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Apostila - Direitos Humanos

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AULA 1 – DIREITOS HUMANOS – Data: 09.08.2022
1 - NOÇÕES GERAIS
O valor da pessoa humana como valor-fonte da ordem da vida em sociedade encontra a sua expressão jurídica nos direitos humanos. Porém, ao longo da História, o tratamento e o reconhecimento do ser humano como sujeito de direitos e titular de dignidade não foi uma constante. 
Os direitos humanos são fruto de construção e evolução histórica: os avanços e retrocessos vivenciados pela humanidade serviram (e ainda servem) para consolidar valores indispensáveis para a vida com dignidade.
Norberto Bobbio: os direitos humanos são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes e nascidos de modo gradual, não totais e nem definitivos. 
A finalidade dos direitos humanos está na realização dos valores a que todas as pessoas devem ter acesso pelo simples fato de existirem, independentemente de sua cor, raça, credo, nacionalidade etc.
2 – CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS
São aqueles inerentes à condição humana da pessoa, enquanto ser dotado de liberdade, igualdade, razão e dignidade. 
Sua titularidade decorre do simples fato de a pessoa existir e engloba todos os aspectos indispensáveis e essenciais à vida digna, especialmente aqueles positivados em normas nacionais ou internacionais.
STF: os direitos fundamentais não se restringem ao art. 5º da CF/88, podendo ser encontrados ao longo do texto constitucional, expressos ou decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição, ou decorrerem dos tratados e convenções internacionais de que o Brasil seja parte (ADI 939-7/DF).
3 – FUNDAMENTAÇÃO JURIDICA DOS DIREITOS HUMANOS
· a) corrente jusnaturalista: os direitos humanos seriam inerentes aos seres humanos e decorreriam da razão divina ou da razão humana. Seriam direitos naturais universais;
· b) corrente juspositivista nacionalista: com as revoluções liberais do século XVIII, os direitos humanos passam a constar em declarações e em constituições nacionais. 
Para a corrente juspositivista naturalista, o reconhecimento do direito humano pelo Estado seria indispensável para sua promoção e proteção.
· c) corrente juspositivista internacionalista: os direitos humanos têm fundamento no direito internacional, pois estes passaram a ser positivados no século XX em textos internacionais. 
4 – TERMINOLOGIA
Os direitos e valores essenciais à proteção e promoção da dignidade humana são designados, no direito positivo interno e internacional, por diversos termos e expressões distintas. 
Exemplos: direitos do homem; direitos e liberdades fundamentais da pessoa humana; direitos humanos; direitos fundamentais etc.
As duas expressões de uso corrente no século XXI são direitos fundamentais e direitos humanos.
Não existe diferença ontológica (essencial) entre direitos humanos e direitos fundamentais: ambos representam aqueles direitos inerentes à condição humana e buscam promover e proteger os valores essenciais da dignidade humana. 
Doutrina faz algumas distinções:
· Primeira distinção: os direitos humanos, em razão de sua ligação com o direito internacional público, encontram-se previstos e estabelecidos em tratados e normas internacionais, ao passo que os direitos fundamentais se encontram reconhecidos e positivados pelo direito interno de um estado específico.
· Segunda distinção: os direitos humanos não seriam sempre exigíveis internamente, tendo então uma inspiração jusnaturalista, sem maiores consequências. 
Os direitos fundamentais seriam aqueles positivados internamente e sempre exigíveis.
Crítica: a proteção internacional dos direitos humanos conta com instrumentos para que os Estados respeitem as normas internacionais, mesmo não positivadas no direito interno. Assim, os direitos humanos também contam com proteção judicial internacional.
Exemplo: reconhecimento da jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo Brasil, que deve agir na falha do Estado brasileiro em proteger os direitos previstos na Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica). 
Além disso, a CF/88 aproxima as normas de proteção e promoção da dignidade humana nacionais das internacionais. 
Art. 5ٹ, CF/88
§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. 
§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
5 – DIGNIDADE HUMANA
Trata-se de atributo que todo indivíduo possui, inerente à sua condição humana, que o protege contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, bem como assegura condições materiais mínimas de sobrevivência. 
A dignidade da pessoa humana é valor-base para a interpretação do sistema jurídico, internacional ou nacional, que pretenda ser compatível com valores sociais, éticos e democráticos de sociedade.
A essencialidade da dignidade humana para os direitos humanos pode ser constatada em todas as principais Declarações, Pactos e Convenções Internacionais.
No ordenamento interno, a CF/1988 estabelece a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito (art. 1º, inciso III). Também dispõe a CF/88 que toda ação econômica terá como finalidade assegurar a todos uma existência digna (art. 170). 
Outras referências na CF/88: o planejamento familiar, de livre decisão do casal, também se fundamenta na dignidade humana (art. 226, §7º), cabendo à família, à sociedade e ao Estado assegurar dignidade à criança, ao adolescente, ao jovem e ao idoso (arts. 227 e 230).
6 – FUNÇÕES DA DIGNIDADE HUMANA
a) hermenêutica jurídica: a dignidade humana é o vetor axiológico de todo o ordenamento: todas as normas nacionais e internacionais, bem como as relações entre particulares, devem ser interpretadas e aplicadas em respeito à dignidade inerente às pessoas. 
O STF já utilizou a função hermenêutica da dignidade humana em casos concretos importantes, como no reconhecimento da união estável homoafetiva (ADPF nº 132 e ADI nº 4.277).
b) diretriz de ponderação: dignidade humana contribui para a escolha da prevalência de um direito em detrimento de outro, nos casos concretos.
c) controle de validade de atos estatais e de particulares (eficácia negativa da dignidade): a dignidade humana é parâmetro para controle dos atos estatais (normativos, administrativos e jurisdicionais), e de atos particulares: são inválidos os atos que ofenderem a dignidade humana.
d) fonte para criação de novos direitos (eficácia positiva da dignidade humana): visa impedir que a pessoa fique desamparada diante de lesões e ameaças de lesões à sua dignidade em razão de lacunas no ordenamento jurídico.
Deverá ser preservado e poderá ser reivindicado judicialmente o mínimo existencial, o qual é a medida de um patamar mínimo de condições materiais de vida abaixo do qual restaria ferida a dignidade humana (educação, saúde, justiça etc.).
7 – INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Ao final da 2ª Guerra Mundial, a humanidade compreendeu, mais do que em qualquer outra época da História, o valor supremo da dignidade humana. 
Esse movimento de resgate à dignidade humana resultou na criação da ONU, regida pela Carta das Nações Unidas (1945), e especialmente pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Convenção Internacional sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, ambas de 1948.
AULA 2 – DIREITOS HUMANOS – Data: 16.08.2022
I - DIMENSÕES (GERAÇÕES) DOS DIREITOS HUMANOS
1.1- Direitos humanos de primeira dimensão (Estado Liberal: liberdade): associados ao contexto do final do século XVIII (Independência dos EUA em 1776; Revolução Francesa em 1789).Tem como elemento principal a ideia clássica de liberdade individual, concentrada nos direitos civis e políticos, conquistados mediante a abstenção do Estado.
Os direitos civis ou individuais protegem a integridade humana (integridade física, psíquica e moral) contra o abuso e arbitrariedade estatais. Exemplos: liberdade de expressão, devido processo legal, presunção de inocência, proteção à vida privada, liberdade de locomoção etc.
Já os direitos políticos asseguram a participação popular na administração do Estado. São direitos de cidadania, que asseguram direitos ao voto, a ser votado, a ocupar cargos ou funções políticas, ao devido processo eleitoral etc. 
1.2- Direitos humanos de segunda dimensão (Estado-Providência: Igualdade): surgem após a Primeira Guerra Mundial, quando começa a se fortalecer a ideia de Estado de Bem-Estar Social.
Resulta de uma necessidade do Estado de assegurar direitos de oportunidade iguais a todos os cidadãos, através de políticas públicas como acesso básico à saúde, educação, habitação, trabalho, lazer etc.
Está mais preocupado com o poder de exigir do Estado a garantia dos direitos sociais, econômicos e cultura, todos imprescindíveis à possibilidade de uma vida digna.
“Muitos ordenamentos jurídicos foram influenciados por essa nova classificação, tais como a Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição Alemã de 1919 (Constituição de Weimar), que exerceram forte influência sobre os países democráticos.”
No Brasil, os direitos sociais, característicos de segunda geração, aparecem no Art. 6° da CF/88:
“são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Sobre as Direitos Econômicos, diz a Art. 170, CF/88:
“A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social [...]”.
Para isso, deve respeitar os princípios de livre concorrência, função social da propriedade, a propriedade privada, defesa do consumidor, redução das desigualdades regionais e sociais, busca do pleno emprego, entre outros.
1.3- Direito humanos de terceiros dimensão (Estado Pós-social: fraternidade): norteada pelo ideal de solidariedade. A principal preocupação passa a ser com os direitos coletivos, que possuem um número determinável de titulares, que por sua vez compartilham determinada condição. 
Exemplos: proteção de grupos sociais vulneráveis e a preservação do meio ambiente.
A defesa de direitos na terceira geração não é responsabilidade apenas do Estado, mas uma tutela compartilhada com a sociedade civil. São os direitos transindividuais, exigidos em ações coletivas. Alcançar esses interesses beneficia a todos e sua violação também afeta a todos.
No plano internacional, são exemplos os direitos ao desenvolvimento, à paz, de comunicação, de autodeterminação dos povos, à proteção contra as manifestações de discriminação racial, à proteção em tempos de guerra etc
No plano interno, a terceira geração de direitos configura-se pelo direito ambiental, direitos do consumidor, da criança, adolescente, idosos e portadores de deficiência, bem como a proteção dos bens que integram o patrimônio artístico, histórico, cultural, paisagístico, estético e turístico.
1.4- Direitos humanos de quarta dimensão: concebido no século XX como resultado da globalização dos direitos políticos, onde passam a ser preocupação os direitos à participação democrático ao pluralismo e à informação.
“Para os que defendem sua existência, a quarta geração se desenvolve em torno dos direitos da bioética e os direitos da informática.”
· Bioética: decorrente do avanço da biotecnologia e da engenharia genética, aparecem como preocupações, temas como suicídio, a eutanásia, o aborto, a transexualidade, a reprodução artificial e a manipulação do código genético.
· Direitos da informática: preocupações com problemas que envolvem o comércio virtual, a pirataria, a invasão de privacidade, direitos autorais e propriedade industrial.
1.5. Direitos humanos de quinta dimensão: o constitucionalista brasileiro Paulo Bonavides entende que o direito à paz deva ser tratado em dimensão autônoma, chegando a afirmar que a paz é um supremo direito da humanidade. 
2 – Vertentes de Proteção
2.1- Direitos humanos: conjunto de direito considerados indispensáveis à concretização da dignidade humana, sendo inerentes à pessoa pelo só fato dela existir.
2.2- Direitos humanitário (Direito internacional dos conflitos armados): conjunto de normas jurídicas internacionais que disciplina os conflitos armados, restringindo os meios e métodos utilizados na guerra, assegurando direitos aos não combatentes (feridos, prisioneiros de guerra e população civil) e punindo aqueles que cometem violações a suas regras.
2.3- Direito dos refugiados: a vertente de proteção aos direitos humanos que envolve garantia de asilo a alguém fora do território do qual é nacional.
Pode se dar por qualquer dos motivos especificados em normas de direitos humanos, nat...
3 – Especificidades dos Direitos Humanos
3.1- Centralidade: os direitos humanos ocupam posição central dos ordenamentos jurídicos, funcionando como paradigma de validade dos atos estatais e particulares, e também como instrumento de pulverização da cultura...
3.2- Funções contramajoritária: a vontade da maioria, para não incorrer em risco de tornar-se instrumento de opressão, de abusos e violações de direitos, deve invariavelmente respeitar a singularidade e a dignidade de cada indivíduo, considerando-os sempre como um fim em si mesmo.
O legado...
Exemplo: O massacre de grupos minoritários (sobretudo a etnia tutsi) em 1994, em Ruanda, que vitimou cerca de 800 mil pessoas em menos de 100 dias.
Os direitos humanos surgem como relevante instrumento de promoção da dignidade minoritária, como o escopo de influenciar...
AULA 3 – DIREITOS HUMANOS – Data: 23.08.2022
II – EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Introdução: Evolução Histórica
Uma das características dos direitos humanos é a sua historicidade: seu surgimento é verificado com o passar do tempo e em momento histórico distinto.
A cada surto de violência, a humanidade recua, fazendo nascer nas consciências a exigência de novas regras de uma vida mais digna para todos.
A História nos mostra que foi o Estado o responsável por grande parte das atrocidades já experimentadas, inclusive com a conivência e a leniência na investigação e punição dos indivíduos que praticam graves violações a direitos humanos.
A limitação do poder estatal, assim, possui ligação intrínseca com os direitos humanos.
1. A FASE PRÉ-CONSTITUCIONAL
Nesta fase, não se asseguravam aos indivíduos direitos de contenção ao poder estatal. Por isso, parte da doutrina entende que não haveria regras de direitos humanos na fase pré-Estado Constitucional. 
· Porém, essa crítica não elimina a valiosa influência de culturas antigas na afirmação dos direitos humanos. 
“Há costumes e instituições sociais das inúmeras civilizações da Antiguidade que enfatizam o respeito a valores que estão contidos em normas de direitos humanos, como a justiça e igualdade.”
1ª Fase - Antiguidade Oriental: primeiro passo na construção dos direitos humanos. O ponto em comum entre esses documentos é a adoção de regras de comportamento baseadas no amor e respeito ao outro.
· Código de Hammurabi (Babilônia, 1792-1750 a.C.) – primeiro código de normas de condutas, preceituando esboços de direitos dos indivíduos, consolidando os costumes e estendendo a lei a todos os súditos do Império.
· “Cilindro de Ciro” (Pérsia, século VI a.C.): considerada a primeira declaração dos direitos humanos, contêm uma declaração de boa governança do rei persa Ciro II depois de sua conquista da Babilônia em 539 A.C.
· Confúcio (China, século VI e V a.C): filosofia com ênfase na defesa do amor aos indivíduos.
· Buda (Índia, séculos VI e IV a.C.):sua filosofia introduziu um código de conduta pelo qual se prega o bem comum e uma sociedade pacífica, sem prejuízo a qualquer ser humano.
2ª Fase - Democracia grega: consolidação dos direitos humanos e dos direitos políticos.
· Platão, em A República (400 a.C.), defendeu a igualdade e a noção do bem comum.
· Aristóteles, na Ética a Nicômaco (335 a.C. a 323 a.C.), salientou a importância do agir com justiça, para o bem de todos da pólis, mesmo em face de leis injustas.
“O “Século de Péricles” (século V a.C.) testou a democracia direta em Atenas, com a participação dos cidadãos homens da pólis grega nas principais escolhas da comunidade.”
A Antiguidade grega também estimulou a reflexão sobre a superioridade de determinadas normas, mesmo em face da vontade contrária do poder. 
Sófocles, na peça Antígona (421 a.C.), retrata a protagonista e a sua luta para enterrar seu irmão, mesmo contra ordem do tirano da cidade, que havia promulgado uma lei proibindo que aqueles que atentassem contra a lei da cidade fossem enterrados. Para Antígona, não se pode cumprir as leis humanas que se chocarem com as leis divinas.
“A Ágora – símbolo maior da democracia grega – era a praça em que os cidadãos atenienses se reuniam para deliberarem sobre os assuntos da pólis. A liberdade dos antigos, para usar a conhecida expressão de Benjamin Constant, era justamente a liberdade de ‘deliberar em praça pública’ sobre os mais diversos assuntos: a guerra e a paz, os tratados com os estrangeiros, votar as leis, pronunciar as sentenças, examinar as contas, os atos, as gestões dos magistrados e tudo o mais que interessava ao povo. A democracia nasceu, portanto, dentro de uma praça”. 
(STF, voto da Ministra Cármen Lúcia, ADPF 187, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15-6-2011, Plenário, Informativo 631).
3ª Fase - República Romana (509 a.C. a 27 a.C): sedimentação do princípio da legalidade: limitação do poder político pelo controle recíproco de diferentes órgãos políticos.
· Consagração de direitos (propriedade, liberdade, personalidade etc.)
· Reconhecimento da igualdade entre todos os seres humanos.
· Marco Túlio Cícero: na República, a verdadeira lei é a lei da razão (recta ratio), inviolável mesmo em face da vontade do poder. Apesar das diferenças (raças, religiões e opiniões), os homens podem permanecer unidos caso adotem o “viver reto”, que evitaria causar o mal a outros (“Sobre as leis”, 52 a.C.).
4ª Fase - As influências do Cristianismo e da Idade Média
· Cinco livros de Moisés (Torah): apregoam solidariedade e preocupação com o bem-estar de todos (1800-1500 a.C.).
· Antigo Testamento: faz menção à necessidade de respeito a todos, em especial aos vulneráveis. 
· Surgimento do Cristianismo contribuiu para a disciplina: há vários trechos da Bíblia (Novo Testamento) que pregam igualdade, amabilidade, respeito e a solidariedade com o semelhante.
· Filósofos católicos. São Tomás de Aquino, na Suma Teológica (1273), defendeu a igualdade dos seres humanos e aplicação justa da lei.
2. CRISE DA IDADE MÉDIA E INÍCIO DA IDADE MODERNA
· Idade Média (século V ao século XV): poder dos governantes era ilimitado, fundado na vontade divina. 
· Surgimento dos primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determinados estamentos, como a Magna Carta inglesa de 1215, essencial ao futuro regime jurídico dos direitos humanos, pois consistia em um catálogo de direitos dos indivíduos contra o Estado: proteção contra prisão ilegal, acesso à justiça rápida, limitações de impostos e outros pagamentos feudais à Coroa etc.
· Renascimento e Reforma Protestante: crise da Idade Média (“Idade das Trevas”) deu lugar ao surgimento dos Estados Nacionais absolutistas. 
· Com a erosão da importância da Igreja e dos senhores feudais, surge a ideia de igualdade de todos submetidos ao poder absoluto do rei, o que não excluiu a opressão e a violência, como o extermínio perpetrado contra os indígenas na América. 
· o Estado Absolutista foi questionado, sobretudo na Inglaterra:
· Petition of Rights (1628), reafirmação da Magna Carta, requeria o reconhecimento de direitos e liberdades para os súditos do Rei;
· Bill os Rights (1688), criado no contexto do fim da Revolução Gloriosa, que limitou o poder do Rei, aumentando o poder do Parlamento, dando início ao período da monarquia constitucional;
· Act of Settlement (1701) reafirmou o poder do Parlamento e da vontade da lei, ao regular a sucessão do trono;
· Habeas Corpus Amendment Act (1769) que anulava as prisões arbitrárias.
3. AS IDEIAS ILUMINISTAS
· Thomas Hobbes (Leviatã – 1651): direito do ser humano é tratado como sendo pleno no “estado da natureza”. 
O ser humano abdica de sua liberdade inicial e se submete ao poder do Estado (o Leviatã), cuja existência justifica-se pela necessidade de se dar segurança ao indivíduo, diante das ameaças de seus semelhantes. Entretanto, os indivíduos não possuiriam qualquer proteção contra o poder do Estado.
· John Locke (Tratado sobre o governo civil – 1689): defendeu o direito dos indivíduos mesmo contra o Estado. O governo não pode ser arbitrário e deve seu poder ser limitado pela supremacia do bem público.
· Jean-Jacques Rousseau (Do contrato social – 1762): a vida em sociedade é baseada em um contrato (o pacto social) entre homens livres e iguais (qualidades inerentes aos seres humanos), que estruturam o Estado para zelar pelo bem-estar da maioria. 
· Cesare Beccaria (Dos delitos e das penas – 1766): sustentou a existência de limites para a ação do Estado na repressão penal, que reverberam até hoje.
· Kant (Fundamentação da metafísica dos costumes – 1785): defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, que não tem preço ou equivalente. Justamente em virtude dessa dignidade, não se pode tratar o ser humano como um meio, mas sim como um fim em si mesmo.
4. CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E AS DECLARAÇÕES DE DIREITOS
	As revoluções liberais, inglesa, americana e francesa, e suas respectivas Declarações de Direitos marcaram a primeira afirmação histórica dos direitos humanos.
· “Revolução Inglesa”: teve como marcos a Petition of Rights, de 1628, que buscou garantir determinadas liberdades individuais, e o Bill of Rights, de 1689, que consagrou a supremacia do Parlamento e o império da lei.  
· “Revolução Americana”: processo de independência das colônias britânicas na América do Norte (1776), e a criação da Constituição norte-americana (1787). Em 1791, foram aprovadas 10 Emendas que introduziram um rol de direitos na Constituição;
· “Revolução Francesa”: adoção da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão pela Assembleia Nacional Constituinte francesa (1789), que consagra a igualdade e liberdade, que levou à abolição de privilégios, direitos feudais e imunidades de várias castas.
“A Constituição da França de 1791 consagrou a perda dos direitos absolutos do monarca francês, implantando-se uma monarquia constitucional. A Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão é consagrada como sendo a primeira com vocação universal.”
5. A FASE DO CONSTITUCIONALISMO SOCIAL
· Final do século XVIII: próprios jacobinos franceses (pequena e média burguesia e proletariado urbano) defendiam a ampliação do rol de direitos da Declaração Francesa para abarcar também os direitos sociais, como educação e assistência social.
· Europa do século XIX: movimentos socialistas ganham apoio popular.
· Revolução Russa (1917): estimulou novos avanços na defesa da igualdade e justiça social;
· Introdução dos direitos sociais –pretendiam assegurar condições materiais mínimas de existência – em várias Constituições, tendo sido pioneiras a Constituição do México (1917), da República da Alemanha (República de Weimar, 1919) e, no Brasil, a Constituição de 1934.
· No Direito Internacional: consagrou-se, pela primeira vez, uma organização internacional voltada à melhoria das condições dos trabalhadores. 
	A Organização Internacional do Trabalho foi criada em 1919 pelo Tratado de Versailles, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial.
6. INTERNACIONALIZAÇÃODOS DIREITOS HUMANOS
Decorre da nova organização da sociedade internacional no pós-Segunda Guerra Mundial. Até meados do século XX, o Direito Internacional possuía apenas normas internacionais esparsas.
Marco histórico: criação, na Conferência de São Francisco em 1945, da Organização das Nações Unidas (ONU). O tratado institutivo da ONU foi denominado “Carta de São Francisco”.
A reação à barbárie nazista gerou a inserção da temática de direitos humanos na Carta da ONU, que possui várias passagens que usam expressamente o termo “direitos humanos”. Porém, a Carta não listou o rol dos direitos que seriam considerados essenciais. 
Por isso, foi aprovada, sob a forma de Resolução da Assembleia Geral da ONU, em 1948, a Declaração Universal de Direitos Humanos (chamada de “Declaração de Paris”), com 30 artigos, que explicita o rol de direitos humanos aceitos internacionalmente.
Entre os direitos civis e políticos constam o direito à vida e à integridade física, o direito à igualdade, o direito de propriedade, o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, o direito à liberdade de opinião e de expressão e à liberdade de reunião. 
Entre os direitos sociais em sentido amplo constam o direito à segurança social, ao trabalho, o direito à livre escolha da profissão e o direito à educação, bem como ao mínimo existencial.
A DUDH prevê que toda pessoa tem deveres para com a comunidade e estará sujeita às limitações de direitos, para assegurar os direitos dos outros e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 
O artigo XXX determina que nenhuma disposição da Declaração pode ser interpretada para justificar ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades lá estabelecidos, o que demonstra que os direitos não são absolutos.
“Em virtude de ser a DUDH uma declaração e não um tratado, há discussões na doutrina e na prática dos Estados sobre sua força vinculante. Há, pelo menos, três vertentes de interpretação.”
i. DUDH possuiria força vinculante por se constituir em interpretação autêntica do termo “direitos humanos”, previsto na Carta das Nações Unidas (tratado, ou seja, tem força vinculante); 
ii. DUDH possui força vinculante por representar o costume internacional sobre a matéria; 
iii. DUDH representa tão somente a soft law na matéria, que consiste em um conjunto de normas ainda não vinculantes, mas que buscam orientar a ação futura dos Estados para que, então, venha a ter força vinculante. 
AULA 4 – DIREITOS HUMANOS – Data: 30.08.2022
III – CARACTERISTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
1- HISTORICIDADE
	Os direitos humanos são fruto de processo histórico, seu surgimento é verificado em momentos históricos distintos. A sua compreensão como fruto de conquistas históricas se distancia da tese de que se estes seriam direitos naturais.
	A historicidade dos direitos humanos é expansiva, caminha no sentido de ampliar a proteção à pessoa, de reconhecer novos direitos, não se admitindo a supressão de direitos já reconhecidos na ordem jurídica: “proibição do retrocesso”.
2- UNIVERSALIDADE
	Duas acepções: como inexistência de discriminações entre as pessoas, e como abrangência territorial (transnacionalidade).
	A DUDH enuncia direitos comuns a todos os homens pelo simples fato de possuírem a condição humana: não faz distinção fundada na condição política, jurídica ou do país ou território a que pertença uma pessoa.
· Crítica: não se pode negar que as diversidades socioculturais existentes no mundo fazem (re)pensar a “universalidade” dos direitos humanos. 
	Os direitos humanos seriam propriamente universais ou relativos, caso em que cederiam ao que estabelecem os sistemas políticos, econômicos, culturais e sociais vigentes em cada Estado?
	O debate envolvendo as particularidades culturais (relativismo) em face da universalidade dos direitos humanos é um dos pontos mais instigantes e polêmicos da proteção internacional aos direitos humanos.
2.1- Universalistas: os direitos humanos devem ser respeitados e obedecidos por todos os indivíduos, independentemente de condições sociais ou culturais distintas.
2.2- Relativistas: os meios culturais e morais de determinada sociedade devem prevalecer. Os países ocidentais não partilharam do mesmo processo histórico e cultural vivido por países orientais, e ainda hoje possuem realidades completamente distintas.
	
	A adoção da DUDH se deu em um foro de apenas 56 países, com 8 abstenções, cerca de um quarto dos países do mundo.
	Para os relativistas, Cada cultura possui seu próprio discurso acerca dos direitos fundamentais, relacionados às especificidades circunstanciais. Não há moral universal, já que a história do mundo é a história de uma pluralidade de culturas.
2.3- Multiculturalistas: procuram superar o debate envolvendo o universalismo e o relativismo cultural. Defendem uma concepção multicultural de direitos humanos, inspirada no diálogo entre as culturas, conciliando a competência global e a legitimidade local. 
	
	Os multiculturalistas defendem um “universalismo de confluência”, universalismo pluralista não etnocêntrico. Através da interculturalidade crítica, seria possível rever práticas e condutas que envolvem outras experiências sociais.
	Os multiculturalistas buscam a interpretação da diversidade no contexto do diálogo intercultural (hermenêutica diatópica), assimilando e aceitando as diferenças entre as culturas. 
	Porque todas as culturas possuem concepções distintas de dignidade humana, mas são incompletas, deve-se aumentar a consciência dessas incompletudes culturais mútuas, como pressupostos para um diálogo intercultural.
· Caso: Segundo a OMS, cerca de 200 milhões de mulheres vivem em países que adotam a mutilação genital como prática cultural ou religiosa (28 países da África, na Ásia e no Oriente Médio). Segundo a UNICEF, em todas as sociedades em que é praticada, a mutilação genital feminina é uma manifestação de desigualdade de gênero enraizada em estruturas de ordem social, econômica e política. 
	Nos últimos anos, diversas mulheres que sofreram certas práticas tidas como culturais, a exemplo da mutilação genital feminina, têm se revoltado contra estes tipos de situações.
	É possível apelar para as diferenças socioculturais inerentes ao relativismo cultural para a preservação de costumes contrários aos direitos humanos?
3- INDIVISIBILIDADE
	Não há hierarquia entre os direitos humanos: todos os direitos humanos possuem a mesma proteção jurídica, vez que essenciais para a vida digna. 
	Os direitos humanos compõem um único conjunto de direitos que devem ser examinados de maneira sistemática. Não basta garantir um direito humano e abrir mão de outro. Exemplo: a preservação dos direitos individuais não se dá em detrimento da efetividade dos direitos coletivos etc.
4- NÃO EXAUSTIVIDADE
	Consiste na possibilidade de expansão dos direitos necessários a uma vida digna, consolidando-se sua não exauribilidade, sendo o rol de direitos previstos na CF e em tratados meros exemplos.
	Os direitos humanos têm possibilidade de expansão, pois a eles podem ser acrescidos outros e novos direitos a qualquer tempo: “Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (§2º do art. 5º, da CF/1988).
5- RELATIVIDADE
	Traduz a ideia de que os direitos humanos podem sofrer limitações, não se afigurando absolutos. 
	
	A solução pode vir na própria CF (ex.: direito de propriedade versus desapropriação), ou caberá ao intérprete decidir qual direito deverá prevalecer no caso concreto, levando em consideração a regra da máxima observância dos direitos fundamentais envolvidos, conjugando-a com a sua mínima restrição (proporcionalidade).
	A possibilidade de relativização dos direitos humanos surge da necessidade de adequá-los a outros valores coexistentes na ordem jurídica quando se entrechocam, devendo se harmonizaros bens jurídicos ou valores em colisão.
· As três etapas da proporcionalidade: adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Aplicadas nessa ordem e subsidiariamente, sua análise deve cessar quando o julgador perceber que a decisão não sobrevive a um desses critérios.
1ª) Adequação: aptidão de uma medida para fomentar o resultado pretendido. Mede se o ato estatal realmente contribui para o objetivo pretendido. Se não contribui, o ato será inadequado.
2ª) Necessidade: busca vedar o excesso: a medida é a que menos restringe o direito fundamental relevante ao caso concreto. Caso exista, a medida será desnecessária. Este exame exige um olhar externo, comparativo.
Exemplo: criminalização da interrupção da gravidez até o terceiro mês de gestação. STF destacou que existem outros meios, como educação sexual, distribuição de contraceptivos e amparo à mulher (v. STF, 1ª Turma, Habeas Corpus nº 124.306).
3ª) Proporcionalidade em sentido estrito: analisa-se o “custo-benefício” da medida, para se determinar se o que se ganha é mais valioso do que aquilo que se perde.
6- IMPRESCRIBILIDADE E INALIENABILIDADE
· Imprescritíveis, porque não se perdem pelo decurso do tempo; 
· Inalienáveis, pois estão fora do comércio, sendo impossível se atribuir dimensão pecuniária ao próprio direito. 
7- INDISPONIBILIDADE
	O titular do direito fundamental não pode abrir mão de sua condição humana e dispor da proteção à sua dignidade (dimensão objetiva). Pode ocorrer o seu não exercício, mas nunca a sua renunciabilidade: não se pode dispor de direitos humanos de forma definitiva e irreversível.
	Porém, é permitido ao titular do direito a autolimitação da parcela da posição jurídica a que tem titularidade (dimensão subjetiva).
	A disponibilidade de um direito fundamental tem uma abrangência específica: a dimensão subjetiva de um direito fundamental, ou seja, a relação estabelecida entre dois sujeitos, vinculada aos casos concretos.
Exemplo: o caso célebre do “arremesso de anão” (Wackenheim vs. França). Torneio em uma casa noturna de Paris: quem arremessasse um anão a maior distância ganhava o prêmio. Decisão do Conselho de Estado x vontade do titular do direito.
8- CONCORRÊNCIA
	Direitos humanos podem ser exercidos cumulativamente, sem que um anule o outro. Exemplo: jornalista transmite uma notícia (informação) e, ainda, emite uma opinião.
AULA 5 – DIREITOS HUMANOS – Data: 06.09.2022
FALTEI...
AULA 6 – DIREITOS HUMANOS – Data: 13.09.2022
V – EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
1- PROIBIÇÃO DO RETROCESSO
	Princípio que consiste na vedação da eliminação da concretização já alcançada na proteção de algum direito, admitindo-se somente de aprimoramentos e acréscimos.
	Outra expressão utilizada pela doutrina é o “entrincheiramento” (Walber Agra): preservação do mínimo já concretizado dos direitos fundamentais, impedindo o retrocesso, que poderia ser realizado pela supressão normativa ou ainda pela diminuição de suas prestações à coletividade.
	É ≠ da “proteção contra efeitos retroativos”: este é proibido por ofensa ao ato jurídico perfeito, da coisa julgada e do direito adquirido (art. 5º, XXXVI, CF/88). 
	A proibição do retrocesso abrange não somente os direitos sociais (proibição do retrocesso social), mas todos os direitos humanos, que são indivisíveis.
	A proibição do retrocesso é característica também da proteção internacional dos direitos humanos: é vedado aos Estados que diminuam a proteção já conferida aos direitos humanos. 
	Mesmo novos tratados internacionais não podem impor restrições ou diminuir a proteção de direitos humanos já alcançada (André Carvalho Ramos).
	A proibição de retrocesso não representa uma vedação absoluta a qualquer alteração da proteção de um direito. 
· Três condições para a diminuição na proteção: 
1) que haja justificativa também de estatura jusfundamental; 
2) que tal diminuição supere o crivo da proporcionalidade; e 
3) que seja preservado o núcleo essencial do direito envolvido.
Exemplo: alterações nas regras da aposentadoria dos servidores públicos, ante o crescimento da expectativa de vida. Inalterabilidade dessas regras levaria o Estado a destinar mais recursos a esse direito social, diminuindo-se a proteção de outros direitos.
STF: a proibição do retrocesso só seria aplicada se a aposentadoria, enquanto direito social, fosse abolida, mas não no caso de mudança dos seus critérios tão somente (ADI 3.104, Rel. Min. Cármen Lúcia, Plenário, DJ de 9-11-2007).
“Na jurisprudência do STF há várias manifestações sobre a proibição do retrocesso, em suas diversas subespécies (social, político etc.)”
2- RESTRIÇÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
	A restrição a direitos humanos é realizada por meio de lei ou de interpretação judicial que decide o conflito entre direitos em colisão.
	A restrição em sentido amplo de um direito fundamental consiste em ação ou omissão do Estado, que elimina ou reduz o exercício de direito fundamental pelo seu titular.
	A restrição (ou reserva) legal simples consiste na autorização dada pela Constituição a edição posterior de lei que adote determinada restrição a direito fundamental. 
Exemplo: art. 5º, XV, CF/88 – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;
	A restrição (ou reserva) legal qualificada é aquela em que a Constituição, além de estabelecer a reserva de lei, ainda estipula os requisitos e condições que a lei necessariamente deve observar. 
Exemplo: art. 5º, XIII, CF/88, estabelece ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer.
Toda reserva legal de um direito fundamental é, na verdade, uma “reserva legal proporcional”, ou seja, deve a lei que impôs a restrição ser aprovada pelo crivo da proporcionalidade (STF, ADI 855, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, DJE de 27-3-2009).
2.2 – DIREITOS SEM RESERVA EXPRESA
	Há ainda direitos previstos na Constituição sem qualquer menção à lei restritiva. 
	Mesmo assim, tais direitos estão sujeitos a uma reserva legal subsidiária, podendo o legislador regular esse direito em face dos demais valores constitucionais. 
Exemplo: regulamentação do sigilo de correspondência pela Lei n. 7.210/84, que permite a violação da correspondência do preso (art. 41, parágrafo único), apesar de o art. 5º, XII, da CF/88 tratar da “inviolabilidade da correspondência” sem qualquer ressalva ou permissão de violação.
STF: “a administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, e desde que respeitada a norma inscrita no art. 41, parágrafo único, da Lei 7.210/1984, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas” (HC 70.814, Rel. Min. Celso de Mello, Primeira Turma, DJ de 24-6-1994).
 
“Além da “reserva legal subsidiária”, todos os direitos fundamentais (mesmo sem restrição expressa) estão sujeitos a uma “reserva geral de ponderação”, relacionados a outros direitos fundamentais em colisão.”
3- EFICÁCIA HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
· Cuida da possibilidade de aplicação dos direitos fundamentais às relações privadas. 
1ª teoria: eficácia indireta ou mediata. Os direitos fundamentais são aplicados de maneira reflexa: o legislador não poderá editar lei que viole direitos fundamentais e deve implementá-los, ponderando quais devam aplicar-se às relações privadas;
2ª teoria: eficácia direta ou imediata. Alguns direitos fundamentais podem ser diretamente aplicados às relações privadas sem que haja a necessidade de “intermediação legislativa” para a sua concretização.
	“Eficácia irradiante” dos direitos fundamentais: os valores que dão suporte a estes direitos penetram por todo o ordenamento jurídico, condicionando a interpretação dos dispositivoslegais e atuando como diretrizes para o legislador, administrador e juiz. 
· Análise de caso concreto: exclusão de membro de sociedade sem a possibilidade de sua defesa — violação do devido processo legal (STF, RE 201.819, 2ª Turma, j. 11.10.2005);
	A controvérsia tratava da exclusão de sócio dos quadros da União Brasileira de Compositores, sociedade civil de direito privado, sem fins lucrativos. Pelo estatuto, deveria ser criada comissão para apurar indícios, atos e fatos que ensejariam a punição de sócio que houvesse contrariado os deveres estatutários.
	Contudo, embora tivesse designado uma comissão especial para a apuração das irregularidades, a deliberação por excluir o compositor fora tomada sem antes lhe oportunizar a chance de rebater as acusações e produzir provas em seu favor.
	O afastamento do compositor foi revertido pelo TJRJ ao argumento de que ocorrera em violação ao direito à ampla defesa e ao contraditório, previstos no artigo 5º, LV, CF/88.
	O STF reconheceu que a eficácia dos direitos fundamentais na esfera privada decorre direta e imediatamente do ordenamento jurídico brasileiro, sob pena de “legitimar a ideia de que haveria para o cidadão sempre um espaço livre de qualquer ingerência estatal”. 
	Jurisprudência do Direito Comparado (em especial, Alemanha e de Portugal) preconiza a aplicação direta dos direitos fundamentais na área privatista, ao fundamento de que os atos jurídicos não devem contrariar a ordem pública.
· A jurisprudência do STF já contemplava a incidência direta dos direitos fundamentais na esfera privada: 
caso1: observância do direito e a ampla defesa na exclusão de associado de cooperativa (RE 158.215/RS); 
caso2: aplicação a empregado brasileiro do estatuto de uma empresa que previa benefícios a empregados de nacionalidade francesa (RE 161.243/DF).
	Conforme o STF, “a autonomia da vontade não confere aos particulares, no domínio de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas e definidas pela própria Constituição” (Celso de Mello). 
	O Código Civil, em seus artigos 57 e 1.085, determina que a exclusão de sócio ou associado poderá ocorrer apenas se observada justa causa e atendido o devido processo legal.
	A teoria da aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas (“eficácia horizontal”) incide, especialmente, diante de atividades privadas que tenham certo “caráter público”, como escolas (matrículas), clubes associativos, relações de trabalho etc.
	Poderá o magistrado deparar-se com inevitável colisão de direitos fundamentais: o princípio da autonomia da vontade privada e o da livre-iniciativa de um lado (arts. 1.º, IV, e 170, caput, CF); o da dignidade da pessoa humana e o da máxima efetividade dos direitos fundamentais (art. 1.º, III, CF) de outro.
AULA 7 – DIREITOS HUMANOS – Data: 20.09.2022
DEVERES FUNDAMENTAIS E O BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
1 – DEVEDES FUNDAMENTAIS
	Além dos direitos fundamentais, desenvolvem-se estudos sobre os deveres fundamentais, chegando-se a sustentar uma “Era dos Deveres Fundamentais” (Carlos Rátis).
 
 A doutrina (Dimitri Dimoulis) identifica os seguintes deveres fundamentais:
· dever de efetivação dos direitos fundamentais, sobretudo sociais e garantias das instituições: necessidade de atuação positiva do Estado (Estado prestacionista);
· deveres específicos do Estado diante dos indivíduos, como o dever de indenizar o condenado por erro judiciário;
· deveres de criminalização pelo Estado: a CF/88 determina que o Legislativo edite atos normativos para implementar o comando. Exemplo: crime de tortura (art. 5º, XLIII, CF);
· deveres dos cidadãos e da sociedade: como o dever do serviço militar obrigatório (art. 143, CF) e a educação enquanto dever do Estado e da família (art. 205, CF);
· dever de exercício do direito de forma solidária e levando em consideração os interesses da sociedade: como o direito de propriedade, que deve ser exercido conforme a sua função social (art. 5.º, XXIII, da CF);
· deveres implícitos: “existem tantos deveres implícitos quantos direitos explicitamente declarados” (Dimitri Dimoulis): o direito de uma pessoa pressupõe o dever de todas as demais e, sobretudo, das autoridades do Estado.
2 – O BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
	Consiste no reconhecimento da existência de outros diplomas normativos de hierarquia constitucional, além da própria Constituição.
 	No Direito Comparado, o marco do reconhecimento da existência do bloco de constitucionalidade foi uma decisão do Conselho Constitucional francês (em 1971) relativa à liberdade de associação.
“Na referida decisão, o Conselho consagrou o valor constitucional do preâmbulo da Constituição francesa de 1958, que, por sua vez, faz remissão à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.”
	No Brasil, o STF, constatou a existência do debate sobre o tema, sendo que os dispositivos normativos pertencentes ao bloco de constitucionalidade poderiam ser utilizados como paradigma de confronto das leis e atos normativos infraconstitucionais no âmbito do controle de constitucionalidade (ADI 595/ES, Relator Min. Celso de Mello, DJU 26-2-2002, Informativo STF 258).
Doutrina: a CF/88, no art. 5º, §3º, adota um bloco de constitucionalidade restrito, que só abarca os tratados aprovados pelo rito especial. 
Obs.: A filtragem constitucional do ordenamento passa a contar também com o filtro internacionalista oriundo dos valores existentes nesses tratados aprovados pelo rito especial.
Exemplo: Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Nova Iorque, em 30 de março de 2007), internalizado em nosso país pelo rito especial.
AULA 8 – DIREITOS HUMANOS – Data: 27.09.2022
TRABALHO para AV1 
AV1: 1) Disserte sobre o princípio da proibição de retrocesso e a sua relação com os direitos humanos (1,5 ponto). 2) Os direitos fundamentais podem ser aplicados imediatamente nas relações privadas? Responda indicando, pelo menos, um julgado do Supremo Tribunal Federal a respeito do tema (1,5 ponto).
Pontos para AV1:
· Conceito direitos humanos – pessoa é um valor fonte do ordenamento jurídico; modificando ao longo da história; ligado a condição humana.
· Terminologia – distinção dos direitos fundamentais (não uma diferença essencial entre eles, a doutrina faz uma, seria os direitos humanos que foram internalizados, que foram reconhecidos internamente) para direitos humanos (relação maior com os tratados internacionais);
· Finalidade do princípio da dignidade da pessoa humana; qual a importância prática? 
· Funções da dignidade da pessoa humana:
1- Hermenêutica jurídica: forma de interpretação da lei;
2- Ponderação: um princípio pode anular o outro, qual direito fundamental vai prevalecer no caso concreto. Critério para ponderar é o da dignidade da pessoa humana;
3- Eficácia negativa da dignidade humana: forma de repetir atos
4- Eficácia positiva da dignidade humana: forma de criar direitos a partir da dignidade da pessoa humana.
· Internacionalização dos Direitos Humanos: Art. 5º, §3º, CF/88 reconhece a importância desses direitos no plano internacional;
· Dimensões dos Direitos humanos:
· Classificação:
1- 1ª dimensão: Estado liberal; dever do estado é não invadir a liberdade das pessoas; direitos políticos; 
2- 2ª dimensão: Estado providencia/provedor, marco histórico é o fim da 1ª guerra (políticas públicas); Art. 6º, CF/88
3- 3ª dimensão: A ideia de fraternidade, pós-social. Preocupação com o coletivo (direito coletivo, direito difuso).
· Vertentes de Proteção:
· direito humanitário: como devem agir em uma guerra;
· direitos dos refugiados: direito de pedir asilo político;
· Especificidade dos Direitos Fundamentais
· Intercionalização – contexto histórico em que foi criado a ONU. Carta de São Francisco de 1945.
AULA 9 – DIREITOS HUMANOS – Data: 18.10.2022
SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
1 – RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS ESTADOS
	Visa a responsabilizar uma potência soberana pela prática de um atoatentatório (ilícito) ao direito internacional perpetrado contra os direitos ou a dignidade de outros Estados ou de indivíduos, prevendo certa reparação pelos prejuízos e gravames injustamente sofridos.
 
	De forma preventiva, a responsabilidade internacional visa a coagir os Estados, a fim de que atuem respeitando seus compromissos internacionais, sobretudo em matérias de DH; 
	Em sede repressiva, busca atribuir ao indivíduo que sofreu um prejuízo causado por ato ilícito do Estado uma justa reparação.
2 – SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
	O sistema internacional (ou global) é regido pela ONU; 
	Os sistemas regionais têm sua estruturação a cargo de organizações continentais específicas: a) o Conselho da Europa (CE); b) a Organização dos Estados Americanos (OEA); e c) a União Africana (UA).
3 – SISTEMA GLOBAL
	A proteção dos DH era considerada um assunto interno dos Estados e, assim, ninguém intervia no modo como ele cuidava dos nacionais ou dos estrangeiros que lá estavam. 
 	No decorrer da história, são identificados três precedentes importantes que levaram à construção do Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos. 
	O primeiro foi o Direito Internacional Humanitário, desde o século XIX, sendo um conjunto de normas que regula os conflitos armados e protege as suas vítimas. 
 
	O segundo foi a Liga das Nações, antecessora da ONU, criada logo após a 1ª Guerra Mundial, em 1919. Foi uma organização internacional que objetivava evitar a 2ª Guerra Mundial.
	O terceiro precedente é a Organização Internacional do Trabalho (OIT), presente desde 1919. 
	A Constituição da OIT prega que é interesse de todas as nações a melhoria das condições de trabalho de todos. A sua criação foi um passo importante na proteção internacional dos direitos sociais. 
	Esses três precedentes foram os primeiros passos a caminho da proteção internacional dos Direitos Humanos e todos têm em comum a relativização da soberania nacional. 
	A proteção dos direitos das pessoas passas a ser não somente uma questão interna, mas de âmbito internacional e de interesse de toda a sociedade internacional.
“Tais precedentes iniciaram um antropocentrismo, estando o indivíduo no centro do direito internacional, antes ocupado pelos Estados. Assim, no novo contexto, a preocupação se mostra para com o indivíduo, com o ser humano, com a pessoa.”
4 – SISTEMAS REGIONAIS
	No âmbito europeu, surgiu o Conselho da Europa, organização internacional criada em 1949 e documentada no Tratado de Londres de 1949. O principal documento europeu de proteção aos DH é a Convenção Europeia de Direitos Humanos, de 1950. 
	A convenção consagra 3 órgãos para monitoramento dos direitos: Comissão Europeia de Direitos Humanos; a Corte Europeia de Direitos Humanos; e o Comitê de Ministros (Conselho da Europa).
	O sistema interamericano foi instituído pela Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA) de 1948. É regido pela Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem (1948), Convenção Americana de Direitos Humanos (1969) – Pacto de San José da Costa Rica; e o Protocolo Adicional em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1988) – protocolo de San Salvador. 
	Tem como principais órgãos a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
	O sistema africano de proteção aos DH ainda é frágil e pouco eficiente. Foi criado em 1981, com a adoção da Carta de Banjul (Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos), mas somente entrou em vigor em 1986. 
	O sistema africano tem como órgãos de proteção a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos e a Corte Africana de Direitos Humanos e dos Povos.
	Todos os sistemas de proteção (global e regionais) devem ser entendidos como coexistentes e complementares: direitos idênticos são protegidos por vários desses sistemas ao mesmo tempo, cabendo ao indivíduo escolher qual o aparato mais favorável que deseja utilizar para vindicar, no plano internacional, seus direitos violados.
5 – MECANISMOS DE PROTEÇÃO AOS DH
5.1 - Mecanismos convencionais: resultam de convenções, tratados ou acordos, somente aplicáveis em relação aos Estados signatários.
	É muito comum que o documento internacional preveja a criação de um órgão para atuar especificamente na implementação e na efetividade dos seus direitos, inclusive prevendo instrumentos (ou mecanismos) de fiscalização. 
5.2 - Mecanismos não convencionais: representam medidas afirmativas de direitos tomadas em casos de violação sistemática de DH, aplicáveis em relação a qualquer Estado, ainda que ele não tenha nenhuma convenção afirmativa de direitos, ou não sejam membros da ONU.
	Violações sistemáticas de DH são assunto de interesse da comunidade internacional. 
	O Conselho de Direitos Humanos da ONU é órgão não convencional e que tem a competência de promover e fiscalizar a observância da proteção de DH pelos Estados.
 	O Conselho tem autorização para investigar, independentemente de tratados específicos, dependendo apenas de resoluções da Assembleia Geral ou do Conselho Econômico e Social. 
6 – FISCALIZAÇÃO DO CUMPRIMENTO DAS ABRIGAÇÕES INTERNACIONAIS
	Os órgãos executivos são os responsáveis pela fiscalização do cumprimento das obrigações em torno da proteção dos DH. 
 
	Costumam ser os primeiros a ter contato com um caso de violação e, antes de adotar medidas, devem apurar a violação, sobretudo mediante instauração de procedimentos específicos.
Exemplos: o Conselho de Direitos Humanos (ONU) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. 
	Os órgãos jurisdicionais atuam na responsabilização internacional dos Estados por violações de DH, mediante processo judicial perante um tribunal internacional. Exemplo: Corte Internacional de Justiça (ONU).
7 – MECANISMOS DE FISCALIZAÇÃO
· Relatórios: os Estados signatários se obrigam a remetê-los ao órgão fiscalizador, informando acerca das medidas adotadas quanto ao cumprimento das obrigações internacionais. 
	A eficiência do mecanismo é discutível, uma vez que cabe ao próprio Estado a elaboração do relatório.
· Comunicações (ou denúncias) interestatais: feitas por um Estado alegando que outro Estado está descumprindo as obrigações assumidas em determinado tratado ou convenção internacional por ambos pactuada. 
Trata-se de mecanismo de natureza facultativa.
· Petições (ou denúncias) individuais: por pessoas, grupo de pessoas ou organizações não governamentais relacionadas à proteção e à afirmação dos DH. 
Trata-se de mecanismo eficiente, pois pode ser feito inclusive pelas próprias vítimas ou por seus familiares. É mecanismo de natureza facultativa.
8 – CAPACIDADE INTERNACIONAL DOS INDIVIDUOS 
	No Direito Internacional Público, durante muito tempo, não se conferiu ao indivíduo o caráter de sujeito de direito: se partia da premissa de que as relações internacionais somente diziam respeito aos interesses dos Estados. 
	Paulatinamente, rendeu-se à evidência de que o indivíduo age na sociedade internacional, inclusive, independentemente do Estado.
	A capacidade internacional dos indivíduos pode ocorrer no polo ativo (por exemplo, peticionando para tribunais internacionais ou recebendo proteção diplomática de seu Estado) 
	Pode ocorrer também no polo passivo (p. ex., indivíduo responsabilizado criminalmente perante o TPI, caso seja acusado de grave crime contra os direitos humanos).
	Embora o estágio atual da proteção internacional dos DH reconheça a ampla legitimidade dos indivíduos para que acionem órgãos executivos e apresentem denúncias, não lhes é reconhecida a mesma extensão desse direito para acionar os tribunais internacionais.
 
Regra geral, as cortes internacionais só podem ser provocadas por Estados ou por órgãos executivos.
Excepcionando a regra, o sistema europeu de proteção aos Direitos Humanos autoriza que indivíduos acionem diretamente a Corte Europeia de Direitos Humanos.
AULA 10 – DIREITOS HUMANOS – Data: 25.10.2022
CORTE INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
1. ORGANIZAÇÃO
	A Corte Interamericana de Direitos Humanos(Corte IDH) é instituição judicial autônoma e órgão criado pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH). 
	É formada por sete juízes, nacionais dos Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). Não pode haver dois juízes da mesma nacionalidade.
“Os juízes da Corte são eleitos em votação secreta na Assembleia Geral da OEA, mediante o voto da maioria absoluta dos Estados-partes na CADH. O mandato é para o prazo de seis anos e só admite uma reeleição.”
2. COMPETÊNCIA CONSULTIVA
	Por meio da competência consultiva, a Corte dá pareceres sobre tratados de direitos humanos aos Estados, vinculando os Estados interamericanos.
	Qualquer membro da OEA pode solicitar o parecer da Corte relativamente à interpretação da Convenção ou de qualquer outro tratado relativo à proteção dos direitos humanos aplicável aos Estados americanos (art. 64, item 1, da CADH). 
	A Corte pode também se manifestar sobre a compatibilidade de preceitos da legislação doméstica em face dos instrumentos internacionais. 
	Item 2 do art. 64, CADH: “a Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais”.
3. COMPETÊNCIA CONTENCIOSA
	Por meio da competência contenciosa, a Corte examina alegações de violações de direitos previstos na CADH. 
	A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (Comissão IDH) ou o Estado-parte pode apresentar uma petição perante a Corte. Indivíduos não podem postular diretamente na Corte (art. 61 da CADH). A Comissão, após receber o caso, pode levá-lo à Corte. 
	Além dos sete juízes, determinado caso pode ter um juiz ad hoc na jurisdição contenciosa, caso o Estado não possua um juiz de sua nacionalidade em exercício na Corte (art. 55, item 3, da CADH).
	A Corte IDH eliminou o juiz ad hoc nas demandas iniciadas pela Comissão a pedido de vítimas, somente o mantendo para as demandas originadas de comunicações interestatais.
· Art. 63, item 1, da CADH: 
“quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos nesta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as consequências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada”.
4. REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE
	A Comissão IDH, em no máximo três meses após o envio do seu relatório ao Estado, não havendo o acatamento das conclusões do seu primeiro informe pelo Estado infrator, pode acioná-lo perante a Corte IDH.
	Os outros Estados contratantes, que tenham reconhecido a jurisdição da Corte, podem também acionar o Estado infrator.
5. PETIÇÃO INICIAL E O DEFENSOR PÚBLICO INTERAMERICANO
	Depois de admitida a demanda, as supostas vítimas, seus familiares ou representantes poderão apresentar suas petições, argumentos e provas de forma autônoma durante todo o processo.
	Caso as vítimas não possuam recursos financeiros, haverá nomeação de um defensor público interamericano para representá-las judicialmente.
.” A OEA fez convênio com a Associação Interamericana de Defensorias Públicas, que possui uma lista de defensores públicos nacionais especializados no sistema interamericano.”
6. CONTESTAÇÃO E PROVAS
	O Estado réu é notificado para oferecer sua contestação no prazo de dois meses. 
	Em sua defesa, deve desde já indicar as provas que pretende produzir, apontar os fundamentos de direito, bem como as conclusões pertinentes. A inércia do demandado em apresentar a defesa autoriza a Corte desde logo proferir a sentença.
	São admitidos todos os modos de produção de prova previstos também no direito brasileiro. 
	As provas produzidas pela Comissão em seu procedimento próprio só serão incorporadas ao processo perante a Corte IDH se forem produzidas em procedimento que tenha sido fruto do contraditório, salvo que a Corte considere indispensável repeti-las.
“A fase probatória encerra-se com a apresentação de alegações finais escritas pelas vítimas, pelo Estado demandado e também pela Comissão.”
7. OS AMICI CURIAE
	O amicus curiae não é parte na disputa e oferece à Corte internacional uma perspectiva própria, argumentos ou saber especializado, que poderão ser úteis na tomada da decisão. 
	A petição do amicus curiae poderá ser apresentada em até 15 dias após a audiência pública ou, não havendo audiência, até 15 dias posteriores à decisão que determina a apresentação de alegações finais. 
8. MEDIDAS PROVISÓRIAS
	A Corte poderá tomar as medidas provisórias pertinentes para, em casos de extrema gravidade e urgência, evitar danos irreparáveis às pessoas.
	Nos casos sob sua análise, a Corte poderá agir de ofício ou por provocação das vítimas ou representantes; em caso ainda não submetido à sua consideração, a Corte somente poderá atuar por solicitação da Comissão (item 2 do art. 63 da CADH).
“A casuística da Corte IDH mostra que, geralmente, essas medidas são adotadas em casos relacionados a sistemas prisionais. Na América Latina inteira há medidas provisórias relacionadas a sistema prisional.”
9. FASE DECISÓRIA
	A Corte delibera em privado e, após, publica sua decisão. A decisão é obrigatória. Se o Estado não cumprir a decisão, a questão é levada à Assembleia Geral da OEA. 
	A sentença é inapelável, mas cabe recurso de esclarecimento. A sentença constituiu um título executivo: as decisões da Corte não precisam ser homologadas para produzir efeitos internamente. 
	As decisões da Corte, além de declarar a violação do direito e estabelecer a reparação desse dano, têm estabelecido medidas diversas (exemplos: construir hospitais, escolas, memoriais) para satisfazer os direitos violados.
	A Corte IDH também exige que o Estado condenado apresente relatórios periódicos de cumprimento da sentença.
	A Corte poderá convocar o Estado e os representantes das vítimas para uma audiência a fim de supervisionar o cumprimento de suas decisões, ouvindo-se a Comissão.
	A sentença da Corte IDH deve ser devidamente fundamentada, com referência às provas dos autos e às normas de direitos humanos vigentes. 
10. TEORIA DA MARGEM DA APRECIAÇÃO
	É baseada na subsidiariedade da jurisdição internacional: sustenta que determinadas questões devem ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não podendo o juiz internacional apreciá-las. 
	Assim, ficaria a cargo do próprio Estado nacional estabelecer os limites e as restrições ao gozo de direitos em face do interesse público. 
	Trata-se de teoria com maior aplicação no âmbito da Corte Europeia de Direitos Humanos, cujo objetivo é preservar a discricionariedade dos Estados europeus na implementação de normas internacionais de direitos humanos. Esta teoria não encontra amparo na Corte Americana de Direitos Humanos,
Críticas da doutrina: a teoria dificulta a busca pela efetividade dos direitos humanos e de uma concepção universal desses direitos, na medida em que permite que cada Estado dê interpretações domésticas sobre direitos essenciais para uma vida digna.

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