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07/04/2019 1 VINIFICAÇÃO Ano lectivo 2018/2019 Aulas Práticas Prof. Sofia Catarino Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Determinações Acidimétricas em Vinhos Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 2 Acidez total (AT) • É a soma dos ácidos tituláveis quando se leva o vinho (ou o mosto) a pH 7,0 por adição de uma base • Integra a contribuição dos constituintes do vinho com características ácidas, independentemente da sua origem e da sua natureza (ác. orgânicos e inorgânicos, com maior ou menor volatilidade) Excepção: o ácido carbónico (H2CO3), formado a partir do dióxido de carbono (CO2), não é compreendido na AT* (no passado o SO2, livre e combinado, era também excluído) • Totalidade dos ácidos livres (não salificados) Índice global representativo das características ácidas dos vinhos, não no sentido da sua disponibilidade actual de iões H+, mas no sentido de disponibilidade potencial Expressão: g ác. tartárico/l; g ác. sulfúrico/l, meq/l (4 a 8 g/L) Limite legal: AT≥ 3,5 g/l Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia pH (ou acidez real) “Acidez real”, disponibilidade actual de iões H+ pH = -log10[[[[H3O+]]]] 2,8 a 4,0 (adimensional) Estabilidade microbiológica e físico-química. Pode afectar o desenvolvimento da FML Influencia o equilíbrio do SO2 no vinho Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 3 1) Principais ácidos dos vinhos: tartárico, málico, láctico, succínico, cítrico e acético Origem: Uvas Fermentação alcoólica (p.e. ác. acético; ác. succínico; ác. sulfídrico; ác. sulfuroso) Fermentação maloláctica Outras actividades microbiológicas Correcções Notas importantes: Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Em vinhos: Factor de qualidade. “O primeiro carácter do vinho é o de ser uma solução alcoólica e ácida” Influenciam as características organolépticas (vinhos brancos mais ácidos do que os tintos; rosados; verdes) O pH influencia a estabilidade físico-química Factor de conservação (inibição da actividade microbiana) / evolução Comandam as correcções a efectuar Característica de uma dada região, de determinadas castas Limites legais Interesse destas determinações em Enologia Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 4 Quanto mais baixo o pH, mais difícil a clarificação por colagem proteíca e maior o risco de sobrecolagem (sobretudo em vinhos brancos); As precipitações férricas e cúpricas estão na dependência do pH (Fe – risco máximo p/ pH 3,0-3,5); Precipitação de KHT mais provável a pH próximo de 3,6; Poder antiséptico do SO2 é mais elevado a pH mais baixo (mais SO2 livre, sob a forma molecular H2SO3); Por arejamento do vinho o SO2 é oxidado a ácido sulfúrico (originando sulfatos), donde possa resultar com o tempo diminuição do pH (a acidez total é pouco modificada). Esta é uma das razões, segundo as quais os vinhos brancos “secam” se são conservados muito tempo em casco. Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Limites legais Acidez total Vinhos ≥≥≥≥ 3,5 g ác. tartárico/l ≥≥≥≥ 46,6 meq/l Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 5 Correcções da acidez Acidificação (6/79) Definição: Aumento da acidez titulável e descida do pH Objectivos: Produção de vinhos equilibrados sob o ponto de vista sensorial; Aumento da capacidade de conservação • Lotagem com vinhos mais ácidos • Tratamento com resinas de troca catiónica • Tratamentos químicos Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Justificação (vinhos tintos): Acidez total < 4 g ác. tartárico/l pH > 3,6 Acidificação química (Oeno 4/99, Oeno 14/01) a) Ácidos lácticos b) Ácido L(-) ou DL málico (ác. L-málico é substracto para bactérias, ↑ acidez volátil) c) Ácido L(+) tartárico (correctivo por excelência) d) Ácido cítrico (concentração final ≤ 1 g/l) A adição de ácidos minerais é proibida Os processos de acidificação e de desacidificação excluem-se mutuamente A adição de ácidos ao mosto só poderá ser efectuada se a acidez inicial não for aumentada em mais de 4 g/l (ác. tartárico) Quando mosto e vinho são acidificados, a dose acumulada não pode exceder 4 g/l (ác. tartárico) A acidificação com ác. láctico e mesmo com ác. málico, minimiza a ocorrência de precipitações de hidrogenotartarato de potássio (efectiva redução do poder acidificante do ác. tartárico) Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 6 Outros: Gesso (CaSO4 . 2H2O): em desuso, barato, ↑↑↑↑ [[[[SO42-]]]] e [[[[Ca2+]]]]. Actualmente autorizado só em Xerez CaSO4 + 2 KH(C4H4O6) →→→→ Ca(C4H4O6) + K2SO4 + H2(C4H4O6) Acidificação química (Oeno 4/99, Oeno 14/01) Bitartarato de potássio Tartarato de cálcio Ácido tartárico Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia CaSO4 + H2T →→→→ Ca(C4H4O6) + SO4 + 2H+ 2- Acidificação por processos físicos • Acidificação por tratamento com electromembranas (electrodiálise com membranas bipolares) (Oeno 361/2010). ↑ até 4 g/l Electrodiálise permite separar espécies iónicas em solução de moléculas neutras, através da aplicação de um campo eléctrico. Isto é conseguido através de membranas de permeabilidade selectiva • Acidificação por tratamento com permutadores de catiões (6/76) (Oeno 443/2012). ↑ até 4 g/l Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 7 Correcções da acidez Desacidificação (6/79) Definição: Diminuição da acidez titulável e subida do pH Objectivos: Produção de vinhos equilibrados sob o ponto de vista sensorial • Lotagem com vinhos menos ácidos; • Tratamentos físicos; • Tratamentos químicos; • Tratamento microbiológico Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Desacidificação – Redução da acidez titulável (aumento do pH) (6/79) Lotagem com vinho(s) menos ácido(s) Desacidificação Química (6/79) (adição de sais): • Tartarato neutro de potássio, K2C4H4O6 (TK2), (pouco usado em Portugal) • Carbonato de cálcio (CaCO3) • Bicarbonato de potássio (KHCO3). Actua exclusivamente sobre o AT formando KHT e CO2. Melhor opção sob o ponto de vista económico. Não introduz Ca O vinho desacidificado deve conter pelo menos 1 g ác. tartárico/l Tratamento pelo frio (precipitação do ácido tartárico sob a forma de tartarato de Ca ou bitartarato de K) Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 8 Desacidificação Desacidificação microbiológica por bactérias lácticas (Fermentação maloláctica) (4/80) Desacidificação por tratamento com electromembranas (Oeno 484/2012) Método físico para extracção de iões do mosto sob a acção de um campo eléctrico usando membranas permeáveis Após tratamento o vinho deve conter pelo menos 1 g ác. tartárico/l. Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia OIV-MA-E-AS313-01; Método tipo I (método referência critério) (método único) Princípio: Titulação a pH 7 com NaOH, potenciométrica, ou usando azul de bromotimol como indicador. Expressão dos resultados: Miliequivalentes por litro (meq/l) (1 decimal) g ác. tartárico/l (2 decimais) g ác. sulfúrico/l (2 decimais) Métodos de análise – Acidez total Azul de bromotimol: pH <<<< 6,6 amarelo; pH >>>> 7,6 azul; pH = 7 verde azulado Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 9 Métodos de análise – pH OIV-MA-E-AS313-15; Método tipo I (Método referência critério) (método único) Determinação potenciométrica Medição da diferença de potencial entre dois eléctrodos imersos no líquido a testar. O potencial de um dos eléctrodos é função do pH do líquido, enquanto o outro apresenta potencial fixo conhecido e constitui o eléctrodo de referência. Média aritmética de 2 determinações; Apresentação dos resultados com 2 casas decimais Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Acidez volátil A acidez volátil é constituída pelo conjunto de ácidos gordos da série acética (até C14), presentes no vinho nas formas livre e salificada. O CO2 e SO2 devem ser eliminados porque acidificamo meio e são voláteis A acidez volátil é constituída por: Ácido acético (representa cerca de 90% dos ácidos voláteis); ácido fórmico; ácido propiónico; ácido isobutírico; ácido butírico; ácido capróico, caprílico ou cáprico; aldeído acético (acetaldeído); acetil metil carbinol; ácido valérico; ácido enântico T ebulição (ác. acético) ∼ 118 °C Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 10 A acidez volátil é devida a: 1) Produtos secundários da fermentação alcoólica A quantidade formada pelas leveduras varia segundo as condições de fermentação, a composição do mosto, a espécie e a estirpe da levedura, mas é sempre fraca na prática e da ordem de 0,15 a 0,30 g ác. acético/l, em fermentações sãs. 2) Produtos secundários da fermentação maloláctica Normalmente as bactérias que promovem a FML provocam um pequeno aumento da acidez volátil, que promovem sobretudo da degradação do ácido cítrico, mas também eventualmente da fermentação láctica de pequenas quantidades de açúcares (pentoses). 0,10 a 0,15 g ác. acético/l 3) Doenças (alterações de origem microbiológica) Intervenção de bactérias que atacam certos constituintes do vinho: açúcares redutores, glicerol, ácido tartárico e ainda o desenvolvimento de bactérias acéticas capazes de oxidar o álcool produzindo ácido acético. quando acidez volátil > 0,50 g/l (ácido acético)… 4) Podridão ácida das uvas 5) Ácido acético proveniente de polissacáridos (hemiceluloses e pectinas) 6) As madeiras têm ácido acético (e outros ácidos gordos) Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Importância da (determinação da) acidez volátil Indicador de conservação. É o “termómetro do vinho”. Informa-nos do passado, do presente e do futuro de um dado vinho. Parâmetro a controlar mensalmente nos vinhos conservados em depósitos. Quando existem suspeitas, quinzenalmente (ou até semanalmente). Um aumento brusco da acidez volátil diz-nos que o vinho está a evoluir no mau sentido. Se o vinho está doente a acidez volátil sobe. Factor de qualidade Se for alta, o vinho é considerado sem qualidade (principalmente se for novo) Questão legal (Limites máximos) Vinhos Brancos e Rosés ≤ 18 meq/l (1,08 g/l ác. acético) Vinhos Tintos ≤ 20 meq/l (1,20 g/l ác. acético); Vinhos Fortificados ≤ 1,5 g/l Estes limites poderão ser alterados para certos DOC e certos vinhos com envelhecimento superior a 2 anos, ou elaborados segundo métodos particulares e ainda para vinhos com álcool > 13% vol. Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 11 Método OIV tipo I (método referência critério) OIV-MA-E-AS313-02 Princípio: Separação dos ácidos voláteis por arrastamento numa corrente de vapor de água, com rectificação. O CO2 é previamente removido do vinho para evitar a sua presença no destilado (o CO2 acidifica o meio, por formação de H2CO3). Titulação do destilado com NaOH, usando fenolftaleína como indicador. • A acidez devida ao SO2 livre e combinado, destilado, não é compreendida na acidez volátil e deve ser subtraída da acidez do destilado. O SO2 arrastado juntamente com os ácidos voláteis é determinado por iodometria o que permite obter a acidez volátil corrigida. • A acidez correspondente ao ácido sórbico e/ou ascórbico eventualmente presente não é compreendida na acidez volátil e deve ser subtraída da acidez do destilado. Acidez volátil – Determinação analítica Repetibilidade (r) = 0,04 g ác. acético/l; Reprodutibilidade (R) = 0,08 g ác. acético/l Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia O aparelho de destilação usado deve corresponder às especificações propostas pela OIV (pode ser Jaulmes, Cazenave-Ferré, Landmann ou outros). Aparelho de destilação constituído por: gerador de vapor, balão de destilação, dispositivo de rectificação (refluxo para destilação fraccionada) e de condensação. Condições: - Vapor produzido isento de CO2; - Garantia de arrastamento de pelo menos 99,5% do ácido acético presente numa solução aquosa em substituição da amostra; - Garantia de não arrastamento de mais que 0,5% de ácido láctico presente numa solução aquosa (1 M) em substituição da amostra (T ebul. 122 °C). Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 12 Aparelho para destilação por arrastamento de vapor Água de cal ou de cal de barita (produção de vapor) Vinho O balão que contem o vinho está unido ao condensador e comunica com um segundo balão, produtor de vapor de água, por meio de um tubo submergido no vinho Aparelho “Cazenave-Ferré” Borbulhador Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia Método baseado na destilação directa de uma fracção do volume Método de Mathieu Recolhe-se somente uma fracção da acidez volátil; com efeito, o ác. acético é menos volátil do que a água e não é possível de recolher integralmente numa só destilação. Trata-se de um método ainda utilizado em Portugal (embora em desuso), mais expedito que o anterior, exigindo contudo uma atenção permanente. Poderá ser aplicado nos casos em que não seja exigível grande exactidão e precisão. Sem interesse legal Fig. Aparelho de “Mathieu” para destilação directa Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 13 Aparelho para destilação por arrastamento de vapor (tipo Jaulmes) – instalado no ISA vinho vapor borbulhador Introdução do vinho Acidez fixa É um factor de qualidade, de conservação e é um elemento de caracterização (é típico de uma dada região). Limites legais: Vinho Verde – 4,5 g ác. tartárico /L A acidez fixa é responsável pela “frescura” de um vinho na prova. Um vinho com muito pouca acidez diz-se “chato” de prova. Um muito ácido diz-se “duro” de prova. Acidez Fixa = Acidez Total – Acidez Volátil A acidez total representa o conjunto dos ácidos livres, fixos e voláteis; contudo, os ácidos voláteis livres representam apenas 90 a 95% da acidez volátil, cuja definição comporta igualmente a fração salificada dos ácidos voláteis. Assim a acidez fixa assim definida deverá ser apenas considerada como um índice de fácil determinação. Mestrado em Engenharia de Viticultura e Enologia 07/04/2019 14 Acidez fixa Acidez volátil (ác. livres e salificados) Ácidos fixos dissociados Ácidos fixos não dissociados Ácidos voláteis não dissociados Ácidos voláteis dissociados Acidez total (ácidos livres, fixos e voláteis) pH (acidez real) Acidez Fixa = Acidez Total – Acidez Volátil
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