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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 05 UNIDADE 04 FECHAMENTO INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS, CONCEITO DE POLÍTICA EDUCACIONAL E A INTERPRETAÇÃO DA EDUCAÇÃO 8 A EDUCAÇÃO NA LEGISLAÇÃO: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E LDB DE 1996 36 70 SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA 122 AVALIAÇÃO NO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO 164 POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: BNCC 209 CONCLUSÃO GERAL U N IC E S U M A R 11 educacionais, precisam de um diagnóstico sobre a educação nacional; assim, as propostas para as políticas educacionais são mais assertivas. Para que seus argu- mentos sobre a educação brasileira tenham validade, mesmo em um debate com família ou amigos, devem basear-se em pesquisas e não no senso comum, certo? “ Deve-se destacar que os indicadores sociais têm sido cada vez mais utilizados para avaliar a situação da educação no Brasil. Esse uso tem sido intensificado nos últimos anos, principalmente por dois motivos: primeiro pela ampliação do grau de cobertura em todos os níveis de educação no país, fenômeno que exige um acompa- nhamento sistemático; e segundo pelo aumento de dados disponí- veis sobre a educação brasileira, principalmente no que se refere à qualidade do ensino, formação dos professores e situação física das escolas (DIAS JÚNIOR; VERONA, 2010, p. 1). Os indicadores sociais e os dados estatísticos são utilizados como suporte para análises e decisões em políticas educacionais, tanto na elaboração como na re- formulação, na avaliação e no monitoramento das políticas públicas. Os estudos internacionais comparativos estão presentes de forma recorrente nas análises dos indicadores nacionais sobre as políticas educacionais. Nesse sentido, durante nossos estudos, apresentaremos conceitos, análises e dados estatísticos como subsídio para o conhecimento da realidade educacional. O estudo das políticas educacionais é fundamental a você, enquanto futuro(a) professor(a) e como cidadão(ã), no acompanhamento e avaliação da sociedade sobre as propostas e a execução das políticas públicas educacionais. Caro(a) aluno(a), você sabe que um preceito fundamental da Constituição Fe- deral de 1988 implica no acesso à informação pública para o seu pleno exercício? “ Artigo 5º [...] XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988). U N ID A D E 1 12 O mesmo inciso determinou, ainda, a criação de uma lei para regulamentar o refe- rido direito, o que só ocorreu em 2011, fruto de muitas reivindicações da sociedade civil. Somente em 2012, foi instituída a Infraestrutura Nacional de Dados Abertos (Inda), como “política para garantir e facilitar o acesso pelos cidadãos, pela socieda- de e, em especial, pelas diversas instâncias do setor público aos dados e informações produzidas ou custodiadas pelo Poder Executivo Federal” (BRASIL, 2012a, on-line), estabelecendo como objetivos, conforme Art. 1º do referido documento: “ VII - promover a colaboração entre governos dos diferentes níveis da federação e entre o Poder Executivo federal e a sociedade, por meio da publicação e do reuso de dados abertos; VIII - promover e apoiar o desenvolvimento da cultura da publicidade de dados e informações na gestão pública; IX - disponibilizar tecnologias e apoiar as ações dos órgãos e entidades do Poder Executivo federal ou que aderirem à INDA na implementação da transparência ativa por meios digitais; e X - promover a participação social na constru- ção de um ecossistema de reuso e de agregação de valor dos dados públicos BRASIL, 2012a, on-line) No entanto, entre a promulgação da lei, sua implementação e a consequente usu- fruição real pela população há uma distância enorme, às vezes um abismo, que só pode ser superado por meio de estudos, conscientização da população, movi- mentos e lutas empreendidos pela sociedade civil. As informações possuídas, produzidas e divulgadas pelo Estado democráti- co constituem um bem público, de uso individual e coletivo, simultaneamente. Está vinculado diretamente aos princípios basilares da administração pública: a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O princípio da publicidade constitui um elemento essencial para o controle dos atos estatais e fortalecimento da democracia (CARDOSO, 2017). “ O direito de acesso às informações públicas, além de ser um di- reito importante por si mesmo, tem uma finalidade ainda maior por constituir um instrumento necessário para concretização da participação da sociedade civil na reivindicação dos demais direi- tos políticos e sociais constitucionais. Os cidadãos precisam de in- formações para ter livre discernimento, com livre intercâmbio de ideias, auxiliando a tomada de decisões e a reivindicação dos demais U N IC E S U M A R 13 direitos. O direito à informação não se trata, portanto, apenas de um direito constitucional fundamental, mas sim de um direito huma- no, que tem como propósito conquistar outros direitos igualmente constitucionais fundamentais e humanos (CARDOSO, 2017, p. 32). As estatísticas sociais, econômicas e demográficas, utilizadas para a construção dos indicadores no Brasil, são produzidas por diferentes agências nos âmbitos federal e estadual. Nesse sentido, cabe destacar: a) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no fornecimento de dados como o censo demográfico (carac- terísticas demográficas, habitação, escolaridade, mão de obra, rendimentos); b) o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do qual a principal fonte de dados é o censo escolar, que contempla alunos, profes- sores, escolas, turmas e equipamentos, de acordo com as etapas e modalidades da Educação Básica, bem como considera informações do rendimento (aprovação e reprovação) e movimento (abandono e transferência) de cada aluno; c) o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que presta assessoria ao Estado em suas decisões estratégicas, produz informações considerando indicadores e dados refe- rentes às áreas econômica e financeira, além de conter informações relevantes para as pesquisas educacionais em financiamento da educação. Vamos conhecer um pouco das agências e dos dados sobre educação? ■ Censo Escolar O Censo Escolar é um dos principais indicadores nacionais para o sistema edu- cacional, envolve todas as escolas públicas e privadas da Educação Básica. Ao analisarmos as políticas educacionais, sempre recorremos às evidências apre- sentadas no Censo Escolar. U N ID A D E 1 14 “ O Censo Escolar é um levantamento estatístico anual, coordenado pelo Inep e realizado em colaboração com as secretarias estaduais e municipais de educação e as escolas públicas e privadas de todo o País. A pesquisa proporciona a obtenção de estatísticas das condi- ções de oferta e atendimento do sistema educacional brasileiro, na Educação Básica, reunindo informações sobre todas as suas etapas e modalidades de ensino, compondo um quadro detalhado sobre os alunos, os profissionais escolares em sala de aula, as turmas e as es- colas. Os dados e as informações apuradas pela pesquisa subsidiam a operacionalização de importantes políticas públicas, programas governamentais e ações setoriais nas três esferas de governo (federal, estadual e municipal) (BRASIL, 2019, p. 13). Figura 1: Total de matrículas na Educação Básica segundo a rede de ensino – Brasil – 2014 a 2018 Fonte: Brasil (2019, p. 13). No Brasil, o número total de matrículas na Educação Básica, em 2018, foi de 8,5 milhões, distribuídas em 181,9 mil escolas. Em comparação com o ano de 2014, temos 1,3 milhõesde matrículas a menos, o que corresponde a uma redução de 2,6% no total de matrículas. 60.000.000 50.000.000 40.000.000 30.000.000 20.000.000 10.000.000 2014 2015 2016 2017 2018 Total Pública Privada 49.771.371 48.796.512 48.817.479 48.608.093 48.455.867 9.090.781 9.057.732 8.983.101 8.887.061 8.995.249 40.680.590 39.738.780 39.834.378 39.721.032 39.460.618 U N IC E S U M A R 15 Figura 2 - Percentual de matrículas na Educação Básica, segundo a dependência administrativa – Brasil – 2018 / Fonte: Brasil (2019). Ao avaliar a distribuição das matrículas por dependência administrativa no ano de 2018, percebe-se que a rede municipal reúne 47,7% das matrículas na Edu- cação Básica, enquanto a rede estadual conta com 32,9%. A rede privada tem uma participação de 18,6%, e a federal mostra número inferior a 1% do total de matrículas. Esses dados são fundamentais para analisarmos, por exemplo, a distribuição dos recursos para a Educação Básica por esfera administrativa. Figura 3 - Número de matrículas na Educação Básica segundo dependência administrativa e localização da escola – Censo Escolar – Brasil – 2018 / Fonte: Brasil (2019). Municipal Estadual Federal Privada 18,6% 32,9% 0,8% 47,7% Urbano Federal 355.937 55.141 Estadual Municipal Privada Rural 8.906.605 88.644 15.116.036 830.380 18.603.701 4.499.423 U N ID A D E 1 16 Em relação à localização, as matrículas da Educação Básica são encontradas ma- joritariamente na área urbana (88,7%). Em relação à rede pública, a rede munici- pal é a que apresenta a maior proporção de matrículas em escolas rurais (19,5%), seguida da rede estadual, com 5,2% das matrículas. Conforme os dados do Censo de 2018 (BRASIL, 1997a, on-line), 10,7% das matrículas da Educação Infantil estão em escolas da zona rural. No Ensino Fundamental, o maior número de matrículas, na zona rural, está nos anos iniciais (15,1%); nos anos finais, temos 11,8%. No Ensino Médio, as matrículas, na área rural, somam 10,2%. Na educa- ção de jovens e adultos, temos 18,3% das matrículas em escolas rurais (BRASIL, 1996a, on-line). Em um total de 48,7 milhões de estudantes, só 5,8 milhões estão matriculados em escolas do campo. Ao nos aprofundarmos um pouco nos dados, notamos que as condições das escolas do campo são muito inferiores e, muitas vezes, inade- quadas se comparadas às escolas na área urbana. Figura 4 - Estrutura das escolas rurais e urbanas / Fonte: Brasil (2019). U N IC E S U M A R 17 A infraestrutura é um dos fatores para pensarmos na melhora da qualidade da educação. Veja, caro(a) aluno(a), de todas as escola que temos no Brasil, apenas 45,7% possuem biblioteca com sala de leitura, de acordo com dados de Saeb/Inep/MEC e INSE/Inep/MEC. pensando juntos A educação é um direito de todos. Para que esse direito seja garantido, são ne- cessários vários fatores, como condições, acesso, permanência e infraestrutura básica. Por isso, as estatísticas públicas constituem um subsídio importante para o conhecimento da realidade social e econômica, além de necessitar chegar a todo cidadão. Em uma sociedade democrática, elas são decisivas para o pleno exercício da cidadania, ao servir de instrumento para propor, reelaborar, acompanhar e avaliar as políticas públicas. ■ O IDH e o IDHM O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) foi criado, em 1990, pelos econo- mistas Mahbub ul Haq e Amartya Sem. Seu objetivo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é apresentar uma medida geral do desenvolvimento humano em contraponto ao Produto Interno Bruto (PIB), pois abrange, apenas, os aspectos econômicos do desenvolvimento. Os indicadores do IDH é uma medida resumida do progresso em longo prazo de três dimensões básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. U N ID A D E 1 18 A dimensão da educação envolve a escolaridade que, no caso brasileiro, tem como base o número de anos de estudos concluídos com aprovação pelo indiví- duo. Há três variáveis que possuem efeitos diretos sobre a escolaridade: a idade do indivíduo, porque a legislação determina as etapas obrigatórias de estudo e a idade mínima para o ingresso na escola; o período ou contexto temporal, no qual o indivíduo ingressa na escola, a sua conclusão em cada série e a continuidade no sistema de ensino, pois se relacionam com a condição econômica de cada aluno; o corte a qual pertence o indivíduo (RIOS NETO et al., 2005). “ Usado desde 1993 pelo PNUD em seu Relatório do Desenvolvi- mento Humano (RDH), o IDH é utilizado, ainda, para classificar os países enquanto “desenvolvidos” (quando atingidos valores acima de 0,900) ou “em desenvolvimento” (para aqueles cujos valores não atingiram 1994, on-line 2005, on-line). Segundo dados do RDH 2009, a Noruega encabeça a lista dos países com maior IDH (0,971), seguida por Austrália (0,970), Islândia (0,969), Canadá (0,966) e Irlanda (0,965). Dentre os países latino-americanos, o Chile, na 44ª posição, é o primeiro a figurar na lista, com um IDH de 0,878 em 2007. O Brasil aparece na 75ª posição, apresentando um IDH de 0,813 (DUARTE, 2010, p. 2). A classificação para leitura dos dados de IDH é a seguinte: baixo, médio, elevado e muito elevado. Valores entre 0 e 0,499 são classificados como baixos; a classifi- cação média localiza-se entre 0,500 e 0,799; a classificação elevada concentra-se em valores entre 0,800 e 0,899; os valores acima de 0,900 indicam um IDH muito elevado (DUARTE, 2010). U N IC E S U M A R 19 Figura 5 - Ranking de Desenvolvimento Humano / Fonte: adaptada de Pnud (2018). Ranking de desenvolvimento humano Os primeiros têm maior desenvolvimento; os últimos, menor. De 188 países, o Brasil está em 79º lugar. 1. Noruega Desenvolvimento humano ‘muito alto’ 0,949 2. Austrália 0,939 3. Suíça 0,939 4. Alemanha 0,926 5. Dinamarca 0,925 6. Cingapura 0,925 74. São Cristóvão e Nevis Países próximos da faixa do Brasil 0,765 75. Albânia 0,764 76. Líbano 0,763 77. México 0,762 78. Azerbaijão 0,759 79. Brasil 0,754 79. Granada 0,754 81. Bósnia e Herzegovina 0,750 82. Macedônia 0,748 83. Argélia 0,754 84. Armênia 0,743 184. Burundi Desenvolvimento humano ‘baixo’ 0,404 185. Burkina Faso 0,402 186. Chad 0,396 187. Níger 0,353 188. República Centro africana 0,352 U N ID A D E 1 20 Reconhecer e combater essa desigualdade é um desafio complexo e permanen- te para a sociedade brasileira. Observemos alguns países vizinhos; o Chile, por exemplo, ficou em 38º lugar, com IDH de 0,847; a Argentina, em 45º lugar (IDH 0,827); o Uruguai, em 54º lugar (IDH 0,795); e a Venezuela, em 71º lugar (IDH 0,767). Uma das principais recomendações das Nações Unidas, para o Brasil, é diminuir as desigualdades e garantir que ninguém seja deixado para trás nos processos de desenvolvimento. O objetivo de diminuir a desigualdade no Brasil está em consonância com os objetivos da nova Agenda 2030 para que sejam alcançados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Outro indicador utilizado para o acompanhamento das políticas educacio- nais é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), composto de indicadores de três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda, que demonstram ser mais adequadas para avaliar os municí- pios brasileiros. O índice possui variabilidade de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano. Assim, o IDHM inclui três componentes: IDHM Longevidade, IDHM Educação e IDHM Renda. O IDHM no componente educação envolve: Subíndice Escolaridade da Po- pulação Adulta; IDHM – Subíndice Fluxo Escolar da População Jovem (Fre- quência Escolar); IDHM – Taxa de Alfabetização; Índice Ipardes de Desempenho Municipal (IPDM); Taxa de Aprovação no Ensino Fundamental e Ensino Médio; Taxa de Reprovação no Ensino Fundamental e Ensino Médio; Taxa de Abando- no no Ensino Fundamental e Ensino Médio, Taxa deDistorção Idade Série no Ensino Fundamental e Ensino Médio. U N IC E S U M A R 21 Figura 6 - Subíndices do IDHM, Cor, Brasil, 2010 - Fonte: Pnud (2017, p. 16). Figura 7 - Subíndices do IDHM Ajustado, Sexo, Brasil, 2010 / Fonte: Pnud (2017, p. 17). U N ID A D E 1 22 Figura 8 - Subíndices do IDHM, Situação de Domicílio, Brasil, 2010 / Fonte: Pnud (2017, p. 18). Em relação aos dados educacionais e à relação entre brancos e negros adultos, 62% da população branca, com mais de 18 anos, possui o fundamental completo, diante de 47% da população negra. 56,7% das mulheres, com mais de 18 anos, possuem o Ensino Fundamental completo, enquanto a população masculina registrara 53%. “No fluxo escolar da população jovem, as mulheres apresentam maior adequação idade-série, 0,730 diante de 0,657 dos homens (PNUD, 2017, p. 17)”. Quanto à escolaridade da população adulta, 60% da população urbana com mais de 18 anos possui o fundamental completo, ante 26,5% da população rural (PNUD, 2017, p. 18)”. Desse modo, o IDHM, para todas as localidades analisadas, mostra a disparidade existente entre grupos e evidencia melhores resultados para brancos, homens e população urbana. U N ID A D E 1 24 Figura 9 - Acesso à Educação Superior de 1995-2015 / Fonte: Inep (1995; 2015). Figura 10 - Escolaridade média da população de 1995 a 2015 / Fonte: Inep (1995; 2015). O acesso à Educação Básica, de forma universalizada, também, é recente em nosso país. Sua universalização só foi alcançada no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, para o Ensino Fundamental. Em 1960, a taxa de atendimento da população em idade escolar (7 a 14 anos) era de 50%, e alcançou 80% apenas em 1973, período DOIS BRASIS Quatro indicadores da evolução do país e da população em duas décadas Brasileiros no Ensino superior (em número de pessoas) 1995 2015 Classes A e B Classes C, D e E 1,7 milhão 87000 4,4 milhões (2,6 vezes) 2,1 milhões (24 vezes) 3,9 5,4 8,2 8,4 9,7 11,6 ESCOLARIDADE MÉDIA (em número de anos) 1995 2015 Classes D e E Classe C Classes A e B Classes D e E Classe C Classes A e B U N IC E S U M A R 25 em que estagnou até voltar a crescer em 1984. No ano de 1990, impulsionado pelos compromissos da Conferência Mundial de Educação para Todos (realizada em Jomtien, Tailândia, em 1990), o Brasil finalmente incluiu uma parcela da população de baixa renda que ainda estava fora da escola. Assim, a taxa de participação escolar de alunos entre 7 e 14 anos subiu de 87%, em 1992, para 97%, em 2002, sendo que o crescimento atendeu, especialmente, o grupo de renda mais baixa (SIMÕES, 2003). O acesso à educação, que era restrito às classes A e B, passou a incluir milhões de crianças e jovens das classes C, D e E. Sabemos, com isso, que, no Brasil, tivemos uma melhora na distribuição da renda e da riqueza, que, de forma direta, determina o acesso e a permanência dos estudantes na escola. Figura 11 - Taxa de atendimento escolar de 6 a 14 anos por classe / Fonte: Gonzales et al. (2018). “ A primeira preliminar é não ignorar o que é a situação do Brasil em matéria socioeconômica. De há muito os educadores brasileiros correlacionam dialeticamente sociedade e educação. Sabemos todos que a distribuição de renda e da riqueza no país determina o acesso e a permanência dos estudantes na escola. Sabemos também que o aumento da permanência de estudantes na escola depende da realização do direito ao saber, sob um padrão de qualidade possível de ser incrementado. E sabemos também que não se deve exigir da escola o que não é dela, superando a concepção de uma educação salvífica e redentora. Problemas há na escola que não são dela, mas que estão nela e problemas há que são dela e obviamente podem também estar nela. Considerar este contexto socioeconômico des- Taxa de atendimento escolar de 6 a 14 anos por classe, em % Classe AB 100 96 92 88 84 80 Classe C Classe DE 1995 81 89 96 99 98 2003 2015 U N ID A D E 1 26 Para acompanhar as informações sobre a educação, segue alguns sítios para que você possa se aprofundar: INEP: http://www.inep.gov.br. MEC: http://www.mec.gov.br. IBGE: http://www.ibge.gov.br. Observatório do PNE: http://www.observatoriodopne.org.br . explorando Ideias critiva e analiticamente, vê-lo como suscetível de superação por meio de políticas sociais redistributivas e considerar a situação da educação escolar enquanto tal são princípios metodológicos indis- pensáveis para uma análise adequada das políticas educacionais. Afirmar a determinação socioeconômica sobre a educação não é negar as determinações internas a ela (CURY, 2002, p.169). A conscientização sobre a melhora do acesso e permanência à educação é im- portante se consideramos, em nossa análise, a questão histórica e pensarmos o que queremos para o futuro. A melhora da educação, em alguns aspectos, pode não ser a ideal, mas deve ser, sempre, lembrada, pois representa conquistas sociais importantes, conquistas essas que levaram anos de mobilização da sociedade em busca da garantia de um direito, do avanço pela igualdade e consequente avanço em termos de cidadania, especialmente, da parcela da população que foi excluída da participação dos bens sociais. Quando se acha que nada melhorou ou que tem sempre piorado, abrimos espaços para soluções pragmáticas, radicais e em curto espaço de tempo. Lembre-se, caro(a) aluno(a), de que “a ciência e a educação ampla desmentem o passado fictício” (STANLEY, 2018, p. 85). U N ID A D E 1 28 Nesse sentido, é relevante considerar as divergências no conceito de Estado. Em uma perspectiva liberal, o Estado é compreendido como neutro e está acima dos interesses das classes sociais; seu objetivo é a realização do bem comum e o aperfeiçoamento do organismo social em seu conjunto. O foco é no indivíduo, na proteção da liberdade pessoal e na liberdade econômica individual. Em con- traponto, as teorias críticas, com base no materialismo histórico, negam a ideia de um Estado neutro, voltado ao bem comum. Os interesses do Estado apresentam- -se como interesses universais, de todo o corpo social, apenas no nível aparente. “ Nesse sentido, o termo “política” se refere às escolhas, às decisões tomadas por uma determinada autoridade política, decisões estas que conformam “o que fazer” diante de um determinado problema, necessidades ou demandas sociais, podendo ter sido, ou não, fruto de um processo político participativo (RUA, 2015, p. 3). As políticas públicas, também, podem ser definidas como conjuntos de programas, ações e decisões tomadas pelos governos (nacionais, estaduais ou municipais), com o envolvimento e a participação direta ou indireta de grupos sociais. Os programas ou ações podem partir do governo, dos grupos sociais ou ambos, de forma conjunta. Assim, a política pode ser compreendida como resultante da correlação de forças de distintos projetos; ela expressa diversas relações de poder e de conflitos, além disso, destina à resolução, de forma pacífica, dos conflitos que envolvem os bens públicos. A política é um meio; o governo, os indivíduos, os grupos sociais e as organizações estabelecem os objetivos, que mudam conforme o momento social e o projeto para a nação em determinado período. Assim, a política é o que possibilita o alcance desses objetivos. E a educação como política pública? As políticas públicas são autuadas: “ [...] pelo governo quanto à sua implementação e manutenção, mas emergem da sociedade, dos problemas ou demandas que podem ser econômicos, políticos ou de bem-estar. As políticas públicas são o resultado de uma interação complexa entre o Estado e a sociedade. U N IC E S U M A R 29 Em outras palavras, o processo de formulação de política pública é aquele através do qual os governos traduzem seus propósitos em programas e ações, que produzirão resultados ou as mudanças de- sejadasno mundo real (SOUZA, 2003, p. 13). A educação, no campo das políticas públicas, é caracterizada como uma política social. “ Políticas sociais: conjunto de propostas de intervenção sobre proble- mas relacionados com o desenvolvimento social de um determinado país, estado ou município, incluindo as políticas de educação, saúde, habitação, transporte, cultura, esporte e lazer (BRASIL, 2007 p. 243). As políticas sociais, dentre elas a educacional, são uma resposta do governo e do Estado diante das condições de acesso, permanência e qualidade da educação nacional. A política educacional deve garantir os princípios republicanos esta- belecidos no Século XX para uma sociedade democrática: laicidade, gratuidade, igualdade de oportunidades e de qualidade. “ E políticas sociais se referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios sociais visando a diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo desenvolvimento so- cioeconômico. As políticas sociais têm suas raízes nos movimen- tos populares do Século XIX, voltadas aos conflitos surgidos entre capital e trabalho, no desenvolvimento das primeiras revoluções industriais (HÖLFLING, 2001, p. 31). Diante desse conceito, podemos dizer que uma política é boa ou ruim para a educação? Sim, a partir de estudo, pesquisa e análise das políticas. Mesmo depois de décadas de implementação, uma política não foi capaz de garantir o direito constitucional a qual se propôs, ela necessita ser reformulada ou substituída. U N ID A D E 1 30 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), na Unidade 1, o objetivo foi tratar conceitos básicos da dis- ciplina, a partir das informações estatísticas, na educação e sua interpretação. Os indicadores nos proporcionam um referencial sobre a situação das políticas educacionais e nos despertam para o acompanhamento e avaliação das políticas, assim como a importância da nossa participação como cidadãos e educadores na proposição e avaliação de políticas educacionais no Brasil. O Inep, como autar- quia federal vinculada ao MEC, possibilita-nos instrumentos para reivindicação dos direitos que devem ser garantidos pelo Estado. Nas últimas décadas, a educação apresentou avanços na universalização do En- sino Fundamental e no acesso às demais etapas da educação. Sabemos, também, que esse acesso não acompanhou a qualidade da educação nacional, mas reconhecer os avanços é uma condição para discutirmos e pensarmos onde queremos chegar. A Constituição Federal de 1988 é a legislação fundante e fundamental da política educacional. Ela enuncia a educação como direito de todos, dever do Estado e da família. A educação no Art. 205 representa mecanismo de desenvol- vimento, tanto do indivíduo como da própria sociedade, em relação à cidadania e ao trabalho. Garantir o seu cumprimento é, também, uma função de todos nós. Esteja atento(a), caro(a) aluno(a), às disputas políticas e à influência do mer- cado sobre a educação. Elas são sedutoras, usam de estratégias de convencimento e tratam a desigualdade social como natural. Em geral, o “mercado educacional”, com uma visão restrita da educação, propõe uma formação precária, aligeirada e instrumental. Por outro lado, entendemos que a educação deve ter como objetivo a formação integral do ser humano, que permita o conhecimento e desenvolvi- mento de suas potencialidades, ancoradas nos conhecimentos, historicamente, acumulados pela humanidade. Todos os indivíduos devem ter a oportunidade educacional de tornarem-se conscientes e críticos do mundo em que vivem. U N IC E S U M A R 39 capacidades e responsabilidades individuais, visto como “consumidor”. Conforme Boneti (2013, p. 278), “o ser cidadão não mais significa ter direitos, mas possuir um conjunto de habilidades e/ou capital que o faz ser, nunca de responsabilidade do Estado, mas do indivíduo”. Nesse momento, o Estado, junto da sociedade civil e o mercado, são com- preendidos como parceiros no processo de desenvolvimento. As políticas pú- blicas, especialmente, as educacionais, são tidas como aquelas que são respon- sáveis por preparar as habilidades individuais. Na educação, portanto, o foco é direcionado às habilidades, competências e condições do ambiente produtivo. A estrutura de funcionamento da reforma do Estado e da educação caracteriza-se pela diminuição das responsabilidades sociais e transferência dessas responsa- bilidades ao indivíduo. Nesse processo, as políticas visam racionalizar recursos; diminuir as políticas sociais, saúde e educação; desregulamentar a economia; privatizar e abrir mercados, conforme as diretrizes neoliberais. Com a Reforma do Estado, em 1995, a administração pública gerencial passa a considerar o cidadão cliente dos seus serviços. Para isso, exige formas flexíveis de gestão e de descentralização. Na busca pela qualidade e efetividade, instaura um modelo de avaliação sistemática dos serviços prestados, como as avaliações nacionais, no caso da educação. O desenvolvimento deixa de ser um projeto conduzido apenas pelo Esta- do-nação e passa a ter como base o mercado mundial, conforme as orienta- ções do Consenso de Washington, formulado em 1989, que estabelece seus dez mandamentos: “disciplina fiscal, prioridades na despesa pública, reforma fiscal, liberalização financeira, taxas de câmbio, liberalização do comércio, investimento estrangeiro direto, privatização, desregulamentação e direitos de propriedade” (TEODORO, 2008, p. 25). Em relação ao Consenso de Washington: “ Trata-se dos resultados dos encaminhamentos tratados nas reuniões de economistas do FMI, do Bird e do Tesouro dos Estados Unidos realizadas em Washington D.C. no início dos anos 1990. Foram pro- venientes dessas reuniões recomendações dos países desenvolvidos, aos países em desenvolvimento, para que estes adotassem políticas de abertura de seus mercados (SANDRONI, 1999, p. 123). O Brasil, nesse contexto, implementa políticas de ajuste para se inserir no mundo globalizado. O discurso de modernização coloca em evidência a própria educação e U N ID A D E 2 40 a necessidade de reformas, o progresso tecnológico e científico, assim como a otimi- zação dos processos produtivos, aliados à implementação de novas formas de gestão do trabalho. As ideias neoliberais foram incorporadas no Brasil no final da década de 90 e início de 1980, mas tornaram-se evidentes no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC). Houve a instauração da política neoliberal e a participação das agências financiadoras do capital internacional, os organismos multilaterais na direção das políticas educacionais, os quais colocavam a educação como estra- tégia para a inclusão do país na agenda global, tornando-o competitivo. Nesse sentido, o Neoliberalismo é uma política liberal readequada ao contexto histórico da globalização (OLIVEIRA, 2010; SHIROMA et al., 2011). As ideias que deram suporte às políticas, em cada período, são resumidas no qua- dro a seguir Lembre-se, caro(a) aluno(a): as diferenças e semelhanças entre elas foram determinadas pelas circunstâncias históricas em que surgiram, em contextos diversos. ESTADO LIBERAL ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ESTADO NEOLIBERAL Não-intervencionista Intervencionista Não-intervencionista O liberalismo é um conjunto de ideias que nasceu na Sociedade Moderna. Consolidou- -se em 1668, na Ingla- terra, com a Revolução Gloriosa. No restante da Europa, deu-se só após a Revolução Fran- cesa, em 1789. Nos Estados Unidos, porém, ocorreu com a luta pela Independência, em 1776 (CHAUÍ, 2000). Surgiu após a crise de 1929, como tentativa de recuperar as economias nacionais, reverter o quadro de desemprego e aumentar a capacidade de consumo da população. Surgiu no pós-Segunda Guerra Mundial, como uma reação teórica e política ao Estado IntervencionistaKey- nesiano. Com a crise do petróleo de 1973 e inlação, o neolibera- lismo gradativamente volta à cena. U N IC E S U M A R 41 ESTADO LIBERAL ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ESTADO NEOLIBERAL Não-intervencionista Intervencionista Não-intervencionista O principal teórico e pai da teoria do liberalismo econômico foi Adam Smith, com A Riqueza das Nações. Proposto por John My- nard Keynes, em A Teoria Geral do Emprego. Principais teóricos: Friedrich von Hayek (austríaco) e Milton Friedman, da escola de Chicago. Oposição ao Estado Absolutista. Oposição ao Liberalismo. Oposição ao Estado de Bem-Estar Social. Acordo direto entre em- pregador e empregado. Regula as relações co- merciais e de trabalho. Flexibilização das rela- ções trabalhistas. O Estado defende o direito à propriedade e o livre comércio. A propriedade privada é vista como um direito natural. o Estado como provedor de direitos sociais. O Estado deve garan- tir apenas os direitos “naturais” (direitos de propriedade, de livre comércio, de livre pro- dução). A desigualdade é positiva, pois é o mo- tor da concorrência. Defende a via demo- crática, concretizada pelo voto. O Estado deveria funcionar como representante dos interesses coleti- vos. As leis represen- tariam um contrato, no qual o coletivo so- cial negociaria, como poderia irmar, um tipo de governo volta- do à manutenção da liberdade e da igualda- de entre os indivíduos. Defende a garantia pelo Estado das res- ponsabilidades com os serviços básicos sociais: educação, saúde, sanea- mento básico, habita- ção, segurança pública, questão agrária, entre outros, uma vez que o custo desses serviços é pago mediante encargos sociais – impostos (publi- cistas, estadistas). O objetivo da política econômica é defender a moeda, asseguran- do a estabilidade dos preços e garantindo o cumprimento dos contratos e da livre concorrência (desregu- lamentação em geral e do mercado, em parti- cular. Estado máximo para o mercado). U N ID A D E 2 42 ESTADO LIBERAL ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL ESTADO NEOLIBERAL Não-intervencionista Intervencionista Não-intervencionista As ideias liberais exal- tam a educação como forma de resolver o problema do traba- lhador, como possibi- lidade do exercício da cidadania. Defende-se a oferta privada da educação. O Estado deve ser responsável e garantir a educação. O indivíduo é visto como empreendedor dele mesmo. A defesa da livre concorrência e da autorregulação do mercado traz como foco a educação priva- da. Estado mínimo para as políticas sociais. A ascensão social é de responsabilidade de cada um: as condições estão postas para to- dos, o insucesso é fru- to da incompetência. O Estado não poderia interferir na economia, o próprio mercado dispunha de mecanis- mos de regulação, a chamada “mão invisí- vel”. A liberdade econô- mica foi sintetizada na frase “laissez faire, laissez passer”, que em francês signiica “deixe fazer, deixe passar”. O governo desempenha um papel fundamental no enfrentamento da pobreza, do desemprego e da desigualdade de renda, por meio da ofer- ta ou subsídio de bens de serviços à população. Defende a não existên- cia de políticas sociais. Descaracteriza qual- quer tipo de ação cole- tiva, em particular as de natureza sindical, que são vistas como “corpo- rativistas” e contrárias ao interesse geral. Quadro 1 - Estado Liberal, Estado de Bem-Estar Social e Estado Neoliberal / Fonte: a autora. U N IC E S U M A R 43 Conforme o conteúdo apresentado, você concorda com a proposta neoliberal de que a educação deverá ter o objetivo de atender ao mercado de trabalho e formar o trabalha- dor de forma a instrumentalizá-lo para atuar em sua função, e não para adquirir todo o conhecimento construído historicamente? pensando juntos As políticas neoliberais, para a educação, implementadas no Brasil, mudaram o que anteriormente era compreendido como objetivo ou função social da edu- cação, originada na escola republicana francesa, voltada à formação do cidadão, que destaca o saber não somente pelo seu valor profissional, mas por seu valor social, cultural e político. A perspectiva neoliberal, para a educação, tem o foco na formação de “capital humano”, ou seja, de conhecimentos apreendidos pelos indivíduos desde que sejam valorizados economicamente – uma escola que cada vez mais se insere na ordem competitiva de uma economia globalizada. “Na nova ordem educativa que se delineia, o sistema educativo está a serviço da competiti- vidade econômica, está estruturado como um mercado deve ser gerido ao modo das empresas” (LAVAL, 2004, p. 20). Nesse sentido, entendemos que a educação deve preocupar-se com a forma- ção para o mercado de trabalho, mas não atuar apenas por esse objetivo. A edu- cação possui, como função social, o desenvolvimento do indivíduo nas diversas áreas, que permita o desabrochar de suas potencialidades; uma educação que forme para o exercício da cidadania, tendo em vista sujeitos críticos, autônomos e emancipados, que possam ler a sociedade e propor soluções para seus problemas. “ [...] a função social da educação seria de “ordenar e sistematizar as relações homem-meio para criar as condições ótimas de desenvol- vimento das novas gerações [...]”. Portanto, a finalidade da educa- ção e o próprio homem, quer dizer, a sua promoção: “torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela, transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e colaboração entre os homens” (SAVIANI, 1992, p. 52). U N IC E S U M A R 47 É possível efetivar uma sociedade livre, justa e solidária? Dentre as inúmeras possibilida- des de resposta, podemos pensar o quanto a educação de qualidade é condição para o alcance de tais objetivos. pensando juntos Os direitos fundamentais presentes, no artigo citado, já constavam na Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, da qual o Brasil é signatário. Constituição Federal de 1988 Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualiicação para o trabalho (BRASIL, 1988). O Art. 205, além de tratar a educação como direito de todos, afirma ser, também, um dever do Estado e da família. Isso significa que eles têm o dever de propor- cionar condições reais para que todos possam ter acesso à escola. Cada instância, porém, possui responsabilidades específicas. Estado Dever de ofertar a educação a todos e de propor políti- cas públicas que efetivem os direitos previstos na CF/88. Governo Responsabilidade em todos os níveis na implementação das políticas públicas de educação. Família Responsabilidade no encaminhamento das crianças e adolescentes às escolas e no acompanhamento de seus estudos. Ministério Público e da Defensoria Pública Responsabilidade na função de provocar o Poder Judi- ciário em face da omissão do Estado e das famílias. Educandos Responsabilidade na participação dos processos de aprendizagem desenvolvidos pela escola. Quadro 2 - Constituição Federal de 1988 – Art. 205 / Fonte: a autora. U N ID A D E 2 48 O que ocorre, porém, se não houver vagas para os alunos? A Constituição Federal atrelou a função do Ministério Público à defesa do regime democrático e ao exercício dos direitos políticos. Dessa forma, pode-se recorrer ao Ministério Público, que tem como uma das suas funções defender a ordem jurídica do regi- me democrático e, assim, os interesses coletivos e individuais. O Ministério Públi- co poderá entrar com uma ação civil pública ou com um mandado de segurança contra o ente federativo (União, Estado, Distrito Federal ou Município), quando direitos individuais, como a educação, estão indisponíveis,exigindo esse direito. E quando a família se recusa a matricular o ilho na escola? No Brasil, a educação é, constitucionalmente, uma responsabilidade compartilhada entre famí- lia, escola, sociedade e Estado. Se o aluno estiver em idade para frequentar o ensino obrigatório (de 4 aos 17 anos de idade) e não estiver matriculado, a família deve responder por abandono intelectual, conforme Art. 246 do Código Penal (BRASIL, 1940, on-line). O período de escolaridade obrigatória, conforme a Emenda Cons- titucional n. 59/09, é da pré-escola, aos quatro anos, até os catorze anos. O Art. 2050 é também reforçado pelo Art. 6º como primeiro dos direitos sociais. Constituição Federal de 1988 Art. 6º: São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (BRASIL, 1988). O direito à educação é um direito público, juridicamente, protegido e é preciso que ele seja garantido de forma quantitativa e qualitativa. Se é um direito de todos, ninguém pode ficar fora da escola, ninguém pode ser excluído, e o Estado deve dar condições para isso. Veja, a seguir, alguns pontos fundamentais da Constituição Federal quanto à educação. U N IC E S U M A R 49 Art. 205 Direito à educação. Objetivos da edu- cação. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colabora- ção da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualiicação para o trabalho. Art. 206 Acesso e perma- nência. Liberdade de aprender e ensinar. Pluralismo de Ideias. Coexistência de instituições públi- cas e privadas. Valorização dos proissionais da educação. Gestão democrá- tica do ensino público. O ensino será ministrado com base nos seguintes prin- cípios: I- Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. II- Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. III- Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de en- sino. IV- Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oiciais. V- Valorização dos proissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei, planos de carreira, com in- gresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas; VI - gestão democráti- ca do ensino público, na forma da lei. VII - Garantia de padrão de qualidade. VIII - Piso salarial proissional nacional para os prois- sionais da educação escolar pública, nos termos da lei federal. Art. 207 Educação Superior – Universidade. Sobre as universidades que dispõem de autonomia di- dático-cientíica, administrativa, de gestão inanceira e patrimonial, e devem obedecer ao princípio de indisso- ciabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. U N ID A D E 2 50 Art. 208 Educação Básica. Educação especial. Ensino noturno. Programas suple- mentares. Recenseamento. Expressa o dever do Estado com a educação efetivado conforme a garantia de: I- Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria. II- Progressiva universalização do Ensino Médio gratui- to. III- Atendimento educacional especializado aos porta- dores de deiciência, preferencialmente na rede regular de ensino. IV- Educação Infantil, em creche e pré-escola, às crian- ças de até 5 (cinco) anos de idade. V- Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes- quisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um. VI- Oferta de ensino noturno regular, adequado às con- dições do educando. VII- atendimento ao educando, em todas as etapas da Educação Básica, por meio de programas suplementa- res de material didático-escolar, transporte, alimenta- ção e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Po- der Público, ou sua oferta irregular, importa responsa- bilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao Poder Público recensear os educan- dos no Ensino Fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. Art. 209 Ensino privado. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguin- tes condições: I - Cumprimento das normas gerais da educação na- cional. II - Autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Pú- blico. U N IC E S U M A R 51 Art. 210 Conteúdos mínimos. Ensino religioso Facultativo. Educação Indígena. Serão ixados conteúdos mínimos para o Ensino Fun- damental, de maneira a assegurar formação básica co- mum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacio- nais e regionais. § 1º O ensino religioso, de matrícula facultativa, consti- tuirá disciplina dos horários normais das escolas públi- cas de Ensino Fundamental. § 2º O Ensino Fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indí- genas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem. Art. 211 Regime de cola- boração. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino. Art. 212 Recursos para a educação. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de im- postos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino. Art. 213 Escolas comunitá- rias, confessionais ou ilantrópicas. Os recursos públicos serão destinados às escolas públi- cas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, con- fessionais ou ilantrópicas, deinidas em lei, que: I - Comprovem inalidade não-lucrativa e apliquem seus excedentes inanceiros em educação. II - Assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, ilantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas ativi- dades. U N ID A D E 2 52 Art. 214 Plano Nacional de Educação. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de du- ração decenal, com o objetivo de articular o sistema na- cional de educação em regime de colaboração e deinir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implemen- tação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalida- des por meio de ações integradas dos poderes públi- cos das diferentes esferas federativas que conduzam a I - Erradicação do analfabetismo. II - Universalização do atendimento escolar. III - Melhoria da qualidade do ensino. IV - Formação para o trabalho. V - Promoção humanística, cientíica e tecnológica do País. VI - Estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto in- terno bruto. Quadro 3 - Constituição Federal de 1988 - Arts.205 a 214 / Fonte: Brasil (1988). Dentre vários aspectos sobre a Constituição Federal (1988), convidamos você, caro(a) aluno(a), a discutir conosco três questões fundantes e essenciais para a educação: o direito à educação escolar pública, gratuita, laica e de qualidade. A garantia desses direitos é condição necessária para a formação da cidadania em uma sociedade democrática. Para tanto, retomaremos um marco na história da educação nacional, nos anos trinta do século XX, o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), que trouxe a proposta de criação de um sistema educativo pautado em uma educação laica, obrigatória e gratuita. “ A laicidade, que coloca o ambiente escolar acima de crenças e dis- putas religiosas, alheio a todo o dogmatismo sectário, subtrai o educando, respeitando-lhe a integridade da personalidade em for- mação, à pressão perturbadora da escola quando utilizadacomo instrumento de propaganda de seitas e doutrinas. A gratuidade extensiva a todas as instituições oficiais de educação é um prin- cípio igualitário que torna a educação, em qualquer de seus graus, acessível não a uma minoria, por um privilégio econômico, mas a todos os cidadãos que tenham vontade e estejam em condições de recebê-la. Aliás o Estado não pode tornar o ensino obrigatório, U N IC E S U M A R 53 sem torná-lo gratuito. A obrigatoriedade que, por falta de escolas, ainda não passou do papel, nem em relação ao ensino primário, e se deve estender progressivamente até uma idade conciliável com o trabalho produtor, isto é, até aos 18 anos [...] A consciência desses princípios fundamentais da laicidade, gratuidade e obrigatoriedade, consagrados na legislação universal, já penetrou profundamente os espíritos, como condições essenciais à organização de um regime escolar, lançado, em harmonia com os direitos do indivíduo, sobre as bases da unificação do ensino, com todas as suas consequências (AZEVEDO et.al., 2006, p. 193-194). O documento trouxe, também, a defesa da coeducação, a não separação das crianças por sexo, da autonomia da função educacional, da autonomia técnica, administrativa e econômica. Para isso, propôs a criação de um fundo escolar e um plano de educação comum para um novo sistema escolar. O Estado se constitui como laico. Como consequência, suas instituições tam- bém. Nesse sentido, não compete ao Estado e, consequentemente, à escola, arbitrar sobre questões de natureza religiosa, crenças ou doutrinas. A laicidade é o princípio estabelecido na constituição em que o Estado e suas instituições se apresentam como neutros em matéria de religião. Isso possibilita que as mais diversas práticas religiosas existentes no Brasil possam ser praticadas no plano da vida privada, em que é garanti- da a liberdade de crença, das práticas de rituais e cultos; assim, tais manifestações são preservadas conforme a legislação. Foi esse entendimento que moveu os legisladores que elaboraram a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, em 1891, quando inscreveram neste documento que “será leigo o ensino ministrado nos esta- belecimentos públicos” (Art. 72, § 60) (BRASIL, 1891, on-line). Se a educação é “um direito social fundante da cidadania e o primeiro na ordem das citações” (CURY, 2002, p. 20), podemos dizer que sem educação não há cidadania e exercício da democracia. Se para o desenvolvimento humano e qualificação para o trabalho necessitamos de educação, a forma de garantir esse direito, em uma sociedade desigual, é a gratuidade e a obrigatoriedade. A Constituição Federal de 1988 trouxe a necessidade de se efetuar uma re- formulação na legislação educacional que, apesar de ter tramitado durante anos, foi sancionada pelo então presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em 20 de dezembro de 1996. U N IC E S U M A R 55 Ainda assim, há um atraso histórico, na educação brasileira, que resulta em um déficit histórico no acesso, na permanência e na erradicação do analfabetismo. “ Curiosamente, a conclusão a que chegamos é que o grande desafio que ainda se põe para o Brasil em termos educacionais ao ingressar no século XXI, nos vem do século XIX. Trata-se da tarefa de organizar e instalar um sistema de ensino capaz de universalizar o Ensino Funda- mental e, por esse caminho, erradicar o analfabetismo. A Constituição de 1988 estabeleceu, nas Disposições Transitórias, o prazo de dez anos para o cumprimento dessas duas metas. Os dez anos se passaram e agora, em decorrência da Emenda Constitucional de número 14 e da nova LDB, está se procurando fixar no Plano Nacional de Educação, mais dez anos para se atingir essas mesmas metas. Corremos, assim, o risco de, daqui a dez anos, estarmos concedendo mais uma década para realizar aquilo que os principais países fizeram a partir do final do século XIX e início do século XX (SAVIANI, 2001, p. 11). Para o cumprimento do que está estabelecido para a educação na Constituição Federal de 1988 e na LDBEN de 1996 (BRASIL, 1996,on-line), temos outra Lei n. 13.005/2014 (BRASIL, 2014, on-line), que estabeleceu o Plano Nacional de Educação (PNE), em 26 de junho de 2014, com validade de 10 anos. Esse plano estabelece diretrizes, metas e estratégias para a educação. Por isso, todos os Esta- dos e municípios elaboraram seus Planos Municipais de Educação com plane- jamentos específicos, devido às necessidades locais, para fundamentar o alcance dos objetivos. Leia, no quadro a seguir, um resumo sobre a LBDEN e as metas que estão relacionadas ao PNE (2014-2024). LDB PNE Número do título Título Tema Metas - PNE I DA EDUCAÇÃO Educação formal e não formal. Denomina a educação formal como educação escolar. Estabele- ce quatro conceitos estruturados. U N ID A D E 2 56 LDB PNE Número do título Título Tema Metas - PNE II DOS PRINCÍ- PIOS E FINS DA EDUCAÇÃO NACIONAL Tem como base alguns preceitos constitucionais; art. 6º, 7º, 22º, 23º, 24º, 30º, 205º ao 204º, 225º e 227º. No art. 3º, estabelece os princípios da educação, como igualdade, respeito a liberdade, pluralismo de ideias, tolerância, gratuidade do ensino público, valorização do proissional da educação, gestão democrática, qualidade e diversi- dade étnico-racial. Metas 15, 16, 17 e 18. III DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR Art. 4º - o dever do Estado será efetivado com a educação escolar com a garantia de: Educação Básica e obrigatória dos 4 aos 17 anos de idade, atendimento educacional especializado, acesso público e gratuito ao EJA, ensino noturno, programas suplementa- res, padrão mínimo de qualidade. Art. 5º - como a Educação Básica é obrigatória e um direito, os que não tiverem vagas podem acionar o poder público para exigi-lo. O poder público deverá: realizar o recenseamento anualmente, zelar pela frequência à escola, o poder público pode ser responsabiliza- do em caso de negligência. Art. 60 - dever dos pais a matricula a partir dos 4 anos. Art. 70 - o ensino é livre a iniciativa privada, com condições. Meta 1 - Educação Infantil. Meta 2 - Ensino Funda- mental. Meta 3 - Ensino Médio. Meta 4 - Educação Especial. Meta 5 - Alfabetização até o 3º ano do EF. Meta 7 - Padrão de Qualidade – IDEB. Metas 10 e 11 - Edu- cação de Jovens e Adultos. U N IC E S U M A R 57 LDB PNE Número do título Título Tema Metas - PNE IV DA ORGANI- ZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL Art. 8º - regime de colaboração para organização do ensino entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Art. 9º - responsabili- dades da União. Art. 10º - respon- sabilidades dos Estados. Art. 11º - responsabilidade dos municí- pios. Art. 12º - responsabilidade dos estabelecimentos de ensino. Art. 13º - responsabilidade dos docentes. Art. 14º - gestão demo- crática no ensino público. Artigos 150, 160, 170 e 180 - a organiza- ção dos sistemas de ensino. Art. 19º - as categorias administrativas das instituições de ensino. Art. 20º - categorias das instituições privadas de ensino. Meta 15 - Garantir o regime de colaboração entre a União, os Esta- dos, o Distrito Federal e os Municípios. V OS NÍVEIS DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO E ENSINO O Título V possui divisões: CAPÍTULO I DA COMPOSIÇÃO DOS NÍVEIS ESCOLARES CAPÍTULO II DA Educação Básica Seção I Das Disposições Gerais Seção II Da Educação Infantil Seção III Do Ensino Fundamental Seção IV Da Educação Proissional Técnica de nível Médio Meta 1 - Educação Infantil. Meta 2 - Ensino Funda- mental. Meta 3 - Ensino Médio. Meta 4 - Educação Especial. Meta 5 - Alfabetização até o 3º ano do EF. Meta 7- Padrão de Qualidade – IDEB. Metas 10 e 11 - Edu- cação de Jovens e Adultos e Educação Proissional. Metas 12 e 13 - Educa- ção Superior. U N ID A D E 2 58 LDB PNE Número do título Título Tema Metas - PNE V OS NÍVEIS DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃOE ENSINO Seção V Da Educação de Jovens e Adultos CAPÍTULO III DA EDUCAÇÃO PRO- FISSIONAL E TECNOLÓGICA CAPÍTULO IV DA Educação Supe- rior CAPÍTULO V DA EDUCAÇÃO ESPECIAL VI DOS PROFIS- SIONAIS DA EDUCAÇÃO Estabelece quem são os prois- sionais da educação, a formação mínima para atuar na Educação Básica e a formação dos prois- sionais da educação. O Art. 670 estabelece a valorização dos pro- issionais da educação por meio de planos de carreira. Meta 15 - Estabelece que todos os professo- res dos anos inais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio possuam formação superior na área em que lecionam. Meta 16 - Formação continuada e pós-gra- duação dos professo- res. Meta 17 - Valorização dos professores com equiparação salarial com outros prois- sionais que possuem escolaridade equiva- lente. U N IC E S U M A R 59 LDB PNE Número do título Título Tema Metas - PNE VII DOS RECUR- SOS FINANCEI- ROS Os recursos públicos para a educação têm como origem: im- postos da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, receita das transferências constitucionais, receita do salário-educação e dos incentivos iscais. Os art. 70º, 71º e 72º especiicam o que é manu- tenção e desenvolvimento do en- sino e suas despesas. O art. 73º trata da iscalização na prestação de contas, o art. 74º trata do cus- to mínimo por aluno anualmente. Os art. 75º e 76º discorrem sobre a ação supletiva e redistributiva da União e Estados. O art. 77º aborda a destinação dos recursos públicos para a educação. Meta 20 - Visa ampliar o investimento da União em educação pública, de forma a atingir 7% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2019 e o equivalente a 10% do PIB até 2024. U N ID A D E 2 60 LDB PNE Número do título Título Tema Metas - PNE VIII DAS DISPOSI- ÇÕES GERAIS Trata do fomento à cultura, assis- tência e educação indígena. Art. 80º - trata do incentivo do ensino a distância. Art. 82º - regulamen- tação de estágios. Art. 83º - sobre o ensino militar. Art. 84º - sobre o aproveitamento de estudos. Art. 85º - sobre concurso público em instituições públicas. Meta 10 - (Estratégia 10.3) fomentar a inte- gração da educação de jovens e adultos com a educação proissional, em cursos planejados, de acordo com as carac- terísticas do público da educação de jovens e adultos e considerando as especiicidades das populações itinerantes e do campo e das comu- nidades indígenas e quilombolas, inclusive na modalidade de educação a distância. Meta 11 - (Estratégia 11.3) fomentar a ex- pansão da oferta de educação proissional técnica de nível médio na modalidade de educa- ção a distância, com a inalidade de ampliar a oferta e democratizar o acesso à educação prois- sional pública e gratuita, assegurado padrão de qualidade. Meta 14 - (Estratégia 14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu, utilizando inclusive metodologias, recursos e tecnologias de educação a distância. http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ http://pne.mec.gov.br/ U N ID A D E 2 62 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), na Unidade 2, trouxemos a Reforma da Educação iniciada em 1990, além da base legal da educação na Constituição Federal de 1988 e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (BRASIL, 1996a,on-line). A partir da Reforma da Educação, vimos que o Estado, ao redefinir seu papel, alterou a legislação educacional com o pressuposto de adotar um novo modelo de gestão pública. No Brasil, materializou-se a reinserção do país à ordem econômica in- ternacional, incentivada pelas políticas neoliberais. A compreensão das políticas e da legislação, em especial a Constituição Fede- ral de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 (BRASIL, 1996a,on- -line), contextualizadas pelas reformas ocorridas no Brasil e também na América Latina, pôde levá-lo(a) a discernir as relações postas na sociedade em relação às políticas educacionais. Com nossos estudos, concluímos que a educação é um elemento de uma en- grenagem maior, relacionada aos interesses políticos e econômicos de um Estado e de grupos diversos na sociedade. Em razão disso, percebemos que a democratização, estabelecida na Constituição Federal de 1988 e no decorrer do século XX, ainda não foi concluída em sua plenitude. Ainda temos um longo trabalho a ser feito, e você, aluno(a), é parte essencial desse processo, na luta por uma educação universalizada e de qualidade, que preserve os princípios de laicidade, igualdade de acesso, gratuidade e caráter público. O trabalho é árduo, mas nos motiva a continuar, ainda mais diante de uma sociedade que nos desmobiliza, refletindo e analisando informações prontas, vazias e despolitizadas. Isso exige esforço de todos nós, e o primeiro passo foi dado no estudo das políticas educacionais. Assim, vamos em frente com nossos estudos, pois é o que fará diferença para mim, para você e para toda a educação. http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf http://pne.mec.gov.br/images/pdf/pne_conhecendo_20_metas.pdf http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://pne.mec.gov.br/planos-de-educacao/situacao-dos-planos-de-educacao http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ http://www.todospelaeducacao.org.br/biblioteca/1545/anuario-brasileiro-da-educacao-basica-2016/ anotações U N IC E S U M A R 73 relações no ambiente de trabalho (SAMPAIO, 2013). Essa base de habilidades e competências, como veremos ao longo desta unidade, precisa ser desenvolvida ainda na infância e na adolescência, dentro das instituições de ensino. Ao longo da década de 90, alguns autores brasileiros pesquisaram sobre as necessidades do mercado de trabalho, advindas da globalização e das novas tec- nologias, dissertando sobre o novo perfil do trabalhador, caracterizando as novas habilidades e competências que deveriam apresentar para realizar boas performan- ces (DUBAR, 1999; MEGHNAGI, 1999). Estudos como esses, aliados a discursos de Organismos Internacionais, tais como Banco Mundial, Unesco e Unicef, vistos na unidade anterior, ajudaram na discussão sobre a educação que formaria, esses sujeitos, o que resultou em novas políticas educacionais no Brasil, visando um novo homem para essa nova sociedade(capitalista, neoliberal e globalizada). Sabendo dessas premissas, precisamos compreender como é a organização política das escolas e como está estruturada a educação brasileira nas instituições de ensino, a partir da legislação vigente. Por isso, nesta unidade, veremos os níveis, as etapas e as modalidades da educação nacional, a partir da Reforma da Edu- cação, considerando nossa atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), n. 9.394 de 1996 (BRASIL, 1996a, on-line). Na Unidade 2, destacou-se que a atual LDBEN foi implantada em 1996, após a Reforma do Estado, com o objetivo de organizar, de forma legal, a nova edu- cação escolar. Na Lei n. 9.394 (BRASIL, 1996, on-line), vemos, em seu Art. 21, que a educação escolar se compõe de dois níveis, conforme os incisos a seguir: “I - Educação Básica, formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio; II - Educação Superior” (BRASIL, 1996a, on-line). Dessa forma, a educação brasileira está organizada em níveis e etapas, como podemos observar na figura a seguir: ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Educação Básica Educação Superior Ensino Fundamental Educação Infantil Ensino Médio Níveis Etapas Figura 1 - Organização da Educação – Níveis e etapas / Fonte: a autora. U N ID A D E 3 76 Por fim, a terceira e última etapa deste nível (Educação Básica) é o Ensino Médio, com três anos de duração, caracterizado como a fase final dos estudos obrigatórios. Ele, também, possui uma seção exclusiva na LDBEN. Seção IV da LDBEN (1996) sobre Ensino Médio: Art. 35. O Ensino Médio, etapa inal da Educação Básica, com duração mínima de três anos, terá como inalidades: I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o pros- seguimento de estudos; II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com lexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento poste- riores; III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamen- to crítico; IV - a compreensão dos fundamentos cientíico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Art. 36. O currículo do Ensino Médio será composto pela Base Nacional Co- mum Curricular e por itinerários formativos, que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber: (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) I - linguagens e suas tecnologias; II - matemá- tica e suas tecnologias; III - ciências da natureza e suas tecnologias; IV - ciências humanas e sociais aplicadas; V - formação técnica e proissional. Fonte: Brasil (1996a, on-line). Atualmente, as principais leis e documentos que organizam e regulamentam a etapa do Ensino Médio, no Brasil, são: Constituição Federal (CF) de 1988; Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDBEN), Lei n. 9.394 de 1996; Diretrizes Curriculares Nacionais para Ensino Médio (DCN), de 2012, e a Base Nacional Comum Curricular (2018). Portanto, ao detalhar essa etapa, explanaremos, com base nesses documentos, ao longo da Reforma da Educação na década de 90 até o presente momento (BRASIL, 1988; 1996a, on-line; 2012b; 2018). Depois de concluir o ensino obrigatório (dos 4 aos 17 anos de idade) corres- pondente às etapas da Educação Básica, o aluno egresso pode escolher prestar vestibular para tentar uma vaga no Ensino Superior. Contudo o mesmo Artigo da Constituição Federal (BRASIL, 1988) que garante o acesso de todos os cidadãos à Educação Básica, salienta que: “art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] V - acesso aos níveis mais elevados U N IC E S U M A R 77 do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”. Em interpretação, significa que, apesar de o Estado ser responsável pelo Ensino Superior, aqui, referido como nível mais elevado do ensino, não garante a vaga de cada cidadão, sendo que o acesso é permitido apenas para quem passar nos processos de seleção delimitados por cada Instituição de Ensino Superior (IES) (BRASIL, 1988). Segundo o Art. 43, da Lei n. 9.394, a Educação Superior tem por finalidade: “ I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo; II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua; III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, visando o desenvolvi- mento da ciência e da tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do homem e do meio em que vive; IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de comunicação; [...] VII - promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e be- nefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição (BRASIL, 1996a, on-line). Vemos, portanto, que o foco é a formação de um profissional qualificado para o mercado de trabalho, bem como a ampliação de pesquisas, cultura, extensão e demais conhecimentos científicos de diversas áreas. Para atingir esses objetivos, a Educação Superior oferece cursos sequenciais (modalidade de ensino ofertada com finalidade de formação técnica e profissional); de graduação (curso superior aberto para alunos que concluíram a Educação Básica, seja de forma regular ou por modalidades); de pós-graduação (compreendendo os aperfeiçoamentos acadêmicos que vêm depois da graduação, tais como especialização, mestrado e doutorado, sendo a diplomação requisito parcial para o ingresso, bem como o atendimento às exigências de cada IES) e, por fim, de extensão (abertos para candidatos que atendam aos requisitos de cada IES) (BRASIL, 1996a, on-line). A partir do Art. 44 até o 57, é possível verificar na LDBEN (1996) as dispo- sições sobre os processos seletivos de candidatos que disputam vaga no Ensino U N ID A D E 3 80 Segundo Bujes (2001, p. 15): As creches e pré-escolas surgiram a partir de mudanças econômicas, políticas e so- ciais que ocorreram na sociedade: pela incorporação das mulheres à força de tra- balho assalariado, na organização das famílias, num novo papel da mulher, numa nova relação entre os sexos, para citar apenas as mais evidentes. Mas, também, por razões que se identiicam com um conjunto de ideias novas sobre a infância, sobre o papel da criança na sociedade e de como torná-la, através da educação, um indivíduo produtivo e ajustado às exigências desse conjunto social. Ficou interessado na história da Educação Infantil? Para saber mais, acesse: http://books. scielo.org/id/h8pyf/pdf/andrade-9788579830853-08.pdf. Fonte: adaptado de Bujes (2001 apud ANDRADE, 2010). explorando Ideias No Brasil, essa ideia só começou a mudar na década de 90, durante a elaboração das políticas para um novo Estado e a definição da Constituição Federal de 1988, devido aos movimentos sociais que exigiam mais direitos para crianças ainda na primeira infância e ao reconhecimento da Educação Infantil, como parte do ensino, que contribui para a emancipação humana de forma tão legítima quanto o Ensino Fundamental (KUHLMANN JUNIOR, 2000). A Constituição de 1988, pela primeira vez, reconhece direitos a crianças peque- nas, ao mencionar que a educação é um direito social (BRASIL, 1988). Para Kuhl- mann Junior (2000), essa definição contribui para a superaçãoda segregação social, que marcava as creches e pré-escolas como ambientes vinculados a órgãos de assistência social. De forma mais específica, o Art. 205 dispõe que a educação é um direito de todos, o que, em interpretação, inclui todas as idades, desde zero ano. Por isso, para nós, educadores, o Art. 205 da Carta Magna é tão significativo, pois inclui desde as crianças bem pequenas, na garantia de direitos a oferta da educação pelo Estado, estendendo-se aos mais velhos. Contudo o texto original da CF de 1988 ainda não incluía o termo Educação Infantil, ou seja, não a mencionava como uma etapa da educação escolar. Apenas com a aprovação da LDBEN de 1996 é que, de forma legal, a Educação Infantil é reconhecida como uma etapa do nível da Educação Básica (BRASIL, 1988; 1996a, on-line). Em 1997, foi elaborado pelo MEC, em parceria com a Secretaria de Educação Fundamental (SEF), sob o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), os http://books.scielo.org/id/h8pyf/pdf/andrade-9788579830853-08.pdf http://books.scielo.org/id/h8pyf/pdf/andrade-9788579830853-08.pdf U N IC E S U M A R 81 Referenciais Curriculares Nacionais para Educação Infantil - RCNEI (BRASIL, 1998), com objetivo de nortear a criação dos currículos escolares e o trabalho docente, função hoje assumida pela BNCC (BRASIL, 2018). No ano seguinte, fo- ram homologadas as primeiras Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil, Parecer da Câmara de Educação Básica (CEB) n. 22, que organizavam a formação de professores, a forma de ensino, dentre outras atribuições. Contudo ela já foi substituída pelas DCN de 2009, como veremos mais à frente. Em 2001, no final do governo FHC, foi estabelecido o Plano Nacional de Edu- cação, com 26 objetivos para Educação Infantil. Dessa forma, a primeira etapa da Educação Básica ganhou olhares para formação de professores, infraestrutura, ma- teriais pedagógicos, dentre outros aspectos. Verificou-se que, com a compilação dos resultados obtidos do PNE (2001-2010), porém, a meta para a Educação Infantil não fora cumprida. A meta era para a pré-escola permitir o acesso de 80% das crianças, mas foi alcançada pouco mais de 77%. Nas creches, a meta era de 50% das crianças, cerca de 17% conseguiram acesso, apenas (UNICEF, 2009). Em 2006, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, na redação dada pela Emenda Constitucional n. 53, a Educação Infantil volta a ser revista perante a Constituição Federal e, posteriormente, pela LDBEN e demais documentos espe- cíficos. Essa emenda garante, no Art. 208, que: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] IV - Educação Infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade” (BRASIL, 1988). Essa mesma redação só foi incluída na Lei n. 9.394, em 2013, com acréscimo do caráter de gratuidade (BRASIL, 1996a, on-line). A especificação da oferta gratuita, na rede pública, surgiu após a Emenda Constitucional n. 59 de 2009, que também inclui, como dever do Estado, garantir: “I - Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988). Isso significa que, depois de 13 anos após ser incluída na Constituição Federal (1988), a Educação Infantil passa a ser vista de forma legítima como etapa tão importante quanto as demais do nível da Educação Básica. Pelo reconhecimento das questões pedagógicas atreladas ao ensino da Educação Infantil é que a mesma é considerada, ainda que de forma tardia e parcial, como constituinte da educação obrigatória e, por isso, deve ser ofertada de forma gratuita, visando, sobretudo, as classes que não têm condições de pagar pelo ensino particular às crianças na pré-escola (4 e 5 anos), além de ser um direito de todos. U N ID A D E 3 82 O Estado ainda resiste em assumir deveres relacionados a educação escolar, tais como a universalização da creche. Ao mesmo tempo, há pais que precisam trabalhar e não pos- suem condições de pagar instituições privadas para deixar seus ilhos. Qual sua opinião sobre esse contexto? pensando juntos Com a nova visão do Estado sobre a Educação Infantil, as Diretrizes voltadas para essa etapa precisaram passar por atualizações, as quais resultaram na DCN de 2009, por meio do Parecer CNE/CEB n. 5, que são utilizadas até o presente momento (BRASIL, 2009a, p. 1): “ [...] Art. 3º O currículo da Educação Infantil é concebido como um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade. Nessa etapa, o trabalho do professor com os pequenos alunos é mais lúdico. Por isso, na explanação das DCN (BRASIL, 2009a) sobre as práticas pedagógicas, ve- mos que o norte de todas as ações deve ser tanto a interação quanto a brincadeira, que ajudam na construção da identidade de cada criança (BRASIL, 2009a). As atividades que os professores da Educação Infantil realizam com as crianças são diferentes das que a própria família poderia desenvolver. Para trabalhar como professor regente na Educação Infantil, é exigida for- mação em Pedagogia. Na rede pública, essa formação, também, é exigida para atuação como diretor. Em geral, o papel do orientador e do supervisor, também, é ocupado por pedagogos. Além desses profissionais, temos os docentes de Edu- cação Física, que trabalham as questões específicas do corpo e do movimento. Em algumas escolas, tanto públicas quanto privadas, professores com formação em Artes Visuais e Música também trabalham com as questões artísticas. A maioria das escolas que oferta esse ensino, porém, ainda é a privada, e conta com projetos e/ou aulas extracurriculares. U N IC E S U M A R 83 Retomando a Lei n. 9.394 (BRASIL, 1996, on-line), o Art. 31 destaca que a etapa da Educação Infantil tem formas de avaliação diferenciadas, pois o processo de aprendizagem nessa faixa etária, também difere-se dos demais. As DCN (BRA- SIL, 2009a) estabelecem que as avaliações devem ser construídas com base em observações críticas das atividades e das brincadeiras desenvolvidas pela criança, de forma que utilize vários registros (atividades em papel, como desenhos; foto- grafias; entre outros), a fim de que os pais e responsáveis pela criança verifiquem o desenvolvimento dela. A avaliação deve ser um instrumento de percepção do desenvolvimento da criança e de reflexão das práticas pedagógicas. A carga horária mínima de 800h da Educação Infantil é distribuída nos 200 dias letivos, de forma semelhante à etapa de Ensino Fundamental, que veremos mais à frente. Essas questões asseguradas em leis, tais como frequência e avaliações, são importantes para garantir a qualidade do ensino e a garantia de vagas a todos (BRASIL, 2009a). Depois da reformulação das Diretrizes em 2009, tivemos, em 2014, sob o governo de Dilma Rousseff, a implantação do Plano Nacional de Educação (2014- 2024), que ainda está em vigência seguindo a determinação do Art. 214 da Cons- tituição Federal de 1988, e possui a seguinte meta para Educação Infantil: “ Meta 1 - Universalizar, até 2016, a Educação Infantil na pré-escola para as crianças de 4 a 5 anos de idade e ampliar a oferta de Edu- cação Infantil em creches de forma a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3 anos até o final da vigência deste PNE” (BRASIL, 2014, on-line). A meta, que deveria ser cumprida em dois anos de vigência do plano decenal, ainda não foi alcançada. Segundo o Observatório do PNE, cerca de 30% das crianças na faixa de 0 a 3 anos estão sendo atendidas em creches. Em 2024, encerra-se a vigência desse plano e será necessário discutir novas metas, de forma significativa, para a Educação Infantil.
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