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Petição

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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 10º VARA CÍVEL DA COMARCA DE RECIFE- PE.
JOSEFINA ROBESPIERRE, brasileira, solteira, portadora de cédula de identidade RG nº 8.456.192 SDS/PE, inscrito no CPF nº 095.609.723.65, residente Rua dos Palmares, nº 76, Bairro Boa Vista, Recife/PE, CEP: 55678-000, fone (81) 9 85435567, e-mail josefina.robes1@gmail.com, assistida judicial, integral e gratuitamente pela DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE PERNAMBUCO (DPE/PE), representada pela DEFENSORA PÚBLICA abaixo assinada, vem, perante Vossa Excelência, requerer
AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO E PEDIDO LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
	
Em face do GOOGLE BRASIL INTERNET LTDA, sociedade limitada inscrita no CNPJ sob nº 5252.456/0050-15, com sede na Avenida Clarice Lispector, 147. Bairro: Soledade. Cidade: São Paulo / SP. CEP 25.471-985 
FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA. Inscrita no CNPJ sob o nº 13.347.016/0001-17, com endereço na Rua Leopoldo Couto de Magalhães Junior, número 700. Bairro: Itaim Bibi. Cidade: São Paulo / SP. CEP 53.280-180, para que seja citada em caráter de urgência e forneça os dados necessários para a requerente, uma vez que a demora nos atos processuais coloca em risco a reputação e intimidade da requerente. 
DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA E DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E GRATUITA DA DEFENSORIA PÚBLICA
A requerente pleiteia, inicialmente, a concessão dos benefícios da Justiça Gratuita por se tratar de pessoa com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios, nos termos do que preconiza o inciso LXXIV, do artigo 5º, da Constituição Federal, bem como o artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil.
DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO
Com fulcro no art. 319, inciso VII, do CPC, de maneira opcional a parte autora NÃO deseja que seja realizada audiência de conciliação ou mediação.
DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA
A requerente solicita a tutela antecipada com cunho de que os arquivos e fotos presentes em seu aparelho, que fora perdido e encontra-se nas mãos de um desconhecido, sejam removidos e excluídos das redes sociais e demais endereços eletrônicos que disponibilizem tais informações. Estamos lidando com fotos e arquivos íntimos que foram divulgados publicamente causando para a vítima um descomunal constrangimento e dano a sua imagem. Portanto, pleiteamos a citação em caráter de urgência das empresas GOOGLE e FACEBOOK para remover o conteúdo de seu site e das redes sociais, bem como de outros endereços que tenham responsabilidade, e, posteriormente, pleiteamos que as empresas supracitadas forneçam os dados necessários para identificar o responsável pela situação vexatória e humilhante que passa a requerente. 
DOS FATOS
A requerente vive há mais de cinco anos num relacionamento estável com o senhor Napoleão Danton. E, como todo casal, ambos sempre trocaram diversas mensagens pelas redes sociais de diversos cunhos, inclusive os chamados “nudes”, que são fotos íntimas. Esse tipo de prática é muito comum entre a maioria dos casais, principalmente os que comungam de relacionamentos à distância. Esse ato era realizado por redes sociais como facebook, whatsapp, e-mail, Skype, entre outras. 
É importante ressaltar que o casal vivia na mesma residência e partilhava da mesma rotina. Além de compartilharem do mesmo grupo de amigos e terem vários projetos em conjunto. Porém, Vossa Excelência, seu companheiro recebeu uma proposta de trabalho no exterior, mas o casal decidiu permanecer junto num relacionamento à distância, o que intensificou o envio de mensagens de cunho íntimo. 
A autora sempre que enviava as fotos ao seu companheiro não tinha o costume de apagá-las, e, muitas vezes, o próprio aparelho celular sincronizava e salvava as fotos na nuvem do seu smartphone. A nuvem, Excelência, é um espaço de armazenamento de arquivos na internet, onde você pode criar uma pasta para salvar suas fotos, vídeos e documentos de forma online.
Certo dia, como qualquer ser humano com a intenção de se divertir, a requerente (no dia 05 de Fevereiro de 2016) compareceu a uma festa de amigos, e, em certo momento da festa, ela percebeu que não estava de posse do seu aparelho celular. Sabendo do conteúdo presente no aparelho, a autora entrou em pânico e se dirigiu até sua residência para tentar efetuar o bloqueio do aparelho celular através do computador, mas não obteve sucesso. Imagina, Excelência, você por um instante imaginar que pode ter toda sua privacidade invadida e exposta para todos? Você tentar bloquear seu aparelho para evitar tal exposição e não obter sucesso? É enlouquecedor. É um abalo psicológico incomensurável. 
Porém, ainda extremamente desesperada, preocupada e tensa com tudo que ocorrera, a autora entrou em contato com a operadora do celular, no dia 08 de Fevereiro de 2016, para que ela efetuasse o bloqueio do aparelho, tendo a operadora realizado sua solicitação. 
Apesar de todo o esforço da requerente, no dia 16 de Fevereiro de 2016, a autora recebeu um e-mail anônimo com todas as fotos e vídeos que estavam no seu celular (até então perdido). O e-mail foi enviado não só para ela, como também para amigos, familiares, e terceiros. Além do envio pelo e-mail, a autora descobriu que os arquivos também tinham sido veiculados por outra rede, o Whatsapp. A partir desse dia, Vossa Excelência, a vida da autora não foi mais a mesma. Toda sua vida íntima fora exposta, causando uma violação profunda, além de um imenso constrangimento, com o compartilhamento dessas fotos e vídeos com familiares e amigos. 
Perceba Excelência, o terrível abalo psicológico, a exposição, o constrangimento indevido que a autora sofreu. A autora não consegue mais sair de casa, cumprimentar seus familiares, vizinhos, ou qualquer pessoa que teve contato com sua intimidade violada. A autora está indiscutivelmente abalada, arrasada, e isso a levou a apresentar este instrumento, buscando a satisfação e proteção de seus direitos que, como narrado, foram incontestavelmente violados. 
DO DIREITO
I. Tutela Antecipada
A proliferação das fotos e vídeos do celular da autora pode tornar irreparável a lesão à honra da mesma, bem como inutilizar esta demanda, ou ainda torná-la altamente complexa, em decorrência da necessidade futura de intervenção judicial que possa resultar em inúmeras decisões de cumprimento impossível.
Essa prerrogativa encontra-se expressa na disposição legal no artigo 19, § 4º. da lei 12.965/2014:
§ 4o O juiz, inclusive no procedimento previsto no § 3o, poderá antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, existindo prova inequívoca do fato e considerado o interesse da coletividade na disponibilização do conteúdo na internet, desde que presentes os requisitos de verossimilhança da alegação do autor e de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação.
II. Inviolabilidade da Intimidade
Dentre as garantias fundamentais do indivíduo presentes na constituição no art. 5º, encontram-se positivados os direitos à intimidade e à vida privada, os quais como direitos da personalidade, podem ser vislumbrados como elementos da integridade moral de cada ser humano. Que, quando desrespeitados, trazem consequências imensuráveis e de difícil reparação.
Art. 5º inciso X:
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Numa visão filosófica, Zavala de Gonzáles aborda o tema, aduzindo que “a intimidade constitui uma condição essencial do homem que lhe permite viver dentro de si mesmo e projetar-se no mundo exterior a partir dele mesmo, como único ser capaz de dar-se conta de si e de fazer de si o centro do universo”. 
Por tanto, Excelência, não é simplesmente uma indenização a que buscamos nessa demanda, buscamos sanar a insegurança, a instabilidade e a violação na qual esta demandante foi submetida. A autora teve toda sua intimidade expostasem nenhum pudor, não somente para familiares e amigos, como também para terceiros. E, a demora na resolução desse caso, traz para a vítima danos que podem ser irreparáveis se providências não forem tomadas em caráter de urgência. 
II. Danos Morais
	A autora, Vossa Excelência, informa que devido ao ocorrido, a sua reputação foi completamente comprometida, não existe mais autoestima, sua relação com familiares e amigos está estremecida, a mesma não consegue mais sair de casa, mantendo-se isolada em seu quarto na maior parte do tempo. Sendo que esses fatores são meramente superficiais em relação a muitos outros, como o dano irreparável perante seu círculo social, além do terrível abalo de ver suas fotos e vídeos vinculados a pornografias e sites obscenos. Por mais que as pessoas apaguem os vídeos e fotos de seus eletrônicos, elas nunca vão esquecer-se do que viram, e sempre que olharem para a requerente, vão lembrar-se de sua intimidade. Dessa forma, preceitua a constituição: 
Art. 5º., X:
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Vale ressaltar também que, de acordo com o artigo 944 do Código Civil, “A indenização mede-se pela extensão do dando”. Assim, inevitável se observar a proporção. Entenda-se proporção pelo número de pessoas que tiveram acesso ao conteúdo divulgado. 
DO PEDIDO
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência:
a)	A gratuidade da justiça, por se tratar de pessoa com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios, nos termos do que preconiza o inciso LXXIV, do artigo 5º, da Constituição Federal, bem como o artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil;
b)	A concessão da tutela antecipada por medida liminar, conforme previsto no art. 19, parágrafo 4º da Lei 12.965/2014. 
c)	Remova integralmente o conteúdo que prejudique a imagem da autora. Uma vez que este mesmo conteúdo viola a honra, a reputação e a intimidade da mesma;
d)	Indenização por dano moral. 
DAS PROVAS
	Conforme dispõe o artigo 369 do novo CPC, 
Art. 369. As partes têm o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz.
Dessa forma, a autora pretende utilizar para provar a veracidade dos fatos alegados: A) Prova documental; B) Prova pericial; C) Prova Testemunhal. 
DO VALOR DA INDENIZAÇÃO
A autora pleiteia o pagamento de R$70.000,00 (setenta mil reais) para que possa se manifestar justiça frente às violações gravíssimas sofridas e os danos a sua reputação que jamais serão recuperados em sua totalidade. 
DO VALOR DA CAUSA
Para fins de recolhimento de custas e débitos fiscais, atribui-se ao valor da causa o mesmo do pedido indenizatório, qual seja a quantia que perfaz o montante de R$70.000,00.
Termos em que, 
pede deferimento.
Recife/PE, 10/05/2020.
	
Debora Raquel de Araújo Silva
OAB/PE 1234
Defensora Pública

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