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CAÇA AOS MARAJÁS, CORRUPÇÃO E O FORA COLLOR - O movimento dos Caras Pintadas em Belém do Pará e o impeachment de um presidente a partir dos periódicos (1989 - 1992)

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Prévia do material em texto

ESCOLA SUPERIOR MADRE CELESTE - ESMAC 
LICENCIATURA E BACHARELADO EM HISTÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAÇA AOS MARAJÁS, CORRUPÇÃO E O FORA COLLOR 
O movimento dos “Caras Pintadas” em Belém do Pará e o 
impeachment de um presidente a partir dos periódicos (1989 – 1992) 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ana Caroline Freitas Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ananindeua - PA 
2017 
2 
 
ANA CAROLINE FREITAS SOUZA 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAÇA AOS MARAJÁS, CORRUPÇÃO E O FORA COLLOR 
O movimento dos “Caras Pintadas” em Belém do Pará e o 
impeachment de um presidente a partir dos periódicos (1989 – 1992) 
 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado a 
Escola Superior Madre Celeste - ESMAC, como 
requisito para à obtenção do título de Licenciado e 
Bacharel em História. 
 
Orientador: Prof. Me. Allan Pinheiro da Silva. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ananindeua - PA 
2017 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Sistema de Biblioteca Professora Iranilse Pinheiro da Escola Superior Madre Celeste – ESMAC 
 
 
SOUZA, Ana Caroline Freitas. 
CAÇA AOS MARAJÁS, CORRUPÇÃO E O FORA COLLOR: O movimento dos 
“Caras Pintadas” em Belém do Pará e o impeachment de um presidente a partir dos periódicos 
(1989 - 1992) / Ana Caroline Freitas Souza – 2017. 
74 f.; il. 
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Faculdade de Licenciatura e 
Bacharelado em História, Escola Superior Madre Celeste, Ananindeua - PA, 2017. 
Orientação: Prof. Me. Allan Pinheiro da Silva 
1. Fora Collor 2. Impeachment 3. Corrupção 4. Jornais 5. Caras-Pintadas 
I. SILVA, Allan Pinheiro da, orient. II. Título 
 
 
4 
 
ANA CAROLINE FREITAS SOUZA 
 
 
 
CAÇA AOS MARAJÁS, CORRUPÇÃO E O FORA COLLOR 
O movimento dos “Caras Pintadas” em Belém do Pará e o 
impeachment de um presidente a partir dos periódicos (1989 – 1992) 
 
Trabalho de conclusão de curso apresentado a 
Escola Superior Madre Celeste - ESMAC, como 
requisito para à obtenção do título de Licenciado e 
Bacharel em História. 
 
 
 
Aprovada em 14 de dezembro de 2017 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
Prof. Me. Allan Pinheiro da Silva – Orientador. 
Escola Superior Madre Celeste (ESMAC) 
 
 
Prof. Dr. Itamar Rogério Pereira Gaudêncio – Membro. 
Escola Superior Madre Celeste (ESMAC) 
 
 
Prof. Dr. Rui Jorge Martins Júnior – Membro. 
Escola Superior Madre Celeste (ESMAC) 
 
 
 
Ananindeua - PA 
2017 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos aqueles que sempre acreditaram no 
 meu potencial e me acompanharam ao longo 
dessa dura jornada, minha total consideração. 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 Finalizar essa monografia teria sido uma tarefa muito mais difícil, se não fosse pelo 
carinho, amor e dedicação de pessoas tão iluminadas que tenho ao meu redor. A vida é feita de 
fases, e dentro de cada fase conhecemos pessoas, que às vezes se vão, e outras que resolvem 
ficar, e para mim, todos que foram ou ficaram, são especiais e ajudaram a moldar o que sou 
hoje, e por isso, sou indubitavelmente grata. 
 Dedico esse trabalho especialmente a minha família, que sempre me incentivou aos 
estudos e me ajudou na realização deste sonho. Ao meu maior exemplo e inspiração de vida, 
minha avó, Conceição Freitas, que nunca desistiu de mim e sempre me deu o mais nobre, puro 
e verdadeiro amor. À minha amada mãe, Marinete Freitas, por ser essa "mulher maravilha", 
sempre forte e inabalável, me fazendo entender que não são com palavras doces e meigas que 
vivemos a vida, mostrou-me que precisamos ser forte e enfrentar todas as adversidades que nos 
aparecem de cabeça erguida e sorriso no rosto. Ao meu amado pai, Carlos Alberto, pelo belo 
exemplo de vida que me deu. À minha querida irmã, Carine Freitas, que sempre me ajudou nas 
minhas batalhas internas, sendo uma grande ouvinte e conselheira. À minha queria tia, Márcia 
Freitas, e minha prima, Gabrielle Freitas, que mesmo com a distância, permanecem tendo toda 
a minha admiração e respeito e ocupando um imenso espaço dentro do meu coração. 
 Aos meus professores dessa IES, que me ensinaram não só os conteúdos do curso, mas 
lições importantes sobre amor à profissão, respeito e igualdade. Em especial aos professores, 
Itamar Gaudêncio, Joel Torres, Liliane Goudinho, Luciana Batista, Maria Augusta Neves (In 
memoriam) e Rui Jorge, que se tornaram grandes amigos pessoais. Além do meu querido 
orientador, Allan Silva, a quem tenho um enorme carinho, consideração e admiração por ser 
um ser humano fantástico e um profissional maravilhoso, sempre muito calmo e objetivo, me 
dando os melhores caminhos para a construção do trabalho em questão. 
 A todos os meus companheiros de sala. Em particular aos meus grandes amigos Thays 
Melo e Paulo Gomes, sem vocês, não chegaria aonde estou. Na vida, há poucas coisas que se 
consegue fazer sem a colaboração de amigos, e vocês sempre estiveram ao meu lado. Juntos 
passamos por mais essa fase e nos tornamos vencedores. 
 Ao meu melhor amigo, companheiro e grande amor, Gabriel Nunes, por estar ao meu 
lado por todos esses anos, nos melhores e piores momentos. Me dando forças para prosseguir, 
sempre de forma bem-humorada, carinhosa, paciente e compreensiva. 
 Por fim, deixo a todos, a minha eterna gratidão! 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“A corrupção tem efeitos destrutivos. 
Abala as instituições, corrói a ética, 
desvirtua a justiça, impede o 
desenvolvimento econômico/ 
social sustentável e enfraquece 
 a vigência da lei.” 
Carlos Steger 
 
“Uma Nação consciente é o maior medo 
de um Governo mal-intencionado.” 
Ivan Santana 
 
“A meta da educação é formar mentes 
que estejam em condições de criticar, 
verificar e não aceitar tudo que 
a elas se propõe.” 
Jean Piaget 
 
8 
 
RESUMO 
 
 A monografia discute o processo de impeachment de Fernando Affonso Collor de Mello, 
ocorrido em 1992, e o movimento social dos Caras-pintadas dentro desse contexto. Neste 
sentido, fez-se necessário debater sobre as eleições presidenciais de 1989 que elegeram como 
presidente da República Federativa Brasileira, Fernando Collor. Será analisado de forma breve 
a política neoliberalista do presidente, e posteriormente, de forma mais aprofundada, os 
esquemas de corrupção que envolveu Collor, e a revolta da população brasileira contra o 
presidente, acarretando no surgimento do movimento social dos Caras Pintadas. A principal 
fonte para a construção desta pesquisa em questão foram os periódicos, em específico os jornais 
Diário do Pará e O Liberal, do ano de 1992. Através deles, pôde-se compreender como a 
imprensa, juntamente com o protagonismo dos manifestantes, foi de suma importância para 
esse processo de deposição do presidente. 
 
Palavras-Chave: Fora Collor; Impeachment; Corrupção; Jornais; Caras-Pintadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
ABSTRACT 
 
 The monograph discusses the process of impeachment of Fernando Affonso Collor de 
Mello, which took place in 1992, and the social movement of the Caras-pintadas within that 
context. In this sense, it became necessary to discuss about the presidential election of 1989, 
that he elected as president of the Federative Republic of Brazil, Fernando Collor. The 
neoliberalista politics of the president will be analyzed of brief form, and later, of deepened 
form more, the projects of corruption that involved Collor, and the revolt of the Brazilian 
population against the president, causing the sprouting the social movement of the caras 
pintadas. The main source for the construction of this research in question been periodic. In 
specific newspapers, Diário Pará and the O Liberal, of the year of 1992. Through them, it could 
be understood as the press, together with the protagonism of the manifestants, was of utmostimportance for this process of deposition of the president. 
 
Keywords: Out Collor; Impeachment; Corruption; Newspapers; Caras-pintadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
LISTA DE FIGURAS 
(Iconografias) 
 
Fig. 01: Collor: Fim com gesto teatral. (O Liberal. Cad. Política. P. 13. 30 de dezembro 
de 1992) ................................................................................................................................... 39 
 
Fig. 02: Passeata de protesto contra Collor agita as ruas de Belém. (O Liberal, Cad. Política. 
P. 15. 21 de agosto de 1992) ..................................................................................................... 57 
 
Fig. 03: Multidão saí as ruas contra Collor. (O Liberal. Cad. Política. P. 15. 26 de agosto 
de 1992) ................................................................................................................................... 58 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12 
 
PRIMEIRO CAPÍTULO – COLLOR E O BRASIL NOVO: DO “CAÇADOR DE 
MARAJÁS” AO IMPEACHMENT ..................................................................................... 20 
1. O processo de redemocratização brasileira ......................................................................... 20 
2. Uma eleição midiática ......................................................................................................... 24 
3. Política neoliberal e o Esquema PC Farias ......................................................................... 28 
 
SEGUNDO CAPÍTULO – A PARTICIPAÇÃO DOS CARAS-PINTADAS NO 
IMPEACHMENT DO PRESIDENTE ................................................................................ 42 
1. Os principais movimentos sociais do final do século XX .................................................. 42 
1.1 A União Nacional dos Estudantes – UNE e a União Brasileira dos Estudantes 
Secundaristas – UBES ............................................................................................................. 43 
1.2 O Movimento de Diretas Já .............................................................................................. 46 
1.3 A União Acadêmica Paraense – UAP ............................................................................... 48 
2. Os Caras-Pintadas .............................................................................................................. 51 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 65 
 
FONTES ................................................................................................................................. 67 
 
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 69 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
12 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo discorrer sobre o processo 
de impeachment do presidente Fernando Affonso Collor de Mello e o movimento social 
estudantil dos Caras-pintadas a partir dos periódicos O Liberal e Diário do Pará do ano de 1992. 
Neste sentido, fez-se necessário debater sobre as eleições presidenciais de 1989, a 
política neoliberalista do presidente e o Plano Collor1. Posteriormente, será analisado os 
esquemas de corrupção envolvendo o presidente e a revolta da população brasileira diante deste 
fato, acarretando no surgimento do movimento social2 dos Caras Pintadas. 
O tema por mim escolhido se deu pelo fato de vir de uma família engajada em 
movimentos sociais, por conta disso, desde muito cedo estive envolvida nessas lutas. 
Concretizando esse envolvimento em junho de 2013, quando participei dos protestos que 
surgiram por todo o Brasil. Íamos às ruas revoltados com os grandes esquemas de corrupção 
que tinham vindo a público, envolvendo empresas como a Petrobras. Indignados com o 
governo, cobrávamos explicações plausíveis das autoridades responsáveis, lutávamos por uma 
“ética na política” e o fim da corrupção, os protestos não eram só pelos R$ 0,203. 
 
1 Criados durante a presidência de Fernando Collor (1990-1992), o “Plano Collor” foi um conjunto de 
reformas/planos econômicos que tinha por objetivo estabilizar a inflação brasileira. 
 
2 Movimentos sociais são ações sociopolíticas construídas por atores sociais coletivos pertencentes a 
diferentes classes e camadas sociais, articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e 
política de um País, criando um campo político de força social na sociedade civil. As ações desenvolvem 
um processo social e político-cultural que cria uma identidade coletiva para o movimento, a partir dos 
interesses em comum. Esta identidade é amalgamada pela força do princípio da solidariedade e 
construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo, em 
espaços coletivos não institucionalizados. Os movimentos geram uma série de inovações nas esferas 
públicas (estatal e não estatal) e privada; participam direta ou indiretamente da luta política de um país, 
e contribuem para o desenvolvimento e a transformação da sociedade civil e política. Estas contribuições 
são observadas quando se realizam análises de períodos de média ou longa duração histórica nos quais 
se observam os ciclos de protestos delineados. Os movimentos participam, portanto da mudança social 
histórica de um país e o caráter das transformações geradas poderá ser tanto progressista como 
conservador ou reacionário, dependendo das forças sociopolíticas a que estão articulados em suas densas 
redes; e dos projetos políticos que constroem em suas ações. Eles têm como base de suporte entidades 
e organizações da sociedade civil e política, com agendas de atuação construídas ao redor de demandas 
socioeconômicas ou políticos-culturais que abrangem as problemáticas conflituosas da sociedade onde 
atuam. (GOHN, 2007, p. 251 e 252). 
 
3 A revolta começou, no dia 06 de junho de 2013, quando um grupo de manifestantes, organizados pelo 
MPL (Movimento Passe Livre) – que defendem a adoção da tarifa zero para transporte coletivo – 
reuniram-se na Av. Paulista para protestar devido ao acréscimo de R$ 0,20 sobre as passagens dos 
transportes públicos, que subiria de R$ 3,00 para R$ 3,20. Porém, já havia uma insatisfação popular com 
o governo, e esse protesto concitou para que, nos atos seguintes ficasse evidenciado esse 
descontentamento. Ou seja, não era apenas pelos 20 centavos, mas também pela má qualidade dos 
serviços públicos. A população pedia por mais investimentos na educação e na saúde, por punição aos 
políticos corruptos e mudanças governamentais que beneficiassem a todos. 
13 
 
Esse e outros motivos conduziram-me a escrever sobre tal temática, mas, pensando 
numa perspectiva anterior, cujo foco seria governo de Fernando Collor de Melo, que foi deposto 
por abuso do poder econômico, punido por acobertar um complexo esquema de corrupção. 
 Inicialmente, o tema do meu projeto seria: As mudanças que o movimento social-
estudantil dos “Caras Pintadas” trouxe para o Brasil. De modo que, isso me restringiria a falar 
especificamente do movimento em si por todo o território nacional. Com o desenrolar da 
pesquisa, percebi que isso era quase impossível, uma vez que, o Brasil tem dimensões 
continentais, para falar sobre a atuação dos caras pintadas por todo o seu território, iria 
demandar tempo, fontes e conhecimentos que eu não possuía. Além disso, era importante 
também que se falasse sobre a imprensa da época, especificamente sobre os jornais, visto que, 
foram um dos principais veículos de comunicação no período. Por conta desses motivos, acabei 
mudando otema da minha pesquisa para “CAÇA AOS MARAJÁS, CORRUPÇÃO E O FORA 
COLLOR: O movimento dos “Caras - Pintadas” em Belém do Pará e o impeachment de um 
presidente a partir dos periódicos (1989 – 1992)”. Deste modo, poderia falar desses fatores, 
mas dando enfoque para o território belenense. Com o tema já estabelecido, utilizo um método 
indutivo, analítico, explicativo e comparativo em torno do impeachment de Fernando Collor e 
o movimento social dos caras pintadas, através destes, discorro sobre como o protagonismo 
estudantil foi de suma importância para o impeachment do presidente. 
 Para dar inicio a minha pesquisa, era necessário que, primeiramente, eu analisasse os 
movimentos sociais que ocorreram antes do processo de redemocratização brasileira, por conta 
disso, utilizei o artigo de Daviane Azevedo, “Movimentos sociais, sociedade civil e 
transformação social no Brasil”, e a monografia de Adriano Pessoa, “Do golpe militar à 
extinção da UNE: O movimento estudantil em Belém do Pará no ano de 1964, através de 
diferentes periódicos”. Daviane Azevedo (2010) vai debater uma perspectiva mais abrangente 
sobre esse fato, pegando todo o Brasil, já Adriano Pessoa (2009) foca sua pesquisa para algo 
mais regional, falando especificamente sobre Belém do Pará. Os autores discorrem sobre a 
perseguição que ocorria contra os manifestantes que iam as ruas protestar contra o regime civil-
militar4. Os autores debatem sobre a forma como esses movimentos influenciaram todo um 
processo de transformação social da época, pois, essa “perseguição” fez com que eclodisse uma 
 
4 Como explanei no texto o uso da palavra ditadura civil-militar, era necessário que eu explicasse o 
porquê desse termo. Para isso utilizei a obra “Ditadura e democracia no Brasil”, de Daniel Aarão Reis 
(2014), em que se fala sobre como houve uma grande participação de civis no período ditatorial e como 
é “cômodo” para as entidades civis que a população esqueça dessa participação popular e ache que o 
período ditatorial foi feito único e exclusivamente por militares. 
14 
 
série de manifestações, por diversos motivos, por este fator, ambos são importantes para a 
construção desta monografia, pois, fizeram-me compreender o processo de transição política 
que ocorria no território brasileiro. 
 Entendido esse processo era necessário que se começasse a entender o processo de 
ascensão e declínio de Fernando Collor de Melo na política. Portanto utilizei-me dos artigos “O 
encantador de Marajás” de Terezinha Mendes Marra e “O PT e o Impeachment de Collor”, 
de Danilo Martuscelli. Terezinha Marra (1999) vai discorrer sobre o processo político que 
Collor passou para chegar à presidência do Brasil. Como ele conquistou rapidamente o povo 
brasileiro que estava cansado da “velha política” e enxergava no candidato um novo momento 
no governo. Entretanto, quando o presidente assume o cargo em 1990, implanta uma política 
neoliberal com uma série de medidas que acaba aprofundando a crise no país. Atrelado a esses 
fatores, Collor se envolve a escândalos políticos e financeiros, fazendo com que passasse a ser 
desacreditado pelo povo e visto como um mau gestor. O que consubstanciou para que outros 
governos aproveitassem dessa situação para se sobrepor ao presidente, como fica claro no artigo 
de Martuscelli (2013), que discorre sobre as estratégias tomadas pelo Partido dos Trabalhadores 
(PT) diante da crise que o governo estava envolvido. 
 Diante das altas insatisfações com o governo Collor, iniciam-se manifestações populares 
por todo o território nacional pedindo o impeachment do presidente. Quando isso ocorre, a 
mídia passa a compará-los com os manifestantes do período ditatorial. O artigo de Adriano 
Codato (2004), “O Golpe de 1964 e o Regime de 1968: aspectos conjunturais e varáveis 
históricas”, faz com que se compreenda a diferença entre os manifestantes do regime e os de 
1992. O autor analisa como eram esses manifestantes do período civil-militar e as suas 
finalidades. Discorre sobre a forma como dentro dos grupos de manifestação, havia os 
subgrupos que carregavam os seus próprios objetivos, o que acabava por enfraquecer o 
movimento, possibilitando aos militares a promulgação de Atos Institucionais cada vez mais 
radicais, como o AI 5. Diferente dos manifestantes de 1992, que possuindo um único foco – a 
saída de Collor da presidência – e, quando o objetivo foi concluído, o movimento se dissipou. 
 Além de comparar os manifestantes de outra época com os Caras pintadas, a mídia 
utilizava dessas manifestações para exercer uma ação psicológica na população. Como fica 
evidenciado nas dissertações de Franceschini (2002), e de Rodrigues (1997), os autores 
analisam a relação entre política e mídia, mostrando como os meios de comunicação 
conseguiram transformar as escrituras políticas em algo atrativo para as grandes massas, uma 
vez que construíram representações identitária que marcaram o período Collor. 
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwiEsqyx7svQAhVIC5AKHd4XCS8QFggaMAA&url=https%3A%2F%2Fpt.wikipedia.org%2Fwiki%2FMeios_de_comunica%25C3%25A7%25C3%25A3o_social&usg=AFQjCNE01ngLDe_1bnt0_6klCw-0nU52XQ&bvm=bv.139782543,d.Y2I
15 
 
Como se falou sobre movimentos sociais, fez-se necessário entender qual seu 
significado, o livro “Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos” 
de Maria Gohn (2002). A autora vai trabalhar a teoria dos movimentos sociais, destacando 
principalmente os conceitos, paradigmas teóricos e as categorias utilizadas para eles se 
desenvolverem. O que me auxiliou para explicar como um movimento social é constituído e a 
forma como ele acaba por se tornar um construtor de espaço de cidadania. 
A nível de contextualizar esta monografia, utilizo a dissertação “Marchas e 
contramarchas na luta pela moradia na Terra Firme (1979-1994)” de Edivânia Alves (2010) 
e o trabalho de conclusão de curso de Josefa Rabelo e Raoni Raiol (2013), “A Conquista da 
Meia Passagem em Ananindeua-Pará”, em que os mesmos discorrem sobre como as lutas 
sociais que ocorriam na região estavam se consolidando de forma gradativa durante a década 
de 90, paralelo ao que acontecia pelo território nacional. Em Belém do Pará haviam 
manifestações de estudantes e lideranças comunitárias que exigiam seus direitos sociais, como 
a atenção em relação à moradia, construção de escolas, direito a meia passagem, etc. 
Para a pesquisa e análise qualitativa das fontes, utilizo o artigo “Fontes impressas: 
História dos, nos e por meio dos periódicos”, de Tânia Regina de Luca (2008), no intuito de 
obter embasamento teórico para a construção da metodologia, uma vez que, a autora discorre 
sobre a forma como se deve trabalhar com periódicos e a sua importância histórica. Discorre 
sobre como se deve analisar os jornais da época de forma crítica, pois, além de informar sobre 
o que estava ocorrendo, os jornais também tinham o papel de influenciar seus leitores sobre 
uma determinada posição ideológica. Portanto, o jornal se torna uma importante fonte para se 
chegar ao movimento social que trabalho, é através dele que se pode refletir sobre a atmosfera 
que envolvia aquele acontecimento. 
 Para compreender melhor essa criticidade que devemos ter ao construir algo, utilizo o 
escrito de Peter Burke (1992), “A nova História, seu passado e seu futuro”, em que se debate 
sobre como devemos ser coerentes em nossos objetivos e temas, não podendo "venerar" nossos 
objetos de estudo, pois, isso compromete a análise crítica por sobre o mesmo. Utilizei essas 
ideias para falar sobre a forma como o método tradicional de se trabalhar a história pode 
comprometer a escrita. A partir do debate feito por Burke, tive o embasamento necessário para 
explicar como o Estado utilizou-se de uma forma tradicionalista para manter o controle sobre a 
populaçãoe impedir que forças sociais buscassem inspiração em movimentos que contestassem 
a ordem estabelecida. Como por exemplo, os movimentos sociais-estudantis ocorridos no 
período de 1964 a 1991, que quase nunca eram noticiados ou eram, só que de forma tendenciosa, 
16 
 
mostrando as passeatas como badernas, arruaças, etc. Isso fazia com que a população que estava 
alienada as manifestações, continuassem sem perspectiva de uma melhora no governo. 
Além disso, durante a construção da metodologia, notei que todo trabalho de pesquisa 
que tenha por escopo a história política, necessariamente, vai passar por julgamentos, em função 
desse método de pesquisa ter sido alvo de muitas críticas no passado. Os metódicos levavam 
em consideração apenas os personagens que representavam as elites do Estado, como Reis, 
Generais e outros sujeitos que tiveram “bons serviços” prestados à nação e na sua pós-morte 
recebiam a devida homenagem de historiadores e artistas, que procuravam perpetuar para outras 
gerações a importância dessas “celebridades” políticas, no sentido de incutir na memória 
coletiva a veneração por tais personagens. Essa categoria histórica foi vista como causadora de 
problemas historiográficos, por trabalhar apenas com fatos macro históricos. A historiografia 
política se caracterizava por ser positivista e tradicionalista. A história tradicional levava em 
consideração que pessoas comuns não possuíam história e não participavam dos eventos 
políticos na sociedade. 
(...) a história tradicional oferece uma visão de cima, no sentido de que 
tem sempre se concentrado nos grandes feitos dos grandes homens, 
estadistas, generais ou ocasionalmente eclesiásticos. Ao resto da 
humanidade foi destinado um papel secundário no drama da história. 
A existência dessa regra é revelada pelas reações a sua transgressão.” 
(BURKER, 1992, p. 12). 
 
Essa forma narrativa dos fatos históricos perdurou durante tempos, até sofrer duras 
críticas e ser superada pela Escola dos Annales5, em que se tem uma valorização da 
interdisciplinaridade histórica. A história “factual” e política que enaltecia os grandes homens 
vivida na escola metódica é criticada e não mais repetida. Posteriormente, já na terceira geração 
dos Annales (1968)6, em que os historiadores vão se distanciar das abordagens históricas mais 
 
5 A Escola dos Annales foi fundada em 1929, por alguns estudiosos como Lucien Febvre e Marc Bloch, 
através da revista Annales d'histoire économique et sociale, de acordo com Burke (1997) a escola 
pretendia trazer um novo paradigma que rompesse com a escola metódica e substituísse a história 
tradicionalmente narrativa que trabalhava apenas aos grandes acontecimentos históricos, sem 
problematizar os documentos e analisar as suas entrelinhas. A escola dos Annales passou a valorizar 
"história-problema”, em que se trabalhavam outras fontes além dos documentos escritos. 
 
6 A Escola dos Annales foi dividida em três gerações. A primeira geração é a fundadora. A segunda 
geração inicia em 1945 comandada por Fernand Braudel. E, em 1968, se tem a terceira geração, quando 
Jacques Le Goff, Jacques Revel e André Burguière assumem a direção da Escola. Não houve nesse 
período um “líder”, como nos tempos de Bloch, Febvre e Braudel. Por isso, a terceira geração é tida 
como uma geração difícil de se traçar um perfil. Para Burke (1997) esses historiadores vão trabalhar 
com uma história fragmentada, em que serão apontadas várias perspectivas e inúmeras vertentes de 
estudo, ou seja, a terceira geração dos Annales foi marcada por mudanças intelectuais. 
 
17 
 
quantitativas para trabalharem uma história mais antropológica (GUERIOS, 2011). Essa 
geração acreditava que toda atividade humana é considerada história, por conta disso, se tem a 
valorização da história do povo, dos excluídos, uma história vista debaixo, que ficou 
popularmente conhecida como “micro história”7, entendeu-se que a escrita da história não é 
feita apenas dos grandes personagens, a história também é feita no cotidiano por todos aqueles, 
independentemente, da classe social que estão. Os Annales passam a argumentar que a história 
deveria seguir os vieses propostos pela humanidade e não determinantes por uma escrita 
conservadora que observava somente os acontecimentos relevantes, enquanto os demais 
ficavam negligenciados e reclusos para não serem conhecidos, propositalmente, pela 
comunidade coletiva. Uma forma, portanto, do próprio Estado manter o controle sobre a 
população e impedir que forças sociais buscassem inspiração em movimentos revolucionários 
para contestar a ordem estabelecida. 
Na década de 70, através de Jacques Le Goff, Jacques Juliard, Maurice Agulhon, 
François Furet, René Remond, se tem uma renovação dessa escrita política (BURKE, 1997). 
Esses historiadores tinham por foco debater sobre uma nova perspectiva historiográfica acerca 
da história política, lutavam para que seus objetos fossem vistos pela sociedade como uma 
ferramenta utilizável na constante construção do homem político, enfim, do homem em 
sociedade. 
Rémond (1999) diz que a história política também pode ser uma história das estruturas, 
por conta do peso das memórias consciente ou inconsciente das sociedades, pois “os fenômenos 
de cultura política só podem ser compreendidos numa perspectiva de duração muito longa” 
(REMOND, 1999, p. 54). A perspectiva que o autor propõe é de entender o político através do 
estudo da tradição, da cultura, das sobrevivências, das rupturas e continuidades que atravessam 
a ideologia dos governantes, do pensamento político e do senso comum. 
A eleição de Fernando Collor exemplifica essa ideia, pois, se tinha uma população que 
depois longos anos de repressão, finalmente voltou a ter direitos políticos, elegem Collor como 
presidente e acreditam que o se governo resolveria os problemas enfrentados pelo povo. Mas, 
o presidente, logo no primeiro ano de seu mandato já traz uma série de medidas que desagrada 
 
7 Foi um gênero historiográfico que teve seu marco inicial na Itália, em 1981, após a publicação da 
coleção "Microstorie", organizada por Carlo Ginzburg e Giovanni Levi, que trabalhavam novos métodos 
de se escrever história. Os historiadores partiam da análise do micro, para explicar o macro. Reduziam 
sua escala de observação sobre um determinado momento histórico e escreviam sobre o cotidiano de 
um indivíduo, e através desta perspectiva explicava-se algo grandioso. De acordo com Levi (1992) "para 
a micro história, a redução da escala é um procedimento analítico, que pode ser aplicado em qualquer 
lugar, independentemente das dimensões do objeto analisado" (LEVI, 1992, p. 137). 
18 
 
a população, posteriormente, envolve-se em esquemas de corrupção, que faz com que ecloda 
por todo o território nacional manifestações de um povo que estava indignado com todo esse 
esquema de corrupção, e passam a pedir o impeachment do presidente. 
Os jornais, foram uma importante fonte histórica para chegar ao foco do movimento 
social dos Caras Pintadas no sentido de seus objetivos, de suas lutas, a atmosfera que envolvia 
aquele acontecimento que acendeu a participação da população nos protestos. Através da leitura 
das fontes, pode-se compreender como a participação dos populares que foram às ruas 
manifestar-se contra o governo em 1992, possuíam perspectivas políticas que buscavam 
naquele determinado momento respostas imediatas para terem seus anseios atendidos. 
Entretanto, é necessário que se observe a forma como a imprensa conseguiu “moldar” o 
movimento, reforçando a tese de que os estudantes foram importantes na queda do governo 
naquele momento. 
Os periódicos são, espaços disputados pelos valores que a imprensa, seja conservadora 
ou libertária, busca para convencer seus leitores sobre uma determinada posição ideológica, 
sejade esquerda ou direita. Essa formação de opinião forjada traz na sua essência a luta pelo 
controle da mentalidade, que a palavra eivada de conceitos dúbios e polissêmicos procura atrair 
seus leitores para uma posição de opinião formada na sociedade. 
 
Pode-se admitir, à luz do percurso epistemológico da disciplina e sem 
implicar a interposição de qualquer limite ou óbice ao uso de jornais e 
revistas, que a imprensa periódica seleciona, ordena, estrutura e narra, 
de uma determinada forma, aquilo que se elegeu como digno de chegar 
até o público. O historiador (...) dispõe de ferramentas provenientes da 
análise do discurso que problematizam a identificação imediata e linear 
entre a narração do acontecimento e o próprio acontecimento (...). O 
pesquisador dos jornais e revistas trabalha com o que se tornou notícia, 
o que por si só já abarca um espectro de questões, pois será preciso dar 
conta das motivações que levaram à decisão de dar publicidade a 
alguma coisa. Entretanto, ter sido publicado implica atentar para o 
destaque conferido ao acontecimento, assim como para o local em que 
se deu a publicação: é muito diverso o peso do que figura na capa de 
uma revista semanal ou na principal manchete de um grande matutino 
e o que fica relegado às páginas internas. (LUCA, 2008, p. 139-140). 
 
Logo, trabalhar com os jornais a priori requer uma leitura cuidadosa da informação 
contida nas linhas e entrelinhas, portanto, é necessário que se tenha certo cuidado com os 
periódicos que serão utilizados para o desenvolvimento da pesquisa em questão. O mapeamento 
desse material será feito na Biblioteca Pública Arthur Vianna. Entretanto, o terceiro andar da 
biblioteca estava em reforma, o andar onde ficam as seções de Microfilmagem, periódicos, 
19 
 
Obras raras, etc. Voltando a funcionar apenas no final de janeiro de 2017, me deixando assim 
impossibilitada, durante um ano, de ter acesso aos periódicos do ano em que trabalho, isso fez 
com que, inicialmente, minha pesquisa se restringisse apenas ao uso de Recortes de Jornais que 
falam sobre o Impeachment que estava disponível no Segundo andar da Biblioteca. Com a 
reabertura da mesma, devido ao curto tempo que tinha, dei um maior enfoque a um jornal em 
especifico, por esse fator, utilizarei muito mais as matérias produzidas pelo jornal O Liberal8, 
para debater sobre o os esquemas de corrupção envolvendo o então presidente da República 
Federativa Brasileira, o seu Impeachment, e o Movimento Social Estudantil dos Caras Pintadas 
que ocorreu nas ruas de Belém do Pará no ano de 1992. 
 Para que as ideias fiquem mais claras, dividirei o TCC em dois capítulos, o primeiro, 
intitulado de: “Collor e o Brasil Novo: do “Caçador de Marajás” ao Impeachment” abordarei 
a política de Collor, sua chegada à presidência da república, sua forma de governar e os motivos 
que levaram ao seu impeachment. Nesse capítulo também falarei sobre o papel da imprensa 
diante de tudo isso, visto que, a mesma que contribuiu para que se criasse uma “pseudo ilusão” 
sobre Collor, provocando uma falsa esperança de que o presidente resolveria todos os 
problemas clássicos da sociedade brasileira, foi também a que mais motivou a população a ir 
às ruas pedir o seu impeachment. 
Por fim, no segundo capítulo, intitulado “A Participação dos Caras-Pintadas no 
Impeachment do Presidente”, farei um aparato histórico sobre a participação popular na 
política, discorrendo sobre os principais movimentos sociais que ocorreram no final do século 
XX, e como isso consubstanciou para a criação do movimento dos Caras pintadas que 
organizaram manifestações pelo país inteiro, pedindo investigações rigorosas que buscassem as 
origens dos rombos nas contas públicas e por fim a deposição do presidente. Meu objetivo nesse 
capítulo é mostrar como a nação não tolerava mais conviver envolto na corrupção, o desejo de 
mudar e tornar a política brasileira uma atividade ética foi o grande grito que ecoou no país 
inteiro através dos meios de comunicação, da mobilização popular de entidades civis, religiosas, 
estudantis, operárias, profissionais e de alguns partidos. 
 
8 Segundo Castro e Seixas (2013), o jornal O Liberal foi fundado em 15 de novembro de 1946 por Moura 
Carvalho, na intenção de ser um órgão de propaganda dos membros do Partido Social Democrático 
(PSD), chefiado por Magalhães Barata. Em 1965 o jornal é comprado por Ocyr Proença. E, um ano 
depois, em 1966, o jornal é novamente vendido, dessa vez ao jornalista Romulo Maiorana. O Liberal 
passa a integrar as Organizações Rômulo Maiorana (ORM). Que também compra outro importante 
jornal da época, a Folha do Norte, em 1972, mas encerra sua produção em 1974. Fazendo com que, O 
Liberal, juntamente com a Província do Pará (fechada em 2001) e o Diário do Pará (criado em 1982 com 
o propósito de dar sustentação à carreira política do senador Jáder Barbalho do PMDB) ganhassem mais 
espaço e permanecessem como os principais jornais do Pará em circulação, 
20 
 
PRIMEIRO CAPÍTULO 
 
COLLOR E O BRASIL NOVO: 
DO “CAÇADOR DE MARAJÁS” AO IMPEACHMENT 
 
 Neste capítulo irei discorrer sobre a eleição de 1989 que levou Fernando Collor de Mello 
a presidência e os fatores que levaram a deposição do mesmo. Entendendo que, Collor tornou-
se um grande ator social9 para a história da democracia brasileira, pois, foi o primeiro presidente 
democraticamente eleito depois de 25 anos. Alçado como candidato da classe média alta, tendo 
um viés político direitista, com altas expectativas de mudança, uma promessa de combate à 
corrupção, um “Caçador de Marajás”. Collor ganhou o apoio popular, principalmente da grande 
imprensa, contudo, quando são descobertos seus envolvimentos nos grandes esquemas de 
corrupção, a mesma imprensa de apoiou sua candidatura vai, juntamente com os movimentos 
sociais, apoiar o seu processo de impeachment. 
 
1. O PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO BRASILEIRA 
 
Primordialmente, é necessário que se compreenda que durante o período militar 
(1964-1985) ou civil-militar, como alguns autores preferem chamar, visto que, o período 
também teve participação de civis, como afirma Reis (2014), 
 
 A história oficial das lutas contra a ditadura acabou ocultando as 
complexas e profundas relações entre o regime de 1964 e a sociedade 
brasileira. (...) O país fora, pura e simplesmente, subjugado e reprimido 
por um regime ditatorial denunciado agora como uma espécie de força 
estranha. A memória atual, que sustenta que a ditadura foi apenas 
militar interessa as entidades civis que apoiaram a ditadura. Se ela foi 
apenas militar, todas elas passam para o campo das oposições. 
Desaparecem os civis que se beneficiaram do regime ditatorial, que 
financiaram a máquina repressiva, que celebraram os atos de exceção. 
O mesmo se pode dizer dos segmentos sociais que, em algum momento, 
apoiaram a ditadura. (REIS, 2014). 
 
 
9 São chamados assim aqueles que integram o sistema político de alguma forma. Para Bourdieu (1983) 
o ator social é um “agente” que funciona de forma estratégica dentro da sociedade, Touraine (1998) 
partilha dessa ideia, entretanto, diz que o ator age com vistas à transformação de uma ordem, neste 
sentido, o “ator social é alguém que está engajado em relações concretas, profissionais, econômicas, 
mas também igualmente ligado à nacionalidade ou gênero, procura aumentar à sua autonomia, controlar 
o tempo e as suas condições de trabalho ou de existência” (TOURAINE, 1998, p.37). 
21 
 
 De acordo com o autor, é inviável que se esconda a imensa participação popular no 
golpe de 1964. Visto que, mais de 500 mil pessoas, de diferentes classes sociais, foram às ruas 
manifestar seu descontentamento com o governo Goulart e mostrar seu apoio aos militares. 
Participavam desses protestos até as grandes lideranças religiosas, políticase empresariais, 
como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do 
Brasil (OAB). Para Reis, é necessário que se fale constantemente sobre esse acontecimento, 
para que assim, possa se compreender essa difícil relação entre ditadura e sociedade. 
 No final da década de 70, dar-se início a um processo de abertura política, que faz com 
que ocorra certo “pluralismo” sindical e político-partidário, a censura imposta durante os longos 
anos de regime fica mais branda, dessa forma a liberdade de expressão e de imprensa fica mais 
forte. Em 1980 o Brasil passa por um período de intensa mobilização, ocorria um processo de 
transição lento e gradual para a democracia. O país estava passando por um processo de 
redemocratização. Segundo com Kinzo (2001) esse processo de foi dividido em três fases: 
 
A primeira, de 1974 a 1982, é o período em que a dinâmica política da 
transição estava sob o total controle dos militares, mais parecendo uma 
tentativa de reforma do regime do que os primeiros passos de uma 
transição democrática de fato. 
A segunda fase, de 1982 a 1985, é também caracterizada pelo domínio 
militar, mas outros atores – civis – passam a ter um papel importante no 
processo político. 
Na terceira fase, de 1985 a 1989, os militares deixam de deter o papel 
principal (apesar de manterem algum poder de veto), sendo substituídos 
pelos políticos civis, havendo também a participação dos setores 
organizados da sociedade civil. (KINZO, 2001, p. 4-5). 
 
 Ou seja, desde o governo de Ernesto Geisel (1974 – 1979) começam a surgir os 
primeiros indícios de liberalização, que permitiriam a realização das eleições em condições 
mais livres. Entretanto, o presidente, vai cassar mandatos de parlamentares de postura 
oposicionista, alterar leis eleitorais e procedimentos legislativos, no intuito de controlar a 
oposição. Porém, Geisel não conseguia administrar a economia brasileira, que ia de mal a pior, 
gerando fome, miséria e desemprego. Esses fatores consubstanciaram para um fortalecimento 
da transição, começa-se a falar sobre uma “utopia democrática”, em que se almejava uma 
organização social livre de repressões, em que se poderia lutar por seus direitos. Passam a 
ocorrer processos de reabertura política, principalmente no governo de João Figueiredo (1979 
– 1985), onde a Lei Nº 6.683, concede Anistia a todos10. 
 
10 REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei da Anistia, Nº 6.683, de 28 de agosto de 1979 – 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6683.htm 
http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%206.683-1979?OpenDocument
22 
 
 Salatiel (2009) discorre sobre como essa lei beneficiou políticos, que nos anos 60 tinham 
perdido seus direitos, poderiam voltar à vida pública, pessoas que foram banidas ou exiladas, e 
não poderiam voltar ao país, uma vez que, se fossem pegas, seriam presas, torturadas ou mortas. 
Entretanto, a mesma lei também beneficiou os militares que foram acusados por utilizarem 
“métodos coercitivos” que violavam os direitos humanos. De acordo com Araújo, Silva e 
Santos (2013) a anistia vivida no Brasil é complexa, pois, de certo modo, representou uma 
conquista, mesmo que parcial, daqueles que lutavam por ela, mas, por outro lado, ela pode ser 
considerada também uma vitória para os militares, visto que, com a Lei, não houve uma 
apuração dos crimes hediondos cometidos por eles durante o regime. Para Abraão (2011), 
 
O lema da anistia “ampla, geral e irrestrita” para os perseguidos 
políticos, clamada pela sociedade organizada e negada pelo regime, 
passou a ser lido como uma anistia “ampla, geral e irrestrita” para os 
dois lados, demonstrando a força de controle do regime, capaz de 
apropriar-se do bordão social para convertê-lo em fiador público de um 
suposto “acordo político” entre subversivos e regime, a fim de iniciar a 
abertura democrática (ABRAÃO, 2011, p. 123). 
 
 Dessa forma, a anistia que foi aberta para ambos os lados, comprovou a perspicácia do 
regime, capaz de apropriar-se de um “bordão social” e, com sutileza, conseguir convertê-lo para 
assim também beneficiar-se da situação e saírem impune de seus crimes. 
Segundo Klemt (2010) quando a lei foi aprovada, grande parte dos opositores ao regime já 
haviam respondido por seus crimes, foram presos, torturados, exilados ou até mesmo mortos, 
enquanto que, os agentes do estado, agindo ou não sobre sua ordem, sequer foram investigados 
e não sofreram nenhum tipo de consequência. 
Além disso, é sancionada também a Lei Nº 6.76711, que consolidava o fim do 
Bipartidarismo e reestabelecia o Pluripartidarismo, esse processo fazia com que houvesse uma 
maior liberdade partidária e social dentro do país, visto que, outros partidos começam a surgir 
dentro do sistema político. Neste sentido, para Ângelo (2008) dentro do território brasileiro 
começa-se a haver uma transição rumo à democracia, se tinha uma maior liberdade, fazendo 
com que (re)surgissem novos partidos, como o Partido do Movimento Democrático Brasileiro 
(PMDB), que foi posto no lugar do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), o Partido 
Democrático Social (PDS) que substituiu a Aliança Renovadora Nacional (Arena), o Partido 
Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Democrático Trabalhista (PDT) e o Partido dos 
 
11 REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Lei Orgânica dos Partidos Políticos, Nº 6.767 de 20 de 
dezembro de 1979 – Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/L6767.htm 
23 
 
Trabalhadores (PT). Esses “novos” partidos começam a montar esquemas para mobilizar a 
população e obter o seu apoio, como os movimentos de “Diretas Já”, dentre outras. 
As críticas ao governo ditatorial intensificam-se cada vez mais, os povos saem às ruas 
exigindo direitos sociais, objetivava-se ter uma maior participação na política e eleições diretas. 
Sendo assim, em 1985 se tem uma intensificação do processo de redemocratização brasileira, 
onde já se podia debater e participar político/socialmente. É o início de uma nova república, 
que deveria ter sido governada por Tancredo Neves, porém, o mesmo vem a falecer e quem 
assume é o seu vice, Jose Sarney. 
 Em 1989, depois de 21 anos, se tem uma eleição direta para presidente. Essa eleição 
tornou-se um marco histórico, significou o ápice dessa redemocratização, foi à primeira após 
mais de duas décadas de regime militar e marcou o confronto entre dois ideais político-
ideológicos distintos, além de ocorrer logo após a promulgação da Constituição de 1988, que 
representou avanços importantes nos direitos trabalhistas e proteção social, essa constituição, 
aparentemente, pensava nas minorias, por conta disso, introduziu penalidades rigorosas para 
discriminações contra mulheres e negros, nela se pregava a igualdade. A campanha de 1989 iria 
refletir a expectativa do eleitorado, das lideranças políticas e da imprensa em torno da escolha 
de um governo que, enfim legitimado pelas urnas, seria capaz de promover as mudanças que a 
sociedade aguardava. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
 
2. UMA ELEIÇÃO MIDIÁTICA 
 
 Grande parte dos veículos de comunicação de massa adotou uma postura agressiva 
perante a candidatura de Lula, defendendo arduamente o programa neoliberal proposto por 
Collor. Articularam sua candidatura, “apadrinharam-no” politicamente, tornando-se uma das 
peças fundamentais para a chegada de Collor a presidência. Fonseca (2013) debate sobre como 
estava explicito que, todos aqueles que se opusessem aos ideais liberais seriam desqualificados, 
criminalizados e deslegitimados, devido ao processo autoritário e arrogante dos periódicos. 
Para o autor, o que se viu na imprensa brasileira foram fundamentalmente simplificação, 
divulgação e militância político-ideológico. De acordo com o mesmo,os jornais são peças 
fundamentais para se compreender a disputa ideologia que ocorria durante a campanha de 1989, 
tornando-se uma forte e poderosa organização, que, simultaneamente, recebia, elaborava e 
divulgava ideias neoliberais, sendo assim, a imprensa era capaz de propagar uma ideia ou 
opinião, e exercer influência sobre a população, servia como um aparelho de manipulação de 
interesses e intervenção social. 
 
“(...) a grande imprensa é aqui considerada a instituição que, nas 
sociedades complexas, é capaz de simultaneamente publicizar, 
universalizar e sintetizar as linhagens ideológicas. Isso porque a 
periodicidade diária (que lhe confere mais agilidade do que as revistas 
semanais), com todo o aparato das manchetes, editoriais, artigos, 
charges, fotos, reportagens, dentre outros recursos, possibilita aos 
jornais uma influência sutil, capaz de sedimentar (...) uma dada idéia, 
opinião ou representação. Não bastasse isso, as trincheiras ideológicas 
(ocupação das instituições produtoras de cultura, entendida como visão 
de mundo), no contexto de uma guerra de posições (busca do poder por 
meio da conquista cumulativa de espaços ideológicos no interior da 
esfera cultural/ideológica), são particularmente expressas nos jornais.” 
(FONSECA, 2006, p. 02 – 03). 
 
 É imprescindível que se compreenda que a mídia gera uma reação em cadeia, ela 
objetifica a veiculação de ideologias, onde esses sistemas ideológicos vão agradar determinadas 
classes sociais, que consequentemente iram influenciar na "opinião pública12", e assim, ajudar 
a legitimar um poder dominante. Dessa forma, a imprensa torna-se uma entidade que tem por 
objetivo a propagação de ideais hegemônicos, logo, é denominada de “aparelho privado de 
hegemonia13”. Para Capelato e Prado (1980), os grandes veículos de comunicação de massa são 
 
12 Expressão estratégica utilizada pela mídia para encobrir interesses particulares e privados. 
 
13 Para Coutinho (1994), esses aparelhos são organismos sociais, onde, a adesão não é forçada, e sim 
voluntária. Por fazerem parte integrante das relações de poder na sociedade, tem uma ampla dimensão 
pública e modelam o conceito de grande parte dos indivíduos. 
25 
 
politicamente ideológicos, e devem ser entendidos, “fundamentalmente, como instrumento de 
manipulação de interesses e intervenção na vida social.” (CAPELATO e PRADO, 1980, p. 19). 
As mídias em geral se mostram como um lugar onde se mistura as figuras públicas com as 
privadas, em que “os direitos dos cidadãos se confundem com os do dono do jornal. Os limites 
entre um e outros são muito tênues.” (CAPELATO, 1988, p. 18). Pois, a imprensa, pelo seu 
fácil acesso, é uma das instituições mais úteis para a propagação, fixação e reprodução de 
ideais/conteúdos. Os meios de comunicação são os principais mediadores entre a informação e 
a comunicação, logo, se a informação não chega à opinião não sai. 
Dessa forma, a mídia, principalmente os jornais, acaba por ocupar um lugar de destaque 
em uma sociedade, em que os discursos, identidades culturais, comportamentos e o próprio 
desenvolvimento social, são construídos a partir do interior de sistemas midiáticos que 
“definem” de modo eficiente os parâmetros “adequados” de interação social de quem vai ler. 
Havia uma grande quantidade de jornais, por todo o Brasil, que partilhava de ideias Neoliberais, 
portando, a repercussão desses ideais era extremamente acentuada. 
A candidatura de Luís Inácio Lula da Silva era vista como arcaica e um atraso para o 
progresso do País, e mesmo que, de forma sucinta e subliminar, mostravam-se a favor de 
Fernando Collor. A candidatura de Collor nas eleições se tornou o foco dos principais veículos 
de comunicação, como O “Grupo Globo”, que abraçou a eleição de Collor, e por diversas vezes 
colocava Collor como superior e melhor estruturado que Lula, os vídeos dos debates eram 
manipulados, para que, em determinados momentos Lula falasse coisas que o prejudicavam e 
fortaleciam a candidatura de Collor. As coberturas das campanhas, dos comícios do Lula eram 
feitas para que se parecessem passeatas pequenas, e as do Collor eram feitas para parecerem 
passeatas grandes. Todas as notícias a favor do Collor eram positivas e as do Lula eram 
negativas, a mídia fez com que Collor se parecesse um candidato melhor e mais digno do cargo, 
as edições feitas nos debates entre os dois, eram a construção ou a desconstrução de um 
candidato à construção de uma candidatura, a candidatura que eles queriam, dessa forma, 
entende-se que a imprensa influiu muito na eleição. 
 Segundo Marra (1999), Collor foi um dos candidatos que mais ocupou o espaço 
proporcionado pela mídia com um discurso verbal e gestual que viria a se mostrar vitorioso na 
conquista do eleitorado. Fora eleito três anos antes governador de Alagoas, mesmo sem contar 
com máquina partidária significativa e militância nos estados, pois sua candidatura estava 
abrigada na legenda do Partido da Renovação Nacional (PRN), de escassa representação no 
Congresso. Collor fez sucesso na mídia, vinha sendo apresentado nacionalmente pela mídia 
26 
 
como “Caçador de Marajás14”, bateu seus concorrentes nos dois turnos e se tornou o primeiro 
presidente eleito diretamente no Brasil, depois de Jânio Quadros. A partir de então, criou-se 
uma “pseudo ilusão” sobre ele, provocando uma falsa esperança de que o presidente colocaria 
em funcionamento as engrenagens das políticas sociais voltadas para classe trabalhadora. 
Tinha-se a expectativa que Collor resolveria os clássicos problemas da sociedade brasileira. 
 
O governador do pequeno e pobre estado de Alagoas, em junho de 
1987, já era figura de projeção nacional, tinha aparecido na capa da 
revista Veja, como “o caçador de marajás”. Por conta dessa projeção, 
foi convidado para gravar um programa da série “Confidencial” na TV 
Paraíba. Essa emissora retransmitia os sinais da Rede Globo de 
Televisão em Campina Grande. Em almoço na casa do industrial José 
Carlos da Silva Júnior, proprietário da TV Paraíba, o governador de 
Alagoas perguntou a outro convidado ilustre, Edson Arantes do 
Nascimento, se ele se candidataria à Presidência da República. 
Nêumane afirma que Pelé negou a possibilidade e revidou que “com 
essa fama toda de caçador de marajás”, Collor é que seria um fortíssimo 
candidato. O governador respondeu que talvez se animasse com a ideia, 
ao que Pelé prometeu poder contar com o voto dele. 
Em outra ocasião, Fernando Collor testou sua popularidade ao buscar, 
na sede da Volkswagen, (...) Os operários aplaudiram e 
cumprimentaram o valente “caçador de marajás”. Com isso o Brasil, 
começou a tomar conhecimento do mais espetacular fenômeno de 
popularidade política da história brasileira. (MARRA, 1999). 
 
Estudos coordenados pela sua equipe de campanha procuravam verificar, através das 
pesquisas de opinião pública do Vox Populi o comportamento do eleitorado. Nessas pesquisas, 
apurou-se que o eleitor se encontrava desiludido com a antiga geração de políticos que não mais 
respondiam a expectativas das necessidades da população. Para Lattman-Weltman (1994), esse 
fato, consubstanciado, aos interesses da elite, mostrou o Collor como grande fenômeno de 
popularidade nunca visto no país que atraía as atenções dos eleitores com suas fantásticas 
atuações teatrais. O então governador de alagoas era dono de empresas de mídia, portanto, tinha 
uma experiente eloquência, embarcou no personagem que era vendido pela mídia e construiu 
sua imagem utilizando como base os critérios que o povo almejava. Collor, construía seus 
discursos de forma que refletisse os anseios da imprensa e do povo, o que os agradava e, dessa 
forma, os veículos de comunicação e a própria sociedade apoiava cada vez mais o seu governo. 
Para Marra (1999), a propaganda reunida em torno do presidente trabalhava a imagem 
caridosa epreocupada com os interesses da nação, isso fez com que sua eleição fosse altamente 
 
14 Collor recebeu esse apelido da imprensa por ter adotado medidas contrárias aos interesses de 
funcionários alagoanos de altos salários (MARRA, 1999). 
27 
 
midiática. E, após um tumultuado segundo turno, em que, na véspera da eleição, Collor e Lula 
estavam empatados, a mídia consegue vender a imagem do “Caçador de Marajás” e Collor 
vence as eleições pela coligação Movimento Brasil Novo (PRN, PSC, PTR E PST) com cerca 
de 35 milhões de votos, ou 42,75%, deixando como segundo colocado, Luiz Inácio Lula da 
Silva (PT) da coligação Frente Brasil Popular (PT, PSB E PC do B) que ficou com 31 milhões 
de votos ou 37,86% (ALMEIDA, 2015). Os números evidenciam, por conseguinte, a presença 
fundamental da mídia que usou os veículos de comunicações, sobretudo da televisão, como 
estratégia associar a imagem de um membro da burguesia alagoana como o homem capaz de 
vencer o histórico problema da corrupção no país. 
 
Os “mídias” são parte integrante da vida social e política das sociedades 
modernas. Sua função é principalmente fornecer uma representação da 
vida cotidiana, da vida em comunidade. E essas formas de 
representação; por sua vez afetam profundamente a conduta da política 
e o caráter da interação social. (MARRA, 1999, p. 103). 
 
 Em 16 de março de 1990, no dia seguinte de sua posse, para cumprir com a promessa 
de acabar com a inflação, o presidente implanta o “Plano Collor” ou “Plano Brasil Novo” que 
consistia em reter 80% da poupança de cada brasileiro no Banco Central, prometendo a 
devolução em 18 meses, o que gerou um choque na população, mas, cansada das altas inflações, 
a sociedade estava disposta a pagar um preço, mesmo que alto, se isso realmente resolvesse o 
problema. E é o que ocorre, só que, por um curto período. De acordo com Rocha, no artigo 
“Base Monetária e Inflação no Brasil na década de 90”, no fim de 1990, a inflação estava em 
1.699,87%; já em 1991 esse índice estava em 458,38%. Porém, no ano seguinte, a inflação 
chega a 1.174,67%. O Brasil encontrava-se em uma situação pior do que a do ano anterior, pois, 
mesmo com alta inflação, a economia estava crescendo, já em 1991 a economia estagna e depois 
diminui, causando uma recessão com hiperinflação. Acarretando em uma grande insatisfação 
popular que já não enxergava mais o governo com bons olhos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28 
 
3. POLÍTICA NEOLIBERAL E O ESQUEMA PC FARIAS. 
 
 O neoliberalismo15 tem como seu marco inicial dentro do território brasileiro o início 
do governo de Fernando Collor, que através de uma doutrina político-ideológico neoliberalista, 
passa a propagar discursos de que, a única solução para resolver a crise econômica vivida no 
Brasil devido à "década perdida16", era a implementação de uma política Neoliberal. De acordo 
com Martuscelli (2010) o presidente que se elegeu prometendo modernizar o país, acabar com 
a inflação e “caçar” marajás e corruptos acabou por aprofundar ainda mais a crise no País. Essa 
política neoliberal tratou de reduzir os investimentos públicos nas áreas consideradas 
estratégicas para desenvolvimento como a saúde e educação que tiveram seus investimentos 
reduzidos drasticamente, pois o Estado, segundo essa concepção econômica e de investimento 
de capitais é visto como mau gestor do dinheiro público, justificando assim, o enxugamento das 
responsabilidades do governo. A mesma justificativa se aplica as empresas e órgãos públicos, 
que foram privatizadas com a desculpa de que haveria um melhoramento do serviço e 
rendimento de lucros. 
Foi percebendo-se que as promessas que Collor pregou durante a campanha, não 
passavam de utopias, que estavam longe de serem realizadas. No governo de Collor, começam 
a surgir Planos Econômicos que congelam preços e não permitem poder de compra aos 
trabalhadores, além do confisco dos investimentos na caderneta de poupança por mais de 
dezoito meses, o que desagradou, imediatamente, aqueles que outrora lhe deram apoio. Atrelado 
a esse fator, escândalos políticos e financeiros começaram a surgir e comprometer a imagem 
do executivo. Collor tornou-se um presidente feito e desfeito pela imprensa, pois, a mesma que 
cooperou para a sua vitória, contribuiu para o seu impeachment. 
 
15 No final da guerra fria, surge uma doutrina socioeconômica, denominada de neoliberalismo, onde se 
tinha os antigos ideais do liberalismo, mas, moldando-o aos ideais do capitalismo moderno que estava 
se “reinventando”. Segundo Oliveira (1995), no neoliberalismo há pouca intervenção do estado na 
economia, objetivava-se ter uma maior estimulação do desenvolvimento econômico, maximização dos 
lucros e enxugamento da máquina pública. Devido a isso, a partir da década de 90 começam a ocorrer 
uma série de privatizações, onde empresas, setores públicos são vendidos, para assim poder reduzir os 
gastos governamentais, enquanto se tinha um grande lucro dentro das empresas, além disso, se tem uma 
abertura comercial e financeira, menores investimentos em políticas assistencialistas e de infraestrutura 
básica (OLIVEIRA, 1999). Entretanto, essas medidas fizeram com que houvesse um aumento da 
desigualdade social vivida no país, o que gerou insatisfação popular. 
 
16 Refere-se à década de 1980, quando houve uma estagnação econômica por toda a América Latina, 
acarretando em uma grave crise econômica, com um alto nível de desemprego, miséria, baixo 
crescimento ou queda do PIB, inflação elevada ao extremo, aumento da dívida externa, etc. 
(SALLUM JR, 1991). 
29 
 
Em 10 de maio de 1992, a revista Veja publica o depoimento de Pedro Collor, irmão de 
Fernando Collor, em que o mesmo denuncia os esquemas de corrupção que Collor estava 
envolvido, esse depoimento foi o estopim para o impeachment do presidente. No dia 11 de maio 
de 1992, a mesma revista divulga um dossiê que apontava que, Paulo César Farias, tesoureiro 
da campanha do presidente, movimentava milhões de dólares em paraísos fiscais, além de ser 
proprietário de sete empresas no exterior. No dia 18 de maio de 1992, Pedro Collor em 
entrevista ao Jornal Do Brasil17 afirma que o presidente era conivente aos esquemas feitos por 
PC Farias. 
“(...) O empresário Paulo César Farias montou, em nome do Presidente 
da República, um verdadeiro ministério paralelo para cobrar “pedágio”, 
ou participação irregular sobre a liberação de verbas públicas. (...) O 
Fernando fez pacto com aquele crápula para me destruir. Para Fernando 
atingir seus fins, pouco importa os meios. Como o dinheiro usado pelo 
PC foi roubado, extorquido, levantado fraudulentamente, não há como 
evitar que recaía sobre o presidente a suspeita de conivência, 
responsabilidade, ou, no mínimo, omissão. Afinal, ele está junto com o 
PC nessa empreitada. (...) Esse é o meu objetivo de vida no momento. 
Depois de ver o PC na cadeia eu posso até morrer, porque morro 
satisfeito.” 18 
 
O documento nos leva a crer que Pedro Collor estava focado em fazer com que PC 
Farias pagasse por seus crimes, como pode-se perceber no trecho “Esse é o meu objetivo de 
vida no momento. Depois de ver o PC na cadeia eu posso até morrer, porque morro satisfeito.”. 
Em meio a essas acusações, no dia 26 maio, o então presidente Fernando Collor, divulga uma 
carta negando todas as acusações do irmão. Entretanto, no mesmo dia é instaurada no Congresso 
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as denuncias feita a Paulo César 
Farias. No Relatório de nº 52 de 199219, consta a síntese do depoimento de Pedro Collor: 
 
“Depois de conceder duas entrevistas à revista Veja, o Sr. Pedro Collor 
de Mello foi ouvido, a 04 de junho, pela CPI, informando que o Sr. 
Paulo César Cavalcante Farias enriqueceu, em poucos anos, servindo-
se de informações privilegiadas queseu relacionamento com o então 
Governador de Alagoas lhe propiciava, explorando o prestígio 
emergente desta relação e apelando para a extorsão e a chantagem, (...) 
tendo o Sr. Fernando Collor de Mello assumido a Presidência, o Sr. 
 
17 Tradicional jornal do Estado do Rio de Janeiro, fundado em 1891. 
 
18 Pedro Collor faz acusações ao presidente. Jornal do Brasil. P. 4. Cad. 1º. 18 de Maio de 1992. 
Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/030015/per030015_1992_00040.pdf 
 
19 Relatório instaurado para apurar os esquemas ilícitos envolvendo Paulo César Farias, devido às 
sucessivas denúncias feitas por Pedro Collor de Mello em entrevistas a jornais, revistas, emissoras de 
rádio e televisão. 
30 
 
Paulo César Cavalcante Farias aprimorou e intensificou seus métodos 
de exploração. Já no primeiro semestre de 1990, os empresários 
Jefferson Araújo e Laíse de Freitas teriam sido abordados pelo Sr. Jorge 
Waldério Tenório Bandeira de Mello, piloto do Sr. Paulo César Farias, 
tentando submetê-los a extorsão. Ciente disso, o declarante transmitiu 
o fato ao Sr. Cláudio Francisco Vieira, secretário particular do 
Presidente. Além disso, alertou o próprio Presidente, seu irmão, 
dizendo-lhe que o (...) Sr. Paulo César estaria tentando destruir as 
empresas da família Collor em Alagoas, fundando empresas 
jornalísticas que pagava salários quatro a seis vezes superiores aos 
praticados na economia local. Em conversa com o Sr. José Barbosa de 
Oliveira, o governador Moacir Andrade e o Sr. Carlos Mendonça, em 
diferentes ocasiões, o Sr. Paulo César Cavalcante Farias teria dito que 
mantinha uma sociedade informal com o Presidente da República, a 
quem transferia 70% dos lucros. (...) investigações posteriores (...) 
encontraram evidências sobre essa relação, verificando-se que 
efetivamente o Sr. Paulo César financiava, inclusive através de "contas 
fantasmas", despesas pessoais do Presidente da República. O Sr. Pedro 
Collor de Mello teria sido informado a respeito dessa sociedade 
informal em meados de 1991. (...) [Pedro Collor] mencionou que o Sr. 
Paulo César teria recebido dos Usineiros de Alagoas 12 milhões de 
dólares para intermediar negociação com o Governo do Estado, a 
pretexto de que o dinheiro seria destinado à campanha presidencial”. 
(Relatório de nº 52 de 1992. Capitulo I - Síntese dos Depoimentos - 
Depoimento do Sr. Pedro Collor de Mello - p. 59 e 60). 
 
 Na investigação do relatório citado acima, Pedro Collor deixa claro como estava 
insatisfeito com a postura do irmão diante do que o empresário alagoano vinha fazendo. No 
decorrer do relatório foi descoberto que, durante a campanha, PC Farias arrecadou milionárias 
contribuições de empresários, e após a vitória de Collor, o que restou do dinheiro da campanha, 
somado a uma quantia relativamente grande, obtida através de transações com usineiros, foi 
depositado na conta da empresa de PC Farias. De acordo com Gasparetto Júnior, ao longo do 
governo, diversas decisões do presidente foram influenciadas por PC Farias, que tinha uma 
espécie de “poder paralelo” tanto no Banco Central, quanto no Palácio do Planalto. 
Se fosse realmente comprovado o envolvimento de Collor e PC, a probabilidade de o 
presidente ser inocentado e continuar no cargo eram ínfimos. O jornal O Liberal, vai tratar: 
 
Se ficar comprovado o envolvimento do presidente Fernando Collor no 
esquema PC Farias, haverá unanimidade entre a Câmara dos Deputados 
e Senado para aprovar o impeachment. Não tem outro jeito. Haverá um 
consenso dentro da própria sociedade e nem um parlamentar poderá ir 
contra as provas.20 
 
 
20 Unanimidade pode levar a "Impeachment". O Liberal. P. 08. Cad. Política. 13 de julho de 1992. 
31 
 
Não havia esperanças para o presidente, faltava apenas algo concreto que o ligasse a PC 
Farias, para que sua presidência efêmera caísse de vez. E quando, ao longo da investigação, foi 
constatado que PC Farias e Collor, estavam conectados a grandes esquemas de corrupção. 
Baseando está conexão no descobrimento do recebimento de grandes quantias em dinheiro, e 
outros bens que não tinham origem lícita, por parte do próprio presidente e outros. O povo 
revolta-se ainda mais com o governo e passam a clamar a destituição do presidente através de 
passeatas que começam a ocorrem por todo o território brasileiro. 
Além disso, essas manifestações começam a ter o apoio de entidades respeitadas 
socialmente como a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB e a Associação Brasileira de 
Imprensa – ABI que também apoiavam o impeachment do presidente. Deste modo, no dia 1º 
de setembro de 1992, Marcello Lavenere Machado, presidente da OAB e Barbosa Lima 
Sobrinho, presidente da ABI, apresentam um pedido de impeachment a câmara dos deputados. 
Como consta na petição contra Collor, intitulada: “Denúncia por crimes de responsabilidade 
contra o Sr. Presidente da República, Fernando Affonso Collor de Mello, oferecida pelos 
cidadãos Barbosa Lima Sobrinho e Marcello Lavenere Machado”21 em que denunciavam o 
Presidente da República, 
(...), por infração aos arts. 85, IV e V, da Constituição Federal, e 8º, 7, 
e 9º, 7, da Lei nº, 1.079, de 10 de abril de 1950, requerendo que, 
recebida esta como objeto de deliberação, e admitida nessa Câmara dos 
Deputados a acusação ora formulada, seja a mesma remetida ao Senado 
Federal, onde será julgada, com o reconhecimento de sua procedência, 
para aplicar ao denunciado a pena de perda do cargo, com inabilitação 
por oito anos para o exercício de função pública. (DIÁRIO DO 
CONGRESSO NACIONAL, 03/09/1992. P. 20) 
 
Nota-se que Collor foi denunciando com base no Inciso 7 do Artigo 8º e no Inciso 7 do 
Artigo 9º da Lei nº 1.07922. Como a lei exige que se se apresentem provas da acusação, os 
presidentes exibiram as evidências colhidas no relatório da CPI de PC Farias. Segundo a 
petição: 
 (..) desde 15 de março de 1990, o denunciado, pessoalmente, bem como 
alguns de seus familiares – a mulher, a ex-mulher, a mãe – receberam 
indevidamente vultosas quantias em dinheiro, além de outros bens, sem 
indicação da origem lícita dessas vantagens. Essas transferências de 
 
21 República Federativa do Brasil. Diário do Congresso Nacional. Denúncia por crimes de 
responsabilidade contra o Sr. Presidente da República, Fernando Affonso Collor de Mello, 
oferecida pelos cidadãos Barbosa Lima Sobrinho e Marcello Lavenere Machado. Suplemento nº 
143 - 03 de setembro de 1992. Brasília, DF. 
 
22 República Federativa do Brasil. Lei dos Crimes de Responsabilidade. Nº 1.079, de 10 de abril de 
1950 – Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L1079.htm 
32 
 
dinheiro e de bens eram feitas reiteradamente, seja mediante depósitos 
em conta bancária da secretária particular do denunciado e de seus 
familiares, seja mediante pagamentos diretos a empresas que venderam 
alfaias para guarnecer a residência particular do Presidente, ou que 
prestaram serviços de empreitada neste ou em outro imóvel de seu uso 
ou propriedade (...). Não bastasse essa conduta indecorosa, constatou-
se, ademais, que todos esses recursos, assim carreados ao patrimônio do 
Presidente da República e de seus íntimos, provieram de uma 
organização delituosa de exploração de prestígio e tráfico de influência, 
controlada por Paulo César Cavalcante Farias. (DIÁRIO DO 
CONGRESSO NACIONAL, 03/09/1992. P. 07) 
 
Através das provas expostas acima, os presidentes da OAB e ABI acusaram Collor de 
permitir a infração de lei federal e de atentar contra o decoro do cargo. 
 
A falta de decoro, a saber, a desordem e imoderação de vida, a ligação 
com pessoas desonestas, o recebimento de vantagens indevidas, 
representa aquela traição e abuso da confiança pública, (...) [dessa 
forma] justificadora do "impeachment" presidencial(...), o Presidente 
da República, diante do recebimento injustificado de vultosas quantias 
por meio de correntistas "fantasmas", e diante do fato notório do tráfico 
de influência exercido por Paulo César farias, apesar de muitas vezes 
alertado, como se vê no relatório da CPI, omitiu-se no cumprimento de 
seu dever básico de zelar pela moralidade pública, valor primacial que 
deve, segundo a Constituição federal, presidir a Administração. (...) 
Houve-se portanto, o Presidente da República, com grave omissão, 
permitindo tácita ou expressamente infração a lei federal de ordem 
pública; os depósitos em sua conta e em benefício de seus familiares, 
por meio de correntistas "fantasmas", constituíram evidente sonegação 
fiscal e falsidade documental (...) Assim sendo, houve por parte do 
presidente da república, infração ao disposto no art. 8º, 7, da Lei nº 
1.079/50, ao permitir, com sua omissão, de forma tácita ou expressa, 
infração a lei federal de ordem pública, ou seja, afronta a leis penais, 
administrativas e tributárias. (DIÁRIO DO CONGRESSO 
NACIONAL, 03/09/1992. P. 14, 16, 17 e 18) 
 
Ou seja, Collor seria deposto porque, mesmo estando ciente dos grandes esquemas de 
corrupção que ocorria ao longo de seu governo, sendo frequentemente informado sobre as 
atitudes de PC Farias, o presidente manteve uma postura omissiva, dessa forma, foi acusado 
pelos crimes de corrupção passiva e prevaricação, acarreando em um crime de responsabilidade. 
Que, posteriormente causaria seu impeachment, caso o mesmo não tivesse renunciado. O jornal 
O Liberal vai definir “crime de responsabilidade” como aquilo que representa: 
 
(...) infrações político-administrativas, definidas em Legislação 
Federal, cometidas no desempenho da função, que atentam contra a 
existência da União, o livre exercício dos Poderes do Estado e dos 
33 
 
direitos políticos, individuais e sociais, a segurança interna do país, a 
lei orçamentária e o cumprimento das leis e decisões judiciais. A prática 
desse ilícito político-administrativo, legítima a imposição de sanção 
política, submetendo-se, inteiramente, ao princípio da reserva legal ou 
da tipicidade em que é nulo o crime sem a lei prévia. (...), todavia o 
processo de apuração dos crimes de responsabilidade não conduz à 
aplicação de pena criminal, mas a declaração ou não, somente, do 
impedimento para o exercício da função pública exercida. O julgamento 
pelo Poder Legislativo constitui medidas político-administrativa, 
consistente no afastamento ou não do acusado do cargo que ocupa e sua 
subsequente inabilitação temporária para a função pública23. 
 
 Neste sentido, o jornal vai explicar a população o significado de crime de 
responsabilidade e suas consequências. Nota-se como a mídia utilizava-se de varias formas para 
tornar visível ao grande público o que estava ocorrendo. Conceituavam desde o significado de 
algo, até a divulgação das negociatas do presidente e PC Farias. Isso fez com que a sociedade 
tomasse ciência dos grandes esquemas de corrupção em que o presidente estava envolvido, e 
se manifestasse contra sua permanência no cargo, fazendo com que, até mesmo organizações, 
que antes mostravam apoio ao presidente, agora discorrem sobre como a melhor solução para 
a Nação seria que o presidente renunciasse. O Jornal O Liberal vai tratar: 
 
(...) O Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência 
(SBPC) endossou e reiterou, a posição da diretoria da entidade, que em 
nota publicada no dia 30 de junho disse ser "necessária à renúncia do 
presidente Collor" (...) a nota foi emitida porque a diretoria achava que 
a renúncia do presidente poderia tranquilizar a Nação. "Ela agora está 
superada pelos fatos porque o próprio presidente disse que não 
renuncia", (...) "Agora temos que achar novas formas de lutar pelo 
mesmo objetivo. As denúncias não podem ser apuradas com o 
presidente no exercício do cargo" (...) [a SBPC] no passado, "denunciou 
e lutou contra o arbítrio, a censura, perseguições e discriminações 
políticas, torturas e violência em geral". (...) "o país assiste, estarrecido, 
uma sucessão de denúncias que atingem diretamente o presidente e 
alguns de seus auxiliares mais próximos. A gravidade das evidências 
trazidas à luz pela imprensa abala a dignidade da República".24 
 
 Através do periódico acima, compreende-se que a organização de desenvolvimento 
cientifico estava altamente insatisfeita com o governo, como fica explicito no trecho “Agora 
temos que achar novas formas de lutar pelo mesmo objetivo”, entendendo-se que este objetivo 
seria a retirada de Collor da presidência, já que o mesmo disse que não iria renunciar, neste 
 
23 O impeachment por crime de responsabilidade. O Liberal. P. 07. Cad. Opinião. 12 de julho de 1992. 
 
24 Conselho defende renúncia de Collor. O Liberal. P. 03. Cad. Cidades. 13 de julho de 1992. 
 
34 
 
sentido, a SBPC deixando claro que acharia outros meios para concluir o que queriam. A 
organização chega a traçar um paralelo entre o governo neoliberal de Collor e sua luta contra 
os tempos sombrios do período da ditadura civil militar, dizendo que, a SBPC “denunciou e 
lutou contra o arbítrio, a censura, perseguições e discriminações políticas, torturas e violência 
em geral” e que, por conta desses fatores, não iria recuar diante do governo do então presidente, 
pelo contrário, iria afrontá-lo, e defender a nação que agora, que agora tinha livre acesso as 
“evidências trazidas à luz pela imprensa”. Evidências essas, que continuaram sendo trazidas a 
público, onde houve até uma cobertura jornalística em que pautava a própria ação da CPI. 
 
Aproxima-se a grande final dos trabalhos na CPI do Congresso criada 
para investigar o envolvimento de PC Farias com o governo Collor de 
Mello, junto ao qual teria praticado largamente o tráfico de influência. 
O ex – tesoureiro da campanha eleitoral do presidente transformou-se 
no seu coveiro. No curso prolongado das investigações surgiram 
constatações surpreendentes e cabeludas, principalmente nestes últimos 
dias, com a revelação de contas bancárias bilionárias de correntistas 
fantasmas, referentes a negócios ocultos (...).25 
 
Percebe-se que o jornal se utiliza do substantivo “Coveiro” para falar da relação entre 
Collor e PC, pois, de certa forma PC contribuiu para a queda de Collor. Com o poder que PC 
Farias tinha em mãos, o empresário manipulou os contratos brasileiros indicando funcionários 
para criar documentos falsos e criar contas fantasmas para onde iriam as verbas públicas que 
deveriam ser utilizadas nos setores da educação, saúde, segurança e previdência social. 
Com o desenrolar da CPI, foi possível perceber como, o julgamento feito ali, não tinha 
como função exclusiva, analisar PC Farias, mas sim, todos aqueles envolvidos nesse esquema, 
incluindo o próprio Presidente da República. De acordo com o jornal O Liberal26, “a CPI 
instaurada para julgar PC Farias era uma farsa, esse nunca foi seu principal objetivo. Ela foi 
instalada para atingir diretamente o presidente Collor e o fez por vias obtusas. E os governistas 
tinham ciência disso”, no entanto, em momento algum, os mesmos, se quer, contestaram o teor 
das denúncias contidas no relatório, sejam aquelas que comprovavam o envolvimento de PC 
Farias aos crimes de corrupção, tráfico de influência, sonegação fiscal, remessa ilegal de divisas 
ao exterior e formação de quadrilha, ou as que relacionavam o presidente a esses crimes por 
omissão ou corresponsabilidade, entendendo-se que, se o presidente foi citado no relatório 
porque as provas do seu envolvimento eram contundentes. As atitudes de Collor fizeram com 
que ele fosse parar no relatório, sem ajuda ou influência de alguém. 
 
25 Collor e o fantasma do Impeachment. O Liberal. P. 15, Cad. 1º, 20 de agosto de 1992. 
 
26 CPI aprova relatório

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