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Livro-Texto Unidade I direitos da crianca adolescente e idoso

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Prévia do material em texto

Autoras: Profa. Daniela Emilena Santiago
 Profa. Luciana Helena Mariano Lopes Mattos
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudella
 Profa. Tânia Sandroni
Direitos da Criança, 
Adolescente e Idoso
 Professoras conteudistas: Daniela Emilena Santiago / 
Luciana Helena Mariano Lopes Mattos
Daniela Emilena Santiago
Daniela Emilena Santiago é assistente social graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista 
em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Psicologia 
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis/SP. Atualmente, é funcionária 
pública do município de Quatá/SP, atuando como assistente social junto à Secretaria Municipal de Promoção Social. 
Exerce também a função de docente, coordenadora auxiliar e líder no curso de Serviço Social da Universidade 
Paulista (Unip).
Partindo de sua vinculação à Unip como docente do curso de Serviço Social no campus de Assis-SP, surgiu a 
oportunidade de seu atrelamento também ao curso de graduação de Serviço Social na modalidade SEI, prestada pela 
Unip Interativa. Além dessa inserção, também ministrou, na modalidade SEPI, aulas da disciplina Política Social de 
Saúde no curso de pós-graduação de Gestão em Políticas Sociais, oferecido pela Unip.
Luciana Helena Mariano Lopes Mattos
Graduada em Assistência Social pela PUC-SP, especialista em Direitos Sociais e Competências Profissionais pela 
Universidade de Brasília e mestre em Políticas Sociais pela Unicsul. 
Possui ampla experiência na área de serviço social, com ênfase em política social e políticas públicas, assistência 
social, territorialidade, sociojurídico e terceiro setor. Atualmente, trabalha no terceiro setor como assistente social 
no sistema sociojurídico, junto a um serviço de acolhimento institucional para crianças e adolescentes. É docente, 
coordenadora auxiliar e líder de disciplinas no curso de Serviço Social da UNIP campus Sorocaba-SP.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S235d Santiago, Daniela Emilena.
Direitos da Criança, Adolescente e Idoso. / Daniela Emilena 
Santiago. – São Paulo: Editora Sol, 2020.
160 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230.
1. Ação social. 2. Infância. 3. Terceira idade. I. Mattos, Luciana 
Helena Mariano Lopes. II. Título.
CDU 362
U505.52 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Vitor Andrade
 Bruno Barros
Sumário
Direitos da Criança, Adolescente e Idoso
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 TRAJETÓRIA DA PROTEÇÃO PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES 
E TERCEIRA IDADE .................................................................................................................................................9
1.1 Trajetória da assistência social no contexto brasileiro: da década 
de 1930 a 1970 ................................................................................................................................................9
1.2 A política de assistência social pós-década de 1970 ............................................................. 11
1.3 Loas e as condições necessárias à efetivação da assistência social como 
política social no Brasil ............................................................................................................................ 13
1.4 O Sistema Único da Assistência Social (Suas) e a Política Nacional de 
Assistência Social (PNAS) ......................................................................................................................... 16
2 A TRAJETÓRIA DO RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
ENQUANTO SUJEITOS DE DIREITOS ............................................................................................................ 21
2.1 A infância em civilizações antigas ................................................................................................ 22
2.2 A trajetória da infância e da juventude no Brasil ................................................................... 24
2.2.1 Período assistencial caritativo (1554-1874) ............................................................................... 24
2.2.2 Período filantrópico – higienista (1874-1924) ........................................................................... 33
2.2.3 Período assistencial (1924-1964) ................................................................................................... 38
2.2.4 Fase institucional (1964-1990) ......................................................................................................... 42
3 EFETIVIDADE DO SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS PARA A CRIANÇA 
E PARA O ADOLESCENTE .................................................................................................................................. 49
3.1 Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (SGDCA) ....................... 54
3.2 Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças 
e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária (PNCFC) ............................................... 62
3.3 Conceito de rede e rede de política social ................................................................................ 68
4 ORGANIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE PROTEÇÃO SOCIAL: PROTEÇÕES SOCIAIS 
AFIANÇADAS NA POLÍTICA SOCIAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ........................................................... 71
4.1 A proteção social básica .................................................................................................................... 73
4.2 A proteção social especial ................................................................................................................. 74
4.2.1 Cras ............................................................................................................................................................... 77
Unidade II
5 ATENÇÃO À PESSOA IDOSA ......................................................................................................................... 82
5.1 Envelhecimento .................................................................................................................................... 82
5.2 Desdobramentos do envelhecimento no aspecto biopsicossocial 
e a demanda por direitos, atendimento e cuidados ...................................................................... 92
5.2.1 Processo de envelhecimento ativo .................................................................................................. 92
5.2.2 Demandas por atendimento: violência e maus-tratos contra o idoso .............................96
6 ENVELHECIMENTO NO BRASIL ................................................................................................................... 99
6.1 Direitos dos idosos no Brasil antes da Constituição Federal de 1988 ..........................108
7 AVANÇOS CONQUISTADOS PELOS IDOSOS A PARTIR DA 
CONSTITUIÇÃO DE 1988 .................................................................................................................................115
7.1 Política Nacional do Idoso ..............................................................................................................122
7.2 Estatuto do Idoso ...............................................................................................................................125
8 INSTERSETORIALIDADE NAS POLÍTICAS SOCIAIS..............................................................................131
8.1 Intersetorialidade nas políticas de atendimento para o 
envelhecimento no Brasil .......................................................................................................................134
7
APRESENTAÇÃO
A trajetória da proteção social no Brasil está intimamente ligada à formação das políticas sociais e 
seus inúmeros desdobramentos.
Proteger crianças e adolescentes cujos direitos estejam ameaçados, de forma que possam desfrutar 
do direito a viver junto à sua família e à comunidade, é um grande desafio. 
Com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), acentuou-se o quão importante 
é apoiar a convivência familiar e comunitária, destacando o caráter de brevidade e excepcionalidade na 
aplicação da medida de proteção. 
Pensando nos ciclos de vida, há também uma nova trajetória a ser traçada, que separa segmentos 
extremos, como é o caso de crianças, adolescentes e idosos.
O envelhecimento é parte desse processo de vivência e pode ser conceituado como um conjunto de 
modificações morfológicas, bioquímicas, fisiológicas e psicológicas, o qual determina a perda progressiva 
da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente.
As questões do envelhecimento no Brasil evidenciam um avanço quanto às legislações e à necessidade 
de estabelecer políticas de proteção social.
Para tal, o estudo deste livro-texto será iniciado a partir da evolução sócio-histórica da criança 
e do adolescente, avaliando-se a trajetória de uma teoria da situação irregular a uma teoria da 
proteção integral. 
Nesse sentido, será enfatizada a condição peculiar de desenvolvimento, bem como a garantia de 
proteção integral ofertada pelas medidas protetivas e socioeducativas para crianças e adolescentes. Por 
fim, serão examinadas as questões do cuidado e da proteção para a pessoa idosa.
INTRODUÇÃO
Inicialmente, será estudado o percurso da política de assistência social no Brasil. Para tal, será feito 
um panorama geral da trajetória dessa formação, a fim de subsidiar a compreensão da criação dos 
sistemas de proteção social e das atenções destinadas a segmentos específicos, tais como criança, 
adolescente e idoso.
A assistência social será explorada a partir dos marcos da Constituição Federal (CF) de 1988 e 
das legislações subsequentes. Após acentuar as bases que fundamentam a origem da formação da 
assistência social no contexto brasileiro, será abordada a trajetória específica da proteção social junto 
de crianças, adolescentes e idosos. Essa análise será feira a partir de uma revisão sócio-histórica até 
a contemporaneidade. 
8
Serão destacadas a efetividade do sistema de garantia de direitos para a criança e para o 
adolescente, as legislações que atendem esse segmento e a primazia da proteção integral prevista pelo 
ECA. Subsequentemente, serão elencadas as legislações, a exemplo do Plano Nacional de Convivência 
Familiar e Comunitária.
Trataremos de políticas de proteção social para idosos, destacando a ação intersetorial das 
políticas públicas na efetivação da proteção social para a pessoa idosa. Os desdobramentos do 
envelhecimento no aspecto biopsicossocial e a demanda por direitos, o atendimento e os cuidados 
também serão ponderados.
Serão analisadas as questões de intersetorialidade das políticas públicas na atenção à criança, 
ao adolescente e à terceira idade. Nesse contexto, serão abordados os diversos serviços, programas e 
projetos correlatos. A proteção contra situações de violação de direitos da criança, do adolescente e do 
idoso receberá atenção especial.
Bons estudos!
9
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Unidade I
1 TRAJETÓRIA DA PROTEÇÃO PARA CRIANÇAS, ADOLESCENTES 
E TERCEIRA IDADE
Nesta unidade, trataremos da formação da política de assistência social no contexto brasileiro a 
partir dos marcos da Constituição Federal (CF). 
Para tal, iniciaremos um diálogo a partir dos desdobramentos elencados na CF que demarcaram as 
trajetórias de proteção social a segmentos específicos.
1.1 Trajetória da assistência social no contexto brasileiro: da década de 
1930 a 1970
A assistência social, presente desde o Brasil colonial, era atrelada à obra caritativa, meritocrática, de 
troca de favores e logo se transformou em um novo modo de operar a política de tutelamento dos mais 
pobres. Nesse processo, consolidou-se como um dever moral de ajuda aos necessitados, pobres, excluídos, 
despossuídos, abandonados, conformando os campos de ação da benemerência e da filantropia, que, por 
sua vez, direcionaram o protagonismo da função exercida pela primeira-dama no estabelecimento de 
ações caritativas e das multifacetadas ações de solidariedade, presentes até hoje na sociedade brasileira. 
Como tem identificado Aldaíza Sposati (2002), a sociedade brasileira possui a marca de uma 
“regulação social tardia” e, no caso da assistência social, mesmo com a regulação prévia na década de 
1930, na Era Vargas (1930-1945), ela ainda se configurava como um conjunto de práticas desarticuladas, 
fragmentadas, baseadas nas referências religiosas e filantrópicas. Apesar de a Era Vargas ter inaugurado 
algumas regulações voltadas às ações de assistência social, foi somente na década de 1940 que as 
práticas assistenciais começaram a ser pensadas e organizadas a partir da criação da Legião Brasileira 
de Assistência (LBA).
 Observação
Era Vargas foi um período de impulso industrial e surgimento do movimento 
sindical operário; época marcada por beneficios como carteira de trabalho 
(CTPS), 13º salário, aposentadoria, auxílio-doença e licença-maternidade. 
Naquela época, os segmentos do país estavam empobrecidos, mas as ações eram organizadas pela 
caridade privada de determinados grupos burgueses ou pelas igrejas. O Estado brasileiro não se ocupou 
com alternativas para a classe pobre, apenas legislou, ou seja, criou normativas para melhor qualificar a 
vida do trabalhador; contudo, essas leis também foram poucas e escassas. 
10
Unidade I
O Estado só mudou a partir do governo militar, que alcançou o poder a partir da Revolução de 1930, 
período no qual estratos burgueses conseguiram o poder político por meio de uma revolução também 
burguesa, usando os interesses da classe trabalhadora, ou seja, realizando uma manipulação dos interesses 
dessa classe. A revolução militar foi positiva, ao menos no que dizia respeito aos objetivos burgueses e, em 
1930, subiu ao poder Getúlio Vargas, que governou até 1945. 
Vargas desenvolveu um governo de regime ditatorial e assentado no militarismo. Contudo, é a partir 
de seu governo que tivemos as primeiras ações do Estado compreendidas como política social. 
Behring e Boschetti (2010) e Couto et al. (2010) entendem que esse seria o primeiro estágio da 
política social brasileira, compreendido pelas autoras como período de introdução da política social 
no Brasil. Todavia, essa política social não seria extensiva a todos os que dela necessitassem como é 
esperado hoje em dia, mas especialmente idealizada para atender a classe trabalhadora brasileira.
O Estado não possuía uma política social de saúde, logo, tinha acesso à saúde apenas quem contribuía 
comalgum instituto. O Estado apenas organizava campanhas sanitárias para conter endemias e epidemias 
e, portanto, atuava de forma pontual e residual. Quem tinha necessidade de atendimento médico e não 
estava vinculado a nenhum instituto deveria procurar as Santas Casas, instituições mantidas pela Igreja 
Católica que prestavam atenção a doentes, mendigos e indivíduos enjeitados socialmente. 
Além da legislação trabalhista, houve nesse período ações voltadas ao lazer e à educação da classe 
trabalhadora. Em 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) foi criado “[...] com a 
incumbência de organizar e administrar nacionalmente escolas de aprendizagem para industriários” 
(IAMAMOTO; CARVALHO, 2001, p. 259), ou seja, uma forma de capacitação para o grande capital. Foi o 
Senai que deu origem ao Serviço Social da Indústria (Sesi), regulamentado por decreto do presidente 
Eurico Gaspar Dutra somente em 1946. O Sesi, por sua vez, teria o papel de “[...] estudar, planejar 
e executar medidas que contribuam para o bem-estar do trabalhador na indústria” (IAMAMOTO; 
CARVALHO, 2001, p. 274); sua prática esteve orientada ao desenvolvimento de atividades de lazer 
especificamente voltadas para a classe trabalhadora. 
O Sesi foi criado para proporcionar o bem-estar ao trabalhador vinculado à indústria. Viabilizava 
informações sobre questões previdenciárias e serviços assistenciais, além de educação popular e 
programas de relacionamento entre industriários e trabalhadores. Por desenvolver uma série de ações 
voltadas ao lazer, o serviço acabou inserindo-se em espaços além da formação oferecida. 
O Senac prestava a formação, voltada para os trabalhadores que atuavam no comércio, oferecendo 
informações para operários, trabalhadores em geral, promovendo assessorias para empregadores.
Essas instituições ainda estão em funcionamento em nosso país e são consideradas referências para 
formação e para o lazer orientado à classe trabalhadora. 
A Fundação Leão XIII foi criada em 1946 para atender aos moradores de favelas, que já existiam no 
Rio de Janeiro. 
11
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Além das intervenções voltadas à classe trabalhadora e à industrialização do país, são constituídos na 
Era Vargas o Serviço de Assistência ao Menor (SAM), em 1941, e a LBA, em 1942. Contudo, nota-se que 
a prioridade do governo militar de Vargas era a classe trabalhadora e não os segmentos empobrecidos, 
os desempregados (BEHRING; BOSCHETTI, 2010; COUTO et al., 2010).
Na década de 1960, período em que foi instalado um novo governo ditatorial e militar em nosso 
país, houve a ampliação de alguns direitos sociais, sobretudo direcionados à classe trabalhadora. Além 
da consolidação do sistema S (formado por Senai, Sesi e Sesc) e da Fundação Leão XIII, no contexto 
do regime ditatorial, ocorreram outras ações organizadas no âmbito da política social. Segundo Couto 
et al. (2010), isso aconteceu para que os governos militares pudessem manter as pessoas sob seu domínio. 
Assim, as ações em política social não podem ser compreendidas como simples concessões, mas também 
como mecanismos para manobrar a população brasileira. 
Como exemplo de intervenção, no ano de 1965, temos a criação da Fundação Nacional do Bem-Estar 
do Menor, popularmente conhecida como Funabem. Essa tinha c\omo alvo de ação os adolescentes pobres 
que cometiam ato infracional (BEHRING; BOSCHETTI, 2010; COUTO et al., 2010). 
Em 1974, foi criado o Ministério da Previdência Social, composto pela Legião Brasileira de Assistência 
Social, pela Funabem e pela Central de Medicamentos. 
Com o declínio do regime ditatorial, a partir da década de 1970, houve o processo de distensão 
política, ou seja, de abertura política. Esses processos foram potencializados porque grande parcela 
da população brasileira já se mostrava totalmente descontente em virtude da impossibilidade de 
participação política no regime ditatorial. 
1.2 A política de assistência social pós-década de 1970
As políticas sociais no Brasil tiveram, nos anos 1980, formulações mais impactantes na vida dos 
trabalhadores e ganharam mais impulso após o processo de transição política desenvolvido em uma 
conjuntura de agravamento das questões sociais e escassez de recursos. Não obstante, as políticas 
sociais brasileiras sempre tiveram um caráter assistencialista, paternalista e clientelista, com o qual 
o Estado, por meio de medidas paliativas e fragmentadas, intervinha nas manifestações da questão 
social, preocupado, inicialmente, em manter a ordem social. São elas formatadas a partir de um 
contexto autoritário no interior de um modelo de crescimento econômico concentrador de renda e 
socialmente excludente. 
Assim, Vieira (1997) afirma que a política social brasileira se compõe e se recompõe, conservando 
em sua execução o caráter fragmentário, setorial e emergencial, sempre sustentada pela imperiosa 
necessidade de dar legitimidade aos governos que buscam bases sociais para manter-se e aceitam 
seletivamente as reivindicações e até as pressões da sociedade. 
Os aparatos legais anteriores à CF não evidenciavam as particularidades presentes na área de 
assistência social, que se conformava como uma prática transversal às demais políticas sociais. 
12
Unidade I
Importa ressaltar que o marco regulatório das políticas sociais no Brasil se efetivou a partir da 
CF, sendo complementado por meio de legislações reguladoras, como a Lei Orgânica de Assistência 
Social (Loas), de 1993, que marca o contexto contemporâneo da política assistencial. A abrangência e 
o significado da assistência social, a partir de então, são configurados por garantir o direito, a qualquer 
cidadão, aos benefícios, aos serviços, aos programas e aos projetos socioassistenciais; a assistência social 
é reconhecida como uma das políticas que constituem a seguridade social brasileira, ao lado da saúde 
e da previdência social.
As políticas sociais, portanto, não se apresentam como instrumentos de mera realização do 
bem-estar na forma de favor pelo Estado, mas configuram-se como direito social e, no caso da 
assistência social, um direito não contributivo, diferenciando-se, assim, da previdência social, cujo 
acesso se dá pela via do trabalho. 
Em 1988, houve uma das maiores conquistas no âmbito da política social. A seguridade social, conforme 
art. 194 da CF, é composta de políticas sociais de saúde, assistência social e previdência social, e sua gestão 
compete ao Estado:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações 
de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade destinadas a assegurar os 
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (BRASIL, 1988). 
Assim, pela primeira vez na história brasileira, a política social teve grande acolhimento em uma 
Constituição. Entretanto, duas décadas depois, pode-se afirmar que nunca houve tantos desrespeitos 
à sociedade brasileira, como hoje, por meio de violações, fraudes e corrupções explícitas do Estado, da 
classe hegemônica, dos representantes do poder e do povo, na legislação vigente, nos repasses dos 
recursos financeiros, nas relações de trabalho, com um mercado altamente seletivo e excludente. Vieira 
(1997) acentua que o Brasil tem uma “política social sem direitos”. 
A assistência social no Brasil, dentro dessa visão de política pública de direitos, de cidadania e dever 
do Estado, é decorrente de todo um aparato legal que se iniciou com a promulgação da CF, evoluiu com 
a Loas (1993) e foi galgando sua plenitude com os aparatos mais recentes, a fim de oferecer parte das 
respostas de proteção social frente às situações de vulnerabilidade e de risco social. 
Com a inserção na seguridade social, a política da assistência social é tida como política de 
proteção social, pois comporta as demandas sociais, as pessoas, as circunstâncias e suas famílias. 
Define-se no título VIII “Da ordem Social”, cap. I, art. 193, que “a ordem social tem como base o 
primado do trabalho, e como objetivo o bem-estare justiça social” (BRASIL, 1988).
A assistência social, segundo essa nova ótica, busca a inclusão social sob a égide do direito, sob a 
inspiração de princípios, dentre os quais se destacam o direito de pertencer, de estar incluso, de integrar 
uma sociedade, independentemente de sua cor, idade, gênero, tipo de necessidade especial ou qualquer 
outro atributo pessoal. 
A assistência social é elencada no tripé da seguridade social, e a CF dispõe no art. 203 o seguinte:
13
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente 
de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
II – o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;
III – a promoção da integração ao mercado de trabalho; 
IV – a habilitação e a reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a 
promoção de sua integração à vida comunitária;
V – a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora 
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a 
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser 
a lei (BRASIL, 1988).
Como exemplo nacional, algumas leis complementares foram regulamentadas a partir da proposta 
constitucional de 1988, como a Lei n. 8.069 (BRASIL, 1990a) – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), 
e a Lei n. 8.742 (BRASIL, 1993) – Loas. 
1.3 Loas e as condições necessárias à efetivação da assistência social como 
política social no Brasil 
A Loas foi sancionada apenas em 7 de dezembro de 1993, exatamente cinco anos após o marco 
regulatório de todas as demais políticas sociais, a CF. A primeira redação da Loas consolidou os conceitos 
fixados pela CF e regulamentou a assistência social. 
Em seus primeiros artigos, a Loas evidenciou o que fora estabelecido pela CF, pois anteriormente 
a assistência social não se apresentava como uma política pública delimitada e específica. Suas ações 
estavam ligadas a um leque de outras ações que destoavam dos princípios hoje elegidos.
 Observação
Em 2011, foi necessário fazer uma adequação da Loas, em virtude da 
publicação de uma nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS).
Na Loas, pode-se encontrar uma série de informações sobre os objetivos, os princípios e as diretrizes 
quanto à assistência social. A seguir, vamos nos apropriar de aspectos em relação aos conselhos, às 
formas de participação e ao controle social. Serão estudadas as conferências, o plano municipal de 
assistência social e a consolidação do fundo municipal de assistência social. Essas informações são 
vitais a todos que atuam ou que atuarão na área assistencial, oferecendo dados a respeito de aspectos 
operacionais da ação assistencial.
14
Unidade I
De acordo com o art. 1º da Loas:
A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é política de 
seguridade social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada 
através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, 
para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993).
A assistência social é uma política social destinada à provisão de mínimos sociais, executada com 
primazia, de responsabilidade do Estado, apesar de permitir a participação da sociedade civil. 
Partindo da análise do art. 2º, pode-se compreender quais são seus objetivos:
I – a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à 
prevenção da incidência de riscos, especialmente: 
a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; 
b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; 
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; 
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de 
sua integração à vida comunitária; e 
e) a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa com 
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria 
manutenção ou de tê-la provida por sua família; 
II – a vigilância socioassistencial, que visa analisar territorialmente a 
capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de 
ameaças, de vitimizações e danos; 
III – a defesa de direitos, que visa garantir o pleno acesso aos direitos no 
conjunto das provisões socioassistenciais.
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social 
realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos 
sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e 
promovendo a universalização dos direitos sociais (BRASIL, 1993).
Assim, a Loas tem o fito de prestar proteção social para os segmentos tidos como vulneráveis: 
família, maternidade, infância, adolescência e velhice e, junto a esses segmentos, deverá ser prestada a 
proteção social, compreendida com ações que visem à sobrevivência e à vida com dignidade. 
15
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Conforme art. 2º da Loas, a assistência social ainda almeja a construção de indicadores sociais sobre 
os territórios mais vulneráveis, a fim de orientar as ações a serem desenvolvidas e a efetivação dos 
direitos sociais, a exemplo do enfrentamento à pobreza. 
A seguir, destacam-se os princípios dessa lei:
Art. 4.
I – supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências 
de rentabilidade econômica;
II – universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da 
ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;
III – respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito 
a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e 
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;
IV – igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de 
qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais;
V – divulgação ampla de benefícios, serviços, programas e projetos 
assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo poder público e dos 
critérios para sua concessão (BRASIL, 1993).
Os princípios elencados devem ser entendidos como referências para a condução da assistência social, 
ou seja, são parâmetros que devem nortear as ações vinculadas a essa política. Assim, todas as ações no 
território nacional devem estar assentadas na supremacia das necessidades sob a rentabilidade econômica, 
na universalização dos direitos sociais, no respeito à dignidade do cidadão, na igualdade de direitos de 
acesso para populações que residem na zona urbana e na zona rural e ainda na necessidade da divulgação 
ampla dos benefícios assistenciais. Devem estar assentadas nos princípios, conforme disposto em lei. 
As diretrizes estão descritas no art. 5º:
I – descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal 
e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo;
II – participação da população, por meio de organizações representativas, na 
formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;
III – primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de 
assistência social em cada esfera de governo (BRASIL, 1993).
16
Unidade I
As diretrizes estão relacionadas a normas e à política de assistência social: a descentralização 
político-administrativa das ações, a participação da população e a primazia da responsabilidade do Estado. 
Supremacia do atendimento às necessidades sociais
Universalização dos direitos sociais
Respeito à dignidade do cidadão
Igualdade de direitos no acesso ao atendimento
Divulgação ampla de benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais
Princípios
Descentralização político-administrativa 
Participação da população
Primazia da responsabilidade do Estado 
Diretrizes
Figura 1 – Sistematização dos princípios e diretrizes da Loas
1.4 O Sistema Único da Assistência Social (Suas) e a Política Nacional de 
Assistência Social (PNAS)
Criado em 2005, o Suas é um formato deorganização da assistência social, em todo o território 
nacional, que foi instituído por meio da PNAS de 2004. Serão acentuadas as informações mais 
relevantes contidas nesse documento, que buscam demonstrar como deve ser organizada a assistência 
social brasileira. 
No caso, é importante lembrar que, entre uma série de informações postas pela PNAS, este livro-texto 
focará os seguintes aspectos: participação e controle social, constituição do fundo público, tipos de proteção 
social e a intervenção no Centro de Referência da Assistência Social (Cras) e no Centro de Referência 
Especializada em Assistência Social (Creas). 
Para compreender melhor tais aspectos, o conteúdo foi subdividido. Todavia, é essencial pontuar que 
a subdivisão é apenas didática, haja vista que, para a PNAS se desenvolver de forma coerente com seus 
objetivos, é preciso que todos esses fatores estejam interligados. 
A PNAS de 2004 foi um documento elaborado pelo Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) 
para que as ações propostas na Loas pudessem ser viabilizadas nos municípios de todo o território 
nacional. Apesar de a norma acentuar a importância de as ações serem orientadas para o território em 
que a ação irá ocorrer, também busca traçar parâmetros mínimos necessários à intervenção, a fim de 
superar o desenvolvimento de ações fragmentadas e descontínuas.
A PNAS apresenta como princípios norteadores três frentes de atuação: uma que alinha a defesa 
da inclusão social ao acesso a direitos sociais; uma que proporciona o acesso aos direitos à renda e à 
segurança alimentar; por fim, uma que promove o acesso à assistência social. Ela ainda elege como 
matrizes de interpretação do contexto social três categorias: o território, a unidade sociofamiliar e a 
dinâmica social das populações numa perspectiva socioterritorial. 
17
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Diante disso, a PNAS buscou oferecer viabilidade prática para as ações que estão descritas na Loas. 
Contudo, nesse documento foram traçados aspectos mais específicos de cada intervenção, focando a 
importância de as ações desenvolvidas no âmbito da assistência social serem, de fato, efetivas como um 
direito, e não mais como uma benesse, e que deveriam garantir as seguranças sociais (segurança social 
da acolhida, segurança de rendimentos ou de sobrevivência e segurança de vivência ou convívio familiar 
e comunitário). 
A segurança de acolhida faz acepção ao direito que o ser humano tem de ser bem atendido e de 
ter suas necessidades pontuais garantidas. A segurança de rendimentos faz referência a possibilidades 
identificadas para que o indivíduo consiga alcançar um rendimento e não mais depender dos serviços 
públicos. Ambas estão paramentadas na compreensão de que os seres humanos possuem necessidades 
a serem satisfeitas que são responsabilidade do poder público. Já a segurança de vivência ou convívio 
familiar e comunitária é compreendida como a necessidade que o ser humano apresenta no sentido 
de sua socialização. No caso, para a PNAS, a família tem especial importância nas ações e é o primeiro 
ambiente da socialização. Ainda nesse caso, desenvolve-se o conceito de matricialidade sociofamiliar, 
ou seja, da família como o grande alvo das ações da assistência social, a fim de fortalecer sua função 
protetiva. Destaca-se, nesse sentido, que a família tratada por essa política não faz acepção à 
família burguesa, ou seja, à família tradicional, e sim considera a importância de se compreender os 
novos arranjos familiares que vêm se constituindo na contemporaneidade. Por seu lado, a vivência 
comunitária faz referência, como o próprio nome sugere, à convivência social e comunitária, que é 
também necessária à socialização dos seres humanos, sendo, portanto, um direito que precisa ser 
garantido pelas ações assistenciais. 
 Observação
Matricialidade sociofamiliar faz acepção à compreensão de que as 
ações assistenciais precisam ter como centralidade as famílias. 
Portanto, o documento garante às famílias e a seus indivíduos a segurança comunitária e social, a 
segurança de acolhida, de renda, de convívio ou vivência familiar, de desenvolvimento da autonomia 
individual, familiar e comunitária; ainda assegura o alcance de sua autonomia, de independência e 
condições de bem-estar e do acesso a informações sobre seus direitos, ampliando a capacidade protetiva 
da família (BRASIL, 2004). 
Assim, todas as ações da PNAS precisam considerar se as seguranças em questão estão sendo 
alcançadas, garantidas, digamos assim. Ela ainda assevera a importância de que sejam desenvolvidas 
ações com base em princípios, diretrizes e objetivos a serem alcançados. 
Como tal, essa política recupera os princípios descritos na Loas. Em relação às diretrizes, no entanto, 
recupera também as três apontadas nessa lei: descentralização político-administrativa, participação 
popular e primazia de responsabilidade do Estado, e acrescenta outra diretriz: “centralidade na família 
para concepção e implementação dos benefícios, serviços, programas e projetos” (BRASIL, 2004, p. 33).
18
Unidade I
Os objetivos das ações assistenciais são elaborados de forma diferenciada dos elencados na Loas, 
mas possuem relação direta com as ações propostas. Os objetivos são:
Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica 
e/ou especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem.
Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, 
ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais 
em áreas urbana e rural.
Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade 
na família e que garantam a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 
2004, p. 33).
O excerto a seguir destaca bem o que estamos estudando.
Nova política quer organizar a assistência social em todo o país
Brasília – Há exatamente 11 anos, a Lei Orgânica da Assistência Social (Loas) era aprovada 
no Brasil. A medida caracterizava a assistência social efetivamente como política pública. 
O Ministério do Desenvolvimento Social lançou nesta terça-feira (7) a nova política para o 
setor na tentativa de desburocratizar e organizar o sistema em todo o país.
Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, a secretária-executiva interina do Ministério do 
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, explica os objetivos do governo 
com o programa. “A exemplo do que o Sistema Único de Saúde (SUS) fez, nós vamos 
organizar em todo o território nacional, nos 5.562 municípios do país onde temos ações 
de assistência social financiadas ou não pelo governo federal. Vamos organizar essa rede 
socioassistencial para que haja integração, definição de um fluxo de atendimento”, diz. 
Márcia Lopes, 46 anos, é assistente social, especialista na área da criança e adolescente 
e mestre em Políticas Sociais pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. 
É docente do curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina há 22 anos, 
onde realizou inúmeras atividades de ensino, pesquisa e extensão. Integrou o Conselho 
Estadual de Assistência Social (Ceas) por duas gestões, sendo vice-presidente em uma delas. 
Entre 1993 e 1996, assumiu a Secretaria de Ação Social do município de Londrina (PR) e foi 
presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, o primeiro implantado no Paraná. 
Márcia Lopes atualmente é vereadora licenciada de Londrina.
Agência Brasil: quais são os objetivos e ações da nova política de assistência social?
Márcia Lopes: no dia 7 de dezembro, comemora-se o 11º aniversário da Lei Orgânica 
da Assistência Social (Loas). Nessa mesma data, em 1993, foi aprovada uma lei federal que 
coloca a assistência social no patamar de política pública inserida no tripé da seguridade 
social: saúde, previdência e assistência social.
19
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Então, nós temos que reafirmar isso sempre, não essa concepção conservadora da 
assistência social como assistencialismo,como clientelismo, como troca de favor, mas, de 
fato, de uma política pública inserida num sistema de proteção social.
Assim como as pessoas usam o serviço público da educação, da saúde, do esporte e de 
outras políticas a vida toda, também têm o direito a ter acesso a atividades, ações, a esse 
sistema de proteção social na área, seja para o idoso, seja para a pessoa com deficiência, 
comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhos.
Por isso o ministério, junto com o Conselho Nacional de Assistência Social, aprovou 
o novo texto da PNAS em setembro. Agora, coincidindo inclusive com uma reunião do 
conselho, o ministério, e particularmente a Secretaria Nacional de Assistência Social, 
comemora esses onze anos com o lançamento dessa política.
Agência Brasil: quais são as principais mudanças que vão ocorrer na área a partir do 
lançamento da Política Nacional de Assistência Social?
Márcia Lopes: historicamente, a assistência social teve um crescimento desordenado. 
Tanto a sociedade civil como o Estado, os governos federal, estaduais e municipais foram 
implantando ações de assistência social que não tinham uma unidade, não se constituíam 
como política pública permanente, de qualidade. Nós ainda não conseguimos, agora estamos 
começando a fazer isso, a de fato identificar qual é a rede governamental e não governamental 
de assistência social no Brasil. Isso não está regulamentado no território nacional.
Então, a exemplo do que o Sistema Único de Saúde fez, nós vamos organizar em todo 
o território nacional, nos 5.562 municípios do país onde temos ações de assistência social, 
financiadas ou não pelo governo federal. Vamos organizar essa rede socioassistencial para 
que haja integração, definição de um fluxo de atendimento. Por exemplo, nós estamos 
implantando as casas de família como uma unidade de referência no território, de acordo 
com o número de população, com o número de famílias.
Se for um município de pequeno porte, ele terá um centro de referência, ou casa de 
família, que será o equipamento estatal público de porta de entrada das pessoas que 
precisam, que necessitam e que têm direito aos serviços de assistência social. E ali as pessoas, 
as famílias, serão recebidas e orientadas, serão desenvolvidas atividades de apoio familiar, 
também articuladas com a rede não governamental.
Nós estamos, por exemplo, também já estabelecendo a transferência de recursos fundo 
a fundo, a partir de janeiro, num sistema on-line de rede, para que a gente não precise mais 
receber aqui os 40 mil, 50 mil processos. Porque para cada iniciativa, cada processo, cada 
ação do município tinha que vir toda a papelada para o ministério, passar por um trâmite, 
às vezes de dezoito etapas, para então o município receber os recursos. Nós queremos 
desburocratizar, esse também é o objetivo do Sistema Único de Assistência Social.
20
Unidade I
Estamos organizando as ações em dois níveis: proteção social básica e proteção social 
especial. A primeira envolve tudo que for prevenção, acolhida, encaminhamento, orientação 
às famílias, de acordo com as suas necessidades, seja para criança e adolescente, para o jovem, 
o idoso, o portador de deficiência, o indígena, as mulheres. Na proteção social especial, tudo 
que for população de risco e vulnerabilizada: população de rua, trabalhadores dos lixões, 
meninos de rua, trabalho infantil, crianças e adolescentes em situação de exploração sexual. 
E vamos articular isso com os programas do próprio ministério, como é o caso do Programa 
Bolsa-Família, como é o caso das famílias atendidas na política de segurança alimentar, 
sejam as hortas comunitárias, sejam os restaurantes populares.
Então, há uma identidade nisso para que tenhamos de fato um sistema organizado, 
com padrão. Nós estamos calculando o piso de atenção para cada ação da assistência 
social. Toda rede que nós financiamos hoje, as escolas especiais, as Associações de Pais e 
Amigos dos Excepcionais (Apaes), a Pestalozzi, os abrigos de crianças e adolescentes, de 
idosos, como asilos e centros de convivência, os centros de profissionalização, os inúmeros 
grupos de geração de renda, seja no artesanato, seja em outra ação, essa grande rede está 
sendo chamada para que tenhamos essa identificação. Nós estamos fazendo uma pesquisa 
que caracterize qual é essa rede, onde está, como funciona, a quem atende, que nível de 
defasagem e demanda existe da própria realidade.
A assistência social no Brasil sempre foi muito desorganizada. Fez quem quis, quem 
teve vontade, quem tinha compromisso. Hoje não. A Constituição e a Loas dizem que a 
assistência social é um direito das pessoas e um direito do Estado. Então, temos que assumir 
isso, não podemos mais improvisar.
Temos que ter planejamento, metas claras, o financiamento organizado, uma política 
de capacitação permanente dos profissionais, a sociedade civil envolvida nesse processo 
respeitada no trabalho que elas realizam nos municípios e essa pactuação. Não é só o 
financiamento do governo federal, mas a responsabilidade dos governos estaduais e 
municipais no financiamento dessa política.
 Fonte: Andrade (2004).
A assistência social, com essa nova roupagem, no campo dos direitos, da universalização e da 
responsabilidade estatal, é consolidada através do Suas como ação estratégica na construção de um 
sistema de proteção social que verse um direcionamento único.
O Suas definiu e organizou a assistência social em torno de três objetivos: a proteção social, a 
vigilância social e a defesa dos direitos socioassistenciais, instaurando em todo o território brasileiro um 
mesmo regime geral de gestão e inscrevendo as atenções de assistência social no campo público e no 
campo dos direitos humanos e sociais, estruturados pela matricialidade sociofamiliar, descentralização 
político-administrativa e territorialidade. O Suas também fixou novas bases para a relação entre Estado e 
sociedade civil: financiamento, controle social e participação popular (cidadão/usuário) (BRASIL, 2004). 
21
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Os eixos estruturantes do Suas são elencados da seguinte forma:
Matricialidade sociofamiliar.
Descentralização político-administrativa e territorialização.
Novas bases para a relação entre Estado e sociedade civil.
Financiamento.
Controle social. 
O desafio da participação popular do cidadão (usuário).
A política de recursos humanos e a informação, o monitoramento e a 
avaliação (BRASIL, 2005a). 
No eixo que se refere à descentralização político-administrativa, situam-se as questões territoriais e 
da territorialização, com a incorporação de uma leitura afinada ao território como expressão de relações, 
condições e acessos. Aqui também se compreende a questão da descentralização como sinônimo de 
universalização da assistência social como meio de acesso à cidadania social.
Ressalta-se, porém, que esses aspectos precisam ser observados em todas as intervenções em 
assistência social desenvolvidas em território nacional. 
2 A TRAJETÓRIA DO RECONHECIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
ENQUANTO SUJEITOS DE DIREITOS 
Quando recolhemos um pequeno ser atirado sozinho nas tumultuosas 
maretas dos refolhos sociais, vítimas de pais indignos ou de taras profundas, 
não é ele que nós protegemos, são as pessoas honestas que defendemos; 
quando tentamos voltar a saúde física ou moral seres decadentes e 
fracos, ameaçados pela contaminação do crime, é a própria sociedade que 
defendemos contra agressões das quais, para ela mesma, o abandono das 
crianças constitui uma ameaça ou um presságio (MAGALHÃES apud RIZZINI, 
1995, p. 133). 
A seguir, será traçado um panorama geral da infância e da juventude no país. Inicialmente, serão 
abordadas as questões sócio-históricas da visibilidade e da invisibilidade. Também serão acentuados os 
fatos essenciais de mudanças nesse segmento e as respostas – em forma de políticas sociais – na época. 
A infância é considerada um período importante na vida do ser humano, à qual cabem várias definições, 
commodos específicos de sentimentos, ações e comportamentos que devem ser compreendidos de 
maneira a respeitar as diferentes culturas de determinado tempo e espaço, relacionando, ainda, a troca 
de conhecimentos que se estabelecem entre crianças, adolescentes e adultos. 
22
Unidade I
Quanto ao tempo e ao espaço do período da infância, deve-se considerar as relações históricas, 
políticas e culturais de cada sociedade, que acabam por produzir diferentes transformações na construção 
da visão da criança e do adolescente e, consequentemente, no modo de tratá-los.
A infância deve ser trabalhada, analisada e contextualizada dentro da sociedade em que está inserida.
Historicamente, verifica-se que a evolução tanto da concepção da infância quanto de sua legislação 
pertinente é a ligação direta na construção do desenvolvimento infantil, a qual é associada ao modo de 
se tratar a criança e o espaço que ela ocupa em âmbito familiar e social.
No Brasil, foi no começo do século XX que a infância passou a ser conhecida e construída como um 
período da vida em que o ser humano possui necessidades específicas dessa fase.
2.1 A infância em civilizações antigas
As grandes civilizações, de uma maneira geral, compreendiam a infância como propriedade do pai, a 
criança era objeto, serva exclusiva da vontade dele.
Na Grécia antiga, era explícito o tratamento de inferioridade aplicado às crianças. “Aristóteles 
descreveu a criança como um ser irracional, portador de uma avidez próxima da loucura, com capacidade 
natural para adquirir razão do pai ou do educador” (LIMA, 2001, p. 11-12).
No sistema social grego, apenas os meninos poderiam alcançar o título de cidadão. As mulheres, 
independentemente da idade, deveriam, sob o comando do chefe da família, ocupar-se apenas das 
atividades domésticas, do culto ao lar.
Em razão das guerras e conquistas militares que marcaram a civilização grega, os meninos, quando 
atingiam a puberdade, eram separados de suas famílias para ingressar em um rígido sistema de educação. 
Eram-lhes ministradas atividades que cultuavam o corpo e a mente, quase sempre com intenções 
militares. Os jovens tinham uma relação de submissão ao seu mestre (este, um cidadão grego, muito 
mais velho), com quem mantinham relações íntimas.
No Império Romano, o pátrio poder era absoluto. O filho não emancipado poderia, pela simples 
vontade de seu pai, ser vendido ou mesmo morto, vez que era sua propriedade.
Na Idade Média, viveu-se o sistema de produção feudalista, no qual a família era, igualmente, 
comandada pelo pai, o chefe da família. Observou-se, num primeiro momento, que a figura da criança e 
do adolescente não estava presente na estrutura social medieval, ou seja, não havia distinção clara das 
peculiaridades da criança e do adulto, reservando-lhes a posição de “adultos em miniatura”. Não havia 
sentimento quanto à infância, ou seja, as crianças não eram valorizadas. 
O destino das crianças estava traçado de acordo com a sua casta social. Aos filhos dos servos, era 
certa a função de dar continuidade dos serviços dos pais, em atendimento aos mesmos senhores feudais. 
Os filhos dos senhores, por sua vez, deveriam passar por um austero sistema religioso e educacional, 
23
DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
para, em seguida, concretizarem o casamento comercializado pelos pais. Os jovens que não observassem 
os costumes eram recriminados socialmente e tidos como cristãos infiéis. 
A Idade Moderna ficou marcada pelo fim do sistema feudalista e o início do mercantilismo. 
As mudanças sociais desse período permitiram maior espaço para a infância na sociedade.
Enquanto durante toda a Idade Média apenas o filho primogênito herdava nomes e títulos, 
carregando sozinho a responsabilidade de perpetuação da família, e as filhas meninas eram destinadas 
aos conventos ou ao casamento, ao longo da Idade Moderna a situação dos demais filhos foi, aos 
poucos, sendo equilibrada.
Nessa sociedade, a educação tornou-se um dos pontos importantes na vida da criança, pois ela 
prorroga a duração da infância. Todavia, até o século XVII, a escolarização foi monopólio do sexo 
masculino. Às meninas eram destinados os ensinamentos domésticos, e até mesmo as de famílias nobres 
eram semianalfabetas (ARIES, 1981).
Assim, o destino das meninas era o casamento, e a infância feminina era mais curta em relação 
à masculina.
A Idade Moderna se iniciou com a Tomada da Bastilha (1789) e está presente até hoje. A partir dessa 
época, a criança e o adolescente ficaram em posição de destaque dentro da sociedade, ocupando, de um 
lado, a posição de mão de obra barata e, de outro, o de impulsionadores da economia, na medida em que 
compreendem importante público de consumo. 
O sistema educacional obtém notoriedade dentro da sociedade contemporânea, porém no início a 
escola se assemelhava a um centro de correção de caráter.
A família e a escola retiraram juntas a criança da sociedade dos adultos. A escola confinou uma 
infância outrora livre num regime disciplinar cada vez mais rigoroso, que nos séculos XVIII e XIX 
resultou no enclausuramento total no internato. A solicitude da família, da Igreja, dos moralistas 
e dos administradores privou a criança da liberdade que ela gozava entre os adultos. Infligiu-lhe 
o chicote, a prisão, em suma, as correções reservadas aos condenados das condições mais baixas 
(ARIES, 1981).
A divisão e a organização do trabalho, típicas do sistema capitalista, implicaram novas atribuições a 
crianças e adolescentes, tornando-os fontes de exploração e consumo.
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra após a segunda metade do século XVIII, teve como 
grande reflexo social a exploração do trabalho operário, em especial o trabalho infantil. Crianças muito 
novas eram submetidas a extensas jornadas de trabalho, mais de quinze horas diárias, sendo expostas a 
inúmeros acidentes.
24
Unidade I
2.2 A trajetória da infância e da juventude no Brasil
Até o início do século XX, não se tem registro do desenvolvimento de políticas sociais desenhadas 
pelo Estado brasileiro.
O Brasil possui uma longa tradição de internação de crianças e adolescentes. Muitos filhos de famílias 
ricas e pobres ao longo da história eram criados e educados longe de suas famílias. 
Uma revisão da história da assistência à infância no Brasil, desde o período colonial, ilustra que 
toda prática assistencial voltada para crianças pobres se pautava no trabalho. Nesse período, foram 
criadas várias instituições, como colégios internos, seminários, asilos, escolas de aprendizes artífices, 
educandários e reformatórios com a finalidade de prestar assistência e educar.
O recolhimento de crianças às instituições de reclusão foi o principal instrumento de assistência à 
infância no país.
O primeiro alvo dos interesses da elite dominante foram as crianças. Os padres jesuítas observaram 
que a educação e a catequização dos pequenos índios eram a forma mais eficiente de afastar a cultura 
indígena e introduzir os costumes cristãos.
Essa imagem cristã investida nos pequenos e jovens índios, na verdade, tencionava alcançar 
duas finalidades:
• servir como instrumento repressivo a sua cultura;
• justificar as práticas culturais estranhas ao universo europeu.
As pregações cristãs eram obrigatórias, ainda que quase sempre não compreendidas pelos índios, sob 
pena de rigorosos castigos. 
Para destacar melhor a assistência prestada à criança e ao adolescente, será feita a separação por 
períodos neste livro-texto.
2.2.1 Período assistencial caritativo (1554-1874) 
No regime colonial, não havia ações por parte do Estado em relação à pobreza e à vulnerabilidade. 
Com o fim desse regime, assistimos ao surgimento do Império.
 Observação
Império é o período estimado entre 1822 e 1889.
O Império caracteriza-se pela vinda da corte portuguesa para o Brasil. Assim, pode-se dizer, houve uma 
inversão do poder político e o predomínio do governo das câmaras, que era ocupado pelos proprietários 
25
DIREITOS DA CRIANÇA,ADOLESCENTE E IDOSO
de terra. Contudo, muitos cargos foram criados para as pessoas que acompanhavam a família real, e isso 
teria provocado um sensível declínio da importância política do senhor da terra, do grande fazendeiro.
Esse declínio, para Couto et al. (2010), deve-se também às mudanças que foram sendo processadas 
no âmbito da organização econômica. No Império, ainda que de forma tímida, houve o início de 
uma nova ordem econômica, pautada no comércio de gêneros ainda rudimentares, ou seja, do 
pequeno burguês, que começa a despontar como figura importante. A economia agrária manteria 
sua hegemonia durante muitos anos em nosso país. 
Behring e Boschetti (2010) apontam que, durante o Império, foi criada a primeira Assembleia Nacional 
Constituinte, que era composta apenas de representantes escolhidos pela Coroa, pertencentes às classes 
sociais mais elevadas da sociedade. Predominou ainda a figura do homem como representante político. 
 Saiba mais
Para compreender esse período, recomenda-se a leitura de:
CARDOSO, J. L.; CUNHA, A. M. Discurso econômico e política colonial no 
Império luso-brasileiro. Tempo, Rio de Janeiro, v. 7, p. 65-80, 2012. Disponível 
em: http://www.scielo.br/pdf/tem/v17n31/04.pdf. Acesso em: 19 nov. 2019.
TAVARES, M. D. O sentido do Brasil. Revista Espaço Acadêmico, n. 70, 2007. 
Em 1554, foi fundada em São Vicente a primeira escola jesuítica no Brasil para conversão dos índios ao 
cristianismo. Partindo do pressuposto de que seria mais fácil seduzir as crianças índias com os ensinamentos 
da Companhia de Jesus, iniciou-se a prática da segregação das crianças índias nesses locais, chamados de 
casas de “muchachos”. Na verdade, o intuito dessa ação religiosa era sedimentar a cultura portuguesa na 
colônia e fixar uma ordem econômica: mão de obra. Os portugueses não valorizavam a vida do outro, 
primeiro índios, depois escravos africanos, e tinham dificuldade de implantar seu projeto de colonização.
 Observação
Colônia: período histórico estimado entre 1500 e 1822.
Diante dessa luta pela sobrevivência em novas terras, tais fatos contribuíam para o surgimento do 
fenômeno de crianças desassistidas pelas ruas, órfãos de índios, de portugueses e, posteriormente, de 
ex-escravos negros. 
Essa situação começou a ser objeto de discussão na corte portuguesa, e o rei de Portugal julgava 
que os serviços hospitalares e de filantropia social deveriam compor-se em um único tipo de instituição: 
as Casas de Misericórdia, instituições de caráter religioso. Segundo a corte, seria possível arcar com 
26
Unidade I
as despesas dessa assistência, uma vez que a organização possuía recursos provenientes de esmolas 
e doações de senhores da sociedade. Assim, os primeiros abrigos de que se tem notícia foram as 
instituições fundadas pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia. De caráter caritativo, sua motivação 
era a assistência pela caridade, fazendo o bem “por amor a Deus”, ou seja, por motivos associados à 
Igreja Católica e à fé. 
A Igreja colaborava alocando os fiéis para atuar voluntariamente nas Santas Casas, porém estas não 
atendiam apenas os escravos, e sim pobres, doentes, presos, alienados, órfãos, inválidos, viúvas pobres 
e até mesmo providenciava enterros. Como era uma prática organizada por fiéis, muitas vezes com 
o auxílio de padres e freiras, o trabalho não apresentava muita qualidade, tendo em vista que não se 
tratavam de profissionais (JESUS et al., 2004).
Pressupunha-se que os católicos deveriam ser caridosos e ajudar o próximo, e somente isso bastava, 
ou seja, entendia-se que a vontade de ajudar era suficiente para trabalhar nessas instituições. Isso 
foi relacionado ao movimento de contrarreforma da Igreja, o qual buscava reconquistar os fiéis, que 
vinham cada vez mais se afastando e procurando outros espaços de expressão religiosa. Por meio dessas 
ações, buscava-se construir uma nova imagem da Igreja e de seus fiéis. Essa ajuda não estava restrita 
à doação de recursos, mas incorporava também a intervenção, a prática doada a instituições como as 
Santas Casas e as rodas dos expostos, que será estudada adiante (SIQUEIRA, 2009).
Nesse mesmo período, houve o aumento da exploração escrava no país, e, por consequência, o 
aumento da reprodução entre os negros africanos, que era vista como antieconômica, o que ocasionava 
um grande número de abandono de crianças filhas de escravos. 
Durante a segunda metade do século XVII e início do século XVIII, embora a assistência aos expostos 
fosse obrigação das câmaras municipais, o poder público nunca assumiu o financiamento desse tipo de 
assistência, provocando inúmeros atritos.
Na época, foi implantada a roda dos expostos, sendo a primeira criada na Bahia, em 1726, local em 
que a assistência era prestada a crianças em torno de 7 anos; essa criança ficava à mercê da determinação 
do juiz, que decidia sobre seu destino de acordo com os interesses de quem quisesse mantê-la.
Figura 2 – Roda dos expostos 
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DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
A política escravocrata passou a ter na Roda um valioso instrumento, que institucionalizava o 
enjeitamento de crianças negras, mestiças ou ilegítimas (as chamadas “filhas do pecado”), e possibilitava 
a sua futura incorporação ao trabalho braçal. Segundo Faleiros (1995, p. 235), a medida tinha por 
finalidade “orientar a população pobre no sentido de transformá-la em classe trabalhadora e afastá-la 
da perigosa camada na prostituição e na vadiagem”. 
Via de regra, as crianças eram abandonadas porque seus familiares não possuíam condições 
financeiras para mantê-las. Além da carência financeira, os pais eram motivados ao abandono quando 
as crianças eram provenientes de relações de adultério. O abandono não era tido como uma violência, 
já que muitos pais acreditavam que os filhos poderiam ser mais bem cuidados e teriam mais chances de 
sobrevivência se fossem atendidos pelas Rodas. 
Segundo Rizzini (2004), grande parte dos atendidos morria. Na época, não havia uma medicina que 
os permitisse sobreviver às doenças, tampouco o cuidado necessário. Outro complicador era o fato de 
que os atendidos pelas Rodas podiam ser “misturados” com outras pessoas, ou seja, eram acolhidos, 
além das crianças, loucos e bêbados, pois não havia um serviço exclusivo para esse segmento. Por conta 
disso, ou seja, por não haver uma atenção específica, muitos morriam.
Um exemplo do alto número de crianças institucionalizadas estava na Casa da Roda do Rio de Janeiro, 
a qual tinha recebido doze mil crianças, mas apenas mil tinham sobrevivido; estima-se uma taxa de 
mortalidade de mais de 90%. Constata-se que os resultados efetivos dessa prática se opuseram aos seus 
objetivos, já que as crianças eram recolhidas nas Rodas para que não morressem pelas ruas, mas acabavam 
morrendo na própria instituição. Além disso, a estigmatização que essas crianças sofriam era muito grande; 
eram enjeitadas, e, ao completar, 7 anos, saíam das Rodas para alguma família, seu futuro dependia em 
grande parte do rumo que esta lhe daria, uma vez que, no plano ideológico (anonimato de quem depositava 
a criança, desconhecimento da família), seu caráter de ocultação “atestava” essa ilegitimidade. 
De acordo com Jesus et al. (2004), os esmoleres eram organizados para que fossem arrecadadas e 
repassadas esmolas. A arrecadação ocorria junto aos segmentos mais abastados, e o valor era repassado 
aos cofres públicos. Por sua vez, o governo destinava tais recursos para atender tal público, sobretudo 
para quem vivia nas Rodas. Nesse período, os abandonados nesses locais ficaram conhecidos como 
expostos. Também era uma intervenção que tinha relação com a Igreja Católica. Havia no país pessoas 
que atuavam como uma espécie de fiscal e que, em tese, auxiliavam na arrecadação dessas esmolas.
Faleiros (2008) nos diz, no entanto, que essas práticas, a exemplo do que ocorria na Europa, eram 
carregadas de preconceito em relação ao pobre, que, na maioria das vezes, era tido como “vagabundo”, 
ou então aqueleque não queria trabalhar. A pobreza era também compreendida como desvio de 
caráter ou de personalidade, e essa forma de compreensão infelizmente foi mantida durante muitos 
anos em nosso país. 
28
Unidade I
 Saiba mais
Para ampliar o conhecimento sobre o exposto, recomenda-se o seguinte 
curta-metragem:
RODAS dos expostos. Direção: Maria Emília Azevedo. Brasil: Synapse 
Produções Ltda., 2001. 20 min. 
Veja o texto a seguir. Trata-se de uma descrição da intervenção nas rodas dos expostos:
A infância pobre e estigmatizada na roda dos expostos 
Há aproximadamente cem anos, autoridades diagnosticaram o “problema da infância”, 
uma grave questão social brasileira. Trata-se do grande número de crianças em estado de 
miséria ou abandono, principalmente nas grandes cidades.
O diagnóstico, porém, não era novo: há mais de trezentos anos, desde o início do período 
colonial, meninos e meninas de diferentes raças e idades já vinham sendo colocados à 
margem da sociedade. As circunstâncias variavam, mas os motivos eram quase sempre os 
mesmos, isto é, abandono e orfandade vinculados à pobreza, à escravidão ou aos códigos 
morais, que não admitiam mães solteiras. O histórico da assistência ao “problema da 
infância” no país é, portanto, tão antigo como o próprio problema – e, de certa forma, 
como o próprio Brasil.
Em meados do século XVI, o início do processo colonial europeu na América valia-se 
de dois “argumentos” para submeter populações nativas: a pólvora e a Bíblia. Pela guerra, 
soldados e colonos dizimavam as tribos inimigas, onde também obtinham a necessária mão 
de obra escrava para suas obras e plantações. Em paralelo, o trabalho de catequese dos 
jesuítas ocupava-se das tribos aliadas – os índios “mansos”, eles próprios já então também 
entendidos, de certa forma, como um povo “infantilizado”. Nesse início da história, foram 
os padres que primeiro se ocuparam das crianças índias, abandonadas depois que seus pais 
haviam sido mortos ou escravizados.
Os jesuítas não recebiam apenas índios, mas também os filhos e as filhas de colonos, bem 
como mestiços pobres. Todos eram alvo da catequese jesuítica e, eventualmente, do ensino 
do idioma escrito e de ofícios considerados condizentes a sua condição social. Segundo 
a lei, as crianças abandonadas, incluídas nesse contingente, deveriam ser acolhidas pela 
municipalidade, mas essa difícil tarefa foi em grande parte assumida pela Irmandade da 
Santa Casa de Misericórdia.
“Nos séculos XVI e XVII, tanto as câmaras municipais como as misericórdias prestaram 
alguma assistência a crianças abandonadas e enjeitadas, adotando ambas a “colocação” 
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DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
destes em casas particulares, onde deveriam ser cuidados e amamentados por amas de leite 
até 3 anos, mediante pagamento”, afirma a mestra em Serviço Social, Eva Faleiros.
O século XVIII, porém, iria assistir não apenas ao grande crescimento das cidades – mas 
também, em paralelo, ao aumento no número de crianças abandonadas, superando em 
muito a assistência que as câmaras ou Casas de Misericórdia podiam oferecer. Começava, 
então, a prática de abandonar recém-nascidos em locais públicos – eram os expostos, que 
só podiam contar com a compaixão das famílias que os encontravam.
Era uma questão de “sorte”: cronistas da época contam que muitas crianças abandonadas 
nas ruas e estradas, e não assistidas a tempo, morriam até mesmo devoradas por animais.
Em 1726, o vice-rei Vasco Meneses determinou que todas as crianças expostas fossem 
abrigadas em asilos. Foi a partir daí que a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro 
adotou o sistema da roda, já utilizado na Europa desde a Idade Média, que iria funcionar 
por mais de duzentos anos. Outras rodas seriam instaladas nas casas de assistência do Rio, 
Salvador e do Recife nas décadas seguintes. Até o fim do segundo reinado, seriam treze em 
funcionamento em todo o país.
Embora tenha se tornado um mecanismo tristemente famoso, a roda era a maior 
esperança de sobrevivência para os “enjeitados e expostos”. Tratava-se do “dispositivo onde 
se colocavam os bebês que se queriam abandonar. Sua forma cilíndrica, dividida ao meio 
por uma divisória, era fixada no muro ou na janela da instituição. No tabuleiro interior e 
em sua abertura externa, o expositor depositava a criancinha que enjeitava. A seguir, ele 
girava a roda e a criança já estava do outro lado do muro. Puxava-se uma cordinha, com 
uma sineta, para avisar a vigilante ou rodeira que um bebê acabava de ser abandonado, e 
o expositor furtivamente se retirava do local sem ser identificado”, explica a presidente da 
Comissão de Direitos Humanos da USP, Maria Luiza Marcílio.
O Rio chegou a ter até mesmo uma “Casa da Roda”, depois chamada “Casa dos Expostos”, 
hoje Educandário Romão de Mattos Duarte, uma homenagem ao seu fundador.
“O atendimento a números tão elevados de bebês era possibilitado pelo sistema da criação 
externa por amas de leite, contratadas pela Santa Casa de cada cidade”, informam Irma 
Rizzini – pesquisadora na área de História da Educação – e Irene Rizzini – diretora do Ciespi. 
“A criação coletiva de crianças pequenas nas Casas de Expostos, em um período anterior às 
descobertas de Pasteur e da microbiologia, resultava em altíssimas taxas de mortalidade. 
A amamentação artificial era um risco sério para as crianças, obrigando as instituições a 
manterem em seu quadro de pessoal amas de leite, responsáveis pela amamentação de 
um grande número de lactentes”, afirmam. Era comum que escravas, alugadas por seus 
proprietários, fossem empregadas nesta tarefa.
Frequentemente, era deixado um bilhete junto à criança, em geral escrito pela mãe, 
no qual constavam algumas informações: nome do bebê, se foi ou não batizado e data 
de nascimento. “Nos bilhetinhos, os familiares da criança expunham os motivos que os 
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Unidade I
levaram a procurar o hospital; neles, o abandono é apresentado como um paradoxal gesto 
de amor, uma maneira de proteger o menino ou a menina que corria risco de vida”, afirma 
Renato Pinto Venâncio, doutor em História do Brasil Colônia e historiador especialista na 
roda dos expostos. Algumas vezes, esses dados eram acompanhados de pedidos de perdão – 
reforçando que a prática, embora comum, também podia ser um peso na consciência.
Machado de Assis, na crônica “Pai contra mãe”, expressa esse sentimento a partir da 
literatura, quando conta a história de um jovem casal que aguarda ansiosamente a chegada 
de um filho, mas a difícil situação financeira apresenta um futuro diferente do esperado: 
“Foi na última semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o conselho de levar 
a criança que nascesse à roda dos enjeitados. Em verdade, não podia haver palavra mais 
dura de tolerar a dois jovens pais que espreitavam a criança, para beijá-la, guardá-la, vê-la 
rir, crescer, engordar, pular...”.
Havendo bilhete acompanhando a criança enjeitada ou não, dados sobre a criança eram 
anotados em livros de registros das casas de assistência. Alguns deles ainda existem e dão 
uma ideia das condições em que as crianças chegavam. Como neste termo, extraído do livro 
Educandário Romão de Mattos Duarte, de Dahas Zarur, de 1843:
“Às duas horas da tarde lançaram na Roda uma menina crioula, que tinha dois meses de 
idade, muito enferma, com as orelhas furadas; no pescoço, uma enfiadura (espécie de colar) 
de missangas, com duas figas de pau”.
Problemas físicos eram registrados em detalhes:
“Às nove horas da noite lançaram na roda uma menina que parece branca, recém-nascida, 
com dois dedos na mão esquerda, outros dois no pé direito” (1843).
E às vezes eram depositados na roda dos falecidos, não chegando a sobreviver para 
receber a assistência:
“Às nove horas da noite foi lançado na roda o cadáver de um menino de cor parda, que 
parece ter três dias de nascido. Sendo examinado pelo doutor, diz este que é falecido de 
desvaído (não socorrido). Veio vestido com uma camisa de cambrainha” (1864).
“A Roda dos expostos foiuma das instituições brasileiras de mais longa vida, sobrevivendo 
aos três grandes regimes de nossa história. Criada na Colônia, perpassou e multiplicou-se no 
período imperial, conseguiu manter-se durante a República e só foi extinta definitivamente 
na década de 1950! Sendo o Brasil o último país a abolir a chaga da escravidão, foi 
ele igualmente o último a acabar com o triste sistema da roda dos enjeitados”, afirma 
Marcos Freitas, doutor em História e Filosofia da Educação pela PUC-SP e professor do 
Departamento de Educação da Unifesp. Ainda assim, avalia o pesquisador, “essa instituição 
cumpriu importante papel. Quase por século e meio a roda dos expostos foi praticamente a 
última instituição de assistência à criança abandonada em todo o Brasil”.
 Fonte: Lyra; Oliveira (2010).
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DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
Exemplo de aplicação
Esse texto foi propositalmente escolhido porque as rodas foram as instituições que mais se 
expandiram em nosso país. Hoje, temos alguns lugares que querem recuperar essa prática. A questão 
aqui é a seguinte: como você compreende o suposto desejo de reviver essa instituição? Repense, reflita 
e argumente sobre o assunto. 
As rodas, assim como as Santas Casas, foram mantidas durante muitos anos em nosso país. Como 
exemplo de acolhimento, instaura-se no período colonial um asilo para atender idosos, criado por 
indicação do conde Resende, com o objetivo de acolher apenas idosos que tinham servido na chamada 
Guarda Nacional, algo similar ao Exército. Essa instituição localizava-se no Rio de Janeiro, que no 
momento era a capital do país, e recebeu o nome Casa dos Inválidos. Com o tempo, essa instituição 
passou a atender outros idosos e também a cobrar pelos serviços. Existe até hoje, e é especialmente 
destinada a atender idosos ricos, dado o valor cobrado (ARAÚJO; SOUZA; FARO, 2010). 
 Lembrete
Na Europa, as ações junto aos segmentos mais pobres eram carregadas 
de preconceito em relação ao pobre.
Para subsidiar esse sistema, digamos, tivemos uma Constituição, a de 1824, na qual foi feita menção 
ao socorro que seria necessário oferecer às rodas e demais instituições de tal natureza. Essa Constituição 
determinava que as câmaras municipais deveriam destinar recursos para auxiliar as rodas e também as 
Santas Casas. De acordo com Jesus et al. (2004), também era recomendado que as câmaras prestassem 
socorro a alguns segmentos, como os órfãos e os doentes, além de propor a vacinação da população. 
Entretanto, na prática, as ações não foram executadas como proposto na Constituição de 1824. No 
caso, os recursos destinados às Santas Casas e às rodas eram poucos e raríssimos, e as intervenções junto 
a órfãos e doentes praticamente inexistiam. A única intervenção do Estado imperial em relação à saúde 
era a constituição dos fiscais, que deveriam checar o destino dos dejetos e a qualidade da água para o 
consumo (FALEIROS, 1995). 
 Saiba mais
Para conhecer mais sobre a realidade de nosso país durante o Império, 
recomenda-se a seguinte leitura: 
ABREU, M. P.; LAGO, L. A. C. A economia brasileira do Império, 1822-1889. 
Rio de Janeiro: Departamento de Economia da PUC, 2010. Disponível em: http://
www.economia.puc-rio.br/PDF/td584.pdf. Acesso em: 19 nov. 2019. 
32
Unidade I
Não há outras ações a relatar, tendo em vista que não havia intervenções da assistência social em 
prol dos segmentos mais pobres no período estudado. Essas ações passam a ser potencializadas a partir 
da República, sobretudo no governo militar. 
 Observação
A República Velha tem seu início estimado a partir de 1889.
No período em questão, havia movimentos em prol da libertação dos escravos, tema que foi 
fragmentado em várias leis. Não houve nenhuma instituição que atendeu exclusivamente a filhos de 
escravas ou ingênuos (crianças nascidas livres após a Lei do Ventre Livre, 1871). Eles estavam submetidos 
ao domínio dos senhores, os quais eram responsáveis por alimentar, vestir, preparar para o trabalho e 
disciplinar os escravos e também os ingênuos, pois a Lei do Ventre Livre permitia aos senhores manterem 
seus ingênuos até a idade de 21 anos, com o compromisso de educá-los.
Os senhores escravocratas, mesmo depois da Lei do Ventre Livre, continuavam a explorar a mão 
de obra infantil, visto que tinham a opção de manter as crianças “até os 14 anos, podendo, então, 
ressarcir-se dos seus gastos com ela [a criança], seja mediante seu trabalho gratuito até os 21 anos, seja 
entregando-a ao Estado, mediante indenização” (RIZZINI, 2009, p. 18).
Uma outra opção seria entregá-los ao governo imperial, mediante indenização, e o governo assumiria 
a tarefa de educar os nascidos livres. 
Como a instauração de um novo regime político, o Brasil já possuía experiência na assistência à 
infância desvalida, sendo esta relacionada à educação e à instrução popular.
Com a Proclamação da Independência, houve algumas mudanças no cenário assistencial brasileiro, 
com a ampliação e diversificação das instituições de atendimento, tendo sido criados, segundo Faleiros 
(1995, p. 235), “alguns asilos e escolas para meninos órfãos, abandonados e pobres”. 
Era a época da promulgação do Código Criminal de 1830, cuja filosofia orbitava em torno do 
“recolhimento de crianças orfãs” e que, posteriormente, eram encaminhadas a algum trabalho precoce 
e exploradas numa tentativa de fazerem-nas ressarcir os gastos do Estado com a sua criação. 
 Observação
O Código Criminal do Império de 1830 fixou a imputabilidade plena em 
14 anos. Depois, a nova legislação de 1890 manteve a imputabilidade na 
mesma idade de seu sucessor. 
A idade penal nesse período era de 14 anos. Quando o adolescente de idade cometia um ilícito penal 
era avaliado, de forma grosseira, o seu grau de discernimento perante o ato cometido. Após a análise, 
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DIREITOS DA CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO
ele responderia penalmente por suas condutas como se adulto fosse, caso ficasse comprovado que no 
momento da ação que ele tinha a capacidade de entender a ilicitude do ato.
Os adolescentes eram recolhidos e havia segregação dos presos adultos, o que representava um 
avanço, já que até então recolhiam-se crianças de idade ainda mais tenra às prisões comuns.
Os asilos também foram grandes responsáveis pelo recolhimento da infância e da adolescência 
desvalida, sobretudo no século XIX, impulsionados pela “ideia de propiciar educação industrial aos meninos 
e educação doméstica às meninas, preparando-os(as) para ocupar o seu lugar na sociedade”; incutindo 
nessas crianças e adolescentes “o sentimento de amor ao trabalho” e uma “conveniente educação moral”, 
tal como pregava o regulamento do Abrigo de Menores, datado de 1924. Há que ressaltar que foi somente 
a partir dos anos 1980 que o sistema de internato destinado à infância/adolescência pobre começou a 
ser questionado no Brasil, por se mostrar como uma prática dispendiosa aos cofres públicos, considerada 
ineficaz e injusta, produzindo o chamado “menor institucionalizado”, o qual “apresentava grande dificuldade 
de inserção social após anos de condicionamento à vida institucional” (RIZZINI, 2009, p. 21).
O isolamento dos desajustados em espaços educativos e corretivos 
constituía estratégia segura para a manutenção “pacífica” da parte sadia 
da sociedade. O propósito de classificar os diferentes e confiná-los em 
espaços de segregação e de isolamento afinava com a modernidade do país, 
que renegava seu passado escravista e trilhava o caminho da civilização 
pela negação permanente da barbárie, que se apresentava sob a forma de 
diversidade irresponsável e caótica. Tratava-se, antes de tudo, de conferir 
ordem a uma população multifacetada e disforme (ADORNO, 1990, p. 9). 
É nesse contexto que surgem as polícias das famílias, com o discurso de que existiam para o bem dos 
infantes. Essas polícias tinham o poder de entrar nas casas e intervir na moralidade da família. A pobreza 
ou a orfandade justificava a retirada da criança do seu lar e de sua comunidade (RIZZINI,