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18 CAPÍTULO 2 CORROSÃO QUÍMICA A corrosão química se manifesta em muitas aplicações, principalmente nas indústrias química e metalúrgica (reatores químicos, fornos de incineração, extração, refino, tratamento térmico), na produção e transformação de energia (turbinas a gás, câmaras de combustão, motores a combustão). A forma mais freqüente de corrosão química é a oxidação de metais pelo oxigênio gasoso que apresenta alta afinidade química quase a todos os metais especificamente em elevadas temperaturas. Os produtos de interação química entre o oxigênio e os metais são os respectivos óxidos. Dependendo das suas propriedades, os óxidos formados em superfície metálica podem ter um valor protetor ou não. 1 Termodinâmica de oxidação A tendência termodinâmica de metais a serem oxidados pelo oxigênio (∆G) depende basicamente da temperatura e da pressão parcial ou total do oxigênio mantida em fase gasosa. 1.1 Influência da temperatura A influência da temperatura absoluta (T) na variação de energia livre da reação de oxidação de um metal (Me+O2=MeO2), sob a pressão do oxigênio de 1atm, verifica-se por meio da equação de Gibbs- Helmholts generalizada: TSHG oT o T o T ∆−∆=∆ (1) Nesta equação, as variações de entalpia )( oTH∆ e entropia )( o TS∆ da reação de oxidação podem ser expressas através de variações de entalpia padrão ( )( 2298298 MeOHH oo ∆=∆ ) e entropia padrão ( [ ])()()( 22982982298298 OSMeSMeOSS oooo +−=∆ ) que não dependem da temperatura e de variação de capacidade calorífica ( [ ])()()( 22 OCMeCMeOCC opopopop +−=∆ ) que depende da temperatura, pois dependem da temperatura as capacidades caloríficas do óxido, do metal e do oxigênio: ∫ ∆+∆=∆ T o p oo T dTCHH 298 298 (2) ∫ ∆ +∆=∆ T o poo T dTT C SS 298 298 (3) Substituindo oTH∆ e o TS∆ na equação de Gibbs-Helmholts (1) e agrupando os membros, temos: { } ∆ −∆+∆−∆=∆ ∫ ∫ T T o po p ooo T dTT C TdTCTSHG 298 298 298298 (4) Substituindo oH 298∆ , oS298∆ e o pC∆ na equação (4), obtemos a equação de Gibbs-Helmholts da seguinte forma que pode ser utilizada para os cálculos termodinâmicos: [ ]{ }+−−−∆=∆ TOSMeSMeOSMeOHG oooooT )()()()( 229829822982298 [ ] [ ] −− −−−+ ∫ ∫ T T o p o p o po p o p o p dTT OCMeCMeOC TdTOCMeCMeOC 298 298 22 22 )()()( )()()( (5) 19 Entretanto, nem sempre é possível resolver diretamente esta equação (5) em relação à oTG∆ , pois as funções de temperatura de capacidades caloríficas do óxido, do metal e do oxigênio são complexas ou desconhecidas. Por esta razão, os cálculos termodinâmicos de oTG∆ em função de temperatura baseiam-se na resolução aproximada desta equação (5): aproximação nula, por constante e polinomial. Aproximação nula Na aproximação nula, as capacidades caloríficas do óxido e dos reagentes são adotadas nulas para qualquer temperatura. Neste caso, é também nula a variação da capacidade calorífica de oxidação: 0)( 2 =MeOC o p 0)( =MeC o p 0)( 2 =OC o p 0=∆ opC Como as integrais são anuladas, a equação de Gibbs-Helmholtz toma a seguinte forma simplificada: [ ]TOSMeSMeOSMeOHG oooooT )()()()( 229829822982298 −−−∆=∆ (6) Aproximação por constante Na aproximação por constante, as capacidades caloríficas do óxido e dos reagentes são adotadas constantes para um determinado intervalo de temperatura. Neste caso, é também constante a variação da capacidade calorífica de oxidação: aMeOCop =)( 2 bMeC o p =)( cOC o p =)( 2 constcbaCop =−−=∆ )( Resolvendo as integrais, obtemos a equação de Gibbs-Helmholtz da seguinte forma: [ ]{ } ( ) −−−−+−−−∆=∆ 298 ln298)()()()()( 229829822982298 T TTcbaTOSMeSMeOSMeOHG oooooT (7) Aproximação polinomial Na aproximação polinomial, as funções de temperatura de capacidades caloríficas do óxido e dos reagentes são adotadas polinomiais para um determinado intervalo de temperatura. Neste caso, é também polinomial a variação da capacidade calorífica de oxidação: 2 2222 )( −++= TcTbaMeOC MeOMeOMeO o p 2)( −++= TcTbaMeC MeMeMe o p 2 2222 )( −++= TcTbaOC OOO o p ∑ ∑ ∑ −++=∆ 2TcTbaC iiiop onde: ∑ ia ∑ ib e ic∑ são as somas algébricas das constantes a, b e c envolvidas nos polinômios das capacidades caloríficas do óxido, do metal e do oxigênio. Resolvendo as integrais e agrupando os membros para A, B e C, obtemos a equação de Gibbs- Helmholtz da seguinte forma: [ ]{ } { }TCcBbAaTOSMeSMeOSMeOHG oooooT ++−−−−∆=∆ )()()()( 229829822982298 (8) onde: 1 298 298 ln −+= T T A ; 298 2 298 2 2 −+= T T B ; 2 298 3 298 6 232 −+= T T C Para fazer mais evidente a variação de energia livre de Gibbs )( oTG∆ de reações de oxidação de metais em função da temperatura, é mais comum apresentar os resultados dos cálculos termodinâmicos através do diagrama de Ellingham (Fig.1). Como mostra o diagrama de Ellingham, à medida que aumenta a temperatura, diminui afinidade química de metais ao oxigênio e vice-versa. 20 Figura 1. Diagrama de Ellingham simplificado de reações de oxidação de metais (pO2=1atm). 1.2 Influência da pressão A influência da pressão real do oxigênio (p) mantida em fase gasosa na variação de energia livre da reação de oxidação de um metal (Me+O2=MeO2) verifica-se por meio da equação de Vant-Hoff generalizada: p p RTG o T ln=∆ (9) onde: R – constante dos gases; T – temperatura absoluta; po – pressão de equilíbrio do oxigênio, também chamada de pressão de dissociação do óxido para que o metal oxida-se (Tab.1). Tabela 1. Pressões de dissociação dos óxidos (po) em função da temperatura. po (atm) T (K) Ag2O Cu2O PbO NiO FeO ZnO 300 10-4 10-53 - 10-75 - - 400 0,08 - - - - - 500 3 10-26 10-33 10-41 - 10-63 600 40 10-18 10-25 10-32 10-37 10-51 800 790 10-11 10-16 10-21 10-25 10-35 1000 - 10-6 10-10 10-14 10-17 10-25 1200 - 10-3 10-6 10-10 10-14 10-19 De acordo com a equação de Vant-Hoff generalizada (9), a oxidação de metais: − nunca ocorrerá, se a pressão real for igual ou menor que a pressão de equilíbrio do oxigênio p ≤ po ∆GT≥0 − ocorrerá, se a pressão real for maior que a pressão de equilíbrio do oxigênio p > po ∆GT<0 1 - Au2O3 2 - Ag2O 3 - PtO 4 - IrO2 5 - PdO 6 - CuO 7 - Cu2O 8 - PbO 9 - Co3O4 10 - NiO 11 - CoO 12 - MoO3 13 - CdO 14 - FeO 15 - Fe2O3 16 - WO3 17 - Fe3O4 18 - SnO2 19 - ZnO 20 - Mn3O4 21 - Nb2O5 22 - Cr2O3 23 - Ta2O5 24 - V2O5 25 - TiO2 26 - TiO 27 - ZrO2 28 - Al2O3 29 - BeO 30 - MgO 21 Quando a pressão real do oxigênio em fase gasosa é mantida de 1atm, a equação de Vant-Hoff toma a seguinte forma particular: oo T pRTG ln=∆ (10) Conforme a equação de Vant-Hoff particular (10), a oxidação de metais: − nunca ocorrerá, se a pressão de equilíbrio do oxigênio for igual ou maior que 1atm po ≥ 1atm oTG∆ ≥0 − ocorrerá, se a pressão de equilíbrio do oxigênio for menor que 1atm po < 1atm oTG∆ <0 A representação gráfica da equação de Vant-Hoff particular (10), em coordenadas ln po )( oTG∆ versus 1/T, é conhecida como o diagrama de Ellingham-Richardson (Fig.2). Como mostra o diagrama de Ellingham-Richardson, à medida que aumenta a temperatura, aumenta pressão de equilíbrio do oxigênio e diminui afinidade química de metais ao oxigênio e vice versa. Figura 2. Diagrama de Ellingham-Richardson simplificado de reações de oxidação de metais (p=1atm). 1 - Au2O3 2 - Ag2O 3 - PtO 4 - CuO 5 - PbO 6 - NiO 7 - CoO 8 - FeO 9 - Fe2O3 10 - Fe3O4 11 - ZnO 12 - Nb2O5 13 - Cr2O3 14 - TiO2 15 - Al2O3 16 - BeO T 22 2 Cinética de oxidação Dependendo da temperatura, a cinética de oxidação de metais pode serdecomposta por três etapas, tais como oxidação inicial, oxidação estacionária e oxidação catastrófica que distinguem-se por seus mecanismos particulares, leis cinéticas e propriedades dos óxidos formados (Tab.2). Tabela 2. Cinética de oxidação de metais em função da temperatura (ToC) e espessura do óxido (h). T - qualquer T<200 200<T<300 300<T<500 500<T<800 T>800 Oxidação inicial Oxidação estacionária Oxidação catastrófica Mecanismo topoquímico Mecanismo difusivo Mecanismo combinado Lei linear Lei logarítmica inversa Lei logarítmica direta Lei cúbica Lei parabólica Lei paralinear/linear h<10nm h=10-100nm h=100-500nm h=0,5-100µm h=0,1-0,5mm h>0,5mm Óxidos descontínuos Óxidos contínuos Óxidos defeituosos não protetores altamente protetores protetores semiprotetores não protetores 2.1 Oxidação inicial A oxidação inicial é a etapa primária na cinética de oxidação quando na superfície metálica limpa se forma uma fina película descontínua do óxido. A oxidação inicial procede através dos seguintes processos particulares (Fig.3): 1) Adsorção física do oxigênio molecular na superfície metálica. 2) Dissociação do oxigênio molecular adsorvido para o oxigênio atômico. 3) Reação de oxi-redução química entre os reagentes iônicos. 4) Nucleação do óxido de tamanho superior ao crítico. 5) Crescimento preferencialmente lateral dos núcleos (germes) de óxido. 6) Coalescência dos núcleos e formação de uma fina película descontinua do óxido. Entre estes processos particulares, o processo mais lento de todos de maior energia de ativação é a reação de oxi-redução (3) que então controla a velocidade total de oxidação inicial. A cinética de oxidação inicial obedece à lei linear (m=klτ), tendo a velocidade (υ=kl) que não depende do tempo (Fig.4). Figura 3. Representação esquemática do mecanismo topoquímico de oxidação inicial. 5000x 30000x Zr/ZrO2 400oC 5-15s 5) MeO 4) MeO 2) O2→2O 1) O2 3) Me2++O2−→MeO 6) MeO O2− Me2+ Metal 23 Figura 4. Cinética linear de oxidação inicial de um metal. 2.2 Oxidação estacionária A oxidação estacionária ocorre quando a superfície metálica já está recoberta com uma película contínua do óxido. A oxidação estacionária procede através dos seguintes processos particulares (Fig.5): 1) Adsorção física do oxigênio molecular na superfície do óxido. 2) Dissociação do oxigênio molecular adsorvido para o oxigênio atômico. 3) Reação parcial de oxidação do metal na interface interna para os cátions metálicos. 4) Difusão de cátions metálicos no óxido da interface interna para a interface externa. 5) Transferência de elétrons no óxido da interface interna para a interface externa. 6) Reação parcial de redução do oxigênio atômico na interface externa para os ânions bicarregados. 7) Difusão de ânions do oxigênio no óxido da interface externa para a interface interna. 8) Reação de oxi-redução química entre os reagentes iônicos e nucleação do óxido. 9) Crescimento do óxido dentro da camada de óxido, na interface interna ou interface externa, dependendo da velocidade de difusão dos reagentes iônicos. Entre estes processos particulares, o processo mais lento de todos de maior energia de ativação é a difusão de cátions metálicos (4), ou de ânions do oxigênio (7), que então controla a velocidade total de oxidação estacionária. Figura 5. Representação esquemática do mecanismo difusivo de oxidação estacionária. ZrO2 Zr 700oC 500x Fe2O3-γ Fe 150oC 2000x V el o ci d ad e, υ 0 τ υ = kl 0 τ m = kl τ T - qualquer h<10nm G an h o d e m as sa , m 3) Me→Me2++2e 6) O+2e→O2− 5) 2e 4) Me2+ Interface externa 9) MeO 2) O2→2O 1) O2 Óxido 7) O2− 8) Me2++O2−→MeO Interface interna Metal 24 A cinética de oxidação estacionária pode seguir à lei logarítmica inversa, à lei logarítmica direta, à lei cúbica e à lei parabólica, dependendo da temperatura (Tab.1) e da força motriz que estimula a difusão de reagentes iônicos através da camada de óxido contínua – ativação térmica ou campo elétrico. Segundo a teoria de oxidação desenvolvida por Wagner, o efeito estimulante de ativação térmica na difusão clássica de reagentes no óxido (D=Doexp(-Q/RT)) é mais pronunciado a altas temperaturas. Segundo a teoria de oxidação desenvolvida por Cabrera e Mott, a difusão de reagentes iônicos no óxido a baixas temperaturas pode ser essencialmente estimulada pelo campo elétrico (E) que se estabelece no óxido devido à transferência de elétrons da interface interna para a interface externa. Lei logarítmica inversa A lei logarítmica inversa de oxidação é observada em temperaturas inferiores, aproximadamente, a 200oC, tendo a velocidade que diminui hiperbolicamente com o tempo (Fig.6,7). Em temperaturas de oxidação tão baixas, o efeito de ativação térmica na difusão de reagentes no óxido é desprezível. Entretanto, no óxido muito fino em sua espessura, a difusão de reagentes iônicos é essencialmente estimulada pelo campo elétrico que surge devido à transferência rápida de elétrons, por mecanismo de túnel, o que gera um grande gradiente de potencial elétrico, da ordem de ∇ E=106V/cm. Desta maneira, a lei logarítmica inversa de crescimento da camada de óxido é atribuída exclusivamente ao efeito de campo elétrico na difusão de reagentes iônicos (com participação desprezível de ativação térmica). Figura 6. Cinética logarítmica inversa de oxidação estacionária de um metal. Figura 7. Curvas cinéticas logarítmicas inversas de oxidação estacionária de Cu e Fe. Lei logarítmica direta A lei logarítmica direta de oxidação é observada em temperaturas entre, aproximadamente, 200oC e 300oC, tendo a velocidade que diminui hiperbolicamente com o tempo (Fig.8,9). Neste intervalo de temperatura, o crescimento da camada de óxido mais grossa, comparando com a lei logarítmica inversa, é atribuído ao efeito estimulante de ativação térmica na difusão de reagentes iônicos que começa a prevalecer sobre o efeito do campo elétrico. h = (1−kli lnτ)−1 υ = kli(1−kli lnτ) −2τ −1 T<200oC h=10−100nm V el o ci d ad e, υ 0 τ 0 τ E sp es su ra d o ó xi d o , h 0 10 20 30 40 horas 195oC 50oC 100oC Cu→CuO p(O2)=1atm 60 50 40 30 20 10 h ( n m ) 200oC 150oC 50oC Fe→Fe2O3-γ 60 50 40 30 20 10 h ( n m ) p(O2)=1atm 0 10 20 30 40 horas 25 Figura 8. Cinética logarítmica direta de oxidação estacionária de um metal. Figura 9. Curvas cinéticas logarítmicas diretas de oxidação estacionária de Cr e Fe. Lei cúbica A lei cúbica de oxidação é observada em temperaturas entre, aproximadamente, 300oC e 500oC, tendo a velocidade hiperbolicamente diminuída com o tempo (Fig.10,11). Neste intervalo de temperatura, o crescimento da camada de óxido mais grossa, comparando com a lei logarítmica direta, é atribuído ao efeito estimulante de ativação térmica na difusão de reagentes iônicos com pouca influência do campo elétrico. Figura 10. Cinética cúbica de oxidação estacionária de um metal. Figura 11. Curvas cinéticas cúbicas de oxidação estacionária de Ni e Fe. h = kld ln(1+τ) υ = kld(1+τ)−1 200o<T<300o h=100−500nm V el o ci d ad e, υ 0 τ 0 τ E sp es su ra d o ó xi d o , h Cr→Cr2O3 300oC 250oC 220oC 300oC 250oC 220oC Fe→Fe2O3-γ + Fe2O3-α h ( n m ) p(O2)=1atm p(O2)=1atm 600 500 400 300 200 100 h ( n m ) 0 10 20 30 40 horas 0 10 20 30 40 horas600 500 400 300 200 100 h3 = kc τ υ = (kc 1/3/3) τ−2/3 300o<T<500o h=0,5−100µm V el o ci d ad e, υ 0 τ 0 τ E sp es su ra d o ó xi d o , h 350oC 400oC 500oC Ni→NiO-β 0 1 2 3 4 5 horas 90 60 30 0 400oC 350oC 500oC Fe→Fe2O3-α + Fe3O4 p(O2)=1atm p(O2)=1atm h (µ m ) h (µ m ) 90 60 30 0 0 1 2 3 4 5 horas 26 Lei parabólica A lei parabólica de oxidação é observada em temperaturas entre, aproximadamente, 500oC e 800oC, tendo a velocidade hiperbolicamente diminuída com o tempo (Fig.12,13). Neste intervalo de temperatura, o crescimento da camada de óxido mais grossa, comparando com a lei cúbica, é atribuído exclusivamente ao efeito de ativação térmica sem nenhuma influência do campo elétrico. A teoria da lei parabólica de oxidação foi desenvolvida por Wagner com base nos mecanismos clássicos de difusão de reagentes, tendo como força motriz, além da temperatura, um gradiente de concentração de reagentes. Figura 12. Cinética parabólica de oxidação estacionária de um metal. Figura 13. Curvas cinéticas parabólicas de oxidação estacionária de Cr e Fe. 2.3 Oxidação catastrófica A oxidação catastrófica é observada em altas temperaturas superiores, aproximadamente, a 800oC. Em temperaturas tão altas, na superfície metálica se forma uma camada de óxido muito defeituosa com uma grande quantidade de várias imperfeições estruturais e reticulares (Fig.14) que não previne o acesso fácil do oxigênio ao metal. Além disso, esta camada de óxido é de baixa aderência à superfície metálica e, quando destaca-se, expõe o metal ao novo ataque corrosivo. Figura 14. Morfologia de oxidação catastrófica de Fe, Zr e Ti. υ = (kc1/2/2) τ −1/2 TiO2/Ti 1200 oC 5h ZrO2/Zr 1000 oC 1h Fe2O3/Fe 900 oC 2h h2 = kc τ 500o<T<800o h=0,1−0,5mm V el o ci d ad e, υ 0 τ 0 τ E sp es su ra d o ó xi d o , h 700oC 600oC 800oC Fe→Fe2O3-α + Fe3O4 + FeO 600oC 700oC 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 800oC Cr→Cr2O3 0 1 2 3 4 5 horas h ( m m ) p(O2)=1atm p(O2)=1atm 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 h ( m m ) 0 1 2 3 4 5 horas 27 A cinética de oxidação catastrófica pode seguir à lei paralinear ou à lei linear, dependendo da temperatura e do mecanismo que predomina na oxidação - difusivo ou topoquímico (Fig.15): menores temperaturas; mecanismo difusivo; lei paralinear (2>x>1) mx = kpl τ maiores temperaturas; mecanismo topoquímico; lei linear (x=1) mx = kl τ Figura 15. Oxidação catastrófica de Zr a 900 e 1000oC. Na oxidação catastrófica isotérmica de alguns metais (Fig.16), pode ser observada uma mudança sucessiva na potência da lei cinética paralinear (x=1,5→x=1,1), atribuída ao aumento de quantidade de defeitos na camada de óxido com o tempo de oxidação. Figura 16. Oxidação catastrófica de Cr a 1075 e 1200oC. A oxidação catastrófica linear e paralinear pode ser observada também em temperaturas inferiores a 800oC, quando os metais oxidam-se para os óxidos descontínuos (K2O; Na2O; BaO; MgO; Fig.17), voláteis (WO3; MoO3), fusíveis (MgO2-90 oC; CrO3-190 oC) ou contínuos, mas extremamente defeituosos. Figura 17. Oxidação catastrófica de Mg a baixas temperaturas. G an h o d e m as sa , m ( m g /c m 2 ) 0 10 20 30 40 50 horas 4 3 2 1 0 550oC 530oC 500oC Mg→MgO p(O2)=1atm 0 5 10 15 20 25 horas 60 50 40 30 20 10 0 G an h o d e m as sa , m ( m g /c m 2 ) Zr→ZrO2 1000oC m=klτ 800oC m2=kpτ 900oC m1,5=kplτ p(O2)=1atm 30 25 20 15 10 5 0 G an h o d e m as sa , m ( m g /c m 2 ) Cr→Cr2O3 1200oC m=klτ 1075oC 800oC m2=kpτ 0 5 10 15 20 25 horas mx=kplτ p(O2)=1atm x=1,1 x=1,5 28 A cinética de oxidação é essencialmente dependente, além da temperatura, de uma série das propriedades dos óxidos que os metais produzem em sua superfície. Entre estas propriedades podem ser destacadas algumas que apresentam uma influência mais pronunciada na oxidação de metais, tais como: continuidade/descontinuidade dos óxidos; tensões internas atuantes nos óxidos; epitaxia dos óxidos; imperfeições estruturais presentes nos óxidos. 3 Continuidade/descontinuidade dos óxidos A possibilidade de formação dos óxidos contínuos e descontínuos verifica-se por meio do critério de Pilling-Bedwordth que compara o óxido e o metal por seus volumes molares (Tab.3): Me Ox PB Vm V C = onde: VOx - volume de um mole do óxido; VMe - volume de um mole do metal; m - número de moles do metal necessário para formar um mole do óxido. Quando CPB<1, os óxidos são descontínuos e, portanto, não protetores. Os metais que produzem estes óxidos sofrem a oxidação catastrófica a qualquer temperatura, seguindo à lei linear e paralinear. Quando 1≤≤≤≤CPB≤≤≤≤1,5, os óxidos são contínuos e altamente protetores. Os metais que produzem estes óxidos sofrem a oxidação estacionária muito lenta, seguindo à lei logarítmica inversa e logarítmica direta. Quando 1,5≤≤≤≤CPB≤≤≤≤2, os óxidos são contínuos e protetores (CPB→1,5) ou semiprotetores (CPB→2). Os metais que produzem estes óxidos sofrem a oxidação estacionária lenta, seguindo à lei cúbica ou parabólica. Quando CPB>>>>2, os óxidos são contínuos, mas muito defeituosos, e não protetores. Os metais que produzem estes óxidos sofrem a oxidação catastrófica, seguindo à lei linear ou paralinear. Tabela 3. Critério de Pilling-Bedworth de alguns óxidos ( *- óxido volátil). Óxido CPB Óxido CPB Óxido CPB Óxido CPB Óxido CPB K2O 0,48 CdO 1,21 VO 1,51 MnO 1,79 Fe2O3 2,14 Li 2O 0,57 Bi2O3 1,22 PtO 1,56 V2O3 1,82 Mn3O4 2,15 Na2O 0,59 CeO2 1,22 ZnO 1,56 CoO 1,86 Co2O3 2,46 CaO 0,64 GeO2 1,23 ZrO2 1,56 NbO2 1,87 Ta2O5 2,50 BaO 0,73 Al2O3 1,28 Ag2O 1,58 UO2 1,96 Nb2O5 2,68 MgO 0,81 PbO 1,31 Cu2O 1,64 Co3O4 2,01 V2O5 3,19 SrO2 0,82 SnO2 1,32 NiO 1,66 Cr2O3 2,07 MoO3 * 3,30 Ta4O 1,05 PbO2 1,37 BeO 1,67 WO2 2,08 WO3 * 3,35 La2O3 1,10 NbO 1,37 CuO 1,72 Fe3O4 2,10 ReO3 * 3,38 Se2O3 1,19 Y2O3 1,39 TiO2 1,73 MoO2 2,10 CrO3 5,10 TiO 1,20 Ti2O3 1,46 FeO 1,76 Sb2O5 2,12 OsO4 * 6,15 4 Tensões internas nos óxidos Durante o crescimento do óxido contínuo e aderente, neste óxido surgem as tensões internas de compressão e/ou de tração e numa fina camada do metal surgem as tensões internas de tração, pois o metal resiste à expansão do óxido de maior volume molar sobre a sua superfície. Dependendo do critério de Pilling-Bedworth, as tensões geradas podem provocar o aparecimento de imperfeições estruturais e porosidade no óxido, a perda parcial ou total de adesão (deslocamento) e a perda de coesão (fratura) do óxido, levando à aceleração de oxidação. 29 Quando 1≤≤≤≤CPB≤≤≤≤1,5, as tensões (σ) geradas no óxido são menores que a adesão (σ<σad) e coesão (σ<σco) do óxido (Fig.18). Estas tensões de baixo nível não provocam nem perda de aderência, nem perda de coesão, mas mantêm o óxido com maior quantidade de imperfeições estruturais, promovendo a oxidação mais rápida do metal devido à difusão mais rápida de reagentes. Neste caso, pode ocorrer uma mudança na cinética de oxidação, por exemplo, a oxidação estacionária de um metal a 450oC vai seguir à lei parabólica, mas não à lei cúbica. Observa-se também que o metal mais plástico (Ti) é mais resistente à oxidação, comparando com o metal menos plástico (Nb),uma vez que reduz as tensões atuantes no óxido devido ao escoamento plástico em fina camada superficial sujeita às tensões de tração. Figura 18. Distribuição de tensões no óxido (1≤CPB≤1,5) e no metal e efeito de plasticidade de metais na sua resistência à oxidação. Quando 1,5≤≤≤≤CPB≤≤≤≤2, as tensões (σ) geradas no óxido são próximas à adesão (σ≈σad), mas menores que a coesão (σ<σco) do óxido (Fig.19). Estas tensões provocam a formação de poros na interface metal/óxido naqueles locais onde estão mais concentradas e superam a adesão. À medida que o óxido cresce e interface move-se no interior do metal, os poros se incorporam no óxido, promovendo a difusão mais rápida de reagentes e, portanto, a oxidação mais rápida do metal. Figura 19. Efeito de porosidade do óxido (1,5≤CPB≤2) na resistência à oxidação de metais. Quando CPB>>>>2, as tensões (σ) geradas no óxido são maiores de adesão (σ>σad) e próximas à coesão (σ≈σco) do óxido (Fig.20). Estas tensões provocam perda parcial ou total de adesão (deslocamento) do óxido (Ta/Ta2O5), bem como a fratura do óxido (Fe/Fe3O4) naqueles locais onde as tensões de tração estão mais concentradas e superam a resistência mecânica do óxido. Neste caso, os metais sofrem a oxidação catastrófica que se manifesta a temperaturas inferiores a 800oC. Figura 20. Efeito de deslocamento e fratura do óxido (CPB>2) na resistência à oxidação de metais. Ti/TiO Nb/NbO σc σt σ<σad σ<σco Metal Co/CoO σc σt σ≈σad σ<σco Metal Ni/NiO Fe/Fe3O4 Ta/Ta2O5 σc σt σ>σad σ≈σco Metal 30 5 Epitaxia dos óxidos O metal e o óxido produzido pelo metal distinguem-se tanto por tipo quanto por parâmetros de rede cristalina, ou seja, não são as fases cristalograficamente semelhantes. Durante a oxidação, estas fases dissimilares tendem adaptar suas redes cristalinas de tal modo que a interface seja de menor nível de tensões atuantes, isto é, mais aderente (mais epitaxial). A adaptação cristalográfica entre o óxido e o metal só será possível se o óxido diminuir parâmetros de rede cristalina e o metal aumentar parâmetros de rede cristalina. Se a diferença dos parâmetros (translações) de redes cristalinas do óxido e do metal for muito grande, a adaptação será quase impossível, a interface não será aderente e o metal não será rigorosamente protegido pelo próprio óxido. Desta maneira, a semelhança cristalográfica de redes cristalinas do óxido e do metal predetermina a resistência cinética de metais à oxidação, sendo verificada por meio do critério epitaxial que compara o óxido e o metal por translações mais próximas de suas redes cristalinas (Fig.21): Ox MeOx E a aa C − = onde: aOx e aMe - translações mais próximas das redes cristalinas do óxido e do metal. Quando CE<<<<0,1, a interface é altamente epitaxial (altamente aderente). O óxido que mantém em relação ao metal a interface altamente epitaxial é altamente protetor. Quando 0,1≤≤≤≤CE≤≤≤≤0,2, a interface é epitaxial (aderente). O óxido que mantém em relação ao metal a interface epitaxial é protetor. Quando 0,2≤≤≤≤CE≤≤≤≤0,3, a interface é semiepitaxial (semiaderente). O óxido que mantém em relação ao metal a interface semiepitaxial é semiprotetor. Quando CE>0,3, a interface não é epitaxial (não é aderente). O óxido que não mantém em relação ao metal a interface não epitaxial não é protetor. Figura 21. Interfaces possíveis entre o óxido e o metal em função do critério epitaxial. FeO-CFCC Fe-CCC aOx=0,428nm aMe=0,286nm CE=0,332 0,2≤CE≤0,3 Interface semiepitaxial Óxido semiprotetor Oxidação rápida CE<0,1 Interface altamente epitaxial Óxido altamente protetor Oxidação muito lenta CE>0,3 Interface não epitaxial Óxido não protetor Oxidação catastrófica 0,1≤CE≤0,2 Interface epitaxial Óxido protetor Oxidação lenta óxido óxido óxido óxido metal metal metal metal 31 6 Imperfeições estruturais nos óxidos Os óxidos que os metais produzem durante a oxidação não são estequiométricos, ou seja, são estruturalmente imperfeitos. Os óxidos que apresentam um excesso de cátions metálicos na sua rede cristalina são denominados do tipo n, e os óxidos que apresentam uma deficiência de cátions metálicos na sua rede cristalina são denominados do tipo p. Na oxidação estacionária de metais, estas imperfeições reticulares são responsáveis pela transferência de massa de reagentes através do óxido de forma que quanto maior a quantidade destas imperfeições, ou seja, mais afastado o óxido da composição estequiométrica, tanto mais intenso o fluxo de difusão de reagentes e, portanto, a velocidade de oxidação. Na oxidação estacionária de metais ligados com certos elementos de liga, os óxidos -n e -p proporcionam diferentes graus de oxidação destes metais, dependendo da relação entre as valências do metal base e elemento de liga. Óxidos-n (ZnO Al2O3 Fe2O3 Fe3O4 CdO CuO TiO2 V2O5 MgO MoO3 WO3 SiO2 Nb2O5). Na estrutura cristalina do óxido-n não ligado (Zn1+xO; HC; Fig.22a), todos os nós das subredes aniônica e catiônica são ocupados pelos ânions de oxigênio e cátions metálicos, porém alguns cátions metálicos (2Zn2+) ficam em posições intersticiais, mantendo o óxido com uma carga positiva excessiva. Para neutralizar esta carga positiva do óxido, durante a oxidação do metal não ligado, os elétrons livres passam, em quantidade equivalente, do metal para o óxido (2Zn2+=4e−). Se ao metal base (Zn2+) for adicionado o elemento de liga de menor valência (Li+), a oxidação deste metal será estimulada, comparando com o mesmo não ligado, por seguintes razões (Fig.22b). − durante a oxidação, os cátions de elemento de liga (2Li+) se incorporam na rede cristalina do óxido, mantendo o óxido com uma carga positiva excessiva; − para neutralizar esta carga positiva, na subrede catiônica do óxido aparecem lacunas catiônicas em quantidade em duas vezes menor que a quantidade de cátions de elemento de liga (1Lc2−=2Li+); − a metade de cátions de elemento de liga ocupa as lacunas catiônicas (1Li+→1Lc2−) e outra metade substitui os cátions do metal base nos nós da sua subrede catiônica (1Li+→1Zn2+) que passam para as posições intersticiais; − a quantidade destas imperfeições intersticiais aumenta, comparando com o óxido não ligado. Se ao metal base (Zn2+) for adicionado o elemento de liga de maior valência (Cr3+), a oxidação deste metal será mais lenta, comparando com o mesmo não ligado, por seguintes razões (Fig.22c). − durante a oxidação, os cátions de elemento de liga (2Cr3+) se incorporam na rede cristalina do óxido, mantendo o óxido com uma carga positiva excessiva; − para neutralizar esta carga positiva, na subrede catiônica do óxido aparecem lacunas catiônicas em quantidade em 1,5 vezes maior que a quantidade de cátions de elemento de liga (3Lc2−=2Cr3+); − todos os cátions de elemento de liga ocupam as lacunas catiônicas (2Cr3+→2Lc2−) e o resto de lacunas catiônicas ocupam cátions intersticiais do metal base (1Zn2+→2Lc2−); − a quantidade destas imperfeições intersticiais diminui, comparando com o óxido não ligado. Figura 22. Efeito de elementos de liga na oxidação de zinco. a) Zn1+xO (2Zn 2+=4e−) c) Zn1+xO+Cr 3+ (3Lc2−=2Cr3+) b) Zn1+xO+Li + (1Lc2−=2Li+) O2− Zn2+ nos nós Elétron (e−) Lacuna catiônica (Lc2−) Li + Cr3+ Zn 2+ intersticial 32 Óxidos-p (NiO Cu2O FeO CaO CoO Ag2O5 MnO Cr2O3 SnO UO2) Na estrutura cristalina do óxido-p não ligado (Ni1-xO; CFCC; Fig.23a), todos os nós da subrede aniônica são ocupados pelos ânions de oxigênio, porém na subrede catiônica faltam alguns cátions metálicos, ou seja, estão presentes lacunas catiônicas (2Lc2−) que mantêm o óxido com uma carga negativa excessiva. Para neutralizar esta carga negativa do óxido, durante a oxidação do metal não ligado, certos cátions metálicos nos nós da subrede catiônicaaumentam sua valência positiva, deixando os elétrons de valência para o metal. Um cátion metálico de maior valência positiva pode ser considerado como um cátion de valência normal mais uma lacuna eletrônica (4Ni3+=4Ni2++4Le+). Se ao metal base (Ni2+) for adicionado o elemento de liga de menor valência (Li+), a oxidação deste metal será mais lenta, comparando com o mesmo não ligado, por seguintes razões (Fig.23b). − durante a oxidação, os cátions de elemento de liga (2Li+) se incorporam na rede cristalina do óxido, mantendo o óxido com uma carga positiva excessiva; − para neutralizar esta carga positiva, na subrede catiônica do óxido aparecem lacunas catiônicas em quantidade em duas vezes menor que a quantidade de cátions de elemento de liga (1Lc2−=2Li+); − todos os cátions de elemento de liga ocupam as lacunas catiônicas da subrede catiônica do óxido (2Li+→2Lc2−); − quantidade destas imperfeições lacunares diminui, comparando com o óxido não ligado. Se ao metal base (Ni2+) for adicionado o elemento de liga de maior valência (Cr3+), a oxidação deste metal será estimulada, comparando com o mesmo não ligado, por seguintes razões (Fig.23c). − durante a oxidação, os cátions de elemento de liga (2Cr3+) se incorporam na rede cristalina do óxido, mantendo o óxido com uma carga positiva excessiva; − para neutralizar esta carga positiva, na subrede catiônica do óxido aparecem lacunas catiônicas em quantidade em 1,5 vezes maior que a quantidade de cátions de elemento de liga (3Lc2−=2Cr3+); − todos os cátions de elemento de liga ocupam as lacunas catiônicas (2Cr3+→2Lc2−) e o resto de lacunas catiônicas não está ocupado (1Lc2−); − quantidade destas imperfeições lacunares aumenta, comparando com o óxido não ligado. Figura 23. Efeito de elementos de liga na oxidação de níquel. 7 Ensaios de oxidação Os ensaios de oxidação visam estudar a cinética de oxidação de metais em função da temperatura e pressão do oxigênio. No estudo da cinética de oxidação são utilizados os dois principais métodos: o método gravimétrico descontínuo e o método gravimétrico contínuo. O método gravimétrico descontínuo (Fig.24) consiste em pesagem periódica da amostra metálica sujeita a oxidação em uma câmara fechada onde são mantidas uma determinada temperatura e pressão do oxigênio. Ao final de um certo tempo predeterminado, a amostra é retirada, repesada e colocada de novo na câmara. Este método é indicado para estudar a cinética de oxidação prolongada de metais (dias, meses, anos). Cr3+ Li+ Lacuna eletrônica (Le+) O2− Ni 2+ nos nós Lacuna catiônica a) Ni1-xO (4Ni 3+=4Ni2++4Le+) b) Ni1-xO+Li + (1Lc2−=2Li+) c) Ni1-xO+Cr 3+ (3Lc2−=2Cr3+) 33 Figura 24. Ensaio de oxidação através do método gravimétrico descontínuo. O método gravimétrico contínuo (Fig.25) consiste em pesagem continua da amostra metálica sujeita a oxidação em uma câmara fechada onde são mantidas uma determinada temperatura e pressão do oxigênio, utilizando uma microbalança que registra a variação de massa da amostra durante a oxidação. Este método é indicado para se estudar a cinética de oxidação de curta duração (horas). Figura 25. Ensaio de oxidação através do método gravimétrico contínuo. Com base nos ensaios de oxidação pode ser determinada a energia de ativação de oxidação, ou seja, de um processo elementar mais lento de todos envolvidos no mecanismo de oxidação, utilizando a equação particular de Arrhenius que, para qualquer lei cinética, verifica a dependência exponencial entre a constante de velocidade de oxidação (k) e a temperatura absoluta (T) (Fig.28a): k=k∞ exp(−Q/RT) onde: k∞ – fator pré-exponencial; R – constante universal dos gases; Q – energia de ativação. O procedimento de determinação de energia de ativação consiste em: − Obter as curvas cinéticas de oxidação em coordenadas variação de massa do metal oxidado (m) versus tempo de oxidação (τ), no mínimo, para três diferentes temperaturas (T1<T2<T3), mantendo a pressão do oxigênio constante (Fig.26). − Retificar as curvas cinéticas primárias (m-τ) em coordenadas apropriadas, por exemplo, para a lei cinética parabólica m2-τ (Fig.27). − Determinar as constantes de velocidade de oxidação que correspondem às tangentes dos ângulos de inclinação das retas cinéticas m2-τ (Fig.27). − Construir o gráfico de Arrhenius em coordenadas lnk-1/T (Fig.28). − Determinar a energia de ativação de oxidação que corresponde à tangente do ângulo de inclinação da reta de Arrhenius (Fig.28b). Sistema de medição Me Me Limpeza, medida de dimensões e de massa S mo m=∆m/S Microbalança T=const p(O2)=const T=const p(O2)=const Me Limpeza, medida de dimensões e de massa Me Repesagem mi S mo m=∆m/S Me 34 Figura 26. Curvas cinéticas primárias de oxidação. Figura 27. Curvas cinéticas retificadas de oxidação. Figura 28. Gráficos de Arrhenius de oxidação: a) exponencial; b) linear. 8 Oxidação de metais Como foi mostrado, a cinética de oxidação de metais puros pelo oxigênio gasoso puro à pressão constante de 1atm depende basicamente da temperatura e propriedades dos óxidos formados durante a oxidação. Generalizando muitos casos de oxidação, os metais podem ser classificados, em função das propriedades de seus óxidos, em seis grupos corrosivos de distintos níveis de resistência cinética à oxidação (Tab.4). Tabela 4. Classificação generalizada de metais puros por sua resistência à oxidação. Grupo corrosivo Metais em ordem crescente de resistência à oxidação Propriedades dos óxidos 1 K, Na, Li, Ba, Ca, Mg, Sr Descontínuos não protetores 2 Mo, W, Ta, Re, Os, Ru, Ir Contínuos fracamente protetores 3 Mn, Fe, Ti, Zr, Nb, Co, Cu, Ni Contínuos semiprotetores 4 Zn, (Si, Ge, Se), Be, Al, Hf, Cr Contínuos protetores 5 Ag, Pt, Pd Contínuos altamente protetores 6 Rh, Au, Hg (estáveis termodinamicamente) Óxidos não se formam α1 α2 α3 k3=tgα3 k2=tgα2 k1=tgα1 T3 T2 T1 τ m2 b) lnk=lnk∞-Q/RT Q=Rtgβ β lnk∞ lnk3 lnk2 lnk1 1/T3 1/T2 1/T1 T2 T3 T1 τ m a) k=k∞exp(-Q/RT) k3 k2 k1 T1 T2 T3 35 8.1 Ferro De acordo com o diagrama de fases Ferro-Oxigênio (Fig.29), o ferro pode se combinar quimicamente com o oxigênio para os seguintes óxidos: − wustita (FeO-p), com a rede CFCC, estável em temperaturas superiores a 575oC; − magnetita (Fe3O4-n), com a rede cúbica complexa (CC), estável em quaisquer temperaturas; − hematita-γ (Fe2O3-n), com a rede cúbica complexa (CC), estável em temperaturas inferiores a 250oC; − hematita-α (Fe2O3-n), com a rede romboédrica, estável em temperaturas superiores a 250oC. Figura 29. Diagrama de fases Fe-O e redes cristalinas dos óxidos de ferro. Em função da temperatura, o ferro oxida-se para os seguintes óxidos que crescem de acordo com as seguintes leis cinéticas. T<200oC. Se forma uma fina camada de hematita-γ (Fe2O3-γ) que cresce lentamente até 100nm, seguindo à lei logarítmica inversa. 200<T<300oC. A hematita-γ transforma-se para hematita-α estável (Fe2O3-γ→Fe2O3-α). Acima de 250oC se forma somente hematita-α que cresce até 500nm, seguindo à lei logarítmica direta (Fig.30). Figura 30. Oxidação de ferro para a hematita-α. Fe2O3-α Fe FeO (CFCC) Fe3O4 (CC) Fe2O3-α (Romboédrica) 1300 1100 900 700 500 Fe 5 20 22 24 26 28 30 Teor de oxigênio (% em peso) 575 912 FeO+Fe3O4 FeO Fe3O4 Fe2O3 Fe3O4 + Fe2O3 Fe-γ+FeO Fe-α+FeO Fe-α+Fe3O4 T em p er at u ra (o C ) 36 300<T<575oC. Neste intervalo de temperatura, sob a camada dehematita-α se forma uma grossa camada de magnetita (Fig.31). O crescimento da dupla camada de hematita-α e magnetita (Fe2O3-α+Fe3O4) até 100µm segue à lei cúbica. Figura 31. Oxidação de ferro para a hematita-α e magnetita. 575<T<650oC. Neste intervalo de temperatura, sob dupla camada de hematita-α e magnetita começa a se formar uma camada de wustita (FeO). À medida que aumenta a temperatura, a lei cúbica de crescimento desta tripla camada (Fe2O3-α+Fe3O4+FeO) é gradualmente sucedida à lei parabólica. 650<T<900oC. Neste intervalo de temperatura, o crescimento da tripla camada de hematita-α, magnetita e wustita segue à lei parabólica, sendo que, a camada wustítica á mais grossa de todas (Fig.32). À medida que a temperatura aproxima-se de 900oC, a lei parabólica de crescimento da tripla camada é gradualmente sucedida a uma lei paralinear (mx = kpl τ) com a potência que aproxima-se de 1 (T→900oC x→1). Figura 32. Oxidação de ferro para a hematita-α, magnetita e wustita. T>900oC. O ferro sofre a oxidação catastrófica para hematita-α, magnetita e wustita com a estrutura extremamente defeituosa, ou seja, se forma a ferrugem não protetora (Fig.33). O crescimento da ferrugem não protetora e de baixa aderência que não previne o aceso fácil de oxigênio ao metal segue à lei linear. Figura 33. Oxidação catastrófica de ferro para a ferrugem não protetora. Fe2O3-α Fe3O4 Fe Fe2O3-α Fe3O4 FeO Fe2O3-α Fe3O4 FeO 37 8.2 Cobalto Na interação química com o oxigênio, o cobalto pode produzir, dependendo da temperatura, os seguintes óxidos: - óxido inferior (CoO-p), com a rede CFCC; - óxido intermediário (Co3O4-n), com a rede CC semelhante ao espinélio; - óxido superior (Co2O3-n), com a rede HC. A temperaturas inferiores a 300oC, em superfície metálica se forma uma fina camada do óxido superior de cobalto (Co2O3). A temperaturas entre 300 e 600oC, o óxido superior (Co2O3) antes formado sofre a transformação para o óxido inferior e o óxido intermediário (Co2O3→CoO+Co3O4) e na superfície do cobalto se formam duas camadas separadas: interna de uma mistura de Co2O3 e de CoO de menor espessura e externa de Co3O4 de maior espessura. A temperatura aproximadamente de 600 oC, o óxido superior (Co2O3) já não encontra-se na camada interna (Fig.34). A temperaturas entre 600 e 900oC, à medida que aumenta a temperatura, o óxido intermediário (Co3O4) sofre a transformação gradual para o monóxido e o cobalto (Co3O4→CoO+Co), o que leva à diminuição de espessura da camada externa de Co3O4 e ao aumento de espessura da camada interna de CoO (Fig.34). Em temperaturas superiores a 900oC e de até a temperatura de fusão de cobalto (1480oC), na superfície metálica está continuamente crescida uma grossa camada constituída de um único óxido - monóxido de cobalto CoO que não apresenta altas propriedades protetoras (Fig.35). Apesar de que o cobalto produz em baixas e altas temperaturas deferentes óxidos, isolados ou em mistura, a cinética de crescimento da camada oxidada segue a lei parabólica, mas com as constantes de velocidade de oxidação parabólica que são maiores em maiores temperaturas. Figura 34. Variação da espessura relativa dos óxidos de cobalto em função da temperatura. Figura 35. Morfologia da camada de monóxido de cobalto (CoO). h r = h (C o O )/ h (C o 3O 4) ; % 100 75 50 25 600 700 800 900 oC 100hs h(CoO) h(Co3O4) 38 8.3 Cobre De acordo com o diagrama de fases Cu-O (Fig.36), na interação química de Cu e oxigênio dois óxidos podem ser formados: - óxido cuproso (Cu2O-p), com a rede cúbica complexa; - óxido cúprico (CuO-n), com a rede monoclínica. Figura 36. Diagrama de fases Cu-O. Em função da temperatura, a oxidação de cobre segue diferentes leis cinéticas e leva à formação de diferentes óxidos, isolados ou em mistura. A temperaturas inferiores a 375oC o cobre produz uma fina película de óxido cúprico (CuO) que cresce entre 50 e 200oC, entre 200 e 300oC e entre 300 e 375oC de acordo com as leis inversa do logaritmo, logarítmica direta e cúbica, respectivamente. A temperaturas entre 375 e 400oC, sob a película de óxido cúprico (CuO), começa a crescer o óxido cuproso (Cu2O). À medida que a oxidação prossegue e o óxido cuproso (Cu2O) cresce em sua espessura, a lei cúbica é sucedida gradualmente à lei parabólica. A temperaturas entre 400 e 600oC, ocorre a oxidação do óxido cuproso (Cu2O) pelo oxigênio para o óxido cúprico (Cu2O+O2→CuO) e a diminuição de espessura de película de Cu2O e o aumento de espessura de película de CuO. Nestas temperaturas, a oxidação segue a lei parabólica. A temperaturas entre 600 e 950oC, o óxido cuproso continua a ser oxidado pelo oxigênio para o óxido cúprico (Cu2O+O2→CuO), mas, devido à intensa sublimação de CuO, sua espessura diminui com o tempo e a temperatura (Fig.37). Nestas temperaturas, a lei parabólica é sucedida gradualmente à lei linear. A temperaturas superiores a 950oC, a oxidação de cobre é catastrófica, devido à oxidação rápida do óxido cuproso (Cu2O+O2→CuO) e sublimação intensa do óxido cúprico (CuO). Figura 37. Variação da espessura relativa dos óxidos de cobre em função do tempo e da temperatura. Cu 2 4 6 8 10 12 16 20 Oxigênio, % em peso 1200 1000 600 400 C u 2 O C u O Cu+CuO Cu+Cu2O Cu2O+CuO 375o 600 700 800 900 1000 Temperatura, oC h r = h (C u O )/ h (C u 2O ), % 10 8 6 4 2 0 h(CuO) 0 1 4 8 16 32 48 Tempo, horas 24 20 16 12 8 4 3 2 1 0 h r = h (C u O )/ h (C u 2O ), % 600oC 1000oC 800oC h(CuO) 39 8.4 Níquel Na sua interação química com o oxigênio, o níquel forma um único óxido (NiO-p), com as redes romboédrica estável abaixo de 200oC (NiO-α) e CFCC estável acima de 200oC (NiO-β). A temperaturas inferiores a 200oC, a oxidação de níquel segue a lei logarítmica inversa, produzindo a modificação α de monóxido de níquel. A temperaturas entre 200 e 400oC, a oxidação de níquel segue a lei logarítmica direta e a lei cúbica, produzindo a modificação β de monóxido de níquel. A espessura de NiO-β não ultrapassa de 400nm mesmo durante um longo período de oxidação. A temperaturas entre 400 e 1100oC, o crescimento de NiO-β obedece à lei cúbica e à lei parabólica, tanto no oxigênio, como no ar seco e úmido (Fig.38). A temperaturas superiores a 1100oC e de até a temperatura de fusão de níquel (1455oC), a oxidação é catastrófica, seguindo a lei paralinear ou linear. Figura 38. Cinética parabólica de oxidação de Ni em diferentes meios e morfologia da camada oxidada. 8.5 Zinco Na sua interação química com o oxigênio, o zinco forma um único óxido (ZnO-n), com a rede HC estável de até a temperatura de fusão de zinco (420oC). A temperaturas entre 100 e 375oC, à medida que a temperatura aumenta, a oxidação de zinco segue à lei logarítmica inversa, lei logarítmica direta e lei cúbica, produzindo uma fina película de monóxido de zinco protetor (Fig.39a). A temperaturas superiores a 375oC e de até a temperatura de fusão de zinco, a oxidação de zinco obedece à lei cinética parabólica, sem passar à lei paralinear ou linear (Fig.39b). Figura 39. Morfologia de oxidação de zinco em diferentes temperaturas. ZnO Zn a) Lei logarítmica direta 200oC 24hs ZnO b) Lei parabólica 380oC 24hs Zn 102 100 10-210-4 ln k p ( k p , m g2 cm -4 h- 1 ) Ar seco Ar úmido Oxigênio (1atm) 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 1,2 (1/T)x10-3 900oC 5hs Oxigênio NiO-β 100µm Ni 1100 1000 900 800 700 600 oC 40 8.6 Alumínio O óxido principal que se forma na interação química de alumínio com o oxigênio é alumina (Al 2O3-n) que, dependendo da temperatura de oxidação, pode ser amorfa ou cristalina, com a rede hexagonal complexa estável de até a temperatura de fusão de alumínio (660oC). A temperaturas inferiores a 450oC, se forma a alumina amorfa lentamente crescida de acordo com a lei logarítmica inversa (Fig.40). A temperaturas entre 450 e 550oC, à medida que a oxidação prossegue e a alumina amorfa se cristaliza, a lei logarítmica inversa é sucedida à lei logarítmica direta (Fig.40). A temperaturas entre 550 e 600oC, o alumínio produz o óxido cristalino que cresce obedecendo à lei logarítmica direta (Fig.40). A temperaturas superiores a 600oC, o óxido cristalino cresce seguindo à lei parabólica (Fig.40). Em quaisquer temperaturas, o óxido de alumínio apresenta altas qualidades protetoras. Figura 40. Cinética de oxidação de Al em diferentes temperaturas e morfologia da camada óxidada. 8.7 Cromo O óxido principal que se forma na interação química de cromo com o oxigênio é Cr2O3-p, com a estrutura hexagonal compacta estável de até a temperatura de fusão de Cr (1845oC). A temperaturas entre 100 e 500oC, à medida que a temperatura aumenta, a oxidação de cromo segue à lei logarítmica inversa, lei logarítmica direta e lei cúbica, produzindo uma fina película de óxido de cromo que após 500 horas atinge a espessura de 500nm. A temperaturas superiores a 500oC, a lei cinética de oxidação é parabólica e a espessura de óxido de cromo não ultrapassa de 5µm mesmo após 20 horas de exposição a temperatura de 1300oC (Fig.41). Em quaisquer temperaturas, o óxido de cromo apresenta excelentes propriedades protetoras. Figura 41. Oxidação parabólica de cromo em diferentes temperaturas e morfologia da camada oxidada. Lei parabólica 650oC 100hs Al 2O3 100µm Al E sp es su ra d o ó xi d o , n m 30 20 10 0 0 5 10 15 20 25 Tempo, horas 200o 550o 500o 475o 300o 450o 600o Lei logarítmica inversa Lei logarítmica direta Lei logarítmica inversa Óxido amorfo Óxido cristalino Óxido amorfo Lei logarítmica direta Óxido cristalino Cr2O3 5µm Cr Lei parabólica 1300oC 20hs 0,7 0,8 0,9 1,0 1,1 (1/T)x10-3 10-11 10-12 10-13 10-14 ln k p ( k p , g2 cm -4 s- 1 ) 1100 1000 900 800 700 oC
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