Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Currículo Referência de Minas Gerais 25 Currículo Referência de Minas Gerais 26 Currículo Referência de Minas Gerais O BECO Que importa a paisagem, a glória, a baía, a linha do horizonte? O que eu vejo é o beco. De nada adianta querermos tocar a sensibilidade dos educandos se nós mesmos não estamos preparados para ver o mundo de outra maneira, se nós mesmos não conseguimos ver “além do beco...”. A educação não é panaceia dos males sociais, mas é o caminho que nós, educadores podemos percorrer e o espaço em que nos é permitido lutar. Podemos começar a educar, começando por educar o nosso próprio olhar. É processo de transformação que acontece à medida que nos permitimos ser tocados pela emoção, pelo amor, à medida que nos humanizamos. - Manuel Bandeira) 27 Currículo Referência de Minas Gerais Currículo Referência da Educação Infantil Apresentação Ao elaborar um conjunto de conhecimentos comuns a todo território nacional, a Base Nacional Comum Curricular trouxe aos estados e municípios uma grande responsabilidade: na construção de um currículo referência, norteador das ações pedagógicas para todo o território estadual. Nesta perspectiva, considerando as especificidades do território mineiro, um dos grandes desafios, está centrado na operacionalização de uma prática pedagógica coerente, intencional e consistente norteada por esta proposta curricular para a Educação Infantil. Desse modo, este documento pretende: • Orientar a ação pedagógica das Instituições de Educação Infantil do Estado de Minas Gerais, assegurando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças; • Apresentar o currículo referência para que as instituições de Educação Infantil possam revisitar os seus Projetos Político Pedagógicos, buscando organizar o trabalho de cuidar e educar crianças de 0 a 5 anos em creches e pré-escolas, complementando a ação da família e da comunidade; • Possibilitar ao docente o aperfeiçoamento profissional através da formação continuada com foco na adequação de sua prática pedagógica às necessidades específicas e às possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento das crianças; • Superar a fragmentação dos processos escolares em favor de uma educação integral e contextualizada, por meio de uma organização curricular estruturada em campos de experiências, constituídos por saberes de distintas naturezas, que deverão ser vivenciados nas interações e brincadeiras; • Propor práticas inovadoras que definam com clareza os objetivos de aprendizagem possibilitando a criança produzir, transformar e se apropriar de saberes e conhecimentos da natureza e da cultura; • Refletir sobre o processo de inclusão a partir da diversidade humana presente nas diferenças sociais, culturais, étnicas, religiosas, de gênero, buscando desenvolver maneiras diferentes e adequadas de se trabalhar com a heterogeneidade dos aprendizes e compatível com os ideais democráticos de uma educação para todos. 28 Currículo Referência de Minas Gerais Introdução A construção do Currículo Referência da Educação Infantil de Estado de Minas Gerais foi embasada em documentos oficiais, que apresentam os parâmetros de qualidade; nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil; em sistemas de ensino que têm atuado de forma significativa na educação de crianças; bem como, em pesquisas e em outros saberes fundamentais, construídos nas vivências cotidianas. Fruto de um amplo processo de discussão coletiva entre diferentes representantes e setores da educação do Estado de Minas Gerais, a proposta curricular para a Educação Infantil de todo o território estadual destina-se a balizar as ações pedagógicas e intencionalidades educativas presentes na indissociável tarefa de educar e cuidar, assim como situar a realidade estadual no contexto atual da primeira etapa da educação básica. Espera-se que este documento seja uma referência segura para as instituições educacionais na (re) elaboração de seus Projetos Políticos Pedagógicos, como também, possibilite aos docentes refletir sobre sua prática cotidiana por meio da pesquisa e da formação continuada, favorecendo-lhes a (re) descoberta de novas possibilidades do fazer pedagógico da Educação Infantil, dando concretude a uma educação de qualidade culturalmente orientada e socialmente referenciada para todos os bebês e demais crianças pequenas. Educação Infantil: trajetória histórica e marcos legais A Educação Infantil pública, gratuita, laica, inclusiva e com qualidade social se constituiu como dever do Estado e direito de todas as crianças a partir da Constituição Federal, aprovada em 19885. Desde então, uma série de documentos (normativos e consultivos) foram produzidos pelo Ministério da Educação como forma de ratificar o preceito constitucional da educação infantil como direito público subjetivo de toda criança. Consequentemente, as creches e pré-escolas passaram por um processo de construção de uma nova identidade, de modo a superar as concepções antagônicas que pautaram a sua criação. 5BRASIL. Constituição (1988). Disponível em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 21 jul. 2018. 29 Currículo Referência de Minas Gerais Do ponto de vista histórico, a Educação Infantil sempre foi vista por duas concepções distintas: a assistencialista e a educacional (compensatórias e/ou preparatórias). A primeira esteve associada aos cuidados para com as crianças de classes menos favorecidas e a segunda, com um enfoque mais pedagógico, este, em geral, destinado às crianças de quatro e cinco anos das classes mais abastadas. Entretanto, Kuhlmann Jr (2003) considera que é preciso superar essa visão dicotômica de que creche e pré-escola são instituições com enfoques distintos e paradoxais (entre assistência e educação), pois, segundo ele, “essa dicotomia está impregnada em várias dimensões do pensamento pedagógico” (KUHLMANN Jr, 2003, p. 53). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 19966, determinou as responsabilidades dos entes federados, cabendo aos municípios a responsabilidade pela oferta da Educação Infantil. Em seu art.29, considera- se a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança de zero a cinco anos de idade em seus aspectos físico, afetivo, intelectual, linguístico e social, complementando a ação da família e da comunidade. A alteração da LDBEN pela Lei nº 12.796, de 04 de abril de 20137trouxe um avanço para a Educação Infantil, apresentando direitos e objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para esta etapa. Parte significativa dessas conquistas foram contempladas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEI)8aprovadas em 2010, propostas no Parecer CNE/CEB nº 20/2009, de 17 de dezembro de 20099 e na Resolução nº 5, de 17 de dezembro de200910. Esses avanços 6 BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 21 jul. 2018. 7 BRASIL. Lei nº 12.796, de 04 de abril de 2013. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm#art1. Acesso em: 21 jul. 2018. 8 BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2010. Disponível em: http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-Curriculares-para-a-E-I.pdf. Acesso em 21 jul.2018. 9 BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica. Parecer nº 20, de 08 de dezembro de 2009. Revisão dasDiretrizes Curriculares Nacional para a Educação Infantil. Diário Oficial da União, Brasília, 9 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 14. Disponível em:http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=2097- pceb020-09&category_slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192. Acesso em 21 jul.2018. 10 BRASIL. Conselho Nacional de Educação; Câmara de Educação Básica. Resolução nº 5, de 17 dedezembro de 2009. Fixa as Diretrizes Curriculares Nacional para a Educação Infantil. Disponível em: 30 Currículo Referência de Minas Gerais não se constituíram naturalmente, mas são resultados de um processo histórico que foi se consolidando e materializando-se em políticas públicas no âmbito dos sistemas de ensino, evidenciando o potencial educacional de creches e pré-escolas, bem como, o direito dos bebês e demais crianças de até cinco anos (FLORES, 2016). Nova função sociopolítica se faz presente, como assevera o Parecer nº 20, de 2009, da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), que versa sobre a revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil: A função das instituições de Educação Infantil (...) se inscreve no projeto de sociedade democrática desenhado na Constituição Federal de 1988 (art. 3º, inciso I), com responsabilidades no desempenho de um papel ativo na construção de uma sociedade livre, justa, solidária e socioambientalmente orientada. A redução das desigualdades sociais e regionais e a promoção do bem de todos (art. 3º, incisos II e IV da Constituição Federal) são compromissos a serem perseguidos pelos sistemas de ensino e pelos professores também na Educação Infantil. É bastante conhecida no país a desigualdade de acesso às creches e pré- escolas entre as crianças brancas e negras, moradoras do meio urbano e rural, das regiões sul/sudeste e norte/nordeste e, principalmente, ricas e pobres. Além das desigualdades de acesso, também as condições desiguais da qualidade da educação oferecida às crianças configuram-se em violações de direitos constitucionais das mesmas e caracterizam esses espaços como instrumentos que, ao invés de promover a equidade, alimentam e reforçam as desigualdades socioeconômicas, étnico-raciais e regionais. Em decorrência disso, os objetivos fundamentais da República serão efetivados no âmbito da Educação Infantil se as creches e pré-escolas cumprirem plenamente sua função sociopolítica e pedagógica. (p.5) Princípios Norteadores Este documento normativo tem como propósito orientar a construção de um currículo próprio para as instituições de Educação Infantil em todo o Estado de Minas Gerais, foi http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=2298- rceb005-09&category_slug=dezembro-2009-pdf&Itemid=30192. Acesso em 21jul.2018. 31 Currículo Referência de Minas Gerais elaborado de modo a articular os direitos de aprendizagem, os campos de experiências, os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, as orientações didáticas e práticas cotidianas às principais concepções que norteiam a Educação Infantil. As DCNEI (2010) trouxeram as concepções de criança, de infância, de instituições de Educação Infantil, de proposta pedagógica e de currículo, além de determinar a função sociopolítica e pedagógica das instituições de Educação Infantil. Também estabeleceram três princípios fundamentais para orientar o trabalho junto às crianças nas unidades de Educação Infantil, a saber: Princípios éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. Princípios políticos: dos direitos de cidadania, o exercício da criticidade e o respeito à ordem democrática. Princípios estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (BRASIL, 2010, p.16). A efetivação dos princípios éticos acontece quando o docente estimula a conquista da autonomia pelas crianças; fortalece a sua autoestima e a formação de vínculos afetivos, combatendo preconceitos de distintas naturezas; sensibiliza as crianças a respeitarem todas as formas de vida e dissemina valores como os da liberdade, da solidariedade e da igualdade de direitos de todas as pessoas. Para a concretização dos princípios políticos, faz-se necessário que a instituição de Educação Infantil promova a participação crítica das crianças em relação às situações observadas e vivenciadas no cotidiano, possibilitando-lhes a manifestação de sentimentos, desejos, ideias e questionamentos. Sobre os princípios estéticos, considera- se fundamental a valorização da criatividade de cada criança e a construção, por ela, de respostas singulares em experiências diversificadas, disponibilizando diversos materiais para que a mesma possa se apropriar e se expressar por meio de diferentes linguagens. 32 Currículo Referência de Minas Gerais Concepção de Infância As concepções abordadas neste documento apontam para a superação do conceito único de “criança” e “infância”, em consonância com Dahlberg et.al. (2003, p.63), “há ́muitas crianças e muitas infâncias, cada uma, construída por nossos entendimentos da infância e do que as crianças são e devem ser”. De acordo com Andrade (2010, p.66), a compreensão desse conceito de infância nos possibilita um novo olhar sobre a criança, concebendo-a como um sujeito ativo, capaz de aprender por meio de interações sociais desde o seu nascimento: O entendimento das infâncias rompe com o paradigma da criança fráGil, inocente, dependente e incapaz, dando lugar à concepção da criança rica, forte, poderosa e competente, construtora de conhecimento, identidade e cultura. A criança é reconhecida como um sujeito ativo, competente, com potencialidades a serem desenvolvidas desde o nascimento; sujeito que aprende e constrói conhecimentos no processo de interação social. A infância, então, passou a ser considerada como tempo de aquisições fundamentais para as crianças, superando a sua condição de invisibilidade social e passando a ser reconhecida como cidadã com direitos garantidos por leis, que foram aos poucos sendo incorporados pelas políticas públicas. No entanto, Benjamin (1987) desmistifica a ideia de que a criança possui um caráter estritamente puro e ingênuo, há de se considerar também os seus desejos, os sentimentos hostis, vontade de mando ou de submissão, entre outros, desconstruindo a imagem idealizada que o adulto tem da criança. Ela constrói um universo próprio no qual revela através do jogo que estabelece com os outros e com as coisas, a forma como conhece o mundo e dá múltiplos significados à realidade física e social, construindo verdades provisórias. Desta forma, “podemos enxergar a criança como espelho, através do qual é possível revisitar nossa própria infância, e, assim, perceber o quanto, como, adultos, estamos atualmente tão distantes dela [...]” (p.33). Ao evidenciar a desconstrução das representações sociais sobre a concepção de infância e fortalecer a condição da criança como sujeito de direito, percebe-se a urgência de um novo fazer pedagógico, tanto do docente quanto das instituições de educação infantil a 33 Currículo Referência de Minas Gerais fim de articular a educação dos bebês e demais crianças pequenas com as demandas contemporâneas. Concepção de Criança A concepção de criança, norteadora deste documento, alinha-se com a concepção atual de infância, uma vez que ela passa a ser vista como um sujeito de direitos, plenamente capaz de aprender. Nessa perspectiva, as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil definem a criança como: [...] sujeito histórico e de direitos, que, nas interações, relações e práticas cotidianas quevivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentido sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura (BRASIL, 2010, p.12). A criança dá sentido ao mundo construindo sua própria cultura a partir de interações que estabelece com o seu meio físico e social, buscando compreendê-lo e dar significado através de produções que são características da infância como o brincar, o cantar, o desenhar, o jogar e tantas outras manifestações que correspondem às suas inquietações e questionamentos sobre a realidade, muitas vezes ligada ao mundo adulto, mas criadas a partir da sua própria lógica. Partindo dessa concepção, compreende-se que, desde bebês, as crianças manifestam o seu desejo em aprender, produzindo cultura que pode ter caráter singular ou coletivo, em espaços formais de educação ou informais, onde vivenciam situações de afeto, conflito, alegria e tristeza experimentando sentimentos de pertencimento, inclusão e exclusão. Portanto, é essencial que esta concepção de criança capaz, protagonista e ativa no seu processo de aprendizagem e produtora de cultura, que se expressa através de múltiplas linguagens, seja considerada no planejamento da Educação Infantil, uma vez que a sua aprendizagem se efetiva tanto nas diversas atividades cotidianas, quanto naquelas imbuídas de intencionalidade pedagógica. A linguagem, juntamente com a brincadeira e a interação, permeia o trabalho na educação infantil e constitui os eixos do trabalho pedagógico. Quando se fala em linguagem, remete-se habitualmente à linguagem oral e escrita, linguagens fundamentais para o 34 Currículo Referência de Minas Gerais desenvolvimento infantil, porém, corre-se o risco de priorizar essas duas formas de linguagem em detrimento de outras na educação infantil. É exatamente a superação desse entendimento de linguagem que se busca, considerando que bebês e demais crianças se comunicam e se expressam através de múltiplas linguagens, ou melhor, de “Cem linguagens” como diz Malaguzzi (1999). A criança é feita de cem. A criança tem cem linguagens, cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de brincar e de falar, cem sempre cem, maneiras de ouvir e se surpreender ao amar, cem alegrias, cantar e compreender. (...) Eles dizem a ela: que brincar e trabalhar, realidade e fantasia, ciência e imaginação, céu e terra, razão e sonho são coisas que não andam juntas e dizem que as Cem não existem. A criança diz: "a cem existe” (MALAGUZZI, 1999). As cem linguagens são uma metáfora. São provocadoras, porque exigem para todas as linguagens a mesma atenção e o direito de integração entre elas. Toda criança, em sua potencialidade tem muitas formas de expressão própria e consequentemente, múltiplas linguagens comunicativas. Concepção de Educação Infantil No cenário educacional atual, o campo da Educação Infantil tem sido tema de constantes debates e discussões sobre as concepções que subsidiam as práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagem e do desenvolvimento dos bebês e das crianças pequenas nas creches e pré-escolas. De acordo com as DCNEI (2010, p.12) define-se a Educação Infantil como: primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. Nesta perspectiva, as instituições de Educação Infantil possuem um compromisso político e social ao garantir as especificidades da infância na sociedade atual; ocupando um lugar importante e pensado para a criança, garantindo-lhe o seu papel central no planejamento em relação ao 35 Currículo Referência de Minas Gerais currículo e às práticas pedagógicas, pois quando não é assegurado o caráter ativo da criança no processo, a aprendizagem será sempre incompleta. Ser Professor (a) na Educação Infantil A intencionalidade da ação docente constitui-se elemento essencial da prática pedagógica para a concretização de um trabalho comprometido com a garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Nesse sentido, pressupõe-se que o (a) professor (a) desenvolva uma prática pedagógica reflexiva, pautada na escuta, no olhar sensível, na mediação e na promoção de um ambiente acolhedor e propício à aprendizagem. O compromisso dos/as professores/as e das instituições de Educação Infantil é observar e interagir com as crianças e seus modos de expressar e elaborar saberes. Com base nesse processo dinâmico de acolhimento dos saberes infantis, está a ação dos/as docentes em selecionar, organizar, refletir, mediar e avaliar o conjunto das práticas cotidianas que se realizam na escola, com a participação das crianças. A partir disso, o/a professor/a promove interações das crianças com conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, por meio do planejamento de possibilidades e oportunidades que se constituem a partir da observação, dos questionamentos e do diálogo constante com as crianças (BRASIL, 2016, p. 59-60). A atuação docente na Educação Infantil implica ter clareza das particularidades do trabalho com bebês e demais crianças pequenas, uma vez que exige um conhecimento específico sobre a aprendizagem, o desenvolvimento e as necessidades básicas (cognitivas, sociais, emocionais, físicas) da criança, para que possa promover práticas pedagógicas adequadas. Há uma especificidade clara no trabalho do professor de Educação Infantil que é a de ter a sensibilidade para as linguagens da criança, para o estímulo à autonomia, para mediar a construção de conhecimentos científicos, artísticos e tecnológicos, e, também, para se colocar no lugar do outro, aspectos imprescindíveis no estabelecimento de vínculos com bebês e crianças pequenas (BARBOSA, 2009, p.37). 36 Currículo Referência de Minas Gerais As ações de cuidar e educar são complementares e indissociáveis, e constituem os pilares que sustentam as ações pedagógicas realizadas em creches e pré-escolas. Tais elementos fundamentais da prática docente sinalizam que esta é uma tarefa complexa, que deve ser concretizada nas situações cotidianas de interações e brincadeiras que compõem a sua proposta curricular. Entende-se que para o professor integrar o cuidar e o educar às suas práticas, deve-se partir da vinculação entre o saber e o saber fazer, uma vez que as necessidades apresentadas no contexto da Educação Infantil não permitem que uma dimensão anteceda a outra. Nesta perspectiva, a formação continuada de professores é fundamental e deve ser conduzida a partir de um processo contínuo de reflexão em torno da prática profissional, que favoreça a construção de novos saberes. A família e a escola Sendo a família a primeira educadora da criança, entende-se que é nela que a criança inicia as suas relações afetivas, encontra o outro, e por meio dele, aprende os modos de existir. Dessa forma, o seu mundo adquire significado e ela começa a constituir-se como sujeito a partir dessa interação familiar. A escola, por sua vez, possui papel complementar à ação da família e da comunidade no alcance do desenvolvimento integral da criança. Isso implica, entre outras exigências, a necessidade de acolher as famílias, conhecer suas expectativas sobre a educação a ser ofertada a seus filhos, seu modo de ser e estar no mundo. Além disso, em uma ação complementar à das famílias, da comunidade e do poder público, é imprescindível, como dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA que “as instituições educativas asseguremo direito das crianças ao cuidado, à proteção, à saúde, à liberdade, à confiança, ao respeito, à dignidade, à cultura, às artes, à brincadeira, à convivência e à interação com outros/as meninos/as” (BRASIL, 2016, p. 55). Sendo assim, faz-se necessário investir nessa integração e apoiar-se nos diversos benefícios da proximidade entre a família e a escola e, a partir disso, construir uma relação fundamentada em ações colaborativas e integradas, visando oferecer aos bebês e demais crianças pequenas, as melhores condições de desenvolvimento e aprendizagem. 37 Currículo Referência de Minas Gerais Organização Curricular na Educação Infantil Ao longo do tempo, as instituições de Educação Infantil têm organizado seus currículos de diferentes formas, alguns mais sistematizados e outros nem tanto, pois se contentam com a seleção de conteúdos a serem trabalhados com as crianças sem revelar as concepções que devem nortear as práticas pedagógicas. No entanto, a Resolução nº5/2009 apresentou uma definição clara de currículo para as crianças na faixa etária de 0 a 5 anos em seu art.3º, concebendo-o como: [...] um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade (BRASIL, CNE/CEB, 2009). Tendo como referência esta concepção de currículo, a Base Nacional Comum Curricular (2017) organizou o currículo da Educação Infantil baseado nos direitos de aprendizagem e desenvolvimento que são apresentados em relação a três faixas etárias11 e nas orientações das DCNEI: conviver, brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se, tendo a brincadeira e as interações como eixos que orientam as práticas pedagógicas. Com base nesses direitos, foram definidos os eixos dos currículos em cinco campos de experiências, a saber: ● O eu, o outro e o nós; ● Corpo, gestos e movimentos; ● Traços, sons, cores e formas; ● Escuta, fala, pensamento e imaginação; ● Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. 11Bebês: 0 a 18 meses / Crianças bem pequenas: 19 meses a 3 anos e 11 meses / Crianças pequenas: 4 anos a 5 anos e 11 meses 38 Currículo Referência de Minas Gerais A decisão por esta nova forma de organização curricular, altera sensivelmente o modo como as professoras e os professores passarão a organizar os contextos de aprendizagem na Educação Infantil. Ela se distancia da tradicional organização do planejamento das práticas pedagógicas, cuja estrutura se ancorava em datas comemorativas, conteúdos, áreas de conhecimento ou componentes curriculares. Traz um novo olhar ao currículo desfocando-o do saber docente para contemplar mais amplamente a ação social da criança. Assim a mediação docente converte a experiência sociocultural da criança em experiências educativas que buscam consolidar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Direitos de Aprendizagem A BNCC (2017) preconiza seis direitos de aprendizagem que devem ser garantidos na Educação Infantil, considerando as diferentes maneiras pelas quais bebês e crianças aprendem e constroem sentidos sobre si, os outros e o mundo; as especificidades e as características da vida contemporânea e a incorporação da Educação Infantil no sistema educacional. Esses direitos são: 39 Currículo Referência de Minas Gerais CONVIVER com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas. BRINCAR de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), de forma a ampliar e diversificar suas possibilidades de acesso a produções culturais. A participação e as transformações introduzidas pelas crianças nas brincadeiras devem ser valorizadas, tendo em vista o estímulo ao desenvolvimento de seus conhecimentos, sua imaginação, criatividade, experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais. PARTICIPAR ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando. EXPLORAR movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia. EXPRESSAR, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens. CONHECER-SE e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário (p.34). Para que estes direitos sejam contemplados, a BNCC estruturou as aprendizagens a serem alcançadas em todo o segmento da Educação Infantil entrelaçando as situações e as experiências cotidianas da criança e seus saberes, aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico, por meio dos campos de experiências. 40 Currículo Referência de Minas Gerais Em cada campo de experiências os direitos de aprendizagem ganham especificidades, dessa forma, foram reelaborados, traduzindo aspectos peculiares, conforme estes se apresentam. Para realizar a leitura dos organizadores curriculares, quadros onde se encontram os direitos de aprendizagem, é necessário entender a estrutura previstas na BNCC. Para sua leitura deve-se utilizar a referência abaixo: Figura 4 - Estrutura de Objetivos de Aprendizagem e Habilidades A educação infantil pela primeira vez possui previsão de Direitos e Objetivos de Aprendizagem em Currículo que deverá ser objeto da ação pedagógica com as crianças nesta etapa. As duas primeiras Letras do Código alfanumérico se referem à etapa de Educação Infantil (EI). Os dois primeiros números se referem à faixa etária: 01 Bebês (zero a 1 ano e seis meses); 02 Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses); 03 Crianças Pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). As letras em sequência se referem ao Campo de Experiência. O último par de números é a posição do objetivo de aprendizagem na numeração sequencial. Seguindo a orientação do Parecer CNE/CP nº 2 de 2017 e a LDB, o Currículo Referência de Minas Gerais possui parte diversificada integrada ao documento, respeitando a diversidade local e adaptativa a cada contexto. Desta forma, diversos objetivos e direitos de aprendizagem, bem como habilidades e competências foram alteradas para oferecer uma perspectiva regional e contextualizada quando necessário. Estas habilidades modificadas foram divididas em 04 tipos: 41 Currículo Referência de Minas Gerais Objetivo/Habilidade Alterada: Habilidade alterada da BNCC dentro das possibilidades estabelecidas pelo MEC. Seguem o código alfanumérico definido na BNCC, seguido pela letra X. Exemplo: (EF07HI09) Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populações ameríndias e identificar as formas de resistência (Original BNCC); (EF07HI09X) Analisar os diferentes impactos da conquista europeia da América para as populaçõesameríndias e identificar as formas de resistência, observando as diferentes estratégias de resistência dos distintos grupos indígenas que povoavam Minas Gerais. (Modificada MG). Objetivo/Habilidade Criada: Habilidade que não existia na BNCC, mas prevista no novo currículo. Seguem o código alfanumérico estabelecido pelo MEC, seguidas pelas letras MG. Exemplo: (EF08CI17MG) Descrever fenômenos e processos em termos de transformações e transferência de energia. (Habilidade criada MG). Objetivo/Habilidade Desmembrada: Habilidade que possui grande número de verbos, tornando-a complexa para ser avaliada e desenvolvida. Segue o código alfanumérico estabelecido pela BNCC, complementada pelas letras A B, C, etc. dependendo do grau de desmembramento. Exemplo: (EF15AR23) Reconhecer e experimentar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas (Original BNCC). (EF15AR23A) Reconhecer, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas. (EF15AR23B) Experimentar, em projetos temáticos, as relações processuais entre diversas linguagens artísticas (Desmembrada MG). Objetivo/Habilidade com Progressão: Habilidade que, na BNCC, era a mesma para diversos anos de escolaridade. No Currículo, a opção foi alterar estas habilidades ano a ano, de formar a graduar a complexidade de acordo com o desenvolvimento dos estudantes. Exemplo: (EF12EF01) Experimentar, fruir e recriar diferentes brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto comunitário e regional, reconhecendo e respeitando as diferenças individuais de desempenho dos colegas (Original BNCC). (EF12EF01P1) Experimentar e fruir diferentes brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto comunitário e regional, valorizando os saberes e vivências 42 Currículo Referência de Minas Gerais produzidos, reproduzidos e perpetuados nos contextos familiares e comunitários. (Progressão 1º ano) (EF12EF01P2) Experimentar, fruir e recriar diferentes brincadeiras e jogos da cultura popular presentes no contexto do estado de Minas Gerais, valorizando os saberes e vivências produzidos, reproduzidos e recriados nos contextos familiares e sociais (Progressão 2º ano). Campos de Experiências A BNCC (2017) trouxe uma estrutura curricular própria para a Educação Infantil por campos de experiências, tendo em vista o processo de formação integral da criança. Este tipo de arranjo curricular se diferencia dos modelos tradicionais, ao propor a construção da aprendizagem, mediada pelas experiências vivenciadas pelos bebês e demais crianças pequenas. Uma das contribuições de Benjamim (1984) para a educação é voltar os olhos à experiência infantil e repensar o quanto a condução diretiva do adulto pode impedir a criança de utilizar suas formas próprias, inovadoras e originais de aprender e apreender o mundo. Conforme o autor: A máscara do adulto chama-se “experiência” ... ele sorri com ares de superioridade ... de antemão ele já desvalorizava os anos que vivemos, converte-os em época de doces devaneios pueris, em enlevação infantil que precede a longa sobriedade da vida séria (Benjamim, 1984, p. 23). As crianças se sentem naturalmente convidadas por diferentes objetos, ambientes ou aspectos do mundo cultural sem precisar de autorização para interagir com ele. Por isso, muitas vezes, tudo aquilo que o adulto organiza no planejamento acreditando ser o que elas precisam, é o que menos lhes desperta interesse. Nesse sentido, a experiência do adulto deve ceder lugar à necessidade de compreender e considerar a forma como as crianças interagem e aprendem nas instituições de educação infantil. É fundamental que a experiência seja delas. Conforme Larrossa (2002, p.20), a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Entende-se que experenciar a aprendizagem por meio dos sentidos, das situações concretas da vida cotidiana e nas suas diferentes linguagens, possibilita a criança se apropriar de conceitos relevantes por meio da sua participação em situações significativas na construção e/ou ampliação do seu conhecimento. 43 Currículo Referência de Minas Gerais Dessa maneira, ao pensar sobre a experiência infantil, deve-se compreender a criança como um sujeito que pensa, cria e recria o mundo a sua volta por meio de experiências únicas, que utilizam todo o corpo sensível. E, entendendo, diante disso, que as crianças constroem um universo cultural particular, em profunda interação com a cultura e a sociedade do mundo adulto. As práticas pedagógicas precisam considerar a perspectiva da criança. Partir do ponto de vista infantil, permitir que as crianças criem, explorem e sejam protagonistas nas próprias experiências pode possibilitar a ampliação da reflexão e da ação docente, melhorar a percepção do que é ser um adulto mediador e propor novas práticas pedagógicas ampliadoras da experiência infantil. Os campos de experiências constituem-se como forma de organização curricular da Educação Infantil, tendo como característica principal a intercomplementaridade, para fundamentar e potencializar as experiências de distintas naturezas, pelas quais as crianças deverão passar acontecer, tocar. Esta abordagem dá concretude à construção/ampliação do conhecimento que busca procedimentos na interlocução entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas, e, orienta para a necessidade de se instituir, na prática educativa, situações de aprendizagem sobre a realidade e na realidade. Nesta perspectiva, a organização curricular da Educação Infantil se projeta com uma abordagem mais integradora, mais contextualizada e menos fragmentada, entendendo que os conhecimentos não podem ser estruturados por conteúdos compartimentados, separados em caixinhas, em disciplinas ou áreas de conhecimento, isoladas umas das outras. De acordo com Morin (2001), a construção do conhecimento pode ser representada por uma trama de fios estendidos e transversos onde perpassam os diferentes saberes. Sem esta união não é possível entender o todo, não é possível compreender a complexidade do ser humano. Considerando a dimensão complexa da construção do conhecimento e na busca de integrar os diferentes saberes, a BNCC propõe o trabalho pedagógico intercomplementar através de cinco grandes campos de experiências. As especificidades dos campos de experiências derivam da Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009 que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Ela define em seu Art. 9.º as práticas pedagógicas que compõe a proposta curricular da Educação Infantil as quais devem ter como eixos norteadores as interações e as brincadeiras garantindo experiências que: 44 Currículo Referência de Minas Gerais I - promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; II - favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical; III - possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos; IV - recriem, em contextos significativos para as crianças, relações quantitativas, medidas, formas e orientações espaço temporais; V - ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; VI - possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto- organização, saúde e bem-estar; VII - possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais,que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e reconhecimento da diversidade; VIII - incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza; X - promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; X - promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais; XI - propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras; XII - possibilitem a utilização de gravadores, projetores, computadores, máquinas fotográficas, e outros recursos tecnológicos e midiáticos. Parágrafo único - As creches e pré-escolas, na elaboração da proposta curricular, de acordo com suas características, identidade institucional, escolhas coletivas e particularidades pedagógicas, estabelecerão modos de integração dessas experiências. (BRASIL, 2009). Cada um dos cinco Campos de Experiências se articula com o referido artigo, de acordo com as experiências que lhes são peculiares. 45 Currículo Referência de Minas Gerais Campo de Experiências: o Eu, o Outro e o Nós É na interação com os pares e com adultos que as crianças vão constituindo um modo próprio de agir, sentir e pensar e vão descobrindo que existem outros modos de vida, pessoas diferentes, com outros pontos de vista. Conforme vivem suas primeiras experiências sociais (na família, na instituição escolar, na coletividade), constroem percepções e questionamentos sobre si e sobre os outros, diferenciando-se e, simultaneamente, identificando-se como seres individuais e sociais. Ao mesmo tempo (que participam de relações sociais e de cuidados pessoais, as crianças constroem sua autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de interdependência com o meio.). Por sua vez, na Educação Infantil, é preciso criar oportunidades para que as crianças entrem em contato com outros grupos sociais e culturais, outros modos de vida, diferentes atitudes, técnicas e rituais de cuidados pessoais e do grupo, costumes, celebrações e narrativas. Nessas experiências, elas podem ampliar o modo de perceber a si mesmas e ao outro, valorizar sua identidade, respeitar os outros e reconhecer as diferenças que nos constituem como seres humanos. (BRASIL, 2017, p. 38). A construção da identidade e da autonomia refere-se ao progressivo conhecimento que as crianças vão adquirindo de si mesmas, à autoimagem que se configura por meio deste conhecimento e à capacidade para utilizar recursos pessoais que vão sendo construídos e ampliados, transformando-a e modificando o mundo que a cerca. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998), o termo identidade remete à ideia de distinção. A identidade é uma marca de diferença entre as pessoas, a começar pelo nome, seguido de todas as características físicas, de modos de agir, de pensar e da história pessoal. Para Faria e Salles (2012), a construção da identidade da criança acontece por meio da interação com os outros indivíduos, em diferentes contextos sociais: [...] é na relação com o outro, que o sujeito se constitui como ser individual, nas práticas sociais das quais participa, na cultura em que está inserido, apropriando-se dela e transformando-a. [...] experiências importantes para as crianças relativas à afetividade, ao autoconhecimento, ao cuidado e ao autocuidado, à organização e auto- organização parecem fazer parte do “currículo oculto” das instituições, 46 Currículo Referência de Minas Gerais e, desta forma, não têm sido trabalhadas intencionalmente (FARIA; SALLES, 2012, p. 101). Construir a identidade implica na ideia de a criança conhecer seus gostos e preferências, habilidades e limites, cultura, sociedade, grupos de convívio e ambientes. Assim que nasce, o bebê não é capaz de perceber os próprios limites e os limites do outro, o que tornam fundamentais as experiências pelas quais deverá passar para conceber-se como um ser único em meio a outros seres, construindo uma identidade própria. As situações educativas que a criança vive na instituição e a maneira como são conduzidas pelos professores são muito importantes na formação dos conceitos sobre si mesma. Os professores, bem como a instituição, devem proporcionar um ambiente rico em interações, que respeite as particularidades de cada indivíduo, reconheça as diversidades e contribua para a construção da unidade coletiva, que favoreça a estruturação da identidade, a construção da sua autonomia e de uma autoimagem positiva. A autonomia é "a capacidade de se conduzir e de tomar decisões por si próprio, levando, em conta regras, valores, a perspectiva pessoal, bem como a perspectiva do outro". (BRASIL, 1988). Envolve ações de autocuidado e de decisões. A criança apresenta-se como um ser com vontade própria e competência para realizar as mais diversas ações. Assim como o processo de construção da identidade, o desenvolvimento da autonomia tem início desde o nascimento e evolui ao longo da vida. As instituições de Educação Infantil são espaços privilegiados para as crianças aprenderem e se desenvolver como pessoas e, nesse sentido, torna-se necessário um trabalho intencional com as experiências relacionadas aos saberes e aos conhecimentos sobre o si, sobre o outro e sobre o nós. O docente deve promover em seu planejamento diário situações educativas que potencializem o desenvolvimento da identidade e da autonomia, privilegiando as brincadeiras e as interações como elementos de aprendizagem e de desenvolvimento. Quando ingressa na instituição de Educação Infantil, a criança encontra possibilidades de ampliar seu olhar e suas experiências, de construir novas formas de relação e de contato com diferentes práticas culturais, criar um repertório de conhecimentos comuns ao grupo, dentre outras conquistas. O contato das crianças com as brincadeiras, músicas, histórias, jogos e danças, dentre outros, favorece o conhecimento, a valorização da cultura de seu grupo e propicia 47 Currículo Referência de Minas Gerais reflexões sobre a diversidade de hábitos, modos de vida e costumes de seu universo mais próximo e de diferentes épocas, possibilitando, a construção de conhecimentos fundamentados no respeito às diferenças. Campos de Experiências: Corpo, gestos e movimentos Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou intencionais, coordenados ou intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças desde cedo, exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem. As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua integridade física. Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com seus pares,explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços, mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se etc.). (BRASIL, 2017, p.38-39). O corpo, como estrutura biológica humana, precisa ser percebido na sua totalidade, conectado às práticas sociais, à cultura e ao conhecimento. A corporeidade supera a percepção do corpo meramente biológico, se constitui na história de cada sujeito e extrapola a concepção do movimento apenas como deslocamento. 48 Currículo Referência de Minas Gerais A corporeidade influencia os modos de ser, estar, sentir e se comunicar no mundo. Para além da individualidade, constitui-se também na interação entre sujeitos em relação ao espaço. O movimento humano consiste em uma forma de linguagem corporal em que a expressão de sentimentos, emoções e pensamentos está relacionada à cultura a qual pertence. As crianças, desde o nascimento, movimentam-se e seus movimentos se aprimoram a cada dia por meio de experiências. Desse modo, o trabalho com experiências corporais na Educação Infantil deve propiciar à criança a ampliação das possibilidades expressivas de seu corpo e o desenvolvimento de aspectos ligados à sua motricidade. A música, a dança, o teatro e as brincadeiras de “faz-de-conta” são recursos pelos quais as crianças se comunicam e expressam suas emoções. Cabe à instituição escolar promover oportunidades para que elas conheçam e vivenciem um amplo repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas e descubram variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo. Campo de experiências: Traços, sons, cores e formas. Conviver com as diferentes manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, no cotidiano da instituição escolar, possibilita às crianças, por meio de experiências diversificadas, vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais, a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Com base nessas experiências elas se expressam por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos. Essas experiências contribuem para que, desde muito pequenas, as crianças desenvolvam senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, a Educação Infantil precisa promover a participação das crianças em tempos e espaços para a produção, manifestação e apreciação artística, de modo a favorecer o desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade e da expressão pessoal das crianças, permitindo que se apropriem e reconfigurem, permanentemente, a 49 Currículo Referência de Minas Gerais cultura e potencializem suas singularidades, ao ampliar repertórios e interpretar suas experiências e vivências artísticas. (BRASIL, 2017, p.39). As instituições de Educação Infantil devem se manter atentas em ofertar um ambiente acolhedor, com uma diversidade de objetos, materiais e espaços que estimulem a curiosidade e o senso explorador de cada criança. Na atualidade, onde sons e imagens fazem parte do cotidiano, o senso estético deve ser continuamente aprimorado, incentivado pela intencionalidade do docente que necessita garantir a todas as crianças, oportunidades para viver o prazer de pesquisar, experimentar um cenário com cores, sons, traços e formas marcantes, que traduzam a visualidade e a sonoridade presentes nas diferentes expressões artísticas. A linguagem artística da criança é influenciada pela cultura, seja por meio de materiais com que realiza suas produções, por imagens, sons ou elementos de produção artística: desenho, ilustração, gravura, pintura, bordado, escultura, construção, fotografia, cinema, televisão, computação, dentre outras. O importante é possibilitá-la viver experiências com a música, a pintura, a escultura e outras formas artísticas como a dança, a literatura e o teatro. Essas modalidades integram aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e comunicativos, contribuindo para o desenvolvimento da sua sensibilidade estética, criatividade e expressão pessoal, afirmando sua singularidade e reconstruindo a cultura. As crianças têm suas próprias impressões, ideias e interpretações sobre a produção de arte e o fazer artístico, elaboradas a partir de suas experiências ao longo da vida. As experiências vivenciadas nesse campo permitem que o mundo simbólico seja conhecido e ressignificado, desenvolvendo sua capacidade de criar, apreciar e sensibilizar-se, promovendo a sua formação integral. Campo de experiências: Escuta, fala pensamento e imaginação·. Desde o nascimento as crianças participam de situações comunicativas cotidianas com pessoas com as quais interagem. As primeiras formas de interação do bebê são os movimentos do seu corpo, o olhar, a postura corporal, o sorriso, o choro e outros recursos vocais, que ganham sentido com a interpretação do outro. Progressivamente, as crianças vão ampliando e enriquecendo seu vocabulário e demais recursos de expressão e de compreensão, apropriando-se da língua materna – que se torna, pouco a pouco, seu veículo privilegiado de interação. (BRASIL, 2017, p.40). 50 Currículo Referência de Minas Gerais O destaque desse campo será dado à experiência da criança com a linguagem verbal no diálogo e com outras linguagens, considerando a criança desde o nascimento, de modo a ampliar, não apenas, esta linguagem, mas também o pensamento (sobre si, sobre o mundo, sobre a língua) e sua imaginação. (BRASIL, 2018). De acordo com Goulart: Vivemos cercados de linguagem porto dos os lados: construímo-nos, portanto, com linguagem e de linguagem. É no movimento contínuo da linguagem oral, especialmente, por meio da fala, agindo sobre a própria linguagem e sobre o mundo, então, que as crianças vão se conhecendo e reconhecendo socialmente como pessoas. Identificam-se com outros e, ao mesmo tempo, diferenciam-se, criando seus modos de ser-pensar- viver. Aprender a falar e a ouvir é um fundamental aprendizado humanizador, ampliando de vários modos a inserção dos sujeitos no universo simbólico (GOULART, 2016. p. 47). Dessa forma, falando e interagindo consigo mesmas, com seus pares, nas diferentes relações que estabelece com o meio, mediada pelos adultos mais experientes e atentos, imbuídos de intencionalidades educativas, os bebês e demais crianças pequenas vão se constituindo seres de linguagem. Desde o início e durante todo o desenvolvimento, a linguagem está presente. Os bebês brincam com o corpo de onde saem os primeiros sons, depois brincam com esses sons e com o que ouvem: a voz da mãe e todos os demais sons do ambiente. Na medida em que crescem ampliam suas experiências interativas e comunicativas influenciando e sendo influenciados pelo meio. Quando falamos em linguagem é necessário ressaltar que a instituição de educação infantil deve promover, junto com o docente, o atendimento a todas as crianças, levando- se em conta a Língua de Sinais e o Braile para as crianças com deficiência auditiva e ou visual, buscando conhecer suas perguntas, respostas, suas narrativas e planos. (BRASIL, 2018). É importante destacar a estreita relação entre os atos de falar e escutar na constituição da linguagem e do pensamento humano, desde a infância. A instituição de educação infantil deve promover momentos de “escutar” aquilo que está sendo expresso pela 51 Currículo Referência de Minas Gerais criança, isso é produzir/acolher mensagensorais, gestuais, corporais, musicais, plásticas, além das mensagens trazidas por textos escritos; e “falar”, entendido como expressar/interpretar não apenas pela oralidade, mas também pela linguagem de sinais, pela escrita convencional ou não convencional, pela escrita braile, e também pelo choro, pelas danças, desenhos, gestos e outras manifestações expressivas. (BRASIL, 2018). Escutar e falar deve permear todos os campos de experiência, lembrando que a pluralidade de linguagens deve reger a educação geral e em particular a educação infantil e por isso, a importância de perceber que a linguagem verbal não se separa completamente da linguagem corporal, musical, plástica e dramática, onde os campos se aproximam e se intercomplementam. (BRASIL, 2018). Dessa forma, contamos com o apoio das DCNEI (Parecer CNE/CEB nº 20/09), salientando que as práticas pedagógicas vividas na Educação Infantil devem garantir experiências que "favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical". A BNCC (BRASIL, 2017) indica que, durante todo o percurso da Educação Infantil, as crianças devem construir conhecimentos a respeito da linguagem oral e escrita, por meio de gestos, expressões, sons da língua, rimas, leituras de imagens, de letras, da identificação de palavras em poesias, parlendas, canções, e também a partir da escuta e da dramatização de histórias e da participação na produção de textos escritos. Apropriando-se desses elementos, as crianças podem criar novos gestos, falas, histórias e escritas, convencionais ou não. (BRASIL, 2018). Na Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral, pois é na escuta de histórias, na participação em conversas, nas descrições, nas narrativas elaboradas individualmente ou em grupo e nas implicações com as múltiplas linguagens que a criança se constitui ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social (BRASIL, 2017, p.40). A linguagem oral (ou língua de sinais) perpassa todo o cotidiano social da criança. Através da oralidade, as crianças expressam vontades, desejos, fazem perguntas, contam casos, concordam ou discordam de um colega ou da professora. Essas falas e interações com os adultos e demais crianças, a observação curiosa de artistas em programas de televisão ou 52 Currículo Referência de Minas Gerais de personagens das histórias lidas são objeto de imitação pelas crianças, possibilitando a apreensão de um universo maior de fontes de apropriação da oralidade (ou língua de sinais). Isso assegura que as mesmas possam participar ativamente das situações cotidianas sendo capaz de comunicar- se, conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com palavras, expressar sua opinião, comparar conceitos, construindo estratégias para conhecer o mundo. (BRASIL, 2018). Com relação à linguagem escrita, incluindo o Braile as DCNEIs a reconhecem como sendo um objeto de interesse das crianças desde cedo, ao mesmo tempo em que chamam atenção para a necessidade das práticas pedagógicas voltadas a tal linguagem serem coerentes com o que se conhece como sendo as especificidades da primeira infância. Vivendo em um mundo onde a língua escrita está cada vez mais presente, as crianças começam a se interessar pela escrita muito antes que os professores a apresentem formalmente. Contudo, há que se apontar que essa temática não está sendo muitas vezes adequadamente compreendida e trabalhada na Educação Infantil. O que se pode dizer é que o trabalho com a língua escrita com crianças pequenas não pode decididamente ser uma prática mecânica desprovida de sentido e centrada na decodificação do escrito. Sua apropriação pela criança se faz no reconhecimento, compreensão e fruição da linguagem que se usa para escrever, mediada pelos docentes, fazendo-se presente em atividades prazerosas de contato com diferentes gêneros escritos, como a leitura diária de livros realizada pelo mediador, oportunizando à criança, desde cedo, manusear livros, revistas, produzir narrativas e “textos”, mesmo sem saber ler e escrever. (Parecer CNE/CEB nº20/09). Desde cedo, a criança manifesta curiosidade com relação à cultura escrita: ao ouvir e acompanhar a leitura de textos, ao observar os muitos textos que circulam no contexto familiar, comunitário e escolar, ela vai construindo sua concepção de língua escrita, reconhecendo diferentes usos sociais da escrita, dos gêneros, suportes e portadores. Na Educação Infantil, a imersão na cultura escrita deve partir do que as crianças conhecem e das curiosidades que deixam transparecer. As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros 53 Currículo Referência de Minas Gerais literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros. Nesse convívio com textos escritos, as crianças vão construindo hipóteses sobre a escrita que se revelam, inicialmente, em rabiscos e garatujas e, à medida que vão conhecendo letras, em escritas espontâneas, não convencionais, mas já indicativas da compreensão da escrita como sistema de representação da língua. (BRASIL, 2017, p.40). As instituições educativas devem assegurar à criança o seu direito de interagir com a cultura letrada e dela participar desde os bebês até as demais crianças pequenas. Para garantir este direito, é necessário dar centralidade à criança, respeitar as especificidades de cada grupo etário, adotar as interações e brincadeiras como eixos norteadores do processo, buscando desenvolver a criatividade, o senso crítico, a imaginação e o raciocínio lógico. Campo de experiências: Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações As crianças vivem inseridas em espaços e tempos de diferentes dimensões, em um mundo constituído de fenômenos naturais e socioculturais. Desde muito pequenas, elas procuram se situar em diversos espaços (rua, bairro, cidade etc.) e tempos (dia e noite; hoje, ontem e amanhã etc.). Demonstram também curiosidade sobre o mundo físico (seu próprio corpo, os fenômenos atmosféricos, os animais, as plantas, as transformações da natureza, os diferentes tipos de materiais e as possibilidades de sua manipulação etc.) e o mundo sociocultural (as relações de parentesco e sociais entre as pessoas que conhece; como vivem e em que trabalham essas pessoas; quais suas tradições e seus costumes; a diversidade entre elas etc.). [...] as crianças também se deparam, frequentemente com conhecimentos matemáticos (contagem, ordenação, relações entre quantidades, dimensões, medidas, comparação de pesos e de comprimentos, avaliação de distâncias, reconhecimento de formas geométricas, conhecimento e reconhecimento de numerais cardinais e ordinais etc.), que igualmente aguçam a curiosidade (BRASIL, 2017, p.40-41). 54 Currículo Referência de Minas Gerais As instituições de educação infantil devem promover experiências para que as crianças construam a percepção de espaços, tempos, quantidades, relações e transformações presentes no seu dia-a-dia motivando-as a terem um olhar mais crítico e criativo do mundo. Para que isso ocorra é preciso valorizar todo o conhecimento que a criança traz de suas práticas sociais cotidianas, pois toda criança apresenta uma diversidade de conhecimentos que pode e deve servir de ponto de partida para novas aprendizagens.Além disso, é preciso que ela atribua sentido às experiências mediadas pelo docente para que elabore hipóteses na resolução de problemas contextualizados, teste a validade dessas hipóteses, e modifique-as para construir e reconstruir novos conhecimentos. Os bebês e as demais crianças pequenas estão inseridos numa cultura que lida constantemente com noções que envolvem esse campo de experiência. Vivenciam situações em que as pessoas utilizam a contagem para resolver problemas diários, fazem pagamentos e trocos, comparam tamanhos, calculam os dias que faltam para uma determinada data, brincam ao telefone, trocam canais na televisão, exploram o espaço, recitam a sucessão dos números, entre tantas outras atividades corriqueiras do dia-a-dia. Imersas em um meio repleto de produtos da cultura, as crianças ao manipular objetos e outros materiais, agem para entender seu funcionamento, para diferenciar suas características, cada vez mais com as frequentes perguntas “como?” e “por quê?” dirigidas a parceiros mais experientes. (BRASIL, 2018). Quanto tempo falta para o meu aniversário? Por que quando minha avó era criança não havia televisão? Por que alguns objetos afundam e outros não? Por que existem alguns animais com penas e outros com pelos? Quantas vezes um elefante é maior do que um cavalo? Como estes doces podem ser distribuídos igualmente entre as crianças? Que jogador de futebol fez mais gols na Copa? Uma centopeia tem mais patas do que uma abelha? A forma como a instituição de educação infantil e o docente tratam essa curiosidade, esses questionamentos, esse desejo de também se apropriar desse saber pode lhes ajudar (ou não) a observar regularidades e permanências, ou diversidades e mudanças na natureza e na vida social, a formular noções de espaço, de tempo e a fazer aproximações em torno da ideia de causalidade e transformação. (BRASIL, 2018). 55 Currículo Referência de Minas Gerais À medida que a professora considera as unidades de Educação Infantil como ambientes onde a curiosidade das crianças sobre o mundo físico e social pode alimentar a construção por elas de noções, comparações e implicações, ela as ajuda a construir explicações, conforme percebe seus gestos, sentimentos, intuições, seus motivos e sentidos pessoais nas respostas que elas dão. Nesse processo procuram articular o modo como as crianças agem, sentem e pensam com os conhecimentos já disponíveis na cultura sobre cada objeto de conhecimento. (BRASIL, 2018, p.93). Na interação e observação das crianças, o docente pode auxiliar as crianças a perceberem relações entre objetos e materiais, chamar-lhes a atenção para certos aspectos da situação, estimulá-las a fazer novas descobertas e construir novos conhecimentos a partir dos saberes que já possuem. O docente deve lidar com as opiniões infantis, acompanhando o constante esforço que cada criança faz para singularizar-se, e convidando-a, num processo contínuo, a construir uma sociedade mais solidária, inclusiva, equitativa e igualitária. As DCNEI/2009, no seu artigo 9º, destacam a importância de incentivar a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento e a indagação das crianças sobre o mundo que as cercam. O mesmo artigo destaca que devem ser garantidas às crianças experiências que “promovam a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da biodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra, assim como o não desperdício dos recursos naturais” (BRASIL,2009). É importante oferecer às crianças desde pequenas, oportunidades de explorar diferentes tipos de objetos, seres e materiais da natureza, fenômenos físicos, químicos e biológicos, bem como o meio ambiente e sua sustentabilidade. As crianças vão formulando e reformulando hipóteses e ideias explicativas sobre o mundo que as cercam, vão querendo saber “o porquê” das coisas, conhecendo-as, transformando-as e fazendo novas invenções. Portanto, a instituição de educação infantil deve promover junto às crianças constantes atividades exploratórias, contato com materiais diversos que permitam as crianças, através das interações e brincadeiras, pensar os mundos da natureza e da sociedade, incluindo os animais, as plantas, os objetos, a tecnologia, o comportamento humano e outros aspectos da cultura, assim, elas vivenciam de modo integrado, experiências em relação ao tempo, ao espaço, às quantidades, relações e transformações. 56 Currículo Referência de Minas Gerais Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento Na Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre tomando as interações e a brincadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto, constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. (BRASIL, 2017, p 42). Reconhecendo as especificidades dos diferentes grupos etários que constituem a etapa da Educação Infantil, os objetivos de aprendizagem e do desenvolvimento estão sequencialmente organizados em três grupos por faixa etária, que correspondem, aproximadamente, às possibilidades de aprendizagem e às características do desenvolvimento das crianças, conforme indicado na figura a seguir. Todavia, esses grupos não podem ser considerados de forma rígida, já que há diferenças de ritmo na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças que precisam ser consideradas na prática pedagógica. A Educação Infantil na BNCC está organizada em três grupos etários e seus objetivos de aprendizagem e desenvolvimento correspondem, aproximadamente, às possibilidades de aprendizagem e às características do desenvolvimento das crianças. Sendo assim, os diferentes ritmos de aprendizagem exigem atenção e flexibilidade por parte dos docentes na execução de sua prática pedagógica (BRASIL BNCC 2017). A estrutura abaixo explicita esses grupos etários e os objetivos de aprendizagem propostos: 57 Currículo Referência de Minas Gerais O EU, O OUTRO E O NÓS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (EI01EO01X) (EI02EO01X) (EI03EO01) Perceber que suas ações têm efeitos nas outras crianças, nos adultos e no ambiente. Demonstrar atitudes de respeito, de cuidado e de solidariedade na interação com crianças e adultos. Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir. (EI01EO02) (EI02EO02) (EI03EO02) Perceber as possibilidades e os limites de seu corpo nas brincadeiras e interações das quais participa. Demonstrar imagem positiva de si e confiança em sua capacidade para enfrentar dificuldades e desafios. Agir de maneira independente, com confiança em suas capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações. (EI01EO03X) (EI02EO03) (EI03EO03) Interagir com crianças da mesma faixa etária, de faixas etárias diferentes e adultos ao explorar espaços, materiais, objetos e brinquedos. Compartilhar os objetos e os espaços com crianças da mesma faixa etária e adultos. Ampliar as relações interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação. (EI01EO04) (EI02EO04) (EI03EO04X) Comunicar necessidades, desejos e emoções, utilizando gestos, balbucios, palavras. Comunicar-se com os colegas e os adultos, buscando compreendê-los e fazendo-se compreender. Comunicar suas ideias e sentimentos às pessoas e grupos diversos, incluindo o uso das tecnologias digitais. EI01EO05X) (EI02EO05) (EI03EO05) Reconhecer seu corpo e expressar suas sensações em momentos de alimentação, higiene, brincadeira, descanso e nas interações com o outro e com o meio. Perceber que aspessoas têm características físicas, diferentes, respeitando essas diferenças. Demonstrar valorização das características de seu corpo e respeitar as características dos outros (crianças e adultos) com os quais convive. (EI01EO06X) (EI02EO06) EI03EO06X) Interagir com outras crianças da mesma faixa etária, de faixa etária diferente e com adultos, adaptando-se ao convívio social. Respeitar regras básicas de convívio social nas interações e brincadeiras. Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida, vivenciando as tradições regionais e suas identidades culturais. (EI01EO07MG) (EI02EO07) (EI03EO07) Construir progressivamente sua identidade pessoal, desenvolvendo imagem positiva de si mesma, sentimento de autoestima, autonomia e confiança. Resolver conflitos nas interações e brincadeiras, com a orientação de um adulto. Usar estratégias pautadas no respeito mútuo para lidar com conflitos nas interações com crianças e adultos. 58 Currículo Referência de Minas Gerais CORPO, GESTOS E MOVIMENTOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (EI01CG01) (EI02CG01) (EI03CG01) Movimentar as partes do corpo para exprimir corporalmente emoções, necessidades e desejos. Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no cuidado de si e nos jogos e brincadeiras. Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música e outras linguagens. (EI01CG02) (EI02CG02) (EI03CG02) Experimentar as possibilidades corporais nas brincadeiras e interações em ambientes acolhedores e desafiantes, percebendo seus limites e potencialidades. Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas. Demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre outras possibilidades. (EI01CG03) (EI02CG03) (EI03CG03) Imitar gestos e movimentos de outras crianças, adultos e animais, desenvolvendo a capacidade de criar e imaginar. Explorar formas de deslocamento no espaço (pular, saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo orientações. Criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música. (EI01CG04) (EI02CG04) (EI03CG04) Participar do cuidado do seu corpo e da promoção do seu bem-estar. Demonstrar progressiva independência no cuidado do seu corpo. Adotar hábitos de autocuidado relacionados a higiene, alimentação, conforto e aparência, estimulando a independência. (EI01CG05) (EI02CG05) (EI03CG05) Utilizar os movimentos de preensão, encaixe e lançamento, ampliando suas possibilidades de manuseio de diferentes materiais e objetos. Desenvolver progressivamente as habilidades manuais, adquirindo controle para desenhar, pintar, rasgar, folhear, entre outros. Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas. TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (EI01TS01) (EI02TS01) (EI03TS01X) 59 Currículo Referência de Minas Gerais TRAÇOS, SONS, CORES E FORMAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) Explorar sons produzidos com o próprio corpo e com objetos do ambiente. Criar sons com materiais, objetos e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música. Utilizar sons produzidos por seu próprio corpo, materiais, objetos e instrumentos musicais durante brincadeiras de faz de conta, encenações, criações musicais, festas. (EI01TS02) (EI02TS02X) (EI03TS02) Traçar marcas gráficas, em diferentes suportes, usando instrumentos riscantes e tintas. Utilizar materiais variados com possibilidades de manipulação (argila, massa de modelar), explorando cores, texturas, superfícies, planos, formas e volumes ao criar objetos bidimensionais e tridimensionais. Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais. (EI01TS03) (EI02TS03) (EI03TS03) Explorar diferentes fontes sonoras e materiais para acompanhar brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias. Utilizar diferentes fontes sonoras disponíveis no ambiente em brincadeiras cantadas, canções, músicas e melodias. Reconhecer as qualidades do som (intensidade, duração, altura e timbre), utilizando-as em suas produções sonoras e ao ouvir músicas e sons. (EI01TS04 MG) (EI02TS04 MG) (EI03TS04 MG) Perceber e expressar por meio da produção das artes plásticas, visuais e corporais a imaginação, emoção e sensibilidade. Ter acesso à produção sócio cultural, apropriando-se do patrimônio histórico, artístico, científico, tecnológico e cultural. Desenvolver a sensibilidade estética apreciando diferentes produções artísticas e culturais. ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (EI01EF01) (EI02EF01) (EI03EF01) Reconhecer quando é chamado por seu nome e reconhecer os nomes de pessoas com quem convive. Dialogar com crianças e adultos, expressando seus desejos, necessidades, sentimentos e opiniões. Expressar ideias, desejos e sentimentos sobre suas vivências, por meio da linguagem oral e escrita (escrita espontânea) fotos, desenhos e outras formas de expressão. (EI01EF02X) (EI02EF02) (EI03EF02) Demonstrar interesse ao ouvir a leitura de poemas, outros gêneros e a apresentação de músicas e outras manifestações artísticas. Identificar e criar diferentes sons e reconhecer rimas e aliterações em cantigas de roda e textos poéticos. Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos. 60 Currículo Referência de Minas Gerais ESCUTA, FALA, PENSAMENTO E IMAGINAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Bebês (zero a 1 ano e 6 meses) Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses) Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses) (EI01EF03) (EI02EF03 A) (EI03EF03) Demonstrar interesse ao ouvir histórias lidas ou contadas, observando ilustrações e os movimentos de leitura do adulto leitor (modo de segurar o portador e de virar as páginas). Demonstrar interesse e atenção ao ouvir a leitura de histórias e outros textos, diferenciando escrita de ilustrações. Escolher e folhear livros e procurando orientar-se por temas e ilustrações e tentando identificar palavras conhecidas. (EI02EF03 B) Acompanhar, com orientação do adulto-leitor, a direção da leitura (de cima para baixo, da esquerda para a direita). (EI01EF04) (EI02EF04) (EI03EF04) Reconhecer elementos das ilustrações de histórias, apontando-os, a pedido do adulto- leitor. Formular e responder perguntas sobre fatos da história narrada, identificando cenários, personagens e principais acontecimentos. Recontar histórias ouvidas e planejar coletivamente roteiros de vídeos e de encenações, definindo os contextos, os personagens, a estrutura da história. (EI01EF05) (EI02EF05) (EI03EF05) Imitar as variações de entonação e gestos realizados
Compartilhar