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O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL: MECANISMOS DE DEFESA E GARANTIAS E SUAS CONTROVÉRSIAS / SERVIÇO SOCIAL/ UNOPAR

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Sistema de Ensino SEMIPresencial Conectado
cursO de serviço social
O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL: MECANISMOS DE DEFESA E GARANTIAS E SUAS CONTROVÉRSIAS 
CIDADE
2020
O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL: MECANISMOS DE DEFESA E GARANTIAS E SUAS CONTROVÉRSIAS 
Trabalho multidisciplinar apresentado à Universidade Pitágoras Unopar, como requisito parcial para a obtenção de média semestral.
CIDADE
2020
O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL: MECANISMOS DE DEFESA E GARANTIAS E SUAS CONTROVÉRSIAS 
"As crianças quando bem cuidadas são sementes de paz e esperança"
Zilda Arns Neumann
RESUMO
O objetivo deste estudo é, de forma sucinta, abordam os mecanismos de defesa do trabalho infantil no Brasil, suas garantias e controvérsias. Aborda o papel da Organização das Nações Unidas-ONU no contexto protetivo mundial do trabalho infantil. Estuda a Constituição Federal do Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Enfatiza a importante função da rede intersetorial formada pelos CRAS, CREAS, Programa Fica Vivo e Mediação de conflito, CAPSi e matriciamento de Saúde Mental Claramente como mecanismos de proteção à criança. 
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO ..................................................................................................
	2
	2
	DESENVOLVIMENTO .....................................................................................
	2
	 2.1
	 Realidade social .................................................................................................
	2
	 2.2
	 Mecanismos de defesa e garantias e suas controvérsias ...................................
	3
	 2.3
	 Rede de apoio local ...........................................................................................
	5
	
	CONCLUSÃO ....................................................................................................
	6
	
	REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................
	7
1. INTRODUÇÃO
A proteção das crianças e adolescentes é tema de importância internacional. A ONU - Organização das Nações Unidas organizou um pacto entre os Estados através da Declaração Universal dos Direitos das Crianças pactuada entre 196 países que se comprometeram a garantir os direitos das mesmas. Entre os direitos reconhecidos internacionalmente encontra-se à proteção contra a exploração do trabalho infantil.
		Devido principalmente ao seu contexto histórico, a realidade brasileira referente ao trabalho infantil é um tema bastante delicado e precisa ser desmistificado, pois a interpretação errônea ou a falta de conhecimento sobre os mecanismos de defesa e garantias das crianças e adolescente pode causar atrocidades contra a infância seja ela vista de forma individual e/ou coletiva. 
		 Para a elucidação dos argumentos citados anteriormente foi realizada uma revisão bibliográfica das principais legislações vigentes, dentre as quais pode-se citar: a Declaração Universal dos Direitos das Crianças e Adolescentes, Constituição Federal do Brasil e o Estatuto da Criança e do Adolescente em cotejo com as informações sobre a rede serviços de proteção á infância no município de Ribeirão das Neves-MG. 
		O primeiro capítulo, Realidade Social, trás uma reflexão a respeito do papel da sociedade neste contexto. O segundo capítulo, Mecanismos de defesa e garantias e suas controvérsias, é composto pelo embasamento legislativo e a explanação a respeito das diversas controvérsias existentes em torno do trabalho infantil e, no terceiro capítulo, a Rede de Apoio Local, contém uma breve apresentação de alguns dos parceiros regionais envolvidos da rede de proteção á infância e adolescência na cidade de Ribeirão das Neves-MG. 
 2. DESENVOLVIMENTO
2.1 Realidade social 
		A discussão acerca do tema trabalho na infância é muito polêmica, pois sempre que se toca em tal argumento existem “defensores da ordem e dos bons costumes” que defendem ter trabalhado quando criança e nem por isso morreram. O trabalho infantil é uma questão seríssima e não pode ser confundido como uma mera ajuda que os filhos podem dar como forma de contribuição dentro da família sem que esta cause prejuízo físico, psíquico e social. Quando se fala de trabalho infantil estamos falando de trabalhos desproporcionais a faixa etária, condição física, psíquica, carga horária, entre outras variantes e não devem ser confundidas. 
		Numa entrevista a Rede Peteca - Chega de Trabalho Infantil, em maio de 2017, a auditora fiscal do trabalho esclarece Marinalva Dantas: “Quando crianças estão na rua, faltando na escola, e ainda se encontram nas piores formas de trabalho infantil, isso significa que a sociedade está doente.”
		A sociedade e sua cultura podem e deve ser mudadas no que não estão funcionando, mas o primeiro passo desta mudança é reconhecer seu erro. Criticar relações opressivas é propor a transformação das relações sociais para uma sociedade mais justa e humana, ou seja, ir em busca da tão almejada Justiça Social, como muito bem expõem Pimentel e Silva (2018, p.50) sobre a teoria Marksiana:
Teoria e metodologia na análise marxiana partem da realidade social para captar as múltiplas determinações, que se elevam na elaboração de um todo pensado que relaciona particularidade, singularidade e totalidade, apreendendo a essência e a aparência do objeto, com o objetivo de criticar as relações opressivas e contrárias e propor a transformação das relações sociais. A leitura da realidade operada por meio do método marxiano apreende um todo vivo e articulado, construído objetiva e subjetivamente pelo ser social. A pesquisa marxiana não é neutra; ela é também um caminho político, que desvenda os interesses classistas e apoia o interesse concretamente coletivo, da emancipação do ser social. Portanto, o método e a teoria marxiana se dirigem a um projeto societário alternativo ao capital.
		Um projeto societário alternativo ao capital ou pelo menos que amenize as injustiças sociais existente neste tipo de sistema prevê mecanismos de defesas e garantias de direitos. 
2.2 Mecanismos de defesa e garantias e suas controvérsias
		A ONU (1990) prevê em seu artigo 32 que as Nações desenvolvam e implementem sistemas de garantia de direitos das crianças incluindo proteção contra exploração econômica, trabalhos perigosos, ou que necessite do abandono escolar, assim como a idade mínima para o trabalho. No Brasil a Constituição Brasileira em vigor (1988) em seu artigo 227 esclarece a maior parte das controvérsias que existentes em torno do trabalho infantil, como idade mínima para o trabalho e suas especificidades e a garantia de acesso à escola, caso esteja trabalhando. Todavia, tal determinação não têm o efeito esperado, haja vista, por exemplo, que as crianças de hoje não podem trabalhar para ajudar suas famílias, no entanto, na realidade existe uma idade mínima para que isso ocorra sem que haja prejuízos para seu desenvolvimento intelectual e físico. 
		O ECA - Estatuto da Criança e Adolescente, Lei 8069/1990, em especial o artigo 53, enfatiza a prioridade da questão educacional quando estes alcançam a idade mínima para o trabalho. E uma das condições previstas neste artigo é que a criança e o adolescente que trabalham tenham igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Já o artigo 60 proíbe qualquer trabalho a menor de quatorze anos, salvo em condição de aprendiz. 
Por sua vez, o artigo 69 desta mesma lei esclarece:
Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre outros:
I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;
II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
 		Já a Consolidação da Legislação do Trabalho-CLT prevê em seu artigo 428 que:
Contrato de aprendizagem é o contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e porprazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurar ao maior de 14 (quatorze) e menor de 24 (vinte e quatro) anos inscrito em programa de aprendizagem formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz, a executar com zelo e diligência as tarefas necessárias a essa formação. (Redação dada pela Lei nº 11.180, de 2005)
		Estes mecanismos de defesa direcionam a forma de contratação garantindo não somente a renda aos menores aprendizes, mas também o ensino profissional de qualidade e estimulo a continuidade acadêmica. 
		O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI segundo o site da Secretaria Especial do Desenvolvimento Social é definido como:
 Conjunto de ações que têm o objetivo de retirar crianças e adolescentes menores de 16 anos do trabalho precoce, exceto na condição de aprendiz a partir de 14 anos. O programa, além de assegurar transferência direta de renda às famílias, oferece a inclusão das crianças e dos jovens em serviços de orientação e acompanhamento. A frequência à escola também é exigida. 
		O referido programa faz parte da Lei orgânica da Assistência Social-LOAS instituído pela Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993 e vem para garantir o mínimo de atendimento as necessidades básicas da sociedade. Em seu artigo 24 dispõe sobre o programa como forma de garantias de direito das crianças e adolescentes nos seguintes termos:
Fica instituído o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), de caráter intersetorial, integrante da Política Nacional de Assistência Social, que, no âmbito do Suas, compreende transferências de renda, trabalho social com famílias e oferta de serviços socioeducativos para crianças e adolescentes que se encontrem em situação de trabalho.
§ 1o O Peti tem abrangência nacional e será desenvolvido de forma articulada pelos entes federados, com a participação da sociedade civil, e tem como objetivo contribuir para a retirada de crianças e adolescentes com idade inferior a 16 (dezesseis) anos em situação de trabalho, ressalvada a condição de aprendiz, a partir de 14 (quatorze) anos.
§ 2o As crianças e os adolescentes em situação de trabalho deverão ser identificados e ter os seus dados inseridos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), com a devida identificação das situações de trabalho infantil.
		Estes são apenas alguns dos principais mecanismos de defesas e garantias dos direitos das crianças e adolescentes. Toda e qualquer ação, participação e até mesmo denúncia são muito bem vindas quando se trata de proteger crianças. Estes seres, além de indefesos, e só por isso já justificaria serem protegidos pela sociedade como um todo, são o futuro de nossa Nação. 
2.3 Rede de apoio local
 		Os municípios brasileiros através dos SUAS tem como base de proteção e fortalecimento dos vínculos os Centros de Referências em Assistência Social-CRAS que também direcionam os adolescentes, a partir dos 14 anos, para empresas que contratam o “Jovem Aprendiz”.
		 O Município de Ribeirão das Neves possui uma rede intersetorial que promove alguns programas e projetos direcionados a crianças e adolescentes, principalmente no que tange a situação do trabalho infantil. Dentre estes estão os CRAS, CREAS, Programa Fica Vivo e Mediação de conflito, CAPSi e matriciamento de Saúde Mental Claramente, contemplando a maioria das propostas da última conferência do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente do município. 
CENTROS SOCIOASSSISTENCIAIS EXISTENTES EM RIBEIRÃO DAS NEVES
 
CRAS * 7
CREA * 1
Centro de Convivência 2
Centro de Juventude não há
Unidade de atendimento ao adolescente em conflito com a lei 1
Centro de geração de trabalho e renda-profissionalizante não há
Fonte: MDSA-Censo SUAS 2014 e IBGE-Pesquisa de Informações Básicas Municipais, Suplemento de Assistência Social 2013. *Janeiro 2017
O Município de Ribeirão das Neves está entre os municípios brasileiros prioritários no Diagnóstico Intersetorial Municipal para o Desenvolvimento das Ações Estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil-PETI segundo dados da Secretaria Especial do Desenvolvimento Social.
CONCLUSÃO
		É sabido que a proteção das crianças e adolescentes é tema de extrema importância e preocupação internacional. Portanto a ONU organizou um pacto entre os Estados através da Declaração Universal dos Direitos das Crianças. Uma das maiores preocupações das Nações é a privação de direitos relacionados ao trabalho infantil. Reconhece-se que os danos causados por ele podem ser irreversíveis e prejudiciais não somente ao indivíduo, mas a sociedade como um todo. Foram apresentados neste artigo alguns dos mecanismos de defesa e garantias, principalmente os brasileiros usados no combate ao trabalho infantil. Apresentou brevemente o Município de Ribeirão das Neves, que possui uma rede intersetorial que promove alguns programas e projetos direcionados a crianças e adolescentes, principalmente no que tange a situação do trabalho infantil, haja vista a fragilidade deste município sendo inclusive indicado como um dos municípios prioritários para ações estratégicas do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Este artigo visou contribuir para elucidar como estes mecanismos são imprescindíveis para a proteção da infância e para fortalecer a luta permanente da sociedade a favor da erradicação deste tipo de trabalho, mas sem a pretensão de encontrar respostas e soluções para um argumento extremamente complexo e delicado. Novas abordagens necessitam serem realizadas com o fito de aprofundar o tema de tamanha relevância social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBERTO, M.F.P et al. Programa de erradicação do trabalho infantil e garantia de direitos, In: Revista direitos fundamentais e democracia, v. 22, n. 1, p. 196-227, jan./abr. 2017. Disponível em: http://revistaeletronicardfd.unibrasil.com.br/index.php/rdfd/article/view/658. Acesso em 03 set 2019.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Institui a Constituição Brasileira. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ano 126, n.191, p. 1-32,05out.1988.
BRASIL. Lei Federal n. 8069/1990. Institui o Estatuto da Criança e Adolescente. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ano nº 97, p. 13563, 13 jul.1990.
BRASIL. Lei Federal n. 10.097/2000. Institui a Lei do Aprendiz. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ano n. 135, p. 1-80, 16 jul. 1990. 
BRASIL. Lei Federal n. Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Institui a Lei Orgânica da Assistência Social - LOAS. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ano, n. 140, p. 18769 ,07 dez.1993.
BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria do desenvolvimento Social Ação Estratégica do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, Caderno de Orientações Técnicas para o aperfeiçoamento da gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil – PETI. Ministério do Desenvolvimento Social. Brasília, 2018. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8742compilado.htm >. Acesso em 16 set 2019.
CONDE, Soraya Franzoni. As medidas de enfrentamento à exploração do trabalho infantil no Brasil: forças em luta. Rev. katálysis [online]. 2013, vol.16, n.2 [citado 2019-07-12], pp.241-247. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid
=S1414-49802013000200010&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 1982-0259. Acesso em 03 set 2019.
GARCIA, Cecília, Conheça as 93 piores formas de trabalho infantil no Brasil. Rede Peteca-Chega de trabalho infantil. Disponível em: <https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/tira-duvidas/o-que-voce-precisa-saber-sobre/conheca-93-piores-formas-de-trabalho-infantil-no-brasil/>Acesso em 04 set 2019.
PIMENTEL e SILVA, Christiane. O método em Marx: a determinação ontológica da realidade social. In: Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 134, p. 34-51, abr. 2019. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-66282019000100034&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 01 setembro. 2019.
PREFEITURA DE RIBEIRÃO DAS NEVES. Profissionais envolvidos com a realização da XI Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Disponível em <http://www.ribeiraodasneves.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/profissionais-envolvidos-com-a-realizacao-da-xi-conferencia-municipal-dos-direitos-da-crianca-e-do/7063.> Acesso em 01 set. 2019

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