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1 Sãmya Magalhães O dente não apresenta a raiz completamente fechada, tornando o tratamento mais complexo do que o convencional. Qual é a grande dificuldade desse tratamento? Possuem um canal muito amplo, com paredes mais finas, com menos dentina e são delgadas, isso traz uma fragilidade ao dente que ele pode vim a fraturar mais fácil do que um dente normal Além disso, a morfologia radicular de um dente com raiz fechada, ele possui um forame apical e nesse forame temos o canal cementário (formado por cemento), no dente com rizogênese incompleta não tem o forame apical (porque o ápice não está com o ápice completamente fechado), então não tem batente apical. Então o que isso vai trazer ao tratamento? Vai fazer com que as limas não toquem completamente na parede, porque está com o canal muito amplo, dessa forma a lima fica solta nas paredes do canal, com isso não vamos conseguir alargar o canal, deixando ele cônico e isso vai fazer com que a gente não desinfecte corretamente o canal. É muito mais fácil na rizogênese incompleta ter o extravasamento do hipoclorito de sódio (devido não ter o batente apical); Pode também extravasar material obturador, isso pode causar dor ao paciente, provavelmente você vai ter que intervir. Quando é só o cimento que extravasa, ainda podemos fazer só o acompanhamento. Quando é guta-percha, o paciente já sente dor e há uma possibilidade de o dente ser retratado Devemos tratar o dente, estimulando o fechamento da raiz ou pelo menos a formação de um batente apical. Fatores etiológicos: Restauração inadequada: se a restauração for inadequada, ela pode atingir a polpa e o paciente pode precisar de um tratamento de canal, antes da raiz estar completamente formada Traumas: acontece muito com crianças, pode acontecer de expor polpa em casos onde o dente não está com a raiz fechada Cárie: pode acontecer quando estamos removendo cárie de uma criança ou adolescente que não esteja com a raiz totalmente fechada, a gente pode expor a polpa sem querer em função da cárie. Tratamento endodôntico de dentes com rizogênese incompleta: O tratamento consiste em estimular o fechamento apical. Polpa vital: Polpa necrosada: Apicigênese Apicificação/ Revascularização Apicigênese Tem o objetivo de manter a rizogênese normal do dente Geralmente são casos em que houve exposição pulpar (menos de 48 horas), trauma pequeno. São casos onde podemos fazer o capeamento pulpar ou a pulpotomia Vamos deixar a polpa formar o resto da raiz normalmente, mesmo que com isso a gente tenha que tirar um pedaço da polpa coronária, para tentar ter êxito no fechamento da raiz Obs: lembrando que a polpa tem uma função formativa: ela que vai estimular a formação da raiz Opções da Apicigênese: Capeamento pulpar direto: realizamos o capeamento pulpar direto quando temos uma exposição pequena da polpa (ocorre a menos de 48 horas), o paciente não pode ter dor espontânea, ou seja, a polpa não está inflamada. Obs: direto se refere quando há exposição da polpa, vamos colocar substâncias nessa exposição, para tentar manter a polpa viva, para que ela continue formando a raiz em casos de dentes com rizogênese incompleta. 1. Iniciamos limpando a cavidade com clorexidina e uma bolinha de algodão 2. Após a limpeza, deixamos a bolinha de algodão com otosporin por 10 minutos, para promover a homeostasia Obs: o otosporin é uma medicação que usamos em polpa viva, ele é um corticoide, associado à um antibiótico. 3. Depois do otosporin, colocamos o pó de hidróxido de cálcio 4. Depois do pó de hidróxido de cálcio, colocamos o cimento de hidróxido de cálcio. Obs: o cimento de hidróxido de cálcio é manipulado em quantidades iguais das duas pastas que vem nele, utilizamos muito em endo o Hydro C, ele é usado para forrar cavidades. 5. Após a aplicação do pó e do cimento de hidróxido de cálcio, nós colocamos depois disso o ionômero de vidro e espera a polpa se recuperar. Damos geralmente 30 dias para o paciente retornar e a gente verifica nesse retorno se o paciente está sentindo dor, ou alguma outra sintomatologia. Se não estiver, realizamos a restauração definitiva com resina composta. 2 Sãmya Magalhães Capeamento pulpar direto: Utilizado em casos em que o paciente apresenta rizogênese incompleta e a cárie/trauma está próxima da câmara pulpar, porém sem exposição pulpar. Exemplo: suponhamos que há uma paciente criança que quebrou um dente ou está com cárie profunda, que não expos a polpa, mas esse trauma foi perto da polpa, mas você está com receio de fazer restauração definitiva com resina composta, porque o paciente pode ficar com dor e sensibilidade. Nesses casos, realizamos o CAPEAMENTO PULPAR INDIRETO. Para realizar o capeamento pulpar indireto, só precisamos utilizar o Hydro C, que é o cimento de hidróxido de cálcio na parede pulpar e em cima o ionômero de vidro. Pode-se colocar logo em cima do ionômero a restauração, ou então colocar só até o ionômero e esperar 30 dias para o paciente retornar e ver se está tudo bem, para ir fazer a restauração definitiva. Pulpotomia: Utilizado em crianças/adolescentes com rizogênese e essa criança/adolescente, já tem uma grande exposição traumática que já expos maiores partes da câmara pulpar, temos que fazer a pulpotomia, retirando a parte de polpa coronária que está exposta e deixa a polpa a raiz, para que essa polpa continue formando a raiz. Características clínicas favoráveis à pulpotomia: Hemorragia abundante, após a remoção da polpa coronária; (pouco sangramento significa que o dente está suspeito de necrose) Sangue com coloração vermelho vivo; (É colocado nos livros que essa coloração significa que a polpa está saudável, coloração mais escura pode ser que seja o processo de início de necrose) Tecido pulpar com consistência firme. Protocolo clínico da pulpotomia: pode ser realizada em duas sessões ou em uma. Há estudos que mostram que ela tem mais resultados que ela tem mais resultados quando é feita em duas sessões. Quando é feita em duas sessões: Primeira sessão: 1. Remoção do tecido cariado e acesso do dente; 2. Remoção da polpa coronária com curetas de pescoço longo 3. Aplicação de corticosteroide, associado ao antibiótico, que é o otosporin em uma bolinha de algodão e deixar em cima do remanescente pulpar 4. Restauração provisória, com guta percha em bastão + ionômero (não é a mesma guta-percha que a gente usa em obturação dentro do canal radicular. A gente plastifica essa guta-percha e com isso a gente coloca em cima da bolinha de algodão para selar a câmara pulpar) 5. Essa restauração provisória com essa bolinha de algodão fica 7 dias. Segunda sessão: 1. Remover o material provisório, remover também a bolinha de algodão com o remédio 2. Colocar a pasta de hidróxido de cálcio (pó do hidróxido de cálcio associado ao soro fisiológico ou água destilada ou solução anestésica), depois colocar o cimento de hidróxido de cálcio 3. Depois selar com o ionômero de vidro e fazer a restauração final com resina. Quando é feita em uma sessão: o que muda é a bolinha de algodão com medicamento fica por volta de 10 a 15 minutos. 1. Remoção do tecido cariado e acesso do dente; 2. Remoção da polpa coronária com curetas de pescoço longo 3. Aplicação de corticosteroide, associado ao antibiótico, que é o otosporin em uma bolinha de algodão e deixar em cima do remanescente pulpar de 10 a 15 minutos 4. Retira a bolinha de algodão, prossegue com a pasta de hidróxido de cálcio e o cimento do hidróxido de cálcio. 5. Faz a restauração com ionômero e em cima a resina. Obs: já existe um material no mercado que é melhor que o hidróxido de cálcio, só que o custo dele é mais elevado, ele é chamado de MTA ou trióxido mineral agregado. Obs: O MTA é um pó cinza ou branco que pode ser misturado sob solução anestésica,água destilada ou soro fisiológico e ele vai resultar em um gel. Esse material apresentar atividade antibacteriana satisfatória Promove selamento adequado; Tem uma habilidade de formar tecido mineralizado Tem biocompatibilidade É pouco solúvel e a massa obtida nele não vai se dissolver na presença de líquidos teciduais, então ele é bem aceito como material que não se dissolve facilmente Usado em diversas situações clínicas: perfurações, reabsorções radiculares, rizogênese incompleta, pulpotomia Controle clínico e radiográfico periódico: Ausência de sinais e sintomas Integridade da lamina dura Ausência de lesão apical Ausência de calcificação do canal radicular 3 Sãmya Magalhães Ausência de reabsorção interna Obs: o MTA é muito mais utilizado nos artigos, só que na prática clínica não devido ao valor Apicificação: estimular a formação de uma barreira apical, para poder obturar esse dente. Utilizado em polpa necrosada. Primeira opção do protocolo: 1. Começa o tratamento desinfetando o máximo possível, irriga bastante 2. Aplica pasta de hidróxido de cálcio (1 opção). Quando o paciente não tiver mais sintomatologia, deixamos a pasta de hidróxido de cálcio e fica trocando periodicamente. 3. Com o tempo vamos ver que vai haver formação de tecido mineralizado, aí sim vamos obturar Segunda opção do protocolo: 1. Fazer um batente com MTA, nesse caso não precisamos ficar trocando várias vezes o hidróxido de cálcio para ele formar a barreira 2. Nesse caso colocamos pequena quantidade no ápice do dente, por dentro do canal mesmo. Lembrando que nesses casos o canal está bem amplo, então a gente consegue inserir o MTA lá no ápice para ele formar o batente 3. Lembrando que ele estimula a formação de tecido mineralizado. 4. Nesse caso não precisamos ficar trocando medicações sucessivas de hidróxido de cálcio e realizamos em uma única sessão. Obs: só podemos realizar o MTA em sessão única se o paciente for assintomático. Se ele não tiver assintomático, precisamos resolver primeiro a infecção com a medicação intracanal, depois que ele tiver OK, sem sintomas fechamos com MTA e obtura esse dente, O que diz a literatura? Há estudos que dizem que a técnica da Apicificação promove uma diminuição da resistência ao dente à fratura radicular. O hidróxido de cálcio a longo prazo como curativo de demora pode aumentar o risco de fratura radicular Quando a gente troca o hidróxido de cálcio por muito tempo, como é o caso da Apicificação que a gente pode ficar até um ano trocando de curativo para formar a barreira mineralizada, a gente consegue formar uma barreira mineralizada, mas em compensação a gente reduz a resistência a fratura radicular. Um estudo mostrou que a resistência de dentes que foram utilizado hidróxido de cálcio como curativo por muito tempo reduziu a metade a resistência Por isso quando estivermos diante de um tratamento desse, temos que deixar o paciente ciente que há esse risco de fratura radicular. É um dente mais fragilizado do que um dente que deixou a raiz formar fisiologicamente Revascularização ou Endodontia Regenerativa: Outra forma de tratar polpa necrosada em dentes com rizogênese incompleta. “Conjunto de procedimentos de base biológica destinada a substituir fisiologicamente estruturas dentárias danificadas, incluindo dentina e estruturas radiculares assim como células do complexo dentinho-pulpar” -Lopes e Siqueira. Então nesse tratamento a gente vai induzir um sangramento passando do ápice. Esse sangramento vai invadir o canal radicular, a gente vai estar induzindo que se forme um novo tecido a partir desse sangramento. Obs: lembrando que os dentes imaturos (raiz aberta), estão com células indiferenciadas no tecido periapical (essas células indiferenciadas que estavam que estavam estimulando o fechamento da raiz). Então resumidamente, a gente induz o sangramento, de forma que preencha o canal radicular e a gente tem a formação de um novo tecido, com isso o fechamento da raiz. Como a revascularização acontece? Há algumas teorias: Invaginação de células periodontais indiferenciadas Células-tronco residuais do tecido pulpar Células-tronco da papila apical Obs: lembrando que as células tronco podem se diferenciar em vários tipos celulares e a presença dela é explicado porque esse dente era um dente em formação (a sua raiz estava se formando), antes da polpa necrosar, então por isso ainda há células indiferenciadas no periápice. Isso justifica então a formação de um novo tecido dentro do dente, quando a gente estimula esse sangramento e a formação do coagulo dentro do dente. Objetivos: Completo desenvolvimento radicular: evidencias radiográficas de aumento de espessura da parede do canal e fechamento apical resistência a fratura Obs: a diferença desse tratamento de Apicificação com hidróxido de cálcio ou MTA, é que aqui as paredes vão ficar mais espessas as paredes de dentina, com isso o dente vai ter uma VANTAGEM: ele vai ter uma maior resistência a fratura, o que a gente não via na Apicificação. Manutenção do dente: geralmente são crianças que não podem perder o dente tão cedo 4 Sãmya Magalhães Tratar a lesão periapical: caso haja lesão periapical Seleção de casos: Os pacientes que se encaixam nesses casos, são: Dente permanente com necrose pulpar e ápice aberto Dente que não necessite de retentor radicular Paciente sem alergias a medicamentos utilizados no procedimento: algumas vezes utilizamos antibiótico como medicação intracanal, por isso o paciente não pode ser alérgico. Esclarecimento ao paciente/responsável: Consentimento livre e esclarecido: ele assina um termo explicado os prós e contras Número de consultas: explicar que pode ter duas ou mais sessões Antibióticos Possíveis efeitos adversos: descoloração coronária/radicular, ausência de resposta ao tratamento, dor, infecção ou reinfecção. Protocolo clínico recomendado: Primeira consulta: 1. Anestesia, isolamento absoluto 2. Acesso + irrigação NaOCL 2,5% (câmara pulpar + odontometria) 3. Irrigação NaOCL 1,5% (20ml/canal- 5 minutos) 4. Irrigação soro fisiológico (20ml/canal- 5 minutos) Obs: lembrando que a raiz está fragilizada, então esse protocolo do Siqueira diz que as vezes não é indicada utilizar a lima (porque a lima desgasta dentina), então ele capricha irrigação e na medicação intracanal 5. Preenchimento do canal com pasta à base de hidróxido de cálcio ou associação de antibióticos: ciprofloxacin + metronidazol + minociclina) -Lopes e Siqueira, 2015. Obs: esse protocolo foi recomendado pelo Siqueira, mas há outros protocolos caso você queira procurar em artigos, há outros protocolos, com outras substancias irrigantes, como é o caso da clorexidina que é indicada para canais com ápice aberto, já que o hipoclorito pode causar extravasamento e danos ao paciente. Nesse protocolo, o Siqueira diminui a concentração quando vai irrigar dentro do canal, então o C.D deve ter cuidado para não deixar o hipoclorito extravasar, já que o ápice aberto é mais fácil extravasar. Obs: vamos usar esse protocolo, mas existem outros que estão certos também. Segunda consulta: após 4 semanas do atendimento inicial, verificar sinais e sintomas. Se ele estiver sem sinais e sintomas: 1. Irrigação final com EDTA 2. Indução de sangramento com a lima no 25 até 2mm além do forame e induzir o sangramento, até que o sangramento preencha todo o canal radicular 3. Sangramento deve ser mantido a 3mm da Junção Cemento/Esmalte 4. Após a formação de coagulo: MTA + ionômero + resina composta. Obs: o MTA induz tecido mineralizado, não tem problema estar em contato com líquidos teciduais. Por isso utilizamos isso. Abaixo um resumo da técnica: Obs: com o tempo, o tecido que vai ser formado dentro do canal radicular, vai induzir o fechamentoe induzir a formação de dentina e essas paredes não vai ficar tão fragilizada, como acontece na Apicificação, que a gente faz trocas de hidróxido de cálcio. Então você vai melhorar a resistência desse dente e estimular o fechamento do dente. 5 Sãmya Magalhães
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