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POLICIA COMUNITARIA 1,2,3 e 4

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AULA 1 – CONTEXTUALIZANDO O 
SURGIMENTO DA POLÍCIA 
COMUNITÁRIA 
1.1 A CRISE DE LEGITIMIDADE COMO 
INDUTORA DO SURGIMENTO DA POLÍCIA 
COMUNITÁRIA 
Para muitos autores é possível interpretar o surgimento da polícia 
comunitária como uma das implicações perante cenários de 
crises, especialmente aquelas que se referem 
à LEGITIMIDADE do sistema policial 
 
Saiba mais 
 
David Bayley e Jerome Skolnick (2002) se inserem no conjunto desses 
autores. Eles analisaram diferentes experiências de polícia comunitária 
no mundo e observaram que diferentes casos traziam, em comum, 
críticas e questionamentos ao sistema policial vigente. Por exemplo, na 
Inglaterra, ocorreram tumultos no final dos anos 1970 motivados por 
crítica à atuação discriminatória e violenta da polícia. 
O mesmo ocorreu em Detroit e em Los Angeles também nos anos 1970. 
Em Cingapura foram os conflitos multiétnicos que levantaram 
questionamentos sobre o modelo policial. No Brasil, o caso da Favela 
Naval, em Diadema/SP, representou um momento em que o modelo 
policial brasileiro foi fortemente criticado. 
Os autores concluíram que o surgimento da polícia comunitária é 
comumente marcado por um contexto de críticas ao sistema policial, 
onde são reivindicadas reformas institucionais que aproximem a polícia 
e a sociedade. 
Além disso, esse contexto foi marcado pelo aumento das taxas de 
criminalidade, pelo aumento da sensação de insegurança e por uma 
grande exposição nos meios de comunicação de episódios que 
demonstravam a insatisfação popular com ações policiais e os 
enfrentamentos mais frequentes. 
Num contexto de crise, a capacidade do sistema policial de 
encontrar aceitação é colocada em xeque, por meio de críticas 
referentes. 
 Algumas de suas práticas; 
 Formas de organização; 
 Mecanismos de relacionamento interno e externo, entre 
outras. 
 
Saiba mais 
 
Estudos e pesquisas que buscam avaliar os serviços prestados e a 
confiança nas organizações policiais apresentam informações que 
auxiliam na identificação de críticas e na construção de estratégias para 
superálas. 
No site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública você encontrará 
estatísticas, estudos e pesquisas que o ajudarão a ampliar seus 
conhecimentos. 
1.2 CRÍTICA AO MODELO TRADICIONAL 
Conforme você estudou, um dos questionamentos relacionados à 
legitimidade do sistema policial refere-se a algumas de suas 
práticas advindas do modelo tradicional ou profissional de 
policiamento, caracterizado pela organização burocrático-legal 
voltada para a aplicação da lei. 
Em diferentes países, a consolidação das OSPs como agências 
de aplicação da lei ocorreu segundo uma perspectiva de 
profissionalização do trabalho policial. Notadamente, essa 
profissionalização era entendida como uma forma de isolamento 
da organização perante interferências políticas, em que a lei 
passou a ser encarada como principal fonte de legitimidade para 
suas ações, inclusive limitando as relações com o público 
externo, tornando-o distante. 
Ou seja, as organizações esforçavam-se em evitar interferências 
políticas utilizando a máxima de que a lei representava a razão 
de suas atividades. Com isso, as relações com o público externo 
eram limitadas, distantes. De acordo com Kelling e Moore (1988), 
o papel da comunidade era receber, passivamente, os serviços 
de controle do crime exercido pelos policiais profissionais. 
A expectativa criada sobre a capacidade da polícia em controlar o 
crime, é uma das principais críticas ao modelo tradicional. A ideia 
pode ser resumida da seguinte forma: 
 A atividade da polícia é aplicar a lei, portanto, atuar com 
crimes. 
 Todavia, sendo o crime um fenômeno motivado por várias 
condicionantes sociais, políticas e econômicas, a polícia 
representa apenas mais um ator nesse processo. 
 Logo, é equivocado atribuir somente à polícia a 
responsabilidade sobre crimes 
No modelo tradicional, os resultados do trabalho das OSPs são 
medidos pelo: 
 Número de prisões; 
 Aumento ou diminuição de taxas criminais; 
 Número de apreensões, número de mandados judiciais 
cumpridos; 
 Tempo resposta nos atendimentos emergenciais; 
 por meio de patrulhamento móvel, dentre outros. 
Não há algo que englobe tais esforços e lhes confira sentido 
como um todo, propiciando CONDIÇÕES DE GOVERNANÇA 
COMUM. 
Em outras palavras, no modelo tradicional, os esforços das OSPs 
são direcionados para a aplicação da lei e o combate ao crime 
como funções principais, ao passo que a polícia comunitária 
pressupõe uma expansão do mandato policial para contemplar, 
ainda, redução do medo do crime e manutenção da ordem local. 
1.3 O CONTEXTO DE CRISE COMO 
OPORTUNIDADES PARA MUDANÇAS 
É importante que você compreenda também, que é no contexto 
de crise que surgem oportunidades de reformas nas OSPs, pois a 
melhoria dos serviços demanda novos processos e estruturas. 
No caso do surgimento da polícia comunitária, as mudanças 
estão relacionadas à maior participação da sociedade na 
formulação e na avaliação da agenda da segurança pública. 
As reformas propostas comumente se dirigem a: 
 Promover uma maior responsabilização e transparência das 
organizações e dos profissionais de segurança pública, ou 
seja, a prestação de contas e o acesso a informações 
passam a ser comuns e rotineiros. Por exemplo, é o caso 
da disponibilização de dados estatísticos ou divulgação de 
detalhes sobre operações. 
 Possibilitar o desenvolvimento de mecanismos de controle 
interno e externo, como corregedorias, Ministério Público, 
Ouvidorias; 
 Estimular a profissionalização dos profissionais de 
segurança pública, por meio de processos de formação 
continuada, contemplando temáticas sempre 
contemporâneas e relacionadas a diferentes contextos da 
realidade policial. Por exemplo: como atuar diante de crimes 
no ambiente virtual? Ou ainda, como atuar diante de 
violações de direitos de comunidades específicas, como 
indígenas? Certamente, são questões que exigem 
preparação específica. 
 fomentar a especialização dos profissionais de segurança 
pública, em particular por meio de processos de seleção e 
recrutamento rigorosos e públicos. 
Mas... O que é polícia comunitária? Nas aulas a seguir, você 
estudará os conceitos de polícia comunitária a partir de duas 
perspectivas: a “filosófica ou normativa” e a “institucionalista”. 
Esses conceitos o auxiliarão na compreensão do tema e nas 
implicações para as atividades das OSPs 
 
 
AULA 2 – DEFININDO CONCEITOS: 
A PERSPECTIVA FILOSÓFICA OU 
NORMATIVA 
A dimensão moral ou filosófica oferece uma espécie de lente a 
partir da qual se passa a enxergar a realidade do trabalho policial, 
em que a própria OSP se percebe de uma forma diferente. Por 
conseguinte, as diferentes modalidades de trabalho policial 
devem continuar a ser realizadas, não se confundindo com o 
policiamento comunitário. 
Segundo a perspectiva filosófica ou normativa, a polícia 
comunitária pode ser interpretada como sendo: 
uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona 
uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na 
premissa de que tanto a polícia como a comunidade devem 
trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas 
contemporâneos como crimes, drogas, medo do crime, 
desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, 
com o objetivo de melhorar a qualidade de vida geral daquela 
área. (TROJANOWICZ e BUCQUEROUX, 1994, p. 4). 
Essa definição talvez seja a mais conhecida no Brasil e foi 
formulada por Robert Trojanowicz e Bonnie Bucqueroux, em 
1999. Tendo sido um dos primeiros trabalhos sobre o tema 
traduzidos para o português, o livro coloca em evidência as duas 
dimensões da polícia comunitária: 
Dimensão moral ou filosófica Dimensão instrumental 
Diz respeito aos valores e princípios e às normas relevantes à 
polícia comunitária. Representam a sua base de sustentação 
valorativa, as quais se referem ao dever ser. 
Diz respeito às questõespráticas de 
organização e de execução da polícia 
comunitária. 
Dimensão moral ou filosófica 
Trojanowicz e Bucqueroux (1994) defendem que a implantação 
da polícia comunitária exige uma mudança na percepção dos 
Profissionais de Segurança Pública e, consequentemente, da 
organização, acerca do que é o seu trabalho, como ele deve ser 
realizado e para quem se dirigem seus serviços. 
Essa dimensão moral ou filosófica confere ênfase na melhoria da 
qualidade de vida das pessoas, por meio da orientação das 
atividades das OSPs para as necessidades da comunidade. 
Ao estabelecer como premissa a mútua interação entre OSP e 
comunidade, a polícia comunitária afirma a vocação do trabalho 
policial em servir a comunidade, na medida em que os problemas 
interferem na qualidade de vida da região, inclusive por meio de 
estratégias de controle criminal, entre outros. 
Com isso, é central que a organização como um todo, 
compartilhe desse valor, dessa maneira de encarar o seu lugar e 
a sua organização. Pode-se dizer que: se a polícia comunitária 
representa uma forma de perceber o trabalho policial de uma 
maneira geral e como ele se insere na sociedade, toda a 
organização deve compartilhar dessa perspectiva, antes mesmo 
de pensar como devem ser desenvolvidas suas atividades. 
A polícia comunitária pressupõe valores que devem ser comuns à 
organização como um todo, não devendo ser restrita a determinados 
setores ou atividades da organização. Assim, é possível afirmar que não 
faz sentido falar em polícia comunitária se não for em relação a toda a 
organização, pois enquanto filosofia ela deve ser uma referência para 
todos os seus integrantes. Em outras palavras... TODA OSP DEVE SER 
ORIENTADA PELA FILOSOFIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA. 
Mas, e o trabalho policial, como fica? 
Você estudará a seguir, pois ele está inserido na dimensão 
instrumental. 
Dimensão instrumental: o policiamento 
comunitário 
O trabalho policial deve ser desenvolvido de acordo com a 
filosofia ou com os valores da polícia comunitária. A forma de 
desenvolver o trabalho, ou seja, o policiamento comunitário deve 
ser adaptado às exigências do público que é atendido, de forma 
que o profissional de segurança pública preste um serviço 
completo, o que exige a ampliação do mandato policial. 
Para tanto, o profissional de segurança pública comunitário deve 
ser especializado nas atividades que desempenha, pois as 
atividades de polícia comunitária exigem saberes ou 
conhecimentos específicos. 
Exemplo 
Uma atividade básica do policiamento comunitário são as visitas 
comunitárias, em que o profissional de segurança pública deve 
procurar às pessoas da comunidade que atende para conhecer a 
realidade local e seus problemas, e após isso, registrá-los. 
Ora, o profissional de segurança pública deve saber como se 
dirigir ao seu interlocutor para criar vínculos, e não ter esse 
contato apenas como objetivo a obtenção de informações 
criminais. 
Imagine-se nessa situação... 
Como agir?, O que e como falar?, Quando realizar a visita? 
Essas perguntas representam aspectos do trabalho do 
profissional de segurança pública comunitário que exigem 
formação e treinamento, igualmente como qualquer outra 
atividade na organização. 
O policiamento comunitário representa uma das possibilidades de 
tradução, em termos práticos, da filosofia de polícia comunitária. 
2.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA E 
POLICIAMENTO COMUNITÁRIO 
A partir do conceito de Trojanowicz e Bucqueroux (1994) é 
possível afirmar que toda a OSP é orientada pela filosofia de 
polícia comunitária (a partir da lente da polícia comunitária) desde 
unidades com atividades muito específicas, como controle de 
distúrbios civis e o policiamento ambiental, até aquelas dedicadas 
ao policiamento rotineiro, como as unidades de 
radiopatrulhamento ou do policiamento a pé. Todavia, nem todas 
executam atividades de policiamento comunitário, as quais são 
dedicadas a setores especializados da organização. 
O imperativo que a filosofia de polícia comunitária pressupõe é a 
promoção de novos valores que orientem a atividade policial, de 
forma que: 
Sejam adaptáveis às necessidades de melhoria da qualidade de 
vida da região, inclusive por meio de estratégias de controle 
criminal, mas não somente por isso. 
 Estabeleçam mecanismos de participação social; 
 Priorizem os problemas identificados pela comunidade; 
 Estruturem a OSP para o atendimento desses problemas, 
por meio do policiamento comunitário; 
 Sejam submetidos aos controles sociais e institucionais; 
 Sejam adaptáveis às necessidades de melhoria da 
qualidade de vida da região, inclusive por meio de 
estratégias de controle criminal, mas não somente por isso. 
Tenha em mente que polícia comunitária diz respeito a valores, a como 
deve ser orientada toda a organização e o policiamento comunitário 
executa, de forma especializada, atividades como: as visitas residenciais, 
visitas comerciais, visitas pós-crime, encaminhamentos para outros 
órgãos, conforme a necessidade, dentre outras. 
 
AULA 3 – DEFININDO CONCEITOS: 
A PERSPECTIVA 
INSTITUCIONALISTA 
Nas ciências sociais, o institucionalismo é marcado por 
estabelecer explicações, tendo como principal unidade de análise 
as instituições, formais e informais, na ação dos indivíduos. 
É justamente esta análise, no âmbito das OSPs, que você 
estudará a seguir. 
3.1 MECANISMOS PARA A COPRODUÇÃO 
DA SEGURANÇA 
A polícia comunitária também pode ser vista como forma de 
repensar a relação entre a polícia e a sociedade, extrapolando a 
noção de mera prestação de serviço. 
Nesse sentido, a polícia comunitária seria uma interação num 
mesmo nível entre polícia e sociedade, em que o público é visto 
como coprodutor da segurança e da ordem juntamente com a 
polícia (SKOLNICK e BAYLEY, 2002, p. 18). 
Para tanto, alguns mecanismos organizacionais são 
especialmente relevantes. São eles: 
 A orientação das OSPs com base na comunidade; 
 A responsabilização das comunidades; 
 A responsabilização das OSPs em relação a áreas e a 
problemas específicos; e 
 A reorientação das atividades das OSP para ênfase em 
serviços não-emergenciais. 
Estude a seguir sobre cada um desses mecanismos. 
A orientação das atividades das OSPs com base na 
comunidade 
Os problemas que envolvem uma comunidade devem ser 
compreendidos a partir da própria comunidade, permitindo 
analisar suas causas e implicações, assim como as 
possibilidades de intervenção. Portanto, é importante consultar a 
população sobre os problemas e as prioridades daquela região, 
buscando antecipar estratégias para sua resolução. A 
comunidade não recebe passivamente os serviços: ela contribui 
para produzi-los. Para tanto, as OSPs precisam se adaptar, como 
instituição e não apenas alguns setores, para integrar a 
comunidade nos seus processos e rotinas. 
A responsabilização das comunidades 
Nesse ponto, a questão central é permitir que aqueles que 
participam da priorização dos problemas a serem tratados pelas 
organizações de segurança pública sintam-se responsáveis pelos 
resultados obtidos. E isso se dá pelo encorajamento à 
participação no processo deliberativo, propiciando uma espécie 
de responsabilidade coletiva em relação a sua própria proteção e 
segurança. Em outras palavras, trata-se de mobilizar a 
comunidade para a autoproteção e para a resolução de 
problemas locais, por meio do compartilhamento de poder. 
As OSPs são instituições que exercem controle social, 
principalmente, por meio da possibilidade de utilizarem a força 
em favor da lei na resolução de conflitos internos (BITTNER, 
2002). Assim, a definição das prioridades das OSPs, a influência 
nas suas estruturas e em suas formas de atuação, ao serem 
compartilhadas com as comunidades locais, na medida em que a 
população participa da formação da agenda das OSPs, 
representam formas de compartilhamento de poder na sociedade 
As formas de propiciar essa mobilização serão estudadas 
adiante, como os ConselhosComunitários de Segurança e as 
Associações de Bairro. 
A responsabilização das OSPs em relação a áreas e 
a problemas específicos 
Relacionada com o item anterior, esse mecanismo reforça a 
necessidade de referenciação territorial da polícia comunitária 
Comumente, são utilizados, como mecanismos de referências 
nas comunidades, os equipamentos que propiciam o 
estabelecimento de formas de orientação quanto a serviços (no 
caso, serviços de segurança pública) e quanto a pessoas 
(novamente, no caso, os profissionais de segurança pública). A 
referenciação territorial pode ser estimulada por meio de 
equipamentos fixos (como postos comunitários de segurança - 
figura 1) ou móveis (como bases comunitárias móveis de 
segurança – figuras 2 a 4). 
Com a divisão da área de atuação de cada equipe de 
profissionais de segurança pública, a comunidade local passa a 
conhecê-los e a ser conhecida, assim como suas demandas e 
problemas locais. Para tanto, dois pontos são essenciais: 
 a descentralização do comando: diz respeito à flexibilização 
da tomada de decisão por setores intermediários da OSP, 
tendo em vista a condições de oportunidade e conveniência 
na resolução de problemas. Por exemplo, a decisão de 
acompanhar pessoas numa travessia de trânsito intenso ou 
o encaminhamento de uma pessoa ao serviço de 
assistência social da região, em virtude de perda de 
vínculos com familiares, são decisões que exigem, 
comumente, flexibilidade para a resolução local de questões 
pontuais; e 
 uma maior autonomia para os profissionais de segurança 
pública comunitários: está relacionada ao ponto anterior e 
diz respeito ao estímulo à tomada de decisão diante de 
problemas locais e pontuais, tendo em vista o conhecimento 
particular obtido com o maior envolvimento comunitário. 
Com o tempo, a própria comunidade passa a esperar 
respostas ágeis específicas em relação aos problemas 
locais. 
Essas mudanças organizacionais permitem que o policiamento se 
torne adaptável às demandas surgidas nas comunidades locais, 
reforçando os vínculos construídos com as pessoas e o território. 
A reorientação das atividades das OSP para ênfase 
em serviços não-emergenciais 
Estabelecer prioridade em serviços não-emergenciais (como o 
190) está diretamente associados a estimular atividades proativas 
face a atividades reativas. A lógica que faz parte dessa ideia é a 
seguinte: sabendo que crimes e desordens são comuns e 
frequentes nas sociedades, o policiamento comunitário prioriza a 
atuação nas suas causas e não nas suas consequências. 
Para tanto, conhecer as características locais, como dados 
socioeconômicos e demográficos, assim como a oferta de 
serviços públicos e a existência de grupos ou coletivos 
mobilizados na região, é tão importante quanto conhecer os 
registros e as dinâmicas criminais locais. 
Por exemplo: no caso de atuação com dependentes químicos em 
situações de cenas de uso de crack, é especialmente importante 
para os profissionais de segurança pública conhecerem as redes 
de atenção e cuidado envolvidas com o atendimento a essas 
pessoas na região. Mais do que isso, é crucial compreender 
como essas redes funcionam e quais são as suas lógicas de 
prestação de serviços, como forma de não tornar a situação 
ainda mais dramática. 
Compreender como essas redes funcionam e quais são as suas lógicas de 
prestação de serviços também é um dos objetivos do Programa Crack, é 
possível vencer do Governo federal. Na oportunidade visite o site do 
programa. 
Em outras palavras, é o caso de estimular o desenvolvimento de 
formas distintas de abordagem do crime, da desordem e do medo 
do crime, que contemplem conhecimentos de outras áreas que 
não apenas do sistema de justiça criminal, em especial das OSP. 
3.2 CARACTERÍSTICAS DA PERSPECTIVA 
INSTITUCIONALISTA 
As características destacadas pela perspectiva institucionalista 
são as seguintes: 
Orientação das atividades das OSP com base na comunidade 
Responsabilização das comunidades 
Responsabilização das OSP em relação a áreas e problemas específicos 
Reorientação das atividades das OSP para ênfase em serviços não-emergenciais 
 
Saiba mais 
 
No final de 2014, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, 
constituiu uma comissão com objetivo de apresentar sugestões para a 
melhoria do policiamento dos Estados Unidos, desenvolvendo relações 
de confiança entre a polícia e a sociedade por meio do policiamento 
comunitário. Dentre as atividades da comissão, estava a avaliação de 
experiências com resultados positivos e a proposição de mecanismos de 
replicação em outras organizações no país. Foram realizadas diferentes 
recomendações para o governo no sentido de aperfeiçoar o policiamento, 
em particular por meio do “suporte à cultura e à prática do policiamento 
que reflitam os valores de proteção e promoção da dignidade de todos, 
especialmente os mais vulneráveis” (PRESIDENT’S TASK FORCE ON 
21ST CENTURY POLICING, 2015: 3). 
3.3 O MODELO TRADICIONAL X O 
MODELO DE POLÍCIA COMUNITÁRIA 
Após a compreensão das definições de polícia comunitária, sob a 
perspectiva filosófica ou normativa e a perspectiva 
institucionalista, você analisará, a seguir, orientado por questões 
relacionadas as atividades das OSP, o quadro comparativo com 
as características entre o modelo tradicional e a polícia 
comunitária. 
Observe que, em termos práticos, as diferentes modalidades de 
policiamento não são excludentes. Pelo contrário, o policiamento 
comunitário tende a complementá-las com suas atividades. 
É importante destacar que existem outros modelos de 
policiamento, como o Policiamento Orientado para Resolução de 
Problemas, Policiamento Orientado por Evidências e o 
Policiamento de Tolerância Zero, contudo o debate central entre 
os modelos destacados parece ser o mais adequado para os 
objetivos do curso. 
Fonte: Adaptado de M. Sparrow (1988). Implementing Community 
Policing. Perspectives on Policing. p. 8-9. Washington, DC: 
National Institute of Justice and Harvard University. 
Questão Modelo Tradicional Polícia Comunitária 
 
Qual o papel central da polícia? 
POLÍCIATRADICIONAL 
É uma agência governamental responsável, principalmente, pela 
aplicação da lei. 
 POLÍCIA COMUNIOTÁRIA 
A polícia é o público e o público é a polícia os profissionais de segurança pública são aqueles pagos para conferir atenção às necessidades dos cidadãos. 
Como se dá a relação entre a polícia e outras 
agências públicas? 
As prioridades entre os órgãos são conflitantes, ou seja, cada um atua de 
forma isolada. 
A polícia é uma agência dentre várias responsáveis por melhorar a qualidade de vida. 
Qual o foco da polícia? Foco na resolução de crimes. Perspectiva mais ampla de resolução de problemas. 
Como a eficiência da polícia é medida? Por prisões e apreensões. 
Pela ausência de crimes, desordens e medo do crime. Por exemplo, a realização de pesquisas de vitimização, avaliações da qualidade dos serviços prestados e da 
confiança nas OSP são mecanismos de gestão utilizados pelo modelo de polícia comunitária 
Quais são as principais prioridades? 
Crimes econômicos (p. ex. roubos a bancos) e aqueles que envolvem 
violência 
Aqueles problemas que mais incomodam a comunidade 
Com o que as polícias lidam especificamente? Incidentes ou ocorrências. Demandas e problemas da comunidade. 
O que determina a efetividade da polícia? Tempo resposta. Cooperação do público e confiança na polícia. 
O que representa o profissionalismo para a 
polícia? 
Respostas rápidas e efetivas para crimes graves. Estar próximo da comunidade e resolver seus problemas. 
Qual o papel dos comandos centrais? 
A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que 
devem ser cumpridas pelos policiais. 
A função do comandocentral é estabelecer e fomentar os valores organizacionais. Ou seja, atua em nível estratégico. propiciando condições de trabalho, como a 
descentralização e a autonomia. 
Como a polícia encara a condenação criminal? Como um objetivo. Como uma ferramenta dentre tantas outras. 
Como ocorre a prestação de contas? Somente ao superior e quanto questionado. À comunidade, de acordo com as necessidades locais, e aos superiores. 
Como se dá a organização do policiamento? 
De acordo com o número de ocorrências, privilegiando os picos ou hot 
spots. 
De acordo com as necessidades de segurança da comunidade, ou seja, em casos de sintomas de desordem e incivilidades, medo do crime e crimes. 
 
Saiba mais 
 
As pesquisas de vitimização buscam detalhar aspectos da ocorrência de 
crimes e de violências, mas também oferecem subsídios sobre percepção 
de segurança e medo do crime, sobre a avaliação dos serviços prestados 
pela segurança pública e a confiança nas organizações. Foram realizados 
diferentes levantamentos em níveis locais, Estados e Municípios, os 
quais apresentam limitações de comparação dos dados entre si. A partir 
de 2011, contudo, o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria 
Nacional de Segurança Pública, conduziu a realização da 1ª Pesquisa 
Nacional de Vitimização, numa parceria com o Centro de Estudos de 
Criminalidade e Segurança Pública – CRISP/UFMG e o Instituto 
Datafolha. O relatório final foi lançado em 2013. 
 
 
AULA 4 – MITOS SOBRE A POLÍCIA 
COMUNITÁRIA 
Como foi dito na apresentação, o uso correto do conceito de 
polícia comunitária exige precisão e coerência, a fim de que não 
seja esvaziado e perca efetividade. 
Ao longo desse módulo, você estudou que a polícia comunitária é 
uma filosofia compreensiva que afeta a todos os integrantes de 
uma OSP. Sua implantação exige que sejam alterados valores e 
práticas, tanto estratégicos, operacionais e táticos. 
Nessa aula você será apresentado àquilo que não constitui a 
polícia comunitária, ou seja, serão apresentados os mitos mais 
comuns sobre o tema. 
4.1 POLÍCIA COMUNITÁRIA NÃO É 
ESPECÍFICA 
De outra forma, essa crítica afirma que a polícia comunitária é 
generalista e que não pode ser aplicada a problemas precisos. 
Pelo contrário, representa uma nova forma de perceber o papel 
da polícia na sociedade. 
A polícia comunitária requer o desenvolvimento de técnicas 
específicas para a aplicação de novas atividades de policiamento 
comunitário, mas não é uma técnica em si. Por exemplo, essa 
visão é acompanhada da ideia de que não é necessário 
treinamento para atuar com a comunidade, pois isso “qualquer 
um faz”. Tratase de um engano, que não compreende a tarefa 
que se impõe ao profissional de segurança pública: encarar sua 
atividade de uma forma completamente nova, o que exige esforço 
e dedicação 
4.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA É O MESMO 
QUE RELAÇÕES PÚBLICAS 
As áreas de relações públicas das OSP são confundidas com o 
trabalho de policiamento comunitário, o que é um erro frequente e 
negativo para ambos os lados. O objetivo desses setores é 
“vender” uma imagem da OSP, por vezes baseada na ideia de 
que as pessoas não compreendem o trabalho da organização e 
as dificuldades da aplicação da lei. Nessa perspectiva, o 
policiamento comunitário contribuiria para educar as pessoas 
sobre o trabalho policial. 
Mas essa noção apresenta um equívoco desde sua origem: a 
relação entre a organização e a comunidade não pode ser vista 
de cima para baixo, desnivelada, ou tendo a pretensão de ensinar 
as pessoas sobre “como” encararem o trabalho policial. Pelo 
contrário, o policiamento comunitário tem o potencial de melhorar 
a imagem das organizações justamente por se basear em novas 
formas de perceber como deve ser o trabalho policial e como se 
relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação. 
A relação é confiança e de compartilhamento de poder, não de 
ensinamento ou de promoção de uma imagem 
4.3 POLÍCIA COMUNITÁRIA É SUAVE COM 
O CRIME 
Esse talvez seja o mito que cause maior dano aos profissionais 
de segurança pública que executam o policiamento comunitário. 
A questão central é o estabelecimento das prioridades do 
trabalho policial: para a polícia comunitária, se uma pessoa liga 
para a polícia, é porque aquela questão é importante para ela e, 
assim, se torna importante para a polícia. Mas quem define a 
relevância é a comunidade, não a polícia. 
A noção de que o verdadeiro trabalho policial é fazer prisões e 
apreensões deixa escapar a imensa maioria dos casos que são 
apresentados para as OSP todos os dias. Isso não quer dizer que 
sejam menos importantes que os demais casos: eles são tão 
relevantes quanto os demais casos, porém são menos 
frequentes. 
Além disso, para Kappeler e Gaines (2011), a polícia comunitária 
exige que o profissional de segurança pública considere 
estratégias e táticas, que incluem as prisões e apreensões, sendo 
essas não limitadas; porém, isso não quer dizer que a polícia seja 
branda com o crime. Pelo contrário, significa que ele atua de uma 
forma analítica e resolutiva, possibilitando outras maneiras de 
lidar com os fatores que geram problemas para a comunidade, 
tais como desordens, crimes e medo do crime. 
4.4 POLÍCIA COMUNITÁRIA NÃO É 
ESPECIALIZADA 
A crítica expressa a resistência de estruturas tradicionais face a 
mudanças, argumentando que não existiria especificidade no 
policiamento comunitário. Novamente, o argumento do verdadeiro 
trabalho de polícia é trazido à tona, sob a perspectiva de que os 
grandes feitos ou ocorrências são apenas as prisões e as 
apreensões. O padrão do guerreiro está presente nas OSP 
brasileiras e tende a ratificar a ideia de que a polícia se dedica 
exclusivamente ao crime. 
A polícia comunitária, ao pressupor o reestabelecimento do 
mandato policial, exige conhecimentos específicos para 
compreender os problemas locais. 
Por exemplo: sabendo da incidência dramática de situações 
envolvendo drogas no país. 
 Quantos profissionais de segurança pública possuem 
formação sobre dependência química? 
 E sobre as relações neurológicas sobre o comportamento do 
dependente? E quanto às possibilidades de tratamento 
indicadas para diferentes quadros de dependência? 
 Quais os comportamentos mais frequentes dos dependentes 
e suas relações com crimes ou desordens? 
Tais questões procuram indicar que o trabalho policial não se 
limita às técnicas de uso da força e conhecimento de legislação, 
mas deve contemplar saberes específicos que contribuem para a 
compreensão dos problemas da comunidade 
4.5 POLÍCIA COMUNITÁRIA É TRABALHO 
SOCIAL 
O mito sobre o trabalho social ou o assistencialismo argumenta 
sobre o mandato policial limitado ao crime, destacando que a 
polícia tem de lidar com problemas mais sérios durante a maior 
parte do tempo. Além disso, afirmam que, mesmo tendo o foco de 
toda a polícia para o crime, as taxas resistem em ceder: 
pesquisas indicam que a maior parte dos atendimentos das 
polícias não diz respeito a crimes, mas a chamados de outra 
natureza. Segundo Famega (2005), 75% do tempo dos policiais 
que foram analisados não estava relacionado ao atendimento de 
crimes. 
Certamente, os casos que se apresentam aos profissionais de 
segurança pública envolvem diferentes condicionantes de 
vulnerabilidades. A atuação diante desses problemas permite que 
o profissional de segurança pública seja tanto o agente da lei 
quanto o agente da paz, na medida em que pode mobilizar 
recursos e responsabilidades, que vão desde uma conversa 
amigável ao uso da força letal. Dificilmente, outro trabalho 
permite essa diversidade de escolhas. 
4.6 POLÍCIA COMUNITÁRIA EXPÕE O 
PROFISSIONAL A RISCOS 
DESNECESSÁRIOS 
A questão colocada se dirige à liberdade conferida ao profissional 
de segurança pública para se adaptar às necessidades da 
comunidade, o que poderia levá-lo a não seguir protocolos de 
segurança. Como você estudou anteriormente, o policiamento 
comunitário exige treinamento parao desenvolvimento de 
habilidades e de conhecimentos específicos, inclusive sobre 
como realizar o seu trabalho de forma segura para todos os 
envolvidos, não apenas para ele. 
4.7 POLÍCIA COMUNITÁRIA SERVE PARA 
OBTER INFORMAÇÕES PRIVILEGIADAS 
Na verdade, a polícia comunitária pressupõe que sejam criadas 
relações de confiança entre a polícia e a comunidade. Para tanto, 
a relação deve ser construída de forma colaborativa de acordo 
com as necessidades da comunidade, e não aos interesses da 
polícia. 
 
 
RESUMO 
O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por 
críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais que 
aproximassem a polícia e a sociedade eram reivindicadas; 
O modelo tradicional ou profissional de policiamento é 
caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a 
aplicação da lei. Segundo essa lógica, o papel da comunidade 
era receber, passivamente, os serviços de controle do crime 
exercido pelos policiais. (KELLING e MOORE, 1988); Segundo a 
perspectiva filosófica ou normativa, a polícia comunitária pode ser 
interpretada como sendo: “uma filosofia e uma estratégia 
organizacional que proporciona uma nova parceria entre a 
população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a 
polícia como a comunidade devem trabalhar juntas para 
identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos como 
crimes, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em 
geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a 
qualidade de vida geral daquela área” (TROJANOWICZ e 
BUCQUEROUX, 1994, p. 4). 
A implantação da polícia comunitária exige uma mudança na 
percepção dos profissionais de segurança pública e, 
consequentemente, da organização, acerca do que é o seu 
trabalho, como ele deve ser realizado e para quem se dirigem 
seus serviços. 
O trabalho da OSP deve ser desenvolvido de acordo com a 
filosofia ou com os valores da polícia comunitária. A forma de 
desenvolver o trabalho, ou seja, o policiamento comunitário, deve 
ser adaptado às exigências do público que é atendido, de forma 
que o profissional de segurança pública preste um serviço 
completo, o que exige a ampliação do mandato policial. 
A diferença fundamental entre polícia comunitária e policiamento 
comunitário é: a primeira diz respeito a valores, a como deve ser 
orientada toda a organização; o segundo executa, de forma 
especializada, atividades de policiamento comunitário, como as 
visitas residenciais, visitas comerciais, visitas pós-crime, realiza 
encaminhamentos para outros órgãos, conforme a necessidade, 
dentre outras. 
A polícia comunitária pode ser vista, também, como forma de 
repensar a relação entre a polícia e a sociedade, ultrapassando a 
noção de mera prestação de serviço. Nesse sentido, a polícia 
comunitária seria uma interação num mesmo nível entre polícia e 
sociedade, em que o público é visto como co-produtor da 
segurança e da ordem juntamente com a polícia (SKONICK e 
BAYLEY, 2002, p. 18). 
São mecanismos para a coprodução da segurança: orientação 
das atividades das OSP com base na comunidade; 
responsabilização das comunidades; responsabilização das OSP 
em relação a áreas e problemas específicos e reorientação das 
atividades das OSP para ênfase em serviços não-emergenciais 
São mitos equivocados sobre a polícia comunitária: a polícia 
comunitária: 
não é específica; 
 é o mesmo que relações públicas; 
 é suave com o crime; 
 não é especializada; 
 é o mesmo que trabalho social; 
 expõe os profissionais de segurança pública a riscos 
desnecessários; 
 é para obter informações privilegiadas. 
 
AULA 1 – COMO DEFINIR 
COMUNIDADE? 
1.1. O CONCEITO DE COMUNIDADE 
Para a polícia comunitária, é essencial que o conceito de 
comunidade esteja claro. Nesse sentido, cabe lembrar que 
conceitos são representações da realidade que proporcionam 
pontes com outros conceitos, significados e a própria história. Os 
conceitos mudam de acordo com o contexto social em que são 
utilizados, criados e desenvolvidos. E é o que tem ocorrido com o 
conceito de comunidade. 
A noção clássica de comunidade envolve o compartilhamento 
de interesses por pessoas em contextos de 
interdependência, normalmente associados a um território ou 
localidade. Nesse sentido, existe uma dependência comum entre 
as pessoas naquele contexto, as quais são influenciadas pelo 
espaço compartilhado e também por relações de parentesco 
(TONNIES, 1957). 
Para Robert Park et al (1984), a comunidade seria um grupo de 
pessoas vivendo em uma área geográfica específica e 
condicionada pelos processos subculturais de competição, 
cooperação, assimilação e conflito. Em outras palavras, o 
conceito sugere que as pessoas trazem consigo marcas 
identificáveis de pertencimento à comunidade ao viver naquele 
local e ao criar e participar de instituições sociais que permitam 
interações (KAPPELER E GAINES, 2011). 
A vida em comunidade influencia como as pessoas pensam, se 
sentem, acreditam e agem. Esses valores comuns ajudam a 
constituir a dimensão moral da vida em comunidade, em que não 
apenas os valores, como as crenças, os hábitos e as práticas são 
compartilhados pelos participantes da comunidade e repassados 
a novos membros ao longo do tempo. 
Por vezes, o conceito de comunidade tem sido associado à 
noção de vizinhança. Notadamente, após processos de 
urbanização e crescente concentração de pessoas em centros 
urbanos, a ideia de vizinhança tende a privilegiar a dimensão 
espacial da comunidade, ou seja, seus limites geográficos. 
Existem, por outro lado, críticas que argumentam no sentido da 
inclusão da dimensão moral da vida em comunidade. 
Em suma, pode-se destacar as seguintes características que 
estão presentes no conceito de comunidade: 
 Existência de áreas geográficas e/ou espaços de 
interações, ou seja, o espaço em que as pessoas de uma 
comunidade se relacionam. Por exemplo: bairro, rua, vila, 
praça ou mesmo a internet. 
 Existência de relações econômicas, políticas e sociais 
regulares. Essas relações contribuem para a reiteração dos 
seus valores comuns. Por exemplo: quando a comunidade se 
reúne para realizar uma quermesse no bairro, para plantar 
árvores ou ainda solicitar melhorias para a região. 
 Existência de uma entidade legal ou unidade de 
governança comum. Por exemplo: governos, associações, 
conselhos. 
 Compartilhamento de um senso de interdependência 
mútua: as pessoas se sentem unidas em torno de valores 
compartilhados mutuamente e que as fazem querer 
permanecer na comunidade. 
 Compartilhamento de uma identidade do grupo, em que os 
valores daquela comunidade representam a identidade do 
grupo. Por exemplo: moradores de condomínios fechados 
certamente valorizam o fato de terem mais espaço do que em 
outros tipos de moradia, como apartamentos. 
 Existência de processos de inclusão e exclusão da 
comunidade, assim como formas de transmissão dos 
valores. Ou seja, são formas de reiterar ou rejeitar 
comportamentos, de acordo com os valores daquela 
comunidade. 
 
1.2. SOBRE DIFERENTES COMUNIDADES 
Leia a citação a seguir 
“Se na comunidade os homens permanecem unidos apesar de 
todas as separações, na sociedade permaneceriam separados 
não obstante todas as uniões” (TONNIES, 1957; p.65). 
Observe que a citação apresentada confere centralidade à 
existência de diferenças entre comunidades no contexto social. 
Mais do que isso, enseja a discussão sobre a diversidade de 
pontos de vistas das pessoas num mesmo grupo. 
Apesar de existir um sentido comum que une as pessoas, ainda 
assim elas mantêm diferenças entre si, sobre as formas como 
percebem e se relacionam com o mundo ao seu redor. Inclusive, 
as pessoas podem fazer parte de diferentes comunidades ao 
mesmo tempo, o que tem sido incentivado por meio do avanço 
das tecnologias de comunicação e das redes sociais. 
Para a polícia comunitária, o conhecimento da comunidade é tão 
central quanto possuir dadoscriminais para o planejamento das 
atividades a serem desenvolvidas. Independentemente das 
características locais, o desígnio da polícia comunitária está em 
resgatar a ideia de que a comunidade possui interesses comuns, 
e, assim, induzir a melhoria da qualidade de vida naquele local. 
Nesse sentido, é importante conhecer: 
 As características socioeconômicas e demográficas do 
local: população existente, renda, raça/etnia, faixa etária, etc.; 
 A oferta de serviços públicos, como escolas, hospitais, 
equipamentos da assistência social, de inclusão produtiva, 
trabalho e renda, dentre outros; 
 A existência e a localização de grupos ou organizações 
comerciais; 
 A existência e a localização de organizações religiosas, 
associações comunitárias ou centros comunitários; 
 A existência de movimentos ou coletivos da sociedade 
civil com interesses específicos. Por exemplo: movimentos 
de defesa dos direitos das mulheres, dos jovens, dos negros, 
de liberdade religiosa, de livre orientação sexual etc. 
 
Saiba mais 
 
Em nível nacional, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE), reúne informações de todo o país. Vários Estados e Municípios 
possuem órgãos com a finalidade de levantar dados específicos sobre seu 
território. Procure se informar a respeito da sua cidade! 
Ao conhecer a comunidade local, a polícia comunitária pressupõe 
que o trabalho policial seja discutido com os moradores, numa 
lógica de mútua interação, o que é muito diferente de que a OSP 
estabeleça formas seletivas de atuação para cada localidade. 
A existência de comunidades com diferentes características faz 
parte da paisagem da grande maioria das sociedades, o que não 
implica dizer que os serviços policiais devem privilegiar ou 
discriminar quaisquer dessas comunidades. 
Importante! 
A polícia representa toda a sociedade e tem como objetivo principal a 
proteção dos direitos de todos, independentemente de classe social, cor, 
idade ou sexo. 
Um profissional de segurança pública que não protege os direitos 
de todos os cidadãos, depõe contra si, contra a sua organização 
e contra a própria sociedade. Seria o mesmo que a comunidade 
reivindicar para si a manutenção da ordem, por não confiar ou 
aceitar a forma como a polícia faz o seu trabalho ou mesmo não 
ver sentido nas leis e nas regras da sociedade. Se vivenciaria 
fenômenos como o vigilantismo 
A polícia comunitária exige o contato direto com os moradores, 
não apenas com os “chamados” líderes comunitários. Pelo 
contrário, é no contato frequente que os vínculos com a 
comunidade serão criados e fortalecidos. Ora, se a formação da 
comunidade passa pelas interações sociais, é por meio dessas 
interações que a polícia comunitária deve exercer suas atividades 
cotidianas. 
Mais do que isso, a polícia deve ser parte da comunidade a que 
serve, conhecer suas necessidades, seus valores e suas 
expectativas, para com isso poder oferecer serviços de qualidade 
e efetivos. 
Importante! 
É importante discernir de onde advém a legitimidade das diferentes 
lideranças que se apresentam na comunidade. Por vezes, as chamadas 
lideranças não são representativas da comunidade, mas apenas de um 
número reduzido de pessoas ou mesmo de um grupo influente, por 
exemplo, grupos com poder econômico. Por isso, fique atento e conheça, 
pessoalmente e sem distinções, os integrantes da comunidade. 
 
 
AULA 2 - MOBILIZAÇÃO SOCIAL 
2.1. HISTÓRICO DE PARTICIPAÇÃO 
SOCIAL NO BRASIL 
O conceito de participação social possui diferentes sentidos e 
normalmente está associado à noção de participação cidadã ou 
popular e à democracia participativa (Brasil, 2015). 
Segundo a Política Nacional de Participação Social, é possível 
compreender a participação social como um direito humano, uma 
política de Estado e um método de governo. Ou seja, a 
organização da comunidade para influenciar e acompanhar as 
políticas públicas, por meio de mecanismos e processos 
específicos, faz parte da noção de participação social 
Comumente, a participação social está associada à medidas de 
mobilização da comunidade envolvida em torno de questões ou 
problemas identificados. No caso da segurança pública, a 
mobilização tende a ser mais bem sucedida quando envolve as 
organizações de segurança pública existentes no local. Isso não 
quer dizer que o Estado deve ter como propósito organizar a 
comunidade, mas antes disso se engajar de forma participativa 
com a comunidade mobilizada. 
Mobilizar... 
A ideia de mobilizar, por sua vez, está associada ao movimento, à ação 
de conferir movimento a alguém ou a algo. Para Toro (1996), “mobilizar 
é convocar vontades para um propósito determinado, para uma mudança 
da realidade”. Ainda mais, Henriques et al (2007) afirmam que para a 
mobilização é necessário “mostrar o problema, compartilhá-lo, distribuí-
lo, para que assim as pessoas se sintam corresponsáveis por ele e passem 
a agir na tentativa de solucioná-lo”. 
A necessidade de mobilização local na busca de melhorias para 
as comunidades tem se fortalecido como discurso e diretriz de 
ação em todo o mundo. São raros programas, ações e projetos 
da iniciativa privada ou da gestão pública que, tendo o território 
como referência, não pressuponham a participação dos atores 
locais na construção dos resultados esperados e na manutenção 
destes. Essa lógica vale para diferentes setores da vida social e 
dos serviços públicos 
No Brasil, o contexto que envolveu a promulgação da 
Constituição de 1988 foi marcado pelo fortalecimento da 
sociedade civil no cenário político. Diferentes grupos, como 
conselhos e associações, foram fortalecidas nos últimos 
momentos do período militar, havendo uma tendência à 
participação social de parceria com o Estado (MORAES, 2011). A 
população foi chamada a se envolver com as ações do poder 
público, compartilhando responsabilidades. Dessa forma, os 
conselhos, os fóruns e outras formas de participação que reúnem 
governo e a população se tornaram fortes expressões da 
participação social no Brasil. Contudo, isso não equivale a dizer 
que uma maior participação social representou mais cidadania 
para a população. 
Esse movimento foi amplo e envolveu vários temas, como saúde, 
assistência social, educação, políticas para juventude, para 
mulheres, de promoção da igualdade racial, dentre outros, e 
também segurança pública. Assim, o Estado passa a promover a 
participação social através da criação dos chamados conselhos 
de políticas públicas, geralmente com representação paritária 
entre poder público e sociedade civil. 
Representação paritária 
A representação paritária indica que o número de representantes da 
sociedade civil é igual ao número de representantes do governo. No 
Brasil, existem inúmeros conselhos de políticas públicas com 
participação social. 
Em relação à segurança pública, em nível nacional, existe 
o Conselho Nacional de Segurança Pública (CONASP), que 
possui natureza consultiva e deliberativa sobre a formulação e a 
proposição de diretrizes para as políticas públicas voltadas à 
promoção da segurança pública, prevenção e repressão à 
violência e à criminalidade, e atuar na sua articulação e controle 
democrático. 
Investigando... 
E na sua cidade, existem conselhos de segurança pública? Qual a sua 
composição? Eles possuem mecanismos de participação social? 
O foco principal da mobilização social é que a comunidade 
seja EMPODERADA a participar desse processo, ou seja, a 
comunidade deve ter consciência de que pode participar do 
estabelecimento de prioridades para a sociedade, em especial na 
discussão de políticas públicas. Sabe-se, todavia, que essa 
realidade ainda é incipiente no Brasil, sendo dificultada pela 
histórica desigualdade social e econômica do país. 
2.2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA 
MOBILIZAÇÃO SOCIAL 
 A mobilização social é um processo próprio das 
comunidades, que exige, principalmente, o envolvimento 
participativo e voluntário das pessoas. Não existe mobilização 
forçada,é ainda pior que não haver mobilização. 
 A mobilização social não é desinteressada. Pelo contrário! 
Os interesses representam um ponto de vista que, às vezes, 
envolve mais de uma comunidade. No modelo de polícia 
comunitária, contudo, não são priorizados os interesses de 
um grupo social em particular, mas aqueles que contemplem, 
nos limites da lei, as necessidades da comunidade como um 
todo. 
 A mobilização social é, necessariamente, um processo 
em constante desenvolvimento. Mesmo em ambientes 
institucionais, a mobilização depende da adesão voluntária 
das pessoas, o que exige mecanismos que envolvam as 
pessoas e gerem vontade em participar e em continuar 
participando. De uma forma geral, o Brasil possui pouca 
tradição associativa e participativa, o que exige ainda mais 
esforço na mobilização social em busca de cidadania. 
 A mobilização social é, necessariamente, um processo 
em constante desenvolvimento. Mesmo em ambientes 
institucionais, a mobilização depende da adesão voluntária 
das pessoas, o que exige mecanismos que envolvam as 
pessoas e gerem vontade em participar e em continuar 
participando. De uma forma geral, o Brasil possui pouca 
tradição associativa e participativa, o que exige ainda mais 
esforço na mobilização social em busca de cidadania. 
 No processo de conhecimento da comunidade, você deve 
se informar sobre diferentes características que compõem o 
diagnóstico dos problemas locais. Por isso, você deverá 
conhecer realidades de outros temas, como saúde, 
assistência social, educação, trabalho e renda, dentre outros. 
 Também exige engajamento e preparação dos próprios 
agentes do Estado. Primeiramente, você deve ter a 
consciência de que a participação social é voluntária, envolve 
diversos interesses e está em constante desenvolvimento. 
Em seguida, você deve lembrar que ela independe do 
Estado, ou seja, se o Estado decidir induzi-la, deve fazê-lo 
sem a intenção de controlar o processo ou mesmo os seus 
resultados. Em outras palavras, ao mobilizar a 
comunidade para participar das questões de segurança 
pública, a OSP não pode pensar que vai controlar os 
temas e as formas de participação, tampouco que as 
demandas recebidas são ofensas. Antes disso, as 
demandas representam necessidades da comunidade que 
devem ser consideradas pela OSP como uma prioridade 
parte de um processo de construção de relações de 
confiança. 
 A mobilização comunitária é um pacto. A comunidade se 
aproxima, traz informações relevantes para o planejamento e 
espera respeito e eficiência dos representantes do poder 
público. Quais as implicações disso? Os policiais que atuam 
na mobilização da população local precisam ser claros quanto 
aos limites para o atendimento de demandas comunitárias. A 
partir do momento em que um compromisso for assumido 
com a população, ele não poderá ser descumprido, sob pena 
de que a relação de confiança estabelecida fique fragilizada. 
Refletindo sobre a questão... 
Leia o seguinte trecho: 
“(...) A democracia tem necessidade da polícia: uma sociedade livre não 
pode dispensar um certo nível de ordem, ou ainda, de previsibilidade nas 
trocas sociais cotidianas. Quer se trate de limitar a extensão dos 
comportamentos predadores sem retroceder à autodefesa dos séculos 
passados, de facilitar os deslocamentos em sociedades marcadas pela 
mobilidades, (...) a força do elo social e a qualidade de vida de que se 
beneficia a maioria dos cidadãos das sociedades ocidentais dependem, 
em boa parte, da maneira como a polícia cumpre as tarefas para as quais 
ela é solicitada ou que ela própria se atribui. (...) Dizer isso é atribuir à 
polícia um papel eminentemente político, no sentido nobre do termo. 
Melhor, é reconhecer a natureza política da função policial. (MONET, 
2003, p. 29). 
Durante muito tempo, organizações policiais buscaram limitar 
influências políticas em suas ações por meio da adoção de critérios 
técnicos de aplicação da lei. Como discutido no módulo anterior, essa 
estratégia de profissionalização marcou o modelo tradicional de 
policiamento. 
Em sua opinião, como a polícia pode ser considerada uma instituição 
política? Como o modelo de polícia comunitária pode contribuir com a 
função política da polícia? 
2.3. COMO MOBILIZAR? 
Durante as atividades de mobilização, como reuniões ou visitas 
comunitárias, é comum que os profissionais de segurança pública 
presenciem e vivenciem situações pouco convencionais e 
desafiadoras. Por isso, alguns comportamentos devem ser 
incentivados. Veja alguns exemplos: 
 Considere, com atenção, todos os que quiserem 
falar. Tão importante quanto ouvir é como ouvir. Por isso, não 
faça distinções, todos devem ser ouvidos, principalmente 
aqueles mais críticos. 
 Identifique os principais movimentos, organizações e 
lideranças comunitárias do estado ou município e 
procure estabelecer mecanismos de interlocução entre 
esses temas e a segurança pública. Os grupos organizados 
podem servir, inclusive, de inspiração para a adoção de 
instrumentos já existentes de participação, como redes de 
contatos, formas de organizar e mobilizar reuniões etc. 
 Elabore uma lista de contatos, com telefones, endereços 
e e-mails. Não se esqueça de que ao conhecer a 
comunidade, é importante explicar como será o seu trabalho 
e porque trabalhará assim. Nesse momento, será inevitável 
explicar o que é a polícia comunitária. Aproveite a 
oportunidade! 
 Evite demonstrar preferências por manifestações ou 
grupos específicos. O trabalho policial é dirigido a todos e 
não pode ser visto como um privilégio de poucos. 
Importante! 
As pessoas se mobilizam para mudar realidades ou resolver problemas. 
A realização do seu trabalho de forma correta e diligente, com interesse 
real na realidade e nos problemas das pessoas, é uma atitude 
imprescindível à mobilização social no seu contexto de trabalho. Por 
isso, a mobilização começa com você, em suas atividades diárias. Faça o 
teste, seja diligente e prestativo e veja a mudança no comportamento das 
pessoas ao seu redor! 
 Compartilhe as informações e os dados disponíveis 
sobre os problemas apresentados. Lembre-se de que a 
sua opinião sobre as questões de segurança do local deve 
ser embasada em dados, não apenas em impressões 
pessoais! 
 Preste contas do trabalho desenvolvido: apresente e 
discuta as ações que estão sendo adotadas naquela 
região. É importante demonstrar claramente como e porque 
determinada atividade foi desempenhada. Caso exista sigilo 
em alguma atividade, não deixe a pergunta sem resposta e 
indique a necessidade de discrição. 
 Procure se aproximar dos diferentes grupos na 
comunidade, independentemente de faixa etária, sexo, 
renda, cor ou raça ou outras categorizações. T odos 
possuem necessidades específicas e devem receber atenção 
e serviços adequados! 
 Conheça o território e as pessoas da região em que o 
policiamento comunitário será implantado.. Para tanto, 
comece mapeando os equipamentos públicos existentes, 
como escolas, hospitais, equipamentos da assistência social, 
de inclusão produtiva, trabalho e renda, dentre outros. Não se 
esqueça de incluir as OSP nas suas visitas, em que pese a 
necessidade de articulação também entre essas 
organizações. 
A importância do diagnóstico 
O diagnóstico da região deve identificar as potencialidades e os 
pontos críticos para a mobilização daquela comunidade. Essas 
informações contemplam diferentes áreas da vida social daquela 
comunidade, como educação, saúde, assistência social, trabalho 
e renda, dentre outras. Os demais equipamentos públicos (postos 
de saúde e escolas, por exemplo) são excelentes pontos de 
partida para se conhecer a realidade local. 
Em relação à segurança, além dos dados criminais, os dados de 
pesquisas de vitimização são extremamente importantes para a 
composição desse diagnóstico. Como você estudou no módulo 
anterior, os dados da 1ª Pesquisa Nacional de Vitimização estão 
disponíveis em relação a todas as Unidadesda Federação. 
Antes de prosseguir, verifique os dados referentes à sua Unidade 
Federativa. 
Investigando... 
Existem outros dados sobre avaliação do trabalho e confiança nas OSP 
na sua cidade? E sobre percepção de segurança? Informe-se! 
 
 
AULA 3 - CONSELHOS 
COMUNITÁRIOS DE SEGURANÇA 
PÚBLICA (CONSEGS) 
3.1. DADOS INTRODUTÓRIOS 
Os CONSEGs representam o mecanismo mais comumente 
associado à participação social em segurança pública no Brasil. 
Apesar de não serem a única forma de fazê-lo, os CONSEGs 
tornaram-se populares desde os anos 2000, num movimento que 
acompanhou a gestão de políticas públicas no país de uma forma 
geral. 
Segundo dados do ano de 2006, existiam 445 municípios com 
conselhos na área de segurança pública (SENASP, 2009). Em 
2008, com metodologia diferente, uma nova pesquisa identificou 
pelo menos 534 conselhos (1998, p.28). Não há, desde então, 
motivos para acreditar que esse número tenha reduzido, 
provavelmente aconteceu o contrário. 
Em grande medida, o fundamento que permeia o estímulo à 
presença da sociedade civil em instâncias participativas como 
fóruns e conselhos é a aproximação e a apropriação por parte da 
população das esferas de tomada de decisão. É pela 
mobilização, por meio da ocupação de espaços antes reservados 
exclusivamente aos gestores e técnicos ligados à administração 
pública, que a comunidade pode pautar as próprias necessidades 
locais, direcionando as discussões e contribuindo com a tomada 
de decisão em temas do seu próprio interesse. 
Exemplo: Em algumas áreas, como a saúde e a assistência 
social, a criação de esferas de participação popular e controle 
social tornaram-se exigências e requisitos para o repasse de 
recursos provenientes do governo federal. 
3.2. HISTÓRICO DOS CONSEGS 
Década de 80 – Surgimento dos CONSEGs 
Década de 90 – Ampliação da ideia 
Anos 2000 – Popularização dos CONSEGs 
Importante! 
A edição do Plano Nacional de Segurança Pública, em 2001, também 
trouxe incentivos ao fortalecimento de ações de segurança pública sob 
uma perspectiva comunitária. Por meio da criação de requisitos para o 
repasse de recursos aos Estados por meio do Fundo Nacional de 
Segurança Pública, a SENASP/MJ incentivou a adoção do policiamento 
comunitário como estratégia de trabalho policial. Nessa esteira, a difusão 
da participação social na segurança pública por meio dos Conselhos 
Comunitários de Segurança passou a integrar algumas ações de 
instituições policiais e políticas de governos estaduais (BRASIL, 2014). 
3.3. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO 
CONSEGS 
Os Conselhos Comunitários de Segurança Pública diferenciam-
se de outras associações locais em razão de seu foco voltado 
para a discussão e resolução de problemas de segurança 
pública. 
Como conselho, é um órgão consultivo, mas não é incomum 
serem identificadas características de instância deliberativa em 
seu funcionamento. 
Comumente, cada Unidade da Federação possui legislações 
específicas que regulam os CONSEGs, como definições 
diferentes sobre a criação, funcionamento, critérios de 
participação e validação do Estado. Não existe, portanto, um 
modelo único de CONSEG no país, tampouco alguma lei que 
estabeleça, em nível nacional, como eles devem funcionar. 
Contudo, enquanto mecanismo de participação social, os 
CONSEGs devem atender às diretrizes gerais da Política 
Nacional de Participação Social, dentre as quais destacam-se: 
 o reconhecimento da participação social como direito do 
cidadão e expressão de sua autonomia; 
 a solidariedade, a cooperação e o respeito à diversidade de 
etnia, raça, cultura, geração, origem, sexo, orientação 
sexual, religião e condição social, econômica ou de 
deficiência, para a construção de valores de cidadania e de 
inclusão social; 
 o direito à informação, à transparência e ao controle social 
nas ações públicas, com uso de linguagem simples e 
objetiva, consideradas as características e o idioma da 
população a que se dirige. 
 
Saiba mais 
 
O Governo do Rio Grande do Sul desenvolve ações de participação 
social no âmbito de um canal chamado Gabinete Digital. Numa das 
oportunidades, foi tratado do tema: Paz no Trânsito. 
Investigando... 
Em sua região, existe alguma iniciativa semelhante? 
De toda forma, é possível definir o CONSEG como sendo um 
mecanismo de participação social em segurança pública que, 
comumente, reúne representantes das organizações de 
segurança pública locais e a comunidade com o objetivo de 
formular, acompanhar e estabelecer prioridades para problemas 
relacionados a crimes, violências, desordens, medo do crime e 
incivilidades na região. 
Conforme Brasil (2014), suas principais funções são: 
 Aprimorar a relação entre polícia e 
comunidade,promovendo uma aproximação maior e 
produtiva entre ambos; 
 Identificar prioridades locais na área de segurança 
pública e construção de parcerias e estratégias de ação 
para buscar a resolução compartilhada dos problemas; 
 Auxiliar na prevenção dos delitos e das violências, por 
meio de campanhas educativas e outras iniciativas em 
parceria com diferentes atores; 
 Encorajar a participação social na construção da 
segurança pública; 
 Propiciar espaços de prestação de contas e de 
avaliação das atividades realizadas pelas OSP naquelas 
regiões, reconhecendo a necessidade de referenciar os 
serviços aos problemas locais. 
Importante! 
Apesar da proximidade entre o CONSEG e as OSP, isso não deve 
implicar na confusão de papéis entre ambos. Os voluntários engajados 
nos CONSEGs não assumirão a função de policiar e nem de realizar 
investigações! 
3.4. CRIAÇÃO DE CONSEGS 
No modelo brasileiro, os CONSEGs são, normalmente, 
organizados pelos estados. Tendo em vista a sua maior 
frequência, você estudará a seguir os aspectos relacionados à 
atuação do estado na formação dos CONSEGs, mas é 
importante que você saiba que podem existir CONSEGs 
organizados e mantidos pela própria sociedade civil. 
Discussões iniciais 
É fundamental que as normas que regulamentam os CONSEGs 
sejam discutidas ampla e continuamente com a comunidade e 
com os profissionais de segurança pública. Afinal, trata-se de um 
espaço que será utilizado pelos envolvidos para estabelecerem 
prioridades na agenda de segurança pública. 
Além disso, o diagnóstico sobre a realidade local será essencial 
para a identificação dos problemas locais e, consequentemente, 
para a mobilização das pessoas que são impactadas por esses 
problemas. Caso a iniciativa em torno da criação do CONSEG 
surja da própria comunidade e seja levada à OSP, considere que 
as ações de mobilização já começaram! 
Reuniões de sensibilização 
As reuniões de sensibilização são essenciais para mobilizar a 
comunidade. Devem ser realizadas em diferentes momentos e 
para diferentes grupos na comunidade, como forma de espalhar a 
notícia e gerar adesão à proposta. Elas buscam: 
 Apresentar o modelo de gestão da segurança pública do 
qual podem fazer parte os CONSEGs, ou seja, a segurança 
pública compartilhada, dando ênfase ao papel da 
comunidade na coprodução de resultados. 
 Identificar os possíveis conselheiros comunitários de 
segurança pública interessados em levar adiante a 
estruturação do CONSEG. 
 Destacar a importância do envolvimento legítimo com as 
ações do conselho para que ele funcione cumprindo seu 
principal objetivo: ampliar a participação popular na 
definição de estratégias de segurança pública. 
 Informar o alcance e os limites da atuação do CONSEG na 
gestão da segurança pública daquela Unidade da 
Federação e mais especificamente daquela comunidade. 
Informar sobre o modelo de atuação dos CONSEGs, os 
ganhos e os desafios e a forma de gestão desse espaço. 
Com a sensibilização da comunidade local, é importante que 
sejam apresentados os critérios para indicação de uma 
Secretaria Executiva Provisória. Para tanto, o processo de 
indicação deve ser rigorosamente planejado com antecedência. A 
comunidade fará a indicação dos integrantes dasociedade civil e 
as OSPs dos seus representantes, por isso os critérios de 
seleção e as atividades a serem desempenhadas devem estar 
claramente descritos. 
O ideal é que o processo de indicação da Secretaria Executiva 
Provisória seja reflexo do acordo entre os grupos da comunidade, 
sendo que os representantes das OSPs normalmente são 
indicados pelas chefias. A principal atribuição da diretoria 
provisória é organizar as eleições formais do conselho. 
Estrutura básica 
A estrutura básica dos CONSEGs são compostas pelas seguintes 
instâncias: 
Plenária do Conselho 
Presidência do Conselho 
Comissões Permanentes 
Comissões Provisórias 
Secretaria/Coordenação Executiva 
Composição 
O CONSEG é constituído por representantes do poder público e 
da comunidade. Comumente, os responsáveis locais pelas OSPs 
constituem o conselho, tais como polícia militar, polícia civil, 
corpo de bombeiros, departamento de trânsito, guarda municipal, 
órgão de defesa social ou ordem pública, dentre outros. É 
recomendável que o CONSEG seja composto de forma paritária, 
ou seja, com igual número entre os representantes do poder 
público e da comunidade. 
Regimento Interno 
O Regimento Interno é o instrumento que estabelece as formas 
de funcionamento do CONSEG, tais como: 
 Composição do conselho indicando quais seriam as 
instituições públicas com representação no conselho (ex.: 
Polícia Civil, Polícia Militar, Detran, etc); 
 Duração do mandato e composição dos cargos e funções 
da Diretoria; 
 Normas referentes à reeleição; 
 Atribuições e cada participante da direção; 
 Periodicidade das reuniões; 
 Metodologia de trabalho (rotina para apresentação das 
demandas, encaminhamento e avaliação do cumprimento); 
 Regras de participação no Plenário, nas Comissões 
Permanentes e Provisórias e nas representações do 
Conselho, sempre que for demandado. 
Institucionalização 
Os conselheiros dos CONSEGs são, normalmente, empossados 
mediante ato formal do poder público local. A característica de 
formalidade do CONSEG confere legalidade e segurança aos 
seus integrantes, assim como possibilita que possam representar 
o conselho em diferentes espaços e contextos. É recomendado 
que a constituição do CONSEG e a posse dos conselheiros 
sejam divulgadas, especialmente para as OSPs, o Ministério 
Público, o Poder Judiciário, a Defensoria Pública e demais 
conselhos existentes no local. 
Orientações gerais 
 Torne públicos os atos do conselho (atas, resoluções, 
comunicados, página na internet etc). Isso contribui para 
que ele se faça reconhecido pela sociedade e pelos 
governos locais 
 Construa canais de comunicação e participação dos 
diversos grupos da comunidade. É comum, por exemplo, 
a criação de grupos de mensagem em redes sociais e 
páginas na internet. 
 Prepare e discuta planos de ação para a segurança 
pública naquela comunidade. 
 Incentive o engajamento e a participação nas reuniões e 
eventos relacionados ao CONSEG. 
 Defina locais, datas e horários para as reuniões de 
forma conjunta com todos os envolvidos, estimulando a 
participação da ampla maioria das pessoas. Para facilitar 
a interação entre as pessoas e evitar constrangimentos, 
você deve priorizar espaços de fácil acesso, que sejam 
definidos pela própria comunidade. O horário deve ser 
adequado para a maior parte da população e buscando 
evitar ambientes que dificultem a ampla participação (por 
exemplo, ambientes religiosos, ambientes coordenados por 
partidos políticos). Caso julgue interessante, realize 
reuniões em espaços itinerantes, contemplando a definição 
da maioria. Não dê prioridade para as sedes das OSPs. 
 Defina a pauta de cada reunião com a antecedência 
necessária à preparação dos participantes e a eventuais 
convites de convidados. Lembre-se de que o 
engajamento das pessoas está diretamente associado à 
solução dos problemas apresentados, o que é facilitado 
com a definição de uma pauta de reunião exequível e clara. 
 Promova parcerias. A participação de diferentes atores 
nas reuniões do CONSEG, quando articuladas e 
coordenadas, é favorável à resolução de problemas locais. 
Sempre que necessário e que a pauta permitir, convide 
representantes de outros órgãos como educação, saúde, 
assistência social, trabalho e renda, além de outros 
conselhos, como Conselhos Tutelares, de políticas sobre 
drogas, de juventude, dentre outros. A participação de 
representantes de outros poderes, como Legislativo e 
Judiciário, também é incentivada, mediante critérios de 
pertinência com a pauta e coordenação da reunião. É 
importante, também, a participação de organizações do 
terceiro setor, como ONGs e movimentos sociais 
organizados. O convite à participação desses 
representantes deve ser submetido à apreciação dos 
demais conselheiros previamente. 
Nota 
O terceiro setor constitui-se na esfera de atuação pública não-estatal, 
formado a partir de iniciativas privadas, voluntárias, sem fins lucrativos, 
no sentido do bem comum. Para maiores informações acesse o relato 
setorial do BNDES. 
Possíveis dificuldades 
Apesar de toda preparação, você poderá encontrar dificuldades. 
Veja algumas a seguir: 
Tentativa de apropriação do CONSEG como palanque 
político-partidário – é possível que algumas pessoas queiram 
utilizar o CONSEG para levar suas intenções e propostas 
políticas. Entretanto, desde a formação inicial da Secretaria 
Executiva Provisória, todos devem ser alertados sobre as 
possíveis implicações negativas que isso poderá trazer para o 
debate e para o trabalho do CONSEG. A vinculação do CONSEG 
a um partido ou ideologia política subverte a proposta de 
participação social do próprio conselho. Por isso, evite a 
utilização do CONSEG como espaço político-partidário. 
Críticas às OSPs – espaços de participação social não são 
espaços de validação das OSPs. Pelo contrário, representam 
mecanismos para que a comunidade possa apresentar seus 
problemas e pontos de vista. Por isso, as críticas devem ser 
encaradas como oportunidades de melhoria de processos ou 
atividades que foram mal avaliadas. Por óbvio, devem ser 
respeitados limites de bom senso na forma e no momento em 
que as críticas são apresentadas, de maneira a não ser ofensivo 
ou tratar as questões de forma pessoal. 
Pessoas que monopolizam a reunião ou que tendem a 
polarizar discussões – A divergência de opiniões em um 
ambiente coletivo é normal. Entretanto, a polarização de 
questões pode trazer prejuízos à reunião do CONSEG, à medida 
em que trava sua fluidez. Para que isso não ocorra, é importante 
que as reuniões sejam precedidas de pauta previamente 
estabelecidas e que esta seja relembrada antes do início dos 
trabalhos. É recomendável também que seja definido antes do 
início o tempo destinado à duração da reunião bem como o 
tempo concedido às falas dos interessados quando for aberta a 
palavra aos presentes. 
Pouca participação das pessoas na reunião – a ausência de 
pessoas nas reuniões pode refletir questões como falha na 
mobilização, falta de legitimidade do conselho, ou ainda falta de 
conhecimento sobre o papel desempenhado por um CONSEG. A 
divulgação ampla dos trabalhos e dos resultados por meio das 
diversas formas de mídia, a divulgação das reuniões do 
CONSEG por parte dos profissionais de segurança pública, a 
realização de palestras, fóruns e encontros para tratar de temas 
como a segurança pública cidadã e compartilhada podem ajudar 
a superar a barreira da inércia da população. 
Descontinuidade dos trabalhos do CONSEG – é necessário 
estabelecer os limites e as possibilidades de atuação dos 
CONSEGs para não gerar falsas expectativas. Projetos muito 
ambiciosos de segurança pública adotados por um CONSEG, por 
exemplo, podem ter como consequência muitas barreiras que 
dificultam sua continuidade. Recomenda-se que o CONSEG 
envolva-se em projetos de forma objetiva, de solução simples, 
que confiram resultados rápidos e satisfatórios. Por exemplo, a 
instalação de um semáforo, lombada ou de umafaixa de 
pedestres nas proximidades de uma escola, por exemplo, podem 
trazer resultados significativos na diminuição dos índices de 
vitimização no trânsito. 
Ausência de uma metodologia de trabalho – em muitos casos, 
pela falta de uma metodologia de trabalho, as iniciativas da 
diretoria do CONSEG acabam se resumindo ao encaminhamento 
de ofícios a autoridades e órgãos reivindicando melhorias nos 
serviços prestados. Isso pode ser importante, mas não resume as 
atividades e o alcance do trabalho de um CONSEG. A falta de 
uma metodologia de trabalho e de um “norte” pode diminuir a 
vontade da participação dos voluntários com o passar do tempo 
em razão da falta de objetividade das reuniões e do próprio 
CONSEG. A solução para isso é manter sempre algum projeto 
em foco, dentro daquilo que foi estabelecido como prioritário, 
adotando-se, sempre que possível, as ferramentas de análise e 
solução de problemas indicadas no Plano de Ação do 
Policiamento Comunitário. 
 
 
 
RESUMO 
A noção clássica de comunidade envolve o compartilhamento de 
interesses por pessoas em contextos de interdependência, 
normalmente associados a um território ou localidade. 
As principais características da comunidade são: existência de 
áreas geográficas e/ou espaços de interações; existência de 
relações econômicas, políticas e sociais regulares; existência de 
uma entidade legal ou unidade de governança comum; 
compartilhamento de um senso de interdependência mútua; 
compartilhamento de uma identidade do grupo; e existência de 
processos de inclusão e exclusão da comunidade, assim como 
formas de transmissão dos valores. 
É importante saber a origem da legitimidade das diferentes 
lideranças que se apresentam na comunidade. Por vezes, as 
chamadas “lideranças” não são representativas da comunidade, 
mas apenas de um número reduzido de pessoas ou mesmo de 
um grupo influente, por exemplo, grupos com poder econômico. 
A ideia de participação social envolve a organização da 
comunidade para influenciar e acompanhar as políticas públicas, 
por meio de mecanismos e processos específicos. 
A ideia de mobilizar diz respeito à ação de conferir movimento a 
alguém ou a algo. Para Toro (1996), “mobilizar é convocar 
vontades para um propósito determinado, para uma mudança da 
realidade”. Ainda mais, Henriques et al (2007) afirmam que para 
a mobilização é necessário “mostrar o problema, compartilhá-lo, 
distribuí-lo, para que assim as pessoas se sintam 
corresponsáveis por ele e passem a agir na tentativa de 
solucioná-lo” 
A realização da mobilização social exige a construção de 
diagnósticos a respeito da comunidade e da região. Essas 
informações contemplam diferentes áreas da vida social daquela 
comunidade, como educação, saúde, assistência social, trabalho 
e renda, dentre outras. Os demais equipamentos públicos (postos 
de saúde e escolas, por exemplo) são excelentes pontos de 
partida para se conhecer a realidade local. Em relação à 
segurança, além dos dados criminais, os dados de pesquisas de 
vitimização são extremamente importantes para a composição 
desse diagnóstico. 
Ao mobilizar a comunidade para participar das questões de 
segurança pública, a OSP não pode pensar que vai controlar os 
temas e as formas de participação, tampouco que as demandas 
recebidas são ofensas. Antes disso, as demandas representam 
necessidades da comunidade que devem ser consideradas pela 
OSP como uma prioridade e parte de um processo de construção 
de relações de confiança. 
Os CONSEGs representam o mecanismo mais comumente 
associado à participação social em segurança pública no Brasil. 
Eles representam um mecanismo de participação social em 
segurança pública que, comumente, reúne representantes das 
organizações de segurança pública locais e a comunidade com o 
objetivo de formular, acompanhar e estabelecer prioridades para 
problemas relacionados a crimes, violências, desordens, medo do 
crime e incivilidades na região. 
As principais funções dos CONSEGs são: aprimorar a relação 
entre polícia e comunidade, identificar prioridades locais e 
construir parcerias e estratégias de ação para buscar a resolução 
compartilhada dos problemas; auxiliar na prevenção dos delitos e 
das violências; encorajar a participação social na construção da 
segurança pública; propiciar espaços de prestação de contas e 
de avaliação das atividades realizadas pelas OSP naquelas 
regiões. 
 
AULA 1 – GESTÃO E QUALIDADE 
1.1 BENS E SERVIÇOS 
Frequentemente, ouve-se falar no estabelecimento de padrões de 
qualidade ou referenciais para comparação entre os bens e 
serviços, particularmente na iniciativa privada. Com efeito, essa 
preocupação é estimulada pelas críticas e reclamações dos 
clientes, que podem resultar em perdas ou mesmo a falência de 
empresas. 
Por isso, tanto o crescente acesso a mecanismos de defesa e 
proteção dos consumidores, como por exemplo, o PROCON, 
quanto o avanço de tecnologias que facilitam as comunicações, 
por exemplo, sites especializados em avaliações de clientes, 
fazem parte de uma consciência comum em torno de 
determinados padrões de exigência e de qualidade relacionados 
aos bens e serviços disponibilizados ao público. 
No caso dos serviços públicos, esse movimento também tem 
ocorrido. As políticas públicas são comumente questionadas 
quanto à qualidade dos serviços prestados, num movimento 
semelhante àquele observado na iniciativa privada. Diante de 
uma fila de hospital, da descortesia no atendimento numa escola 
ou mesmo da desatenção de um policial, são comuns críticas aos 
serviços, causando desconfiança e frustração nos usuários. 
Por isso, você deve ter claro que o conceito de qualidade se 
refere aos seguintes aspectos, conforme destacado por 
Marcineiro (2009): 
 Satisfação dos clientes; 
 Adequação do produto/serviço ao uso pretendido; 
 Conformidade do produto/serviço com as 
exigências/especificações; 
 Atendimento das expectativas dos clientes com a 
manutenção de baixo custo; 
 Propriedade, atributo ou condição que permite avaliar 
qualquer produto/serviço; 
 Propriedades e características de um produto/serviço que 
conferem sua habilidade de satisfazer necessidades do 
cliente; 
 Atendimento confiável, seguro e no tempo certo das 
necessidades do cliente; 
Diante dessas características, é essencial discutir e padronizar os 
resultados esperados, quer sejam serviços ou bens. 
Exemplo 
É razoável acreditar que, ao comprar o computador que você 
está utilizando, você possa elaborar documentos em editores de 
texto ou acessar à internet para realizar cursos, como esse sobre 
polícia comunitária. Ou seja, você possui um padrão de 
expectativas que estão associadas à qualidade das 
funcionalidades do bem, no caso o computador. 
O mesmo raciocínio se aplica a serviços, com algumas 
diferenças, como: 
 O serviço nem sempre é transformado em um objeto 
passível de manuseio; 
 O serviço é produzido e consumido simultaneamente; 
 O serviço depende muito daquele que o executa, portanto, 
sua avaliação varia conforme as características do 
prestador; 
 O serviço não pode ser estocado, já que sua produção e 
consumo são imediatos. 
Importante! 
As atividades do Estado têm como objetivo o bem estar de toda a 
sociedade. Assim, no caso da segurança pública, o bem estar das pessoas 
é expresso pela garantia da ordem e da incolumidade, como afirma a 
Constituição Federal de 1988, mas também pela redução do medo, das 
desordens e dos crimes (SENASP, 2014). 
1.2 MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO: O 
PAPEL DOS INDICADORES 
1.2.1 O que são indicadores 
De forma acentuada, são cada vez mais frequentes iniciativas de 
qualificação dos serviços públicos baseadas em processos 
rígidos de planejamento, monitoramento e avaliação. Para tanto, 
são necessários instrumentos para a mensuração da qualidade e, 
consequentemente, do cumprimento de prazos e objetivos 
planejados, como, por exemplo, os indicadores. 
Indicadores

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