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Nutririscursos por Iris Lengruber O Guia Alimentar para a População Brasileira como pilar da Nutrição Comportamental TRANSTORNOS ALIMENTARES Os Transtornos Alimentares são caracterizados por perturbações no comportamento alimentar, podendo levar ao emagrecimento extremo (caquexia - devido à inadequada redução da alimentação), à obesidade (devido à ingestão de grandes quantidades de comida), ou outros problemas físicos. Os principais tipos de Transtorno Alimentar são a Anorexia Nervosa e a Bulimia Nervosa, e ambos têm como características comuns: uma intensa preocupação como o peso e o medo excessivo de engordar, uma percepção distorcida da forma corporal, e a auto avaliação baseada no peso e na forma física. Alguns autores caracterizam os Transtornos Alimentares como síndromes ligadas à cultura de determinadas sociedades. O que evidencia esta hipótese é o fato de que a Anorexia e a Bulimia têm uma prevalência maior entre mulheres jovens de países ocidentais, principalmente as que pertencem às camadas sociais mais privilegiadas. Existem ainda outros diversos transtornos alimentares, um pouco menos descritos na literatura, mas não menos importantes. O que se observa é que nem toda dieta resulta em transtorno alimentar, mas quase todo transtorno alimentar começou com uma dieta. Além da obesidade, a nutrição comportamental trata esses transtornos alimentares também. Hoje, não só aumenta o número de transtornos alimentares como o de suas vítimas. Tanto que o último Congresso Brasileiro de Psiquiatria (CBP), que aconteceu no Rio de Janeiro, contou com uma sessão especial para discutir as diferentes formas desse problema se manifestar. Distúrbios alimentares, também chamados de transtornos alimentares, são condições complexas, nas quais as pessoas têm relação desvirtuada — e com diferentes características clínicas e psicopatológicas — com: - Os alimentos; - A autoestima; - A imagem corporal; - O peso. Essas perturbações no comportamento alimentar podem levar à obesidade, ao emagrecimento extremo ou a outros problemas graves de saúde. Quais são as causas? A etiologia dos Transtornos Alimentares está associada principalmente ao aspecto sociocultural, embora não se deva descartar os fatores biológicos, psicológicos e familiares. A pressão cultural por manter-se magro, seja apenas para atender à um padrão estético, ou pela exigência de certas profissões (moda, esportes), aliada à presença de uma baixa autoestima, tornam o www.nutririscursos.com.br Professora: Iris Lengruber e-mail: nutririscursos@gmail.com http://www.nutririscursos.com.br/ Nutririscursos por Iris Lengruber indivíduo mais propenso à desenvolver um quadro de Anorexia ou Bulimia, por exemplo. Quanto aos aspectos biológicos, sabe- se que o neurotransmissor chamado serotonina pode afetar o apetite, bem como o humor e o controle dos impulsos no indivíduo. Algumas pesquisas buscam investigar como os Transtornos Alimentares podem alterar os níveis de serotonina no cérebro, e também a maneira que o sistema nervoso projeta informações para o corpo sobre a fome e a saciedade. Por exemplo, a maioria das mulheres apresenta melhora do humor e do sentimento de bem estar depois de comerem, entretanto para as mulheres com anorexia, o não comer é que desencadeia a melhora do humor e do bem estar. Dentre os transtornos alimentares reconhecidos, os mais conhecidos são: picamalácia, vigorexia, anorexia, bulimia e ortorexia. Vamos falar melhor sobre cada um deles. Picamalácia Na literatura nacional e internacional, vários termos são utilizados para descrever a desordem alimentar conhecida como pica, caracterizada pela ingestão persistente de substâncias inadequadas com pequeno ou nenhum valor nutritivo, ou de substâncias comestíveis, mas não na sua forma habitual. Além desse, outros termos são propostos, tais como: picamalácia, picacia, picacismo, malácia, geomania, pseudorexia, entre outros – todos com diferentes graus de descontrole do apetite. Outra definição para pica refere-se ao gosto por alimentos esdrúxulos, condimentos raros ou substâncias estranhas. Dentre as perversões do apetite mais comuns encontram-se a pagofagia (ingestão de gelo), a geofagia (ingestão de terra ou barro), a amilofagia (ingestão de goma, principalmente a de lavanderia), o consumo de miscelâneas (combinações atípicas) e frutas verdes. No entanto, outras substâncias não alimentares também são referidas, como palitos de fósforo queimados, cabelo, pedra e cascalho, carvão, fuligem, cinzas, comprimidos de antiácidos, leite de magnésia, borra de café, bolinhas de naftalina, pedaços de câmara de ar, plástico, tinta, sabonete, giz, toalha de papel e, até mesmo, sujeira Esse transtorno é mais comum em crianças e mulheres grávidas. Seu nome é baseado no nome latim de um corvo famoso por comer de tudo. Vigorexia É a obsessão por um corpo musculoso e atraente, quase sempre em homens. Envolve um treinamento muscular obsessivo e alimentação voltada para a manutenção desse corpo com uso frequente de anabolizantes. É classificada junto com os transtornos alimentares por envolver um “disformismo” corporal reforçado pelo culto a imagem, o desenvolvimento de uma alimentação restritiva e hábitos patológicos com causas, consequências e tratamento semelhantes ao da anorexia e bulimia. Anorexia Nervosa Distúrbio alimentar que leva a pessoa a ter uma visão distorcida de seu corpo, que se torna uma obsessão por seu peso e aquilo que come. O principal sintoma é tentar manter-se num peso abaixo do normal por meio de jejum ou da prática excessiva de exercícios físicos. O problema pode afetar qualquer faixa etária ou gênero, mas é mais comum em mulheres jovens. A perda de peso impulsionada pelo transtorno é extremamente perigosa. Pode provocar baixas na imunidade, enfraquecimento dos músculos e dos ossos, interrupção da menstruação, arritmia Nutririscursos por Iris Lengruber cardíaca e convulsões. O quadro chega a ser inclusive fatal em 15% dos casos. A anorexia está ligada a origens psicológicas e fisiológicas e, uma vez instalada, atrapalha a ação hormônios que controlam o apetite, o que deixa a pessoa constantemente sem fome. O tratamento médico pode ser necessário para voltar a ter o peso normal. A psicoterapia visa ajudar na recuperação da autoestima e estabilizar as mudanças de comportamento. A abordagem comportamental do nutricionista será imprescindível para o sucesso. Ortorexia Nervosa É uma desordem alimentar, não classificada como um Transtorno Alimentar oficial, pois não tem critérios diagnósticos estabelecidos definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), mas tem sido sugerido. Trata-se de uma preocupação obsessiva por seguir uma alimentação saudável, que leva a restrições alimentares significativas. Quadro recente e de caráter paradoxal, que mostra o lado insalubre de um comportamento alimentar “obsessivamente saudável”. Diferentemente da anorexia ou da bulimia, pessoas que sofrem com ortorexia se dão ao direito de comer mas são obcecadas com a qualidade do que comem. Pessoascom ortorexia frequentemente demonstram preocupação excessiva com alimentos e com suas qualidades nutricionais; costumam ter uma dieta muito restritiva; apresentam excessiva preocupação com o que comeu ou com o que vai comer; têm muita curiosidade em saber as composições de cada alimento e como eles foram feitos; e demonstram ainda incapacidade de comer algo que não foi preparado por ela mesma. O melhor tratamento para esse distúrbio será acompanhamento psicológico e abordagem comportamental da dieta. OBESIDADE A obesidade é uma doença caracterizada pelo excessivo acúmulo de gordura corporal e normalmente está associada a problemas de saúde, comprometendo ainda mais o estado do indivíduo. A obesidade é ainda um fator de risco importante para o surgimento de doenças crônicas, dentre as quais podemos citar: alguns tipos de câncer, hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, apneia do sono, osteoartrite e diabete Melittus tipo dois; já que o acúmulo de gordura corporal leva a disfunções orgânicas importantes. Entretanto, o que se sabe hoje é que obesidade não é uma derrota pessoal. É uma doença. E até por isso se faz necessário tratamento multidisciplinar. Entendendo os aspectos da obesidade O ganho ou a perda ponderal se dão a partir sempre da mesma balança: se o consumo energético é maior que o gasto, haverá ganho de peso. Por outro lado, se o gasto energético for maior que o consumo, haverá perda de peso. Entretanto, no indivíduo algumas substâncias são cruciais na perda de peso ou no “fracasso” da dieta. Essas substâncias são conhecidas como hormônios. NPY (neuropeptídeo Y) O NPY (neuropeptídeo Y), é um neurotransmissor que indica aumento de apetite. O hormônio atua aumentando o apetite e com isso causa uma hipersecreção de insulina e de glicocorticoides. A leptina (outro hormônio que falaremos mais a frente) é ineficaz para reduzir a produção de NPY originando um fenótipo marcado pela Nutririscursos por Iris Lengruber deposição de gordura ou obesidade dependendo da ingestão alimentar desse indivíduo. Grelina A Grelina é um hormônio produzido pelo estômago que, no cérebro, aumenta a fome. Nos obesos, a Grelina costuma aparecer em quantidades menores que o normal. Acredita-se que isso acontece como uma reação do organismo na tentativa de se proteger da obesidade. Leptina A Leptina é outro hormônio envolvido na regulação do apetite (ingestão alimentar) e do balanço energético, costuma estar aumentada nos obesos. Ela é produzida pelas células adiposas, muito abundantes nessas pessoas. As células adiposas produzem leptina que se dirige ao cérebro e atua no hipotálamo. “Avisa” que já existe gordura acumulada e assim o indivíduo pode moderar a ingestão. Um circuito bioquímico perfeito “antiobesidade”, já que diminui o apetite e aumenta o gasto energético, mas que infelizmente não funciona em alguns indivíduos com sobrepeso. Isso se deve à ausência ou defeito no receptor de Leptina no hipotálamo. O que leva ao aumento do NPY (aumentando o apetite!) CCK (Colecistoquinina) Hormônio produzido e secretado no duodeno, pela presença de proteínas e gorduras das refeições. É responsável pela saciedade pós prandial. Atua ainda estimulando esvaziamento gástrico Privação do sono A privação do sono faz um desajuste endócrino capaz de aumentar a ingestão alimentar e consequentemente a massa Nutririscursos por Iris Lengruber corporal. Já que na ausência do sono se observa pouca Leptina e muita Grelina circulando, fazendo com que haja mais fome que saciedade. Um resumo das principais funções desses dois hormônios citados acima: Hormônios explicariam “efeito sanfona”? O Geneticista James Neel – 1962 descobriu o que chamou de “teoria do gene econômico”. Na qual alguns hormônios atrapalhariam a manutenção de peso, reduzindo o metabolismo energético e aumentando a produção de gordura. Isso seria uma programação metabólica do tempo das cavernas, na qual teria um gene responsável por estoque de energia. Ou seja: como não se sabia quando comeria novamente, aconteceria uma diminuição de gasto energético em tempo de escassez. Essa “vantagem” se tornou evolutiva e foi transmitida intacta por nossos ancestrais, e seria responsável pela obesidade nos dias atuais. Assim, apesar de ter comida abundante ao inteiro dispor, o corpo continua acreditando que precisa estocar energia para os tempos de fome. Na prática, seria assim: o indivíduo reduz a ingestão e/ou aumenta a atividade física, os hormônios aumentam o apetite e reduzem o metabolismo. Essa teoria parece fazer sentido para todo mundo que já tentou de tudo para emagrecer e não conseguiu – ou conseguiu mas engordou tudo de novo. A boa notícia, é que dando continuidade aos exercícios e reeducação alimentar, o NPY começa a cair, mesmo quando o peso entra num platô. A resistência insulínica também diminui. E em longo prazo se consegue uma regulação neuroendócrina da ingestão e do balanço energético. Ou seja, o corpo de adapta com o tempo. Hormônios da tireoide A glândula tireoide está localizada no pescoço, logo abaixo da laringe (cordas vocais). Ela produz dois hormônios, triiodotironina (T3) e tiroxina (T4), que regulam o metabolismo: maneira como o corpo usa e armazena energia. A função da tireoide é controlada pela glândula hipófise, localizada no cérebro. A hipófise produz o hormônio estimulador da tireoide (TSH), que induz a tireoide a produzir T3 e T4. No caso do hipotireoidismo o indivíduo produz muito pouco hormônio tireoidiano. Outro termo usado é "tireoide hipoativa." Nutririscursos por Iris Lengruber O hipotireoidismo é a doença mais comum da tireoide, ocorre mais frequentemente em mulheres e pessoas com mais de 60 anos de idade e tende a se repetir entre os membros da família. Os sintomas de hipotireoidismo podem incluir: cansaço / lentidão; depressão mental; sensação de frio; pequeno ganho de peso (apenas 2 a 4 kg); pele e cabelo secos; constipação; irregularidades menstruais. Esses sintomas não são exclusivos do hipotireoidismo. Um simples exame de sangue pode mostrar se os sintomas são devidos ao hipotireoidismo ou de alguma outra causa. Pessoas com hipotireoidismo leve podem não ter qualquer sintoma. Com o metabolismo mais lento e o mesmo consumo energético, pode haver o ganho de peso. Mas apenas 5% dos casos de obesidade têm causas tireoidianas. HISTÓRICO ALIMENTAR Há uns 40 anos atrás, o solo era mais rico em nutrientes; a alimentação era mais equilibrada, natural, valorizada, sem produtos químicos e no tempo certo. A qualidade ambiental era muito superior, e as pessoas obrigatoriamente se movimentavam mais (lavando roupa, capinando, colhendo, plantando...). Havia menor estresse social e a medicina era mais natural e integrada. Em contrapartida, hoje o solo está mais pobre em nutrientes, a alimentação anda desequilibrada, pouco natural, com excesso de químicos, fora de hora e sem tempo adequado. A qualidade ambiental é ruim e as pessoas estão cada vez mais sedentárias. Sem contar com o alto nível de estresse social e a medicina que está cada vez mais especializada e menos integrada. Nos tempos mais remotos o indivíduo tinha que caçar, pescar e colher o que a natureza oferecia para conseguir se alimentar. Com o avançar do tempo, o homem começou a dominar as técnicas agropecuárias. Agora então, ele não precisa comer apenas o que a natureza e a oportunidade lhe dão. Ele pode plantar oque deseja colher e criar os animais que desejar abater. Com a Revolução Industrial, veio a necessidade de aumentar a conservação dos alimentos, e com isso começaram a surgir os alimentos embalados: processados. Paralelo a esse movimento, a mulher veio ganhando mais espaço no mercado de trabalho. Com a mulher mais tempo fora de casa e com ninguém para assumir o papel dela (que era de dona de casa, que cozinhava para a família), houve um aumento expressivo no consumo de alimentos industrializados. A publicidade de alimentos ficou cada vez mais forte também, aumentando as vendas desse tipo de produto. Com o aumento da urbanização e com o avanço das tecnologias, aumentaram os hábitos sedentários. Com hábitos sedentários, consumo excessivo de alimentos industrializados e o aumento do estresse, aumentam os casos de obesidade e consequentemente o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis cada vez mais precoce. GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA Com o objetivo de promover a saúde das pessoas, famílias, comunidades e sociedade brasileira, o Ministério da Saúde publicou o Guia Alimentar Para a População Brasileira: um conjunto de informações e recomendações sobre alimentação Nutririscursos por Iris Lengruber saudável. Está na segunda edição (a primeira foi publicada em 2006). O Guia traz definições de alimentos in natura ou minimamente processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados. O Guia apresenta ainda os 10 passos para uma alimentação adequada e saudável: 1. Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação 2. Utilizar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias 3. Limitar o consumo de alimentos processados 4. Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados 5. Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, com companhia. 6. Fazer compras em locais que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados 7. Desenvolver, exercitar e partilhar habilidades culinárias 8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece 9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora 10. Ser crítico quanto a informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais QUAL A RELAÇÃO DO GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA COM A NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL? O Guia Alimentar Para a População é a ferramenta recomendado pelo Ministério da Saúde para orientação em relação à alimentação saudável e adequada. E o que se observa é que o Guia possui uma abordagem totalmente comportamental, quando deixa claro que nada é proibido, porém nem tudo convém; quando propõe mudanças de hábitos através do consumo de comida de verdade, e principalmente: fala da importância das relações interpessoais e sua relação com o ato de se alimentar. POR QUE AS DIETAS NÃO FUNCIONAM? Porque muito se fala (e conhece) sobre nutrição e alimentação, mas as pessoas não estão mais saudáveis. Simplesmente porque a orientação tradicional, focada em prescrição, não garante mudança de comportamento, que é a base para o sucesso duradouro. Infelizmente, o que se observa é uma tendência ao "nutricionismo" e ortorexia como focos na nutrição. E com isso observa- se cada vez mais indivíduos com relação “neurótica” com a comida A ABORDAGEM COMPORTAMENTAL Por muitos anos, a Nutrição foi baseada em uma abordagem mais racional e matemática dos alimentos: calorias, nutrientes e cálculos importavam muito! E se materializavam na forma de dietas, muitas vezes monótonas, cheias de regras, quantidades e proibições. Felizmente, hoje muitos profissionais já sabem o que é “nutrição comportamental”, e essa abordagem está se tornando cada vez mais aceita pelas pessoas. Hoje, já está claro que saber a quantidade de calorias que uma pessoa ingere diariamente não é suficiente, e nem é tão interessante saber esse número se a relação dela com a comida for ruim. Isso porque o comportamento diante da mesa e os hábitos alimentares são tão importantes quanto os nutrientes que a pessoa come. A nutricionista Sophie Sophie Deram é franco-brasileira, doutora pelo departamento de Endocrinologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Nutririscursos por Iris Lengruber autora do livro best-seller “O peso das dietas”. Ela sempre teve como objetivo mostrar que sim, o nutriente importa, mas que também é preciso comer em paz, sem culpa e ter prazer! Ela diz que fomos tão bombardeados com terrorismo nutricional nos últimos anos que já perdemos essa noção. E ela está com a razão. Um tempo depois, a nutricionista Marle Alvarenga, coordenadora do Grupo Especializado em Nutrição, Transtornos Alimentares e Obesidade (Genta) e uma das idealizadoras do Instituto Nutrição Comportamental foi uma das pessoas que recentemente ajudou a popularizar o tema. No entanto, o comportamento alimentar já vem sendo estudado há muitos anos por psicólogos e sociólogos, que vêm notando que as pessoas não escolhem os alimentos somente pela razão. Podemos dizer que passamos a saber o que é nutrição comportamental e a usar essa nomenclatura quando descobrimos que poderíamos mesclar todos esses conhecimentos. E desacreditamos na contagem de calorias e em dietas restritivas, dando mais importância em rever o estilo de vida como um todo e na reeducação alimentar. Premissas da nutrição comportamental Ser inclusivo, no qual todos os nutricionistas (independentemente de sua formação, área de atuação e “filosofia” de trabalho atual) podem encontrar novas estratégias, ferramentas e subsídios para sua prática profissional. Traz a proposta de outro modo de atuação, com uma visão ampla (que não visa discordar de “tudo que aí está”). Defende que todos os alimentos podem fazer parte de uma alimentação saudável - respeitadas as questões de quantidade e frequência – e defende ainda a alimentação pensada e planejada nos contextos fisiológico, cultural, social e emocional. Compactua com todas as diretrizes clássicas da nutrição, mas não se opõe totalmente à indústria de alimentos. Acredita que é possível realizar ações conjuntas para divulgação de estratégias e conhecimento, e também para comunicação inclusiva, abrangente e responsável sobre nutrição e saúde. A Nutrição Comportamental é a favor de uma comunicação e orientação nutricional que não se baseia em “dietas”. Acredita que a saúde depende de comportamentos saudáveis e não de um determinado peso – pois peso não é um comportamento e, portanto, não deve ser o foco de um tratamento nutricional (e sim uma possível consequência da mudança de comportamento). De acordo com a Nutrição Comportamental, o profissional tem que ir além dos horizontes biológicos e fisiológicos da alimentação, transmitindo seu conhecimento técnico e científico de maneira eficaz, proporcionando mudanças de comportamento, entendendo e se relacionando melhor com seus pacientes e se comunicando de forma ética com seus públicos. O nutricionista deve trabalhar muito mais com incentivos do tipo: “Você consegue”; “Um dia de cada vez”, que com autoritarismo e críticas. Comportamento e Atitude O comportamento alimentar é representado pelas ações e condutas alimentares regidas por um conjunto de cognições (pensamentos) e afetos. Nutririscursos por Iris Lengruber Papel do Nutricionista O papel do nutricionista na abordagemcomportamental deve ser de aconselhador, e não de prescritor. Utilizando técnicas de comunicação efetiva, ferramentas para garantir as mudanças de hábitos e dominando as teorias sobre cuidados além do nutriente. O foco está na resolução dos problemas seguindo um processo no qual o paciente estabelece metas e objetivos de maneira colaborativa com seu nutricionista, a fim de trabalhar comportamentos, o que irá resultar na alteração de emoções e sentimentos. Mindful eating – Comer Intuitivo Comer com atenção plena, ou comer intuitivo. A proposta é que as pessoas aprendam a atender seus sinais internos de fome e saciedade mantendo uma sintonia com a comida, a mente e o corpo e sejam menos influenciadas por fatores externos (modelos atuais de beleza, dietas, crenças alimentares, profissionais da área de saúde, mídias sociais, etc). Expert do próprio corpo, ninguém tem como saber quais são nossos pensamentos, sentimentos, se estamos ou não com fome e o que nos satisfaz naquele determinado momento. Os três pilares do Comer Intuitivo 1. Permissão incondicional para comer – uma vez que não é proibido, não preciso comer muito, pois sempre que quiser, pode comer novamente. 2. Atender aos sinais de fome e saciedade – não comer nem de mais nem de menos. Apenas o suficiente para ficar saciado e ter conforto. 3. Comer por razões físicas e não emocionais – estar atento à fome fisiológica e emocional. Os dez princípios do Comer Intuitivo 1. Rejeitar a mentalidade da dieta Levar o indivíduo a normalizar sua relação com a comida, esquecendo livros de dieta e artigos de revista que ofereçam a falsa esperança de perda de peso rápida, fácil e permanente. No atendimento clínico, é hora de explorar crenças sobre dietas; discutir efeitos da dieta (com histórico dos pacientes) e explorar como as dietas interferiram na vida dele. 2. Honrar a fome Manter o corpo alimentado apenas com energia suficiente. Orientar que se deixar atingir o ponto máximo da fome, todas as tentativas de moderar e comer conscientemente podem se tornar ineficazes. 3. Fazer as pazes com a comida Quando é dito que "não pode" ou que "não deve" comer determinado alimento, isso poderá intensificar os sentimentos de privação e gerar vontades incontroláveis. Esse tipo de comportamento costuma levar a Nutririscursos por Iris Lengruber compulsões alimentares. A permissão incondicional para comer ajuda a fazer as pazes com a comida. 4. Desafie o "policial da comida“ Dizer "não" aos pensamentos que falam que você é "bom" quando come o mínimo de calorias ou "ruim" porque você comeu um pedaço de torta de chocolate. Espantar o "policial da comida" é um importante passo para se reconectar com o comer intuitivo. 5. Respeitar a saciedade Escutar os sinais do corpo quando demonstrar saciedade ou fome ainda. Parar na metade da refeição e se perguntar qual é o sabor da comida e como anda o seu nível de saciedade pode ser uma boa estratégia. 6. Descubra um momento de satisfação Quando você come o que realmente quer, em um ambiente convidativo, a satisfação promovida se tornará uma força poderosa na percepção da saciedade e do contentamento. 7. Honre os sentimentos sem a comida Encontrar maneiras de alívio, estímulo, distração e resolver problemas sem usar a comida. Ansiedade, solidão, tédio e raiva são emoções que todos vivenciam ao longo da vida. Cada uma delas tem seu próprio início e fim. A comida não consertará nenhum desses sentimentos. Comer motivado pela emoção: escolhas alimentares são influenciadas por como nos sentimos no momento da refeição. Comer emocional: escolher comida numa tentativa de mudar o estado emocional. Nesse caso geralmente não se sabe diferenciar a sensação de fome de outras sensações corporais. Pode começar na infância - expressão de amor ou premiação. É importante saber diferenciar a fome física, fisiológica da fome emocional. 8. Respeite seu corpo e aceite sua genética Fica muito difícil rejeitar a mentalidade de dieta se existem expectativas fantasiosas e se é extremamente crítico com relação a própria forma corporal. É importante respeitar o corpo para aumentar a autoestima e respeito próprio. 9. Se exercitar Ser ativo e sentir a diferença. Mudar o foco para como se sente movendo o corpo, em vez de quantas calorias se gasta fazendo o exercício. Se, a única meta é perder peso, não haverá motivação suficiente para sair da inércia. Nutririscursos por Iris Lengruber É importante encontrar uma atividade que dê prazer. A atitude perante a si sobre o exercício que está sendo praticado é importante para a concentração na atividade. Mente integrada ao corpo durante o exercício - estar presente, com atenção plena voltada para a atividade = capacidade de sentir o corpo e dosar a quantidade. Dicas para praticar exercícios de forma saudável e efetiva: Avaliar a motivação para se exercitar; Fazer atividades que tragam prazer; Nunca focar no conceito de calorias para realizar atividades; Se alimentar com energia necessária e adequada; Reservar e fazer ser prioritário o tempo na agenda para se cuidar 10. Honre sua saúde Usar os conhecimentos nutricionais de forma flexível permite que se faça escolhas alimentares que honrem a saúde enquanto faz se sentir melhor. Ninguém precisa de uma dieta perfeita para ser saudável. Ninguém ficará repentinamente com alguma deficiência nutricional, ou ganhará peso em um único lanche, em uma única refeição, ou em um único dia. Papel do Nutricionista Fazer uma comunicação mais responsável e inclusiva que estabeleça vínculos, segurança e respeito. Incentivar hábitos saudáveis e não apenas alimentação saudável ATIVIDADES PRÁTICAS BASEADAS NAS TÉCNICAS DE NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL ATIVIDADE 1 - “Diagrama dos círculos” – metas atingíveis Ajuda o indivíduo a estabelecer metas. As metas são definidas e redefinidas durante todo o tratamento. Podem ser definidas em conjunto, na consulta, ou em casa pelo paciente. As metas devem ser definidas de acordo com o motivo que o levou ao consultório e devem ser atingíveis. Ideal deixar algumas metas em branco, para que o paciente possa buscar novas metas para as próximas consultas. O paciente deve escolher uma meta para começar. O nutricionista pode ajudar com essa escolha e depois desenvolver o plano de ação. O resultado desejado e uma mudança de comportamento. Exemplo de plano de ação para a meta “tomar café da manhã”: 1. A mudança que eu quero fazer é possível e viável? 2. Quais são os motivos para essa mudança? 3. O que quero alcançar com essa mudança? 4. Como eu planejo para fazer essa mudança? Nutririscursos por Iris Lengruber A partir desse passo, o nutricionista vai auxiliar com o planejamento para que entre verdadeiramente na rotina: 5. Quais estratégias e instrumentos eu planejo usar? Pensar no que comer, dar opções... 6. Quais são os planos para os momentos difíceis? Dar opções para situações que dificultem o processo – por exemplo, acordar atrasado 7. Como outras pessoas do meu convívio podem me ajudar? Identificar pessoas que podem auxiliar a comprar, arrumar, estar junto... Como acompanhar o progresso: No retorno, é importante que o nutricionista inicie a conversa retomandoa meta proposta. Perguntar como ele avalia o progresso geral desde a última consulta. Perguntar o que foi bem e o que não foi tão bem assim. Se ele está disposto a continuar tentando, e o que ele pode fazer para ser melhor dessa vez. O nutricionista deve refletir e resumir sobre as respostas do paciente e dialogar sobre as conquistas e as dificuldades. O profissional deve saber interpretar discursos que podem sinalizar diversas questões. Por exemplo: “Não consegui tomar o café da manhã, pois tive uma semana muito estressante, apesar de minha esposa ter comprado os alimentos” Esse típico discurso pode demonstrar resistência. É hora de renovar a motivação, sugerir novas soluções, não deixar o paciente se sentir fracassado e pensar juntos se vale partir para uma nova meta ou insistir nessa. ATIVIDADE 2 - “Odômetro da fome” Essa atividade tem como objetivo explicar os conceitos de fome e saciedade. É sugerida para indivíduos que tendem a comer demais numa mesma refeição, ou que relata estar sempre com fome Orientar que o ideal é se alimentar entre o nível 4 e 6. Treinar para que consiga comer com tranquilidade, sem muita fome, e sem estufamento, encontrando assim o meio termo! Importante salientar que todo esse processo tem que ser totalmente sem neuras!!! ATIVIDADE 3 – “Habituação Sistemática” Essa atividade tem o objetivo de auxiliar o indivíduo a se habituar e a fazer as pazes com diferentes tipos de comida. É importante identificar o alimento, falar sempre sobre comer sem culpa e trabalhar até eliminar o “proibido”. A experiência pode ser feita em casa, num restaurante ou até no consultório, se o paciente preferir. Seguir o seguinte roteiro: Escolha o alimento exato que te faz sentir culpado (tamanho, marca, sabor...). Escolha a forma e lugar que fará isso – tem que ser sem estresse – talvez sozinho seja melhor. Faça as seguintes anotações: 1. Como ficou antes (curioso, ansioso, preocupado, medo)? Nutririscursos por Iris Lengruber 2. Durante: sabor, textura, tato. Correspondeu às expectativas? 3. Te fez lembrar de algum momento afetivo? 4. Após: faria de novo? Faria algo diferente? Os resultados ... O fato de estar comendo o que não é mais proibido, muitas vezes muda a percepção de sabor do alimento. Se o alimento faz ligação afetiva com algum momento de vida ou laços pessoais, não deixará de existir na dieta, mas agora não é mais proibido! ATIVIDADE 4 – Fazer as pazes com a comida Essa atividade tem como objetivo ajudar o paciente a assumir uma postura de “neutralidade” com a comida, evitando o “certo ou errado”, “engorda ou não engorda” Pense em todos os alimentos que você adora comer, sem julgamentos de serem saudáveis ou não; Faça uma lista com os preferidos – da maçã ao brigadeiro! Agora circule com cores diferentes os alimentos da lista que você considera perigosos ou proibidos, ou que geram medo, ansiedade, culpa... Depois, faça a seguinte reflexão com o paciente: Se você se permitir comer todos os alimentos que deseja, sem culpa ou julgamento, do que você tem medo? Respostas mais comuns: Medo de ganhar peso; Medo de perder o controle; Medo de prejudicar a saúde... A partir daí, pode-se escolher esses alimentos para a dinâmica de comer sem culpa. O nutricionista deve encorajar o paciente, para que ele entenda que será necessário dizer sim, para depois conseguir dizer não. ATIVIDADE 5 – Comer Emocional O objetivo dessa atividade é ajudar as pessoas a identificar situações em que comem em respostas às suas emoções e propor que criem comportamentos alternativos para atender às necessidades que não estejam relacionados à comida. O nutricionista deve propor que o paciente use a tabela (exemplo a seguir), e deve orientá-lo a pensar sobre o que pode ter acontecido ao longo do dia, quando perceber que está comendo ou com vontade de comer emocionalmente. Numa próxima consulta, podemos perguntar qual situação o paciente fica feliz ao vivenciar, que vamos sugerir como comportamento alternativo: ATIVIDADE 6 – Associando sentimentos a comportamentos O objetivo desse estudo é ajudar o indivíduo a identificar seus sentimentos e associá-los ao seu dia para que perceba as razões de estar como está e aprender a não usar a comida para suprir suas necessidades O paciente deve ser orientado a preencher essa tabela toda vez que quiser restringir demais; comer demais, ou quando tiver um desejo intenso por algum alimento. Utilize escalas de 0 a 10 para classificações: Nutririscursos por Iris Lengruber Com a tabela preenchida, ajudar o indivíduo a perceber se o sentimento, desejo de comer, ou de restringir, se relacionam com o grau de estresse, fata de sono, ou outras emoções e necessidades. ATIVIDADE 7 – Atribuição de valores O objetivo dessa atividade é ajudar o indivíduo a refletir e se conscientizar de seus valores. O nutricionista deve iniciar a atividade sugerindo que o paciente pense em características que valoriza a si mesmo, e que não tem nada a ver com aparência. Caso não encontre sozinho, fale para ele pensar em elogios que já recebeu (que não tenham nada a ver com o corpo) Deve-se evitar exemplos, mas se for necessário, ajude. Reflexão após exercício: O quanto você percebe suas qualidades? Como usa seus atributos nas situações de dificuldades? Não tem objetivo de aumentar autoestima, mas aprender a reconhecer e usar seus atributos em situações de dificuldades. ATIVIDADE 8 – 12 Maneiras de amar seu corpo O objetivo dessa atividade é incentivar o paciente a perceber seu corpo com amor e compaixão, sem evidenciar suas insatisfações. A proposta é entregar a lista ao paciente e sugerir que carregue com ele. Para ler sempre que começar a se depreciar ou ter pensamentos negativos em relação ao seu corpo. 12 maneiras de amar seu corpo: 1. Nascemos amando nossos corpos. Um bebê sugando os dedos dos pés, não está preocupado se aquele corpo é gordo – tente se amar dessa forma; 2. Pense no seu corpo como um templo: crie uma lista de coisas que pode fazer com ele; 3. Seja consciente que ele é instrumento de sua vida, não da vida dos outros; 4. Faça uma lista de pessoas que admira, que contribuem para a sociedade e para o mundo – quanto sua aparência importa para seu sucesso e realização? 5. Curta seu corpo – dance, caminhe, cante, tome um banho de espuma, faça massagem... 6. Não deixe sua figura externa te afastar das coisas que gosta de fazer; 7. Conte mais suas vitórias que suas falhas; 8. Deixe brilhar sua individualidade e beleza inatas; 9. Olhe para as fotos de família. Encontre a beleza, o amor, os valores em cada corpo e rosto – guarde isso no coração. 10. Se você tivesse apenas mais um ano de vida, o quão seria importante sua imagem corporal? 11. Faça uma análise do seu guarda- roupa: você usa roupas para esconder seu corpo ou para estar na moda? Mantenha apenas o que te dê conforto 12. Beleza não é superficial. Ela reflete o todo. Ame, cultive e curta a pessoa que você é. ATIVIDADE 9 – “Meditação” do chocolate O objetivo dessa atividade é aprender a comer com atenção plena. Nutririscursos por Iris Lengruber Sugerir que o paciente faça o exercício no dia escolhido, com o chocolate (ou outro alimento que ame) escolhido, em casa, ou onde achar que terá tranquilidade. Roteiro para o exercício (pode utilizar uma música para meditação ou que acalme): Coloque-se em uma posição confortável, respirefundo e comprometa-se a usar todos os sentidos nesse exercício; Desembrulhe o chocolate lentamente, prestando atenção no barulho do papel; Observe a cor, formato e textura do chocolate; Leve o chocolate ao nariz e respire profundamente algumas vezes – perceba as sensações com o cheiro do chocolate Dê uma pequena mordida no chocolate, e deixe-o por alguns momentos em sua língua; Não mastigue direto; Pense em algumas características que possam descrever o sabor do chocolate nesse momento – doce, amargo, suave... Perceba também os sentimentos – sensações, memórias que possam surgir – mesmo que sejam negativos, como a culpa. Agora mastigue o chocolate, perceba o som da sua mandíbula quebrando o chocolate em pedaços menores – é crocante? É macio? Perceba agora a sensação na garganta, enquanto engole devagar... Faça isso até acabar o chocolate ou você não querer mais. REFLEXÃO SOBRE A EXPERIÊNCIA Você ficou surpreso com a intensidade de prazer que se pode obter com um pequeno pedaço de chocolate? Comendo dessa forma, teve o gosto que sempre teve antes? Você gostaria de mudar a maneira como come um chocolate? Esse exercício pode ser feito com qualquer alimento que o paciente tenha dificuldade de comer de forma consciente. ATIVIDADE 10 – Identificando e reestruturando pensamentos negativos O objetivo dessa atividade é ajudar o paciente a reestruturar os pensamentos negativos automáticos em perspectivas mais positivas e realistas. Exemplo de situação: ATIVIDADE 11 – O tamanho da vontade O objetivo dessa atividade é identificar a intensidade da vontade de comer, para pensar melhor sobre as decisões de comer ou não. Nessa atividade o paciente começa a se fazer perguntas, e as respostas vão guiando as decisões – como uma “árvore decisória”. Quando aparecer o desejo de comer, se perguntar: 1. É fome? Fome não é específico. Não temos fome de coxinha ou chocolate. Temos fome de qualquer alimento que mate a fome. Então se pergunte: eu comeria agora um ovo cozido, uma maçã ou uma cenoura crua? Nutririscursos por Iris Lengruber Se a resposta for sim: coma adequadamente pensando na sua fome Se a resposta for não: passe para a próxima pergunta 2. É vontadezinha? Essa vontade é aquela relacionada a uma situação social. Aparece quando o alimento está disponível. Você não estava percebendo a fome, nem havia pensado em comer, mas depois que viu, quis. Aparece quando sente o cheiro, escuta falar, vê... “FOME SOCIAL” – um bom exemplo é a pipoca do cinema. Se a resposta for sim: coma adequadamente pensando o quanto realmente precisa e se pode consumir uma pequena porção Se a resposta for não: passe para a próxima pergunta 3. É vontade? Essa vontade é aquela específica, mas não é urgente. Tem relação com prazer, preferência, experiência... Envolve o comer devagar e quantidades não exageradas. Então se pergunte: consigo me planejar para comer mais tarde ou daqui a alguns dias? Se a resposta for sim: coma com prazer, curtindo cada mordida, sem culpa. Se a resposta for não: passe para a próxima pergunta. 4. É vontadezona? Quando as demais perguntas não são verdadeiras, ou seja, QUERO COMER, mas sei que não é fome física, social nem vontade específica. Também chamada de “fome emocional”. É uma vontade urgente de comer qualquer coisa gostosa que eu não sei bem o que é. Geralmente está ligada a falta de controle, comer rápido, grande quantidade e não conseguir parar. Muitas vezes se origina do acúmulo de vontades que não foram respeitadas e aceitas, gerando dessa forma um pensamento restritivo e come-se de forma impulsiva. ATIVIDADE 12 - aprendendo com a compulsão O objetivo dessa atividade é refletir sobre um episódio de exagero ou compulsão e aprender o que pode ser diferente em uma próxima situação. Explicar ao paciente que ao invés de se sentir derrotado após um episódio de compulsão, a situação pode ser significativa se ele estiver disposto a refletir sobre ela. Antes da compulsão O que me parece ter sido o gatilho? Eu estava vulnerável porque estava com fome, estressado, atarefado, cansado? Será que eu tive pensamentos negativos automáticos? Será que tive necessidade e não estava disposto a lidar, como: Me permitir fazer uma pausa ou “tirar uma soneca”. Estabelecer limites no trabalho, com amigos e/ou família. Me permitir dizer “não”. Durante a compulsão Você se manteve presente e conectado durante a compulsão? Você saboreou todas as mordidas/garfadas? Nutririscursos por Iris Lengruber Em algum momento você percebeu que a comida não estava tão saborosa ou boa? Depois da compulsão O que eu poderia ter feito diferente? Respeitar minha vulnerabilidade; Dizer “não”; Mudar de ambiente; Garantir minha saciedade ao longo do dia; Dormir direito VAMOS FALAR DE EMPATIA? Empatia não é algo que se exerça de fora para dentro, de uma pessoa para outra. Empatia é estar dentro de outra pessoa. Sentir o que ela sente, pensar o que ela pensa. Isso precisa ser exercitado diariamente. A falta de empatia nos faz pessoas piores: julgamos ao invés de ajudarmos. Para a prática comportamental é necessário ter um relacionamento intenso com o paciente e exercitar constantemente a empatia. Entendendo os problemas e as dificuldades dele é que vamos conseguir êxito no tratamento. REFERÊNCIAS: ALVARENGA et al. Nutrição Comportamental. Barueri-SP. Editora Manole, 2015. BAYS, JC. Mindful eating- a guide to discovering a healthy and joyful relationship with food. 1. ed. Boston & London: Shambhala, 2009. p. 1-208. HIRAYAMA, Marcio Sussumu et al. A percepção de comportamentos relacionados à atenção plena e a versão brasileira do Freiburg Mindfulness Inventory. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 19, n. 9, p. 3899-3914, set. 2014. Nutrição e Comportamento uma abordagem diferenciada -Annie Bello. POLLAN, M. Em defesa da comida. Editora Intrinseca, 2008. Prochaska, JO. Systems of Psychotherapy: A Transtheoretical Analysis. 2nd ed. Pacific Grove, California, 1984.
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