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Chi-Kun A Respiração Taoísta Sonia Amaral ÍNDICE Falando sobre o Tao O Yin e o Yang Chi-Kun e a atualidade Taoísmo, Chi-Kun — Sistema Tao Yin — Escola Shao Lin, Na conscientização e equilíbrio podemos viver a totalidade do ser, Os oito canais físicos de entrada da energia Somos seres bipolarizados O Dr. Hwa-T'o Aceitação própria e integração através do Tao A polaridade Yin-Yang, Níveis de energia no corpo, Os pontos chineses, Os meridianos Reaprendendo o corpo (exercícios) Preparação: Cadeira de Balanço Asa da Borboleta O João-Teimoso Sowai-Shu ou Movimento do Elefante O Caracol Saudação ao Sol Saudação à Lua O Vôo da Águia A Asa da Cegonha Amarrando o Tigre O Tigre brinca e se transforma em Gatinho (expansão e recolhimento) O Tigre Respira O Dobrar do Junco O Arco e Flecha O Agachamento A Espada do Samurai A Roda D'Água A Bola de Energia Série das Três Respirações: Respiração Fluídica Respiração da Asa da Serpente Respiração da Doação Série dos Exercícios Sentados: O Deslizar da Serpente A Gangorra A Asa do Galo A Respiração da Barriga O Tigre Sentado Variação do Tigre Sentado Série dos Exercícios Deitados: O Círculo Energético O Ursinho Panda Expansão e Recolhimento A Automassagem Falando sobre a respiração Dano do cigarro Prendendo a respiração A força da vida Pequeno histórico sobre a China Confúcio e Lao-Tsé Conclusão Meditação 33 O Tao Meditação 11 O sempre O Yin e o Yang — por João Neves da Fontoura Direne Obrigada, Carl Aos meus netos Fernanda e Alexandre, que são a Esperança, o Futuro, o Amanhã. À minha mãe, companheira de todas as horas. Um "obrigada" especial a meus primeiros alunos de Chi-Kun, João Neves da Fontoura Direne, Aldair e Janete Neville Gonçalves, Paulo Paiva e Celso Antônio Pereira, que muito colaboraram para que eu continuasse meu trabalho. Sônia Amaral Jan/84 FALANDO SOBRE O TAO "Sinto a areia molhada sob meus pés. Ela é macia e sólida ao mesmo tempo. Amolda o meu pé como se sempre ali tivesse estado esperando por ele. São íntimos no tocar e no sentir. Mudamente se compreendem e se recebem. Um sustenta o outro, naturalmente, sem constrangimentos ou mágoa (não importa que forma tenha o pé). Se aceitam mutuamente, num acordo que sempre deve ter existido entre a Mãe Natureza e o Homem. Ela, areia fresca e úmida, abranda o calor dos meus pés, cansados de caminhar por tanto asfalto escaldante..." O Tao... palavra intraduzível. Um modo de ser. O Caminho do Meio, por ser a busca do equilíbrio. O Sol e a Lua. O claro e o escuro. O correr dos rios e o vôo dos pássaros. Tao... que tudo engloba, nada separa. Linguagem da natureza, tão esquecida pelo homem. Harmonia do Desequilíbrio. Yin e Yang. Céu, Terra. Tao... vivência do aqui e agora sem reações, pleno de observações. Fluência, inércia na ação. Totalidade. Complementação Homem e Universo. Tudo isso é o Tao e muito mais. Onde o sentir é mais importante que o saber. O vivenciar em lugar do relatar. A participação consciente da nossa realidade interna com a externa. Uma proposição ao Homem, de ser um todo corpo, mente, razão e emoção, na eterna dança das mutações em busca da Unidade. Tao... é para ser vivido e não falado. Não sei quando aconteceu, mas o homem separou-se da Natureza e, quando tal se deu, ele se enfraqueceu, pois cortou o contato direto com a sua maior força e suprimento de energia que é a Natureza. Se nos aliarmos ao Sol, ao Vento, às Águas e à Terra, seremos fortes e imbatíveis como seres integrantes e participantes deste contexto maravilhoso que é o Universo. Somos um Todo pertencente ao Todo. Somos Unos na Diversificação. Parte de cada gota de orvalho caindo da folha no despertar da manhã. Parte da relva que veste as colinas verdejantes que nos rodeiam. Parte das águas dos rios e dos mares. Sim, somos fortes e não sabemos usar a nossa força porque não estamos centrados em nós mesmos. A maioria não vive. É vivenciada pelos acontecimentos. A tecnologia, o intelecto, a razão de valores tão fora da realidade e que nos é imposta, nos afasta do conhecimento real do nosso Ser e amortece o potencial natural de cada um. Vamos, no dizer do Tao, fluindo no Yin e Yang, balancear os dois lados da moeda que temos de viver. Vamos conscientizar nossa atuação no cotidiano, no dia a dia, procurando uma forma de equilibrar nossa realidade interna com a que somos obrigados a viver. Vamos nos ajudar a vencer essa grande batalha que é o cotidiano. Vamos nos integrar às coisas simples da Vida, unir nosso potencial individual ao potencial universal. Somos capazes disso. Usemos nosso mental para projeções positivas. Equilibrando nosso corpo e mente, estaremos mais aptos para vencer as dificuldades. Valorizando o simples que nos é acessível, como um dia de sol, uma noite estrelada, a beleza de uma flor e o riso de uma criança, estaremos captando o bom e o positivo, o real da nossa existência. No fluir do Tao, estaremos seguindo o curso da Mãe Natureza. Não podemos eliminar a violência, a desagregação, a desarmonia, o ódio e o medo, como não podemos eliminar a noite e exigir a permanência do dia. Mas podemos nos trabalhar interiormente para melhor receber esses impactos sem deixar que eles nos derrubem. Sejamos como o junco que durante um vendaval se curva até o chão, no máximo de flexibilidade para não se quebrar e, ao passar da tormenta, se posta ereto, apontando para o céu e dançando ao sol. Sejamos flexíveis com o mundo, com os nossos semelhantes e conosco mesmos. Só assim conseguiremos trilhar o Caminho do Meio. No wu-wei, na inércia na ação, estaremos seguindo o Tao. Assim como o tigre, antes de se lançar à presa, se posta numa aparente imobilidade: no seu interior ele está pleno de concentração, atenção, força e objetividade, para atingir o seu alvo. Assim é o wu-wei. Na aparente não- ação, há um mundo de movimentação, planejamento, expectativa e elaboração. Sejamos como a água, maleável e fluídica que toma a forma do lugar que percorre, sem oferecer resistência. Vamos aprender a olhar e ver. Tocar e sentir. Sentir mais do que saber. Valorizar o existir. O simples existir e respirar. Andar e falar. Vamos nos centrar no nosso Ser e descobrir a infinita possibilidade de ação que temos. O homem de hoje não se diferencia muito do homem de 500 anos atrás. Mudou a roupagem, vestiu uma fantasia de sábio tecnológico e até atingiu a Lua, mas no fundo do seu ser as suas carências são as mesmas desde que o homem é homem. Ele precisa de amor, de compreensão, de calor humano e naturalidade de expressão. De espaço, de ar, de tempo. De comunicar e ser comunicado. De criar e atuar dentro das leis da Natureza. Em plena era da comunicação, o homem nunca esteve tão só e isolado. Inseguro e atemorizado. Pressionado e condicionado. Aprisionado nas malhas da grande rede tecnológica. Vamos usar o intelecto, sim, mas aliado ao intuir. Vamos aprender e saber para melhor sentir e executar. Botar as coisas nos seus devidos lugares, na ordem de grandeza que merecem por sua natureza. 1º. ..... Homem depois ..... Máquina 2º. ..... Ser depois ..... Saber 3º. ..... Intuir depois ..... Racionalizar 4º. ..... Participar depois..... Disputar 5º. ..... Discernir depois ..... Garantir 6º. ..... Doar depois ..... Obter 7º. ..... Integrar depois ..... Consolidar E assim fazendo, será mais fácil o fluir do Homem na eterna corrente da evolução. Estamos no limiar de uma nova era que surge e irrompe como o sol da manhã. Outros cânticos, outras falas. Sons internos que ecoarão por todo o mundo. Um mundo melhor, de mais conscientização, novas conceituações e valores. Uma descoberta do potencial total de cada um. Autoconhecimento e autogestão. Auto-equilíbrio.Autoconfiança. Esta é a proposição do Tao. A milenar China, através dos exercícios taoístas, nos mostra a possibilidade de alcançar estágios de grande desenvolvimento físico, mental, emocional e espiritual. Somos seres totais e vivemos uma parcialidade. Por que não viver a totalidade? Os fundamentos do Tao nos mostram que na simplicidade está a sabedoria. O YIN E O YANG O Universo é circular em sua forma e continuidade de movimentos, com a noite (Yin) seguindo o dia (Yang) perpetuamente. O homem pode ser considerado um pequeno Universo, desenhado e configurado com mais precisão do que qualquer máquina. Como existem no Universo as duas polaridades energéticas Yin e Yang em constante ação alternada, assim também é no ser humano. Plenitude e esvaziamento, movimento e quietude, dureza e maciez, sístole e diástole, retração e expansão. Estas forças existem no homem e precisam ser harmonizadas. Esta precisão deve ser realizada no fluir da movimentação, sendo importante não forçar nenhum movimento que o corpo tenha dificuldade em acompanhar. Quando muito jovem ou criança, ainda é tolerada uma insistência por parte do instrutor, porém, em organismos já formados, poderia haver deslocamentos internos e externos prejudiciais. Assim como o Universo flui em seu ritmo natural, assim deve ser com o homem. O próprio corpo terá sua movimentação autônoma desde que se concentre nele, respire adequadamente e o deixe fluir na movimentação ondulante ou cadenciada, seguindo as polaridades energéticas Yin e Yang e então surgirá a harmonia e equilíbrio na ação. Para isso, é muito importante não agir contra a natureza de cada um. Suavidade e rotação devem ser parte da nossa movimentação diária. Estruturalmente, o círculo é livre de qualquer tensão, pois não tem ângulos. Ainda assim, é estável pela sua fluidez e equilíbrio. A própria movimentação circular estabelece o equilíbrio. No conceito de defesa militar, o círculo oferece o máximo de defesa e sustentação durante um ataque. Do ponto de vista psicológico, o círculo simboliza harmonia e integração entre os homens. Linhas retas se atravessam umas às outras numa invasão de espaço. Um quadrado possui cantos que interrompem o fluxo natural de ação. O círculo mantém as pessoas unidas numa continuidade harmônica, sem forçar o espaço existente entre as pessoas, integrando em vez de separar ou destacar. O meio-arco do círculo lembra o junco flexível que se dobra até o chão sem se quebrar. Assim deve ser o homem, maleável, fluídico, ondulante. Os movimentos rotativos e fluídicos são indispensáveis ao ser humano. É a isso que se propõe o Chi-Kun, com seus exercícios de respiração, sustentação e rotação. O corpo se move sem esforço, quer em pé, sentado ou deitado em relaxamento com movimentação. A mente deve se esvaziar de pensamentos e preocupações o mais possível. O corpo deve estar em perfeito equilíbrio, sustentado pela planta dos pés, postura de kata das artes marciais, consciente de seu peso, atento à sua ação, flexível e fluídico na movimentação. "A harmonia do corpo e da mente, enriquecem o espírito e trazem à face um sorriso natural", diz Mestre Da Liu. Do ponto de vista espiritual os exercícios trazem tranqüilidade ao espírito. No conceito técnico, processa- se o esvaziamento e plenitude, ou seja, expansão e retração, sístole e diástole, as duas leis que regem o Universo. E esse processo é absolutamente interno e nunca aparece na periferia ou superfície. É o wu- wei, inércia na ação. Concentração e preparação. Atenção e observação para a ação dirigida e controlada pela absoluta conscientização do corpo. Sem ações extremistas, que são rejeitadas, não há um ponto direto a atingir, mas sim, um fluir tranqüilo e despreocupado. O corpo não procura se fortalecer na ação repetitiva e violenta, mas sim, na doçura e suavidade de movimentos. O estado de inércia é um ponto de equilíbrio entre o Yin e Yang e o esvaziamento e preenchimento. Como não há um ponto a ser atingido obstinadamente, existe a liberdade de movimentação, resultante da fluidez que irá dissolver os nódulos musculares causados pela tensão do dia a dia, devido ao bloqueio da energia circulando pelo corpo todo. As áreas mais atingidas e que recebem um impacto maior dessa tensão se tornam rígidas, como o deltóide e o trapézio, músculos situados nos ombros, próximos ao pescoço, zona que encerra o feixe de nervos do sistema nervoso central, músculos de grande sensibilidade, e que são extremamente beneficiadas com os exercícios taoístas. Também o sistema circulatório e cardiovascular. Por exemplo: não há regra que diga que um arpão de pesca deva ser usado somente a longa distância. Dependendo da movimentação do alvo, ele pode ser usado da mesma forma que um arpão curto. A adaga, que é curta, por sua vez, pode ser usada como um longo arpão, dependendo da maneira como a atiramos no ar. Um arpão pesado e de aço pode ser usado de uma maneira suave. Por outro lado, uma corda, que é macia, pode ser usada rigidamente num enforcamento. O ponto principal do Chi-Kun é o balanceamento entre o rígido e o maleável. Na sustentação, através da respiração, há uma postura de imobilidade e concentração do corpo (Yang). No movimento Yin, há fluidez, relaxamento e maleabilidade. E assim, dentro dessas alternâncias, tão necessárias ao equilíbrio do homem, tornando-o consciente do seu corpo e de suas infinitas possibilidades de atuação, num processo de integração corpo, mente, razão, emoção, chegaremos à harmonia ideal. Na China, existe o conceito filosófico do Yin e Yang. Baseados neste conceito, o Céu é Yang e a Terra é Yin. O Sol é Yang, a Lua Yin, o homem é Yang e a mulher é Yin. Enfim, todas as coisas são bipolarizadas. A boa saúde depende do balanceamento das forças Yin e Yang no homem. O desequilíbrio dessas energias resulta em doença. No entanto, se o homem conseguir equilibrar o fluir dessas energias em seu corpo, ele terá uma alegria natural de viver e, conseqüentemente, uma saúde estável. Mais do que nunca necessitamos de métodos preventivos quanto à manutenção de nossa saúde, pois vivemos uma época de poluição, tensão e violência. Não podemos eliminar tais fatores existenciais, mas podemos nos preparar para recebê-los da melhor forma possível. Isto só acontecerá se estivermos centrados e equilibrados em nosso Ser Total, que tem capacidade para receber tais embates. Devemos defender nossa sanidade mental usando todos os meios naturais que estão ao nosso alcance, como as técnicas de respiração, relaxamento e fluidez. CHI-KUN E A ATUALIDADE O Chi-Kun beneficia o metabolismo e previne a maioria das chamadas doenças de meia-idade, tais como o endurecimento das artérias e juntas. O movimento constante e fluídico estimula todo o sistema circulatório, o metabolismo, o sistema respiratório e dá flexibilidade ao corpo todo. O mais beneficiado é o sistema nervoso, pois o relaxamento na movimentação, a meditação e concentração nos movimentos desviam o corpo e a mente dos pensamentos e preocupações que normalmente nos acompanham na vida diária. O corpo humano é como a água: se não corre e flui se torna estagnada e vira uma poça suja para os insetos. O sistema nervoso controla e regula a função de todos os outros órgãos. Por essa razão, se o funcionamento do sistema nervoso central é fortalecido e equilibrado, todo o organismo é beneficiado. O Chi-Kun, se praticado por um tempo regular, beneficia especificamente o sistema nervoso central, pois na sua prática o aluno aprende a controlar sua mente no sentido de expulsar os pensamentos negativos e projetar imagens positivas (Treinamento Autógeno, Shultz, Caycedo) que trarão paze tranqüilidade a todo o ser, revigorando e estimulando o cérebro e desenvolvendo a capacidade de concentração. Uma mente depressiva é fraca e sujeita aos ataques do dia a dia, se conturbando e permanecendo no caos. Uma mente forte e treinada é capaz de equilibrar as investidas do lado duro e pesado da vida, que não pode ser eliminado, mas sim, melhor assimilado. Na continuidade dos movimentos, a respiração tem de ser adequada e o máximo de atenção deve ser dado ao menor dos movimentos feito pelos olhos, mãos, cintura e pés. A movimentação deve ser fluídica, todas as partes do corpo se movem em harmonia e o cérebro atento aos movimentos, tomando o máximo de consciência do corpo em termos de peso, deslocamento e equilíbrio. Toda a pesquisa moderna e abordagens em termos de psicologia está fortemente calcada em conceitos milenares e de conhecimento dos orientais. A pesquisa de Lowen, o pai da bioenergética, enfoca a respiração como tema principal. A ciência ocidental cada vez mais procura conhecimentos que repousam há milênios nos braços do Oriente. Essa junção, só trará benefícios a toda a humanidade, pois teremos a tecnologia aliada à sabedoria. Quando um psicólogo humanista como Carl Rogers diz que "A Pessoa é o Centro", está entrando em consonância com o Tao que diz "o seu centro está no Tan-Tien, abaixo do umbigo, no meio do seu ser". E assim vemos que o Ocidente e Oriente podem ser balanceados e equilibrados no nosso dia a dia. Taoísmo O taoísmo é uma das mais antigas filosofias religiosas, juntamente com o judaísmo, hinduísmo, confucionismo e budismo. As origens do taoísmo se perdem nos tempos da antiga China, mas, no primeiro milênio a.C., sua codificação foi estabelecida. No século seguinte, seus princípios — com bases enraizadas no conhecimento da energia da vida —, Ch'i, no homem, se definiram numa filosofia que engloba a totalidade da mente, corpo e espírito do ser humano. Lao-Tsé, célebre filósofo chinês, fundamentou o taoísmo em seu livro Tao Te Ching, baseado na harmonia do Universo que envolve tudo e todos. O Tao, "O Caminho do Meio", mostra as diversas maneiras por que o Universo funciona e como, seguindo suas leis, o homem se torna harmonioso. Cultivar a flexibilidade e o relaxamento leva a uma vida mais longa e harmoniosa. A Natureza oferece ao homem essa possibilidade. No próprio homem, é infinito o potencial a ser explorado por ele mesmo. Os obstáculos mentais, físicos c espirituais podem ser superados pela regra da harmonia estabelecida entre o homem e o Universo. Relaxar, propriamente dito, significa para o homem moderno permanecer num estado harmônico, equilibrado e de grande paz. Relaxar é eliminar as tensões que tanto prejudicam a saúde. Ainda que interessado em alcançar a imortalidade, o desejo mais premente do homem atual é a possibilidade de sobreviver, no dia a dia, na grande batalha cada vez mais difícil, num estado físico, mental e espiritual de equilíbrio, tranqüilidade e alegria. Assim como as máquinas precisam de manutenção para um bom funcionamento (trocar o óleo do seu carro, lubrificar a máquina de lavar roupa, etc.) também o corpo humano precisa de uma constante manutenção para se manter sadio e ativo. As técnicas do taoísmo liberam a tensão do corpo e da mente e tornam o homem mais apto para as suas atividades. No terceiro milênio a.C., o Imperador Amarelo, Huang-Ti, desenvolveu um sistema de medicina preventiva e curativa baseada no uso de ervas, acupuntura e massagens. O uso correto da respiração, movimentação do corpo e meditação, regula o metabolismo e previne as doenças. Alguns movimentos são usados para relaxar os músculos, melhorar a digestão e a circulação do sangue. A respiração é feita de maneira que saia todo o ar inspirado e se renove de maneira adequada. Diz a lenda que P'eng Tzu, seguidor dessas técnicas, viveu oitocentos anos praticando o Tao Yin e o filósofo Tsé dizia: "O homem que respira para dentro e para fora, que inala e exala de maneira que todo o velho ar saia e entre o novo, esse homem hiberna como o urso e estica o seu pescoço como a ave. Ele realmente alcança a longevidade. Esse homem é indulgente com ele mesmo e provavelmente viverá oitocentos anos como P'eng Tzu". Durante a dinastia Han (206 a.C.) o doutor em medicina Hwa-To baseou e modelou o seu sistema de fisioterapia em movimentos observados nos animais, tais como o urso, o veado, o macaco, o tigre e o pássaro. Foram adotados pelos taoístas e médicos em toda a China, de geração em geração. Através dos séculos, na China, a filosofia do Tao e a ciência sempre caminharam juntas, lado a lado, sendo que suas técnicas foram desenvolvidas por médicos e filósofos, no sentido de melhorar a saúde física, espiritual e mental do homem. Ainda que Confúcio fale muito pouco a respeito das técnicas relativas à saúde, seu discípulo Mencios menciona alguns dos aspectos mais importantes do taoísmo, citando técnicas de saúde, tais como a ativação e transformação da energia vital Ch'i através da respiração correta. Na dinastia Sung (960-1279 d.C.), as idéias e técnicas do confucionismo, budismo e taoísmo convergiram para o mesmo ponto, contribuindo uma para a outra com suas técnicas básicas. Cheng Tsé, um dos mais famosos filósofos chineses, disse que: "O Caminho não pode ser abandonado nem por um segundo sequer. Os princípios de meditação devem ser aplicados nas atividades diárias, estando o homem sentado, deitado ou em pé e, mesmo, dormindo". Os exercícios foram trazidos para a China pelo mestre budista Daruma (Bodhidharma) em 530 d.C. Daruma estabeleceu uma escola budista do Zen, a de artes marciais no templo de Shao-Lin, na província de Honan. Tais exercícios atingiram um ponto tão alto do domínio do corpo que suas práticas foram exigidas para todos os estudantes da escola. Numa tradução chinesa do trabalho de Pan Ling Ti, ele é chamado de Yi-Chin-Ching, ou o Livro das Mudanças de Ligamentos. Está dividido em doze seções, consiste em doze movimentos e ensina princípios de manutenção da saúde em boas condições, similares aos encontrados nos sutras taoístas ou outros escritos. Chi-Kun — Sistema Tao Yin — Escola Shao-Lin Os exercícios taoístas de relaxamento dinâmico são praticados pelos chineses há cerca de três mil anos, devido ao grande benefício que proporcionam às pessoas. Tai Chi Chuan, Chi-Kun e Nai Kun, são técnicas que beneficiam as pessoas num todo, relaxando a mente tanto quanto o corpo. Com sua prática contínua, observamos que a digestão, circulação e função interna dos órgãos começam a melhorar e a equilibrar todo o organismo. Esteticamente, sua figura adquire nova postura, segurança e presença. Você crê em seu corpo. Com todos esses benefícios não é de estranhar que as culturas ocidentais estejam aplicando essas técnicas orientais em larga escala e com ótimos resultados. A série que proponho apresentar é de oito seqüências, que abrangem movimentação total. Os exercícios correspondem aos oito canais físicos de entrada da energia Chi. A energia vital circula pelo corpo não somente através da periferia superficial dos meridianos* mas, também, por vários outros canais, que atingem cada célula do corpo. Os oito canais físicos têm duas funções: * Meridianos são os pontos de nosso corpo usados na acupuntura e no Do- In para entrada de energia no organismo, atingindo-se assim os órgãos internos. Através do toque de uma agulha ou da pressão do Do-In no meridiano, o órgão interno é, pois, atingido. Em outras palavras, meridiano é o referencial externo de um órgão interno. Armazenar e transmitir energia através dos meridianos, para áreas mais profundas no organismo que estão situadas além dos meridianos.Excessos e deficiências de energia ao longo desses canais podem provocar grande desequilíbrio e distúrbios no ser humano, causando danos físicos, emocionais e mentais. Esses canais, geralmente, absorvem o fluxo de energia Chi, através dos meridianos e têm a capacidade de armazenar energia no organismo. Na conscientização e equilíbrio podemos viver a totalidade do ser A movimentação dos exercícios é fluídica, circular e cadenciada. Cultiva a flexibilidade e o relaxamento harmônico dentro do movimento. Sua primeira proposição é a integração do indivíduo com ele mesmo. A segunda, do indivíduo com o Universo. Lao-Tsé, o célebre filósofo chinês que fundamentou o taoísmo, mostra através do Tao, "O Caminho do Meio", como o homem pode entrar em harmonia com o Universo, seguindo as leis da Natureza. No próprio homem, assim como no Universo, há um infinito potencial a ser explorado. No fluir do Tao, através da movimentação, é possível desfazer os nódulos que se formam nas camadas da musculatura devido à tensão da vida moderna. Na conscientização do nosso corpo e suas capacidades, poderemos nos equilibrar e harmonizar nossa existência. Na sabedoria milenar do Tao, encontramos a grande verdade do existir de acordo com as leis da Natureza. Os exercícios não têm contra-indicação, são suaves na sua maioria, podem ser praticados em qualquer idade e estão comprovadamente destacados pela ciência ocidental como fonte preventiva para uma série de males que atingem as pessoas nos dias de hoje. Que possamos fluir como um rio para "O Grande Mar" que somos nós mesmos e nossos semelhantes. "Para ser grande, sê inteiro; nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. És no mínimo que fazes. Assim, em cada lagoa a lua toda brilha porque alta". Fernando Pessoa. Os exercícios se dividem em três etapas: COORDENAÇÃO MOVIMENTO CONSCIENTIZAÇÃO DO CORPO ASSIMILAÇÃO RESPIRAÇÃO INTEGRAÇÃO INTERAÇÃO PROJEÇÕES CRIATIVIDADE VIVÊNCIA DE SITUAÇÕES Cada uma dessas etapas será apresentada em uma seqüência da série. O Chi-Kun, que significa "Respiração Benéfica" é baseado também na Natureza e postura de vários animais. No relaxamento integrativo a presença do gato se faz constante. Na respiração Yang, o galo com suas asas sempre se abrindo e fechando com vigor e energia, está presente. Na respiração tipo fole, tradicional do ioga, encontramos o tigre, pleno de força e movimentação concentrada. No vôo da águia temos a suavidade e dinâmica de ação características. Na sinuosidade da serpente temos a fluidez tão necessária ao ser humano. No movimento do caracol o recolhimento que é preciso para uma introspecção ao interior do nosso ser. Na lentidão da tartaruga, a calma necessária a um bom desempenho. E assim, sucessivamente, a Mãe Natureza vai nos mostrando que devemos nos aproximar e aprender com nossos irmãos menores, a grande verdade universal. Os Oito Canais Físicos de Entrada da Energia "Tu Mo" ........Canal Controlador "Jen Mo".........Canal Funcional "Tai Mo" . . ... Canal do Cinturão "Ch'Ueng Mo" ..... Canal da Confiança "Yang Wei Mo" ... Canal do Braço Positivo (direito) "Yin Wei Mo" .... Canal do Braço Negativo (esquerdo) "Yang Chiao"... Canal da Perna Positiva (direita) "Yin Chiao" ... Canal da Perna Negativa (esquerda) Toda a movimentação terá uma relação direta com cada um desses canais. Os movimentos se dividirão em: San Chien — na terminologia do Chi-Kun — significa três pontos: pontas dos dedos dedo polegar nariz Formando uma linha reta na movimentação, ou seja, a movimentação se processa na direção do nariz, com diferentes posturas de dedos e mãos, mantendo uma postura de tronco e braços muita bonita. Lin Ho — normalmente significa os seis pontos cardeais ou o Universo. Na terminologia do Chi-Kun, se refere às três harmonias internas e às três harmonias externas. As harmonias internas são um pouco difíceis de serem explicadas em palavras. Em chinês elas são conhecidas como: Ching .............. órgãos internos Chi .................. respiração e circulação do sangue Shen................... sistema cerebral As três harmonias externas se referem ao equilíbrio dos braços e pés, cotovelos e calcanhares, antebraços e coxas. E toda a movimentação destes membros tem um ponto de equilíbrio nas cadeiras (cintura pélvica). Pontos que devemos lembrar: Há alguns pontos que devem ser lembrados durante o treino do Chi-Kun. As palavras-chave são em chinês, mas aqui vai a explicação: "Tsing" — Procure expulsar pensamentos e preocupações e concentre-se somente no seu corpo e movimentação. "Sung" — Relaxe interna e externamente, para que a circulação sangüínea possa fluir livremente. "Yuan" — Faça a sua movimentação de uma forma circular, giratória, para que haja uma complementação harmônica interna e externamente. "Shu" — Mova o seu corpo, de uma forma que o relaxe na movimentação. "Yun" — A velocidade da movimentação do seu corpo é controlada pela sua mente. "Ching" — Não deixe o seu corpo tenso ou rígido através da movimentação e observe para que todos os movimentos sejam suaves, fluídicos e re-laxantes dentro de uma leveza e harmonia total. SOMOS SERES BIPOLARIZADOS Somos seres bipolarizados e não sabemos usar esta realidade a nosso favor. Não nos foi ensinado, no Ocidente, a grande verdade da Mãe Natureza na sua eterna mutação em ciclos que se sucedem e se repetem. Queremos sempre viver o lado claro da moeda e ignorar o lado escuro que existe e faz parte do Universo que nos cerca. Na conceituação da filosofia chinesa taoísta, o Yin e Yang são as regras que regem o Universo e a nós seres humanos. Nada é só claro ou escuro. Nada é só belo ou só feio. Em toda a claridade há um ponto de escuridão e em toda a treva há um ponto de luz. É a grande dinâmica da mutação permanente que observamos na Natureza como o findar da noite e o surgir do dia. É a transição do sol para a lua. Da mulher para o homem. Do céu para a terra. Dentro deste conceito, nada é sempre igual. No fluir dessas energias, positiva e negativa, é que vamos descobrir o ponto do equilíbrio, o momento de inércia (wu-wei) entre a expansão e o recolhimento. No pensamento de Gurdjieff o conceito chinês equivale à "Lei dos Três", segundo a qual tudo no Universo é positivo, negativo e neutro. Assim como Jung na sua exposição do "Anima e Animus" (feminino existente em todo homem e masculino existente em toda mulher), revelou a bipolaridade energética no ser humano, em termos de abordagem psicológica, o chinês já sabia há milênios e sempre vivenciou tal realidade através de toda uma conceituação filosófica e vivencial nas práticas de artes marciais e exercícios de respiração e meditação. O chinês sempre respeitou e compreendeu as regras do Universo que são: expansão, recolhimento e inércia. Somos seres totais e não vivemos esta totalidade porque não nos centramos em nós mesmos. Estamos sempre esperando que alguma coisa ou alguém resolva o nosso problema interno. Temos um imenso potencial mental e físico e pouco ou nada usamos deste potencial num sentido positivo. Minha proposta de trabalho é mostrar que através da respiração correta, movimentação consciente e projeção mental positiva, podemos equilibrar e ativar a grande força que existe dentro de cada um de nós. Somos únicos no Universo e temos de valorizar essa exclusividade. Não existem duas pessoas iguais. Somos universos coexistentes, porém, independentes e únicos. Temos que reaprender o nosso corpo numa totalidade de mente, razão e emoção. Esta é a proposta da bioenergética. É a pesquisa de Lowen e Perls, seguidores de Reich, pai da bioenergética e descobridor do orgone, energia existente no Universo e em nós. Seria a conceituação do prana dos hindus,ki dos japoneses e Chi dos chineses. Quando Rogers diz que "A pessoa é o centro", ele está em harmonia e afinidade com o pensamento chinês que afirma: "O centro do mundo está no Tan-Tien, quatro dedos abaixo do umbigo". Ambos dizem a mesma coisa em tempos e culturas diferentes e, ainda assim, como os rios que fluem para o mar, convergem para a grande verdade da importância do ser humano na sua diversificação da Unidade. Somos muitos em um só. Temos que saber viver este leque de contradições, perguntas e respostas, erros e acertos, caminhos e descaminhos, vitórias e derrotas que somos nós, seres humanos, verdadeiros milagres de atuação, criação, inventiva (nem sempre positiva), descobertas e fantasias. Temos que descobrir cada cantinho dentro de nós, como que vivendo uma grande aventura nessa descoberta, sempre valorizando o existir e fluindo como a água, sem oferecer resistência, chegar ao infinito do nosso ser com muita garra de viver e criar. Esta é a proposta do Chi-Kun, respiração benéfica no dizer dos chineses, técnica milenar que através da movimentação, respiração e concentração, traz o equilíbrio, a conscientização e percepção do potencial de cada um. O ser humano, quando tem um conhecimento profundo de si mesmo, fatalmente terá uma aceitação maior e compreensão mais clara do existencial e do seu semelhante. Só depois de um grande encontro consigo mesmo é que poderemos nos encontrar com alguém ou alguns. No mundo em que vivemos atualmente, não há tempo ou lugar para grandes introspecções e recolhimentos, e por isso temos que no dia a dia, na grande batalha que é o cotidiano, trabalhar o nosso ser interno juntamente com o externo e viver os dois lados da moeda ao mesmo tempo. O Tao vivenciado é uma proposta de vida. É uma postura a adotar, pois não podemos mudar o existencial, mas sim a maneira de recebê-lo. Cabe a cada um de nós, através de um trabalho interno de reconhecimento de nossas potencialidades, descobrir o ponto de equilíbrio e lutar pela felicidade, dentro da realidade de cada um. Somos herdeiros de um legado divino e não devemos renegar tal dádiva. Temos que nos integrar às forças da Natureza e procurar absorver as energias que estão à nossa volta, prontas para se integrarem a nós no momento em que, conscientemente, estabelecemos contato com essas forças. Tudo é tão incrível e ao mesmo tempo tão real! A força está aí, solta, é só contatarmos. Como? Através do olhar e ver. Tocar e sentir. Sentir mais do que saber. O saber é intelecto. O sentir é ser. Temos que ser e saber. Quando dentro do conceito oriental nos referimos à "plena atenção" do budismo, nada mais é do que a conscientização dos nossos atos, palavras pensamentos e gestos. Como diz muito bem Ângelo Gaiarsa em seu livro O Espelho Mágico, o tempo todo que estamos falando com "o Outro", só observamos "o Outro" e não a nós mesmos. A nossa leitura é feita "pelo outro" e nunca por nós mesmos. Já é tempo de nos conhecermos melhor e saber mais a nosso respeito. Como vamos gostar de algo que mal conhecemos? Na minha experiência como introdutora do Chi-Kun no Brasil, observo que a maioria dos meus alunos mal se conhece. Muitas são as surpresas durante o curso, com as descobertas de cada um. Escuto frases que me encantam e animam meu trabalho, pois sou uma fascinada pelo ser humano. Aqui vão algumas delas a título de ilustração: — "Pela primeira vez em meus quarenta anos de vida, tive a sensação do que é estar vivo!" (exercício de sensibilidade e respiração). — "Que coisa incrível, nunca pensei que fosse tão gostoso respirar tudo!" E por aí se segue uma série de descobertas, todas gratificantes, pois são parte do processo de autopercepção, vital para cada um de nós. São facetas importantes e que devem ser vivenciadas, mas que anteriormente estavam bloqueadas por mil e uma razões tais como condicionamentos, preconceitos (para homem não fica bem tal postura tão Yin... etc.). O certo é que as pessoas melhoram sua condição geral na prática do Chi- Kun. Elas se descobrem, sentem que são capazes de controlar o seu teor energético, começam a respeitar os seus ciclos naturais na grande transição e mutação entre o Yin e Yang e, mais do que tudo, conseguem se equilibrar e sentir mais coragem para enfrentar a barra do dia a dia. Os duzentos e seis ossos que formam o esqueleto, são totalmente recobertos por quinhentos músculos. Onde haja um osso que possa ser movido, deve haver músculos que o movimentem. Os músculos são formados de muitos feixes de fibras amarrados em conjunto. A parte central do músculo é carnuda e tem a capacidade de contrair-se qual uma tira de borracha. Suas partes terminais são feitas de um tecido elástico e resistente chamado tendão. Através dele, o músculo está firmemente aderido ao osso, à pele ou a outro tecido. Cada músculo está fixado em geral no ponto do corpo que ele põe em ação e que é denominado ponto de inserção. A capacidade de contração do músculo em direção ao ponto de origem torna a movimentação possível. Cada músculo do corpo tem um oponente na mesma região. Para cada músculo que flexiona uma junta há um oponente que a retifica. Do mesmo modo, para cada músculo que eleva um osso há um que o abaixa. No braço, o músculo chamado bíceps contrai e o tríceps relaxa, e o braço se flexiona. Quando o tríceps se contrai, o bíceps se relaxa e o braço volta à sua posição original. Esta harmonia ocorre em todo o corpo. Quando em repouso, nunca estão completamente relaxados, e embora não façamos movimento, nossos músculos estão em permanente alerta. Isto é o que entendemos por tônus muscular. Sem o tônus muscular, a mandíbula cairia, as pálpebras abaixariam e a respiração cessaria. Quando, na prática do Chi-Kun, nos movimentamos conscientemente, cada um no seu tempo c ritmo, numa movimentação quase que espontânea e natural, sem imposições e regras rígidas, estamos ativando o tônus muscular e preservando a vitalidade de nossos músculos. No dizer do Tao, o movimento deve fluir para que a energia circule por todo o organismo, desfazendo bloqueios energéticos. Ida Rolf, através do seu método, o rolfing, desfaz com massagens — por vezes dolorosas, — esses nódulos que se fixam nos músculos devido às tensões, traumas e stress. É um método que tem de ser aplicado por outra pessoa. No Brasil, Pedro Prado faz um bom trabalho com o rolfing. Existem muitas técnicas, massagens e práticas para a liberação energética tão desejada por todos nós. Eu conheço a maioria delas, e creio que o Chi- Kun, por ser um processo de "você com você mesmo", é o mais prático e viável para atingirmos um razoável equilíbrio num curto espaço de tempo. Gostaria de esclarecer que a ioga é um aliado do Chi-Kun e não um oponente. A diferença está no ritmo em que é executado o Chi-Kun, que é mais dinâmico do que o da ioga. A proposta das duas técnicas é a mesma: equilíbrio, harmonia e conscientização. Outra coisa que observo muito é como somos influenciados por imagens preestabelecidas. As pessoas chegam ao Núcleo Lao-Tsé, esperando um ambiente com luz difusa, gongos chineses e uma gentil senhora, vestida de seda pura chinesa, ar místico (misterioso) e fala mansa. Ao invés disso encontram uma ocidental de malha de ginástica, alegre e brincalhona, num ambiente bem simples e ocidental. Algumas se decepcionam. Outras, ao contrário, sentem mais confiança na minha naturalidade e forma de expressão. Deixo sempre bem claro que só posso ajudar a quem quiser se ajudar. É o trabalho de cada um em si mesmo que vai valer. Trabalho no qual eu me coloco toda em termos de participação, afeição e orientação, mas sem dependências ou transferência de responsabilidade. Essa é a diferença entre um guru e eu. Noguru colocamos nossas expectativas, anseios e desejos e quando falhamos, foi culpa do guru e não nossa. É fácil atribuirmos aos outros o nosso fracasso, da mesma forma que é cômodo passarmos para terceiros nossas responsabilidades em relação a nós mesmos. Me dedico muito aos meus alunos. Minhas turmas são grupos de cinco a seis pessoas por aula. Posso observar e captar cada um. O jogo das palavras é duvidoso, mas a leitura corporal não engana e eles vão se revelando um a um diante de mim e eu procuro orientá-los desde que se proponham a trabalhar em si mesmos. São muitos anos de vivência como participante e observadora da vida em todas as suas formas e nuanças. Vejo as pessoas se buscando, andando tão longe para chegar a uma realidade que está tão perto. Vejo a busca e a ansiedade da procura. E vejo também com muita alegria o encontro de cada um consigo mesmo, e os benefícios que tal descoberta traz para todo ser humano. É uma grande aventura que vivemos juntos. Eu e meus alunos de Chi-Kun. Cada caso é um caso. Cada um é cada um. E, por incrível que pareça, vejo a todos como um só! Sem diferenças de idade, sexo, credo, ideologia ou status. São pessoas queridas com as quais eu trabalho e aprendo muito. Talvez mais do que ensino. Isto é Chi-Kun. Esta é a minha proposta de trabalho. É a proposta de Carl Rogers, psicólogo humanista e a de Lao-Tsé, filósofo chinês. Ambos existem em diferentes tempo-espaço, mas como a verdade é Única e Eterna, ambos falam a mesma linguagem através dos tempos: a "Pessoa é o Centro" (Rogers). O "Centro do Mundo está no Tan- Tien, quatro dedos abaixo do umbigo" (Lao-Tsé). O Dr. Hwa-T'o Cerca de trezentos anos antes de Cristo, um médico-cirurgião chinês chamado Hwa-T'o, que era muito conceituado na corte do Imperador Huang-T'i, pesquisador dedicado e muito interessado no gênero humano, através de acurada observação, descobriu que os animais relaxavam e respiravam totalmente e que o ser humano não era capaz de relaxar tão bem quanto qualquer bichano que se prezasse. Grande observador da Natureza e da fauna, criou um método de movimentação baseado na postura dos animais. Tal sistema de fisioterapia estimulava a circulação sangüínea, relaxava as juntas e músculos e oxigenava o cérebro e os pulmões. Criou o Movimento dos Cinco Animais. O Chi-Kun tem como base o método do Dr. Hwa-T'o. Chi em chinês quer dizer energia, ar. Kun significa terra. Respiração benéfica da terra. É um trabalho muito intenso de respiração e conscientização do corpo como um todo harmônico. Segundo Hwa-To "água corrente nunca fica estagnada e com mosquitos". Todas as posturas são feitas no movimento. Relaxamento, respiração e meditação. Este velho e sábio médico chinês sabia que o Universo é um eterno expandir e recolher, com um ponto de inércia na transição de uma polaridade para outra. É a trilogia permanente, sempre existente. O Pai, a Mãe e o Filho. O líquido, o sólido e o gasoso. Em alquimia, o enxofre, o sal e o mercúrio. Segundo Einstein, radiação, matéria e energia. Na astrologia, cardinal, fixo e mutável. Na eletricidade, pólo positivo (próton), negativo (elétron) e neutro (nêutron). Num sentido religioso temos, no Ocidente, o Pai, o Filho e o Espírito Santo e, no Oriente, Siva, Shakti e Brahma. Para os chineses, o Criativo (Yang), o Receptivo (Yin) e o Tao (O Supremo). Isto numa concepção filosófico-religiosa. Lao-Tsé, Chuang-Tsé, Lieh-Tsé e outros grandes pensadores nos mostram que no trilhar do Tao alcançamos a simplicidade do existir em acordo com as leis da Natureza. No Tao, o Caminho do Meio, conseguiremos trabalhar as polaridades positivas e negativas existentes em todo o ser humano, numa forma de aceitação ao invés de rejeição, ou negação. Sempre digo que somos únicos e exclusivos no Universo, e temos de valorizar essa exclusividade. Através dos exercícios taoístas e da vivência dos princípios do Tao, no dia a dia, iremos nos descobrindo e reaprendendo a usar nosso imenso potencial natural, que nos é revelado pela respiração correta, movimentação consciente e percepção da realidade interna de cada um. Como diz P'eng-Tzu, segundo a lenda, "o homem que esticar o pescoço como uma garça, hibernar como um urso e trocar todo o ar velho por ar novo nos seus pulmões, viverá em plenitude por duzentos e cinqüenta anos". Concluímos que respirar, relaxar e fluir são temas tão atuais quanto o avião a jato ou a ida do homem à Lua e, também, legendários e antigos como a figura de Lao-Tsé, fundador do taoísmo. Realmente, são os atos primordiais do ser humano, pois ao nascer, a primeira coisa que fazemos é respirar (o Sopro da Vida) e chorar (o Som). E ao morrer, nosso último ato é expirar. Aí completamos nosso ciclo de expansão e recolhimento, vida e morte. A bioenergética de Reich, Lowen e Perls, nos mostra agora como é importante posicionar o ser humano tal qual o chinês já o fazia há milênios, ou seja, numa totalidade que abrangia corpo, mente, razão e emoção. Todos os métodos modernos de terapia preventiva ou não, empregam técnicas orientais reconhecidamente válidas pela ciência moderna. A Gestalt é um reflexo do Zen, quando coloca "O aqui e agora" como temática principal. Bertherat e Miziéres, com a antiginástica, estão seguindo o Tao, no fluir da água que não oferece resistência e se acomoda em qualquer lugar, e reforçando o conceito do wu-wei, inércia na ação, ou espontaneidade no agir. Carl Rogers quando diz: "Somos mais sábios que nossos intelectos... Nossos organismos, como um todo, têm uma sabedoria e um propósito que vai além do nosso pensar consciente", está se revelando um taoísta de primeira grandeza e afirmando uma verdade universal. ACEITAÇÃO PRÓPRIA E INTEGRAÇÃO ATRAVÉS DO TAO Minha proposta de trabalho é uma vivência do Tao no dia a dia. No existir cotidiano de cada um de nós. Olimpíada acontece de quatro em quatro anos, porém bola no pé todo dia, tem que ser craque. Estamos sabendo demais através do intelecto, e sentindo e vivenciando pouco tais conhecimentos. No Chi-Kun, aprendemos que temos ciclos próprios a respeitar em nós mesmos. Começamos a perceber que sofremos a influência da pressão atmosférica assim também como de todo o meio ambiente que nos cerca e do próprio Universo. Que somos seres em constante mutação entre as polaridades Yin e Yang, com altos e baixos, alegrias e tristezas, risos e lágrimas, porém, capazes de controlar e superar tais ciclos, que também são mutáveis, na certeza de que nosso mental é forte e, através de um trabalho conjunto com essa grande equipe que é o nosso organismo, iremos minorar o sofrimento, a ansiedade e a angústia que fazem parte do grande jogo da vida. Mostro sempre aos meus alunos que a técnica só poderá ajudar aos que tenham aceitado o desafio do grande jogo. Precisamos nos conhecer mais. Sermos mais íntimos de nós mesmos. Nos exercícios taoístas, especificamente o Chi-Kun, os alunos começam lentamente um processo de auto-reconhecimento, autopercepção e definição de si mesmos. Os olhos fechados, a música suave e contínua, a movimentação fluídica e ondulante, tudo isso leva a uma concentração e auto-observação no movimento. Nas projeções mentais que fazemos durante as posturas, estamos plasmando — a nível consciente e inconsciente —, imagens positivas e de integração com a Natureza. No controle da respiração, descobrimos que somos fortes e temos uma capacidade incrível de comandar o emocional e aliviar a tensão e depressão. Se afirmo com tal certeza esses resultados é porque me foram fornecidos pelos próprios alunos com quatro ou cinco meses de prática. Segundo o Tai-Chi-Tzú, ideograma que simboliza as polaridades Yin e Yang, em tudo o queé claro há um ponto escuro e em toda escuridão um ponto de luz. Partindo desse princípio, é fundamental que sejamos capazes de descobrir a luz na escuridão de uma situação difícil, tal como um relacionamento, ambiente de trabalho ou situação financeira. A Polaridade Yin-Yang Toda situação (objeto, ser vivo, fenômeno, etc.) ocorre a partir da inter- relação constante de Yin-Yang. Estes dois aspectos antagônicos de Chi formam um número infinito de combinações que constituem o universo: a diversificação da Unidade. Os Sete Princípios da ordem do universo: I) Todas as coisas são diferentes manifestações da Unidade infinita. II) Nada é estático, tudo muda. III) Todos os antagonismos são complementares. IV) Não há dois entes iguais. V) Tudo que tem verso tem reverso. VI) Quanto maior o verso, maior o reverso. VII) Tudo que tem começo tem fim. Os Doze Teoremas do Princípio Único: I) Yin e Yang são os dois pólos da pura expansão infinita. Eles apresentam-se quanto a pura expansão infinita (centrifugação) atinge o ponto geométrico de bifurcação. II) Yin e Yang surgem continuamente da oura expansão infinita. III) Yin é centrífugo; Yang é centrípeto. Yin e Yang produzem energia. IV) Yin atrai Yang; Yang atrai Yin. V) Yin repele Yin; Yang repele Yang. VI) A força de atração e repulsa entre as coisas é diretamente proporcional à diferença de seus componentes Yin e Yang. VII) Todo fenômeno é produzido pela combinação Yin-Yang em várias proporções. VIII) Todos os fenômenos são efêmeros devido às constantes alterações das agregações dos componentes Yin e Yang. IX) Nada é exclusivamente Yin ou Yang. Tudo encerra polaridade. X) Não existe nada neutro. Yin ou Yang estão em excesso em qualquer ocorrência. XI) Grande Yin atrai pequeno Yin; Grande Yang atrai pequeno Yang. XII) No extremo, Yin produz Yang e Yang produz Yin. Todas as concreções físicas são Yang no centro e Yin na periferia. Classificação de Yin e Yang: YIN YANG Lua Sol Frio Quente Mulher Homem Escuro Claro Fraqueza Força Molhado Seco Sistema nervoso Sistema nervoso simpático parassimpático Oeste e norte Leste e sul Outono e inverno Primavera e verão Baixo Alto Interior Exterior Água Fogo Abdome Costas Frio Febril Úmido Ressequido Recuar Avançar Crônico Agudo As Fontes Energéticas do Corpo: I) Cósmica: vibrações (ondas) cósmicas, captadas pelos órgãos dos sentidos e pela pele (pontos chineses). II) Ancestral: informações genéticas contidas nos gametos ADN. III) Vibrações Microcósmicas: ondas a nível de indivíduos (telepatia, premonição, mentalização, etc.). IV) Respiração: energia captada da atmosfera pelos condutos respiratórios. (Prana, para os iogues). V) Alimentação: energia dos alimentos, principalmente do reino vegetal (fotossíntese). Níveis de Energia no Corpo Nível Técnica Ossos Tai Chi Chuan – Quiroprática Músculos Orgonoterapia Vasos Sanguíneos Exercícios físicos – Do-In Região Subcutânea Do-In – Acupuntura – Shiatsu – Moxa Pele e aura Ioga - Magnetismo Os Pontos Chineses Pontos subcutâneos encarregados da captação e distribuição da energia cósmica vital para todo o organismo. Determinam os meridianos, canais condutores de Ki. Os Meridianos Classificação: 12 Meridianos principais YIN Pulmões Baço-pâncreas Coração Rins Circulação do sexo Fígado 2 Meridianos extras Vasos da concepção YANG Intestino grosso Estômago intestino delgado Bexiga Triplo aquecedor Vesícula biliar Sistema nervoso (vaso do comando) Meridianos principais: São pares e simétricos, isto é, existem dois ramos, um do lado direito do corpo e outro do lado esquerdo. Cada meridiano principal liga-se diretamente a cada um dos 12 órgãos primários. Comunicando-se entre si, constituem a Grande Circulação de Energia. Meridianos extras: Passam pelo centro do corpo e se interligam formando um circuito fechado: a Pequena Circulação de Energia, que funciona como reservatório de abastecimento e armazenamento energético dos doze meridianos principais. Estes são os meridianos trabalhados no Chi-Kun, através da respiração e movimentação: o Jen-Mo (funcional) e o Tu-Mo (controlador). REAPRENDENDO O CORPO (EXERCÍCIOS) O maior mérito do Chi-Kun é mostrar a cada um o seu tempo e ritmo respiratório de movimento. As indicações são mutáveis e elásticas, de acordo com a percepção que cada um tem de si mesmo, no decorrer dos exercícios. É algo absolutamente pessoal. As seqüências a serem seguidas devem ser obedecidas na alternância Yin-Yang. Mas o tempo é elástico, mutável. Portanto, as denominações "lento", "rápido" são um mero referencial dentro da percepção que o indivíduo tem de si mesmo, no exercício. As pessoas têm de se descobrir dentro da realidade da postura. Os exercícios que damos a seguir fazem parte das posturas básicas de Chi- Kun. São as mais fáceis, adaptáveis mesmo às pessoas que nunca fizeram Chi-Kun. São consideradas a aula-protótipo, acessíveis a qualquer pessoa que jamais tenha se movimentado conscientemente, as pessoas "enrijecidas", "trancadas", pessoas sem qualquer fluidez. No Chi-Kun, todos os movimentos se processam sob a regência da respiração, sempre no equilíbrio de assimilar e eliminar. PREPARAÇÃO: Cadeira de Balanço Em pé, postura de relaxamento Zen, começar a mover a sola dos pés do calcanhar para a ponta e, vice-versa, como uma cadeira de balanço, procurando nesse movimento tomar consciência do peso do corpo, equilíbrio e sustentação das pernas. O tronco se mantém em repouso, e também desse fato tomamos consciência, vivenciando o princípio taoísta de Yin e Yang. Concentre-se no fato de que a parte de cima, tronco, está em repouso e a parte de baixo, pernas, está em trabalho. Na sola do pé se encontram pontos importantes de serem ativados segundo o do-in e a acupuntura. É um movimento simples mas de grande efeito em termos de ativação e irrigação sangüínea em zona tão castigada quanto os nossos pés. Asa da Borboleta É um movimento de pé, num sentido lateral, tal qual uma asa de borboleta, no qual trabalhamos calcanhar e rótula. Nos exercícios de Chi-Kun, usamos as pernas em postura de base das artes marciais e os nossos pés plantados no chão. Tem de haver maleabilidade de juntas, principalmente calcanhar, para não ocorrer nenhuma injúria externa ou interna. ' O João-Teimoso Movimento no qual entram as duas pernas, num trabalho de sustentação no movimento, alternando-se o peso do corpo todo sobre uma perna e depois sobre a outra. Exatamente o movimento daquele boneco das crianças que balança para todos os lados, mas não cai. A proposta deste exercício é vivenciar a bipolaridade energética de cada um. As pessoas que são mais Yin, ou seja, introspectivas, tímidas, contidas e pouco expansivas sentem de início dificuldade com o lado direito do corpo que é o lado Yang (ação, dinamismo, sol, dia, homem) e vice-versa com as que são Yang. É um diagnóstico muito bom porque é o próprio corpo que vai revelando a realidade interna de cada um e as pessoas vão começando a se conhecer melhor e observar a leitura corporal, ao invés de escutar só a verbal, que vem do intelecto, condicionamentos, informações culturais e vícios de infância. Sowai-Shu ou Movimento do Elefante Com as pernas em sustentação, pés plantados no chão, o tronco vai girando, braços absolutamente soltos e relaxados, sentindo a rotação do calcanhar, rótula, coxa e bacia. É o movimento que os elefantes fazem quando estão parados porque intuitivamente sabem que devido ao grande peso e massa que possuem,têm de manter a energia fluindo por todo o corpo. Por isso balançam a cabeça e as orelhas mantendo a circulação e captação da energia (Chi, Prana ou Ki). O Caracol — Yin Num movimento de inversão abaixamos o tronco, os braços soltos e pendentes, e tocamos o chão e nos encolhemos como um caracol entrando na concha. O enfoque de concentração desse movimento é o tronco que funciona como um macaco suspendendo um carro. Quando voltamos à postura ereta, o corpo vai formar um meio arco para trás, com sustentação nos músculos intercostais. Seguindo a regra do Yin e Yang, tudo o que vai para a frente vai para trás, e tudo o que vai para cima tem uma volta para baixo. Nos exercícios taoístas nota-se a constante do conceito do wu-wei, inércia na ação. Todas as posturas mostram uma parte do corpo em repouso e outra em ação. Sístole e diástole. Expansão e recolhimento. Regras que regem o Universo e a nós também, como seres pertencentes e participantes desse Universo em que vivemos. Saudação ao Sol — Yang A Natureza é nossa maior fonte supridora de energia. Nesse movimento, no qual através de uma projeção mental ou contato real nos centramos no Sol, estamos absorvendo conscientemente sua energia, seu calor e sua força. É uma movimentação fluídica na qual o aluno desenha o sol com as mãos e braços e seu corpo ondula como se fosse uma onda de pé. Nele toma-se consciência do peso do corpo, do ritmo e do tempo de cada um, do deslocamento no espaço e, principalmente, do equilíbrio desse corpo. A maioria faz com os olhos fechados, absolutamente centrados, relaxando e respirando no movimento. Mudando de polaridade, do dia vamos para a noite na Saudação à Lua, postura Yin. Saudação à Lua - Yin Com o corpo em base, ou seja, joelhos semiflexionados, iniciamos a postura, massageando o timo, glândula cujas pesquisas recentes demonstraram ter uma relação direta com a alegria de viver e a boa disposição (Diamond). Com as mãos em prece sobre o peito (timo), esticamos um braço com alongamento do corpo e inspiramos profundamente, em seguida, descendo o braço, desenhando no ar o contorno bojudo da meia lua, expiramos contraindo abdômen e diafragma, jogando a cintura pélvica para a frente, contraindo as nádegas e expelindo todo o ar residual. Voltamos à postura inicial e repetimos o movimento com o outro braço. A projeção mental é o cosmos, estrelas, noite. O Vôo da Águia - Yang Vamos agora contatar o reino animal na figura da águia, que é um símbolo de força dirigida e ação. Corpo em relaxamento Zen, abrimos os braços como se fôssemos um pássaro e inspiramos jogando os braços para trás, trabalhando deltóide e trapézio e a zona tão castigada da cervical, aonde se instalam as tensões, provocando enrijecimento da musculatura. Tronco para frente, bumbum para trás. Quando fechamos os braços, as asas da águia, expelimos todo o ar, contraindo diafragma e abdômen. Inspira-se pelo nariz e solta-se o ar pela boca. É uma postura de alta ativação do sistema respiratório, automassagem dos intercostais, deltóide e trapézio. A Asa da Cegonha - Yin É uma postura de relaxamento no movimento, consciência sensorial e mergulho interno. Abrem-se os braços em cruz. Fecha-se um braço em torno do rosto (como se estivéssemos nos enlaçando), sentindo nosso cheiro, percebendo o calor do nosso corpo e a umidade de nossa pele. O outro braço envolve os rins (nos quais o chinês situa o medo e a ansiedade) numa projeção mental positiva. Volta-se à postura inicial, cada um no seu tempo e seu ritmo, e repete-se a postura, trocando-se os braços. Amarrando o Tigre O movimento é lateral e vamos iniciar a série de posturas relativas à força telúrica, força-terra na simbologia do tigre. Começamos com os pássaros e todo o seu simbolismo de cosmos e ar, agora passamos para o tigre com toda a sua força e leveza, sinuosidade e beleza de movimentos. O Tigre brinca e se transforma em Gatinho (expansão e recolhimento) - Yin e Yiang Formando a roda, pés em base, tronco flexionado, estendemos os braços em movimentos alternados, como se fôssemos pegar alguma coisa no centro do círculo, abrindo e fechando as mãos vigorosamente. Depois, voltando à postura Zen de relaxamento, tronco ereto, encolhemos as mãos e o pulso é muito trabalhado, abrindo e fechando as mãos, como um gatinho. tentando pegar um novelo de lã, mas - temeroso - pega e larga. Novamente volta ao movimento "inicial do tigre e se alterna com o gatinho. O Tigre Respira - Yang Ainda mantendo o círculo de pessoas, tronco inclinado para a frente, mãos apoiadas nas coxas? erguemos primeiro o braço direito, com a garra do tigre armada. Inspirar, fechar a garra, flexionar o braço em direção ao tronco e soltar o ar, esticando o braço para a frente. Proceder da mesma forma com o braço esquerdo e depois com os dois braços juntos. O Dobrar do Junco - Yin e Yang Usando a simbologia do junco, que durante um vendaval se curva até o chão para não se quebrar, e depois da tormenta se posta ereto dançando ao sol, nessa postura, através de um exemplo da natureza, nos é sugerido que sejamos flexíveis com a vida e conosco, nos curvando sem subserviência e com dignidade nas situações difíceis, sendo maleáveis para não nos destruirmos. Com os braços estendidos, começar a curvatura bem lentamente até atingir o solo junto aos pés e reiniciar o processo até o outro lado, sempre inspirando ao erguer os braços e exalando ao baixá-los. Fazer quatro voltas completas e então esticar os braços e balançar as mãos com intensidade depois descer os braços ao longo do corpo lentamente sentindo o fluir da energia. O Arco e Flecha - Yang Na postura do arqueiro mirar um alvo e inspirar. Ao puxar o arco, reter a respiração e, ao soltar a flecha, soltar à respiração. Nesse exercício, plasmamos no mental a proposta do alvo atingido. Visualizamos a meta a ser atingida e direcionamos nosso esforço para o que desejamos alcançar. O Agachamento - Yin Com o corpo curvado, as mãos apoiadas nos joelhos, os pés em base, vamos fazendo uma torção lateral, provocando um massageamento do baixo ventre e músculos intercostais, além de sentir o trabalho da rótula entre as mãos e acompanhar, através do sensorial, esta maravilha da mecânica dos nossos ossos em encaixe e movimento. A Espada do Samurai - Yang Nesse movimento prestamos uma homenagem a um dos mais antigos símbolos do oriente - o samurai. Através dos tempos, ele significou a nobreza e honra de um guerreiro padrão, defensor do núcleo a que pertencia e das causas justas. Nesse movimento, erguemos do chão uma espada imaginária e cortamos o ar de um lado para outro com muita intensidade, num exercício de sustentação de pernas e movimentos de braço cadenciados em sincronismo com a respiração. A Roda D'água - Yin e Yang Movimento de braços e pernas, numa rotação cadenciada, andando pela sala como se fôssemos uma roda movida pela água. Proporciona alongamento e coordenação motora, trabalha braços e pernas, além de revelar como está o equilíbrio de cada um. A Bola de Energia - Yin e Yang Movimentar os braços intensamente de um lado para outro como se estivesse empurrando o vento num sentido lateral, ir subindo com os braços até o alto da cabeça, mentalizando a formação de uma bola de energia, jogá-la para o alto e então ir descendo lentamente as mãos ao longo do corpo, sentindo o fluir da energia. Sobe em Yang e desce em Yin. SÉRIE DAS TRÊS RESPIRAÇÕES: Respiração Fluídica Corpo ereto, (dobrar os joelhos, abaixar os braços junto ao corpo, subir lentamente fazendo rotação para trás com os ombros, inspirar, flexionar os braços empurrando o ar para a frente como se formasseuma bola de fumaça, bem lentamente. Voltar à posição inicial e repetir. Respiração da Asa da Serpente No Oriente a serpente é um símbolo de conhecimento e transformação. Esse é um dos exercícios mais bonitos do Chi-Kun. Sua movimentação sugere a ascensão da serpente que rasteja pelo solo, sempre desejosa de voar e atingir um plano superior. Conta a lenda que o Senhor dos Céus apiedou-se do animal e permitiu que por instantes ele tivesse asas e provasse as delícias de voar. Assim aconteceu e a serpente alada circulou pelo céu num lindo vôo e depois baixou à terra, novamente na sua condição rastejante, porém feliz por ter provado a frescura do ar e a beleza do espaço. Postura inicial do guerreiro em repouso. Abrir os braços com as mãos em forma de "cabeça de serpente", na altura dos quadris. Cruzar os braços e lentamente ir subindo com os braços cruzados, transformando as mãos em asas, inspirando, abrindo os braços e descendo expirando, abrindo os braços e descendo expirando com as mãos em asas no sentido vertical. As pernas acompanham o movimento se cruzando inicialmente para a frente e depois para trás. Todo o corpo se abaixa em agachamento, quando se expira e solta o ar. Respiração da Doação É um exercício feito em dupla. Um de frente para o outro, dar um passo à frente, abrir os braços e inspirar, olhando firme em direção ao peito do companheiro, exatamente aonde se localiza a glândula timo, e dando um passo para trás cruzar os braços, mãos em asas, expirar, contraindo diafragma e abdômen, procurando eliminar todo o ar residual. Repetir por quatro vezes. Trocar os pés e recomeçar a respiração. A doação simboliza a troca energética. Dividimos com o parceiro o nosso dom mais precioso que é o de respirar. .Há uma circulação energética entre os dois numa confraternização do existir, sentir e respirar. É uma proposta de integração entre as pessoas. Pesquisas recentes descobriram que o timo além de ser a glândula responsável pelo crescimento, também ativa a euforia e alegria de viver. O massageamento constante do timo provoca bem-estar e previne os estados depressivos. SÉRIE DOS EXERCÍCIOS SENTADOS: YIN O Deslizar da Serpente Sentar com as pernas esticadas ou dobradas da forma mais confortável possível. Com as mãos em prece sobre o peito, massagear o timo. Olhos fechados, segurar os pés com as mãos e iniciar uma escalada pelo corpo através das mãos. Sem tirar as mãos do contato direto com o corpo, começar lentamente pelos pés, - pernas, coxas, quadris; tronco, peito, pescoço, rosto. Chegando ao topo da cabeça, fechar "a cabeça da serpente", trançando as mãos em prece e renovando o comando mental em relação aos órgãos internos. É a hora do diálogo interno,com os órgãos vitais. Cada um sabe o que precisa ativar - ou - pacificar. Através da imposição das mãos, e projeção mental, com uma respiração tranqüila e - consciente, cada aluno vai comandando e ativando o incrível universo interno que existe em cada um de nós. É uma hora íntima de cada um consigo mesmo. Ótimos resultados têm sido atingidos com este simples exercício. As pessoas vão se conhecendo mais, sabendo mais de si mesmas e descobrindo potencialidades antes ignoradas, mas existentes. Com a continuidade parece haver um acordo mútuo e consciente entre a nossa realidade externa e interna. Os resultados logo aparecem em forma de equilíbrio e harmonia. Satisfação de viver e maior propósito e objetividade no dia a dia. É mente e corpo trabalhando juntos. Coordenação e aplicação da respiração correta. A Gangorra - Yin (fase de três movimentos: lateral, rotativo e frontal) Sentados com as pernas cruzadas, envolvendo os joelhos com os braços, imitar o movimento de uma gangorra, massageando o ciático e zona da nádega, ativando a circulação. No movimento circulatório, trabalhamos dez músculos intercostais. No frontal, "o pescoço da garça", acontece um excelente processo de automassagem do deltóide e trapézio, músculos que concentram toda a tensão e stress, tornando-se rígidos e doloridos. Lateral A Asa do Galo - Yang. Movimento de respiração acentuada imitando a abertura da asa do galo. Sentados, pernas cruzadas, num movimento de rotação de ombros e braços, abrir a asa do galo e inspirar. Num movimento de rotação, no sentido contrário, expirar contraindo o diafragma e abdômen, expelindo o ar residual. A Respiração da Barriga - Yin e Yang Ainda sentados, massageando a máscara facial, procurar a junção do maxilar superior, manuseando num sentido rotativo com os dedos indicador e anular. Parar o movimento de rotação e, pressionando o ponto de encontro do maxilar, iniciar uma respiração diafragmática e abdominal, pronunciando a letra "O" barriga para fora e "A" barriga encolhida. É a vivência da expansão e recolhimento, regra fundamental do universo e realidade nossa como seres humanos. Estamos em constante expansão e recolhimento e temos que ter maior consciência de tal fato. Lentamente os exercícios de Chi-Kun nos levam ao encontro de tal realidade, através da respiração e movimentação. O Tigre Sentado - Yang Sentados, com as pernas cruzadas, erguer os braços com as mãos em concha, inspirar e quando chegar acima da cabeça, fechar as mãos, conectar uma com a outra e então descer, soltando o ar e batendo com as mãos no chão, contraindo diafragma e abdômen. Simboliza a captação da energia e eliminação dos excessos promovendo um equilíbrio energético. Repetir por quatro vezes. Variação do Tigre Sentado Sentados com as pernas cruzadas, com as mãos fechadas sobre os rins, circundar a cintura pélvica inspirando e quando chegar no Tan-Tien, pressionar o abdômen e soltar o ar. Repetir quatro vezes. SÉRIE DOS EXERCÍCIOS DEITADOS: O Círculo Energético Deitados, sentindo o corpo espalhado no chão, tomando consciência do peso e tamanho, vamos elevar os braços fechando um circuito energético com as mãos em prece e também as pernas colando as solas dos pés uma na outra. Elevando a parte inferior do corpo onde se situa o sacro, base da espinha dorsal, elevar somente os quadris e cintura pélvica. Estamos ativando a base da espinha. O Ursinho Panda Deitados, segurar os calcanhares, com a cabeça erguida, olhar entre as pernas e num movimento circular balançar o corpo como se fosse um mata- borrão, massageando exatamente o meio da espinha. Expansão e Recolhimento Deitados de lado, começar a esticar o corpo como um arco, inspirando, soltar o ar, deslizando pelo chão num encolhimento tomando a posição do feto. Projeção mental é o cosmos, universo, é nosso corpo, quando expande, é um arco luminoso, quando se recolhe é um ponto luminoso no espaço. Vivenciar em nós as regras básicas do universo é muito importante, pois assim tomamos consciência da nossa relação direta com o macro. A Automassagem (final da aula-protótipo) Deitados, relaxados ao máximo, elevar as pernas e começar a massagear da seguinte forma: a sola do pé massageia a parte interna da perna, o peito do pé a parte externa da perna com batidas regulares que se estendem por toda a perna num sentido de para baixo e para cima. É importante observar que começamos a aula massageando os pés numa postura vertical, com todo o nosso peso sobre eles e terminamos numa invertida, proporcionando ao corpo um diferente fluxo de irrigação sangüínea. Todo o nosso corpo foi trabalhado conscientemente desde a ponta dos pés até o rosto e couro cabeludo. É essa a proposta do Chi-Kun. É uma postura de vida. São exercícios de continuidade e reaprendizado do nosso corpo. O resultado vai depender da vontade de cada um em se descobrir e conhecer mais. Não acredito em milagres, mas acredito que o ser humano é um milagre no seu existir. Esse sim, é ummilagre em que acredito e comprovo pelo resultado vivo que são os meus alunos de Chi-Kun. As posturas aqui apresentadas são o básico do ChiKun. Existem as variações que complementam o trabalho de coordenação motora de braços e pernas trabalhando num conjunto harmônico equilibrado. O total das posturas chega a cento e vinte ou um pouco mais. São posturas bonitas e gostosas de fazer: Pessoas de todas as idades podem descobrir seu tempo e seu ritmo de movimento. É um processo de autopercepção, confiança e realização. O principal é a auto-eficiência, sem dependências, num trabalho de integração e participação Instrutor-Aluno. Como sempre digo a todos os meus alunos, no Grande Jogo da Vida, do qual somos todos participantes, podemos ter regras diferentes para o mesmo jogo. Em épocas diferentes do nosso existir somos jogadores e somos platéia. Participantes e observadores. Ativos e passivos. Yin e Yang sempre na eterna busca, através das mutações, da nossa realidade maior, do self, da alma, essência, não importa o nome que se dê a essa força incrível que move um ser humano na sua trajetória de vida. Espero que muitos se beneficiem dessa técnica tão simples, mas de grandes efeitos. Que cada um se descubra como potencial que é. Essa é a proposta do Chi-Kun. Essa é a minha proposta de trabalho. FALANDO SOBRE A RESPIRAÇÃO Para mim o depoimento vivo das pessoas é de tremenda importância, pois tudo o que é vivenciado, corresponde a uma verdade existencial. Segundo Dina Ingber, mudando a maneira de respirar, mudamos o trabalho do cérebro e ganhamos controle sobre o sistema imunológico e a saúde mental. É a respiração do cérebro. Sempre que antecipamos algum acontecimento importante para nossas vidas, ou suspiramos de alívio, ofegamos de dor ou prendemos a respiração, sentimos falta de ar quando excitados ou inspirados por alguma idéia. Tudo o que sentimos física ou emocionalmente está diretamente ligado à nossa respiração. À nível inconsciente sabemos dessa realidade, porém nada fazemos para aprimorar esse conhecimento quanto à influência da respiração. Consideramos tal fato já explicado pela ciência Ocidental. Colocamos a idéia num conceito simplista de que enquanto respirarmos viveremos e parando de respirar morreremos. Será que é só isso? Claro que não. É muito mais. A pesquisa científica mostrou que a respiração é uma atividade muito complexa, capaz de ter efeitos diretos sobre muitas funções corporais. O padrão de nossa respiração, se respiramos rápida ou lentamente, profunda ou superficialmente e até se respiramos pela narina esquerda ou direita - tudo isso poderia determinar nossa suscetibilidade a doenças, a força de nossos corações e a profundeza de nossas depressões. A respiração, dizem os pesquisadores, pode ser o elo perdido entre as funções voluntárias e involuntárias no cérebro. Embora regulada pelo sistema nervoso, do mesmo modo que o ritmo cardíaco, o fluxo sangüíneo e outras funções orgânicas autômatas, a respiração seria a única dessas funções que pode ser conscientemente alterada. E ao aprender a controlar a respiração, podemos ser capazes de controlar outras funções importantes - ondas cerebrais, secreções, metabolismo. A respiração é o modo pelo qual transportamos oxigênio do ar para as células do nosso corpo, onde ele é usado para queimar carboidrato, proteínas e gorduras, liberando as energias que nos mantêm. É também o modo pelo qual livramos nossos corpos de um subproduto do processo de combustão, o dióxido de carbono. Nenhuma discussão sobre a respiração pode começar sem uma volta rápida em torno do nariz. É a entrada mais estreita do aparelho respiratório e apresenta maior resistência ao fluxo do ar. De fato, respirar pelo nariz exige o dobro do esforço empregado ao aspirar pela boca. Trata-se de bastante esforço: respiramos, em média, dezesseis vezes por minuto. Mas vale a pena, porque o nariz realiza trinta funções diferentes e importantes. Entre outras, filtra o ar para remover a sujeira; umedece, esquenta e dirige o fluxo de ar, registra o cheiro e cria muco. O vestíbulo, área de inspiração do nariz, consiste em duas asas ou alas, de cartilagem flexível e divididas pelo septo. Dentro do nariz há turbinados (filtros), protuberâncias que criam uma intrincada rede de canais, através dos quais o ar circula, pegando umidade e calor: ar frio ou seco irritaria os pulmões. Esse controle de temperatura e umidade explica os diferentes formatos de nariz entre as várias raças. Narizes compridos são uma adaptação a climas frios e secos dão mais espaço para o esquentamento e a umidificação se realizarem. Narizes curtos são bons nos trópicos, onde o calor torna desnecessárias essas duas funções. Revestindo internamente o nariz, há a membrana mucosa, sobre a qual crescem milhares de pêlos pequenos, os cílios. Eles e a membrana pegajosa retêm a poeira antes que ela chegue aos pulmões. Sob a mucosa há uma substância esponjosa, o tecido erétil, que pode se encher de sangue. A mesma espécie de tecido existe nos órgãos sexuais, quando eles se enchem de sangue, durante a excitação; o tecido do nariz às vezes fará o mesmo, numa espécie de reação simpática. O resultado é um fenômeno conhecido como "nariz de lua-de-mel", caracterizado por passagens nasais cronicamente entupidas. Essa ligação entre nariz e órgãos sexuais foi notada por muitos cientistas, inclusive Freud. E a pesquisa mostrou que cólicas menstruais freqüentemente se relacionam à inflamação de certas áreas de revestimento nasal; se as áreas são anestesiadas, as cólicas somem. Durante a respiração normal, nós alternamos entre as narinas esquerda e direita - mudamos de lado a cada duas e meia a quatro horas, num "ciclo nasal" confirmado por vários estudos. Quanto mais velha a pessoa, aparentemente mais longa a duração do ciclo; em alguns casos, ela chega a oito horas. Quando uma narina se torna mais aberta, aumenta a secreção de suas glândulas mucos as. A outra narina, por sua vez, se torna mais fechada, seu tecido erétil incha de sangue e libera muco na narina. Quando continua o ciclo, a narina aberta se enche de muco e a sua sócia começa a abrir, enquanto seu tecido erétil desincha. Podemos facilmente testar essa mudança na abertura nasal ao respirar sobre um pequeno espelho e ver a diferença de tamanho das duas áreas enevoadas. Ou, se assoprar por uma narina e mantiver a outra fechada, você ouvirá uma diferença em diapasão. O lado obstruído tem diapasão mais alto. O dr. I. N. Riga, um otorrinolaringologista romeno, descobriu que de quase quatrocentos pacientes com desvios do septo nasal, os que respiravam mais pela narina esquerda sofriam muito mais de doenças relacionadas com o stress (89% dos que respiravam mais pela narina esquerda, contra 29% dos que respiravam mais pela direita). Corrigida por cirurgia a deformidade nasal, os problemas de stress diminuíram. Um cardiologista americano receitou respiração profunda em narizes alternados a pessoas com angina pectoris e registrou melhoras marcantes. Há muito tempo, os iogues afirmam que a respiração adequada é a chave para o bem-estar mental e físico, e enfatizam o método da narina alternada. Antigos textos iogues dizem que a respiração pelos diferentes lados do nariz afeta nosso comportamento. Contrariamente a Riga, os iogues crêem que a narina direita deve ser usada em empresas ativas, agressivas, e a esquerda em empreendimentos mais quietos e passivos revelando aí uma surpreendente afinidade com as teorias atuais sobre funções do cérebro direito e esquerdo. Um estudo recente, realizado no Canadá, descobriu que o desempenho de tarefas envolvendo atividades do cérebro direito e esquerdo ocorre em ciclos. Em um