: d) em estreitas trincas onde a ponta da trinca menos aerada é anódica e a superfície externa do metal mais aerada é catódica; e) sob uma gota do eletrólito onde a parte central da interface menos aerada é anódica e a parte periférica da interface mais aerada é catódica. f) Pilha de corrosão combinada. Se forma quando o metal está imerso num meio aerado onde existe um gradiente de temperatura. A área do metal em contato com o meio mais aquecido e menos aerado é anódica em relação à outra, que está em contato com o meio menos aquecido e mais aerado, que é catódica (de acordo com a solubilidade do oxigênio S em função da temperatura). Figura 30. Pilhas de corrosão (pares anódico-catódicos) provenientes do meio. Zn2++2e=Zn )(log 059,0 2++= ZnC n EE oee Ee o(1M)= −0,763V Ee(0,01M)= −0,822V Ee(0,1M)= −0,792V Zn2+[0,01M]<Zn2+[0,1M] C A Zn a) b) Fe2++2e=Fe )(log 1098,1 2 4 + − += FeC n Tx EE oee Ee o(1M, 25oC)= −0,440V Ee(0,1M, 10 oC)= −0,468V Ee(0,1M, 75 oC)= −0,474V T(75oC)>T(10oC) C A Fe O2[0,1M]<O2[0,5M] C A O2+4H ++4e=2H2O )(log 059,0 2OCn EE oee += Ee o(1M)= +1,229V Ee(0,1M)= +1,214V Ee(0,5M)= +1,225V Me O2 [O2]a<[O2]c A C O2 Me [O2]a<[O2]c C A Me O2 c) d) e) [O2]a<[O2]c Ta>Tc C A Me T,O2 T, oC S, ml/l 0 9,90 5 8,65 10 7,64 15 6,83 20 6,18 25 5,67 30 5,57 f) 70 7.3 Relação entre as áreas anódica e catódica Quando numa pilha de corrosão as áreas anódica e catódica são iguais (S=Sa=Sc), as densidades de corrente anódica e catódica também são iguais (i=ia=ic): ca iii == S I i = a a S I i = c c S I i = onde: I – intensidade de corrente Neste caso, de acordo com a lei de Faraday, a velocidade de corrosão (υ) é proporcional à densidade de corrente, seja anódica ou catódica (Fig.31a): nF i=υ nF ia=υ (1) nF ic=υ onde: F – constante Faraday; n – número de elétrons envolvidos na reação de oxi-redução. Quando numa pilha de corrosão as áreas anódica e catódica não são iguais (Sa≠Sc), as densidades de corrente anódica e catódica também não são iguais (ia≠ic): a a S I i = (2) c c S I i = (3) Expressando a intensidade de corrente através da densidade de corrente catódica (3) e substituindo a intensidade de corrente na equação (2), obtemos a seguinte relação entre a densidade de corrente anódica e a densidade de corrente catódica e as áreas catódica e anódica: cc SiI = a c ca S S ii = (4) Substituindo a densidade de corrente anódica (4) na equação de Faraday (1), obtemos a seguinte expressão que correlaciona a velocidade de corrosão com a densidade de corrente catódica e as áreas catódica e anódica: a cc S S nF i =υ De acordo com esta expressão, a velocidade de corrosão será tanto maior quanto for maior a área catódica em relação à área anódica e vice versa (Fig.31b). Figura 31. Efeito de relação entre as áreas anódica e catódica numa pilha na velocidade de corrosão. Sa Sc Sa=Sc ia ic I=const i=ia=ic υ=i/nF Sa Sc Sa<Sc ia ic I=const ia>ic υ=icSc/nFSa a) b) 71 8 Corrosão galvânica e eletrolítica 8.1 Corrosão galvânica A corrosão galvânica ocorre quando os metais dissimilares estão envolvidos em arranjos galvânicos simples ou complexos e imersos no mesmo meio corrosivo. Arranjos galvânicos simples Os arranjos galvânicos simples são os pares galvânicos de dois metais dissimilares. Para prever, na primeira aproximação, o comportamento eletroquímico dos metais envolvidos em seu par galvânico (Fig.32), estes metais devem ser comparados por seus potenciais padrão (Eeº): No par galvânico Zn/Fe (eletrólito ácido não aerado), o Zn é anodo e o Fe é catodo. No par galvânico Fe/Cu (eletrólito neutro não aerado), o Fe é anodo e o Cu é catodo. No par galvânico Cu/Ag (eletrólito neutro aerado), o Cu é anodo e a Ag é catodo. Figura 32. Corrosão de metais dissimilares em seus pares galvânicos. Arranjos galvânicos complexos Os arranjos galvânicos complexos são constituídos de três, ou mais, metais dissimilares. Para prever, na primeira aproximação, o comportamento eletroquímico dos metais envolvidos num arranjo galvânico complexo (Fig.33), este arranjo pode ser decomposto em pares galvânicos separados os quais devem ser comparados por seus potenciais padrão resultantes (Eer o) No 1o par galvânico separado Zn/Fe, o Zn é anodo e o Fe é catodo; Eerº(Zn/Fe)= 0,323V. No 2o par galvânico separado Fe/Cu, o Fe é anodo e o Cu é catodo, Eerº(Fe/Cu)= 0,777V. No 3o par galvânico separadoZn/Cu, o Zn é anodo e o Cu é catodo, Eerº(Zn/Cu)= 1,100V. De acordo com os potenciais padrão resultantes destes pares separados, no arranjo galvânico complexo Zn/Fe/Cu, o Zn será anódico e o Fe e Cu serão catódicos, uma vez que o 3o par (Zn/Cu) é mais potente de todos e influenciará no 2o par menos potente (Fe/Cu) de forma que o Fe funcionará no sentido contrário, isto é, como catodo. Figura 33. Corrosão de metais dissimilares em seu arranjo galvânico complexo (meio ácido aerado). Eletrólito neutro não aerado Eeº(Fe 2+)=−0,44 Eeº(Cu2+)=0,337 Reação anódica Fe→Fe2++2e Reação catódica 2H2O+2e→H2+2OH- Eletrólito neutro aerado Eeº(Cu 2+)=0,337 Eeº(Ag +)=0,799 Reação anódica Cu→Cu2++2e Reação catódica 1/2O2+H2O+2e→2OH- A Fe C Cu Eletrólito ácido não aerado Eeº(Zn 2+)=−0,763 Eeº(Fe2+)=−0,44 Reação anódica Zn→Zn2++2e Reação catódica 2H++2e→H2 A Zn C Fe A Cu C Ag C Cu A Zn C Fe Cu Zn Fe 1o par 2o par 3o par Eeº(Zn 2+)=−0,763 Eeº(Fe 2+)=−0,44 Eeº(Cu 2+)=+0,337 1º par Zn/Fe Eerº=0,323V 2º par Fe/Cu Eerº=0,777V 3o par Zn/Cu Eerº=1,100V Reação anódica: Zn→Zn2++2e Reação catódica: 1/2O2+2H ++2e→H2O 72 Para prever o comportamento eletroquímico real de metais dissimilares em seus arranjos galvânicos simples e complexos, são muito úteis as séries galvânicas práticas, construídas com base na medida experimental de potenciais de corrosão de metais imersos num dado meio corrosivo (Fig.34). Figura 34. Série galvânica prática de metais em água do mar fluindo de 2,4 a 4,0m/s por 5 a 15 dias à temperatura de 5 a 30oC (ASTM G82, 1993). 8.2 Corrosão eletrolítica A corrosão eletrolítica ocorre quando uma corrente externa é aplicada a um dos metais em seus arranjos galvânicos simples ou complexos (Fig.35). A corrosão eletrolítica não depende de potenciais galvânicos dos metais, mas sim da direção e da intensidade de corrente aplicada, de forma que o seu comportamento normalmente anódico ou catódico pode ser completamente modificado. Figura 35. Corrosão eletrolítica dos metais em seus pares galvânicos. -1,6 -1,4 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 19 17 18 39 30 25 24 23 22 21 20 29 28 27 26 36 35 34 33 32 31 38 37 1 - Mg 6 - Aço doce, Fe fundido 11 - Sn 2 - Zn 7 - Aço baixa liga 12 - Cu 3 - Be 8 - Fe fundido austenítico ao Ni 13 - Solda 50Pb-50Sn 4 - Ligas de Al 9 - Bronze de Al 14 - Latões almirantado, alumínio 5 - Cd 10 - Latões naval, amarelo, vermelho 15 - Bronze de Mn 16 - Bronze de Si 21 - 80Cu-20Ni 26 - Liga Ni-Cr 600 17 - Bronzes de Sn 22 - Aço inox. 430 27 - Ligas Ag p/brasagem 18 - Aços inox. 410, 416 23 - Pb 28 - Ni 200 19 - Ni-Ag 24 - 70Cu-30Ni 29 - Ag 20 - 90Cu-10Ni 25 - Bronze Ni-Al 30 - Aços inox. 302, 304, 321, 347 31 - Ligas Ni-Cu 400, K-500 34 - Liga Ni-Fe-Cr 825 32 - Aços inox. 316, 317 35 - Liga B Ni-Cr-Mo-Cu-Si 33 - Aços inox. 20, fundida e trabalhada 36 - Ti 37 - Liga C Ni-Cr-Mo 38 - Pt 39 - Grafita P o te n ci al ( V ) Reação anódica: Zn→Zn2++2e Reação catódica: 2H++2e→H2 A Zn C Fe e C Zn A Fe I e Reação anódica: Fe→Fe2++2e Reação catódica: 2H++2e→H2 Meio ácido não aerado Ee o(Fe)= −0,440V Corrosão galvânica é nula: Ig=0 Reação anódica: Zn→Zn2++2e Reação catódica: H2O+1/2O2+2e→2OH- Zn Zn C Zn A Zn I e Meio neutro aerado Ee o(Zn)= −0,763V Ig=0 Ig≠0 73 9 Ensaios de corrosão 9.1 Medida de potencial de corrosão Conforme foi mostrado antes, quando um metal é imerso num meio de baixa resistividade elétrica, ele assume um potencial irreversível intermediário entre os potenciais reversíveis das reações anódica e catódica, designado como potencial de corrosão (Ecor). Nos diagramas de corrosão, o potencial de corrosão é dado pela interseção da curva de polarização anódica com a curva de polarização catódica. O potencial de corrosão é um dos parâmetros eletroquímicos de mais fácil determinação experimental tanto em laboratório como em campo. A Fig.36 apresenta o arranjo experimental para a determinação do potencial de corrosão em laboratório de um metal num meio corrosivo, que inclui: - um multímetro de alta impedância para extinguir a passagem de corrente na célula; - um eletrodo de trabalho de um metal a ser examinado (ET); - um eletrodo de referência (ER), mantido bem próximo (1-2mm) da superfície de ET; - uma célula termostática com a solução eletrolítica. Figura 36. Arranjo experimental para a determinação do potencial de corrosão em laboratório. A Fig.37 apresenta o arranjo experimental para a determinação do potencial e da corrente de corrosão galvânica de Zn e Cu envolvidos em seu par galvânico e imersos em uma solução eletrolítica que inclui: - dois multímetros de alta impedância para extinguir a passagem de corrente entre ET e ER; - dois eletrodos de trabalho de Zn (ET1) e de Cu (ET2); - dois eletrodos de referência (ER), mantidos bem próximo (1-2mm) da superfície de ET1 e ET2; - uma célula termostática com a solução eletrolítica. Figura 37. Arranjo experimental para medir o potencial e a corrente de corrosão galvânica de Zn e Cu. ET1 Zn ER ET2 Cu V V ER A ET ER Multímetro 74 Na Fig.38 está apresentado o diagrama combinado de corrosão galvânica de Zn e Cu imersos em água deionizada e em uma solução de 0,5M de NaCl, à temperatura de 25oC. Figura 38. Diagrama combinado de corrosão galvânica de Zn e Cu. Em muitas aplicações, o potencial de corrosão é medido em função do tempo, fornecendo informações relevantes sobre o desenvolvimento dos processos corrosivos, especificamente no estágio inicial de corrosão. Na Fig.39 está apresentada a curva de variação do potencial de corrosão com o tempo de zinco imerso numa solução de hidróxido de cálcio saturada, evidenciando que após 15 horas de exposição o zinco sofre a passivação. Figura 39. Passivação de zinco imerso numa solução de hidróxido de cálcio saturada. Na Fig.40 está apresentada a curva de variação do potencial de corrosão com o tempo de um aço inoxidável imerso em uma solução de 5% de HNO3, evidenciando que após 40 horas de exposição o aço sofre a transpassivação por dissolução uniforme da película passiva. Figura 40. Transpassivação de um aço inoxidável por dissolução uniforme da película passiva. -200 0 200 400 600 0 40 80 120 160 horas 5%HNO3 25oC P o te n ci al d e co rr o sã o ( m V ) -1500 -1300 -1100 -900 -700 -500 0 12 16 20 24 horas Ca(OH)2xH2O 25oC P o te n ci al d e co rr o sã o ( m V ) -1,5 -1,0 -0,5 0 10-6 10-5 10-4 10-3 I(A) Cu Zn E ( m V ; E R = P t) Água deionizada 0,5M NaCl Zn Cu 75 A Fig.41 apresenta o arranjo experimental para a determinação do potencial de corrosão em campo de um metal exposto ao ar atmosférico, que inclui: − um multímetro de alta impedância para extinguir a passagem de corrente no sistema; − um metal a ser examinado (Me); − um eletrodo de referência (ER); − uma ponte salina (PS); − um fio de cobre (Cu) soldado ao metal. Figura 41. Arranjo experimental para medir o potencial de corrosão atmosférica em campo. Na Fig.42 estão apresentadas as curvas
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