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Autora: Profa. Daniela Emilena Santiago 
Colaboradores: Profa. Amarilis Tudela Nanias
 Profa. Maria Francisca S. Vignoli
Participação e 
Controle Social
Professora conteudista: Daniela Emilena Santiago
Daniela Emilena Santiago
Assistente social graduada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), especialista em Violência Doméstica 
contra Crianças e Adolescentes pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Psicologia pela Universidade 
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis/SP. Atualmente é funcionária pública do município 
de Quatá/SP, atuando como Assistente Social junto à Secretaria Municipal de Promoção Social. Exerce também a 
função de docente e líder junto ao curso de Serviço Social da Universidade Paulista (Unip), campus de Assis/SP. 
Partindo de sua vinculação à Unip, como docente que atua no curso de Serviço Social no campus de Assis‑SP, 
emergiu a oportunidade de seu atrelamento também ao curso de graduação de Serviço Social na modalidade SEI, 
prestada pela Unip Interativa, o que lhe proporcionou a oportunidade de ministrar aulas de diversas disciplinas nesse 
ensino. Além dessa inserção, também ministrou nessa instituição, na modalidade SEPI, aulas da disciplina Política 
Social de Saúde no curso de pós‑graduação de Gestão em Políticas Sociais. O vínculo com essa universidade também 
lhe possibilitou elaborar o presente material.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S235p Santiago, Daniela Emilena
Participação e controle social / Daniela Emilena Santiago. – São 
Paulo: Editora Sol, 2013.
192 p., il.
1. Serviço Social. 2. Política social. 3. Seguridade Social. I.Título.
CDU 36
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Profa. Melissa Larrabure
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Carla Regina Moro
 Amanda Casale
Sumário
Participação e Controle Social
APRESENTAçãO ......................................................................................................................................................7
INTRODUçãO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 AS PROTOFORMAS INICIAIS DAS INTERVENçõES EM POLíTICA SOCIAL .....................................9
2 O DESENVOLVIMENTO DAS AçõES EM POLíTICA SOCIAL NO BRASIL: 
COLôNIA E IMPéRIO .......................................................................................................................................... 22
3 O DESENVOLVIMENTO DAS AçõES EM POLíTICA SOCIAL NO BRASIL: 
REPúBLICA VELhA à DéCADA DE 1980 ..................................................................................................... 32
4 O SISTEMA DE SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL: DESENVOLVIMENTO 
E CONTEMPORANEIDADE ................................................................................................................................ 46
4.1 A política social de saúde .................................................................................................................. 58
4.2 A política social de Assistência Social .......................................................................................... 63
4.3 A Previdência Social ............................................................................................................................ 70
Unidade II
5 O NEOLIBERALISMO E AS INFLExõES JUNTO AO ESTADO E AS 
POLíTICAS SOCIAIS: A REALIDADE BRASILEIRA ...................................................................................... 80
6 O GOVERNO LULA, O GOVERNO DILMA ROUSSEF E O SISTEMA DE 
SEGURIDADE SOCIAL .......................................................................................................................................101
7 O PROCESSO DE REESTRUTURAçãO PRODUTIVA E A AMPLIAçãO 
DAS ExPRESSõES DA QUESTãO SOCIAL ..................................................................................................119
8 A CONSTITUIçãO DO FUNDO PúBLICO E OS MECANISMOS DE 
PARTICIPAçãO E DE CONTROLE SOCIAL ..................................................................................................130
8.1 A constituição do Fundo Público .................................................................................................130
8.1.1 Retrospectiva histórica sobre o Fundo Público ........................................................................131
8.1.2 O fundo público na contemporaneidade ................................................................................... 136
8.1.3 A fonte de recursos do sistema de Seguridade Social brasileiro ...................................... 144
8.2 Os mecanismos de participação e de controle social ..........................................................148
8.2.1 Um breve histórico da participação e do controle social no Brasil ................................. 148
8.2.2 A participação e o controle social no sistema de Seguridade Social brasileiro ......... 155
7
APrESEntAção
Prezado aluno, 
Bem‑vindo à disciplina Participação e Controle Social.
Iniciaremos nossa discussão com a exposição sobre o desenvolvimento histórico das intervenções 
relacionadas à política social, fazendo algumas considerações sobre as realidades europeia e brasileira, 
sendo tais conteúdos tratados na Unidade I. Ainda na Unidade I, discorreremos sobre as intervenções do 
que se convencionou denominar Estado de Bem‑Estar Social.
Já na Unidade II, discutiremos sobre o desenvolvimento dos processos de retração estatal, postos pelo 
desenvolvimento do neoliberalismo, assim como os processos de reestruturação produtiva empreendido 
pelo sistema capitalista maduro e consolidado. Partindo de tais considerações, esperamos que seja 
possível a você compreender como tais processos trazem condicionantes à política social que vem sendo 
desenvolvida na contemporaneidade.
E, por fim, discorreremos sobre a constituição do Fundo Público na contemporaneidade e as 
possibilidades de participação e controle social que são constituídas na contemporaneidade e que 
permitem uma gestão púbica e participativa dos serviços públicos.
Após cada unidade, será destacada uma série de dois exercícios, além de serem inseridos exercícios 
de aplicação na plataforma. é importante que você recorra a todos eles para avaliar a sua aprendizagem, 
mas que também se atenha aos exemplos de aplicação que foram inseridos no decurso do texto.
De tal forma, iniciamos nossos estudos compreendendo como eram as intervenções empreendidas 
na sociedade pré‑capitalista e que se assemelham a intervenções em política social.
Bons estudos.
IntroDução
Prezado aluno, nessa disciplina realizaremos um estudo sobre as políticas sociais, com especial 
atenção para o seu desenvolvimento histórico e sua configuração na contemporaneidade. Nos termos 
postos, discutiremos sobre a constituição do fundo público, dos espaços de participação popular, 
mas também trataremos dos processos de retraçãoestatal configurados na contemporaneidade da 
realidade brasileira. Paralela a essa compreensão, abordaremos ainda as mudanças no processo de 
acumulação configuradas a partir da década de 1970 e que tendem a ampliar a demanda pelos 
serviços sociais.
Cabe destacar que para isso teceremos algumas considerações sobre o desenvolvimento de tais 
intervenções junto à realidade europeia, o que culminará numa ênfase especial ao contexto brasileiro, 
considerando‑se as protoformas iniciais de política social. Voltaremos nosso olhar para as políticas 
sociais que compõem o sistema de Seguridade Social brasileiro. Por meio de tais conhecimentos, 
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esperamos que seja possível a você compreender como as intervenções que hoje denominamos 
política social foram sendo desenvolvidas, fortemente influenciadas por questões econômicas, sociais, 
políticas e culturais.
Diante de tais colocações passaremos a tratar da contemporaneidade, destacando a relevância 
que os processos de reestruturação do Estado e também de reestruturação produtiva trazem para 
as intervenções em política social na realidade brasileira. De tal forma, isso possibilitará a você uma 
compreensão crítica dos fenômenos em questão.
E, por fim, partindo de tais compreensões, ainda considerando a realidade contemporânea, 
empreenderemos uma discussão sobre o desenvolvimento do fundo público e das possibilidades que 
são constituídas na contemporaneidade para efetivar a participação e o controle da sociedade junto à 
gestão das políticas sociais.
Esperamos assim que seja possível, de acordo com o Plano de Ensino da Disciplina: oferecer subsídios 
para que o aluno possa conhecer e analisar criticamente o desenvolvimento histórico‑social das políticas 
sociais brasileiras, compreendendo ainda as tendências contemporâneas de intervenção empreendidas 
tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada, e proporcionando ainda ao aluno as informações 
necessárias sobre as transformações societárias processadas na sociedade capitalista e a ampliação das 
expressões da questão social.
é interessante notar que é, nas políticas sociais, públicas e privadas, que temos, como Assistentes 
Sociais, nosso espaço privilegiado de intervenção profissional, portanto, é fundamental uma apropriação 
da compreensão de todas as informações desse espaço. Nos termos postos, é fundamental compreender 
tanto o desenvolvimento histórico como a contemporaneidade e os fenômenos econômicos, sociais e 
políticos que condicionaram e condicionam a política social.
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participação e controle social
Unidade I
Nesta unidade realizaremos nossos estudos sobre o desenvolvimento histórico‑social das ações que se 
convencionou denominar pelo termo política social, sendo que nesse percurso histórico consideraremos 
as protoformas iniciais até a constituição do Estado de Bem‑Estar Social. Faremos algumas considerações 
sobre a realidade europeia e sobre as intervenções desenvolvidas nos Estados Unidos, por considerarmos 
que as experiências desenvolvidas em tais “locais” influenciaram e influenciam o desenvolvimento das 
políticas sociais brasileiras.
1 AS ProtoformAS InICIAIS DAS IntErvEnçõES Em PolítICA SoCIAl
Como protoformas iniciais das intervenções em política social, queremos nos referir a ações 
empreendidas no estágio pré‑capitalista, ou seja, anterior ao desenvolvimento do sistema capitalista. 
Iniciaremos nossas colocações considerando a realidade europeia, visto serem tais ações conhecidas 
como as bases iniciais das intervenções em política social.
Realizando uma retrospectiva histórica, podemos concluir que a ajuda ao próximo é algo tão antigo 
quanto o desenvolvimento do gênero humano. Martinelli (2009) nos relata que ações de ajuda próxima 
são iniciadas provavelmente em 3000 a.C., sobretudo no antigo Egito, Grécia, Itália e índia; não eram 
empreendidas pelo Estado ou por qualquer órgão que pudesse ser tido como regulador das relações 
entre os homens, mas eram realizadas pela caridade privada.
Martinelli (2009, p. 96) destaca que essas intervenções iniciais de auxílio aos segmentos em situação 
de vulnerabilidade social ficaram conhecidas como “confrarias do deserto”, que eram organizadas pela 
caridade de grupos específicos e inicialmente constituídas para facilitar a sobrevivência de alguns 
grupos durante o trânsito pelo deserto. Eram oferecidos a estes alimentos e outros itens que se faziam 
necessários. Com o tempo, porém, essas confrarias passaram a ser localizadas nas “cidades”; ainda que 
rudimentares já vinham se constituindo. Passaram a oferecer os serviços de esmola esporádica, visita 
domiciliar, concessão de gêneros alimentícios, de roupas e também de calçados. A autora também nos 
diz que essas concessões não eram orientadas apenas às pessoas que iriam viajar pelo deserto, passando 
a ser orientadas para atender as pessoas mais empobrecidas das sociedades em questão.
Martinelli (2009) ainda nos informa que para a concessão dos “benefícios” em questão, era comum que 
os responsáveis pelos serviços realizassem visitas, entrevistas. Segundo a autora, os judeus priorizavam 
a realização das abordagens via visita domiciliar para viúvas, órfãos, idosos e enfermos.
Essas intervenções foram intensificadas a partir do surgimento do cristianismo que começou a 
pregar a necessidade do auxílio ao próximo. Assim, a filosofia de ajuda ganhou grande ênfase dentro da 
Igreja Católica a partir do século xIII, sobretudo proposta por Tomás de Aquino, sendo que esse filósofo 
católico também foi tido como santo pela instituição religiosa em questão.
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Contudo, além da simples concessão de benefícios, provavelmente inspirada pela caridade, a ajuda 
possuía também um caráter ideológico a ser alcançado. De acordo com Martinelli (2009), a caridade era 
também usada como uma forma de controle, de transmissão da ideologia, sobretudo da Igreja Católica, 
que desenvolvia grande parte das ações. No caso, a autora considera que a ajuda a outros era “[...] 
uma forma de controlar a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles que não detinham posses ou bens 
materiais” (idem, p. 97).
Esse formato foi ainda adotado durante o regime feudal. De acordo com Faleiros (2000), a caridade 
da Igreja e de alguns poucos grupos privados ainda prevaleceu durante muito tempo, mas a satisfação 
das necessidades dos servos ainda dependia do senhor feudal. Como sabemos, o regime feudal se 
caracterizava por possuir a sociedade constituída por senhores feudais, servos e a Igreja, e, em tal 
sistema, o senhor feudal era o proprietário da terra ao passo que o servo era o trabalhador.
O autor nos relata que tanto as ações desenvolvidas pelos senhores feudais quanto as empreendidas 
pela Igreja possuíam uma conotação que buscava alcançar a servidão das pessoas. Além das esmolas, essas 
iniciativas prestavam ainda o acesso a cuidados básicos de saúde e asilos em determinadas situações.
Behring e Boschetti (2010), ainda referindo‑se às sociedades pré‑capitalistas, consideram que as 
intervenções para socorrer os segmentos mais empobrecidos estavam relacionadas a ações desenvolvidas 
pela caridade privada e pelas ações filantrópicas, assim como posto por Martinelli (2009). Entretanto, 
conforme essas autoras, essas intervenções tinham como enfoque realizar um controle dos pobres, 
evitando assim o que era tido como “vagabundagem” (idem, p. 47), sendo utilizadas assim como uma 
forma de manter a ordem social no período.
 observação
O Estado passa a intervir nas expressões da pobreza por meio de uma 
legislação.
Além disso, tais ações não eram contínuas, e sim pontuais, apenas para atender as situações, 
emergenciais que se apresentavam em determinadas circunstâncias.“Ao lado da caridade privada e 
de ações filantrópicas, algumas iniciativas pontuais com características assistenciais são identificados 
como protoformas de políticas sociais” (BEhRING; BOSChETTI, 2010, p. 48).
A intervenção estatal era então mínima, sendo que as ações empreendidas pelo Estado acabavam 
figurando apenas no aspecto legislativo, ou seja, delimitando aspectos legais. Grande parte das 
intervenções acabava sendo desenvolvida apenas pela caridade e pelas filantropias, vinculadas à Igreja 
Católica. Nos termos postos, o Estado só começou a intervir quando constatou que a filantropia se 
mostrava insuficiente e, mesmo assim, tal intervenção não era empreendida sob a ótica do direito, 
como veremos. Pereira (2011) chega a informar que as ações junto à caridade eram desenvolvidas com 
as paróquias. “[...] a partir da constatação de que a caridade cristã não dava conta de conter possíveis 
desordens que poderiam advir da lenta substituição da ordem feudal pela capitalista, seguida de 
generalizada miséria desabrigos e epidemias” (idem, p. 62). 
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participação e controle social
Vejamos as principais intervenções no período. Pereira (2011) destaca que em 1351, na Grã‑Bretanha, 
durante o reinado do Rei Eduardo III, teria sido constituído a Lei dos Trabalhadores. A autora considera 
que nesse período grande parcela da população local fora morta pela Peste Negra, e isso resultou 
na escassez de mão de obra para o trabalho. Dessa forma, para atender a situação posta, Eduardo III 
definiu‑se pela constituição da Lei dos Trabalhadores. Essa legislação foi constituída com o objetivo de 
controlar as relações de trabalho, por meio da fixação do valor dos salários dos trabalhadores, e também 
a mobilidade destes. Essa legislação é representativa das legislações inglesas constituídas no período.
A autora ainda assevera que, no ano de 1530, o rei henrique III, na França, definiu que as próprias 
paróquias poderiam arrecadar recursos junto à comunidade local para a caridade. Além dessa autorização, 
durante esse reinado, crianças e adolescentes que não trabalhavam eram postas nos asilos, e os que não 
trabalhavam eram tidos como vagabundos que podiam ser punidos caso não trabalhassem. Pereira (2011) 
acerca dessa compreensão sobre as pessoas que não trabalhavam, destaca que foram reconhecidas pelo 
parlamento inglês em 1547 como passíveis até de serem escravizadas.
Os socorros oferecidos pelas paróquias nesse período eram prestados por meio das caixas de socorro 
que ainda seguiam o princípio das confrarias do deserto, ou seja, concediam benefícios eventuais como 
alimentação, remédios, vestuários. Esses bens eram obtidos por meio da arrecadação junto à paróquia, 
mas só eram concedidos para serem usados como um remédio paliativo contra o vício, a vagabundagem 
e a imoralidade, ou seja, nesse período, a pobreza era compreendida de tal forma (FALEIROS, 2000).
Derivando dessa concepção em 1576, na França, foi realizada uma diferenciação entre os pobres 
válidos e os pobres desvalidos. Os válidos seriam aqueles que podiam trabalhar e os inválidos, 
consequentemente eram aqueles que não podiam exercer atividade laboral. Ambos eram encaminhados 
para as poor houses, ou casas dos pobres, onde eram alojados. Esses serviços também receberam a 
nomenclatura workhouses e hospitais de pobres, conforme estudaremos no decurso deste livro‑texto. 
Entretanto, é preciso notar que essas instituições permutavam a concessão de benefícios pelo trabalho 
e eram organizados em antigos palácios abandonados.
Behring e Boschetti (2010) ainda salientam outras intervenções além das apontadas por Pereira 
(2011), dentre as quais podemos sumariar as seguintes:
Estatuto dos Trabalhadores, de 1349; Estatuto dos Artesãos (Artífices), de 
1563; Leis dos pobres elisabetanas, que se sucederam entre 1531 e 1601; 
Lei de Domicílio (Settlement Act), de1662; Speenhamland Act, de 1662, Lei 
Revisora das Leis dos Pobres, ou Nova Lei dos Pobres (Poor Law Amendment 
Act), de 1834 (idem, p. 48).
Vejamos quais as características e peculiaridades de cada uma dessas legislações.
O Estatuto dos Trabalhadores determinava que todas as pessoas com menos de 60 anos de idade 
precisavam trabalhar, sendo “garantido” aos trabalhadores um teto mínimo de salário. O Estatuto dos 
Artesãos, por sua vez, regulamentava o exercício desse segmento e definia ser necessário ao menos 7 
anos para ser considerado como artesão profissional (BEhRING; BOSChETTI, 2010).
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 Saiba mais
Para saber mais sobre os temas tratados nesta unidade, recorra às 
indicações a seguir elencadas:
MAChADO, E. M. Política social: a moderna Lei dos Pobres. Disponível 
em: <http://www.ts.ucr.ac.cr/binarios/pela/pl‑000259.pdf>. Acesso em: 
6 ago. 2012.
SChUELER, A. F. M. Crianças e escola na passagem do Império para 
a República. Revista Brasileira de história, São Paulo, v. 19, n. 37, 1999. 
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102‑018819990
00100004&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 jul. 2012.
A Lei dos Pobres, por sua vez, orientava sobre o desenvolvimento da caridade, sendo que os pobres 
assistidos por ela deveriam trabalhar, mesmo quando atendidos por meio da caridade privada, como já 
salientamos. Pereira (2011) nos diz que a lei pública em 1601, apesar de repressora, buscou enfocar a 
necessidade de atender segmentos específicos, além do que estabelecer que tais intervenções fossem de 
responsabilidade das paróquias. Tal legislação ainda destacou que, para receber atendimento, a pessoa 
deveria residir há pelo menos três anos no local.
A Lei do Domicílio, por sua vez, nos termos de Behring e Boschetti (2010), impedia que os trabalhadores 
se mudassem dos municípios onde trabalhavam sem uma comunicação prévia às autoridades. Essa 
legislação também foi conhecida com o termo Lei de Residência, sendo que além da exigência de 
fixação, autorizava os delegados e fiscais locais a rejeitarem pessoas que se mudassem sem autorização. 
Tal legislação recomendava que as indivíduos que fossem para os locais sem autorização poderiam ser 
direcionadas aos locais que residiam antes ou, então, para as workhouses (PEREIRA, 2011); ainda era 
utilizada como sendo uma forma de repressão, já que impedia mesmo o trânsito das pessoas.
A Speenhamland Act, em que todos os homens sem trabalho recebiam uma ajuda do Estado, 
considerando o preço do pão e a Lei Revisora da Lei dos Pobres, tornou a intervenção junto à pobreza 
ainda mais seletiva e residual (BEhRING; BOSChETTI, 2010).
De acordo com Behring e Boschetti (2010), as legislações postas estabeleciam uma permuta entre 
a caridade e o trabalho, ou seja, quem tinha “ajuda” precisava retribuir com o trabalho tal como posto 
nas diversas versões das Leis dos Pobres. Conforme Pereira (2011), isso inaugurou uma concepção de 
que a política social deveria ser permutada pelo trabalho, algo como uma contrapartida necessária para 
quem era beneficiado. Assim, quem trabalhavasse possuíria alguns poucos direitos, como o de ter um 
salário. De tal forma, o que tais legislações buscavam era garantir que todas as pessoas que possuíssem 
capacidade pudessem trabalhar, sendo essa uma forma de “forçar” o trabalho, ou como nos dizem as 
autoras elencadas, um “código coercitivo do trabalho” (idem, p. 49).
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participação e controle social
A observância da lei era garantida por meio do desenvolvimento de ações punitivas e coercitivas, 
que eram empregadas para o cumprimento de grande parcela da população, tais como “[...] surras, 
mutilações e queimaduras com ferro em brasa nos andarilhos, embora estes àquela época, não fossem 
tão numerosos como se fazia crer” (PEREIRA, 2011, p. 62).
Dessa forma, as pessoaseram obrigadas a trabalhar e se se negassem poderiam também ser punidas. 
O trabalho poderia ser desenvolvido em obras da Igreja ou então em obras públicas. havia uso corrente 
da repressão para que isso, sobretudo, junto aos segmentos que eram “beneficiados” com a caridade, 
ou seja, os pobres. O pobre era o mais agredido, já que era obrigado a aceitar qualquer tipo de trabalho 
que aparecesse. Assim, o objetivo seria “[...] estabelecer o imperativo do trabalho a todos que dependiam 
de sua força de trabalho para sobreviver; obrigar o pobre a aceitar qualquer trabalho que lhe fosse 
oferecido; regular a remuneração do trabalho, de modo que o trabalhador pobre não poderia negociar 
formas de remuneração; proibir a mendicância dos pobres válidos, obrigando‑os a se submeterem aos 
trabalhos forçados” (BEhRING; BOSChETTI, 2010, p. 48).
Como o teto do salário já era regulado, o trabalhador não poderia se opor ao que fora delimitado, 
reivindicando assim aumentos salariais. é relevante ainda destacar que as legislações buscavam evitar a 
mendicância, sendo que isso era tido como uma forma de ajuste das pessoas à ordem social estabelecida. 
Behring e Boschetti (2010) consideram que essas ações buscavam também evitar a circulação das forças 
de trabalho, além de oferecer à sociedade do mercado a mão de obra que era extremamente necessária 
para aquele estágio de desenvolvimento capitalista.
Como “exemplo” dessa modalidade de intervenção, as autoras nos citam as workhouses, que 
seriam as casas de trabalho para onde deveriam ir, com o objetivo de trabalhar, as pessoas que foram 
ou que eram atendidas pela caridade. As primeiras casas de trabalhos teriam sido criadas, de acordo 
com Faleiros (2000), na Inglaterra em 1730. Alguns desses pobres permaneciam reclusos nesses locais 
desempenhando as funções que eram a eles atribuídos, o que Faleiros (2000) chegou a descrever como 
um regime de prisão. Nessas workhouses, eram concedidos auxílios mínimos e havia grande seleção 
para os atendimentos. Considerava‑se que havia pobres merecedores ou não de ajuda. “Aos primeiros, 
merecedores de “auxílio”, era assegurado algum tipo de assistência, minimalista e restritiva, sustentada 
em um pretenso dever moral e cristão de ajuda, ou seja, não se sustentavam na perspectiva do direito” 
(BEhRING; BOSChETTI, 2010, p. 49).
Essas workhouses também ficaram conhecidas com o termo hospital de pobres ou dispensários. 
Começaram a ser desencorajadas a partir de 1782, quando uma emenda à Lei dos Pobres propôs a 
intervenção em caridade por meio de assistência externa, ou seja, não desenvolvida em ambientes 
fechados, reclusos. Como tais, as intervenções eram prestadas por meio de concessão de pensões, 
subsídios de desemprego e recompensas monetárias.
Vejamos a seguir a instituição que foi criada em meados de 1800, em Preston, Lancashire, Inglaterra.
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Figura 1
Conforme Faleiros (2000), o objetivo dessas ações era também acabar com os tidos como “vagabundos” 
que não poderiam mais pedir esmolas. Se uma pessoa fosse pega mendigando, era encaminhada para as 
casas de trabalho e, se fosse flagrada novamente, mendigando poderia ser severamente punida. “Assim, 
os considerados vagabundos e mendigos eram açoitados ou, em caso de reincidência, se lhes marcara 
com ferro e os condenava à morte (coação direta e indireta ao trabalho). Foram proibidas as esmolas aos 
mendigos não identificados como tais” (FALEIROS, 2001, p. 12).
Faleiros (2000) nos relata ainda que os atendidos e que não permaneciam em regime de internato, 
que eram poucos, eram obrigados a residir onde estavam localizadas as workhouses, ou seja, “[...] os 
pobres eram obrigados a residir no lugar de ajuda para que a mão de obra não fugisse dos senhores 
locais” (idem, p. 13).
Derivando dessa forma de serviço podemos observar que também houve, no período, grande 
quantidade de instituições criada para atender crianças e adolescentes, sendo essas as rodas e as casas 
dos expostos. As rodas recebiam, via de regra, crianças pequenas, e quando elas atingiam 7 anos eram 
encaminhadas para as casas dos expostos, onde aprenderiam um ofício. Essas instituições recebiam ajuda 
das câmaras municipais, mas eram geridas pela Igreja e por pessoas ocupadas com a caridade privada. 
São modelos importantes de atendimento porque foram também organizadas no Brasil (BADINTER, 
1985).
A imagem em seguida retrata um grupo de crianças que foram abandonadas por seus pais, no 
distrito de Volga, na Rússia.
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participação e controle social
Figura 2
 Saiba mais
Caso se interesse em saber mais sobre o tema, recorra ao site:
<http://epoca.globo.com/especiais/500anos/esp20000110.htm>
e também aos textos:
TRINDADE, J. M. B. O abandono de crianças ou a negação do óbvio. 
Revista Brasileira de história, São Paulo, v.17, n. 39, set.1999. Disponível 
em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S0102‑01881999000100003>. Acesso em: 10 ago. 2012.
WEBER, L. N. D. Os filhos de ninguém: abandono e institucionalização 
de crianças no Brasil. Disponível em: <http://www.nac.ufpr.br/artigos_
do_site/2000_Os_filhos_de_ninguem.pdf>. Acesso em: 1 out. 2012.
Ainda compreendendo a legislação, destacamos a Lei de Speenhamland, que de acordo com Behring 
e Boschetti (2010), fora a menos repressora de todas. Nesse caso, era delimitado que fosse realizado 
o pagamento de um valor financeiro específico em complementação aos salários recebidos pelos 
trabalhadores e tomando ainda com base o preço do pão ou do trigo usado para produzir o pão. Essa 
assistência, porém, não era restritiva aos trabalhadores, mas contemplava também alguns segmentos que 
estivessem momentaneamente desempregados ou que recebessem salários muitos baixos. Contudo, tais 
concessões exigiam a fixação dos trabalhadores na área em que o trabalho era exercido. Essa legislação 
fora definida, de acordo com Faleiros (2000), em Speenhamland, por um grupo de juízes.
Entretanto, essa compreensão entrou em declínio a partir da Poor Law Amendment Act, de 1834, 
que recuperou os trabalhos forçados em prol da concessão de benefícios pontuais e emergenciais. No 
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caso, as pessoas que não podiam trabalhar estavam entregues à própria sorte, posto que a concessão da 
ajuda era condicionada ao trabalho. Além dessas intervenções havia ações pontuais e de abrigamento 
para idosos pobres e inválidos, porém, eram precárias, pontuais e não possuíam qualidade.
No entanto, a partir de tais legislações, algumas intervenções passaram a ser mediadas pelo Estado, 
mas o principal foco de impedir a “vagabundagem” e diminuir ou minimizar as expressões da pobreza 
não fora alcançado. Pereira (2011) nos diz que a pobreza somente se ampliou e, até o século xVIII, 
observou‑se uma crescente precarização da vida, sendo que tais condições afetavam não apenas os 
desempregados, mas também a classe trabalhadora. “Agora, não só os impotentes e desempregados, 
mas também os empregados tinham de ser sustentados, em vista da presença ameaçadora da fome e do 
aumento dos preços dos produtos de extrema necessidade” (idem, p. 67).
Apesar de tais condições de precarização da vida em geral, as intervenções desenvolvidas pelo 
Estado junto às expressões da questão social ainda continuaram pontuais, focais e em grande medida 
dependendo da iniciativa privada e da caridade. Essa forma de agir do Estado foi intensificada durante 
o século xIx e só entrou em declínio a partir do início do século xx.
Behring e Boschetti (2010) consideram que grande parte do perfil assumido pelo Estado nesse 
período deriva de uma concepção denominada como “liberal” ou “liberalismo”, segunda a qual não 
deveria realizar intervenções na economiae nem na vida das pessoas, cabendo ao mercado a regulação 
da vida por meio da “mão invisível” (idem, p. 56). De acordo com tal compreensão, o Estado era um 
mal necessário que deveria apenas fornecer a base legal para o desenvolvimento do mercado e, dessa 
forma, seria possível ampliar os benefícios para os homens. Essas concepções originaram‑se em meados 
dos séculos xVI e xVII e tiveram como principais expoentes Maquiavel, hobbes e Rosseau, mas tiveram 
grande divulgação a partir do século xIx.
De acordo com essas compreensões, cabia ao Estado “[...] a defesa contra os inimigos externos, a 
proteção de todo indivíduo de ofensas dirigidas por outros indivíduos e o provimento de obras públicas, 
que não possam ser executadas pela iniciativa privada” (Idem, p. 60), sendo que de acordo com essa 
teoria o Estado deveria apenas garantir o direito à vida, à liberdade, à individualidade e à propriedade 
privada. Nos termos postos, mesmo evocando o direito à vida, o liberalismo não demandava que o 
Estado realizasse intervenção junto às expressões da questão social.
Apesar disso, esse padrão de concepção do papel do Estado entrou em declínio a partir de finais do 
século xIx e início do século xx. De acordo com Behring e Boschetti (2010), nesse período vivenciamos 
uma ampliação da pobreza, das condições precárias de vida, e isso orientou o abandono do liberalismo 
como tendência teórica adotada pelo Estado. Essa alteração foi fortemente influenciada pela crise 
econômica que se evidenciou em todo o mundo a partir do início das primeiras décadas do século xx, 
tendo como sua maior expressão a crise de 1929.
Sobre esse período, apresentamos a seguir duas representações desse momento em fotografias de 
Migrant Mother, uma das fotógrafas mais famosas nos Estados Unidos e Europa na década de 1930.
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A seguir, temos duas situações; na figura 3, temos os antagonismos de uma sociedade que é, 
por essência, desigual, em que a desigualdade apenas se manifesta com maior preponderância em 
momentos de crise como a de 1929. Já na fotografia 4, temos a representação fotográfica de Florence 
Owens Thompson, que procurava uma alternativa para ter suas necessidades atendidas e de seus sete 
filhos, pós‑crise, no ano de 1936, após o falecimento de seu esposo. Veja que ambas são representações 
relevantes da realidade concreta que afetou grande parcela da população no momento.
Figura 3
Figura 4
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é necessário que se atente para o fato de que a crise econômica vivenciada motivou as organizações 
civis e políticas a se manifestarem contrárias às situações de desigualdade social que afetavam grande 
parcela da população. No caso, as mobilizações do movimento operário também influenciaram na 
mudança do papel até então assumido pelo Estado. Para conter manifestações, muitas vezes cercadas 
de muita violência, ele começou a intervir nas expressões da questão social, como uma alternativa para 
minimizá‑las e para restringir as expressões de manifestação do movimento operário.
Destaca‑se como exemplo dessa concepção a crise que fora vivenciada na Grã‑Bretanha em 1932. 
Nessa circunstância, foi constituída uma comissão para investigar a situação dos pobres e constatou‑se 
que muitos viviam na imoralidade, sendo assim necessária uma intervenção do Estado para que fosse 
possível combater o vício, a preguiça, e a imprevidência.
Essa intervenção junto às expressões da questão social ficou conhecida com a terminologia Welfare 
State ou Estado de Bem‑Estar Social, que teve início a partir dos primeiros anos de 1900, mas se 
consolidou mesmo a partir do segundo pós‑guerra. Essa alternativa fora pensada para conter as pressões 
populares, mas também como uma possibilidade de conter a crise capitalista. Apesar de apresentar uma 
série de formatos diferenciados, algumas intervenções foram importantes e merecem ser destacadas, 
por exemplo: a constituição em 1910 de um regime de previdência na França e, em 1928 os serviços 
para a enfermidade e a velhice.
O grande idealizador dessa concepção foi Keynes, um teórico que propunha como alternativa para 
a crise capitalista um Estado forte e que regulasse economia, assim como a vida dos seres humanos. As 
colocações de Keynes estão expressas no livro Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda (BEhRING; 
BOSChETTI, 2010).
De acordo com esse ideal, que também ficou conhecido como keynesianismo, o Estado deveria 
intervir na economia para que fosse possível reativar a produção econômica, que, como sabemos, 
estava estagnada, com muita produção e ausência de demanda. A alternativa identificada nesse sentido 
por Keynes foi a geração do pleno emprego, ou seja, se houvesse trabalho para todos, seria possível 
consumirem, ou então se houvesse ao menos renda, mesmo que decorrente da concessão de benefícios 
estatais, as pessoas poderiam consumir.
O papel do Estado deveria estar assim orientado para reestabelecer o equilíbrio econômico, sendo que 
para isso deveria também controlar a política fiscal e creditícia. Era demandado ainda que ele realizasse 
investimentos na economia em períodos de depressão, além de oferecer estímulos para a produção. Dessa 
forma, seria possível conter o declínio da taxa de lucros, nos valores obtidos de mais‑valia.
Behring e Boschetti (2010) informam ainda que cabia ao Estado intervir no sentido de regular a 
sobrevivência dos seres humanos; salientam, entretanto, que o poder público deveria garantir um sistema 
de proteção social para segmentos incapazes para o trabalho, como idosos, deficientes e crianças, e 
garantir intervenções pontuais para aqueles que estavam momentaneamente desempregados. Assim, 
grande parte das intervenções propostas estava situada no âmbito da transferência de renda, mas 
também deveriam ser operacionalizadas por meio da constituição de uma gama de serviços públicos, 
sobretudo na área da assistência social.
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participação e controle social
De acordo com as orientações de Keynes, a crise apresentada seria superada pela intervenção estatal. 
No entanto, isso aconteceu de forma diferenciada em diversos países da Europa e dos Estados Unidos, 
mas a orientação geral era de que o Estado deveria regular tanto a economia como a vida dos cidadãos, 
nos termos que sumariamos.
é importante pontuarmos que, nesse período, o documento mais expressivo dessa forma de 
compreender o papel do Estado fora editado, digamos assim, na Inglaterra, nos idos de 1942, segundo o 
qual, seria responsabilidade estatal a manutenção das condições dignas de vida da população, sobretudo 
pela promoção do pleno emprego e ainda pela organização e prestação de serviços sociais universais por 
meio de uma rede de assistência social (BEhRING; BOSChETTI, 2010).
De acordo com Behring e Boschetti (2010), esse modelo de intervenção, nos primeiros anos, até 
ofereceu uma nova onda de crescimento e de lucro por parte do sistema capitalista, porém em fins da 
década de 1960, sobretudo na década de 1970 já dava sinais do seu esgotamento. Foi a partir de então 
que surgiu o neoliberalismo, uma outra alternativa para a crise econômica, que, mais uma vez, se fazia 
presente nesse modo de produção que é caracterizado por ondas de crescimento e crise.
No período em questão, conforme Behring e Boschetti (2010), a crise fora associada ao possível 
excesso de regulação estatal na economia e na vida dos seres humanos. Portanto, é como se o Estado 
fosse o grande responsável pela crise e, como tal, a única forma de solucioná‑la seria por meio do fim 
da sua intervenção.
O Estado passa a ser compreendido como um órgão que, em decorrência de sua intervenção, 
minimiza a vontade individual do ser humano; ao conceder serviçossociais, estaria acostumando os 
seres humanos a concessões, e não ao trabalho, como se as pessoas escolhessem “[...] viver sob as 
benesses do aparelho estatal do que trabalhar” (BEhRING; BOSChETTI, 2010, p. 69).
Figura como exemplo desse formato a ser adotado pelo Estado o documento denominado Consenso 
de Washington, elaborado em 1989, por representantes do Fundo Monetário Internacional (FMI), do 
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e por representantes dos países desenvolvidos. Esse 
documento buscava apontar soluções para a crise econômica e, sobretudo para os países subdesenvolvidos, 
propondo uma série de medidas que deveriam ser adotadas, dentre elas a redução da intervenção 
estatal para que a crise fosse superada. O Consenso de Washington condicionou a concessão de auxílio 
financeiro aos países e a sua aceitação aos seus postulados.
Diante disso, grande parte dos países aderiu ao Consenso de Washington e, no âmbito da 
intervenção estatal, observamos que os serviços sociais passaram a ser residuais e pontuais. Além disso, 
as intervenções junto às expressões da questão social passaram a ser organizadas pela sociedade civil 
que regulamentariam suas ações por meio de organizações não governamentais, ou ONGs como ficaram 
popularmente conhecidas. Esses organismos, frente à retração estatal, passaram a desenvolver ações na 
área assistencial, de forma que, na contemporaneidade, observamos que grande parte dos Estados vem 
orientando suas ações para o modelo de influência neoliberal, mas isso não é uma regra obedecida em 
todos os países.
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Vejamos a matéria em seguida sobre a aplicação dos princípios neoliberais.
Após 20 anos da queda do Muro de Berlim, antigos países socialistas ainda se 
adaptam ao capitalismo.
07/11/2009
Lísia Gusmão e Renata Giraldi
Repórteres da Agência Brasil‑Brasília
Quando o Muro de Berlim caiu em 9 de novembro de 1989, o socialismo já não tinha 
qualquer apelo entre os jovens dos países do Leste Europeu. O desenvolvimento tecnológico 
e o estilo de vida de consumo do Ocidente exerciam forte influência sobre os “filhos do 
Muro” – uma geração de jovens nascidos depois de 1961. “O poder do consumo é muito 
forte. Não adianta tentar sensibilizar o jovem dizendo que a pobreza havia sido erradicada, 
todos seriam alfabetizados, não havia mendicância e idosos abandonados. Esse discurso não 
sensibiliza quem já nasce com isso”, diz Virgílio Arraes, professor de relações internacionais 
da Universidade de Brasília (UnB).
A partir da queda do muro, cada uma das economias planejadas do bloco socialista 
abraçou o modelo capitalista sob forma de democracias neoliberais. Este fenômeno se 
espalhou pelo Leste Europeu a partir de 1989 resultando na completa desintegração da 
União Soviética dois anos depois. Foi o caminho contrário da China, que manteve o regime 
político fechado e adotou uma política econômica agressiva no plano internacional. O Leste 
Europeu foi uma das regiões que mais sofreu os impactos da crise internacional de 2008.
Nessa semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou que a economia russa 
deve ter uma queda de 7,5% neste ano, um número bem pior que a média mundial (‑1,1%), 
Estados Unidos (‑2,7%) e Brasil (‑0,7%). O que mais afeta a região é a dependência de 
dinheiro no mercado internacional.
Arraes nota que os ex‑socialistas acreditaram no canto da sereia do mercado: “O 
Ocidente apresentou uma proposta miraculosa. Se houvesse adesão irrestrita às normas do 
mercado, com privatizações e redução do papel do Estado, as economias voltariam a crescer 
rapidamente”. O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, ressalta 
que, apesar do caráter pacífico, a fase posterior a 1989 causou “problemas” para o governo da 
então União Soviética. “A mudança trouxe problemas gravíssimos, e não houve uma transição 
organizada. Mas a Rússia está pouco a pouco se recuperando”, afirmou Garcia à Agência 
Brasil. No entanto, concluída a conversão à economia de mercado, cidadãos dos antigos países 
socialistas passaram a conviver com facetas do novo sistema que desconheciam. Aparaceram 
mendicância, abandono de crianças e idosos, prostituição maciça, contrabando, tráfico e 
corrupção em larga escala. “O que se viu foram pequenos segmentos sendo extremamente 
beneficiados e a maior parte da população estagnada ou até regredindo do ponto de vista 
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participação e controle social
social”, assinala Arraes. “Formou‑se uma elite europeizada, uma classe média alta com acesso 
a tecnologia. Mas uma parte da população migrou para outros países para escapar da miséria.” 
Uma das questões mais complicadas tem sido incorporar a população e os países do Leste 
Europeu ao restante do continente. A antiga República Democrática Alemã (RDA) ainda pesa 
no bolso dos contribuintes alemães. “A reunificação das Alemanhas foi muito festejada. Mas a 
maioria da população não percebeu o tamanho do desafio econômico”, diz o diplomata holger 
Klitzing, que trabalha na Embaixada da Alemanha em Brasília. Arraes, da UnB, avalia que a 
União Europeia não terá condições de ajudar os países do Leste, como fez com a Espanha, 
Portugal e a Grécia. Para ele, o nível de vida na Polônia, na antiga Checoslováquia (hoje 
dividida em dois países) e na hungria é melhor, uma vez que possuíam setores industriais mais 
avançados do que a ex‑União Soviética. “A competição ideológica possibilitou a consolidação 
de um sistema social muito forte na Europa. Com a queda do Muro, isso desaparece”, afirma 
Arraes. “Direitos sociais passaram a ser vistos como privilégios. A ausência de opções políticas 
e econômicas viáveis faz com que não haja uma tentativa de se amenizar os efeitos mais 
deletérios do neoliberalismo.”
Fonte: Agência Brasil, 7 nov. 2009.
Exemplo de aplicação
A notícia apresentada descreve o resultado que a influência neoliberal, no sentido de delimitar o 
papel do Estado, pode trazer para a economia e para a vida de muitos segmentos sociais. Tomando como 
referência o texto elencado e os conteúdos estudados, atenda as propostas em seguida:
1. Analisando a experiência narrada, elenque os principais resultados negativos da adesão do Estado 
aos princípios neoliberais.
2. O fato de os “direitos sociais” serem tidos como privilégios para poucos tende a comprometer a 
sobrevivência de um determinado segmento social. Comente qual seria esse segmento.
Passaremos agora a discorrer sobre o desenvolvimento de tais intervenções arroladas, porém 
considerando a realidade brasileira.
 Saiba mais
Recomendamos uma visita aos sites a seguir elencados, onde são feitas 
uma série de considerações sobre esse processo de neoliberalismo:
<http://www.cefetsp. br/edu/eso/globalizacao/balanconeolib.html>
<http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/cidadania/0032.html>
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2 o DESEnvolvImEnto DAS AçõES Em PolítICA SoCIAl no BrASIl: 
ColônIA E ImPérIo
Após termos realizado nossos estudos, considerando as intervenções realizadas no âmbito 
internacional, passaremos agora a discutir a realidade brasileira. Veremos que aqui no Brasil 
também tivemos e temos intervenções em política social, sendo que estas vêm balizadas pela 
influência de experiências externas, mas também são condicionadas pela nossa realidade 
peculiar.
Para melhor compreendermos disso retomaremos a nossa história, regressando então ao período 
colonial, para entendermos como o desenvolvimento da política social aconteceu no Brasil. é importante 
reforçar que essa divisão foi adotada apenas como uma forma de tornar o conteúdo mais acessível, de 
uma forma didática para você.
Couto (2010) considera que, para compreendermos o desenvolvimento da política socialno Brasil, precisamos entender que foi condicionado pelo desenvolvimento econômico e pela 
organização política que foi se desenhando no país desde a colonização. Como sabemos, o 
estágio colonial, cronologicamente, é compreendido como iniciado em 1500 e concluído em 
meados de 1822. Segundo a autora, os traços de nossa colonização trouxeram implicações ao 
tratamento conferido à questão social, não apenas durante o período de colonização, visto que 
suas influências condicionaram o desenvolvimento de ações em política social durante muito 
tempo em nosso país.
Nos termos postos, a autora inicia suas argumentações destacando que o processo de colonização 
brasileiro foi marcado por uma intensa exploração de riquezas naturais, como sabemos. Segundo ela, 
durante o processo de colonização, o país desenvolveu uma economia pautada na exploração agrícola, 
na constituição de grandes latifúndios e no trabalho escravo, e, além disso, na extração de pau‑brasil, 
cana‑de‑açúcar, mineração, café e borracha.
Essa forma de constituição econômica, digamos assim, esteve diretamente relacionada a um tipo 
de organização política em que quem detinha o poder econômico, os grandes proprietários de terra, 
detinha também o poder político. Apesar de termos como maior instância política a metrópole, existia 
na colônia uma forma de governo, de organização política.
Siqueira (2009) informam a partir de então, já se constitui um sistema de profunda estratificação 
social, ou seja, em que as diferenças sociais entre as classes se tornam antagônicas e cada vez mais 
perceptíveis. De acordo com o que nos relata a autora, a pobreza já estava constituída nos primeiros 
anos da colônia brasileira.
Sobre a pobreza no regime colonial, Siqueira (2009) assevera que era observada intensa pobreza 
tanto no âmbito urbano como no rural. De acordo com a autora, “os pobres constituíam uma camada 
social de impossibilitados e desclassificados, criados na indigência, sem condição de sobrevivência” 
(Idem, p. 3).
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participação e controle social
Na verdade, Couto (2010) aponta que toda a organização colonial, inclusive a social e familiar vai ser 
condicionada pela figura do senhor, proprietário da terra. Nos termos postos, Siqueira (2009) destaca 
que, em relação à organização familiar e social, parte dos modelos adotados no Brasil foram fortemente 
influenciados pela orientação da Igreja Católica; esta acabava defendendo a forma de organização 
social e familiar que tinha como centro o senhor da terra e também sustentava o regime escravocrata.
Diante de tal circunstância, a autora salienta que tanto os escravos quanto os trabalhadores que 
eram vinculados às grandes fazendas dependiam das vontades do proprietário da terra. No caso, 
muitos trabalhadores dependiam das benesses que eram oferecidas a eles pelo proprietário da fazenda. 
Os proprietários de terra eram tidos como donos tanto dos escravos como dos trabalhadores e, por 
isso, decidiam sobre como agir frente a esses segmentos. Os escravos, como sabemos, não recebiam 
pagamento pelo trabalho, aliás, poderiam ser severamente punidos se não atendessem as solicitações 
do proprietário da terra, podendo aliás, serem punidos mesmo com a morte.
Veja a tela em seguida, na qual Debret, importante pintor europeu, reproduz o tratamento que era 
conferido aos escravos no Brasil.
Figura 5 ‑ Palmatória, de Debret
Cabia ao proprietário de terra, no período, deliberar sobre o que se desejava conceder aos trabalhadores 
e aos escravos. Para Couto (2010), a partir de então, a concessão de auxílio, de ajuda, passou a ser 
associada à lógica do favor, da concessão, não como um direito, mas, sim, caridade. Assim, defende 
que “[...] o favor, no Brasil, é uma mediação quase universal”(idem, p. 78) e que, desde sempre, esteve 
baseada na “[...] submissão e no compadrio” ”(ibidem, p. 79), impedindo assim, nesse estágio qualquer 
compreensão de cidadania ou de efetivação de direitos.
Sobre a questão da escravidão, Mattoso (1995) nos coloca que também eram responsabilidade do 
proprietário de terra as crianças nascidas da relação estabelecida entre os escravos. Entretanto, o que 
a autora quer nos dizer é que a criança escrava era percebida como uma propriedade do proprietário 
de terra, e não como um dever social. De tal forma, o proprietário possuía até direito de comercializá‑
la ou então de fazer com ela o que desejasse; ela era então percebida e tratada como um bem, uma 
propriedade.
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Assim, quem decidia sobre questões que envolviam trabalhadores e escravos era o patrão, e suas 
decisões não envolviam apenas a concessão de determinados benefícios. “Esses grandes proprietários 
acabam por criar um sistema de justiça interno, onde suas decisões se tornavam leis no âmbito de 
suas propriedades, e a elas se submetiam todos que vivessem nessas grandes propriedades” (COUTO, 
2010, p. 79). A autora referendada nos coloca que o Estado, informalmente constituído, não conseguia 
interferir nas relações estabelecidas entre proprietários de terra e trabalhadores, ou melhor, o poder 
público sequer manifestava interesse nesse sentido.
 lembrete
Estado liberal caracteriza‑se pela não intervenção estatal na regulação 
econômica e nos problemas sociais.
Sobre o Estado, Couto (2010) nos informa que cabia ao governo apenas a função de garantir os 
interesses individuais, e que estes estavam ligados às necessidades da classe de maior poder aquisitivo 
no período. Segundo a autora, observamos nesse padrão, a influência do pensamento liberal acerca do 
papel a ser assumido pelo Estado, ou seja, não havia intervenções estatais para atender as expressões da 
questão social que já se colocavam junto à realidade brasileira.
Além das intervenções desenvolvidas, Jesus e outros (2004) destacam que nesse período houve 
muitas intervenções desenvolvidas pela caridade privada e pelas Igrejas, seguindo o padrão que fora 
também adotado na Europa. Nos termos postos, as autoras consideram que, além do “atendimento” 
prestado pelos proprietários de terra, havia também a organização da esmola, os bodos, e as mercearias, 
que começaram a se constituir ainda durante o regime colonial.
De tal forma, segundo as autoras, as esmolas eram permitidas e compreendidas como uma forma 
de assistência que seria conferida aos pobres. O rei de Portugal enviava esmoleres, espécies de fiscais 
que deveriam arrecadar as esmolas, recolhendo‑as aos cofres públicos. Depois disso, estas deveriam ser 
direcionadas para atender órfãos e crianças que eram abandonadas por seus pais, também conhecidos 
com o termo expostos.
Siqueira (2009) aponta‑nos um estímulo para a arrecadação de esmolas nesse período, que era 
percebida como uma alternativa para que as pessoas alcançassem a salvação, sendo, sempre possível, 
estimulada.
Os bodos, por sua vez, eram distribuidores de alimentos que eram arrecadados junto à comunidade 
ou adquiridos por meio da Igreja Católica. As mercearias eram asilos também mantidos pela Igreja e que 
recolhiam os pobres (JESUS et al, 2004).
As mercearias, de acordo com as autoras, prestavam também atenção às necessidades básicas de 
doentes. Os serviços dessa natureza que se constituiam no regime colonial eram as Santas Casas e as 
rodas, apesar de serem dispositivos diferenciados de intervenção. As Santas Casas funcionavam como 
albergues e recebiam os pobres oferecendo abrigo e alimentação, além de oferecerem cuidados pontuais 
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participação e controle social
relacionados à saúde dos internados. Já as rodas, eram instituições que acolhiam crianças não desejadas 
pelos pais e abandonadas em locais como caminhos, poços etc. Ambas as instituições eram mantidas 
pela Igreja Católica e deveriamser fiscalizadas pelas Câmaras Municipais.
As rodas organizadas no Brasil seguiram também o padrão da Europa, ou seja, com poucos recursos, 
mão de obra vinculada à Igreja, resultavam assim na morte de grande parte das crianças abandonadas. 
Apesar disso, precisamos pontuar que se trata de um dos poucos sendo organizados que atendia orfãos 
no período em questão.
A disciplina utilizada nas rodas, para as crianças que sobreviviam, era intensamente repressora e 
pautada nos conhecimentos vinculados à Igreja Católica, visto ser esta uma instituição que coordenava 
e organizada esses serviços (RIZZINI; RIZZINI, 2004).
Vejamos, a seguir, uma instituição que fora organizada no Rio de Janeiro, denominada heliotherapium, 
que adotava a política similar à utilizada nas rodas.
 
Figura 6 – Visita do professor Martinez Vargas ao heliotherapium
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Figura 7 – Os concorrentes do 19º Concurso do Rbustez do Ipai.
Essas fotografias são apenas representativas de um formato de instituição que se desenvolveu por 
todo o país, destinado a acolher crianças não desejadas pela família. No entanto Rizzini e Rizzini (2004) 
destacam que muitos pais pobres abandonavam os filhos nessas instituições, porque acreditavam que 
poderiam ser mais bem‑educados, criados, sobretudo em decorrência da pobreza que acometia grande 
parte da população brasileira.
No entanto, há alguns países que querem recuperar essa antiga prática. Façamos uma pausa em 
nossos estudos e realizemos uma reflexão sobre o assunto até então debatido. Vejamos, assim, a notícia 
a seguir:
Salvos pela “roda” – Hospitais europeus instalam uma versão moderna da “roda 
dos enjeitados”, para receber bebês abandonados.
Anna Paula Buchalla
O aumento do número de recém‑nascidos abandonados – principalmente por imigrantes 
ilegais –, tem feito alguns países da Europa reviver uma prática medieval: a “roda dos 
enjeitados”. Instalados nas portas de igrejas e conventos, cilindros de madeira giratórios 
serviam para que mães deixassem seus filhos em mãos seguras, sem ser identificadas. Ao 
colocar os bebês no cilindro, elas tocavam uma campainha que avisava freiras e padres de 
que ali estava uma criança abandonada. A versão moderna da “roda” entrou em uso em 
hospitais na Itália, Alemanha, Áustria e Suíça. No lugar dos cilindros de madeira, o bebê é 
colocado num berço, através de uma janela que impede a identificação da pessoa que o 
deixou ali. O berço é aquecido e equipado com sensores que alertam médicos e enfermeiros 
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sobre a presença da criança. Localizado em um bairro de Roma com grande concentração 
de imigrantes, o hospital Casilino ativou o sistema recentemente. Na noite do último dia 
24, o primeiro bebê foi deixado ali. Em quarenta segundos, uma equipe do hospital já estava 
cuidando do menino de 3 meses, a quem deram o nome de Stefano.
Figura 8 – Cartaz do hospital Casilino, em Roma: “Não abandone seu bebê. Deixe‑o conosco”
A “roda dos enjeitados” foi criada em Marselha, na França, em 1188. Mas foi apenas na 
década seguinte que seu uso se popularizou. Na ocasião, chocado com o número de bebês 
mortos encontrados no Rio Tibre, o papa Inocêncio III mandou que o sistema fosse adotado 
nos territórios da Igreja. No fim do século xIx, o hospital Santo Spirito, próximo ao Vaticano, 
um dos primeiros a dispor da “roda dos enjeitados”, chegou a receber cerca de 3.000 bebês 
abandonados por ano. Sobrenomes comuns de famílias italianas teriam origem na “roda 
dos enjeitados”. Entre eles, Esposito, que vem de “exposto” e Innocenti (alusão à inocência 
infantil). Um dos mais famosos usuários da “roda” foi o filósofo francês Jean‑Jacques 
Rousseau (1712‑1778), que abandonou os cinco filhos que teve com a serviçal Thérèse le 
Vasseur. No Brasil, assim como em Portugal, ela era mais conhecida como “roda dos expostos” 
e funcionou até meados do século passado, sobretudo nas Santas Casas de Misericórdia do 
Rio de Janeiro e de São Paulo. “De tão comum, Machado de Assis cita a ‘roda’ no seu conto 
Pai contra Mãe”, diz Rosane de Albuquerque Porto, da Universidade do Sul de Santa Catarina, 
autora de uma dissertação de mestrado sobre o tema. No curtaRoda dos Expostos, a cineasta 
Maria Emília de Azevedo expõe a dor de um filho abandonado por esse método. Todas as 
noites, o personagem volta à “roda“, na esperança de reencontrar a sua mãe.
A janela da esperança:
•	 Uma	 janela	 de	 vidro	 instalada	 na	 parte	 externa	 do	 hospital	 separa	 a	 pessoa	 que	
entrega o bebê do berço onde ele será colocado. 
•	 Macio	e	aquecido,	o	berço	é	mantido	em	uma	área	isolada.
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•	 Sensores	e	câmeras	alertam	a	equipe	do	hospital	assim	que	o	bebê	é	deixado.
Fonte: Veja.com, 1998.
Exemplo de aplicação
Cabe aqui uma questão para sua reflexão: seria positivo ou negativo o retorno das atividades 
semelhantes às desenvolvidas pela roda dos expostos?
Retomando nossos estudos, vamos compreender melhor as informações sobre o surgimento das 
Santas Casas. Segundo Siqueira (2009), elas surgiram de uma ordem portuguesa denominada Irmandade 
de Misericórdia, que era vinculada à Igreja Católica e que pressupunha que os católicos mais abastados 
deveriam desenvolver a caridade. No caso, isso representa um movimento da Igreja denominado 
contrarreforma, mediante o qual essa organização buscava recuperar os fiéis e o prestígio perdido por 
meio da caridade.
Essa Irmandade atendia a pobres, doentes, presos, alienados, órfãos, desamparados, inválidos, viúvas 
desvalidas e até mortos sem caixão. Essas instituições só não atendiam escravos, visto que se considerava 
essa uma responsabilidade do proprietário do escravo, tal como dissemos antes.
Derivando dessa intervenção das Santas Casas, em 1800 surgiram no Brasil os primeiros hospitais e, 
em 1802, aqueles específicos para atender hansenianos. No caso, ambos dependiam da intervenção da 
Igreja Católica que angariava recursos e dispunha de voluntários para o trabalho desenvolvido nessas 
instituições, que era, em grande medida, extremamente desumano (JESUS et al., 2004).
O fato é que essas instituições foram sendo constituídas por todo o país. Ainda há aquelas que 
derivaram dessa intervenção e que funcionam mesmo atualmente, sendo conveniadas com o Estado 
para atender demandas para a saúde.
Esses serviços eram híbridos, ou seja, tanto atuavam no âmbito da Assistência Social quanto no 
âmbito da Saúde, visto que recolhiam tanto pobres como doentes. Também atendiam doentes mentais, 
mendigos e todas as pessoas que não eram aceitas socialmente.
A respeito da questão de saúde, Campos e outros (1987) destacam que, além das Santas Casas, 
na colônia, os boticas e os barbeiros sangradores. Os boticas eram uma espécie de farmacêuticos 
que manipulavam determinados “medicamentos”, já os barbeiros sangradores eram profissionais que 
atuavam diretamente junto ao doente, porém, com técnicas rudimentares. Os autores nos informam 
que não havia nesse período médicos, profissionais formados no país, sendo os serviços dos barbeiros e 
dos boticas para tanto pagos.
Os autores ainda mencionam que havia pessoas que, dada a situação de indigência, acabavam 
recorrendo ao misticismo, o que, aliás, era latente no período colonial. No caso, destacam como 
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importante o fato de que algumas pessoas recorrerem aos conhecimentos de índios e da cultura africana 
para solucionar seus problemas de saúde.
Para que possamos sistematizar nossos conhecimentos obtidos até então, observe o quadro que 
elaboramos em seguida, contendo as principais informaçõessobre as intervenções desenvolvidas junto 
à pobreza no período estudado.
Quadro 1
Periodização Assistência Social Saúde Organização econômica, política e social
1560 – 1822
Ações 
pontuais,desenvolvidas pela 
irmandades e pela caridade 
privada
Ações desenvolvidas pelas 
irmandades
Economia: agrária e 
voltada para atender as 
necessidades da metrópole
Boticas, barbeiros 
sangradores, misticismo
Política: dependência da 
metrópole, governo no país 
por fazendeiros de terra
Social: sociedade dividida 
em classes sociais, com 
elevada pobreza. Sociedade 
escravista. 
Note que nesse período não havia intervenções na área da previdência social no país.
Com o fim do estágio colonial, assistimos no Brasil a ascensão do que se convencionou chamar 
Império, que iniciou em 1822 e foi concluído em 1889. Observamos nele um resíduo muito forte da forma 
de constituição política do trabalho com base em trabalho escravo, das relações de poder estabelecidas 
por meio de grandes proprietários de terra e, ainda, o padrão adotado na colônia no que diz respeito ao 
cuidado com os segmentos que estavam em situação de desvantagem financeira.
Conforme Behring e Boschetti (2010), o período que precede o Império é caracterizado pela vinda 
da corte portuguesa e da família real para o Brasil. Seria um estágio intermediário entre a Colônia e a 
Independência. Sobre esse aspecto, Couto (2010) considera que a família real e a corte só vieram para 
o Brasil em decorrência das guerras napoleônicas que afetaram grande parte da Europa. Entretanto, 
quem assumiu o poder foi D. João VI que, tempos depois, foi para Portugal e o governo passou para 
D. Pedro I.
Contrário a forças portuguesas mais resistentes, D. Pedro I, em 1822, proclamou a independência 
do Brasil. Couto (2010) pontua que, partindo da Independência o país passou a ter livre comércio, não 
sendo esse mais submetido ao controle da metrópole como anteriormente.
A ampliação das possibilidades de comércio era na verdade uma necessidade frente à consolidação 
do sistema capitalista no país. Isso só se tornou possível porque o país se tornou independente e assim 
organizou um Estado Nacional para gerir essa nova forma de organização econômica (BEhRING; 
BOSChETTI, 2010).
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Behring e Boschetti (2010) consideram ainda que a organização econômica pautada essencialmente 
na agricultura foi sendo alterada substancialmente. Surgem novos atores econômicos, e a imagem 
da autocracia agrária foi sendo aos poucos substituída pela imagem do novo burguês. De acordo as 
autoras, a independência do país teria estimulado o surgimento do espírito burguês.
Sobre o Estado, as autoras nos informam que foi constituído um estado liberal, porém, esse formato 
não seguiu o mesmo padrão da Europa; foi um liberalismo “à brasileira”, isso porque não tínhamos no 
nosso país um Estado tão forte e estávamos ainda condicionados aos resíduos da ausência de um Estado 
forte no período precedente.
Nesse período, Couto (2010) aponta uma crescente urbanização em decorrência do fato de novos 
postos de trabalho localizarem‑se no perímetro urbano.
Entretanto, apesar da independência ser conclamada como uma necessidade para a modernização 
do país, o que acontece, na verdade, é a manutenção dos aspectos sociais antes observados na colônia, 
inclusive no que concerne à organização política adotada.
Como exemplo disso, Couto (2010) destaca que, apesar da reivindicação por uma independência 
em relação à metrópole, o restante da organização política manteve‑se como no regime anterior, ou 
seja, destinado apenas a poucos segmentos da sociedade brasileira. A autora nos informa ainda que foi 
eleita uma Assembleia Nacional Constituinte, composta apenas por representantes dos segmentos mais 
abastados da sociedade daquele período.
Nos termos postos, os detentores do poder político continuavam sendo os fazendeiros e alguns 
poucos comerciantes que defendiam uma monarquia constitucional (JESUS et al., 2004). A Constituição 
de 1824 foi um exemplo de tal “situação”, visto que esta deliberou pela eleição indireta. Somente tinha 
direito de voto homens com 25 anos ou mais e renda de uma média de 100 mil réis, ou seja, estavam 
excluídos como eleitores mulheres, escravos e homens que não se encaixassem nos critérios estabelecidos.
Em relação à referida Constituição, a autora ainda considera que:
[...] a Constituição de 1824, que, contraditoriamente, apontava a liberdade 
individual, o direito de propriedade, o preceito da educação primária gratuita, 
estabelecia a igualdade de todos perante a lei e afirmava a liberdade de 
pensamento e expressão, dentre outras garantias, mostrando sua afinidade 
conceitual com a Declaração dos Direitos do homem e do Cidadão de 1789 
(COUTO, 2010, p. 84).
Entretanto, segundo Couto (2010), o que estava posto na carta constitucional, infelizmente, não fora 
colocado em prática. Por exemplo, não observamos no país a organização de um sistema educacional 
gratuito e tampouco experimentamos intervenções voltadas à garantia da igualdade de todos perante 
a lei. Aliás, a própria disposição da questão de votos fortaleceu tal desigualdade.
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Em relação a essa Constituição, Jesus e outros (2004) salientam que é feita uma menção em seu 
artigo 179 que deveria ser prestado socorro pelas Câmaras às casas de caridade, sendo essas as rodas, 
as Santas Casas e demais instituições do gênero. Nesse artigo, ainda destaca‑se a necessidade de cuidar 
dos órfãos, de atender a doentes e de vacinar toda a população, porém, na prática, nem sempre isso era 
efetivado. As pontuais concessões das Câmaras eram para poucas entidades e sem qualquer forma ou 
critério para avaliar a necessidade e, além disso, eram poucos os recursos destinados a esses serviços.
Não havia qualquer intervenção voltada ao segmento mais empobrecido da população, que, 
acabava sendo designada aos proprietários de terra. Os trabalhadores e os escravos continuavam sendo 
responsabilidade de seus patrões. Jesus e outros (2004, p. 19) chegam a destacar que trabalhadores, 
escravos e todos os pobres do período eram chamados pelo termo gentalha. As igrejas acabavam 
atendendo, sempre que possível, os demais, ou seja, os que não estavam sob a “proteção” do proprietário 
de terra eram contemplados com a caridade da Igreja ou então com as intervenções da população 
burguesa já constituída no país.
é importante notar que a sociedade imperial, já com o capitalismo desenvolvendo‑se em solo brasileiro, 
ainda estava sustentada pela escravidão. No caso, havia pontuais dissidentes que se colocavam contra 
o regime escravocrata, sobretudo os burgueses. Não havia como o sistema capitalista se consolidar 
frente a uma sociedade que não possuía salário e, portanto não detinha poder de compra (BEhRING; 
BOSChETTI, 2010).
Vale lembrar que a atenção aos segmentos empobrecidos, às necessidades apresentadas por esses 
não era prestada somente por meio da benesse, da concessão. Muitos segmentos que demandavam a 
atenção das suas necessidades também eram controlados por meio da repressão, aplicada sempre que 
havia a contestação da ordem estabelecida por um indivíduo ou então por grupos que buscassem se 
organizar com essa finalidade.
O tratamento ao povo que reclamava por atendimento às suas demandas 
era feito por intermédio de mecanismos ora de privilégios, ora de repressão, 
fenômenos estes historicamente presentes na sociedade. Se era interesse 
do projeto da elite nacional, havia um movimento para sua concessão; caso 
contrário, a repressão era utilizada como instrumento de desmonte dos 
movimentos pela garantia dos mesmos (COUTO, 2010, p. 88).
A população pobre ainda continuava, portanto, sem qualquer tipo de atenção. Na verdade, essa 
forma de contemplar o pobre ainda foimantida quando a se instaurou República em nosso país. 
herdamos assim a concessão, a benesse, as relações de compadrio. Couto (2010) nos diz que isso pode 
ser observado se nos atentarmos para a Constituição de 1891. Nessa, que fora fruto do golpe militar e 
do fim do poder oligárquico, assumido agora pelos militares, observamos que há uma única menção ao 
direito social, compreendido como o direito do livre trabalho, em qualquer profissão, sendo ignorado 
qualquer outro tipo de direito.
O que Behring e Boschetti (2010, p. 79) informam é que, durante o regime imperial, no âmbito da 
política social, havia apenas “[...] medidas esparsas e frágeis de proteção social”. O que teremos, e ainda 
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em situações e casos pontuais, é o desenvolvimento de uma legislação trabalhista, tendo em vista que 
era necessário estimular o surgimento de uma categoria trabalhadora que pudesse produzir.
Nos termos postos, as autoras nos constatam que até 1887 não tínhamos sequer legislações 
trabalhistas no país. No ano de 1888 foi organizada uma caixa de socorro para atender a já nascente 
burocracia pública, Ou seja, organizações para as quais trabalhadores poderiam contribuir com um 
percentual mínimo de seu salário, sendo socorridos em momentos de infortúnio. Podiam participar 
dessa caixa apenas os trabalhadores que fossem autorizados pelo Estado.
No ano de 1889, os funcionários da Imprensa Nacional também obtiveram a autorização para se 
organizarem por meio das caixas de socorro. Os demais trabalhadores, porém, assim como a maioria da 
população brasileira, não tinha acesso a esse serviço.
A partir dos idos de 1889 assistimos mudanças na forma de organização de política inaugurando o 
período que fora denominado como República Velha. Sobre esse estágio de desenvolvimento, refletiremos 
no próximo item.
 Saiba mais
Para obter informações sobre os períodos estudados, você pode recorrer 
também aos sites:
<http://www.brasilescola.com/historiab/brasil‑colonia.htm>
<http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia‑brasil/imperio‑‑‑
segundo‑reinado‑1840‑1889‑pedro‑2‑e‑pacificacao.htm>
3 o DESEnvolvImEnto DAS AçõES Em PolítICA SoCIAl no BrASIl: 
rEPúBlICA vElhA à DéCADA DE 1980
Neste item, estudaremos o período entre a República Velha e a década de 1980. Como vimos, o fim 
da organização imperial inaugurou um período denominado República Velha, e é, por esse momento 
que iniciaremos nossos estudos. Assim, estudaremos a organização econômica, política e social do 
período, com especial atenção para as intervenções desenvolvidas em política social na área da saúde, 
da assistência social e da previdência social.
No âmbito da política social, ainda veremos a predominância de ações voltadas ao segmento que 
trabalhava. Observamos nesse período a ampliação das possibilidades de organização das caixas de 
socorro, sua alteração para Caixas de Aposentadoria e Pensões ou Caps e outras legislações relacionadas 
à infância, como poderemos sumariar. Destacaremos ainda a constituição das grandes instituições 
assistenciais e as informações necessárias a compreender a política social que era desenvolvida no país.
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Quanto à infância e adolescência, segundo Behring e Boschetti (2010), é de 1891 a primeira legislação 
que trata desse segmento. Essa lei buscava delimitar aspectos que regulamentassem o trabalho infantil, 
visto que, nesse período, era permitido que crianças trabalhassem. Entretanto, de acordo com as autoras, 
essa regulamentação não chegou a ser colocada em prática.
Após essa intervenção, somente em 1927, houve uma nova legislação relacionada à infância, 
denominada Código de Menores. Esse documento previa uma série de dispositivos para a punição 
daqueles que cometessem algum ato infracional. O enfoque era discriminatório e coercitivo.
Da intervenção desenvolvida junto as caixas de socorro, Behring e Boschetti (2010) informam que 
em 1892 fora autorizada a organização de uma caixa de socorro para funcionários da marinha.
No ano de 1923, no entanto, as caixas de socorro passaram a ser denominadas caixas de aposentadoria 
e pensões ou Caps, conforme Lei Elói Chaves, em 1923. Essas caixas tinham a forma de funcionamento 
similar às caixas de socorro, porém, tinham financiamento do Estado e também dos empresários. 
Buscavam atender as demandas dos trabalhadores nos momentos em que não mais pudessem trabalhar, 
seja por motivo de doença, invalidez ou idade.
Os primeiros segmentos que tiveram a autorização do Estado para organizarem as Caps foram os 
ferroviários e os marítimos, pois assim como os demais, eram trabalhadores necessários ao modo de 
produção capitalista.
Além da organização das Caps, data também do período algumas possibilidades de organização 
de trabalhadores, bem como a alocação de dispositivos legais para o trabalhador. Behring e Boschetti 
(2010) indicam que em 1903 foi autorizada a organização, por meio de sindicatos, de trabalhadores da 
agricultura e da indústria rural. Tal direito foi estendido para os trabalhadores da área urbana em 1907.
Nos idos de 1926, as Caps foram organizadas por meio de institutos, em que eram congregadas várias 
caixas de aposentadoria. Essas organizações ficaram conhecidas como Instituto de Aposentadorias e 
Pensões, sendo que o primeiro segmento que teve a possibilidade de organizá‑lo foram os funcionários 
públicos.
Já em relação à alocação de dispositivos legais de proteção aos trabalhadores, em 1911 observamos a 
organização de uma legislação que delimitou a jornada máxima de trabalho para 10 horas por dia e em 
1919 surgiu a legislação que responsabiliza as empresas por acidentes sofridos no âmbito de trabalho.
Dessa forma que, as intervenções estavam orientadas a atender os trabalhadores, e não a população 
como um todo. “Por isso, os direitos trabalhistas e previdenciários foram reconhecidos para aquelas 
categorias de trabalhadores inseridas diretamente nesse processo de produção e circulação de 
mercadorias” (BEhRING; BOSChETTI, 2010, p. 80).
Contudo, é necessário que façamos um recorte no momento histórico. Até o momento, observamos 
em nosso país o desenvolvimento de uma economia capitalista, porém ainda com recorrência da economia 
agrícola, ou seja, a organização política era pautada no governo oligárquico, ou seja, apenas grandes 
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proprietários de terra detinham o poder político. No âmbito da política social, vemos ações pontuais, 
organizadas pela caridade privada e a Igreja. Além dessas ações, destaca‑se também a organização das 
caixas de socorro.
No final da década de 1920, no entanto, esse padrão de organização política, econômica e também 
social começou a ser alterado. Couto (2010) informa que a o regime oligárquico de governo até então 
adotado no país começa a dar sinais de seu esgotamento. é iniciado um processo chamado pelos autores 
de Revolução de 1930, na qual um grupo de militares comandou uma mudança, apoiado por vários 
segmentos sociais pelo fim do poder na mão de coronéis.
Na verdade, as mudanças conferiram tônica ao período sendo experimentadas também no âmbito 
cultural do país. Behring e Boschetti (2010) nos chamam a atenção para o ano de 1922, no qual 
presenciamos, a Semana da Arte Moderna, que teve como expositores Oswald da Andrade, Mario de 
Andrade e Tarsila do Amaral. Além das críticas desses intelectuais às obras de arte, também havia uma 
crítica às questões sociais.
Veja em seguida, uma das obras mais significativas desse momento, Operários, de Tarsila do Amaral.
Figura 9
Também é do ano de 1922 o surgimento do Partido Comunista Brasileiro (PCB), organização política 
que se contrapôs, por muito tempo, à exploração capitalista e aos

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