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Técnicas avançadas de obturação endodôntica 46 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 TÉCNICAS AVANÇADAS DE OBTURAÇÃO ENDODÔNTICA Advancedtechniques for fillingendodontic Lívia Hoy MIRANDA1 liviahoy@hotmail.com Wânia Christina Figueiredo DANTAS2 w.dantas@hotmail.com Carolina MATTAR3 mattarcarolina@gmail.com RESUMO A completa obturação do sistema de canais no nível da junção cemento-dentinária é uma importante meta a ser buscada no tratamento endodôntico. Para se atingir este objetivo, acredita-se que o material deva selar apicalmente e lateralmente o espaço pulpar. A obturação dos canais radiculares, entretanto, faz por merecer uma atenção especial, sendo considerada um reflexo da qualidade do tratamento imposto pelo profissional já que ela poderá ser tão boa quanto os procedimentos anteriormente permitirem. Através dos tempos, vários foram os materiais e técnicas empregados com a finalidade de obturar os canais radiculares na busca de encontrar aquele que fosse o ideal, ou seja, aquele que oferecesse conjuntamente boas propriedades biológicas e físico-químicas (PÉCORA, 2010). Segundo Leonardo (1998), os trabalhos mostram que os insucessos estão intimamente relacionados a canais mal obturados, o que justifica a tendência de se dar maior ênfase e mesmo a importância superior a esta fase do tratamento endodôntico, pois dela depende do êxito final. A fim de sanar os problemas existentes nesta etapa do tratamento endodôntico, Schilder descreveu uma técnica de condensação vertical aquecida com o intuito de preencher o canal com um material mais homogêneo, dizendo ainda que nenhuma outra técnica permitia uma obturação das ramificações do sistema de canais radiculares com tal freqüência como a guta percha aquecida. A partir daí, novas técnicas foram e vem sendo pesquisadas (CAVITONE, 2010). Palavras-Chave: Obturação Endodôntica. Guta Percha Aquecida. Técnicas Avançadas. ABSTRACT The complete obturation of canals at the level of cement-dentin junction is an important goal to be sought in the endodontic treatment. To achieve this goal, it is believed that the material should be apically and laterally sealing the pulp chamber. The root canal filling, however, does for special attention, being considered a reflection of the quality of care imposed by the trader as it can be as good as the procedures previously allow. Through the ages, various materials and techniques have been employed for the purpose of sealing the root canals in the search to find one that would be ideal, ie, one that offers good together biological and physicochemical properties. (PÉCORA, 2010). According to Leonardo, Leal (1998), studies show that failures are closely related to poorly filled channels, which explains the tendency to give greater emphasis and importance than even this phase of endodontic treatment, because it determines the ultimate success. In order to solve the existing problems in this stage of endodontic treatment, Schilder described a heated vertical condensation technique in order to fill the canal with a material homogeneous in May, adding that no other technique allowed a filling of offshoots of the root canal system with such frequency as the heated guttapercha. Since then, new techniques have been and are being researched (CAVITONE, 2010). Keywords: Shutter Endodontic. Heated GuttaPercha.AdvancedTechniques. 1 Aluna de Especialização em Endodontia. Instituto de Ensino Superior - FAIPE. 2 Especialista em Dentistica FOB/USP- Bauru e Endodontia FUNCRAF/USP (Centrinho)- Bauru; Mestranda em Endodontia - Sao Leopoldo Mandic - Campinas/SP; Coordenadora dos cursos de Especialização em Endodontia FAIPE/IPE e TO, INGÁ/Porto Velho-RO. 3 Mestre em Ortodontia; Especialista em Ortodontia pela UNIC-MT; Professora do curso de especialização em Ortodontia da Faculdade FAIPE. Técnicas avançadas de obturação endodôntica 47 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 1 INTRODUÇÃO O principal objetivo do tratamento endodôntico é uma eficiente limpeza do canal radicular a fim de eliminar restos teciduais, microorganismos e ao mesmo tempo dilatá-lo para que seja possível realizar uma obturação tridimensional impermeável, isolando o sistema de canais do resto do organismo. Todas as fases técnicas do tratamento endodôntico constituem uma sequência lógica e interdependente se, por qualquer razão uma etapa for negligenciada, as subseqüentes poderão ficar de tal forma comprometidas que o caso poderá se transformar num fracasso indesejável. A etapa do preparo do canal radicular é considerada fundamental para o sucesso do tratamento endodôntico. Os aspectos anatômicos são as grandes dificuldades encontradas durante o preparo, como curvaturas e atresias. Isto é um fato imutável , pois independe da técnica utilizada ou destreza do profissional. Mas, conhecer a anatomia dental externa e interna, consequentemente a anatomia dos canais radiculares é um dos fatores determinantes para o sucesso do tratamento endodôntico. Porém, Yamada et al. (1983) observaram que as bactérias podem se manter na smearlayer e nos túbulos dentinários após a instrumentação dos canais radiculares e, então, sobreviverem e se multiplicarem. A efetividade de vários métodos de limpeza dos canais vem sendo estudada, mas a maioria dos pesquisadores concorda que não há um instrumento ou técnica capaz de produzir alargamento do canal sem que se produza raspas de dentina e, consequentemente se forme a smearlayer. A capacidade da smearlayer de agir como uma barreira física para as bactérias e seus subprodutos, impedindo-os de penetrar na dentina foi demonstrada por alguns autores (DRAKE et al., 1994). Diversas soluções irrigadoras têm sido aplicadas com as principais funções de lubrificação das paredes dentinárias, dissolução de matéria orgânica, remoção de microrganismos e de smearlayer. O preparo biomecânico do canal radicular destina-se a sanificação e modelagem do sistema endodontico. Atualmente a técnica de instrumentação Crown Down ou, Coroa-Apice, tem sido mais utilizada, pois promove um pré-alargamento do corpo do canal, em seu terço médio, e com isso se torna mais retilíneo à região Técnicas avançadas de obturação endodôntica 48 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 apical, facilitando assim seu preparo, reduzindo a probabilidade de acidentes e permitindo melhor irrigação e obturação dos canais. O uso dos instrumentos rotatórios de Ni-Ti agilizam esse processo. A solução irrigadora utilizada deve apresentar propriedades: detergentes para limpeza, bactericidas para desinfecção e baixa tensão superficial. Por isso o hipoclorito de sódio é muito utilizado para irrigação e inundação do canal radicular durante toda instrumentação. O uso do EDTA 17% destina-se a remoção do smearlayer produzido durante o processo de instrumentação e citado acima, ajudando assim a expor os canalículos dentinarios para melhor atuação da medicação intra-canal e vedamento do canal pelo material obturador. Por eleição a guta percha tem sido aceita pelos endodontistas como o melhor material utilizado para a obturação do sistema de canais radiculares. Como salientado por Souza et al. (1997) na escolha dos materiais obturadores, a estabilidade dimensional e a capacidade do vedamento são de fundamental importância para o sucesso da obturação, sustentando a desinfecção obtida na fase do preparo químico cirúrgica. Há dois tipos de guta-percha: fase alfa e fase beta. A guta-percha fase beta possui um alto ponto de fusão, grande viscosidade e não tem características de adesividade e também possui maior quantidade de oxido de zinco, o que proporciona maior dureza ao cone de guta-percha. A guta-percha fase alfa possui um baixo ponto de fusão, baixa viscosidade, alta adesividade e o cone é mais flexível devido à concentração de oxido de zinco ser menor do que na fase beta.Estudos apresentados por Cohen et al. (1998) mostraram que o uso da guta percha sem o cimento obturador mostrou falhas no selamento completo do canal. Isto não ocorre quando do uso do cimento obturador, que é necessário para aderir a guta percha à dentina preenchendo possíveis irregularidades. Segundo Rapisarda et al. (1999), as técnicas de obturação termoplastificadas foram introduzidas no mercado na busca de uma melhor homogeneidade, obturação tridimensional e adaptação superficial da guta percha. Porém, alguns estudos provaram que o selamento hermético apical tão esperado não foi ainda atingido por esta técnica. Técnicas avançadas de obturação endodôntica 49 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 Alguns autores como Ingle e Lee complementaram a obturação com técnicas de condensação, principalmente a lateral, onde esta resultou no completo selamento apical, além de ser eleita, ainda hoje, uma das técnicas mais usadas na endodontia. Entretanto, outros estudiosos como Weller et al.5 questionam esta técnica pela capacidade de replicar a superfície interna do canal já que foram observadas a presença de vácuos, fusão incompleta da guta percha e falhas na adaptação superficial após a obturação (CAVITONE, 2010). Dentre as técnicas de obturação existentes, a de condensação lateral tem sido a forma mais amplamente utilizada. Porem ela apresenta algumas limitações, e uma dela é o fato de o cone de guta-percha não possuir adesividade. O seu estado, tido como solido, não permite uma adesão às paredes do canal, como dos cones entre si.Outra limitação é a sua incapacidade de se moldar e penetrar em espaços reentrâncias, canais laterais, zonas de reabsorção, delta apicais, istmos, sendo esse papel desempenhado pelos cimentos. Como estes são solúveis, a obturação não cumpriria o seu objetivo maior: selamento perfeito e duradouro. As técnicas termoplásticas de obturação estão indicadas nos casos em que o sistema de canais radiculares possuem irregularidades em que a técnica de condensação lateral não seria adequada para suprir a necessidade do selamento apical ideal. OBJETIVO O objetivo deste trabalho é descrever as diversas técnicas de obturação dos canais radiculares já consagradas e as mais avançadas. REVISÃO DE LITERATURA A História da Odontologia, de acordo com Prinz (1912), registra a obturação dos canais radiculares desde os tempos remotos da prática conservadora dessa ciência, refletindo a preocupação nesse sentido dos profissionais da Odontologia. Callahan (1914) utilizou a placa de guta-percha associada ao clorofórmio, a qual, após ligeira modificação, foi proposta sob a forma de um cone sólido de guta-percha associado à essa solução química. A resina vegetal guta-percha é um material que, nos dias atuais, é amplamente utilizado para os mais variados fins na Odontologia, Técnicas avançadas de obturação endodôntica 50 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 notadamente como material obturador dos canais radiculares, associada a outras substâncias. O objetivo da obturação de um canal radicular consiste em manter o tecido periapical sadio (BUCKLEY, 1929). Segundo o autor, devido à impossibilidade de se esterilizar toda a massa canalicular da dentina, as extremidades internas dos canalículos devem ser hermeticamente seladas para prevenir a infecção ou reinfecção dos tecidos periapicais. Mcelroy (1955) descreveu, no seu trabalho, uma série de substâncias que foram utilizadas para obturar hermeticamente os canais radiculares, objetivo esse que já preocupava os profissionais da Odontologia do século passado, mais precisamente em 1840. McELROY revela, no seu trabalho, que a guta-percha foi introduzida na Singapura, por José D’Almedia, a partir de observação do seu uso pelos nativos daquela localidade. Segundo o autor, o material em tela tem coloração próxima ao branco, quando em estado natural, é difícil de cortar e não possui resistência. A sua temperatura de plastificação está compreendida no intervalo de 50 a 70 graus centígrados. É insolúvel em água, soluções salinas ou alcalinas e ácidos diluídos, ao passo que é atacada pelos ácidos concentrados nítrico e sulfúrico. O ácido nítrico provoca a sua efervescência e faz com que ela perca as suas propriedades. Absorve o oxigênio lentamente quando exposta ao ar e à luz, tornando-se endurecida e quebradiça. Do ponto de vista químico, a guta-percha é um politerpeno e hidrocarboneto polimerizado. Os materiais OBTURADORES de canais devem, de acordo com Grossman, Shepard e pearson (1974), apresentar as seguintes propriedades: 1. Deve ser fácil de ser introduzido no canal radicular. 2. Deve obliterar o canal, tanto lateral como apicalmente. 3. Depois de inserido, não deve apresentar contração. 4. Deve ser impermeável à umidade. 5. Deve ser bacteriostático ou pelo menos impróprio ao crescimento microbiano. 6. Deve ser radiopaco. 7. Não deve manchar a estrutura dentária 8. Deve ser estéril ou passível de ser esterilizado de modo fácil e rápido. Técnicas avançadas de obturação endodôntica 51 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 9. Não deve irritar o tecido periapical. 10. Deve ser de fácil remoção do canal radicular, quando isto se fizer necessário. Na prática, verifica-se a quase impossibilidade de que um material preencha todas as características desejáveis e ideais para um material obturador dos canais radiculares. O que normalmente ocorre é a prevalência de algumas delas em detrimento de outras (PÉCORA; ESTRELA, 2004). Ao estabelecer o perfil ideal que um material obturador deve possuir, torna-se possível estabelecer os parâmetros ideais de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, bem como a avaliação daqueles já existentes no mercado. Assim pode-se dividir as suas propriedades e qualidades desejadas, para efeito didático, em físico- químicas, antimicrobianas e biológicas (PÉCORA; ESTRELA, 2004). A guta percha é, sem duvida, o material obturador mais usado. Ela foi introduzido na Odontologia por Bowman. Os cones de guta percha são, atualmente, industrializados com tamanho e diâmetro iguais aos das limas. Portanto, facilmente selecionados para obturação associados a pastas e ou cimentos (PÉCORA; ESTRELA, 2004). Os cones de guta percha apresentam as seguintes vantagens: 1. Boa adaptação às paredes dos canais radiculares. 2. Possibilidade de amolecimento e plastificação por meio de calor ou solventes químicos. 3. Boa tolerância tecidual. 4. Radiopacidade adequada. 5. Estabilidade físico-química. 6. Facilidade de remoção, se necessário. Como desvantagens dos cones de guta percha, podemos citar: 1. Falta de rigidez para ser utilizados em condutos estreitos. 2. Falta de adesividade, por esse motivo deve ser acompanhado de cimento ou com pasta (PÉCORA; ESTRELA, 2004). Cumpre lembrar que cones de ouro, prata, platina e chumbo também foram usados para obturar os canais radiculares, dentre estes o mais utilizado foi o cone de prata, sendo ainda hoje encontrado em nossos pacientes.Os cones de prata Técnicas avançadas de obturação endodôntica 52 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 foram freqüentemente indicados em dentes de adultos com canais atresiados e curvos, onde ficava dificultada a colocação dos cones de guta percha.Os cones de prata também são encontrados no mercado com tamanho e diâmetro correspondente aos das limas (PÉCORA; ESTRELA, 2004). As vantagens dos cones de prata são: 1. Rigidez que permita ser introduzido em canais estreitos e curvos. 2. Flexibilidade, eles podem ser pré-curvados para obturar os canais radiculares. 3. Maior uniformidade que os cones de guta percha em série estandartizados. As desvantagens dos cones de prata são: 1. Falta de compressibilidade, o que provoca uma deficiente adaptação nas paredes dos canais radiculares. 2. Dificuldade de ser retirado após cimentado. 3. Excessiva radiopacidade que mascarapossíveis defeitos de obturação. 4. Possibilidade de corrosão (PÉCORA; ESTRELA, 2004). Não pode-se deixar de citar os cimentos obturadores utilizados nestas técnicas. Sem duvidas os cimentos mais utilizados e recomendados são os que tem como base o hidróxido de cálcio, por seu potencial de compatibilidade biológica. As propriedades do cimentos obturadores devem ser comparadas e levadas em conta, este fator importante foi mencionado em estudos. Mantendo o objetivo de se ter um selamento o mais hermético possível e que permita a reparação dos tecidos apicais e periapicais, posteriormente, Estrela et al. (1994) reuniram em um mesmo estudo a avaliação comparativa de mais de um dos fatores já citados. Comparando as técnicas de condensação lateral ativa e condensação lateral passiva e os cimentos, Fillcanal, N-Rickert, Sealapex e AH 26, puderam concluir que quanto à infiltração apical os cimentos Fillcanal, Sealapex e AH 26 ocorrem menores infiltrações na técnica de condensação lateral ativa, enquanto que o cimento N-Rickert não difere estatisticamente entre as técnicas. Devido à grande diversidade de cimentos endodônticos presentes no mercado e com o surgimento constante de novos produtos, muitos outros estudos foram necessários para comprovar a eficiência dos mesmos em detrimento daqueles amplamente utilizados até o momento. Baseado nisto, foram comparados a Técnicas avançadas de obturação endodôntica 53 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 capacidade seladora, através da infiltração apical de corante, dos cimentos endodônticos Sealer 26, KetacEndo e Fill Canal. Segundo Bonetti Filho et al. (1998) o cimento Sealer 26 apresentou estatisticamente melhor capacidade seladora seguido do cimento Fill Canal e KetacEndo. O propósito da obturação é selar toda a extensão da cavidade endodôntica, desde a sua abertura coronária até o seu término apical, ou seja, o material obturador deve preencher todo o espaço ocupado anteriormente pela polpa, proporcionando um selamento tridimensional, fazendo-se necessário o uso de técnicas obturadoras endodônticas avançadas (ALVARES, 1991). Conforme Balbino et al. (2003) a guta-percha, associada a um cimento obturador, tem sido considerada o material de escolha pela maioria dos endodontistas, sendo empregada em diferentes técnicas, as quais podemos dividir em três grupos: a) técnicas de obturação por condensação lateral e vertical da guta-percha; b) técnicas de obturação através da condensação termomecânica da guta- percha e, c) técnicas de obturação por injeção de guta-percha termoplastificada. TÉCNICA DE CONDENSAÇÃO LATERAL - CALLAHANS A técnica de condensação lateral idealizada por Callahans em 1914 é a técnica mais amplamente conhecida, principalmente devido à simplicidade da sua execução, aos bons resultados clínicos e ao baixo custo. Originalmente usada quando os cones de guta-percha foram desenvolvidos, permanece como a principal técnica ensinada aos alunos pré-graduados. Porém, apresenta inúmeros inconvenientes: a impossibilidade de alcançar uma obturação tridimensional; a falta de homogeneidade da massa de material obturador; o grande consumo de material; o tempo despendido; a selagem apical deficiente e a fraca adaptação às irregularidades das paredes dos canais. Espaços vazios, trajetos do espaçador, fusão incompleta dos cones de guta-oercha e insuficiente adaptação à superfície dos canais, são outras desvantagens mencionadas. Investigadores, no entanto, constataram que a condensação lateral oferece a vantagem de um excelente Técnicas avançadas de obturação endodôntica 54 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 controle do comprimento endodôntico. Em parte devido ao mau prognóstico das sobre obturações por comparação com os dentes obturados até à constrição apical, o uso desta técnica persistiu até aos dias de hoje. Também pelas razões apontadas, é comumente escolhida como técnica controle em estudos de investigação sobre técnicas de obturação. Sendo assim a técnica de condensação lateral consiste da associação de cones de guta percha, principal e secundário e cimento obturador endodôntico, valendo-se dos espaçadores digitais para a condensação lateral da guta percha. Usualmente os cones principais números 15, 20 e 25 não são utilizados, como também os espaçadores números 15, 20 e 40. Aliás, temos preferência pelos espaçadores digitais flexíveis de NiTi (MARTINS et al., 2011). MC SPADDEN O condensador de gutapercha McSpadden é um instrumento de aço inoxidável com o mesmo desenho da lima Hedstrõem, porém com a rosca invertida; é uma técnica de obturação através da condensação termomecânica da guta- percha. Estes condensadores são oferecidos com uma numeração que varia de 25 a 140 e comprimento de 25 mm. Com o condensador girando como um parafuso reverso contra a guta-percha, esta se plastificará devido o calor produzido pelo atrito e irá se compactar tridimensionalmente dentro do canal radicular por ação da parte ativa do condensador. Para desenvolver calor suficiente para plastificar a guta-percha, o condensador deve ser empregado com o auxílio de um contra-ângulo e motor de baixa velocidade e alto torque, capaz de desenvolver pelo menos 8000 rotações por minuto. É essencial que o emprego do condensador seja feito com o motor de baixa rotação girando no sentido horário, para que a guta-percha seja instruída no canal radicular e não o contrario O uso correto do condensador de guta-percha Mc Spadden permite vários procedimentos (PINHEIRO JUNIOR; PÉCORA, 2004): Obturar termo-mecanicamente canais radiculares em segundos; Técnicas avançadas de obturação endodôntica 55 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 Obturar reabsorções internas, canais laterais, intercondutos; Recondensar canais insatisfatoriamente obturados. TÉCNICA DE BUCHANAN A técnica de Onda Contínua de Condensação desenvolvida por Buchanan em 1996, segue o princípio da técnica de condensação vertical da guta-percha aquecida, ou seja, é um método de termoplastificação da guta-percha. Entretanto, ao contrario da técnica da condensação vertical da guta-percha aquecida, a técnica de Buchanan permite que seja controlada a quantidade de calor levada ao interior do canal, com a finalidade de plastificar a guta-percha e permitir a obturação tridimensional do canal radicular. Para a sua execução é necessária a utilização de um equipamento chamado System B, um aparelho gerador de calor que, através de um cabo, aquece um condensador lateral denominado de “pluggers” de Buchanan que, ao ser colocado no interior do canal radicular plastificada e condensa a guta- percha simultaneamente (LIMA; PORTO; SANTOS, 2004). TÉCNICA DA ONDA CONTÍNUA São técnicas baseadas na Técnica de Shilder (1967). Os aparelhos utilizados são o System B, Touch’nheat ou Easy Termo. Figura 1. System B Fonte: site da Sybron Figura 2. Touchn’nHeat Figura 3. Easy Termo Técnicas avançadas de obturação endodôntica 56 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 Fonte: site da Sybron Fonte: site da Easy 1º FASE: DOWNPACK Cone de guta-percha secundário (preferência FM, M ou cones estandartizados da ProTaper F1, F2 ou F3); Fina camada de cimento obturador; 1 ou 2 cones de guta percha acessórios (depende do diâmetro do canal); Escolha os condensadores metálicos (FM, M, ML) acionados por um aparelho que produz calor; Acionar o dispositivo de metal para aquecer o termocondensador, condensando e aquecendo a guta-percha até atingir a profundidade de 5mm do CRT; Liberado o dedo indicador do dispositivo que gera calor e aguarde 5 segs. Mantendo o condensador vertical à frio; Novamente acionar o aquecimento para romper a guta-percha do plug de obturação apical de 5mm. 2º FASE: BACK FILL Vantagens: Selamento apical e obturação de canais laterais. Desvantagens:Domínio da técnica, equipamento especial e alto custo. Técnicas avançadas de obturação endodôntica 57 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 Figura 4. Obtura II. Possui uma pistola onde é inserido a guta-percha em bastão aquecida à temperatura em 200ºC. Fonte: site da JMorita Brasil Figura 5. Termo Pack II; injetor térmico de guta-percha que mantém a guta pré aquecida em 100%. Selecionaruma ponta metálica (18, 20, 22 ou 25 gauge), que deve ficar de 2 a 5 mm do final do CRT. Fonte: site Easy Equipamentos Odontológicos Figura 6. Preencher os 2/3 do canal com guta-percha aquecida, acionando a pistola. Condensação vertical à frio com condensadores verticais manuais por 2 a 3 minutos sobre a guta-percha aquecida. Fonte: site da Obtura Spartan DISCUSSÃO Os surgimentos constantes de novos materiais e a procura por um cimento obturador ideal conduzem os pesquisadores à analise comparativa das propriedades deste cimento (SCELZA; ANTONIAZZI; SCELZA, 2004). Consideração a capacidade seladora dos diferentes cimentos, alguns estudos foram desenvolvidos com o objetivo de se avaliar comparativamente os cimentos obturadores quanto à infiltração marginal ápico-cervicais. Kuga et al. (1990) compararam os cimentos N-Rickert, Rickert SP, Endomethasone, Endofill, Pró-canal Técnicas avançadas de obturação endodôntica 58 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 e AH-26 e não encontraram a diferença estatística entre eles. Em contrapartida, Silva et al. (1996) verificaram que o cimento Endobalsam apresentou altos valores de infiltração apical comparado ao cimento N-Rickert, sendo a diferença estatísticamente significante. Diversas técnicas foram desenvolvidas para favorecer a inserção do material obturador, respeitando as particularidades anatômicas das raízes dentárias, sendo que, a obturação do canal radicular é a complementação da tríade endodôntica (abertura coronária, desinfecção do sistema de canais e obturação);assim, existe uma grande preocupação em relação a mesma por dois motivos: 1) sem uma boa obturação todo o seu trabalho anteriormente realizado estará comprometido, não que uma boa obturação seja sinal de sucesso; 2) a qualidade do tratamento endodôntico é avaliada pelo aspecto radiográfico da obturação, onde a radiografia final gera um documento (CAVITONE, 2010). Por outro lado, Souza (2010) considerou que, na verdade, existem dois momentos distintos no tratamento endodôntico: um em que se prepara o canal, onde se incluem acesso, instrumentação, irrigação e medicação intracanal, e o outro em que se obtura, constituindo desta forma as duas etapas que compõem a terapia endodôntica: preparo e obturação.Entretanto, desde o trabalho de Ingle (1956) a etapa da obturação passou a merecer grande destaque, chegando mesmo a ser considerada como a mais importante da terapia endodôntica (SOUZA, 2010). CONCLUSÃO O tratamento endodôntico de sucesso é fundamental para que o elemento dental se reintegre fisiologicamente ao sistema estomatognático. Para que isto ocorra faz-se necessária a realização correta de suas diferentes etapas: diagnóstico, manutenção da cadeia asséptica, instrumentação eficiente, irrigação com soluções apropriadas e, finalmente, a obturação hermética e tridimensional do sistema de canais radiculares, no nível da junção dentinocementária. Apesar de todas as etapas do tratamento endodôntico merecerem a mesma atenção e importância, há a tendência a dar maior ênfase à obturação, pois é ela que ocupará o lugar da polpa dentinária e refletirá a qualidade do tratamento realizado. Técnicas avançadas de obturação endodôntica 59 Revista FAIPE, v. 3, n. 1, 2013 REFERENCIAS ALVARES, S. Endodontia: bases para a prática clínica. 2. ed. São Paulo: Artes Médicas, 1991. ARAUJO, C. R, et al. Análise comparativa de duas técnicas de obturação; condensação lateral versus híbrida modificada através da penetração da tinta nanquin. Estudo in vitro. Rev Odontol UNICID, v. 16, n. 2, p. 129-136, maio/ago 2004 BALBINO, T. F. et al. 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