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Natureza Jurídica dos Direitos Humanos no Sistema Europeu

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NATUREZA JURÍDICA DOS DIREITOS HUMANOS: 
Análise do Sistema Europeu de Proteção aos Direitos Humanos
1
 
 
Maria do Livramento Coutinho Veras
2
 
 
 
 
 
1 Relatório da Disciplina - Proteção Internacional da Pessoa Humana I e II - O Sistema Europeu e o Sistema Africano 
de Proteção da Pessoa Humana, sob Regência Professor Doutor José Alberto de Melo Alexandrino – FDUL. 
2 Mestranda em Direitos Fundamentais na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa – Turma 2009/2010 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A abelha conhece a fórmula de sua colméia, a 
formiga conhece a fórmula de seu 
formigueiro, mas o homem não conhece a 
própria fórmula. 
 DOSTOIEVSKI, Os Irmãos Karamazov.
Sumário 
 
Introdução …………………………………………………………………………… 06 
Capítulo 01 - Evolução Histórica da Proteção dos Direitos Humanos …………….. 09 
Capítulo 02 - Direito Internacional dos Direitos Humanos 
 2.1 Sistema Universal de Proteção dos Direitos Humanos ……………………..… 13 
 2.2 Sistema Regional Europeu de Proteção dos Direitos Humanos………………. 17 
 2.2.1 Valores Comuns ………….…………………………..………………… 21 
 2.2.2 Normas …………………………………………………………………. 24 
 2.2.3 Estrutura de Proteção …………………………….……………………. 28 
 2.2.4 Mecanismos de Controle …………………………………………….…. 29 
Capítulo 03 - A Natureza Jurídica dos Direitos Humanos ……………………….…. 34 
 3.1 Concepções Doutrinárias acerca da Natureza Jurídica dos Direitos Humanos 
 3.1.1 Concepção Jusnaturalista ………………………………………………… 35 
 3.1.2 Concepção Ética …………………………….………………..….……… 36 
 3.1.3 Direitos Humanos como princípios ……………………………………… 37 
 3.1.4 Concepção Legalista …………………………………….…………….… 39 
 3.1.5 Direitos Humanos e Direitos Subjetivos …………………………………. 40 
 3.2 Concepção adotada …………………………………………..…………………. 42 
Considerações finais …………………………………………………………….……. 44 
Referências Bibliográficas ……………………………………...…………………….. 45 
Anexo …………………………….…………………………………………………… 48 
Resumo 
Este artigo versa sobre a análise da natureza jurídica dos direitos humanos, tendo como 
ponto de partida a obrigatoriedade de proteção dos Estados para com os indivíduos. 
Priorizamos o estudo do sistema europeu de proteção aos direitos humanos, pelo fato 
deste apresentar a melhor estrutura de tutela desses direitos, se comparado com os 
sistema de proteção interamericano ou africano, que infelizmente ainda se encontram 
aquém da real necessidade. Abordamos ainda, as concepções doutrinárias acerca da 
natureza jurídica dos direitos humanos, que se apresenta de forma desconhecida, apesar 
de bastante citada pelos doutrinadores. 
Palavras-chave: Direitos Humanos, Natureza Jurídica, Sistema Europeu de Proteção. 
 
Abstract 
This article discusses the analysis of the legal nature of human rights, taking as its 
starting point the requirement for States to protect individuals. Prioritize the study of the 
European human rights legislation, because this structure provide the best protection of 
these rights, compared with the interamerican and african systems of protection, which 
unfortunately are still short of actual need. We discuss also the doctrinal conceptions 
about the nature of international human rights law, which presents itself unknown, 
although quite often cited by legal scholars. 
Keywords: Human Rights, Legal Nature, European System of Protection. 
 
 
 
Introdução 
 
Um das afirmações mais citadas quando passamos a estudar a proteção dos 
direitos humanos, é a do filósofo político italiano Norberto Bobbio. Este, em sua obra 
―A Era dos Direitos‖, expressa que o grave problema da atualidade em relação aos 
direitos do homem, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los. Tratando-se de 
um problema não filosófico, mas de âmbito político
3
. 
Com esta impressão, tal problemática apresentada não é filosófica, mas jurídica 
e, num sentido mais abrangente política. Não se trata, para este autor, de conhecer quais 
e quantos são esses direitos, qual é sua natureza e sua fundamentação, se são direitos 
naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para 
garanti-los, para impedir que, apesar das pomposas declarações, eles sejam 
continuamente violados e inexequíveis. 
Diante desta esteira de reflexões custa-se discordar de um aspecto, o da não 
necessidade de conhecer a natureza desses direitos. Entendemos que para melhor 
proteger qualquer que seja a coisa em risco, temos a necessidade de saber sua 
constituição, se são direitos intrínsecos ao homem, se podem ser conhecidos como 
direitos morais, se podem ser entendidos como princípios, se carecem de uma entidade 
jurídica para se tornarem direitos, ou ainda, se podem ser entendidos como direitos 
subjetivos. 
Tendo tal reflexão permeado todo o estudo analítico, vimos a necessidade de 
tratá-la juntamente com os sistemas de proteção aos direitos humanos, mais 
especificamente com o sistema europeu de proteção, já que este se apresenta 
mundialmente como o sistema mais estruturado, sólido e eficiente da época presente. 
Gozando assim, de grande prestígio e reconhecimento internacional. 
 Seguindo esta linha de raciocínio iremos trabalhar com o Conselho da 
Europa(CoE), por ser a mais antiga organização europeia, datando a sua criação em 05 
de Maio de 1949
4
, a tratar da proteção dos direitos humanos, da democracia e do Estado 
de Direito. Além de desenvolver seus princípios democráticos comuns com base na 
 
3 Cf. BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campus, 1992. p.25. 
4 Ver site: <http://www.coe.int/aboutCoe/default.asp>. Acesso em 01 de Junho de 2010. 
Convenção Europeia dos Direitos do Homem, e em outros documentos de referência
5
 
sobre a protecção dos indivíduos, congregando atualmente 47(quarenta e sete) países
6
, 
sendo que 21(vinte e um) são da Europa Central e de Leste, praticamente todo o 
continente europeu, unidos com o objetivo geral de elevar os valores morais que são 
herança comum de seus povos e que estão na procedência dos preceitos de liberdade 
individual, de liberdade política e da preeminência do Direito, sobre os quais se funda a 
autentica Democracia. 
Como já mencionamos, delimitaremos o estudo na CEDH, não deixando de citar 
mesmo que brevemente nesta apresentação, a não menos importante Carta dos Direitos 
Fundamentais da União Europeia
7
, que representa a síntese dos valores comuns dos 
Estados-Membros da União Europeia(EU) - 27(vinte e sete) estados, que pela primeira 
vez, reúne num único texto os direitos civis e políticos, bem como os direitos 
económicos e sociais. Mas infelizmente, apesar das suas disposições gerais 
estabelecerem vínculos com a CEDH não adentraremos neste instrumento por questões 
de delimitação temática. 
Contudo, o objeto deste relatório de investigação recai sobre a problemática da 
natureza jurídica dos direitos humanos dentro do contexto europeu de proteção. Onde se 
busca analisar as obrigações jurídicas que os Estados contraem ao se tornarem 
signatários de tratados normativos de direitos humanos, tendo como ponto de partida o 
processo de internacionalização dos direitos humanos. Vindo a citar marcos históricos 
que favoreceram a fundamentação desse processo, bem como os aspectos atuais que 
fortificam e consolidam esse processo de proteção. 
 Quanto ao método científico adotado na investigação e abordagem do tema, 
utilizaremos o técnico-jurídico, pautado na pesquisa de artigos, doutrinase 
jurisprudências
8
. Procurando analisá-los de forma crítica a obter um posicionamento 
próprio diante das problemáticas encontradas. Mais especificamente falando, ao 
tratarmos a natureza jurídica dos direitos humanos, tanto pela confusão doutrinária ao 
confundirem fundamentos com natureza, quanto ainda pela escassez de doutrina sobre o 
 
5 E por que não analisar também a Carta Social Europeia - CSE de menor importância em relação a CEDH, mas de 
extremo significado para os direitos económicos, sociais e culturais da comunidade europeia. 
6 Ver Anexo IV - Assinaturas e ratificações da Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades 
Fundamentais - CETS N º : 005. 
7 Para mais detalhes visitar portal da União Europeia: http://europa.eu/. 
8 Cf. GONTIJO, André Pires. Análise Metodológica de Peter Haberle. Anais do XVII Congresso Nacional do 
CONPEDI, realizado em Brasília – DF. Disponível no site: < http://www.conpedi.org> . Acesso em 20 de junho de 
2010. p. 5398 – 5415. 
 
assunto. Por último, e não menos importante, levaremos em consideração todos os 
ensinamentos apreendidos durante as aulas ministradas e exposições de seminários. 
 Para tanto, o presente relatório compreende três partes, onde no primeiro 
capítulo teceremos breves considerações sobre a Evolução Histórica da Proteção dos 
Direitos Humanos, ressaltando o processo de internacionalização dos direitos humanos 
através do surgimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos. 
No segundo capítulo apresentaremos um comentário breve sobre a sistemática 
de proteção dos direitos humanos dentro do Sistema Global, destacando os principais 
marcos desenvolvidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ainda neste 
capítulo, trabalharemos mais detalhadamente o Sistema Regional Europeu dos direitos 
humanos, procurando ressaltar suas mudanças jurisdicionais advindas com os 
protocolos, valores comuns, normas, estrutura de controle e mecanismos de proteção. 
 No terceiro e último capítulo abordaremos a natureza jurídica no âmbito dos 
direitos humanos, analisando as controvérsias existentes na doutrina acerca das 
concepções e quais as consequências que estes diferentes posicionamentos trazem para 
a dinâmica dos direitos humanos. Não vindo a esgotar este assunto e nem tendo a 
pretensão de encontrar uma solução para tal problemática, que para nós, se inicia com o 
desenvolvimento deste relatório. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 01 
Evolução Histórica da Proteção dos Direitos Humanos 
 
A Segunda Guerra Mundial foi o acontecimento histórico impulsionador 
decisivo para o surgimento e consolidação do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos(DIDH)
9
, enquanto ramo autônomo do Direito Internacional, uma vez que 
compreende um conjunto de normas que regulam a proteção do homem, frente aos 
Estados ou outros sujeitos do Direito Internacional que venha a praticar atos nocivos à 
sua figura, promovendo assim, a dignidade da pessoa humana. 
Assevera TRINDADE, que "não há que se perder de vista que o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos não rege as relações entre iguais, opera 
precisamente em defesa dos ostensivamente mais fracos. Nas relações entre desiguais, 
posiciona-se em favor dos mais necessitados de proteção. Não busca obter um equilíbrio 
abstrato entre as partes, mas remediar os efeitos do desequilíbrio e das disparidades na 
medida em que afetam os direitos humanos"
10
. 
Nesta composição, estrutura-se a busca de reconstrução dos direitos humanos, 
como modelo e referencial ético a nortear a ordem internacional contemporânea. Onde o 
indivíduo passa de objeto para sujeito da lei internacional, sendo reconhecido seus 
direitos ultrapassado a jurisdição doméstica dos Estados, passando a ter personalidade 
jurídica de direito internacional. Vindo a aumentar a importância da pessoa humana 
enquanto aceita como sujeito do Direito Internacional ao lado dos Estados e 
Organizações Internacionais. 
PIOVESAN explica, que a internacionalização dos direitos humanos constitui, 
assim, um movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós-
guerra, como resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o regime nazista, 
juntamente com a falta de controle estatal em garantir a eficácia desses direitos, e 
resguardar a dignidade humana
11
. 
 
9 ―O direito internacional dos direitos humanos pode ser definido como o conjunto de normas que estabelece os 
direitos que os seres humanos possuem para o desenvolvimento de sua personalidade e estabelecem mecanismos para 
a proteção de tais direitos.‖ - MELLO. Celso D. Albuquerque. Curso de direito internacional público. 13ª Ed. Rio de 
Janeiro: Renovar, 2001. p. 33 
10 Cf. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Vol I, 
Porto Alegre, Sérgio Fabris Editor, 1997. p. 20. 
11 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 7ed. São Paulo: Saraiva, 
2006. p. 116. 
Como bem assevera AZKOUL, o processo de internacionalização dos direitos 
humanos pressupôs um redimensionamento acerca dos limites do conceito de soberania 
estatal, bem como a uma redefinição da situação do indivíduo no panorama 
internacional para se aduzir o status de um verdadeiro sujeito de direito internacional.
12
 
Se a Segunda Grande Guerra significou a ofensa de preceitos perante os direitos 
humanos, o pós-guerra deveria exprimir sua reconstrução. A necessidade de uma ação 
internacional mais eficiente para a proteção dos direitos humanos estimulou o 
seguimento de internacionalização desses direitos, culminando assim na criação 
sistemática normativa de proteção internacional. 
Pressupondo assim, a delimitação da soberania por parte dos Estados, antes tida 
como absoluta. Passando a ser uma importante solução na busca da reconstrução de um 
novo paradigma, diante do repúdio internacional às atrocidades cometidas durante o 
nazismo. 
Contudo, não foi somente o término da Segunda Guerra Mundial que fortaleceu 
o surgimento dos direitos humanos, sendo esta sua fonte histórica. Os direitos humanos 
passaram mesmo a ter atenção central dentro da agenda internacional com o advento de 
dois documentos de relevância mundial: a da Carta das Nações Unidas
13
, em 1945, que 
tem como objetivo proporcionar a cooperação internacional na resolução de problemas 
internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, promovendo e 
encorajando o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos sem 
distinção de raça, sexo, língua ou religião; e bem como com a promulgação da 
Declaração Universal dos Direitos Humanos(DUDH)
14
, em 1948, como o ideal comum 
de atingir todos os povos e todas as nações, na promoção do respeito aos direitos e 
liberdades, adotando medidas progressivas de caráter nacional e internacional, com o 
intuito de assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva. 
Ressaltamos o posicionamento de CASSIN, principal autor da DUDH, ao 
afirmar que: ―Esta Declaração se caracteriza, primeiramente, por sua amplitude, 
 
12 Cf. AZKOUL, Marco Antonio. Justiça Itinerante. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2006. pág.22; 
QUADROS, Fausto de. PEREIRA, André Gonçalves. Manual de Direito Internacional Público. 3 ed. Coimbra: 
Almedina, 2009. p. 405-406. 
13 Cf. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2006 – ―A Carta da ONU fala genericamente dos direitos humanos,sem defini-los, o que não significa que eles sejam 
meras declarações de princípios sem força normativa. Tais direitos são obrigatórios.‖ p. 516 - 543. 
14 Importante destacar que a DUDH, foi adotada e proclamada pela Resolução n. 217 A (III) da Assembleia Geral das 
Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, com aprovação unânime de 48 Estados e 8 abstenções (Bielorússia, 
Tchecoslováquia, Polônia,Ucrânia, USSR, Iugoslávia, África do Sul e Arábia Saudita). Ver declaração no site: < 
http://www.un.org/en/rights/>. Acesso em Acesso em 10 de Maio de 2010. 
compreendendo um conjunto de direitos e faculdades sem as quais um ser humano não 
poderia desenvolver sua personalidade física, moral e intelectual. Sua segunda 
característica é a universalidade: é aplicável a todas as pessoas de todos os países, raças, 
religiões e sexos, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide.‖15 
É de forma universal que a DUDH certifica seus direitos, no sentido de que os 
receptores dos preceitos nela compreendidos não são mais para os cidadãos deste ou 
daquele lugar específico, mas sim todos os indivíduos sem qualquer distinção de raça, 
cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou 
social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição
16
. 
Ainda neste âmbito, corroboramos com a lição de DALMO DALLARI, ao 
consagrar que a DUDH possui três objetivos fundamentais: ―a certeza dos direitos, 
exigindo que haja uma fixação prévia e clara dos direitos e deveres, para que os 
indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições; a segurança dos direitos, 
impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em qualquer circunstância, os 
direitos fundamentais serão respeitados; a possibilidade dos direitos, exigindo que se 
procure assegurar a todos os indivíduos os meios necessários à fruição dos direitos, não 
se permanecendo no formalismo cínico e mentiroso da afirmação de igualdade de 
direitos onde grande parte do povo vive em condições subumanas‖17 
Sendo positiva, tal proposta, por impor um sentido mundial ao processo de 
proteção, cujo final os direitos do homem deverão ser não mais apenas proclamados ou 
apenas idealmente reconhecidos, porém efetivamente protegidos até mesmo contra o 
próprio Estado
18
. Consolidando a afirmação de uma ética universal, ao confirmar 
consenso de valores com carater comum a serem adquiridos por todos os indivíduos. 
Por tanto, o movimento de internacionalização dos direitos humanos é baseado 
na compreensão de que toda nação tem a obrigação de respeitar os direitos humanos de 
seus cidadãos e de que todas as nações e a comunidade internacional têm o direito e a 
capacidade de entendimento para protestar, se um Estado não realizar suas obrigações 
 
15 Cf. CASSIN, René. El problema de la realización de los derechos humanos en la sociedad universal. Disponível 
em: <http://www.bibliojuridica.org/libros/2/848/16.pdf>. Acesso em 19 de abril de 2010. 
16 DUDH – art o I – ―Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta 
Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra 
natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.‖ 
17 DALLARI, Dalmo de Abreu. In: SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32ed. São 
Paulo: Malheiros, 2009. p. 164. 
 
18 Cf. BOBBIO, Norberto. op.cit. p.30. 
perante a comunidade internacional. Relativizando assim, a soberania estatal, antes tida 
como absoluta. 
De modo exaustivo firma-se definitivamente que o princípio do poder sem 
limites e supremo do Estado encontra-se alquebrado a partir da noção de que o 
resguardo de direitos do homem não se atém à competência doméstica dos Estados 
soberanos. Na medida em que o Estado deve defender sua população, e impulsionar o 
respeito aos direitos humanos, sendo esses, inclusive, dever e empenho entre todas as 
nações. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 02 
Direito Internacional dos Direitos Humanos 
 
2.1 Sistema Universal de Proteção dos Direitos Humanos 
 
A norma reguladora do Sistema Global de proteção aos direitos humanos é a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Com esta norma, a Assembleia Geral da 
ONU esclareceu o que esta organização e seus Estados-Membros compreendiam por 
direitos humanos e liberdades fundamentais. Onde no preâmbulo da DUDH, são 
apresentados a dignidade inerente e os direitos inalienáveis de todos os membros da 
sociedade como condição para liberdade, justiça e paz no mundo. Em seus trinta artigos, 
são listados direitos políticos e liberdades civis (art
os
. 1–22) – onde podemos elencar 
entre outros, o direito à vida e à integridade física, a proibição da tortura, da escravatura 
e de discriminação (racial), o direito de propriedade, o direito à liberdade de 
pensamento, consciência e religião, o direito à liberdade de opinião e de expressão e à 
liberdade de reunião; bem como direitos econômicos, sociais e culturais (art
os
. 23–27) - 
que inclui, entre outros, o direito à segurança social, o direito ao trabalho, o direito à 
livre escolha da profissão e o direito à educação. 
Ao analisarmos o catálogo de direitos dispostos na DUDH, podemos nos ater a 
uma das vantagens deste documento, que foi a de considerar todos os direitos humanos 
em sua unidade, à vista disso, os direitos humanos econômicos, sociais e culturais não 
são de maneira alguma de menor importância que os civis e políticos. Onde como 
exemplo, podemos citar o direito à moradia ou à saúde que são acatados como pré-
requisito para a percepção dos direitos políticos. Por conseguinte, não se podem separar 
dos direitos humanos
19
. 
Salientamos que a ausência de tutela específica na jurisdição internacional 
prejudica o cumprimento desejado dos direitos, mas embora não tenha quaisquer órgão 
de implementação e suas disposições sejam redigidas de maneira superficial, nenhum 
outro documento sobre direitos humanos teve tanta influência no âmbito internacional. 
 
19 Cf. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Universalismo e Regionalismo nos Direitos Humanos: o papel dos 
organismos internacionais na consolidação e aperfeiçoamento dos mecanismos de proteção internacional. Anuário 
Hispano-Luso-Americano de Derecho Internacional. 13. Madrid: Instituto Hispano-Luso-Americano de Derecho 
Internacional, 1997. 
 
 
Servindo assim, de ―máquina motriz‖ para desenvolver normas obrigatórias nos 
contexto europeu, africano e interamericano. 
Quanto a natureza jurídica, a DUDH não vem a ser um tratado ou um acordo 
internacional, como erroneamente poderíamos pensar, mas sim, uma Resolução da 
Assembleia Geral da ONU de natureza jurídica proclamatória, não passando de uma 
recomendação moral
20
. Portanto, não sendo fonte do Direito Internacional juridicamente 
vinculativa - jus cogens
21
, vem a se tratar de uma declaração política. 
Posicionamento contraditório encontramos na doutrina, pois para muitos 
doutrinadores essa teria sim força vinculante, na media em que é a interpretação 
autorizada da expressão direitos humanos, constate na Carta da ONU; ainda os 
princípios contidos na Declaração são os princípios gerais do direito, e que essa integra 
o direito costumeiro internacional 
22
. 
A esse respeito afirma WEIS que, a proclamação e subscrição da DUDH pelos 
membros das Organizações das Nações Unidas, contudo, não decorre o surgimento de 
direitos subjetivos aos respectivoscidadãos, nem obrigações internacionais dos Estados, 
como entende a doutrina predominante, uma vez que possui natureza jurídica de 
recomendação da Assembleia Geral, com caráter especial, diante de sua solenidade e 
universalidade. Esta circunstância, todavia, não lhe retirou a importância, eis que seu 
conteúdo se refletiu em inúmeros textos constitucionais, tendo originado diversos outros 
tratados internacionais sobre direitos humanos – estes, sim, com força vinculante.23 
Assevera-se que, a ONU a partir da sua declaração, responsável pela concepção 
contemporânea dos direitos humanos, vem criando uma estrutura global para proteção 
dos direitos humanos, bastando somente a condição humana para ser titular dos direitos, 
como: declarações não-compulsórias, tratados legais compulsórios e outras várias ações 
voltadas para o desenvolvimento da democracia e dos direitos humanos. 
 
20 Na terminologia do Dir. Internacional Público, é o vocábulo usado na acepção de conselho ou convite. Assim, 
recomendação exprime o ato pelo qual um órgão consultivo ou deliberativo, de caráter internacional, diante de uma 
pendência entre nações soberanas, ligadas a ele, aconselha ou convida que as partes interessadas dêem à mesma 
pendência certa solução, a fim de que se evitem litígios entre elas. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio 
de Janeiro: Forense, 2001. p. 680. 
21 ―A Convenção sobre o Direito dos Tratados, ao aceitar a noção do jus cogens em seus artos. 53º e 64º, deu outra 
demonstração de aceitação dos preceitos derivados do direito natural. Com efeito, o arto. 53 declara nulo ―o tratado 
que no momento de sua conclusão conflite com uma norma imperativa de Direito internacional geral‖. O arto. 53º 
ainda dá a seguinte definição de jus cogens: ―é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos 
Estados no seu conjunto, como uma norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por 
uma norma de Direito Internacional geral da mesma natureza‖‖. ACCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito 
Internacional Público.14 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 18. 
22 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o Direito Constitucional Internacional. Op. cit. p.137-138. 
23 Cf. WEIS, Carlos. Direitos humanos contemporâneos. São Paulo: Malheiros Editores, 1999. pág. 69. 
Dois desses documentos, que vinheram para prestigiar os direitos dos indivíduos 
de forma direta e complementar ao sistema da Declaração Universal e estabelecer um 
mecanismo jurídico de controle internacional, foram os Pactos Internacionais, de 
natureza jurídica obrigatória, elaborados pelo Comité de Direitos Humanos e adotados 
pela ONU em 1966, são eles: 
i. Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP)
 24
 e o Protocolo Facultativo 
– que entrou em vigor em 23 de Março de 1976, três meses após a data do depósito do 
trigésimo quinto instrumento de ratificação, nos termos do seu art
o
 49, § 1.º. Seu rol de 
direitos civis e políticos é mais amplo que o da própria Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948, além de ser mais rigoroso na afirmação da obrigação dos 
Estados em respeitar os direitos nele consagrados. 
O Protocolo Facultativo, faculta ao Comité de Direitos Humanos, criado pelo 
Pacto, o recebimento de petições de indivíduos reportando violações de seus direitos, 
fundamentando a posição do indivíduo como sujeito de Direito Internacional Público. 
Para que tal petição seja examinada, é necessário que a questão nela discutida não esteja 
sendo examinada perante uma outra instância internacional de investigação ou solução; 
e que o indivíduo em questão tenha esgotado todos os recursos jurídicos internos 
disponíveis.
25
 
ii. Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) - Entrou 
em vigor em 03 de Janeiro de 1976. Garantindo a fixação de parâmetros de proteção 
mínimos para todos os seres humanos e impondo o dever dos Estados-Membros 
apresentarem relatórios sobre as medidas adotadas com vista a assegurar os direitos 
reconhecidos no Pacto
26
. Trazendo um catálogo de direitos muito mais abrangente e 
melhor formulado que o elenco da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 
1948. 
Sendo suas normas de natureza programática, ou seja, o PIDESC reconhece 
direitos aos cidadãos, não estando tais direitos desde já garantidos, ao contrário das 
normas do PIDCP. Por isso, alguns autores defendem que os direitos elencados no 
 
24 Íntegra dos Pactos Internacionais, conhecidos também por Pactos de New York, no site do Alto-Comissariado da 
ONU para Direitos Humanos: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/cescr/index.htm>. Acesso em 10 de maio de 
2010. 
25 Cf. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. ob. cit. p. 518. 
26 Cf. VASAK, Karel. As Dimensões Internacionais dos Direitos do Homem. Lisboa: Livros Técnicos e Científicos, 
1983. pp. 235 e ss. 
PIDESC não podem ser acionáveis perante cortes ou instâncias internacionais. 
Entretanto, entendem outros autores que tais direitos podem ser sim acionáveis.
27
 
PECES-BARBA observa, que esses dois tratados surgiram com a necessidade de 
conferir dimensão jurídica à DUDH, eficácia jurídica que supere a obrigatoriedade 
apenas moral que a representa
28
. 
Ainda sobre os Pactos Internacionais, o Professor Dr. NOVAIS
29
 ressalta um 
aspecto importante quanto a natureza jurídica e a estrutural dos dois catálogos de 
direitos nos âmbitos do Direito Constitucional e do Direito Internacional ao expressar 
que os direitos humanos aparecem no plano do direito internacional com a 
―consideração dos direitos enquanto obrigações de realização que impedem sobre os 
Estados e não como direitos subjetivos públicos do indivíduo face ao Estado‖. 
Surgem ainda as convenções, que se tratam de tratados específicos para os 
diversos sujeitos de direito. As principais convenções no espaço do sistema das ONU de 
proteção dos direitos humanos são: a Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação Racial (1965); Convenção sobre a Eliminação de Todas as 
Formas de Discriminação contra a Mulher (1979); a Convenção contra a Tortura e 
outros Tratamentos e Punições Cruéis, Desumanos e Degradantes (1984); e a 
Convenção sobre os Direitos das Crianças (1989). Estas convenções também contam 
seus respectivos órgãos de vigilância, tais como o Comité para a Eliminação da 
Discriminação Racial, o Comité para a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, o 
Comité contra a Tortura e o Comité sobre os Direitos da Criança, cada um responsável 
pelo monitoramento da respectiva convenção. 
O Professor Dr. ALEXANDRINO ressalta que, o Conselho dos Direitos do 
Homem
30
, mecanismo institucional da ONU, é desprovido de efeito jurídico obrigatório. 
Sendo que as investigações, os relatórios e as resoluções tem um força de censura moral 
e política sobre os Estados que se mostrem violadores de direitos humanos
31
. 
Assevera-se que para a ONU, as disputas devem ser solucionadas por meios 
pacíficos, por vias diplomáticas, tais como sanções econômicas ou políticas, ou 
mediante o uso de uma força coletiva - isolamento e pressão da comunidade 
 
27 Cf. MAZZUOLI, Valério de Oliveira. ob. cit. p. 518. 
28 Cf. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 
29 Cf. NOVAIS, Jorge Reis. Direitos Sociais: teoria dos direitos sociais enquanto direitos fundamentais. Coimbra: 
Coimbra, 2010. p. 37 
30 Ler sobre em: <http://www.un.org/spanish/Depts/dpi/portugues/conselhodh.htm>. Acesso em 28 de junho de 2010. 
31 Cf. ALEXANDRINO, Joséde Melo. Direitos Fundamentais: introdução geral. Estoril: Princípia, 2007. pág. 
internacional. Em troca, cada membro se compromete a não fazer uso da força nem a 
utilizar a ameaça da força contra os objetivos das Organizações das Nações Unidas. 
Como ressalta QUADROS, que a via diplomática, está sendo posta de lado por 
não vir a atender as necessidades para a qual se destina eficaz dentro do DIDH, por não 
produzir os efeitos desejáveis para a proteção do indivíduo contra o próprio Estado 
violado, que vem a se tornar o principal opositor desta relação
32
. 
O que difere dos Sistemas Regionais - europeu, americano e africano – que 
embora tenham iniciado com a mesma natureza, tem vindo a desenvolver-se 
jurisdicionalmente, aumentando a efetividade desses direitos. 
 
2.2 Sistema Regional Europeu de Proteção dos Direitos Humanos 
 
Dentre os sistemas regionais de proteção, o sistema europeu é o mais 
amadurecido e estruturado, vindo a exercer influência sobre os demais sistemas. Este se 
consolidou sob a égide do CoE, organização intergovernamental europeia, criada no 
final da década de 40, que ergue o sistema de proteção dos Direitos Humanos como um 
dos valores ideológicos da Democracia de Direito e do Estado de Direito, fundamentais 
para a cultura europeia. 
Sendo sustentado por duas fontes de direito: a Convenção para a Protecção dos 
Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais(CEDH)
33
 e a Carta Social 
Europeia(CSE), que analisaremos mais a seguir. 
A CEDH desenvolve o mais experiente processo de justicialização
34
 de direitos 
humanos, por meio da assistência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). 
Quer dizer, além de elencar um rol de direitos humanos contidos no Título I – Direitos e 
 
32 Cf. QUADROS, Fausto de. PEREIRA, André Gonçalves. ob. cit., p. 392. 
33 Cf. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ed. Coimbra: Almedina, 2003 – 
―Convenção é hoje considerada, para utilizarmos as palavras do Tribunal Europeu, como um ―instrumento 
constitucional da ordem pública europeia‖‖. p. 521. 
34 Cf. PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e Justiça Internacional. São Paulo: Editora Saraiva. 1ª edição, 2ª 
Tiragem. p. 4. 2007 – ―A justicialização corresponde a efetivação ou materialização da proteção dos direitos. No 
sistema global, a justicialização dos direitos humanos operou-se na esfera penal, mediante a criação de Tribunais ad 
hoc e, posteriormente, do Tribunal Penal Internacional (TPI). Nos sistemas regionais, a justicialização operou-se na 
esfera civil, mediante a atuação das Cortes Européia, Interamericana e Africana‖. 
Liberdades – artos. 2º ao 14, instituiu um sistema de proteção judicial desses direitos e 
liberdades no Título II – Tribunal Europeu dos Direitos do Homem – artos 19 a 51. 35 
Este processo de justicialização avançou com a entrada em vigor do Protocolo nº 
11, em 01 de Novembro de 1998, que inovou especialmente: 
1. unificando dois órgãos envolvidos no controle (Comissão Europeia dos Direitos 
Humanos e o Tribunal Europeu do Direitos Humanos), substituindo-os por um novo 
Tribunal único e permanente; e 
2. suprimindo cláusulas facultativas de aceitação do direito de petição individual, 
conferindo ao indivíduo acesso direto ao Tribunal. 
Tal medida sobrecarregou o sistema, pois países da Europa Central e do Leste 
Europeu, ainda em transição para o Estado Democrático de Direito, que se aliaram na 
Década de 90 ao CE, aumentaram o número de petições individuais. 
Podemos conferir tal problemática, com a análise dos dados estatísticos 
auferidos no site do TEDH, que se refere ao número de ―Pedidos pendentes alocados à 
formação judiciária‖, até a data de 31 de Março de 2010.36 Onde se pode verificar 
através de gráfico a totalidade de pedidos pendentes (124. 650 pedidos), bem como os 
10 (dez) Estados contratantes que mais sofreram pedidos de queixas contra violações de 
direitos humanos previstos na Convenção. Dentre os quais, em ordem crescente, Sérvia 
(3.100 pedidos), Moldávia e Eslovénia (3.500 pedidos cada), Geórgia (4.150 pedidos), 
Polónia (5.500 pedidos), Itália (7.950 pedidos), Ucrânia(10.200), Roménia (10.550 
pedidos),Turquia (14.200 pedidos), Rússia (34.550 pedidos) e Estados remanescentes 
(27.450 pedidos). 
Numa breve análise constatamos que, excetuando a Itália, que compreende parte 
da Europa Ocidental, todos os outros Estados citados fazem parte do Leste Europeu e da 
Europa Central. Onde a fragilidade do tecido institucional e estrutura democrática 
recente não valorizam ainda a preservação de valores éticos da União Européia, 
 
35 Ver Anexo I - Convenção Europeia dos Direitos Humanos já com as modificações introduzidas pelo Prot. n° 14 
(STCE n° 194), entrado em vigor em 1 de Junho de 2010. 
36 Ver Anexo III - Dados estatísticos de pedidos pendentes ao TEDH. Disponível em: 
<http://www.echr.coe.int/ECHR/EN/Header/Reports+and+Statistics/Statistics/Statistical+information+by+yea> 
Acesso em 01 de Maio de 2010. 
nomeadamente em matéria de Direitos Humanos, liberdades fundamentais ou ainda, 
preservação de princípios do Estado de Direito.
37
 
Procurando minimizar tal problemática, que tem sido acentuada pelo acesso 
direito dos indivíduos, a partir da entrada em vigor do Protocolo n.º 11, foi instituído o 
Protocolo n.º 14, que entrou em vigor no dia 01 de junho de 2010
38
. Com o intuito de 
simplificar, buscando maior seleridade para o funcionamento desse sistema de controle. 
Onde podemos destacar as seguintes alterações a CEDH: 
1. Ressalta a regra do esgotamento dos meios jurisdicionais internos, que tem como 
competência o carater complementer e subsidiário do sistema internacional( art
o
. 35, 1); 
2. Critério adicional de admissibilidade das petições individuais, que exige o requisito 
de ―prejuízo significativo‖. Ou seja, as petições seram declaradas inadmissíveis se não 
houver tal prejuízo para as vítimas da violação(art
o
. 35, 3 al. b); 
3. Organização e funcionamento – Juiz singular que terá a competência para rejeitar 
uma petição individual manifestamente inadmissível, cuja decição de indeferimento será 
definitiva(art
o
. 27, 1 e 2); 
4. Processo simples e acelerado para os casos em que já existe jurisprudência firmada na 
matéria(art
o
. 28); 
5. Reforça os poderes do Comité de Ministros – em matéria de execução das decições, 
na qual passa a suscitar questãos de interpretação e a propor uma acção por 
incumprimento contra o Estado que não cumprir um acórdão(art
o
. 46); 
Outras medidas incluem o Protocolo de alterar o prazo dos juízes do mandato do 
atual mandato de seis anos renováveis por mais três, para um único mandato de nove e 
uma disposição de vista de uma eventual adesão dos vinte e sete Estados-Membros 
União Europeia à CEDH(art
o
. 59). 
Um aspecto relevante que não deve ser esquecido é a preocupação da CEDH em 
constantemente atualizar seus posicionamentos, através de seus protocolos, com o 
intuito de contextualizar-se diante das constantes mudanças sociais. 
Outro aspecto que merece destaque é a sustentabilidade consagrada pelo sistema 
europeu de proteção aos direitos humanos, que necessitam da união da tríade - 
 
37 Cf. COSTA, Francisco Seixas da. A PESC e o Alargamento da União Europeia. Identidade europeia, Política 
económica externa. Disponível em:< http://www.ieei.pt/files/Teses_GT_III1.pdf>. Acesso em 23 de Junho de 2010. 
38 Ver Anexo I - Convenção Europeia dos Direitos Humanos com as devidas alterações dos Protocolos n. os 11 e 14. 
Conselho da Europa,Comunidade Europeia e a Convenção Europeia dos Direitos 
Humanos – para alcançar seus objetivos. 
Como bem reforça o posicionamento de VASAK – ―É um fato que os elementos 
supranacionais que contém – direito de recurso individual de natureza jurídica e o poder 
de decisão da Corte – não resistiriam por muito tempo num todo orgânico puramente 
intergovernamental ou que não se subordinasse a um processo de integração jurídica e 
mesmo constitucional. A Convenção necessita de suportes institucionais do Conselho 
da Europa e político da Comunidade Europeia‖39. 
No campo do DIDH, a Convenção constitui um importante marco para o 
desenvolvimento dos direitos humanos, pois primeira vez, Estados soberanos aceitam 
obrigações juridicamente vinculantes no sentido de garantir direitos humanos clássicos 
a todas as pessoas em sua jurisdição e permitir a todos os indivíduos, incluindo seus 
nacionais, o direito de sujeitar casos contra os próprios Estados, que poderão ensejar 
decisões vinculantes proferidas por um tribunal internacional, na eventualidade de 
ofensa de direitos. 
 
2.2.1 Valores 
A Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo, reunida em Estrasburgo em 
1997, definiu os objetivos que considera prioritários para a Europa do Século XXI, e 
atribuindo para o CE a tarefa de ―construir uma sociedade europeia mais livre, mais 
tolerante e mais justa, baseada nos valores comuns tais como a liberdade de expressão e 
de informação, a diversidade cultural e a igual dignidade para todos os seres 
humanos‖40. 
MARTINS relata em sua obra
41
, que o DIDH exprimir valores comuns, que 
devem ser adotados pela CEDH, e que devem constituir a base de todos os sistemas e 
sociedades.
 
São eles: 
i. Liberdade de Expressão e de Informação 
 
39 Cf. VASAK, Karel. ob.cit. p. ????? 
40 CONSELHO DA EUROPA. Centro de Informação sobre os Direitos do Homem. O Conselho da Europa e a 
proteção dos direitos do homem. Fevereiro 2000. Disponível em: <http://www.humanrights.coe.int > Acesso em 22 
de Abril de 2010. p. 30. 
41 Cf. MARTINS, Ana Maria Guerra. As Garantias Jurisdicionais dos Direitos Humanos do Direito Internacional 
Regional. In: Estudos Jurídicos e Econômicos em Homenagem ao Prof. Doutor António de Sousa Franco. Vol. I 
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Coimbra: Coimbra, 2006. 
Entendemos por liberdade, juridicamente falando, a faculdade ou o poder 
outorgado à pessoa que possa agir segundo sua própria determinação, respeitadas, no 
entanto, as regras legais instituídas.
42
 
O conceito de liberdade nos remete diversas liberdades concretas, as liberdades 
inerentes ao ser humano. Dentre elas podemos citar: liberdade de pensamento, de 
opinião, de expressão e de informação; liberdade de consciência, de crença e de 
religião; liberdade de circulação, de estabelecimento e de escolha do local onde se 
deseja viver; liberdade de reunião e de associação; liberdade de intervir na vida pública, 
de escolher os governantes, de participar dos processos de decisão, de controlar o 
exercício do poder. 
No caso da liberdade de expressão e de informação, podemos encontrar sua 
previsão legal no art
o
. 19 da DUDH, que expressa: ―Todo o indivíduo tem direito a 
liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas 
suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, 
informações e ideias por qualquer meio de expressão.‖ 
ii. Diversidade Cultural 
 A miscelânea de culturas não é um elemento novo na constituição da Europa, 
que conserva suas raízes nas sucessivas migrações intracontinentais, da redefinição das 
fronteiras, do colonialismo e dos impérios multinacionais. Ao longo dos últimos 
séculos, a sociedade se baseou nos princípios do pluralismo político e da tolerância, que 
permitiram viver essa diversidade, sem riscos para a coesão social. Assevera-se que nas 
últimas décadas, a diversidade cultural acelerou, pois a Europa atraiu migrantes e 
requerentes de asilo do mundo inteiro a procura de uma vida com condições melhores.
43
 
 Diante das constantes modificações sociais, a CEDH achou por bem acolher 
através do TEDH, o reconhecimento do pluralismo baseado na aceitação e no respeito 
genuínos da diversidade e da dinâmica das tradições culturais, das identidades étnicas e 
culturais, das convicções religiosas e das ideias e conceitos artísticos, literários e 
 
42 Cf. SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 490. 
43 CONSELHO DA EUROPA. Livro Branco sobre o Diálogo Intercultural: viver juntos em igual dignidade. 
Ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho da Europa por ocasião da sua 118.ª reunião ministerial. 
Estrasburgo, 7 de Maio de 2008. p. 18 
socioeconómicos‖ e que, por outro lado, ―é essencial haver uma interacção harmoniosa 
entre pessoas e grupos de identidade diferente para a preservação da coesão social‖. 44 
Contudo, se faz necessário adotar medidas proactivas, estruturadas e 
amplamente partilhadas, com vista a gerar a diversidade cultural. Dentre as quais 
podemos destacar: a Convenção Cultural Europeia, que reconhece o património cultural 
comum do continente e a necessidade da aprendizagem intercultural; a Convenção 
Europeia sobre a Televisão Transfronteiras, que sublinha a importância da radiodifusão 
para o desenvolvimento da cultura e para a livre formação de opiniões; a Convenção-
Quadro do Conselho da Europa relativa ao Valor do Património Cultural para a 
Sociedade, que define como o conhecimento do património cultural pode favorecer a 
confiança e a compreensão.
45
 
iii. Igual dignidade para todos os seres humanos. 
O valor da igual dignidade entre os indivíduos está destacado na DUDH, em seu 
art
o
.I, que expressa:‖Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. 
São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito 
de fraternidade.‖ 
 A CEDH estabeleceu o compromisso do pós-guerra ao respeito pela dignidade 
humana criando o TEDH, cuja jurisprudência interpreta a Convenção à luz das 
condições actuais. O Protocolo n.º 12 à Convenção contém uma proibição geral da 
discriminação
46
. 
A CSE enuncia expressamente que os direitos sociais por ela definidos devem 
ser aplicados a todos, sem discriminação. A Declaração sobre a Igualdade das Mulheres 
e dos Homens afirma que a discriminação fundada no género, em todos os domínios, 
constitui um entrave ao reconhecimento, usufruto ou exercício dos direitos humanos e 
das liberdades fundamentais. O direito dos trabalhadores migrantes a um tratamento não 
menos favorável do que o que é dado aos nacionais dos Estados membros está 
 
44 Cf. Gorzelik e Outros c. Polónia (Grande Secção), Acórdão n.º 44158/98 de 17 de Fevereiro de 2004. 
45 CONSELHO DA EUROPA. Livro Branco sobre o Diálogo Intercultural: viver juntos em igual dignidade. ob. cit. 
p. 19 
46 Trecho Protocolo nº 12 – ―Na Europa, os direitos humanos são protegidos por intermédio de um instrumento legal 
internacional sem paralelo, a Convenção Europeia dos Direitos do Homem — que não se limita a definir os direitos 
humanos de que goza a pessoa, mas estabelece igualmente um sistema de natureza jurídica destinado a assegurá-los 
na prática. Mas apesar disso, algumas categorias de cidadãos europeus continuam a ser discriminados ao nível 
nacional. Na verdade, em vários Estados-Membros do Conselho da Europa — e mesmo em países que integram a 
União Europeia —, lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais continuam a ser discriminados como grupo,em alguns 
casos com fundamento na própria Lei.‖ 
expressamente reconhecido na Convenção Europeia Relativa ao Estatuto Jurídico do 
Trabalhador Migrante.
47
 
A possibilidade da União Europeia aderir a CEDH (art
o
. 59 2)
48
 fortificará estes 
valores dentro do sistema europeu. Pelo fato desta já fundamentar-se com a proposta da 
Convenção, nos valores de respeito da dignidade humana, de liberdade, de democracia, 
de igualdade, de Estado de Direito e de respeito dos direitos do Homem. 
Valores esses, que são enunciados no art
o
. I-2.°, ―são comuns aos Estados-
Membros‖. Além disso, as sociedades dos Estados-Membros caracterizam-se pelo 
pluralismo, pela tolerância, pela justiça, pela solidariedade e pela não discriminação. 
Estes valores desempenham um papel importante, nomeadamente em dois casos 
concretos, são eles: o respeito destes valores constitui uma condição prévia para a 
adesão de qualquer novo Estado-Membro à União, de acordo com o procedimento 
enunciado no art
o
. I -57.°; e o incumprimento destes valores pode conduzir à suspensão 
dos direitos de membro da União em relação a um Estado-Membro (art
o
. I -58.°) 
49
. 
 Percebemos que ao estabelecer valores comuns, os entes governamentais e 
intergovernamentais da Europa, procuram partilhar um futuro comum, sendo necessário 
para este feito, que todos tomem conhecimento da necessidade de respeitar uns aos 
outros. Com o escopo de fortalecar a conquita de consciência, a liberdade de informação 
e expressão, a igualdade e valorização da identidade e diversidade culturais da Europa, 
encontrando a melhor maneira de viver em conjunto no seio de uma única sociedade, a 
europeia. 
 
2.2.2 Normas 
A Convenção para a protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades 
Fundamentais, mais conhecida como Convenção Europeia dos Direitos do Homem 
(CEDH), assinada em Roma em 4 de Novembro de 1950, passando a vigorar em 03 de 
Setembro de 1953, sob a égide do CoE, que criou o mais aperfeiçoado sistema de 
protecção de direitos a nível internacional, proporcionando às pessoas o benefício de um 
 
47 CONSELHO DA EUROPA. Livro Branco sobre o Diálogo Intercultural: viver juntos em igual dignidade. ob. cit. 
p. 19. 
48 CEDH – arto. 59°Assinatura e ratificação - 2. A União Europeia poderá aderir à presente Convenção. (Alteração 
advinda do Protocolo n. 14, 01 de Junho de 2010). 
49 Princ. fundamentais da União – Site: < http://europa.eu/scadplus/european_convention/objectives_pt.htm>. Acesso 
28 de junho de 2010. 
controlo judicial do respeito dos seus direitos civis e políticos - Direito à vida, a não ser 
submetido à tortura, à liberdade de expressão, e os direitos à liberdade e a julgamento 
justo. 
Quanto a natureza jurídica da CEDH, trata-se de tratado multilateral normativo 
que constituem fonte fundamental dos direitos humanos no plano internacional, 
dotados, pois, de força normativa vinculante. Encontrando-se, por isso, sujeito as regras 
impostas, salvo disposição em contrário, ao Direito Comum dos Tratados.
50
 Cuja 
ratificação dos Estados obriga-os juridicamente a cumprir e respeitar as normas de 
direitos nela previstos e a integrá-los no seu Direito Interno (art
o
. 46 1)
51
. 
Cabendo ao Estado tomar as medidas necessárias para remediar as 
consequências da violação de que foi reconhecido culpado. Se o seu direito interno não 
permite apagar totalmente as consequências da violação, o Tribunal pode condená-lo a 
pagar indenização financeira à parte lesada. Para evitar a reiteração da violação da 
CEDH e suas consequências, o Estado vê-se geralmente na obrigação de introduzir 
alterações nas respectivas legislações ou práticas de modo a garantir no futuro o respeito 
do direito em causa.
52
 
Assim sendo as decisões do Tribunal comportam efeitos cujo alcance transcende 
a especificidade dos casos submetidos. Cuja jurisprudência, pela sua continuidade e 
coerência, exerce efeitos preventivos, dissuadindo as autoridades nacionais, colocadas 
perante a perspectiva de sanções internacionais, de agir contra as disposições da CEDH. 
Podemos ainda ressaltar que as sentenças do TEDH possuem autoridade de caso 
julgado para o Estado em questão. Ou seja, a sentença tem força de res judicata, não 
vindo a produzir efeitos erga omnes. Nos termos do art
o
. 53.º da CEDH
53
, a sentença é 
obrigatória para o Estado, no qual espontaneamente lhe dar imediata e automática 
execução, isto é, característica do processo de celebração em tratados internacionais, 
tratado self-executing. 
 
50 Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/dai/dtrat.htm>. 
Acesso em 10 de Maio de 2010. 
51 CEDH – arto. 46.º Força vinculativa e execução das sentenças 1. As Altas Partes Contratantes obrigam-se a 
respeitar as sentenças definitivas do Tribunal nos litígios em que forem partes. 
52 Desde que o Estado haja reconhecido a jurisdição do TEDH – artos. 46 e 50 do Regulamento do TEDH. 
53 CEDH – Princípio da boa-fé - arto. 53 Salvaguarda dos direitos do homem reconhecidos por outra via Nenhuma das 
disposições da presente Convenção será interpretada no sentido de limitar ou prejudicar os direitos do homem e as 
liberdades fundamentais que tiverem sido reconhecidos de acordo com as leis de qualquer Alta Parte Convenção 
Europeia dos Direitos do Homem Contratante ou de qualquer outra Convenção em que aquela seja parte. 
Citamos ainda, como exemplo, o país da Dinamarca que veio a alterar a lei 
relativa à guarda de crianças fora do casamento; o da Suécia modificou a lei relativa à 
obrigatoriedade da educação religiosa; e, Grécia modificou a lei sobre prisão preventiva. 
Assevera-se que a CEDH visa proteger direitos ―não teóricos ou ilusórios, mas 
concretos e efetivos‖54. Uma coisa é a afirmação dos direitos humanos, outra é a 
garantia do seu respeito e a sanção para o seu incumprimento. 
Segundo ALVES, o art
o
. 1º da CEDH
55
, consagra a doutrina de que os Estados 
têm obrigações positivas - inerentes ao respeito efetivo da mesma, nomeadamente 
quanto aos direitos intitulados no Título I, podendo escolher os meios necessários para o 
efeito ou para dar cumprimento a um acórdão. Efeitos estes, jurídicos verticais – O 
particular face ao Estado. Como num contrato, comprometem-se a respeitar e a fazer 
respeitar a presente CEDH. 
Ao criar obrigações positivas ou obrigações de fazer(dever de proteger e de 
garantir)
56
 para os Estados, impõem-lhes a realização de medidas proativas que visem a 
efetiva concretização dos direitos garantidos. Vindo a obrigação positiva a se desdobrar 
em obrigação positiva processual de realizar um inquérito efetivo para descobrir os 
culpados e puní-los pela violação dos direitos materiais. 
A CEDH, cria ainda efeitos jurídicos horizontais, pelo menos indiretamente, - o 
particular face a outro particular - devendo o Estado está atento às violações cometidas 
por particulares. O Estado não pode cruzar os braços, abstendo-se de agir ou mantendo 
legislação em vigor que favoreça a violação pelos particulares. 
Considerando que os direitos civis e políticos e os direitos económicos, sociais e 
culturais são interdependentes e formam um conjunto indivisível de princípios nos quais 
devem resguardar as democracias europeias, o CoE adotou em Turim, no dia 18 de 
Outubro de 1961, a Carta Social Europeia (CSE)
57
, congregando atualmente 30(trinta) 
 
54 Arestos de 24.7.1968, no caso ―lingüístico belga‖, série A, nº 6, p. 31, §§ 3 in fine e 4; Golder vs. Reino-Unido, de 
25.2.1975, série A, nº 18,p. 18, § 35 in fine; Luedicke, Belkacem e Koç, de 28.11.1978, série A, nº 29, p. 17-18, § 
41; Marckx, de 136.1979, série A, nº 31, p. 15, § 31, apud Bertrand Fravreau, Aux sources du procès équitable: une 
certaine idée de la qualité de la Justice, in Le procés équitable, cit., p. 11 e nota 3. 
55 CEDH – arto. 1º Obrigação de respeitar os direitos do homem As Altas Partes Contratantes reconhecem a qualquer 
pessoa dependente da sua jurisdição os direitos e liberdades definidos no título I da presente Convenção. 
56 Cf. WEIS, Carlos. O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Disponível em: < 
http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/textos/tratado06.htm>. Acesso em 15 de Maio de 2010. 
57 Importante para o sistema europeu proteção dos direitos humanos. Também de acordo, MOCO, Marcolino. 
Direitos Humanos e seus Mecanismos de Proteção: as particularidades do sistema africano. Coimbra: Almedina, 
2010. pág. 87; ALMEIDA, Francisco Fereira. Direito Internacional Público. 2ed. Coimbra: Coimbra, 2003. p.342; 
MARTINS, Ana Maria Guerra. Direito Internacional dos Direitos Humanos. Coimbra: Almedina, 2006. p. 267; 
países
58
, revisada em 03 de Maio de 1996 e passando a vigorar na ordem internacional a 
partir do dia 01 de Setembro de 1999. 
Como já dito surgiu para tratar dos direitos económicos, sociais e culturais. 
Tendo menor força e prestígio do que a sua equivalente na área de direitos civis e 
políticos, a CEDH. Sendo considerada um instrumento político que estabelece 
obrigações morais com o objectivo de assegurar o respeito por determinados direitos 
sociais nos Estados. Entende-se por obrigações morais, aquelas que encontra seu 
principal fundamento nas normas morais, podendo não serem cumpridas, sem sofrer 
nenhum tipo de sanção objetiva em caso de inadimplência . É, portanto, uma obrigação 
inexigível, por carecer da proteção. 
A CSE desde então, foi alterada por Protocolos Adicionais
59
, que reestruturaram 
a Carta com o objetivo de garantir uma série de direito fundamentais dentre os quais um 
número mínimo deve ser aceito pelos Estados. 
Tais direitos podem ser relacionados em duas categorias: 
i. Condições de emprego – não discriminação no emprego, proibição do trabalho 
forçado, direito sindical, direito à negociação coletiva, direito a condições de trabalho e 
a uma remuneração justa entre homems e mulheres para um trabalho de valor igual, 
inserção de pessoas com deficiência no mundo do trabalho, proibição de trabalho das 
crianças com idade inferior a 15(quinze) anos e proteção entre os 15(quinze) e 
18(dezoito) anos, proteção a maternidade, igualdade de tratamento para os trabalhadores 
migrantes, direito à orientação e à formação profissional; e 
ii. Coesão social - direito à saúde, à segurança social, à assistência social e médica, ao 
benefício dos serviços sociais, direito das crianças e dos adolescentes à proteção contra 
os perigos físicos e morais, direitos das famílias e dos indivíduos que delas são 
membros a uma proteção jurídica, social e económica, direito dos trabalhadores 
migrantes e das suas famílias à proteção e à assistência, direito das pessoas idosas à 
proteção. 
 
FERNANDES, António José. Direitos Humanos e Cidadania Europeia: fundamentos e dimensões. Coimbra: 
Almedina, 2004. p. 56; e Resolução n. 32/130 da Assembléia Geral das Nações Unidas. 
58 Ver Anexo V - Assinaturas e ratificações da Carta Social Europeia, seus protocolos e na Carta Social Europeia 
(revista). Situação em 03 de março de 2010. Acesso em 26 de junho de 2010. 
59 Protocolo Adicional à Carta Social Europeia prevendo um Sistema de Reclamações Colectivas, de 9 de Novembro 
de 1995; Protocolo de Alterações à Carta Social Europeia, de 21 de Outubro de 1991. 
O magistrado português Dr. João Ramos Souza, fala que a dificuldade da CSE 
obter um número significativo de adesões, bem como pelas dificuldades práticas de sua 
efetivação, tais direitos não se beneficiaram do mecanismo de proteção instituído a 
favor dos direitos civis e políticos
60
. 
Como ressalta ainda, o juiz da Corte Internacional de Justiça, Antônio Augusto 
Cançado Trindade, sobre a justiciabilidade dos direitos económicos, sociais e culturais – 
―Apesar de negligenciado no passado, esses direitos veem ganhando força através da 
pressão internacional. Pois a realização plena dos direitos civis e políticos seria 
impossível sem a efetivação dos Dir. Econ-Sociais e Culturais‖61. 
 
2.2.3 Estrutura de Proteção 
Conselho da Europa é uma organização internacional com personalidade jurídica 
reconhecida pelo direito internacional público e tem status de observador junto da 
Organização das Nações Unidas
62
. 
Instituída em 1949 – com 47 (quarenta e sete) países - possui o objetivo de 
realizar a união entre seus membros, a fim de salvaguardar e de promover os ideais e os 
princípios que são o seu património comum, bem como favorecer o seu progresso 
económico e social. 
A CEDH inovou em seu aspecto institucional, uma reestruturação orgânica nos 
mecanismos de controle, devido alterações advindas do Protocolo nº 11, que resultaram: 
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem – Órgão jurisdicional – Foi instituído 
pela CEDH para assegurar o respeito das obrigações dela resultante para as partes 
contratantes. 
Comité de Ministros do CoE – Órgão político - desempenha a função de 
guardião do TEDH de forma a garantir o pleno cumprimento das decisões da Corte 
 
60 Cf. SOUZA, João Ramos. Escutas telefónicas em Estrasburgo: o activismo jurisprudencial do Tribunal Europeu 
dos Direitos Humanos. Direitos Humanos no Tribunal Europeu. Sub Judice: Justiça e Sociedade. Vol. 28. 
Abril/Setembro. Out/2004. DocJuris: Viseu, 2004. p. 47. 
61 Cf. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A Justiciabilidade dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais no 
Plano Internacional. 
62 Cf. QUADROS, Fausto de. PEREIRA, André Gonçalves. ob. cit., p.598 - ―O Conselho da Europa é, portanto, uma 
Organização intergovernamental, com a finalidade específica de cooperação política entre os seus membros, e de 
âmbito regional, dado que só está aberto a Estados europeus.‖ 
perante os Estados violadores, porém deixa de discutir casos que o Tribunal não 
conheceu. Como fazia anteriormente (art
o
. 46-2)
63
. 
Nesta função, do Comité de Ministros, dois problemas são levantados, já que o 
Tribunal não especifica limites, e nem prazos, para remediar a violação: 
i. Morosidade dos Estados em alterar a legislação que violou a CEDH; 
ii. Eficácia da nova legislação alterada, não podendo esta ser testada pelos órgãos da 
CEDH, a não ser através da consideração de petições subsequentes alegando violação 
da CEDH. 
Quanto as sanções aos Estados violadores, temos a ameaça de publicação e ou 
retirada ou expulsão do Conselho, sendo as únicas outras sanções contra os Estados não 
cumpridores. Podemos citar, por exemplo, o caso da Grécia, que foi o único Estado 
contra quem este poder de expulsão foi exercido
64
. 
 
2.2.4 Mecanismos de Controle 
Convenção Europeia dos Direitos Humanos é o instrumento; e o Tribunal 
Europeu dos Direitos Humanos é a efetivação. Que não pode agir por sua própria 
iniciativa, mas unicamente a pedido de um particular, de um grupo de indivíduos ou 
ainda de uma Organização não-governamental(ONG) que se sintam vítimas dos Estados 
contratantes – Queixa individual (arto. 34), ou entre Estados contratantes da Convenção 
– Queixas interestaduais (arto. 33). 
Após este primeiro momento de apresentaçãodas queixas, o TEDH analisa a 
decisão sobre sua admissibilidade (art
os
. 29 e 35), vindo a propor o estabelecimento dos 
fatos, na busca de uma solução amigável com base no respeito dos direitos humanos 
(art
os
. 38 e 39). Não sendo possível esta tentativa de conciliação, a causa segue para uma 
decisão do TEDH. Decisão esta, que será velada em sua execução pelo Comité de 
Ministros (art
os
. 46-2). 
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos opera independentemente das 
jurisdições dos Estados partes na Convenção, para as quais não representa um tribunal 
de última instância mas uma jurisdição que interpreta o direito ou a prática interna 
 
63 CEDH - arto. 46-2 Força obrigatória e execução das sentenças. 2 – A sentença definitiva do Tribunal será 
transmitida ao Comitê dos Ministros, que valerá a execução. 
64 Admitida em 1949, e saído em 1969 . Golpe dos Coronéis da Grécia que formulam um golpe de Estado. 
contestadas exclusivamente do ponto de vista da sua compatibilidade com a CEDH, 
sendo esta de aplicação subsidiária – Necessidade de se esgotados todos os recursos em 
âmbito interno. (Ou a queixa não é útil e não é recebida em Estrasburgo – FERREIRA) 
O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos verifica se, nas circunstâncias do 
caso, houve ou não violação das disposições da CEDH. Já que se apresenta como único 
tribunal internacional com jurisdição para lidar com casos trazidos por indivíduos (ao 
invés de Estados). Assegurando o respeito dos compromissos subscritos pelas Altas 
Partes Contratantes (art
o
. 19).
65
 
Este mecanismo está em constante evolução e a CEDH retira uma grande parte 
de sua vitalidade da interpretação do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Que está 
composta por um número de juízes igual ao dos Estados membros do Conselho da 
Europa. 
Corroboro com o posicionamento de SIOBHAN LEONARD, ao afirmar que a 
maior contribuição do Tribunal deve-se ao respeito pelos direitos humanos a que deu 
origem por toda a comunidade europeia. Onde, como exemplo, podemos citar as 
mudanças legislativas e administrativas como reação as sentenças adversas do Tribunal, 
em matérias tão diversas como: a discriminalização da atividade homossexual – Irlanda 
do Norte; Escutas telefónicas, limitação na interferência do Estado na correspondência 
de detidos e proibiu os castigos físicos nas escolas públicas – Reino Unido.66 
Diversas outras alteração foram tomadas neste sentido, dentre os quais podemos 
destacar: alteração no Código de Processo Penal austríaco na parte que respeita o 
tratamento de reclusos hospitalizados e todo o mecanismo de assistência judiciária; 
alteração do Código Civil belga com vista a reconhecer os mesmos direitos tanto às 
crianças ilegítimas como às crianças legítimas; alteração da relativa a guarda de crianças 
fora do casamento, na Dinamarca; introdução de disposições no novo Código de 
Processo Penal italiano para tornar obrigatória a presença do advogado de defesa nos 
processos judiciais, incluído no Supremo Tribunal.
67
 
Outro mecanismo de proteção é a Inspeção Contínua. Baseia-se num sistema 
de visitas efetuadas pelo Comité de Peritos Independentes, que provêm de diversos 
 
65 CEDH – arto. 19 Criação do Tribunal A fim de assegurar o respeito dos compromissos que resultam, para as Altas 
Partes Contratantes, da presente Convenção e dos seus protocolos, é criado um Tribunal Europeu dos Direitos do 
Homem, a seguir designado "o Tribunal", o qual funcionará a título permanente. 
66 Cf. HEGARTY, Angela. LEONARD, Siobhan. Human Rights an Agenda for the 21st. Century. Trad. João C. S. 
Duarte. Lisboa: Instituto Piaget, 1999. p. 65-70 
67 CONSELHO DA EUROPA. p. 12. 
setores - Comité Europeu para a Prevenção da Tortura e de Penas ou Tratamentos 
Desumanos ou Degradantes – aos locais onde as pessoas se encontram privadas de 
liberdade por uma autoridade pública – prisões, centro de menores, quartéis, hospitais 
psiquiátricos. Objetivo da visita é avaliar o modo como são tratados e propor 
melhoramentos. O Comité notifica o Estado a intenção de efetuar a visita, não sendo 
obrigado a indicar a data da mesma. 
No caso do controle da aplicação da CSE, com as devidas alterações do 
Protocolo de 1991, o mecanismo baseia-se nos relatórios semestrais
68
 sobre a aplicação 
da Carta, com observações dos parceiros sociais e das ONG’s, que os governos 
submetem ao Comité Europeu dos Direitos Sociais. Comité este, que aprecia de um 
ponto de vista jurídico, a conformidade das legislações e práticas nacionais com as 
obrigações previstas na Carta. 
Seguindo posteriormente para o Comité Governamental, que prepara as decisões 
do Comité de Ministros, selecionando as situações que deveriam ser objeto de 
recomendações. E por fim, neste processo, o Comité de Ministros adopta uma resolução 
após cada ciclo de controle, transmitindo recomendações aos Estados em causa para que 
adaptem as suas legislações e práticas nacionais à Carta.
69
 
O Protocolo Adicional de 1998, veio a acrescer ao controle da aplicação da 
Carta, o mecanismo de queixas coletivas, que passou a permitir a participação de 
organizações internacionais de empregadores e de trabalhadores, organizações nacionais 
representativas de empregadores e trabalhadores, organizações internacionais não 
governamentais que constam da lista elaborada pelo Comité Governamental e 
organizações nacionais não governamentais representativas competentes em áreas 
abrangidas pela Carta. 
Estes apresentam suas queixas ao Comité Europeu dos Direitos Sociais, que 
decide sobre a admissibilidade da queixa, elaborando um relatório contendo um parecer 
sobre a existência ou não de violação da Carta por parte do Estado em causa. Por fim, o 
Comité de Ministros, em caso de violação, assumir uma recomendação dirigida à Parte 
 
68 Cf. DUARTE, Maria Luísa. A Convenção Europeia dos Direitos do Homem – a matriz europeia de garantia dos 
direitos fundamentais. In João Mota de Campos (coord.). Organizações Internacionais. 3ed. Fundação Calouste 
Gulbenkian, 2008. p. 636. 
69 CONSELHO DA EUROPA. p. 15. 
Contratante em causa. Não havendo violação, adota uma resolução para pôr termo ao 
processo.
70
 
Quanto a funcionalidade da Carta, muito embora a natureza da recomendação 
seja meramente persuasiva e careça de mecanismos sancionatórios, vislumbra-se a 
possibilidade de cumprimento espontâneo por parte dos Estados contratantes que 
vinherem a violar tais direitos, vindo então a comunicar ao Comité de Ministros as 
alterações que adotaram no intento da recomendação.
71
 
Outro exemplo que podemos citar é o realizado pelo Comité Director para a 
Igualdade entre Homens e Mulheres (CDEG). Que se trata da ação do Conselho de 
Europa que promove o temática promovendo conferências ministeriais, organizando 
seminários e publicando estudos sobre questões relativas a igualdade. Bem como, 
proteção de mulheres contra violência, luta contra o tráfico de seres humanos com vista 
a exploração sexual, integração da igualdade nas políticas e programas.
72
 
Vários são os instrumentos de proteção aos direitos humanos que agrupam 
obrigações e conteúdos de naturezas diversas: alguns são suscetíveis de aplicação 
imediata, outros são programáticos. Essa afirmação é indispensável para que se 
possamos compreender a natureza jurídica das obrigações de direitos humanos e 
determinar esses direitos como de validade erga omnes, sendo obrigações integrais, 
objetivas e inderrogáveis no sentido de que são reconhecidos em relação ao Estado, mas 
também necessariamenteem relação a outro grupo de pessoas ou instituições que 
poderiam impedir o seu exercício. 
Demonstra uma grande lacuna o fato dos instrumentos internacionais serem 
direcionados principalmente para a prevenção e punição de violações de direitos 
humanos praticada pelo Estado, seus agentes e órgãos, deixando de lado a prevenção e 
punição de violações de direitos humanos cometidos por particulares. 
Para TRINDADE, o Estado é responsável por omissão, ou seja, por não tomar as 
medidas positivas de proteção. Além do Estado, acredita-se que podem as organizações 
internacionais, as empresas multinacionais, órgãos de comunicação, os grupos 
 
70 CONSELHO DA EUROPA. p. 15. 
71 Cf. DUARTE, Maria Luísa. ob. cit., 637 
72 Ver Anexo II - Relação dos demais Comités e Comissões do Conselho da Europa. 
guerrilheiros ou terroristas e os delinqüentes comuns em relações inter-individuais (e.g. 
violência doméstica) cometerem violações aos direitos humanos
73
. 
Vale destacar que a obrigação de respeitar-fazer respeitar ou assegurar-garantir 
todos os direitos humanos ratificada em alguns tratados internacionais, pode ser 
interpretada como o dever dos Estados-Membros para prevenir e evitar que os direitos 
de uma pessoa possam ser violados por outrem; e em caso afirmativo pressupõe-se a 
obrigação de punir. 
Ainda neste aspecto, a negligência na prevenção da violação e na aplicação da 
punição constitui uma infração das obrigações asseguradas pelo Estado em causa de 
direitos humanos. À vista que referida obrigação, neste caso a obrigação penal, resulta 
do fato de que toda pessoa tem o direito de viver sem temer violência que deve ser 
evitada pelo Estado, devendo este se utilizar de todos os meios possíveis, com o intuito 
de coibir tais atos.Se o fato ilícito não acarretar inicialmente a responsabilidade 
internacional do Estado – por ter sido praticado por particular – mas não o exime da 
falta de diligência para preveni-lo e garantir uma punição de responsabilidade das 
instâncias judiciais nacionais. 
Por fim, cabe ressaltar que a existência de órgãos internacionais de direitos 
humanos voltados para a sua proteção respeita à necessidade de proporcionar uma 
instância superior na qual os indivíduos possam evocar quando seus direitos tiverem 
sido violados por órgãos ou agentes estatais. Contudo, esses órgãos internacionais 
também estão investidos no papel de supervisionar o respeito às obrigações assumidas 
pelos Estados-Membros nessa matéria, que implicam deveres jurídicos de tomar 
providências positivas para investigar, prevenir e punir as ofensas dos direitos humanos. 
 
 
 
 
 
 
73 CANÇADO TRINDADE. Antônio Augusto. Universalismo e Regionalismo nos Direitos Humanos: o papel dos 
organismos internacionais na consolidação e aperfeiçoamento dos mecanismos de proteção internacional. Anuário 
Hispano-Luso-Americano de Derecho Internacional. 13. Madrid: Instituto Hispano-Luso-Americano de Derecho 
Internacional, 1997. 
Capítulo 03 
A Natureza Jurídica dos Direitos Humanos 
 A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter 
direitos. 
Hannah Arendt, As origens do totalitarismo 
 
Ao questionarmos sobre a natureza de uma coisa qualquer, estamos buscando 
analisar a estrutura mais íntima que constitui um ser
74
. Diante disto, propomos uma 
reflexão desta questão tendo como pano de fundo os direitos humanos. Em que 
consistem tais direitos? O que são e onde reside a sua essencialidade? 
Não devemos esquecer que ao falar sobre a natureza dos direitos humanos 
estamos nos referindo a um dos conceitos mais abrangentes e controversos da doutrina 
jurídica, pelo fato de possuir uma vasta gama de doutrinadores com pensamentos 
completamente distintos a cerca do tema. 
Conceituar então, a natureza jurídica dos direitos humanos se torna abrangente 
pela diversidade de posicionamentos encontrados na doutrina. Onde para alguns, os 
direitos humanos são simplesmente direitos subjetivos; onde para outros são direitos 
subjetivos, emanados diretamente das normas positivas e somente adquirem valor 
jurídico ao serem reconhecidas pelo Estado. 
Outros ainda, que consideram os direitos humanos como valores; ou ainda como 
princípios gerais de direito; enquanto para outros são faculdades de poderes nascidos de 
normas objetivas previamente existentes nos ordenamentos estatais, que lhes são 
impostas obrigando o seu reconhecimento, com sentido de direito natural clássico ou 
simplesmente como direito objetivo numa concepção mais atual
 75
. 
 
3.1 Concepções doutrinárias acerca da natureza jurídica dos direitos humanos 
Oportuno é o posicionamento de MORÁN, ao expressar a impossibilidade na 
prática, de levar em consideração todas as soluções propostas pelos diferentes 
 
74 Natureza. Na terminologia jurídica, assinala, notadamente, a essência, a substância ou a compleição das coisas. In: 
SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2001. p. 550. 
75 Cf. MORÁN, Narciso Martínez. Naturaleza y Caracteres de los Derechos. In: Introducción al Estudio de los 
Derechos Humanos. Org. Benito de Castro Cid. Madrid: Universitas. p. 109. 
doutrinadores. Salientando que apesar da enorme dificuldade, é conveniente analisar 
criticamente as principais concepções doutrinárias elaboradas sobre a temática, 
limitando-se a abordar os posicionamentos mais significativos acerca da natureza dos 
direitos fundamentais. 
Analisemos então, tais concepções jurídicas para melhor podemos apresentar 
nosso próprio posicionamento. 
 
3.1.1 Concepção Jusnaturalista 
A concepção jusnaturalista é aquela tradicionalmente adotada por aqueles que 
defendem a plena validade jurídica dos direitos humanos como faculdades intrínsecas 
do homem, independente de sua positivação. Direitos do homem como imperativos do 
Direito natural, anteriores e superiores à vontade do Estado. 
Como ressalta CANOTILHO, ―direitos do homem são direitos válidos para 
todos os povos e em todos os tempos(dimensão jusnaturalista-universalista)‖, ou seja, 
―os direitos do homem arrancariam da própria natureza humana e daí o seu caráter 
inviolável, intemporal e universal‖76 
Por tanto, segundo esta teoria existem direitos fundamentais de caráter universal 
e superior ao ordenamento jurídico positivo, dotados de plena juridicidade, que são 
válidos por si mesmos, independentemente de estarem ou não abrangidos pelas normas 
jurídicas estatais. Ou seja, são direitos naturais, inerentes à pessoa humana. Onde o 
Estado não os criaria, apenas reconhece esses direitos preexistentes, que são decorrentes 
da própria condição humana 
 Estes direitos devido a prioridade que ostentam e a sua situação num plano 
superior estão dotados de uma pretensão de validade positiva e carecem ser positivados 
pelos ordenamentos estatais, sob receio de incorrer em ilegitimidade e em 
desqualificação do que a atualidade considera autêntico Estado Democrático de 
Direito
77
. 
Podemos adotar a lição de Antonio Fernández-Galiano, ao perceber por 
jusnaturalismo toda posição que prove o modo de ser do homem, para além e acima do 
 
76 Cf. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ed. Coimbra: Almedina, 2003. p. 
393. 
77 Cf. MORÁN, Narciso Martínez. p. 109. 
direito positivado, de uma regra de preceito com caráter objetivo, não sujeito a mudança 
e oriundo da natureza, a qual não podem ir ao encontro com os mandamentos dos 
homens e na qual descobri esse direito humanos

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