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45 UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Professor Moacir Junior Carnevalle Plano de Estudo: • Da jurisdição do Estado e Domínio Internacional Público; • Da solução pacífica dos conflitos internacionais; • Da guerra e suas nuances; • Da Responsabilidade Internacional do Estado e suas implicações. Objetivos da Aprendizagem • Estabelecer até onde vai a jurisdição do Estado; • Verificar qual é a área de domínio público internacional; • Compreender quais são as várias formas pacíficas para a solução de conflitos internacionais; • Analisar a guerra frente ao direito internacional; • Abordar quando se dá a responsabilidade internacional do Estado e quais as suas consequências. 46UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias INTRODUÇÃO Olá, aluno(a)!!! Daremos início aos estudos referentes à terceira unidade do nosso curso de Direito Internacional. Ao longo desta unidade de aprendizagem abordaremos até onde vai a jurisdição do Estado e como o Direito Internacional regula várias áreas espalhadas pelo mundo, como o alto mar, espaço ultraterrestre, rios internacionais dentre outros. Veremos quão importante é delimitar exatamente o alcance do domínio público internacional. Abordaremos também algumas das principais formas de solução de conflitos internacionais de forma pacífica, bem como a importância que desempenham para o esta- belecimento de relações harmônicas entre os Estados e as Organizações Internacionais. Ainda, veremos os principais aspectos relacionados à guerra e o esforço da comu- nidade internacional para evitar conflitos armados entre os sujeitos de Direito Internacional. Por fim, analisaremos como pode se dar a responsabilidade internacional dos Es- tados e quais consequências ela traz para os envolvidos. Portanto, aproveitem bem o material e bons estudos!! 47UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias 1. DA JURISDIÇÃO DO ESTADO E DOMÍNIO INTERNACIONAL PÚBLICO A jurisdição é uma função privativa do Estado, de aplicar o direito aos casos ou concretos, ou seja, é por meio da jurisdição que o Estado resolve os conflitos submetidos pelas pessoas perante a justiça. Cabe ao Estado, portanto, definir como o Poder Judiciário estará organizado e qual função cada órgão exercerá, inclusive distribuindo a competência desses órgãos para realizar os julgamentos dos mais diversos assuntos. Não há que se confundir, entretanto, jurisdição com competência. A competência é a forma como serão distribuídos os órgãos jurisdicionais divididos de acordo com a jurisdi- ção estatal. A competência é distribuída a partir de normas constitucionais, que levam em consideração vários aspectos, como a soberania nacional, hierarquia dos órgãos, espaço territorial etc. A competência pode ser dividida em internacional e interna. A partir das normas de competência internacional são definidas as causas que a justiça brasileira deverá conhecer e decidir; por sua vez, as normas de competência interna indicam os órgãos locais que desempenharão cada uma das tarefas de acordo com os casos concretos (TEIXEIRA, 2020). Desta forma, entende-se por limite da jurisdição até onde o Estado poderá exercer sua soberania, o que é representado pelo Princípio da efetividade. 48UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Segundo Varella (2019), eventualmente pode ocorrer o exercício da jurisdição de um Estado no território de outro. Isto ocorreria nos casos de consentimento do outro Estado, tolerância e convite (representação diplomática, por exemplo) ou ainda em determinadas situações específicas (concessão de nacionalidade a estrangeiros). São situações pon- tuais, sendo que a regra é que a jurisdição estatal está limitada aos seus limites territoriais. O atual Código de Processo Civil (Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015) prevê a competência da autoridade judiciária brasileira para ações com conexão internacional, apontando os objetos de conexão, como: alimentos, divórcio, sucessão, direitos reais, dentre outras hipóteses, como se depreende da leitura a seguir: Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal. Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I – de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou proprieda- de de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional. Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra :I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil ; II – em matéria de sucessão hereditária , proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável , proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil. Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a homologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil. Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato internacional, arguida pelo réu na contestação. § 1º Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência interna- cional exclusiva previstas neste Capítulo. § 2º Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1º a 4º (BRASIL, 2015). Desta forma, o Código de Processo Civil de 2015 definiu os limites territoriais para o exercício da jurisdição civil no âmbito nacional. 49UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Os artigos 21 e 22 do Código de Processo Civil tratam da competência concorren- te, o que significa que as situações neles descritas podem ser julgadas perante a justiça brasileira ou estrangeira, cabendo, neste último caso, serem homologadas as sentenças estrangeiras pelo STJ. Sendo concorrente, a competência pode ser alterada pela vontade das partes (CPC, art. 22, inc. III), permitindo-se a eleição de foro. O artigo 23, por sua vez, quando traz a expressão “com exclusão de qualquer outra”, refere-se à competência exclusiva da justiça brasileira, ou seja, os temas dispostos no artigo somente podem ser julgados pela justiça do Brasil, ou melhor, ainda que sejam julgados pela justiça estrangeira, não será homologada a sentença que decidiu a questão. O art. 24 ressalta a possibilidade de concorrência de demandas ao afirmar a pos- sibilidade de atuação da autoridade judiciária brasileira mesmo no caso de existir ação intentada perante órgão jurisdicional estrangeiro (TEIXEIRA, 2020). Território é o espaço onde o Estado exerce a soberania estatal. É através do terri- tório que temos a limitação do exercício do poderdo Estado. Delimitar um território significa estabelecer seus limites, o que é feito por tratados ou costumes internacionais. O Estado tem plena autonomia dentro de seus limites territoriais (VARELLA, 2019). Os temas relacionados ao domínio público internacional sempre despertaram muita atenção e preocupação do Direito Internacional. Esses domínios internacionais sempre foram objeto de muita disputa, muitas vezes levando à guerra. Abordaremos neste tópico os principais domínios internacionais e qual a regula- mentação normativa acerca deles. As Zonas Polares, conhecidas por Polo Norte (Ártico) e Polo Sul (Antártica), são objeto de regulamentação do Direito Internacional. Inicialmente despertavam interesse de cunho científico. Atualmente despertam também interesse econômico (navegação, caça, pesca e recursos minerais), além de serem áreas estratégicas de defesa de Estados. Em relação ao Polo Norte, cuja área desperta menor interesse econômico, as regu- lamentações são mais simples. O Direito Internacional entende como área de livre trânsito aéreo e marítimo (sendo suas águas consideradas alto mar), além de existir preocupação ambiental com esta parte do planeta. A Antártica (Polo Sul) é uma área internacionalizada, onde existe uma cooperação entre os Estados, principalmente para a realização de pesquisas científicas. Essa região desperta interesse econômico em virtude das riquezas minerais, o que exige regula- mentação no que tange a eventuais disputas de domínio da região. Atualmente a área 50UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias é regulamentada pelo Tratado da Antártica de 1959, que prevê, entre outras coisas, a utilização pacífica e a investigação científica livre, sendo o local não passível de disputas internacionais, permanecendo de forma desmilitarizada e tendo sua exploração voltada para a preservação. As áreas do planeta terra compostas por água sempre foram importantes para o desenvolvimento da humanidade. As águas marítimas hoje são regulamentadas pela Con- venção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (também conhecida como Convenção de Montego Bay – 1982). Figura 1 - Área total do território brasileiro BRASIL ÁREA (km²) Território Emerso 8.500.000 Zona Econômica Exclusiva 3.500.000 Extensão da Plataforma Conti- nental Submetida a ONU 1.000.000 Área Total Continental e Marinha 13.000.000 Fonte: o autor. Sobre as águas chamadas de interiores (rios, lagos, mares interiores etc.), que são aquelas localizadas no interior de determinado território, os Estados exercem seu domínio com soberania plena, por fazerem parte do seu território. O acesso a essas águas por embarcações estrangeiras somente devem ocorrer quando autorizadas. A Convenção de Montego Bay é o instrumento jurídico internacional que regulamen- ta o exercício da soberania de um Estado mar adentro. São três as regiões de diferentes exercícios do poder de controle do Estado: o mar territorial, a zona contígua e a zona econômica exclusiva (VARELLA, 2019). Em relação ao mar territorial, que corresponde à parte externa do domínio de um Estado, é uma faixa de água adjacente à linha costeira. Também fazem parte da soberania 51UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias estatal e estende-se ao espaço aéreo sobrejacente ao mar territorial, bem como ao leito e ao subsolo deste mar. Em toda essa área, o Estado detém praticamente os mesmos pode- res soberanos relativos ao seu território terrestre, podendo dela desfrutar economicamente, utilizá-la como faixa de segurança, nela manter instalações, punir atividades ilícitas etc. No entanto, é permitida a passagem inocente, que consiste no trânsito de navios comerciais estrangeiros. Atualmente compreende uma faixa correspondente a 12 milhas marítimas (22,2 km) a extensão do mar territorial de qualquer Estado ao longo de toda a costa, medida contada a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. A partir da área reservada ao mar territorial temos a zona contígua, que também compreende uma área de 12 milhas marítimas, e cujas atribuições do Estado são voltadas para evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sa- nitários, nos seus territórios, ou no seu mar territorial, e também para reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar territorial. Figura 2 - Soberania de um Estado mar adentro – Extensão a partir da linha de base (1 milha marítima corresponde a 1.852 metros) MAR TERRITORIAL 12 milhas marítimas ZONA CONTÍGUA 24 milhas marítimas ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA 200 milhas marítimas PLATAFORMA CONTINENTAL 200 milhas marítimas Fonte: o autor. Ainda tendo como base as águas marítimas, existe a chamada zona econômica exclusiva, que compreende uma faixa que se estende das 12 às 200 milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Nessa área, o Estado tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, 52UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos. No caso do Brasil, além das prerrogativas citadas, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio marítimo, bem como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas, somente sen- do permitida a outros Estados mediante consentimento antecipado do Governo brasileiro. Permite-se, entretanto, a liberdade de navegação e sobrevôo, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos, relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de navios e aeronaves. Também são objetos do Direito Internacional a regulamentação da plataforma con- tinental e dos fundos marinhos, entendido como o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base. Tem o seu limite exterior estabelecido pelo artigo 76 da Convenção de Montego Bay. Sobre essas áreas, o Estado tem direitos de soberania sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração dos recursos naturais, inclusive cabendo ao Governo brasileiro autorizar pesquisas científicas ou perfurações. Permite, entretanto, a passagem de cabos e dutos. Em relação aos rios internacionais, que são aqueles que separam ou atravessam dois ou mais Estados, estes podem ser contíguos ou sucessivos. Os contíguos, cujo leito banha ao mesmo tempo terras de Estados diferentes, ou seja, dividem dois Estados, a soberania de cada Estado banhado por este rio se estende até a linha divisória mediana do canal principal (ex.: Rio Paraná). Já os rios sucessivos, que são aqueles cujo leito atra- vessa dois ou mais Estados, algumas regras devem ser respeitadas (ex.: Rio Amazonas). Entre elas, podemos citar que cada Estado exerce a soberania sobre a parte do rio que se encontra em seu território, mas sem que isso atrapalhe o direito sobre o rio do outro Estado, causando embaraços ou realizando obras prejudiciais ao fluxo natural das águas. Podem existir Tratados entre os Estados para regulamentar a utilização de um rio estabelecendo regras mais claras e precisas. O alto-mar, localizado após a zona econômica exclusiva, é considerado um bem comum de toda a humanidade, não pertencendo a nenhum Estado em particular. É enca- rado como coisa de uso comum,voltada para benefício de toda a sociedade. Os direitos 53UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias envolvem a liberdade de navegação e sobrevoo, de pesca, de instalação de cabos subma- rinos, de aproveitamento dos recursos minerais dentre outros. Quanto ao espaço aéreo, horizontalmente, é limitado pelas fronteiras de cada Esta- do. Não obstante, é permitida a passagem inocente de aeronaves de outros Estados, com exceção dos aviões militares. Nas demais áreas, aquelas não posicionadas sobre o espaço territorial de um Estado, é regulada pela liberdade de sobrevoo. Já o espaço cósmico, lua e demais corpos celestes, bem como a exploração do espaço ultraterrestre, o espaço e os corpos celestes não podem ser objeto de nenhuma apropriação, são considerados área de uso comum, podendo ser livremente explorados e utilizados por todos os Estados para finalidades exclusivamente pacíficas. 54UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias 2. DA SOLUÇÃO PACÍFICA DOS CONFLITOS INTERNACIONAIS A ausência de uma autoridade superior aos Estados, faz com que as controvérsias que envolvem os sujeitos de Direito Internacional sejam, sempre que possível, resolvidas de forma pacífica, sendo inclusive parte dos Princípios fundamentais (jus cogens). Por controversia internacional entende-se como todo desacordo (científico, político, cultural, econômico etc.) existente sobre determinado assunto, ou seja, toda oposição de interesses entre Estados e/ou Organizações Internacionais. Surgido a controvérsia, as partes podem resolvê-lo através de um acordo ou opta- rem pela apreciação de um terceiro envolvido. Ao se solucionar pacificamente um problema entre dois Estados, previne-se o uso da força no plano internacional, que é permitida pela Carta das Nações Unidas apenas em situações pontuais e específicas. Acerca da utilização de meios pacíficos para a solução de controvérsias internacio- nais, a doutrina destaca que os conflitos podem ser resolvidos através de meios diplomáti- cos, políticos e jurisdicionais. Sobre o tema, a Carta da ONU (Decreto n. 19.841, de 22 de outubro de 1945) estabelece, no artigo 33, item 1, que: 1. As partes em uma controvérsia, que possa vir a constituir uma ameaça à paz e à segurança internacionais, procurarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a entidades ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha. 2. O Conselho de Segurança convidará, quando julgar necessário, as referidas partes a resolver, por tais meios, suas controvérsias. (BRASIL, 1945) 55UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias No mesmo sentido, é a Carta da Organização dos Estados Americanos (Decreto n. 30.544, de 14 de fevereiro de 1952), que, nos artigos 24, 25 e 26, estabelece que: Artigo 24 As controvérsias internacionais entre os Estados membros devem ser sub- metidas aos processos de solução pacífica indicados nesta Carta. Esta disposição não será interpretada no sentido de prejudicar os direitos e obrigações dos Estados membros, de acordo com os artigos 34 e 35 da Carta das Nações Unidas. Artigo 25 São processos pacíficos: a negociação direta, os bons ofícios, a mediação, a investigação e conciliação, o processo judicial, a arbitragem e os que sejam especialmente combinados, em qualquer momento, pelas partes. Artigo 26 Quando entre dois ou mais Estados americanos surgir uma controvérsia que, na opinião de um deles, não possa ser resolvida pelos meios diplomáticos comuns, as partes deverão convir em qualquer outro processo pacífico que lhes permita chegar a uma solução. (BRASIL, 1952) Em relação à hierarquia dos meios de solução de controvérsias, com exceção do inquérito, que busca apurar a verdade dos fatos ocorridos no território de determinado Estado e, portanto, é sempre prévio à via de solução de conflitos escolhida, os demais meios figuram dentro de um mesmo plano de igualdade jurídica, não havendo hierarquia entre eles. Os meios diplomáticos como formas de solução de conflitos desenvolvem-se por meio de conversas amistosas entre os contendores, sempre voltados para a busca de uma solução que interesse para todos. Os vários meios diplomáticos não apresentam uma hierarquia entre eles e, embora existam outros, podem ser exemplificados como: a. negociação direta: considerado o mais simples e mais utilizado, se desenvolve por meio de conversas diretas entre os Estados em relação ao conflito, através da representação diplomática. As conversas podem se desenvolver de forma escrita ou oral, mas são marcadas pela informalidade. b. bons ofícios: ocorre quando um terceiro se dispõe a ajudar na solução do con- flito, procurando fixar os pontos controvertidos e buscando uma solução que agrade aos contendores. c. mediação: também se dá com a ajuda de um terceiro, mas é mais complexa que os bons ofícios, em que se busca uma aproximação das partes e este terceiro efetivamente sugere uma solução. O terceiro, então, não se limita a aproximar- -se das partes, mas opina e sugere uma solução para o problema existente. d. Inquérito: também conhecido por investigação, procura apurar os fatos havidos entre as partes que levaram ao problema. É preparatório para um dos outros meios diplomáticos, mas depende da permissão para a entrada de pessoas no território do Estado que será investigado. 56UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Os meios políticos são reservados para situações mais graves e de difícil solução e normalmente se dão com a participação do Conselho de Segurança ou da Assembleia Geral da ONU. A ONU, nesses casos, pode emitir recomendações ou resoluções que devem ser cumpridas pelos Estados. Em último caso, pode a ONU se utilizar da força para que o conflito cesse. Outra forma de solução de conflito é a arbitragem, chamada por alguns de meio semijudicial, e consiste numa solução obrigatória para as partes. O tribunal arbitral reúne-se para a solução de determinado caso a ele submetido. A arbitragem internacional consiste na constituição de um tribunal formado por ár- bitros de vários países, a partir da escolha dos litigantes em razão de sua especialidade na matéria a ser discutida, que decorre a partir de um compromisso arbitral, em que as partes estabelecem as regras e comprometem-se a aceitar a decisão. O laudo arbitral, documento expedido pelo Tribunal arbitral, é cumprido pelos Esta- dos com fundamento no compromisso arbitral por eles assinado. Por fim, um conflito internacional também pode ser resolvido através dos meios judiciais. Essa forma de solução compreende as decisões dos tribunais internacionais de caráter e jurisdição permanentes. São criados a partir da vontade dos próprios Estados que é quem lhes confere legitimidade e definem a competência. O mais importante deles é a Corte Internacional de Justiça (CIJ) com sede em Haia, na Holanda. A Corte Internacional de Justiça pode ser provocada para solucionar conflitos entre os Estados (competência contenciosa) ou para emitir pareceres sobre questões jurídicas diversas que lhes sejam submetidas (competência consultiva). A competência contenciosa da CIJ somente pode ser acionada por Estados, todos, em geral membros da ONU, embora o Estatuto da Corte não exclua a possibilidade de decidir questões para Estados não signatários das Nações Unidas. Os particulares, por não terem acesso direto à Corte, precisam utilizar-se do Estado para que suas controvérsias sejam analisadas. Já a competência em razão da matéria da CIJ é muito ampla, o que significa que qualquer tema de Direito Internacional pode ser levado à apreciação. 57UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias 5. DA GUERRA E SUAS NUANCES A guerra sempre acompanhou a história. Embora existam várias formas pacíficasde solução de conflitos, nem sempre são suficientes para dirimir um impasse havido entre dois Estados. A partir do surgimento do Estado, temos os reais contornos de uma guerra. Entende-se por guerra um conflito armado entre dois ou mais Estados, durante determinado período, coordenado por seus governos, com o intuito de forçar o adversário a ceder aos seus interesses (MAZZUOLI, 2020). Ao longo do tempo o Direito Internacional buscou transformar as guerras em algo cada vez menos frequente e com um caráter mais humanitário. Isto faz com que haja um esforço do Direito Internacional para a criação de normas e a implementação de meios para que as relações entre os Estados se resolvam de maneira pacífica, como vimos no tópico anterior. Hoje existe um verdadeiro jus ad bellum (o direito da guerra) e um jus in bello (o direito na guerra), que foram frutos da longa evolução histórica do Direito Internacional. O jus in bello refere-se ao direito da guerra, ou seja, ao conjunto de normas, que floresce- ram no domínio do direito das gentes quando a guerra era uma opção lícita para resolver conflitos entre Estados. Já o jus in bello, por sua vez, é entendido como o direito aplicável na guerra, ou seja, o direito que vigia enquanto o confronto armado efetivamente ocorria (REZEK, 2018). 58UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias O uso da força armada é visto, atualmente, como exceção e existem inúmeras restrições à sua utilização, sendo inclusive considerada, pela Carta das Nações Unidas, um meio ilícito de solução de controvérsias internacionais. Muitas vezes, um Estado se sente motivado para envolver-se em uma guerra por questões econômicas, como as intervenções, boicotes etc., questões políticas, questões sociais ou por muitos outros motivos. Em relação ao conflito armado, de maneira geral, a Carta das Nações Unidas prevê duas situações: a) a agressão, isto é, a guerra de agressão; e b) as medidas defensivas, que são de duas espécies: b.1) a legítima defesa individual ou coletiva e; b.2) as medidas tomadas por iniciativa do Conselho de Segurança que envolvem o emprego da força arma- da. A agressão é ilegal; as medidas defensivas são legais (ACCIOLY, 2019). Normalmente uma guerra tem início com uma declaração formal de guerra e termi- na com um Tratado de Paz ou outro documento equivalente. Fogem desses conceitos as guerras civis, travadas dentro de um Estado, entre nacionais desse mesmo Estado. Como dito anteriormente, hoje a guerra não é permitida pelo Direito Internacional, com exceção da legítima defesa, sendo esta entendida como agressão injusta ou um perigo de dano atual e iminente, que continuaria sendo garantida aos Estados agredidos. Como visto no tópico anterior, existem várias formas de negociação entre os Estado admitidas pelo Direito Internacional, inclusive muitas vezes capitaneadas por Organizações Internacionais (como, por exemplo, a ONU), não restando apenas a negociação direta entre os próprios Estados. Em verdade, o mundo contemporâneo percebeu, após a Segunda Guerra Mundial, que deveria se esforçar para eliminar toda forma de guerra, sob pena de colocar em risco a própria civilização. Nesse sentido é a Carta da ONU. Esse objetivo ainda está longe de ser alcançado, pois, mesmo após esse entendi- mento, várias guerras aconteceram, embora nenhuma de alcance mundial. Atualmente existe um conjunto de normas que devem ser obedecidas pelos belige- rantes entre si (Estados diretamente envolvidos na guerra) e entre aqueles que não fazem parte do conflito (MAZZUOLI, 2020). Vários instrumentos normativos internacionais trazem essa regulamentação, com destaque para a Convenção de Haia (1907) e as Convenções de Genebra (1949), todos voltados para a ideia de humanização da guerra. Uma vez declarada a guerra, no caso do Brasil, a competência é da União (artigo 21, II, da CF), por meio do Presidente da República (artigo 84, XIX, da CF), com autorização do Congresso Nacional (artigo 49, II, da CF), se rompem as relações diplomáticas e con- 59UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias sulares entre os envolvidos, mas preserva-se a integridade física dos nacionais do Estado inimigo, bem como os seus bens. A guerra normalmente termina com o fim das hostilidades entre os Estados e/ou com a assinatura de um Tratado de paz. Nos tempos atuais outro temor bastante difundido no mundo civilizado é o terroris- mo, entendido como a prática de atos violentos de uma pessoa ou grupo de pessoas, rea- lizados sem prévio aviso, geradores de terror, normalmente desencadeado contra pessoas inocentes, sem interesse militar, demonstrando a insatisfação contra poderes constituídos (MAZZUOLI, 2020). O terrorismo, atualmente, atormenta o Direito Internacional que já elaborou diver- sas normativas sobre o tema e luta com todas as forças para combatê-lo, sendo, inclusive, um dos princípios que regem a República Federativa do Brasil no âmbito das relações internacionais (artigo 4, VIII, da CF). (BRASIL, 1988) Outro conceito que envolve o direito de guerra é o de neutralidade, que é entendido quando determinado Estado se coloca imparcial em relação a determinado conflito, salvo no caso de legítima defesa. Além dos casos de neutralidade perpétua declarados pela Suíça e pela Bélgica, outros casos de neutralidade podem ser declarados para um conflito específico, cujo Estado opte em não se envolver. Segundo a Carta da ONU, não seria ca- bível a declaração de neutralidade nos casos de uma ação coletiva voltada à manutenção da paz e da segurança internacionais (MAZZUOLI, 2020). Atualmente o direito de guerra seria regido pelo Princípio da Humanidade e pelo Princípio da Necessidade. A humanidade está ligada a ideia de que se deve evitar a barbárie e uma negação do próprio direito de guerra. Por necessidade se entende que um conflito armado entre Estados só se justificaria em último caso, depois que forem esgotados todos os meios pacíficos para se alcançar o entendimento (ACCIOLY, 2019). 60UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias 6. DA RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO E SUAS IMPLICAÇÕES A responsabilidade internacional do Estado, tal qual a responsabilidade em geral, exige a presença de quatro elementos: a) conduta; b) imputabilidade; c) dano; e d) nexo de causalidade. A conduta poderá ser omissiva (omissão) ou comissiva (ação) por parte do Estado e, independentemente se houve ou não sucessão de governante, a responsabilidade do Estado permanece. A responsabilidade ainda poderá ser direta, quando praticada por órgãos ou agen- tes do Estado, e indireta, quando decorrente de outras entidades públicas, como um Estado federado ou até particulares, por exemplo. A responsabilidade pode surgir ainda quando há um desrespeito a um tratado ou convenção internacional ou em decorrência de um ato praticado pelo direito interno de um Estado. Neste último caso, pode surgir por ato do poder legislativo (lei contrária a tratado, nacionalização sem indenização etc.), judiciário (morosidade ou denegação da justiça, decisão ilegal) ou por exercício de função administrativa (expropriação sem indenização, maus-tratos da polícia), por exemplo (TEIXEIRA, 2020). Em maior número, encontramos os casos de responsabilidade do Estado por atos praticados pelo Poder Executivo ou pela administração pública, seja por decisão tomada pelo próprio governo, seja por seus funcionários. 61UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias Em relação à responsabilidade por atos do órgão legislativo, as mais comuns referem-se à adoção de normas internas contrárias aos compromissos internacionais do Estado. Presume-se a máxima que nenhum Estado pode invocar normas do ordenamento jurídico interno como justificativa para desrespeito a tratado ou convenção internacional. Em relação à responsabilidadeatribuível ao Poder Judiciário, embora não exista consenso na comunidade internacional acerca da sua adoção, surgiria nos casos de ilícitos praticados por juízes ou Tribunais internos, normalmente atrelados ao desrespeito à coisa julgada ou as garantias processuais. Surgiria também em casos de afronta a direitos dos estrangeiros que vivem no território do Estado. Varella (2019) pontua que seriam mais frequentes os casos de responsabilização internacional relacionados a danos provocados a propriedades de estrangeiros em seu território, como em casos de nacionalização de empresas, por exemplo; a imposição de limitações exacerbadas ao direito de exploração comercial de atividades particulares; como quando há elevação desproporcional de tributos ou os danos provocados pelos agentes es- tatais fora de seu território. Mais recentemente percebe-se a responsabilidade internacional do Estado pela proteção insuficiente aos direitos humanos. É obrigação de todo Estado manter os acordos internacionais e de promover a reparação de todo dano que venha a causar. Desta forma, sempre que um Estado praticar um ato ilícito, seja pela ação ou omissão própria, de terceiros, seja pela violação de uma norma ou de uma obrigação inter- nacional, surgirá a responsabilização internacional do Estado. A prática de ato ilícito está ligada à ideia de desrespeito ao tratado ou convenção internacional, costume ou princípios gerais de direito, seja em relação a outro Estado, seja contra a comunidade internacional como um todo. Além disso, o dano pode ser analisado do ponto de vista patrimonial ou simples- mente moral. São consideradas excludentes de responsabilidade internacional danos decorren- tes de caso fortuito ou força maior. Além delas, serviria para excluir a responsabilidade de atos praticados em legítima defesa pelo Estado a uma agressão ou ataque ilícito promovido por outro. Também são admitidas como excludentes as represálias, que se mostram neces- sárias quando visa combater a prática de outros atos ilícitos, necessitando serem propor- cionais à gravidade da infração sofrida. Também seriam casos a ocorrência de prescrição ou a culpa exclusiva da vítima (ACCIOLY, 2019). 62UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias No mesmo sentido, Varella (2019) enfatiza que as principais situações de exclusão da ilicitude admitidas pelo Direito Internacional podem ser elencadas como: a) o consenti- mento da vítima; b) as contramedidas legítimas; c) o estado de necessidade; e d) a força maior e o caso fortuito. As contramedidas seriam atitudes tomadas por um Estado para forçar o outro Estado a cumprir sua parte em um tratado, visando evitar um prejuízo maior. As contramedidas são consideradas legítimas quando tomadas pelo Estado que não é o responsável pelo ilícito, como forma de retaliar o outro Estado que o comete. Quando dois Estados estão praticando a ilicitude de maneira concomitante, nenhum poderá se valer da exclusão da responsabilidade. Não é demais pontuar que uma organização internacional, na qualidade de sujeito de Direito Internacional, também pode incidir numa conduta internacionalmente ilegal ou ser vítima do ilícito. A responsabilidade internacional surgiria de forma objetiva, tanto para Estados como para organizações internacionais, prescindindo da necessidade de demonstração da culpa. Como consequência da responsabilidade internacional temos que o responsável deverá realizar a reparação devida, ou seja, uma reparação correspondente ao dano que lhe tenha causado, sendo de natureza compensatória. Em relação à extensão da reparação esta deve ser equivalente ao dano. Nos casos de danos de natureza extrapatrimonial (moral), a compensação não se realizaria em dinhei- ro, mas numa postura do Estado ofensor, no sentido de realizar um desagravo público, um pedido formal de desculpas ou a punição dos responsáveis (REZEK, 2018). Danos com expressão econômica devem ser reparados em dinheiro. Para apuração da responsabilidade internacional pressupõe-se que primeiro se re- corra à justiça interna do Estado que cometeu o ilícito. Essa exigência de esgotamento das instâncias internas é dispensável quando a justiça interna não aceita o processamento da ação para apuração da responsabilidade. Somente depois que a justiça interna não respon- sabilizou o Estado é que surgiria a legitimidade para acionar o Estado internacionalmente. O foro competente para a ação de reparação de danos pode ser determinado em função de tratados específicos sobre o tema, da possibilidade de responsabilização pelo direito nacional, de tratados genéricos firmados entre os Estados ou, ainda, por tribunais internacionais de caráter universal. Em sistemas regionais de integração, é comum a exis- tência de Cortes de arbitragem ou mecanismos de solução pacífica de controvérsias. Como exemplo temos o Tribunal Arbitral do Mercosul e do Tribunal de Justiça da União Europeia (VARELLA, 2019). 63UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias SAIBA MAIS Que tal aprofundarmos nossos estudos sobre um dos pontos abordados nesta unidade de ensino? A seguir deixo uma recomendação de leitura que irá enriquecer o apren- dizado e reforçar o que foi estudado até aqui. O texto pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico: https://www.icrc.org/pt/document/tendencias-globais-da-guerra-e- -o-seu-impacto-humanitario REFLITA Não só a guerra atualmente é vista como uma ameaça global. O terrorismo tem sido motivo de inúmera preocupação da sociedade internacional, que procura desenvolver uma ampla rede de precaução e combate a esse mal. Imagine como uma sociedade pode ser impactada com a ameaça de terrorismo. Embo- ra não seja uma realidade vivenciada com frequência no Brasil, situações que envolvam esse tema podem influenciar ou atingir todo o mundo. Reflita sobre o assunto e, para lhe auxiliar, deixo uma indicação de leitura: https://educa- cao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/terrorismo-violencia-que-atemoriza-a-sociedade- -e-enfraquece-governos.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/terrorismo-violencia-que-atemoriza-a-sociedade-e-enfraquece-governos.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/terrorismo-violencia-que-atemoriza-a-sociedade-e-enfraquece-governos.htm https://educacao.uol.com.br/disciplinas/sociologia/terrorismo-violencia-que-atemoriza-a-sociedade-e-enfraquece-governos.htm 64UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias CONSIDERAÇÕES FINAIS Chegamos ao final da terceira unidade didática, que abordou assuntos importantes no aprofundamento do estudo do Direito Internacional. Nesta apostila tratamos da jurisdição do Estado, e foi possível perceber que, geral- mente, os poderes do Estado estão limitados pelo alcance do seu território, não podendo impor suas leis sobre outros Estados, por uma questão de respeito à soberania. Em relação ao domínio público internacional, vimos que o território de um Estado não se limita apenas à área de terra firme, mas se estende mar adentro em zonas deno- minadas mar territorial, zona contígua e zona econômica exclusiva, que têm importância comercial e bélica. Além das áreas citadas, outras regiões do planeta interessam diretamente ao Direi- to Internacional, que, ao longo do tempo, foram tendo tutela específica. Também vimos que o Direito Internacional busca sempre que as controvérsias internacionais sejam resolvidas através de meios de solução pacíficos. Esses meios são classificados em meios diplomáticos, políticos e jurisdicionais. O objetivo é evitar que uma controvérsia não resolvida evolua a ponto de desencadear uma guerra. A guerra, inclusive, também foi objeto de análise do nosso estudo, em que pude- mos perceber que atualmente é repudiada pelo Direito Internacional, que tenta evitá-la incessantemente. Embora já tenha sido vista como um direito do Estado relacionadoà sua soberania, o confronto armado é permitido apenas em caráter excepcional, como nos casos de legítima defesa. Por fim, analisamos que as ações e omissões dos Estados não podem ser tomadas deliberadamente sob pena de gerar a sua responsabilidade. Uma vez que a responsabilida- de do Estado seja reconhecida é dever recompor os danos causados à vítima. 65UNIDADE III Dos Conflitos Internacionais e da Solução de Controvérsias MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Direito internacional humanitário. Autor: Ângelo Fernando Facciolli. Editora: Juruá. Sinopse: Trata da abordagem desse importante ramo do Direito Público, dentro de uma concepção inovadora de forma: objetiva, di- dática e simples. Inicialmente, o autor trata de abordar o fenômeno da guerra, buscando identificar sua origem, motivos, justificativas, repercussões na sociedade e no direito. Em seguida, trata dos conflitos armados, estabelecendo os principais vínculos jurídicos com o Direito Internacional Humanitário (Direito Internacional de Conflitos Armados). O livro foi dividido em diversos capítulos e subcapítulos de forma a oferecer um aprendizado crescente, di- nâmico e atual. O presente trabalho é essencial para aqueles que estão aprendendo e pesquisando o assunto, tanto nos cursos de graduação, pós-graduação, no campo da pesquisa, nas escolas militares das Forças Armadas, Ministério Público Federal e Militar, Magistratura Militar e Federal, correspondentes, jornalistas etc. FILME/VÍDEO Título: Sob a névoa da guerra. Ano: 2003. Sinopse: Narra a história militar recente dos Estados Unidos do ponto de vista de Robert S. McNamara, ex-secretário de Defesa nos governos Kennedy e Johnson. Um dos mais controvertidos políticos americanos, McNamara, que também já presidiu o Banco Mundial, tenta explicar o motivo do século 20 ter sido tão violento. Desde o bombardeio de centenas de milhares de civis em Tóquio, em 1945, passando pela Crise dos Mísseis, em Cuba, até os efei- tos da guerra do Vietnã, o filme examina a combinação de fatores políticos, sociais e psicológicos que envolvem os conflitos arma- dos. Com uma rica seleção de imagens de arquivo e gravações confidenciais da Casa Branca, também examina as justificativas do governo americano para uso militar da força.
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