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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES PROF. VICTOR EDUARDO S. LUCENA E-MAIL: VICTORLUCENA84@GMAIL.COM 2016.2 AULA - VI 1. Obrigações solidárias 2. Solidariedade ativa 3. Solidariedade passiva 4. Diferenças entre obrigações solidárias e divisíveis 1. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS Nas relações obrigacionais solidárias há mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um deles com direito, ou obrigado à dívida toda. Note: Não impera, aqui, a regra do concursu partes fiunt (no concurso as partes se fracionam), vez que cada credor ou devedor atuam como se fossem os únicos de suas classes. Nas obrigações solidárias há sempre mais de um sujeito em algum dos polos da relação obrigacional. Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. Segundo Cristiano Chaves, "quando A, B e C são devedores solidários da quantia de R$ 90,00, na verdade o debito de cada um se resume a R$ 30,00, mas a responsabilidade se expande, ao ponto de cada um vincular o seu patrimônio pelos R$ 90,00". A solidariedade é compatível com todos os gêneros de obrigação, vez que não diz respeito á sua natureza ou ao seu objeto. POSTULADOS DA SOLIDARIEDADE: a) Pluralidade subjetiva (de sujeitos): na obrigação solidária há, sempre, mais de um credor (sujeito ativo), ou mais de um devedor (sujeito passivo). b) Unidade objetiva da prestação: Tanto os credores solidários como os devedores solidários concorrem na obrigação, de forma que há uma só relação obrigacional que envolve todos esses sujeitos. c) Manifestação nas relações externas: A solidariedade só se manifesta nas relações externas, ou seja, de credor para devedor. Às relações entre os indivíduos que ocupam o mesmo polo da relação são "divisíveis" (e.g. Sociedades Limitadas e pagamento de indenizações aos consumidores). d) A solidariedade não se presume: A regra geral não é a da solidariedade, de maneira contrária ela deve ser prevista pela lei ou pela vontade das partes (Art. 265 e 266 CC). Não obstante a solidariedade não seja presumida, pode haver casos nos quais a solidariedade deriva de declaração tácita de vontade, que ocorre quando as condições fáticas do momento no qual a obrigação foi contraída indicam a solidariedade (e.g. a obrigação do empregador de reparar o dano causado pelo empregado - art. 942 CC. A obrigação de indenizar do empregador é objetiva. Já a do empregado, deriva da constatação do ilícito e do dano. Não obstante isso, qualquer deles pode pagar o débito e extinguir a obrigação). Obs.: Questão da solidariedade constitucional. PRINCÍPIOS DA SOLIDARIEDADE Temos, assim, alguns princípios da solidariedade: a) Inexistência de solidariedade presumida: A solidariedade deve ser expressa (lei, contratos, atos unilaterais de vontade). b) Possibilidade de a solidariedade não ser igual para os sujeitos: podem variar as condições, tempo e local para o pagamento de determinado sujeito da relação obrigacional sem que reste alterada a solidariedade (art. 266 CC). Pode, inclusive, variar a causa da responsabilidade (contratual ou extracontratual), sem que haja a alteração da solidariedade (e.g. acidente de ônibus e veículo de carga, que deixa passageiro ferido). (ver Arts. 125 e 130 CC) Nesse sentido está o Enunciado 347 da IV Jornada de Direito Civil, que diz: "A solidariedade admite outras condições de conteúdo particular além do rol previsto no art. 266 do Código Civil". ESPÉCIES DE OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS As obrigações solidárias são classificadas em: a) Ativas ou de credores; b) Passivas ou de devedores c) recíprocas ou mistas. 2. SOLIDARIEDADE ATIVA Na solidariedade ativa, há relação jurídica entre diversos credores de uma só obrigação e um devedor comum. Nessa modalidade de solidariedade, cada credor pode exigir a integralidade da prestação (art. 267 CC). Enquanto não houver cobrança judicial, o devedor pode pagar a qualquer dos credores solidários (art. 268). Caso haja tal cobrança, pelo princípio processual da prevenção, o devedor só será liberado se pagar ao credor que tomou a iniciativa. Pago o débito a qualquer dos credores, o devedor se liberta do vínculo obrigacional. O credor que recebeu a obrigação deverá pagar aos demais credores as suas respectivas parcelas. Exemplo: conta conjunta, na qual qualquer dos correntistas (credores) pode sacar a integralidade dos valores depositados do banco (depositário devedor). DISCIPLINA LEGAL DA SOLIDAREIDADE ATIVA Refração do crédito (art. 270 CC): Ocorre quando falece o credor de obrigação solidária na qual haja solidariedade ativa. Nesse caso, os herdeiros do credor terão direito a exigir somente a quota correspondente à parcela que seria devida única e exclusivamente àquele credor. A refração não ocorrerá nos seguintes casos: a) se o credor só deixou um herdeiro; b) se todos os herdeiros agirem conjuntamente; c) se indivisível a prestação. Nesses casos, poderá ser reclamada a prestação por inteiro. A Refração do crédito não afeta aos demais credores solidários. Conversão em perdas e danos: Diferentemente do que ocorre nas obrigações indivisíveis com diversos credores, as obrigações solidárias, mesmo que convertidas em perdas e danos, preservam a característica da solidariedade. Assim, mesmo que haja a conversão da obrigação em perdas e danos, poderá qualquer credor exigir a totalidade do valor devido. Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Oposição de exceções pessoais: As exceções pessoais oponíveis a um determinado credor não poder ser utilizadas contra os demais (art. 273 CC). Assim, a coação praticada por um dos credores, ou qualquer outro fato que cause eventual nulidade daquele negócio em relação àquele credor, não pode ser oposta aos demais credores. Essa regra também vale para as oposições processuais, tais como as prejudiciais de mérito (e.g. local do pagamento). Julgamento contrário a um dos credores solidários: Da mesma sorte, o julgamento contrário a um dos credores não afeta aos demais credores solidários (art. 274 CC). EXTINÇÃO DA OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA ATIVA (art. 269 do Código Civil) O pagamento integral realizado a qualquer dos credores extingue a obrigação solidária. Isso porque, nessa obrigação, qualquer dos credores está apto a liberar o devedor da obrigação por força do vínculo de solidariedade. Exemplo: Caio deve R$ 100,00 reais para Tício e Mélvio. Se Caio pagar R$ 100,00 para Tício ou para Mélvio, estará extinta a obrigação. Entretanto, se Caio pagar R$ 50,00 para Tício, ainda deverá R$ 50,00 para Tício e Mélvio. Note: Somente o pagamento integral feito a qualquer dos credores libera o devedor da obrigação solidária. O pagamento parcial da dívida somente a extingue "até o montante que foi pago". Atenção: A confusão só extingue a dívida até a parte do crédito correspondente ao acréscimo patrimonial, persistindo a solidariedade. Exemplo: Mélvio deve um carro no valor de R$ 46.000,00 para seu pai Caio e para seu amigo Semprônio. Caio falece e deixa seu crédito de herança para Mélvio. Assim, como o crédito de Caio era de R$ 23.000,00, Mélvio ainda deverá 23.000,00 a Semprônio. Caso uma obrigação seja nula em relação a um dos credores (e.g. coação), sua parte será deduzida do todo e o esse credor será excluído do rateio. DIREITO DE REGRESSO (Art. 272 do Código Civil) Nas relações internas entre credores solidários, presume-se que o crédito é dividido em quotas iguaisaté prova em contrário. Assim sendo, o credor que receber a integralidade dos créditos deverá repassar aos demais as suas respectivas quotas parte. Nada impede, entretanto, que, internamente, os credores optem pela diversidade dos quinhões (e.g. contrato). Assim, recebido o valor da dívida, no todo ou em parte, deverá o credor proceder ao rateio do valor recebido entre todos os demais credores solidários. Caso tal rateio não seja realizado, poderão os demais credores exigir daquele que recebeu as suas respectivas quotas parte. 3. SOLIDARIEDADE PASSIVA A solidariedade passiva consiste na existência de dois ou mais devedores, que se obrigam pela totalidade da prestação ante ao credor ou aos credores, no polo passivo de determinada relação obrigacional. Nela, o credor pode exigir a totalidade da prestação de qualquer dos devedores (art. 275 do CC) e cada devedor está obrigado à prestação na sua totalidade, tal qual a tivesse contraído o débito sozinho. Nesse diapasão, uma vez paga toda a prestação por um dos devedores, ficam os demais liberados da obrigação (art. 277 CC). RELAÇÕES DOS DEVEDORES ENTRE SI Entre si, os devedores são uns responsáveis para com os outros. Nesse sentido, a solidariedade passiva serve ao credor como espécie de garantia do recebimento do valor ou da prestação devida. Note: a solidariedade passiva não se confunde com a fiança. EFEITOS DA SOLIDARIEDADE PASSIVA Possibilita que o credor exigir a integralidade da prestação de qualquer dos devedores, de um deles ou de qualquer deles. O credor também pode cobrar somente parte do débito de um dos devedores (faculdade). Se houver o pagamento de parte da prestação por um dos devedores, apenas, tal parcela aproveitará aos demais devedores solidários, sendo abatida do débito, permanecendo, no entanto, a solidariedade. (e.g. João, José e Joaquim devem dinheiro a Caio. João paga 1/3 da dívida. Permanecerá a dívida de 2/3 da prestação, com todos os devedores solidários). A propositura de ação pelo credor contra um dos devedores solidários não inibe a possibilidade de futura proposição contra os demais. Os efeitos da solidariedade aproveitam tanto ao credor originário como ao cessionário ou ao terceiro sub-rogado. EFETIOS DA MORTE DE UM DOS DEVEDORES SOLIDÁRIOS Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível, mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário. Na relação obrigacional na qual há solidariedade passiva, caso o devedor venha a falecer, os herdeiros são, todos juntos, considerados como um só devedor solidário. Mesmo assim, nesse caso, os herdeiros só responderão pela dívida dentro das forças da herança. Se a obrigação for divisível, os herdeiros entre si responderão, cada um, pela quota correspondente. Todavia, se a obrigação for indivisível, todos os herdeiros serão responsáveis pela dívida toda. A morte de um dos devedores solidários não rompe a solidariedade. RELAÇÃO ENTRE OS CODEVEDORE SOLIDÁRIOS E O CREDOR (Art. 277 do CC) O pagamento parcial feito por u dos devedores aproveita aos demais até o limite da quantia paga. Mesmo que o pagamento parcial realizado seja suficiente para "liberar" um dos devedores, persistirá a solidariedade. Assim, a relação entre os devedores e o credor é alterada, de forma que o credor só poderá cobrar do devedor que pagou, ou dos demais devedores o saldo remanescente. Tal quadro é configurado para que não haja enriquecimento sem causa. Caso a dívida de um dos devedores solidários seja remitida pelo credor, haverá a extinção da dívida a ele correspondente, mas serão preservadas a parcela não remitida da dívida e a solidariedade dos demais devedores. CONDIÇÃO, CLÁUSULA OU OBRIGAÇÃO ADICIONAL Como já vimos, ninguém pode ser obrigado para além daquilo ao qual se obrigou. Da mesma sorte, ninguém pode ser obrigado pela vontade de terceiro. Assim sendo, a condição ou obrigação mais gravosa contraída por um dos devedores solidários não obriga aos demais devedores que com ela não anuíram (art. 278 CC). Questão relevante: Os codevedores têm, um em nome dos demais, mandato recíproco para se representar no cumprimento e extinção das obrigações. Desse modo, se um devedor convencionar com o credor cláusula penal, juros mais elevados ou qualquer outra clausula que prejudique os demais devedores, essa cláusula terá eficácia pessoal, apenas. Só atingem aos demais devedores as alterações favoráveis à extinção da obrigação. RENÚNCIA DA SOLIDAREIDADE O credor é livre para renunciar a solidariedade em favor de um ou de todos os devedores solidários (art. 282 CC.) A renúncia pode ser: Absoluta: quando realizada em favor de todos os obrigados. Nesse caso, cada um só deverá a sua respectiva quota, extinta a solidariedade. (e.g. Caio e Tício devem R$ 10.000,00 a Mélvio, que renuncia à solidariedade de maneira absoluta. Caio e Tício passam a dever R$ 5.000,00 a Mélvio cada um, sem que haja qualquer solidariedade). Relativa: é operada em favor de um ou de alguns devedores. Nesse caso, a dívida se divide em duas ou mais, persistindo a solidariedade contra aqueles devedores que não foram beneficiados pela renúncia. (e.g. Caio, Tício e Semprônio devem R$ 12.000,00 a Mélvio. Mélvio renuncia à solidariedade em favor de Caio, que passa a dever R$ 4.000,00 a Mélvio. Tício e Semprônio continuam devedores solidários da quantia de R$ 8.000,00). Caso haja a renúncia relativa, o credor não poderá exigir dos devedores solidários a parcela referente ao débito do devedor em favor de quem renunciou a solidariedade. Formas de renúncia: Expressa: resulta da declaração escrita ou verbal de vontade. Tácita: decorre de uma série de atos que demonstram que o credor deseja receber apenas a quota parte de um dos devedores, dando-lhe a quitação referente (bastante incomum). DIFERENÇA ENTRE RENÚNCIA DA SOLIDARIEDADE E REMISSÃO DA DÍVIDA Enquanto na remissão da dívida, a dívida é extinta em relação ao devedor, na renúncia da solidariedade a dívida persiste, passando, somente a inexistir o vínculo de solidariedade e todas as suas consequências. IMPOSSIBILIDADE SUPERVENIENTE DA PRESTAÇÃO Tornando-se uma prestação impossível por culpa de um dos devedores solidários, todos os devedores responderão pela prestação, mas somente o devedor que deu causa à impossibilidade responderá por perdas e danos (art. 279 CC). Caberá ao devedor inadimplente provar, para se exonerar das perdas e danos, que a impossibilidade decorreu de caso fortuito ou força maior. A responsabilidade pelos atos prejudiciais é daquele que os praticou (art. 280 CC). Assim sendo, é o devedor culpado responde PERANTE AOS DEMAIS DEVEDORES pelos acréscimos de juros de mora que incidirem sobre a obrigação. Entretanto, todos os devedores solidários responderão pelos juros de mora perante o credor nas obrigações nas quais há solidariedade passiva. Isso ocorre porque os juros da mora são obrigação acessória à principal. São, assim, dela inseparáveis, sob pena de quebra da solidariedade. EXCEÇÕES COMUNS E PESSOAIS Exceções são defesas dos devedores contra o credor. São, por exemplo, a prescrição, nulidade, extinção etc. As exceções comuns podem ser opostas por qualquer devedor, já as pessoais, somente por aquele devedor que as aproveita. (art. 281 CC). Exemplo: A coação de todos pode ser oposta por qualquer dos devedores. Já o erro de um só deles no momento da contração da obrigaçãosó pode ser oposto por aquele que incorreu no erro. As exceções pessoais não aproveitam aos demais devedores. RELAÇÕES DOS DEVEDORES ENTRE SI A solidariedade não existe entre os devedores. Entre eles existe um complexo de relações, de obrigações divisíveis. Assim, o devedor que extinguiu a dívida pelo pagamento da prestação tem o direito de exigir dos codevedores o valor pago que corresponde à quota de cada um deles na relação obrigacional (art. 283 CC). Vemos, então, que o débito se divide, entre os devedores, em tantos débitos quanto é o número de devedores, em iguais parcelas. DIREITO DE REGRESSO O devedor solidário que paga a prestação e extingue a obrigação em relação aos demais se substitui no lugar do credor para cobrar dos codevedores a parcela por ele paga, mas que era referente à quota parte dos demais. Entretanto, se um devedor paga a totalidade da dívida, mas deixa de avisar a um codevedor, que também a paga ao credor, caberá direito de regresso do contra o credor. Caso a dívida seja de trato sucessivo, mas um devedor solidário a quite por inteiro, deverá exercer o direito de regresso em desfavor dos demais devedores somente das partes vencidas, vez que o demais ainda poderia ser exigido pelo credor. Se um dos credores se tornar insolvente, a sua parte da dívida será rateada entre todos os demais (inclusive entre os que foram excluídos da solidariedade) (art. 284 CC). QUESTÃO ESPECIAL - CASO DO ÚNICO INTERESSADO (art. 283 CC) Caso uma dívida solidária interesse a somente um devedor, deste poderá ser exigida a totalidade da prestação, mas, dos demais, somente as suas respectivas quotas parte. Exemplo: relação de empréstimo bancário (mútuo) com aval de terceiros, que se tornam devedores solidários. Se vencido o título que representa a dívida, poderá ela ser exigida de qualquer dos terceiros avalistas, que poderão exigir a totalidade do valor do real devedor. INSOLVÊNCIA DO DEVEDOR SOLIDÁRIO Caso um dos devedores solidários se torne insolvente, aplica-se a regra do artigo 284 do CC. Entretanto, se esse devedor recuperar patrimônio no tempo, respeitado o prazo prescricional, podem os demais devedores repetir o valor que pagaram além das suas quotas sobre o devedor que, antes, era insolvente. Ou seja, podem dele cobrar o valor referente à sua parcela, mas que foi rateado entre os demais devedores. Caso todos os devedores se tornem insolventes, pode o credor exigir o valor devido do devedor beneficiário da remissão.
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