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O_ambiente_e_as_doencas_do_trabalho

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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
O Ambiente e As DOençAs DO trAbAlhO
Elaboração
Elisa Maria Amate
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
UM POUCO DE HISTÓRIA... ....................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
MEDICINA DO TRABALHO, SAÚDE OCUPACIONAL E SAÚDE DO TRABALHADOR ........................ 20
UNIDADE II
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL ............................................................................................ 31
CAPÍTULO 1
SAÚDE DO TRABALHADOR: O COLETIVO E O INDIVIDUAL......................................................... 31
CAPÍTULO 2
ANAMNESE OCUPACIONAL .................................................................................................... 42
CAPÍTULO 3
AGRAVOS À SAÚDE RELACIONADOS AO TRABALHO E AO AMBIENTE ....................................... 45
UNIDADE III
DIRETRIZES E ATORES DA ESFERA PÚBLICO-PRIVADA DA SAÚDE DO TRABALHADOR ................................ 54
CAPÍTULO 1
POLÍTICAS PÚBLICAS EM SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................. 54
CAPÍTULO 2
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E PROGRAMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR ....... 64
CAPÍTULO 3
GESTÃO EM SAÚDE DO TRABALHADOR ................................................................................... 75
UNIDADE IV
SOBRE ALGUNS AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO .................................................................. 91
CAPÍTULO 1
DOENÇAS DO TRABALHO CAUSADAS POR FATORES DE RISCO FÍSICO, QUÍMICO E BIOLÓGICO, 
PSICOERGONÔMICO E MECÂNICO – ACIDENTES .................................................................. 91
CAPÍTULO 2
ACIDENTE COM EXPOSIÇÃO A MATERIAL BIOLÓGICO RELACIONADO AO TRABALHO ............. 94
CAPÍTULO 3
CÂNCER RELACIONADO AO TRABALHO (DECORRENTE DA EXPOSIÇÃO AO BENZENO) ......... 100
CAPÍTULO 4
DERMATOSES OCUPACIONAIS .............................................................................................. 105
CAPÍTULO 5
DISTÚRBIOS OSTEOMUSCULARES RELACIONADOS AO TRABALHO (DORT) ............................... 109
CAPÍTULO 6
PERDA AUDITIVA INDUZIDA POR RUÍDO (PAIR) RELACIONADA AO TRABALHO .......................... 114
CAPÍTULO 7
PNEUMOCONIOSES RELACIONADAS AO TRABALHO ............................................................. 118
CAPÍTULO 8
TRANSTORNOS MENTAIS RELACIONADOS AO TRABALHO ....................................................... 121
CAPÍTULO 9
TRABALHO INFANTIL .............................................................................................................. 130
CAPÍTULO 10
INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS ..................................................................................... 133
PARA (NÃO) FINALIZAR ................................................................................................................... 151
REFERÊNCIAS ................................................................................................................................ 153
5
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade 
dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos 
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém 
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a 
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
6
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para 
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos 
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
7
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
8
Introdução
No cenário contemporâneo, as transformações ocorridas nos processos produtivos 
(precarização, informalidade, globalização etc.) implicam a necessidade de 
construção de conhecimento sobre agravos relacionados ao trabalho para além 
do estudo de suas manifestações clínicas. Essa construção será fomentada como 
categoria fundamental de reconhecimento da relação causa e efeito, resultante da 
interação da tríade ambiente-saúde-trabalho. O ponto de partida será a definição 
dos principais conceitos até o rol de agravos relacionados ao assunto em questão. 
O assunto não se esgota porque ele faz interface direta com as demais disciplinas 
do curso e com o cotidiano de profissionais da área de Segurança e Saúde do 
Trabalhador, pública ou privada. 
Portanto, a disciplina contribui para a discussão dos entrecruzamentos dos 
campos ambiente, saúde e trabalho, por intermédio da compreensão dos aspectos 
conceituais e históricos. Assim, possibilita-se avaliar todas aquelas situações que 
ofereçam risco de acidentes e adoecimento associados aos processos produtivos, 
à avaliação de procedimentos utilizados na investigação das situações de risco, 
bem como às metodologias utilizadas na sua prevenção e controle. Dá-se ênfase 
às morbidades mais prevalentes. 
Objetivos
 » Aprofundar os aspectos conceituais e históricos do campo da Saúde 
Ambiental e do Trabalhador. 
 » Identificar as relações entre saúde, ambiente e trabalho, de maneira 
a estimular a prevençãode fatores de riscos que levariam à redução 
do estabelecimento de Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário 
(NTEP). 
 » Identificar os principais sujeitos envolvidos nos procedimentos de 
investigação de situações de risco para a saúde do trabalhador. 
 » Analisar os procedimentos utilizados para a investigação de situações 
de risco, bem como as metodologias utilizadas em sua prevenção e 
controle.
 » Avaliar as situações de risco e dos acidentes e patologias associados 
aos processos produtivos.
9
UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS 
DA SAÚDE DO 
TRABALHADOR
CAPÍTULO 1
Um pouco de história...
Os acidentes e as doenças relacionados ao trabalho são antigos e a sua origem está 
vinculada ao surgimento do trabalho: ao longo de toda história, as condições do 
ambiente de trabalho têm causado incapacidades e mortes para um grande número 
de trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Observe:
 » Na Antiguidade, essa associação foi encontrada em papiros antigos, 
no Império Babilônico e em escrituras greco-romanas. Nesse período, 
predominava o conceito de fenômenos de origem mágico-religiosa e, 
posteriormente, naturalista. 
 » No Egito, há registros de 2360 a. C., como o Papiro Seler II e o Anastasi 
V, sendo este último conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1800 a. 
C., no qual estão evidenciados problemas relativos a insalubridade, 
periculosidade e penosidade dos profissionais à época (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
 » Em 1750 a.C., o código de Hamurabi trazia em seu bojo cerca de 
281 artigos a respeito das relações de trabalho, família, propriedade 
e escravidão. Um deles, em especial, tratava da pena de morte ao 
arquiteto que projetasse uma casa que desmoronasse e causasse a 
morte de seus ocupantes.
 » As civilizações greco-romanas não tinham interesse em estudar o 
trabalho em si, uma vez que essa área era de competência dos escravos. 
Entretanto, houve estudos relevantes, como o tratado de Hipócrates, 
Sobre os Ares, Águas e Lugares, no século IV a. C., cujo conteúdo 
indicava ao médico a relação entre ambiente e saúde, bem como 
descrevia um quadro de intoxicação saturnina em um mineiro. No 
10
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
séc. I a. C., o naturalista romano Plínio escreveu um tratado chamado 
História Natural, evidenciando o aspecto dos trabalhadores expostos 
a chumbo, mercúrio e poeiras (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
 » No período entre o apogeu do Império Romano e o final da Idade 
Média, poucos relatos foram encontrados sobre doenças. Porém, nessa 
época, foram criadas ordens hospitalares para prestar atendimento a 
enfermos (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
A sociedade feudal caracterizava-se pela produção de bens e serviços efetuados 
pelo trabalho servil e artesanal. Mas qual era a relação de servidão com o acúmulo 
de capital? Os camponeses não eram trabalhadores livres e não tinham direito 
de propriedade ou de venda de sua força de trabalho em troca de salário, onde 
quer que estivessem. O senhor feudal e o clero exigiam os dízimos e impostos, 
pouco se importando com o estado de saúde de seus subalternos. A assistência 
ao doente ou inválido era arcada pela família, pois o trabalho e as doenças 
decorrentes disso não eram objeto de regulamentação e interferência do Estado 
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011). O artesão era capaz de realizar todas as 
tarefas do ofício, conhecendo o início e o fim do trabalho, não o distanciando de 
seu objeto de atuação, o que ocorrerá na Revolução Industrial. 
Após anos, apenas em 1473, Ulrich de Elsborg desenvolveu o estudo sobre 
vapores metálicos, em que há o descritivo de sinais e sintomas de envenenamento 
ocupacional por monóxido de carbono, chumbo, mercúrio e ácido nítrico, além de 
sugerir medidas preventivas (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Até o final do século XV, muitas pesquisas tratavam de doenças causadas por 
agentes químicos, como o estudo completo De Re Metallica (George Bauer ou 
Georgius Agricola, Inglaterra), que se compõe de: problemas relacionados às 
atividades de extração e fundição de prata e ouro; acidentes de trabalho; doenças 
comuns entre mineiros; e meios de prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Já no início do século XVIII, o mundo do trabalho sofreu grandes transformações 
com o surgimento de novos estudos pela Europa e, por conseguinte, com as 
grandes contribuições para a medicina do trabalho, como a obra De Morbis 
Artificum Diatriba, de Bernadino Ramazzini. Em seu estudo, o autor descreveu 
as doenças, os riscos e as precauções relacionados a cinquenta profissões da 
época. É considerado o pai da medicina do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 
2011).
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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
No final do XVIII e início do século XIX, ocorreu na Europa a Revolução 
Industrial, inicialmente na Inglaterra, França e Alemanha, tendo como marcos 
a invenção da máquina a vapor por James Watts (1784) e a publicação polêmica 
de Adam Smith da obra Riqueza das Nações (1776), apontando as vantagens 
econômicas na divisão do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Nesse espectro, a forma de fabricação industrial caracterizou-se por: 
1. Divisão técnica do trabalho.
2. Uso intensivo de máquinas do dono da empresa.
3. Uso de energia motriz capaz de movimentar um conjunto de máquinas. 
A operação das máquinas gerava uma divisão técnica do trabalho 
e as atividades passaram a ser parceladas, com tarefas divididas, 
exigindo movimentos de partes específicas do corpo do trabalhador 
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
Com o furor causado pela Revolução Industrial, houve grande aumento da 
produtividade e ampliação do consumo de bens pela sociedade em geral, 
necessitando de mais mão de obra para conduzir as máquinas. Para isso, foram 
empregados mulheres, homens e crianças (a partir dos 6 anos), em condições de 
trabalho degradantes, como jornada de trabalho prolongada, ruído exacerbado, 
más condições de higiene no local de trabalho, somando-se a esses aspectos o 
elevado número de acidentes e adoecimentos (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
A indústria capitalista demandou legiões de trabalhadores e trouxe consigo 
efeitos devastadores, como alta frequência de mortes, epidemias e mutilações, 
contudo, em função disso, várias leis começaram a ser editadas, principalmente 
na França e Inglaterra (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
A situação só se modificou com os movimentos sociais de trabalhadores, que 
obrigaram legisladores e políticos a repensar o papel do Estado na regulação das 
condições de trabalho nas fábricas. Dessa forma, em 1802, foi aprovada a Lei 
da Preservação da Saúde e da Moral dos Aprendizes e de Outros Empregados, 
constituindo-se, portanto, na primeira legislação de amparo e proteção aos 
trabalhadores. Então, foi criada uma comissão de inquérito do parlamento britânico, 
que estabelecia a jornada diária de trabalho de 12 horas, proibia o trabalho noturno 
e obrigava a ventilação e lavagem das paredes das fábricas pelos empregadores 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
As ações dessa comissão parlamentar resultaram na primeira legislação no campo 
da saúde do trabalhador, em 1833, a Factory Act (Lei das Fábricas), que, apoiada 
pela sociedade britânica, obrigou todos os empregadores a proibirem o trabalho 
noturno para menores de 18 anos e montarem escolas para menores de 13 anos. 
Além disso, a idade mínima para o trabalho passou a ser de 9, e não mais de 6 
anos, e o desenvolvimento físico do trabalhador menor deveria ser avaliado por 
um médico. No mesmo ano, a Lei Operária foi aprovada na Alemanha (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
A Factory Act tomou por base o conselho de Baker, que foi um médico 
contratado por um industrial inglês, Robert Derham, em 1830, para estudar 
a melhor forma de preservar a saúde dos trabalhadores de sua fábrica. Após 
seu estudo, Baker sugeriu que Derham contratasse um médicoque visitasse 
a fábrica diariamente e estudasse a influência do trabalho na saúde dos 
trabalhadores – aqui foi criado o ensaio do primeiro serviço médico industrial 
do mundo. Quatro anos depois, Baker foi nomeado inspetor médico do 
parlamento inglês. A criação da legislação ocupacional na Inglaterra contou 
também com a contribuição de Charles Turner Thackrah, em 1830, quando 
ele publicou um livro sobre doenças ocupacionais.
Quando os trabalhadores começaram a ser contratados massivamente pela via 
salarial, costumava-se pagá-los por produção, e as jornadas de trabalho eram 
muito mais longas do que as atuais – podiam atingir de 16 a 18 horas seguidas – e, 
comumente, eram empregadas crianças e mulheres para realizar tarefas árduas, 
fato gerador de duras críticas por parte das primeiras associações formadas por 
trabalhadores (primeiros sindicatos, por assim dizer). A partir daí, obteve-se 
a melhoria das condições de trabalho e o advento das primeiras leis no século 
XVIII, que se consolidariam especialmente no século XIX, em alguns países da 
Europa, como França e Inglaterra, e nos Estados Unidos da América (MATTOS; 
MÁSCULO, 2011).
No auge da Revolução Industrial, muitos artesãos habilitados foram contratados 
e mantiveram suas tradições e regras de ofício até a difusão da “organização 
científica do trabalho”, por Frederic Taylor, a partir do século XX. Dessas tradições 
e regras de ofício, partiram muitos marcos regulatórios que determinariam a 
organização do trabalho e cuidados aos riscos profissionais para a saúde do 
trabalhador (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
A transição ocorreu com as profundas transformações provocadas pelo 
taylorismo e fordismo. O fordismo desencadeou a 2ª Revolução Industrial 
13
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
quando Henry Ford estabeleceu, em sua montadora de carros nos Estados 
Unidos, o gerenciamento científico de Taylor, valorizando todas as formas de 
intensificação das tarefas e automação industrial (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 
2011), instituindo a produção em série e o consumo em massa. Aqui o trabalhador 
entra como uma equipagem merecedora de processos de análise seletiva na sua 
inserção na indústria. Nessa condição, a manutenção da sua saúde destina-se 
a evitar o absenteísmo por meio de práticas de medicina, psicologia, higiene 
industrial, a fim de não interferir na produtividade e no lucro. 
Leia o artigo “Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas 
rupturas e continuidades”, de Érika Batista, disponível em nossa biblioteca 
virtual. 
A partir do século XX, algumas organizações criaram resoluções e convenções 
na tentativa de melhorar as condições de trabalho e atendimento à saúde em 
todos os países membros que tivessem aderido às referidas convenções. Estamos 
falando de organizações multigovernamentais tais como Organização das Nações 
Unidas (ONU) e suas afiliadas: Organização Internacional do Trabalho (OIT) e 
Organização Mundial da Saúde (OMS) (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Em 1979, foi retomado o movimento sindical no Brasil, e várias entidades tiveram 
acesso às informações das empresas, prontuários, laudos e exames médicos de 
trabalhadores para constituir dossiês e instigar a discussão das suas condições 
de vida e trabalho, divulgando essas informações na imprensa e estações de 
rádio e de televisão daquela época (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
É importante ressaltar que esse movimento deu fruto a uma obra pioneira na 
integração das atividades sindicais com a pesquisa em saúde e área jurídica: 
“De que adoecem e morrem os trabalhadores”, organizado pelo médico Herval 
Ribeiro e Francisco Lacaz. Obras como essa foram fruto de pesquisas organizadas 
pelos sindicatos para melhoria de base técnica em defesa dos direitos dos 
trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Muitos sindicalistas conseguiram espaço com direito a voto nos processos de 
criação e retificação das normas regulamentadoras, bem como a participação 
nos embrionários Conselhos-Centros de Referência em Saúde do Trabalhador 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
O movimento de redemocratização e a abertura cultural e política, aliados 
ao intercâmbio entre entidades ambientalistas, pesquisadores, sindicatos e 
intelectuais da época, resultaram na inserção de leis de proteção ao meio 
14
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
ambiente e saúde do trabalhador na Constituição Federal de 1988 e em 
legislações estaduais (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Essa pressão incisiva, fomentada pelos sindicatos sobre os parlamentares 
e a administração pública, foi, em sua maioria, integrada por categorias de 
trabalhadores atreladas diretamente às atividades econômicas com dependência 
direta dos recursos naturais, das águas, compostos químicos, além de 
trabalhadores rurais, Sem Terras e extrativistas (MATTOS; MÁSCULO, 2011). 
Ora, essas categorias conheciam a real dimensão dos impactos ambientais e da 
saúde dessas atividades econômicas.
Você sabia que a implantação da NR 5 começou, de fato, nas plantas 
industriais químicas e nas refinarias de petróleo? Em 1990, multiplicaram-
se casos de contaminação por exposição a compostos químicos, em que 
as doenças mais prevalentes apresentadas foram leucemia e outros tipos 
de cânceres. Na indústria química, trabalhadores e comunidade em volta 
desses complexos industriais são expostas a toxicidade variada dos insumos, 
produtos e subprodutos efluentes. Por isso, a preocupação da comunidade 
veio a se somar ao foco ocupacional, e a noção de perigo foi cada vez mais 
agregada ao conhecimento dos sindicalistas sobre os riscos químicos para a 
saúde humana e ambiental. 
Os problemas de saúde ocupacional pioraram com a 2ª Revolução Industrial, 
advinda da descoberta da eletricidade e do motor de explosão, culminando no 
surgimento de várias obras que tratavam da situação do mundo do trabalho 
naquela época, como o livro O Capital, de Karl Marx, que trata principalmente 
dos mecanismos de acumulação de capital pelos empregadores por meio da 
mais-valia, além de descrever a exploração da mão de obra na Inglaterra. Nesse 
período, a enfermeira italiana Florence Nightingale publicou, em 1861 asNotas 
sobre a enfermagem para as classes trabalhadoras, tornando-se pioneira em 
sua área de atuação. 
Diante do quadro preocupante, muitos países do continente europeu aprovaram 
leis sobre a reparação de acidentes e doenças profissionais, como a Alemanha 
(1884), Inglaterra (1897), França (1898), Portugal (1913) e, no continente 
americano, os Estados Unidos (1911) (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Em 1900, foi criada a Internacional Association for Labour Legislation, 
embrião da OIT, que seria formalmente criada após 19 anos. As duas 
primeiras convenções internacionais sobre o trabalho, especificamente sobre 
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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
trabalho noturno das mulheres e eliminação de fósforo branco da indústria 
de máquinas, foram originadas em conferências diplomáticas realizadas em 
Berna, na Suíça (1905). A medicina do trabalho foi reconhecida enquanto 
especialidade somente em 1954. 
Os movimentos mundiais pela conscientização do papel fundamental da saúde 
do trabalhador foram motivadores para o trabalho em conjunto da OIT e OMS 
de tal modo que, na década de 1950 do século passado, uma comissão conjunta 
foi formada para tratar da saúde ocupacional, na Suíça, e, desde essa época, o 
tema tem sido debatido em vários encontros da Conferência Internacional do 
Trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).
Na história brasileira colonial e imperial, a mão de obra escrava teve uma 
importância central no panorama econômico, perfazendo um total de 400 anos 
de trabalho escravo. Diferentemente do que imaginamos, naquela época, surgiu 
uma prática de medicina do trabalho dirigida aos escravos com um foco do 
que hoje seria a zootecnia ou medicina veterinária: o escravo era considerado 
mercadoria animal, cujo senhorio era proprietário docorpo físico, da liberdade 
e da prole do escravo por toda a eternidade.
Considerando a escravidão em larga escala nas Américas, o mercado de escravos 
organizou-se de maneira distinta do mercado de força de trabalho desenvolvido 
no modo capitalista industrial. A visibilidade da doença do trabalho se perdia 
em um mundo de extrema violência e crueldade, o que se configuraria num 
massacre moral extremo e desastre epidêmico (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 
2011). Quando doentes, os escravos eram tratados por seu valor patrimonial, 
caso houvesse interesse do proprietário. Se não sobrevivesse, era substituído 
por outro hígido. 
Segundo Vasconcelos e Oliveira (2011), a medicina do trabalho no Brasil surge 
como aquela assistência à saúde dos escravos por meio de práticas de medicina 
veterinária aplicadas aos seres humanos em cativeiros. Algumas leis foram 
promulgadas para amenizar o sofrimento dos escravos durante o Império, 
culminando com a Lei Áurea, em 1888. 
Pouco se diferenciavam as condições de trabalho no Brasil com aquelas 
encontradas na Europa, quando do advento da indústria em território nacional. 
Com o aumento da atividade fabril, principalmente em São Paulo, os movimentos 
sociais pressionaram o Estado à criação de legislação trabalhista em 1917, ainda 
que rudimentar, e também de uma lei sobre acidentes de trabalho em 1919. 
Aqui, a Revolução Industrial foi tardia, assim como em toda a América Latina, 
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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
lá pelos idos dos anos de 1930, tendo-se a promulgação da Consolidação das 
Leis do Trabalho (1943), por Getúlio Vargas, como marco principal do século XX 
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).
A 8ª Conferência Nacional de Saúde (em 1986) e seus desdobramentos na 
Assembleia Nacional Constituinte (1988), bem como a criação do Sistema Único de 
Saúde (1988), advieram dos ideais e bases teóricas fomentados pela Epidemiologia 
Social. Ela apresentou avanços tecnológicos importantes na América Latina, desde 
o final da década de 1970, tendo grande reflexo na saúde pública brasileira. 
A ênfase no processo de produção estimulou a expansão conceitual da “Saúde 
Ocupacional” para “Saúde dos Trabalhadores”, concomitante à implantação de 
políticas de saúde coerentes com esse novo marco. Em paralelo, a pauta da saúde 
ambiental ganhava espaço nas esferas políticas do mundo inteiro. Após a Rio 92 
(Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, 
também conhecida como Eco-92), no Brasil, o campo da saúde ambiental teve 
uma abertura maior não apenas ao debate específico sobre o saneamento básico 
e as doenças infectocontagiosas, mas também ao enfoque de problemáticas a 
respeito de agrotóxicos, metais pesados, contaminação das águas para consumo 
humano, ambiente urbano, além de outros. Isso representaria os primeiros 
passos para o delineamento de uma política de saúde ambiental consistente 
(RIGOTTO, 2003).
As questões ambientais são histórica e tradicionalmente relacionadas à saúde no 
Brasil, do ponto de vista institucional – numa preocupação quase que exclusiva 
de instituições voltadas ao saneamento básico (água, esgoto, lixo etc.). Durante 
muitos anos estiveram pautadas nas propostas do Governo e atreladas a diversas 
áreas internas do aparelho Estatal, notoriamente em alguns ministérios, 
como o do Interior e da Saúde, além de secretarias estaduais e municipais e 
algumas Universidades. A partir da década de 1970, com a piora dos problemas 
ambientais gerados pelo crescimento industrial, novas instituições surgiram 
ou foram criadas, como a Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente 
(FEEMA) e a Companhia Estadual de Tecnologia em Saneamento Ambiental 
(CETESB). Essas instituições contribuíram para o desenvolvimento de ações de 
monitoramento e controle da poluição ambiental, sem sequer ter ligação com 
o sistema de saúde. Em outra via, a elaboração de novas teorias e abordagens 
que renovavam esse aporte institucional estava latente no mundo acadêmico – 
estando majoritariamente associada a outras organizações civis no bojo da luta 
pela redemocratização do país (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998). 
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17
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Com o crescimento da área de saúde do trabalhador, a partir do final da década 
de 1970, e durante toda a década de 1980, ficou explícito o elo existente entre 
essas questões e o sistema de saúde, abrindo o caminho para a incorporação 
de uma saúde ambiental moderna no setor. Em 1992, no Rio de Janeiro, um 
período anterior à realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio 
Ambiente e Desenvolvimento (UNCED) também corroborou para aumentar 
as preocupações com os problemas de saúde relacionados ao ambiente. Além 
disso, esse período pode ser caracterizado pelo crescimento dos movimentos 
ecológicos – ONGs e outras formas organizadas de luta da sociedade civil 
pela preservação do ambiente e da saúde –, que ganharam dia após dia mais 
publicidade. Esse desenrolar de fatos históricos concatenados demonstra e 
explicita o convencimento do meio político e social a respeito da importância 
da questão ambiental em seus desdobramentos para a saúde humana, atingindo 
todo o planeta também (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998). 
O Sistema Único de Saúde (SUS) é resultado de vários movimentos inesperados na 
área de saúde do trabalhador: influencia a organização da saúde do trabalhador 
na rede pública como direito universal e dever do Estado, incorpora princípios 
institucionais nas legislações estaduais, introduz o conceito ampliado de saúde 
do trabalhador – diferente dos conceitos reducionistas de medicina do trabalho 
e saúde ocupacional –, e vislumbra a saúde como elemento central na proteção 
dos trabalhadores diante das imposições econômicas e sociais dos processos de 
trabalho historicamente arraigados (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).
Em resumo, as explanações contidas neste capítulo trazemoz um quadro resumo 
dos anos e eventos históricos no Brasil que têm relação com a evolução histórica da 
legislação trabalhista e saúde do trabalhador, como segue abaixo: 
Quadro 1. Sequência histórica de fatos importantes para a saúde do trabalhador.
Período Evento
1700 Lançamento do livro De morbis articum Diatriba, pelo médico italiano Ramazzini.
1760-1820 Revolução industrial, gerando grande número de mutilados e doentes.
1884 Surgem as primeiras leis a respeito do acidente de trabalho na Alemanha.
1888 Lei Áurea - abolição da escravidão.
1919 Lançado o decreto 3724, sobre o saúde do trabalhador.
1919 Criação da OIT pelo tratado de Versalhes.
1943 Publicada a Consolidação das Leis Trabalhistas, no governo de Getúlio Vargas.
1946
Criação da OMS.
O Brasil amplia as normas de Segurança e Saúde no trabalho (SST), instituindo os SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de 
Segurança e em Medicina do Trabalho) e a CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). 
1977
Mudança do cap. V título II da CLT, por intermédio da Lei 6514 de 1977, para aprofundar as medidas preventivas para retirar o 
Brasil do topo das estatísticas de acidente de trabalho.
18
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
Período Evento
1978
Publicação das NRs, pela Portaria 3214.
Houve questionamento dos sindicatos sobre o adicional de remuneração para compensar a exposição aos riscos ocupacionais, que 
chamaram de “adicional de suicídio”.
1981
Publicação da Convenção da OIT 155 sobre a segurança e saúde dos trabalhadores, tratando a participação ativa deles nas 
questões envolvendo SST. A partir de então configura-se a saúde do trabalhador.
1986
8a Conferência Nacional de Saúde, que trouxe em seu relatório final o texto que embasaria não apenas a Constituição Federal em 
seus artigos 196 a 200, como a elaboração de uma lei para o futuro SUS.
1988
Instituição da Constituição Federal,na qual a saúde é tida como direito social com garantia aos trabalhadores da redução dos riscos 
inerentes ao trabalho.
1990
Ratificação da Convenção 161, sobre a Segurança e Saúde dos trabalhadores.
Criada a Lei Orgânica do SUS, Lei 8080. Aqui as vigilâncias epidemiológica e aanitária seriam responsáveis pelas ações de 
promoção e proteção à saúde do trabalhador.
1998 Publicada a Portaria Ministerial do Ministério da Saúde tratando da vigilância em saúde do trabalhador.
2002
A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) é criada por meio da Portaria 1679. A RENAST constituiu-
se assim uma rede pública de os núcleos de vigilância em saúde do trabalhador estabelecida pelo Ministério da Saúde. Essa rede é 
explicitada nos próximos capítulos. 
2009
A Portaria 2728 estabelece as atribuições dos CERESTs, enquanto uma rede estruturada, hierarquizada e provida de ações 
específicas de prevenção e promoção à Saúde do trabalhador. 
... ...
2011 Instituída a Política Nacional de Saúde e Segurança do trabalho, com vistas a atender a convenção 155.
2012 Institui a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora
2014 Realização da 4a Conferência de Saúde do trabalhador
2018
2a Jornada de Saúde do Trabalhador e Trabalhadora, além de ter publicado o Atlas do Câncer, o Conselho Nacional de Saúde ratifica 
as propostas apresentadas no relatório final da 4a conferência de ST, apresenta proposta de reorganização da Atenção Integral à 
Saúde dos Trabalhadores no SUS a ser submetida à análise do Ministério da Saúde.
Fonte: Adaptado de Teixeira (2016), 2018.
Segundo a OMS (2018), os maiores desafios para a saúde do trabalhador 
atualmente e no futuro são os problemas de saúde ocupacional ligados com: 
 » As novas tecnologias de informação e automação.
 » Novas substâncias químicas e energias físicas.
 » Riscos de saúde associados a novas biotecnologias.
 » Transferência de tecnologias perigosas.
 » Envelhecimento da população trabalhadora; 
 » Problemas especiais dos grupos vulneráveis (doenças crônicas e 
deficientes físicos), incluindo migrantes e desempregados.
 » Problemas relacionados com a crescente mobilidade dos trabalhadores e.
 » Ocorrência de novas doenças ocupacionais de várias origens.
19
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Falaremos detidamente sobre esse assunto nos próximos capítulos, 
quando da evolução das políticas de Saúde no Trabalho (ST) no SUS até a 
atualidade, partindo da década de 1980.
Veja as AULAS 1 e 2 – Aspectos Gerais de ST e história.
20
CAPÍTULO 2
Medicina do trabalho, saúde 
ocupacional e saúde do trabalhador
A medicina do trabalho está pautada principalmente na presença de um serviço 
médico dentro das empresas, para monitorar a saúde dos trabalhadores, modelo 
ainda muito próximo à sua origem na Revolução Industrial (vide história de 
Baker). 
Segundo a ANAMT (2019), a Medicina do Trabalho pode ser definida como: 
Especialidade médica que lida com as relações entre a saúde dos 
homens e mulheres trabalhadores e seu trabalho, visando não 
somente a prevenção das doenças e dos acidentes do trabalho, 
mas a promoção da saúde e da qualidade de vida, através de ações 
articuladas capazes de assegurar a saúde individual, nas dimensões 
física e mental, e de propiciar uma saudável inter-relação das pessoas 
e destas com seu ambiente social, particularmente, no trabalho.
Ela atua especificamente visando a promoção e a preservação da saúde do 
trabalhador. Compete ao médico do trabalho avaliar e detectar condições adversas 
nos locais de trabalho, ou sua ausência.
Mendes e Dias (1991) descrevem, além dessas, outras características típicas da 
especialidade em questão: é-lhe atribuída a tarefa de cuidar da “adaptação física 
e mental dos trabalhadores”, supostamente contribuindo na colocação deles 
em lugares ou tarefas correspondentes às aptidões. Essa adaptação estaria mais 
limitada à seleção de candidatos mais sadios e à adequação dos trabalhadores às suas 
atividades, e não o inverso. É atribuída a essa tarefa “a contribuição à manutenção 
do nível mais elevado possível do bem-estar biopsicossocial dos trabalhadores”, 
conferindo-lhe ainda um caráter de plenitude e inerente à própria concepção 
positivista da prática médica. 
Na área das ciências da Administração, o desenvolvimento da administração 
científica do trabalho encontrou uma forte aliada para aumentar a produtividade 
nas empresas: a medicina do trabalho, onde esta dá sustentação ao desenvolvimento 
da “Administração Científica do Trabalho”, fundamentando os princípios de Taylor 
que posteriormente serão ampliados por Ford (MENDES; DIAS, 1991).
21
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Entretanto, essa onipotência começa a dar espaço a uma nova abordagem da relação 
saúde versus trabalho, denominada saúde ocupacional, que visava à adequação à 
nova realidade resultante das inovações tecnológicas introduzidas após a Segunda 
Guerra Mundial (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Assim, o contexto econômico e 
político – como o pós-guerra, o custo provocado pela perda de vidas e as doenças do 
trabalho – começou a ser também sentido pelos empregadores e pelas companhias 
de seguro, às voltas com o pagamento de pesadas indenizações por incapacidade 
provocada pelo trabalho (MENDES; DIAS, 1991).
Uma vez que o modelo positivista centrado na figura do médico não respondia 
às inovações tecnológicas e da sociedade, repensou-se a metodologia que aliasse 
médicos e engenheiros para higienizar os ambientes insalubres, ou seja, o que antes 
tinha como centro das atenções o trabalhador, agora extrapola para o ambiente em 
volta. Eis que surge a saúde ocupacional. 
Entretanto, nas escolas de saúde pública dos Estados Unidos, o desenvolvimento 
do novo modelo proposto não promoveu a multidisciplinariedade na íntegra, 
acompanhado de certa desqualificação do aspecto epidemiológico do trabalho 
(MENDES; DIAS, 1991). 
Para Mattos e Másculo (2011), essa abordagem é tecnicista, valoriza os ambientes 
de trabalho e agentes ambientais com atenção à saúde do trabalhador sadio, 
quantifica os riscos ambientais e despreza a análise dos processos de trabalho e 
organização da produção com o contexto social. O trabalhador permanece como 
objeto de análise – para melhor produtividade – e não como sujeito ativo de 
transformação do seu meio. 
A partir do final dos anos 1960, começam as críticas à concepção de saúde e 
à denúncia dos efeitos negativos da medicalização e do caráter reprodutor e 
ideológico das instituições médicas. Nesse intenso processo social de práticas 
alternativas e discussões teóricas, a teoria da determinação social do processo 
saúde-doença ganha corpo (MENDES; DIAS, 1991). O modelo operário italiano 
contribuiu para as mudanças na relação saúde versus trabalho, por meio do 
Estatuto dos Direitos dos Trabalhadores (1970), em que foram incorporadas as 
reivindicações dos trabalhadores ao corpo da lei. 
Dessa forma, surge um novo conceito de trabalho versus saúde, enquanto 
modelo participativo, em que: 
1. O trabalhador é sujeito de transformações do ambiente de trabalho.
2. A epidemiologia estuda as questões sanitárias da massa de 
trabalhadores e não do indivíduo.
22
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
3. O indivíduo agora é considerado ser holístico, traduzindo esse 
modelo quanto ao cuidado biopsicossocial, levando-se em conta os 
macrocondicionantes externos ao trabalho nos determinantes em 
saúde para o desenvolvimento de doenças e agravos relacionados 
ao trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011; ANAMT, 2014). 
As ações vinculadas à relação saúde-trabalho são resultado de diferentes conceitos 
e práticas de diversas correntes que tentaram, ao longo de anos, trazer a hegemonia 
do conceito (conhecimento) para si. Esse modelo de análise nos permite conceber 
alguns conceitos de áreas específicas no campo da saúde e das normas (jurídicas) 
segundo a sua abordagem em relação ao processo de trabalho, refletindo-seem 
algumas áreas específicas, como a medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde 
do trabalhador (MATTOS; MÁSCULO, 2011). 
A saúde do trabalhador amplia o conceito de saúde voltada especificamente 
a uma população e agrega outros valores vinculados à transversalidade e à 
multifatorialidade da saúde humana, vendo o trabalhador como um sujeito ativo 
em seu ambiente de trabalho e no próprio autocuidado, como mostra a figura 
abaixo. 
Figura 1. Transversalidade da saúde do trabalhador.
 
 
Saúde do 
trabalhador
Saúde
Relações 
sociais
Micro e 
macroambiente
de trabalho
ReligiãoTrabalho
Economia
Lazer
Fonte: próprio autor (2018).
Veja a AULA 3 – Medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador
23
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
Bernardino Ramazzini, médico italiano nascido em Carpi, em 1633, é 
considerado o pai da Medicina do Trabalho. Abaixo podemos observar não 
apenas a foto do renomado médico, mas uma de suas obras. 
Figura 2. Fotografia do médico Bernadino Ramazzini.
 
 Fonte: Wikipedia (2018).
Na figura acima, observamos a imagem do livro As Doenças dos 
Trabalhadores, 1700, traduzido para o português pelo Dr. Raimundo 
Estrela. Nele, Ramazinni descreve os principais problemas de saúde de 
cerca de 54 profissões. Chama a atenção para a necessidade de os médicos 
conhecerem a ocupação atual e pregressa de seus pacientes ao fazer o 
diagnóstico correto e adotar os procedimentos adequados.
A relação saúde, ambiente e trabalho
O homem é ao mesmo tempo criatura e criador do meio ambiente, 
que lhe dá sustento físico e lhe oferece a oportunidade de 
desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente (...) 
Natural ou criado pelo homem o meio ambiente é essencial para o 
bem-estar e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, até 
mesmo o direito à própria vida (ONU, 1972).
Quaisquer ações do homem têm impacto sobre a natureza, sejam positivas 
ou negativas: a sua criticidade, determinada pela intensidade e pela natureza 
do impacto, é equivalente à organização social e às atividades econômicas 
desenvolvidas pelo homem. Dentre alguns problemas apresentados por essa 
relação entre o homem e a natureza, ressaltam-se os ambientais, que incidem 
sobre a saúde. Em meados do século XIX, o intenso processo de industrialização e 
urbanização acelerou os efeitos do meio ambiente na saúde humana, acometendo 
as condições de vida e trabalho das populações (RADICCHI e LEMOS, 2009).
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24
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
É pacificado o entendimento dos cientistas e estudiosos do assunto acerca da 
existência de uma crise generalizada e profunda, insistentemente denominada 
por alguns deles como “crise da modernidade”. Um dos aspectos evidentes 
dessa crise diz respeito à questão ambiental. Depois de longa trajetória 
de crescimento, marcada pela infinita capacidade do desenvolvimento 
tecnológico em dar resposta aos problemas externos produzidos pelos 
processos produtivos, no início dos anos 1970, a economia contemporânea 
tem seus padrões de produção e consumo questionados (RADICCHI e LEMOS, 
2009).
Os problemas ambientais são decorrentes tanto da modernidade expansiva 
quanto do atraso e da pobreza: países pobres e ricos, ambientes aquáticos e 
terrestres, a atmosfera e as aglomerações urbanas, todos vivem as consequências 
(impactos) dos modos de produção e reprodução material criados pela e na 
modernidade.
Esses impactos ambientais gerados sobre a saúde humana podem se manifestar 
sob a forma de eventos agudos de grandes proporções, como os acidentes 
industriais ampliados – Seveso, Chernobyl, Bhopal, entre outros –, bem 
como do adoecimento em doses homeopáticas traduzido em mortes, cânceres, 
malformações congênitas e intoxicações crônicas geradas por contaminações 
ambientais devido à prolongada exposição a doses variadas de diferentes 
poluentes.
Desigualdades entre povos, países ou até mesmo regiões fazem com que muitos 
problemas ambientais atinjam populações mais pobres e marginalizadas pelo 
processo de desenvolvimento de forma diferenciada. Riscos ambientais modernos 
atingem com mais gravidade os “excluídos”, como aquelas pessoas que moram em 
áreas de risco como encostas, áreas de enchentes ou de poluição.
Os processos que mais consomem recursos naturais e os mais geradores de 
poluentes se caracterizam por processos de trabalho muito insalubres e perigosos 
e tenderiam a se localizar naqueles locais que apresentam legislações ambientais 
e trabalhistas mais flexíveis, onde a população (trabalhadores) esteja mais 
suscetível a aceitar precárias condições de vida e trabalho, bem como onde a 
desinformação é o canal mantenedor de injustiças ambientais (RIGOTTO, 2003).
Em nível de industrialização, essa desigualdade é traduzida enquanto “perigos 
tradicionais” como, por exemplo, a contaminação dos alimentos por organismos 
patógenos, a falta de acesso a água potável, ao saneamento básico deficitário em 
moradias e nas comunidades pobres etc. Já os “perigos modernos estão relacionados 
25
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
ao desenvolvimento rápido e ao consumo insustentável dos recursos naturais” 
(RIGOTTO, 2003) que não levam em conta a proteção à saúde e ao meio ambiente. 
Esses “perigos modernos” são oriundos de processos produtivos – particularmente 
os de natureza industrial –, nos moldes do padrão de consumo que o modo de 
produção capitalista impõe à sociedade bem como na indução da utilização de 
mão de obra das aglomerações urbanas, de forma a atender às necessidades 
de força de trabalho e infraestrutura. Seriam os seguintes perigos modernos: 
indústria e agricultura intensiva; contaminação do ar urbano pelas emissões de 
motores de veículos, centrais energéticas e indústria; acumulação de resíduos 
sólidos e perigosos; contaminação da água pelos núcleos de população etc. 
(RIGOTTO, 2003).
Para saber mais sobre injustiça ambiental e o mapa de conflitos atuais no Brasil, 
acesse o link a seguir.
<http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/>.
A alteração dos elementos do sistema cria desequilíbrio e, ao tender para 
o equilíbrio, pode significar benefício ou não para os seres humanos e/ou 
biológicos.
Para Rigotto (2003), reconhecer que este tema é complexo e demanda práticas 
inter e transdisciplinares de produção de conhecimento torna-se essencial 
à superação dos reducionismos por meio de uma ciência mais dirigida à 
identificação dos problemas e reconhecimento dos seus limites. Legitimando 
esse entendimento da autora, no mesmo sentido, as políticas intersetoriais e 
participativas devem ter ciência dessa dimensão complexa dos problemas 
ambientais. Reitera-se a necessidade de redelineamento e reorientação da função 
do setor de saúde diante do tema “ambiente”, na elaboração de um modelo mais 
amplo, fundamentado na promoção da saúde e na perspectiva ampliada de 
vigilância em saúde – superando o modelo hegemônico assistencial-sanitarista 
vigente (RADICCHI; LEMOS, 2009).
Ainda segundo aquela autora (Rigotto, 2003), um indivíduo é considerado 
exposto a um fator de risco quando existem vias de ingresso do fator ao organismo 
(inalação, ingestão, contato dérmico etc.). Nas situações de exposição a algum 
poluente, é estritamente necessário o conhecimento a respeito de: 
26
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
 » Toxicologia do contaminante, características como a capacidade de 
transformação, tempo de atividade no ambiente e vias de ingresso no 
organismo, por exemplo.
 » Grupo de pessoas exposto a esse poluente.
 » A fonte do risco e o local de exposição a ele.
 » Tempo, intensidade e frequência de exposição das pessoas ao risco. 
Para a saúde ambiental, as evidências maiores são representadas pelos 
acidentes, doenças e outros agravos causados por condições do ambiente. 
Contudo, quanto às doenças e aos agravos, é complexo definir qual fator 
ambiental adversointerferiu diretamente na saúde de uma pessoa exposta. 
Esse fator deveria ser estudado. Essa situação é agravada quando a 
sintomatologia apresentada pelo exposto é inespecífica, podendo o quadro 
clínico ficar inalterado muito tempo após a fase inicial da exposição. Essa 
peculiaridade na saúde ambiental é latente nos estudos epidemiológicos, 
em que é comum a existência de casos suspeitos, que posteriormente 
podem ser confirmados ou não. Por isso, é importante a vigilância em 
saúde e a valorização desses sinais e sintomas precoces dos agravos nos 
estudos epidemiológicos, uma vez que as ações de saúde nessa fase são 
mais efetivas e podem evitar o desenvolvimento completo do agravo 
(RADICCHI; LEMOS, 2009).
Nos anos 1990, a Organização Mundial da Saúde desenvolveu um “marco causa-
efeito para a saúde e o ambiente”, voltado para a elaboração de indicadores 
de sustentabilidade ambiental pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável 
das Nações Unidas e pela Organização de Cooperação para o Desenvolvimento 
Econômico (OCDE). No campo das relações saúde-ambiente, Briggs, Corvalán 
e Nurminen, em 1996, construíram um amplo arcabouço de indicadores de 
saúde ambiental, incluindo temáticas afetas ao contexto sociodemográfico, às 
condições de saneamento básico, aos fatores de riscos ocupacionais, à segurança 
alimentar, à poluição do ar, entre outras, relacionado abaixo (RIGOTTO, 2003): 
 » Forças motrizes: são responsáveis pela criação das condições que 
podem desenvolver ou evitar distintas ameaças ambientais para 
a saúde. Estão assentadas nas políticas que estabelecem as linhas 
mestras do desenvolvimento econômico, tecnológico, dos padrões 
de consumo e do crescimento da população. São elas: população, 
urbanização, pobreza e desigualdade, avanços técnicos e científicos, 
pautas de produção e consumo, desenvolvimento econômico. 
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27
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
 » Elas exercem... 
 » Pressões sobre o meio ambiente, como a superexploração, 
contaminação e desigualdade na distribuição da água; a 
urbanização; a disputa pela terra, a degradação do solo e as 
mudanças ambientais decorrentes do desenvolvimento agrícola; 
a industrialização que, embora traga melhores perspectivas, tem 
consequências desfavoráveis, como as emissões, os resíduos, a 
utilização de recursos naturais, os acidentes industriais maiores; 
a energia, em que o uso doméstico de biomassa e carvão ameaça 
a qualidade do ar em ambientes fechados; as centrais térmicas, 
as indústrias e os meios de transporte que usam combustíveis 
fósseis e contaminam o ambiente; e as hidrelétricas que provocam 
deslocamento de populações e causam mudanças ecológicas; além 
da energia nuclear. 
 Essas pressões podem produzir mudanças no... 
 » Estado do meio ambiente, alterando a qualidade do ar ambiental 
urbano, contaminando o ar das moradias; expondo-o a radiações 
ionizantes; gerando resíduos domésticos; contaminando ou 
promovendo acesso desigual à água, ou facilitando a transmissão de 
doenças transmitidas por vetores relacionados à água; contaminando 
biológica ou quimicamente os alimentos; degradando o solo; trazendo 
problemas relacionados à habitação – escassez, confinamento, 
qualidade dos materiais; acidentes e lesões; trazendo exposições 
nos locais de trabalho e, finalmente, gerando mudanças ambientais 
de impacto global, como as mudanças climáticas, o esgotamento da 
camada de ozônio, a contaminação atmosférica transfronteiriça e o 
movimento dos resíduos perigosos; além do problema das exposições 
combinadas procedentes de distintas fontes. 
 Para que esse estado alterado do ambiente exerça algum efeito sobre a 
saúde humana, entre outros fatores, tem que haver a... 
 » Exposição, enquanto interação entre o ser humano e o perigo ambiental. 
 Dessa exposição vão resultar... 
 » Efeitos sobre a saúde, que variarão em intensidade, magnitude e tipo 
de acordo com a natureza do perigo, nível de exposição e número de 
28
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
afetados. Eles atuam junto com os fatores genéticos, a nutrição, os 
riscos ligados ao estilo de vida e outros fatores para provocar a doença. 
São eles: as infecções respiratórias agudas, as doenças diarreicas, as 
preveníveis por vacinação, as doenças tropicais transmitidas por vetores 
e as doenças emergentes, os acidentes e intoxicações – ocupacionais 
ou não; as alterações de saúde mental relacionadas a fatores físicos, 
químicos e psicossociais; as doenças cardiovasculares; o câncer – de 
origem ocupacional, por agentes infecciosos, por contaminantes do ar, da 
água ou dos alimentos, das radiações ionizantes e não ionizantes, ou dos 
fumos de tabaco; as doenças respiratórias crônicas, alergias e problemas 
de saúde da reprodução (RIGOTTO, 2003).
Instrumentos para o estudo das relações 
produção-trabalho-ambiente-saúde – roteiro 
para estudo dos processos de trabalho em sua 
relação com o ambiente interno e externo às 
atividades produtivas
Ao longo desta unidade, verificou-se a intrínseca relação entre a saúde, o 
ambiente e o trabalho. A construção histórica de conceitos cruciais se desvelou 
em processos humanos impactantes no meio ambiente, bem como nos efeitos 
desses processos na saúde humana, constituindo-se enquanto ciclo. 
Assim, não há que se falar de saúde do trabalhador sem vinculá-la à saúde 
ambiental e vice-versa. Mas, como se poderia analisar os processos de trabalho, 
considerando o ambiente externo à fábrica? Para facilitar essa análise, Rigotto 
(2003) elaborou um estudo de processos de trabalho e sua relação com o meio 
ambiente, abrangendo os ambientes internos e externos às atividades produtivas. 
O roteiro a seguir foi adaptado segundo diretrizes estabelecidas pela autora. 
a. Identificação da empresa: razão social, localização, ramo de 
atividades.
b. Instalação da empresa: área física, tipo de construção, ventilação 
e iluminação. Condições de conforto e higiene (refeitórios, 
instalações sanitárias e fornecimento de água potável, vestiário, 
transporte dentro da empresa).
c. Aspectos históricos da organização da empresa: origens da 
empresa e do capital, evolução, procedência, unidades, produção 
29
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I
e mercado consumidor, matérias-primas, subprodutos e produtos 
finais.
d. Etapas do processo produtivo (fluxograma): descrever cada 
uma das etapas do processo de produção, materiais utilizados, 
ferramentas, máquinas, processos auxiliares ou paralelos bem como 
produtos finais, resíduos e subprodutos. 
e. Trabalhadores e relações de trabalho: procedência, distribuição 
por sexo, idade e etnia, escolaridade, treinamento para a função, 
critérios para seleção, formas de contrato de trabalho, remuneração, 
benefícios e jornada de trabalho.
f. Organização do trabalho: percepção do trabalhador sobre seu 
trabalho, grau de satisfação, mecanismos de controle do ritmo e 
da produção. Jornada diária, salário, pausas, horas extras, férias, 
contrato de trabalho, relacionamento com colegas e chefias. 
g. Condições ambientais de trabalho e atenção à saúde: 
riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos, de acidentes; 
natureza, dose, fontes, momentos críticos; medidas de proteção 
individual e coletiva com adequação, manutenção, eficácia, uso 
efetivo de equipamentos ou remodelagem de processos; política de 
assistência médica, ações de segurança e saúde no trabalho; dados 
epidemiológicos sobre doenças e acidentes.
h. Relação com o meio ambiente: área: recursos físicos e espaço 
ocupado. Fonte e consumo de água, consumo de energia elétrica 
e de combustíveis. Poluentes da água: vazamentos de tanques, 
dutos, canalizações, válvulas, bacias, valas e canaletas; borras 
e lamas; efluentes líquidos; descarte de fluidos, saídas líquidas 
das estações de tratamento de esgotos e de despejos industriais 
(dimensionamento e adequação do tratamento). Poluentes do ar: 
produtos da combustão, gases combustíveis residuais, emanaçõesde substâncias químicas (formas de captação e tratamento). 
Poluentes do solo: resíduos sólidos, aparas e sucatas, borras, 
cinzas e poeiras coletadas, embalagens utilizadas (tratamento e 
destinação). Geração de ruído. Transporte de matérias-primas e 
de produtos finais: eixos. Coletividades humanas concernidas: 
vizinhos e transeuntes.
30
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
i. Relações institucionais: com o município, o estado, os órgãos 
fiscalizadores do trabalho e do ambiente.
Ao final deste capítulo o aluno conseguirá definir:
 » A evolução histórica da saúde do trabalhador no mundo e Brasil.
 » A relação entre ambiente, saúde e trabalho.
 » A análise preliminar dos processos produtivos e seus efeitos no 
ambiente.
31
UNIDADE II
ENTRE A SAÚDE 
COLETIVA E A 
INDIVIDUAL
CAPÍTULO 1
Saúde do trabalhador: o coletivo e o 
individual
A epidemiologia, como área moderna do conhecimento científico, foi 
fundamental para a elaboração de questões que permitiram a incorporação da 
relação ambiente-saúde, em termos atuais, no campo da saúde coletiva. Com 
a introdução das ciências sociais no campo da epidemiologia, o estudo com 
foco no indivíduo passou a ser na coletividade, possibilitando o debate com as 
categorias “população” ou “grupos populacionais” tradicionalmente adotadas 
pela epidemiologia (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).
Rigotto (2003) aborda que todo o perfil de adoecimento e morte de uma 
população poderia ser interpretado no contexto da relação sociedade-natureza, 
em que doença é sinal de alteração do equilíbrio homem-ambiente, produzida 
por transformações produtivas, territoriais, demográficas e culturais. E, segundo 
Tambelinni e Câmara (1998), a intromissão do homem nas coisas da natureza, ou 
por ela conservadas – ecossistemas –, cria condições de aparecimento e difusão 
de doenças causadas por agentes etiológicos biológicos, o que determinaria os 
fatores condicionantes de agravos e, consequentemente, de epidemias. 
Cada indivíduo tem uma resposta à exposição ambiental, que varia de acordo 
com a sua suscetibilidade condicionada por fatores relacionados à idade, estado 
nutricional, predisposição genética, estado geral de saúde, comportamento 
e estilo de vida, entre outros. Há o fator de que algumas doenças podem ter 
longo tempo de latência para se manifestar, a exemplo da silicose, que tem um 
percurso insidioso e prolongado.
O conhecimento das condições patológicas mais comumente observadas 
numa população é de grande relevância e interesse para gestores públicos 
32
UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL
e profissionais que atuam na promoção, prevenção e assistência em saúde. 
Os levantamentos epidemiológicos e o processamento de dados advindos 
de arquivos e sistemas de informação devem servir de base para o correto 
planejamento e elaboração de medidas de saúde contextualizadas às reais 
necessidades da população assistida. Nesse contexto, a epidemiologia ganha 
destaque como ferramenta útil e indispensável. 
A definição de exposição humana e de populações expostas é crucial 
para identificação das situações de risco (RADICCHI; LEMOS, 2009) e, 
principalmente, para orientar as ações de saúde relativas à gestão SST, definir 
o perfil de saúde e adoecimento dos trabalhadores, elaborar indicadores 
e estatísticas de saúde e acidentes de trabalho, entre outras. Para tanto, o 
conhecimento de epidemiologia é crucial para o devido acompanhamento 
dos trabalhadores, delineando-se estudos com metodologias adequadas a 
resultados palpáveis. 
Uma forte aliada da epidemiologia, como ferramenta de análise da 
associação do fator de risco ao agravo do trabalho, é a estatística. Ela é 
importante ferramenta para constatar a associação de variáveis de causa 
e efeito e, por conseguinte, a relação causal.
Os estudos epidemiológicos devem valorizar os sinais e sintomas precoces dos 
agravos, uma vez que as ações de saúde nessa fase são mais efetivas e podem 
evitar o desenvolvimento completo do agravo. Há muitas incertezas em estimar 
tanto as exposições como os efeitos e suas relações (RIGOTTO, 2003). Por outro 
lado, a reação adversa a um contaminante pode assumir várias formas que 
afloram, desde sinais mais simples como um desconforto físico ou psicológico, 
passando por alterações fisiológicas de difícil interpretação, doenças clínicas de 
intensidade variável, até a morte (RADICCHI; LEMOS, 2009). 
Segundo Rigotto (2003), algumas doenças podem ter longo tempo de “incubação” 
para se manifestar. Não obstante os avanços na produção de conhecimento nas 
últimas décadas, principalmente no campo da epidemiologia, ainda tem-se muita 
incerteza no bojo das relações saúde-doença-ambiente, especialmente quando 
se é incisivo no estabelecimento das correlações ou na medição de impactos das 
condições do ambiente sobre a saúde.
Contudo, a sociedade em si – muito marcada pelo positivismo – sempre 
demandará evidências, valores, medições, avaliações quantitativas, em 
suma, números para justificar mudanças de prioridades ou do modo de agir, 
permitindo o monitoramento de níveis de poluição, estabelecer prioridades 
33
ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II
de acordo com os recursos disponíveis e com a relação custo-benefício de 
algumas ações (RIGOTTO, 2003). 
A consciência da importância da relação do trabalho com a saúde da população 
trabalhadora e não trabalhadora cresceu à medida que os profissionais da área 
de saúde do trabalhador e afins detiveram o conhecimento das tecnologias e 
metodologias para a avaliação e controle dos riscos originados a partir dos 
ambientes de trabalho. Esse é outro dos motivos que levou grupos de instituições 
de pesquisa e ensino a delinearem a sua área de atuação de maneira mais 
abrangente, sob a denominação de “Trabalho, Ambiente e Saúde”. Esse motivo 
vem fortalecendo o desenvolvimento de uma área técnica de intervenção nos 
serviços públicos sob a denominação de Saúde Ambiental dentro de muitas 
instituições de pesquisa, como a Fiocruz e do próprio Ministério da Saúde 
(TAMBELINNI e CÂMARA, 1998).
De forma a atender às demandas da sociedade, supracitadas, enquanto 
alternativa viável e tangente ao conhecimento e à detecção de qualquer 
mudança nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente 
que interferem na saúde humana, veio a proposta do Sistema Nacional de 
Vigilância Ambiental em Saúde. Além da definição do escopo de atuação 
desse sistema, ele tem a finalidade de identificar as medidas de prevenção e 
controle dos fatores de risco ambientais relacionados às doenças ou a outros 
agravos (CÂMARA, 2005).
Vigilância em saúde 
A este respeito, acompanhe o seguinte trecho da revista Ciência & Saúde Coletiva:
O termo Vigilância tem sua origem nas ações de isolamento e 
quarentena no pós II Guerra Mundial, especialmente nos Estados 
Unidos da América (EUA) do período da Guerra Fria, o conceito 
de Vigilância esteve associado à ideia de “inteligência”, em razão 
dos riscos de guerra química e ou biológica. Nos EUA, a vigilância 
evoluiu, passando a significar a ação coordenada para controle de 
doenças na população, constituída de monitoramento, avaliação, 
pesquisa e intervenção. 
No Brasil, até a década de 50 do século passado, o conceito de 
Vigilância era compreendido como o conjunto de ações de observação 
sistemática sobre as doenças na comunidade, voltadas para medidas 
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UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL
de controle. Somente a partir da década de 60, essas ações ganham 
uma estruturação de programa, incorporando as medidas de 
intervenção. Desde então, essas ações foram estendidas ao controle 
da produção, do consumo de produtos e da fiscalização de serviços 
de saúde, sob a denominação de Vigilância Sanitária. 
As ações de controle sobre o meio ambiente relacionadas à saúde – 
como a vigilância da qualidade da água para o consumo humano – 
embora restritas, estiveram,até o final da década de 90, subordinadas 
à Vigilância Sanitária. As ações de vigilância foram agrupadas 
em Vigilância Epidemiológica e Vigilância Sanitária, ambas com 
praticamente os mesmos objetivos: prevenir e controlar os riscos e 
agravos à saúde.
Foi apenas na década de 80 que “a vigilância passou a ser 
apresentada mais claramente sob o ponto de vista de articulação 
com outras ações de saúde”. Os Centros de Controle e Prevenção de 
Doenças dos Estados Unidos (CDC), por exemplo, definiram esse 
novo sistema onde “as ações referentes aos dados coletados (coleta, 
análise e interpretação) se articulam à informação periódica como 
instrumento da prevenção”, o que implica uma ação de controle 
sobre os riscos ambientais para a saúde. 
Também no Brasil, somente em meados da década de 80 é que são 
promovidas iniciativas para se instituir, no âmbito do setor Saúde, 
ações de Vigilância da Saúde do Trabalhador e do Meio Ambiente, 
de acordo com a Constituição de 1988 e a Lei Orgânica de Saúde de 
1990. Mas é a partir do ano 2000 que o Ministério da Saúde formula 
a denominada Vigilância Ambiental, onde “a vigilância ambiental em 
saúde se configura como um conjunto de ações que proporcionam 
o conhecimento e a detecção de qualquer mudança nos fatores 
determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na 
saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas 
de prevenção e controle dos fatores de riscos e das doenças ou agravos 
relacionados à variável ambiental”. 
No novo enfoque a necessidade de monitorar o ambiente é 
decorrente do reconhecimento de que ele não é dado, mas está 
em permanente construção e transformação pela ação do homem 
e da própria natureza. Nos setores ambientais e do trabalho, 
adota-se o termo Monitorar, para o qual são utilizados indicadores 
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quantitativos, geralmente. Entretanto, para a Vigilância em 
Saúde, sob a ótica da Saúde Coletiva, monitorar é mais do que um 
ato de medição instrumental. 
Uma nova compreensão da causalidade com a crescente importância 
de eventos e doenças não relacionadas com agentes biológicos 
transmissíveis, houve a exigência de agregar-se mais um nível de 
prevenção, ditado pelas condições social, econômica e cultural das 
populações que não podem mais ser reduzidas a um único agente 
causal. Para o qual, aliás, não haveria uma vacina ou antibiótico 
capaz de prevenir ou curar. Então, o foco das ações passou, 
obrigatoriamente, para as condições determinantes. 
Na investigação de um acidente de trabalho, o contexto é conformado 
pelas características do processo produtivo, política de recursos 
humanos, condições de vida do trabalhador; a causa, dependendo 
do tipo de acidente, pode ser uma prensa sem mecanismo protetor, 
a falta de manutenção de uma máquina, o vazamento de uma 
tubulação, um curto circuito, o piso irregular, o rompimento de um 
cabo etc. 
A Saúde Coletiva trouxe um novo enfoque para o entendimento 
do processo saúde-doença, visto como “algo em permanente 
transformação e que a (cuja) ação se dá num meio que não é só 
reativo, mas sobretudo transformável.” A construção de um sistema 
de vigilância ambiental de interesse para a saúde requer que o 
contexto seja devidamente valorizado. Para tanto, não só as bases de 
dados oriundas de monitoramentos quantitativos são necessárias, 
como também devem ser integradas técnicas de avaliação de risco 
que incluam dados qualitativos. 
O Princípio da Precaução é outro conceito que deve servir de guia 
para a ação em vigilância ambiental, isto é, não se deve priorizar a 
ação apenas pela ocorrência de doenças e desastres ou acidentes, 
mas antecipar esses eventos pelo reconhecimento, anterior, dos 
riscos e dos contextos nocivos à saúde. O Princípio da Precaução 
foi desenvolvido na Alemanha, para justificar a intervenção 
regulamentadora e de restrição das descargas de poluição marinha 
– na ausência de provas consensuais quanto aos seus efeitos e danos 
ambientais. Esse princípio tem sido tomado como referência em 
outras áreas e caracteriza-se por requerer que as decisões acerca 
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UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL
de processos industriais e produtos perigosos sejam deslocadas 
da ponta final do processo para a ponta inicial. Por essa razão, a 
promoção e a prevenção terão, necessariamente, que prevalecer no 
enfoque da vigilância ambiental. 
A Saúde Ambiental, assim proposta, integra as dimensões histórica, 
espacial e coletiva das situações, a partir de um compromisso ético 
com a qualidade de vida das populações e dos ecossistemas em 
questão. 
A necessidade de implementar ações de Vigilância em Saúde 
Ambiental e do Trabalhador (VISAT) é uma questão que surge desde 
que essa ação pública foi consignada na Constituição Federal de 1988 
e, particularmente, ao longo da trajetória de construção da área da 
saúde do trabalhador no Brasil. É uma estratégia que visa ultrapassar 
a dimensão assistencial que prevalecia (e ainda prevalece em certa 
medida) nos primeiros programas de saúde do trabalhador, anteriores 
ao advento do Sistema Único de Saúde (SUS), e precursores dos 
Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST). O foco 
principal dessas iniciativas era diagnosticar, orientar e acompanhar 
as doenças decorrentes do trabalho, com a perspectiva de criar 
condições para que a rede pública viesse a se constituir em instância 
efetiva para assistência à saúde dos trabalhadores, além de iniciar 
algumas ações de vigilância de acidentes de trabalho. 
Com a atuação da VISAT, voltada para a intervenção nos 
ambientes, processos e formas de organização do trabalho 
geradoras de agravos à saúde, passa-se a incorporar a 
dimensão preventiva da saúde do trabalhador. Ou seja, 
somente com ações interventoras de vigilância é possível 
interromper o ciclo de doença e morte no trabalho. 
Esta dimensão prevencionista de atenção à saúde cabe, 
principalmente, à Rede Nacional de Atenção Integral à 
Saúde do Trabalhador - RENAST, por meio dos CEREST, 
os seus núcleos executivos de ação efetiva. A VISAT é um 
componente do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde que 
visa à promoção da saúde e à redução da morbimortalidade da 
população trabalhadora, por meio da integração de ações que 
intervenham nos agravos e seus determinantes decorrentes 
dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos. 
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Na Portaria no 1.823, de agosto de 2012, que instituiu a Política 
Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT), 
consta como objetivo prioritário o fortalecimento da Vigilância 
em Saúde do Trabalhador. Coerente com a PNSTT, na agenda 
do Ministério da Saúde foi definido como prioridade fortalecer a 
VISAT e a sua integração com os demais componentes da Vigilância 
em Saúde, com vistas à promoção da saúde e de ambientes e 
processos de trabalho saudáveis. A partir daí, a proposta nacional 
de ação estratégica, estabelecida pela Secretaria de Vigilância 
em Saúde (SVS), foi intensificar as ações de vigilância na área 
de saúde do trabalhador, tendo como meta ampliar o número de 
CEREST desenvolvendo essas ações, de modo que, até 2015, todos 
eles estejam realizando essas ações. Existe uma razoável produção 
de textos de VISAT, onde encontramos material detalhado sobre 
seu conceito e sua forma de ser. Parte desta produção diz respeito 
às diversas modalidades de VISAT, inclusive no trato com agravos 
específicos, caso dos vários tipos de acidentes, agrotóxicos, 
silicose, asbestose, benzeno, lesões por esforços repetitivos, entreoutras.
É possível também observar algumas experiências de VISAT sobre 
determinados segmentos econômico-produtivos, caso dos ramos 
químico, petroquímico, siderúrgico, frigorífico, agronegócio 
(agroindústria), construção civil, transporte, elétrico, setor saúde 
e educação, e sobre determinados contextos socioeconômicos de 
grupos populacionais específicos, caso do trabalho infantil, trabalho 
informal e cooperativado, entre outros. 
Observamos, também, que existe uma base legal para a ação 
em VISAT dispersa em várias legislações nacionais, estaduais 
e municipais, a exemplo da Lei Orgânica da Saúde 8080, da 
Portaria MS no 3.120, de 1 de julho de 1998, de nível federal e 
das constituições e códigos sanitários de vários entes estaduais 
e municipais. Entretanto, ao observarmos a VISAT numa 
perspectiva de ação pública coordenada, articulada e harmônica 
entre aqueles que vêm se esforçando para desenvolver suas ações, 
vemos o quanto ainda falta para afirmarmos que existe um sistema 
de Vigilância em Saúde do Trabalhador no Brasil, sob essa ótica. 
Apesar de serem muitas as iniciativas, são minoritários os casos 
em que se pode falar de implementação de ações sistemáticas de 
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VISAT, isto sem contar que em muitos locais do país sequer elas 
existem (VASCONCELOS; GOMEZ; MACHADO, 2014) 
Este texto, sintético e simplificado em suas indagações e 
formulações, traz alguns elementos para discussão que poderão 
ser considerados na IV Conferência Nacional de Saúde do 
Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT), a ser realizada este 
ano, 2014, em Brasília, e também por todos aqueles que vêm 
de alguma forma contribuindo para o aprimoramento da VISAT 
no Brasil. Em síntese, nosso roteiro de discussão baseia-se nos 
seguintes tópicos: (1) o lugar de fala da VISAT – para passar 
do discurso à ação; (2) a formação de agentes de VISAT; (3) o 
resgate dos trabalhadores enquanto sujeitos da ação de VISAT; 
(4) as estratégias de articulação intersetorial com outras áreas do 
Estado; (5) o diálogo estruturante dos pares. (VASCONCELOS; 
GOMEZ; MACHADO, 2014)
Veja a AULA 4 – Entre a saúde coletiva e a individual
Não se pode falar em integração de setores, de participação da 
comunidade ou de estruturação de um sistema de Vigilância em Saúde 
do Trabalhador ( VISAT ) sem a matéria-prima básica: informação sobre 
saúde. A disciplina básica que mais nos oferece meios para produzir 
as informações acerca da saúde da população é a epidemiologia 
(CÂMARA, 2005). A VISAT é definida na  Portaria GM/MS nº 3252 de 
dezembro de 2009 enquanto componente do Sistema Nacional de 
Vigilância em Saúde, que objetiva a promoção da saúde e à redução 
da morbimortalidade dos trabalhadores brasileiros, através de 
ações integradas que impactem nos agravos e seus determinantes 
decorrentes do trabalho.
O sistema de informação (SI) sobre acidentes e agravos do trabalho – em 
específico o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – trata 
da constituição de “um conjunto de procedimentos organizados que, quando 
executados, proveem informação de suporte à organização” de serviços de 
saúde (BRASIL, 2004). A princípio, o propósito dos sistemas de informação 
a respeito de acidentes de trabalho é fornecer informações fidedignas sobre 
o impacto desses acidentes, seja pelas lesões provocadas, seja no tocante a 
aspectos associados às suas origens, o que pode ser usado como ferramenta 
de prevenção.
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ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL │ UNIDADE II
Segundo Freitag e Hale (apud BRASIL, 2004), os procedimentos relacionados 
a seguir visam facilitam ao usuário a melhor visualização e compreensão das 
fases de um SI, que inclui a seleção e a análise de eventos em saúde: 
1. Detecção ou reconhecimento e registro dos eventos com criação de 
banco de dados. 
2. Escolha de eventos para uma análise minuciosa; análise e criação de 
banco de dados complementar.
3. Desbravar os bancos de dados e emitir relatórios com o detalhamento 
dos aspectos identificados distribuídos minimamente conforme 
as características de tempo e lugar, pessoa, inserindo aspectos do 
processo de causa dos acidentes. Sempre que possível, os dados 
deverão ser distribuídos de forma a permitir visualização de sua 
evolução temporal. 
4. Na tentativa de reconhecimento de necessidades de saúde, deve-se 
interpretar incluindo; padrões de processos causais; identificação, 
seleção de prioridades a serem abordadas e recomendações; 
necessidades de aprimoramento da formação de pessoal.
5. Implementação e acompanhamento das recomendações com 
avaliação de impacto de providências recomendadas e adotadas 
efetivamente, como os aspectos do próprio sistema – o que significa 
analisar os aspectos como o tempo decorrido entre a ocorrência 
de agravos e sua detecção pelo próprio sistema. Também demanda 
a avaliação dos tipos e da proporção de eventos ocorridos que o 
sistema detecta efetivamente. Todo esse conjunto de medidas serve 
de fonte de retroalimentação (feedback) do sistema, construindo o 
seu aperfeiçoamento contínuo.
A notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de 
serviços sentinela foi estabelecida pela Portaria no 777/GM de 28 de abril de 
2004. Em 2014, as Portarias no 1.271 de 6 de junho e no 1.984 de 12 de setembro 
revisaram as listas de doenças, agravos e eventos de notificação compulsória 
no território nacional, incluindo aqueles relacionados ao trabalho. A última 
portaria emitida foi a PRC no 4, de 28 de setembro de 2017 que trouxe novas 
atualizações. 
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UNIDADE II │ ENTRE A SAÚDE COLETIVA E A INDIVIDUAL
Quadro 2. Relação de alguns sistemas de informação (SI) da Vigilância em Saúde.
SIs importantes para a Vigilância:
SIAB: Sistema de Informações de Atenção Básica.
SIAMED: Sistema de Informações de Medicamentos.
SIA-SUS: Sistema de Informações Ambulatoriais de Saúde.
SIH/SUS: Sistema de Informações Hospitalares.
SIM: Sistema de Informação de Mortalidade.
SINAN: Sistema Nacional de Agravos de Notificação.
SINASC: Sistema de Informações de Nascidos Vivos.
SINITOX: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas.
SISAGUA: Sistema de Inf. de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano.
Fonte: Próprio autor.
Observação: Aqueles em negrito no quadro, têm relação direta com a notificação em Saúde do 
Trabalhador no SUS. 
O Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) é alimentado pela 
notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista 
nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria de Consolidação no 
4, de 28 de Setembro de 2017, anexo V - Capítulo I), que faculta às Unidades 
Federativas e municípios incluir outros problemas de saúde importantes em sua 
região (SINAN, 2018). 
Para a inserção de dados, existe a Ficha Individual de Notificação (FIN). Ela 
é preenchida pelas unidades assistenciais até mesmo quando há suspeita da 
ocorrência de problema de saúde de notificação compulsória ou de interesse 
nacional, estadual ou municipal. A FIN deve ser encaminhada aos serviços 
responsáveis pela informação e/ou vigilância epidemiológica das Secretarias 
Municipais de Saúde (SEMUS), que devem repassar semanalmente os arquivos 
em meio magnético para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES). Já a 
comunicação das SES com a Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) deverá 
ocorrer quinzenalmente, de acordo com o cronograma definido pela SVS no 
início de cada ano.
A Notificação Compulsória é obrigatória para os médicos e outros 
profissionais de saúde bem como para os responsáveis pelos serviços 
públicos e privados de saúde, que prestam assistência em saúde à 
população, de acordo com o art. 8o da Lei no 6.259, de 30 de outubro de 
1975 (BRASIL, 1975). A notificação deve

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