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CURSO DIREITO AVALIAÇÃO INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO 1. Defina em que consiste o direito como ciência e tecnologia e explique o que Tércio Ferraz Jr. chamou de tecnologia do direito em sua obra Introdução ao Estudo de Direito? RESPOSTA: Direito como ciência é o ramo do conhecimento humano que tem como objeto de estudo a norma, a lei. No âmbito do direito como tecnologia temos o uso do conhecimento normativo para dar conta das demandas e contendas sociais, mantendo a ordem em um Estado Democrático de Direito. Tércio Ferraz "estuda o direito como um fenômeno decisório, vinculado ao poder e à ciência jurídica como uma tecnologia (...), realiza analiticamente a dicotomia dogmática x zetética, concebida por Theodor Viehweg, seu mestre". (LOUREIRO, 2020, slide 15), assim para o jurisfilósofo o direito como tecnologia pode ser estudado em diversos vieses: dogmático ou zetético, no sentido de solucionar os conflitos existentes na sociedade tendo o Estado como regulador do cumprimento à ordem. “A sua finalidade básica não é conhecer o direito, mas orientar a aplicação do direito. Com isso, não queremos dizer que o jurista dogmático não precisa conhecer o direito (o que seria absurdo), mas que todo o seu conhecimento tem um objetivo bastante definido: possibilitar a aplicação das normas jurídicas aos casos concretos. Assim, a dogmática não é um conhecimento desinteressado, não é um saber pelo saber, mas um saber voltado à realização de uma atividade prática. E é por esse motivo que Tercio Sampaio Ferraz Jr. o chama de pensamento tecnológico, em oposição a um pensamento científico. Para Tercio, os conceitos criados pela dogmática têm uma função diretiva explícita, propiciando instrumentos para a aplicação do direito e não propriamente um conhecimento científico sobre o direito.” (FERRAZ JÚNIOR, 1998 apud SILVA, 2007, p. 89) Fontes: LOUREIRO, Luciana Vieira. Introdução ao Estudo do Direito, 2020. Material disponível em slide. SILVA, Christiane O. P. Dogmática Constitucional, 2007. Disponível em <Portal de Periódicos Jurídicosportal.idp.emnuvens.com.br › article › download>. Acesso em 29/ 04/ 20. 2. Albino Neto, após ter descoberto ser portador de grave doença, foi internado em um hospital. Já inconsciente, necessitou realizar uma transfusão de sangue. Seus familiares, embora alertados sobre a gravidade da doença, proibiram terminantemente que o médico procedesse à transfusão, uma vez que tanto o paciente como seus familiares pertencem a uma religião que condena tal procedimento. O médico, ciente de sua missão – salvar vidas – presente em seu juramento e no Código de Ética da profissão, considerou inaceitável a decisão da família. Diante do impasse e temendo ser acusado de crime de omissão de socorro, em caso de morte do paciente, o médico ingressou em juízo pedindo autorização para proceder à transfusão. a) No caso em exame, a norma religiosa – que impede a transfusão de sangue – e a norma jurídica – que impõe pena para omissão de socorro – são normas de conduta? Justifique. Em que consiste a distinção entre ambas? b) Se Mário estivesse consciente e desejasse descumprir a norma religiosa para salvar-se, indo de encontro ao que desejava sua família sofreria alguma sanção? Justifique. c) Se o paciente viesse a falecer, por não ter havido a transfusão de sangue, e o médico poderia ser acusado de omissão de socorro e condenado? Justifique sua resposta. d) Pelo caso apresentado acima a norma jurídica depende da concordância do indivíduo para se fazer valer? Justifique sua resposta. RESPOSTAS: a) As duas são normas de conduta enquanto uma é ética a outra é religiosa. Em não sendo cumprida a norma ética o médico sofrerá sanção por meio da lei. De acordo com a norma religiosa esta sanção não será imputada ao médico aqui na Terra e sim num outro plano, que se acredita enquanto fé. b) Mário sofreria não apenas uma sanção dentro daquilo que ele julga como sendo certo ou errado e acredita em sua fé, mas também uma pressão do grupo, exclusão do grupo/ classe na qual faz parte. c) Caso o Mário viesse a falecer o médico seria acusado de omissão de socorro, pois fez um juramento e deve obedecer os princípios éticos da sua função. d) Normalmente a norma não precisa estar em concordância com a vontade do indivíduo para que seja posta em prática, pois temos o princípio da coerção para fazer valer a norma. 3. Anita Meirelles é garota de programa e costuma “fazer ponto” na rua Eliseu de Brito, em frente ao edifício de número 10. Marcos, residente do nesse edifício, acredita ser imoral o que ali se passa, pois a moça, embora vestida normalmente, desempenha atividade contrária aos bons costumes da vizinhança. Comunicada a delegacia policial mais próxima, determinou o delegado que a moça fosse retirada imediatamente do local, mantendo-a presa, em seguida, por 48 horas. Liberada, Anita Meirelles noticiou ao Ministério Púbico o cometimento de crime de abuso de poder por parte do delegado. Alegou que a atividade por ela desempenhada, embora imoral para alguns, não é ilegal, por inexistir qualquer regra jurídica neste sentido. a) Dentro dos padrões de moralidade, a atividade desempenhada por Anita é reprovável? Em caso positivo, justifique sua resposta b) Juridicamente, a atividade de Anita é reprovável? Justifique sua resposta c) A atitude do delegado é moralmente reprovável? Nesta hipótese, há identidade entre a regra jurídica e a regra moral? Justifique as respostas. d) Liberada, Anita se dirigiu ao Ministério Púbico e noticiou a situação vivenciada, ou seja, o crime e abuso de poder realizado pelo delegado. Ela poderia realizar este procedimento, que tipo de direito estaria exercendo? Explique e) O direito pode ser inspirado na moral? f) Diferencie direito de moral. RESPOSTAS: a) Para os padrões de moralidade a atividade desenvolvida por Anita é reprovável, mesmo que sua atividade não seja considerada ilegal, porém devemos salientar que a moral é a algo subjetivo. “Diz-se que a moralidade dos atos repousa na própria subjetividade de quem age, enquanto o direito exige instâncias objetivas. Em consequência, a imoralidade do ato exige arrependimento do agente, ou seja, o tribunal da moral é a própria consciência, enquanto no direito a pressão para o cumprimento da ação lícita é objetiva e depende de instâncias externas ao agente.” (FERRAZ JÚNIOR, 2018, p. 393, 394) b) A atividade de Anita não é reprovável juridicamente, pois não na lei contra a prática da prostituição. Segundo Tércio Ferraz "O direito, porém, como ato de poder não tem seu sentido no próprio poder. Só assim se explica a revolta, a inconformidade humana diante do arbítrio. E aí repousa, ao mesmo tempo, a força e a fragilidade da moralidade em face do direito". (2018, p. 395) c) A atitude do delegado é moralmente reprovável, partindo da premissa que a sociedade repudia atitudes truculentas e com abusos de autoridade. De acordo com Tércio Ferraz há uma “similaridade entre normas jurídicas e preceitos morais. Ambos têm caráter prescritivo, vinculam e estabelecem obrigações numa forma objetiva, isto é, independentemente do consentimento subjetivo individual." (2018, p. 393) d) Sim, por ter sido presa durante 48h, sem que sua atividade configure crime previsto em lei, sem ter direito a instituir um advogado, sem direito a um habeas corpus, Anita teve o seu direito à liberdade cerceado, configurando crime de abuso de autoridade por parte do delegado. Portanto, Anita estaria exercendo o direito previsto nos artigos: "art. 5º, LIV, da C. F. Diz: 'ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal'. Esse excesso de prisão, quando ocorre, configura evidente constrangimento ilegal. (...) O art. 5º, LXVIII da C. F. Diz: ‘conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder’.”(TUNE, 2018) e) O direito pode sim ser inspirado na moral em algumas normas, ressalte-se aqui a complexidade deste, tendo em vista que, aquilo que é imoral para uns pode ser tido como normal para outros. f) Direito – coercivo: no direito temos a lei, que normatiza e impõem como o cidadão deve se comportar perante a sociedade; moral – consciência subjetiva: na moral temos a consciência subjetiva que molda a atitude deste cidadão na coletividade. Tércio Ferraz aponta que “(...) Ambos são elementos inextirpáveis da convivência, pois, se não há sociedade sem direito, também não há sociedade sem moral. Não obstante isso, ambos não se confundem, e marcar a diferença entre eles é uma das grandes dificuldades da filosofia do direito.” (2018, p. 393) Fontes: FERRAZ JÚNIOR, Tércio S. INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO: TÉCNICA, DECISÃO, DOMINAÇÃO. Atlas, 2018, 10ª edição. TUNES, Eduardo. Quanto tempo um réu pode ficar preso sem condenação? Disponível em <https://tunesbrasil.jusbrasil.com.br/artigos/466164204/quanto-tempo-um-reu-pode-ficar-preso- sem-condenacao>. 2018. Acesso em 29/ 04/ 20
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