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Educação e Trabalho 1ª edição 2017 Educação e Trabalho 3 Palavras do professor Seja bem-vindo(a) à disciplina Educação e Trabalho. A educação brasi- leira, em seus aspectos gerais, vem, historicamente, sendo construída de acordo com as necessidades identificadas pelos modos de produção do setor produtivo capitalista. Ela assume, desta forma, características seme- lhantes às desenvolvidas no âmbito econômico. A disciplina Educação e Trabalho trata exatamente desta questão e tem por objetivo dar a conhecer as relações existentes entre educação e traba- lho, bem como a legislação que norteia a Educação Profissional no Brasil, relacionando prática social e prática educativa como aspectos indissociá- veis da educação e do trabalho por meio da escolha da profissão. Para otimizar seu estudo, apresentamos a disciplina organizada em oito unidades de aprendizagem, a saber: Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho; Educação e modelos de gerenciamento científico; Educação e Pós-modernidade; Legislação da Educação Profissional no Brasil, sua evolução e sua prática; A globalização e a Educação Profissional; Educação e escolarização – relação com o mercado de trabalho; Sustenta- bilidade e Responsabilidade Social; Educação, trabalho e novas tecnologias. Nossa intenção é que as reflexões aqui iniciadas enriqueçam seu desen- volvimento profissional e que as discussões sobre este tema não se encer- rem nesse material. Desejamos a todos um ótimo estudo! 1 4 Unidade 1 Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Para iniciar seus estudos Os processos educativos sempre estiveram intimamente ligados às mudanças políticas, econômicas e culturais. No Brasil, as transformações pelas quais passou a sociedade capitalista, em seus diferentes momentos históricos, provocaram mudanças nos processos educativos. Nesta uni- dade, vamos refletir sobre os principais aspectos históricos que pautam a relação Educação e Trabalho, sobretudo aqueles que reverberam na escola e na formação profissional. Objetivos de Aprendizagem • Identificar como a escola, mais especificamente a formação do indivíduo, vem constituindo-se no cenário brasileiro mediante as reformas e demandas advindas das necessidades dos sistemas produtivo e econômico atuais. 5 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho 1.1 Educação e Trabalho: definições e conceitos Para Albornoz (2008), conceituar a palavra trabalho não se mostra tarefa fácil, pois o termo tem múltiplos signi- ficados e, por muitas vezes, acaba sendo associado apenas a tarefas que requerem esforço físico, não se levando em conta os processos mentais que o envolvem. Entendemos que a análise do conceito de trabalho requer, de fato, uma reflexão mais aprofundada, especialmente no que tange às suas implicações históricas. O significado da palavra trabalho remonta à sua origem latina: tripalium (três paus), instrumento utilizado para subjugar os animais e forçar os escravos a aumentar a produção. O tripalium era, pois, um instrumento de tortura, algo semelhante à cruz que o rebanho cristão adotou como objeto-símbolo. Desse modo, em sua origem, a pala- vra trabalho remete a uma espécie de tortura. A partir do latim, o termo passou para o francês travailler, assemelhando-se à tradução anterior, reportando ao sentido de dor e sofrimento. No século XIV, passa a ter o sentido mais próximo daquele que conhecemos hoje, sendo reconhecido como aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) humanas para alcançar um determinado fim. Marx (1985) caracteriza o trabalho como uma interação do homem com o mundo natural, de tal modo que os elementos deste último são conscientemente modificados para alcançar um determinado propósito. O trabalho é a forma pela qual o homem se apropria da natureza a fim de satisfazer suas necessidades. Partindo desta premissa, entendemos que o trabalho cumpre papel fundamental na sociedade e referencia vários aspectos constituintes das relações sociais, políticas e econômicas do país. É inegável, portanto, sua aproxima- ção direta com a Educação que, em seu sentido mais amplo, pode ser definida como o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos de uma geração para a geração seguinte. A educação vai se formando através de situações presenciadas e experiências vividas por cada indivíduo ao longo da sua vida. Do latim educare, que significa conduzir para fora, o termo Educação, em português, ganha conotação diferente ao ser associado tanto à escolarização de um indivíduo quanto à formação de ‘boas maneiras’. Brandão (1995) nos diz que educação é todo conhecimento adquirido com a vivência em sociedade, seja ela qual for. Sendo assim, o ato educacional ocorre no ônibus, em casa, na igreja, na família e todos nós fazemos parte deste processo. Ainda que a maior parte das pessoas não se deem conta, a maneira como se organizam os sistemas de capital e de produção repercutem nos processos educativos desde os mais antigos tempos. A educação, em seu modelo formal, foi trazida ao Brasil pelos jesuítas, ainda no século XVI. Durante alguns séculos, as organizações escolares ligadas à Igreja Católica foram consideradas referências e, historicamente, fazem parte do processo de escolari- zação brasileira, de acordo com Manfredi (2002). Cabe ressaltar o papel que o sistema jesuítico de educação exerceu durante o período de colonização, pois, além da catequese imposta aos indígenas, os jesuítas também foram pioneiros na construção de escolas para os colo- nizadores, onde foram identificados os primeiros indícios de práticas associadas à Educação Profissional, ainda que de maneira informal. Em 1759, após a expulsão da Companhia de Jesus do país, as primeiras instituições educacionais públicas a serem fundadas foram destinadas ao ensino superior e tinham por objetivo formar pessoas para desempenha- rem papéis específicos por meio de funções qualificadas. De acordo com Manfredi (2002), o ensino secundário da época era inexpressivo, funcionava segregado do ensino superior e preconizava a promoção do preparo de força de trabalho ligada à produção de artífices para as oficinas manufatureiras. 6 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Figura 1 – Estátua do jesuíta Matteo Ricci. Legenda: Estátua do jesuíta Matteo Ricci, na China. Link: https://previews.123rf.com/images/jeremyrichards/jeremyrichards1305/jeremyrichards130500009/19560914- Statue-of-the-Jesuit-Matteo-Ricci-in-the-historic-heart-of-Macau--Stock-Photo.jpg Com a chegada da Corte Portuguesa, o ensino começa a sofrer as primeiras mudanças significativas e, junto com o progresso trazido pela presença da elite portuguesa no país, surge também a necessidade de preparar a mão de obra de maneira qualificada a fim de atender às novas demandas sociais e econômicas. Começam a ser construídas, a partir deste momento, as primeiras casas de educandos artífices, cujos alunos eram, em maioria, os chamados órfãos e desvalidos. A pedagogia aplicada era inspirada em modelos militares, nos quais a disciplina baseada no respeito hierárquico era predominante. Percebe-se, portanto, que à esta época, a preocupação estava voltada para um amparo assistencialista e não havia uma padronização nas práticas edu- cacionais, de forma que a profissão era, por muitas vezes, aprendida na própria prática da ocupação. Na época da Proclamação da República, que ocorreu em 1889, o país começa a entrar numa era de relativa independência econômica, o que, consequentemente, fez com que o país passasse da produção artesanal para a manufaturada, ainda que de maneira tardia. A partir do final século XIX, o setor industrial ganha força e passa a predominar em relação aos demais setores de produção, o que desencadeia uma infinidade de transformações sociais, políticas, econômicas e também educacionais. Neste último setor, surgem,de maneira organizada, as primeiras iniciativas de Educação Profissional: Embora anteriormente já existissem algumas experiências privadas, a formação profissional como responsabilidade do Estado inicia-se no Brasil em 1909, com a criação de 19 escolas de arte e ofício nas diferentes unidades da federação, precursoras das escolas técnicas federais e esta- 7 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho duais. Essas escolas, antes de pretender atender às demandas de um desenvolvimento industrial praticamente inexistente, obedeciam a uma finalidade moral de repressão: educar pelo trabalho os órfãos, pobres e desvalidos da sorte, retirando-os da rua. Assim, na primeira vez que aparece a formação profissional como política pública, ela o faz na perspectiva moralizadora da formação do caráter pelo trabalho. (KUENZER, 2005, p. 27). As novas exigências impostas a partir do surgimento de tecnologias de produção inovadoras passam a refletir mudanças na organização social advindas do Capitalismo. Até 1940 não havia sido estabelecida uma padroni- zação para a legislação educacional brasileira, cabendo a cada Estado gerir suas políticas educacionais a partir das características de sua região. Por volta de 1942, este cenário começa a mudar em virtude do decreto das Leis Orgânicas, também conhecidas como Reforma Capanema, que se referencia a Gustavo Capanema, Ministro da Educação e Saúde Pública da década de 1940. Segundo alguns especialistas, esta reforma acabou por criar uma dualidade educacional em que ficou evidente a segregação por classes sociais. A elite cumpria um itinerário formativo mais completo e complexo enquanto que as classes mais populares eram direcionadas à uma formação mais voltada à profissionalização e à entrada imediata no mercado de trabalho, em que eram desempenhadas ocupações de prestígio secundário. Para Ghiraldelli (1990), a legislação era muito objetiva e determinista no estabelecimento de trajetórias distintas para cada grupo de alunos, dependendo da classe social de que fizessem parte. Diz o autor: “a escola deveria contribuir para a divisão de classes e, desde cedo, separar pelas diferenças de chances de aquisição cultural, diri- gentes e dirigidos” (GHIRALDELLI, 1990) Para saber um pouco mais acerca dessa legislação acesse: <http://www2.camara.leg.br/ legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-4244-9-abril-1942-414155-133712-pe.html>. Acesso em: 22 abr. 2017. Kuenzer (2005) destaca que a criação de propostas educacionais de profissionalização diferenciadas se perpe- tuam ao longo da história da educação no Brasil: [...] no âmbito das relações de poder típicas de uma sociedade dividida em classes sociais, às quais se atribui ou o exercício das funções intelectuais e dirigentes ou o exercício das funções instru- mentais. (KUENZER, 2005, p. 26). Na prática, a Reforma Capanema não conseguiu atender ao objetivo de sua criação, pois as elites não buscavam esse tipo de educação para seus filhos e as famílias pobres não conseguiam sustentar a permanência dos alunos nos cursos. Frente a este cenário e com a necessidade de uma intervenção imediata para qualificação da mão de obra para a indústria de base que se apresentava em franca expansão, o governo criou, a partir do Decreto-Lei n.º 4048 de 1942, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), um sistema de ensino profissionalizante que, mediante parceria com as indústrias, teria condições de responder às necessidades do mercado. No mesmo sentido surge, em 1946, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) a partir do Decreto-Lei n.º 8621. 8 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Figura 2 – Alunos de um curso profissional. Legenda: Atividade de um curso profissionalizante. Link: https://previews.123rf.com/images/goodluz/goodluz1610/goodluz161000327/65861670-Carpentry-teacher- -giving-security-instructions-in-workshop-Stock-Photo.jpg Percebe-se, desta forma, que o Governo se preocupava em institucionalizar o ensino profissional de tal forma que, ao concluir os cursos, os alunos pudessem sair com um potencial instrumental de trabalho, minimizando o papel da educação enquanto espaço de formação crítica e questionadora. Somente a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1961, o processo de equivalência entre o ensino profissionalizante e a educação geral, por meio dos cursos propedêuticos, começa a acontecer. Inicia-se um processo de incessantes iniciativas que buscam adequar a escola às demandas do desenvolvimento do capi- talismo, por meio de novas diretrizes educacionais. Mas, afinal, qual o papel da escola neste contexto? 1.2 Função social da escola Para Gentili (2007), as mudanças nos processos de produção capitalistas reverberam no campo educacional, especialmente pelo fato da escola desempenhar um papel econômico de grande abrangência social: [...] a atual conjuntura do desenvolvimento capitalista tem-se produzido num deslocamento da ênfase na função da escola como âmbito de formação para o emprego (promessa que justifi- cou em parte a expansão dos sistemas educacionais durante o século XX) par uma nem sempre declarada ênfase no papel que a mesma deve desempenhar na formação para o desemprego. (GENTILLE, 2007, p. 2). Neste sentido, ao discutirmos a função social da educação e da escola, estamos ampliando o entendimento de educação como prática social que só pode ser constituída a partir das relações estabelecidas entre os indivíduos em âmbitos diversificados, especialmente no que tange à educação profissionalizante. 9 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Como pensar a Educação Profissional num momento em que os mercados formais estão cada vez mais restritos? Hoje, a escola encontra o desafio de adaptar-se às demandas advindas das necessidades dos sistemas econô- mico e produtivos atuais, nos quais se destacam valores mercadológicos baseados em princípios como compe- titividade, flexibilidade e produtividade. A rápida circulação de informações e a globalização têm contribuído para a ideia da formação de um ser universal, que, a cada dia, é mais cobrado em relação a suas habilidades e conhecimentos profissionais. Frente a isso, Oliveira (2003) destaca e chama a atenção para os conceitos de empregabilidade e competência, que surgem para melhor adequar a educação às necessidades da nova ordem econômica e, também, para jus- tificar, “estratégias das elites visando retirar da materialidade das relações capitalistas a responsabilidade pela exclusão social e pelo desemprego em massa” (OLIVEIRA, 2003, p. 32). Figura 3 – Alunos em sala de aula. Legenda: Alunos em aula. Link: https://previews.123rf.com/images/lisafx/lisafx1108/lisafx110800003/10179261-Class-of-adult-college-students- taking-a-test-Focus-on-guy--Stock-Photo.jpg Oliveira (2003) ainda ressalta que: O conceito de empregabilidade estrutura-se a partir de uma estrutura econômica cujas carac- terísticas são a eliminação de postos de trabalho e o aumento da competição entre os trabalha- dores [...] A ‘incapacidade’ de criar mecanismos eficazes para a diminuição do desemprego em 10 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho massa obriga a implementação de mecanismos ideológicos justificadores das contradições na sociedade capitalista (OLIVEIRA, 2003, p. 35-36). Um novo conceito nasce para traduzir o que se espera deste novo modelo de trabalhador: COMPETÊNCIA. Segundo Ramos (2002), o conceito de competência foi incorporado à sociedade contemporânea como substi- tuto do conceito de qualificação, uma vez que este último se constituiu com o modelo taylorista-fordista, no qual a certificação por meio de um diploma era importante para a inserção inicial no mercado de trabalho. O modelo taylorista ou Taylorismo consiste na divisão do trabalho em diferentes sequênciase em registar o tempo que leva cada uma. Cada operador trabalha numa sequência, isto é, não se encarrega dos diferentes pas- sos implicados no trabalho. Posto isto, especializa-se numa única etapa do processo de produção. Já o Fordismo é um termo que se refere ao modelo de produção em massa de um produto, ou seja, ao sistema das linhas de produção. O modelo fordista foi um processo que se popularizou bastante durante o século XX, aju- dando a disseminar o consumo de carros entre todas as classes econômicas ao redor do mundo. Foi um modelo que surgiu a partir da racionalização do capitalismo, criando as chamadas ‘produções em massa’ e o ‘consumo de massa’. Ainda que os dois modelos supracitados tenham sido os de maior repercussão histórica, cabe destacar que mais dois conceitos industriais compõem o bloco conceitual dos modos de produção: o Toyotismo e o Volvismo. O primeiro, também conhecido como Sistema Toyota de Produção, é um modelo de produção industrial que visa atender ao princípio da acumulação flexível, evitando, principalmente, os desperdícios ao longo do processo. Criado após o término da Segunda Guerra Mundial, o Toyotismo surgiu no Japão para se adaptar à realidade deste país, que possuía um mercado muito menor do que o americano e o europeu, que trabalhavam com base no Fordismo. Ele referenciava-se no conceito de produção por necessidade, ou seja, produzia-se determinado produto de acordo com a demanda do mercado. Popularizou-se e se espalhou por várias regiões do mundo a partir da década de 1970, impulsionado principalmente pelo surgimento do neoliberalismo, quando o sistema capitalista começava a buscar novas formas de produção. Quanto ao Volvismo ou Sistema Reflexivo de Produção, constituiu-se como um modelo pós-fordista, no qual o operário é quem dita o ritmo das máquinas e conhece todas as etapas da produção, além de ser constantemente reciclado e participar, através dos sindicatos, de decisões no processo de montagem da planta da fábrica. É o modelo, dentre os citados, de mais participação do trabalhador. Cada um dos modelos de produção impactou de forma diferente os processos de ensino e aprendizagem, refe- renciando fortemente o perfil profissional vigente, de forma que a qualificação era desafiada a responder de maneira direta às necessidades advindas das indústrias. No entanto, com as inovações tecnológicas e organiza- cionais do trabalho, a qualificação inicial determinada pelos títulos e diplomas passou a representar consolidação e rigidez, ao passo que a aquisição de novas competências passou a representar dinamismo e flexibilidade. Nessa perspectiva, cabe à escola desenvolver habilidades técnicas e atitudinais que preparam o aluno não somente para a entrada no mercado de trabalho, mas, principalmente, para a sua permanência, incentivando a busca constante por novos desafios e conhecimentos. Perrenoud (2000) analisa que competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (sabe- res, capacidades, informações) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações. Nessa pers- pectiva, o autor se utiliza de quatro aspectos para realizar a insistência da noção de competência: 1) As competências não são elas mesmos saberes, savoir-faire ou atitudes, mas mobilizam, inte- gram e orquestram tais recursos. 2). Essa mobilização só é pertinente em situação, sendo cada situação singular, mesmo que se possa tratá-la em analogia com outras, já encontradas. 3) O exercício da Competência passa por operações mentais complexas, subentendidas por esquemas 11 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho de pensamentos (Altet, 1996; Perrenoud, 1996, 1998), que permitem determinar (mais ou menos consciente e rapidamente) e realizar (de modo mais ou menos eficaz) uma ação relativamente adaptada à situação. 4). As competências profissionais constroem-se, em formação, mais tam- bém ao sabor da navegação diária de um professor, de uma situação de trabalho a outra. (PERRE- NOUD, 2000, p.15). Essa concepção está intimamente ligada ao produtivismo, pois espera do trabalhador uma postura flexível frente aos desafios do mercado, no qual ele irá se adaptar a novas condições e frentes de trabalho de acordo com as demandas mercadológicas. A pesquisa sobre competência se referencia em diversas áreas do conhecimento, como Pedagogia, Psicologia, Economia, Sociologia, Administração e Ergonomia. Por ser um objeto passível de estudo de diferentes áreas, sem se constituir, no entanto, em tema específico de nenhuma delas, o significado de competência se encontra na fronteira desses saberes. Sua análise requer uma abordagem multidisciplinar e o foco à luz do contexto em que se produz o seu significado. Na área da Educação, ainda que esse termo já esteja amplamente referenciado em documentos oficiais do Ministério da Educação e faça parte do discurso da Educação Profissional, admite-se certa polissemia acerca do entendimento do conceito de competência, reflexo da amplitude de contextos e referenciais nos quais se produ- zem seu significado. 1.3 O conceito de competência O debate sobre competência, no recorte das pesquisas acadêmicas, surgiu nos Estados Unidos da América (EUA) por volta da década de 1970, no campo dos debates entre a Psicologia e a Administração. Inicialmente, a compe- tência era entendida como alternativa às medidas produzidas pelos testes de inteligência, a partir da constatação de que tais medidas pouco contribuíam na definição de prognósticos para o bom desempenho no trabalho. Nessa perspectiva inicial, a competência pode ser entendida como característica relacionada ao desempenho superior na realização de uma tarefa ou em determinada situação, distinguindo-se das aptidões, das habilidades e dos conhecimentos. Na década de 1980, a França viveu forte crise no setor de Siderurgia, o que levou ao questionamento do processo de formação profissional do trabalhador e, por conseguinte, a uma nova configuração para o entendimento da competência. Por conta da crise que se instalara, buscava-se pensar, naquele país, um sistema educacional que fosse capaz de aproximar o ensino das necessidades reais do mundo do trabalho, aumentando a capacitação dos trabalhadores e suas chances de emprego. No Brasil, nessa mesma década, marcada por intensa crise econômica e altos índices de inflação e desemprego, o conceito de competência passa a ser tema de acirradas discussões no campo acadêmico. Associado ao com- promisso político com a educação dos trabalhadores, o conceito adquire novos significados, para além do deter- minismo de sua vinculação com o alto desempenho. Por esse sentido ampliado, a competência passa a significar o domínio das formas adequadas de agir, representando o saber fazer. É nesse panorama do fim da década de 1980 e início da década de 1990, caracterizado pelo incremento da crise do modelo de produção vigente, que a ideia da competência, em franco debate no meio acadêmico, fixa sua trajetória no terreno da Educação Profissional. A identidade de classe cederia lugar à instrumentalização das relações entre sujeito e trabalho, tendo por mote a pretensa valorização das subjetividades individuais mascara- das pelo novo conceito da competência que, na verdade, nada mais seria que um ajuste do capital em direção à superação de sua própria crise e manutenção do lucro. 12 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho O modelo de formação para o desenvolvimento de competências, nessa perspectiva, induziria à exaltação da prerrogativa técnica da ocupação, desmobilizando a ação coletiva dos trabalhadores, bem como aumentaria a competitividade e o individualismo no trabalho. Portanto, se, por um lado, a competência pode ser vista pelo seu aspecto procedimental da execução da tarefa definida na ocupação, por outro também pode representar uma alternativa na qual se vislumbre uma formação integralque represente o aumento do significado real do trabalho para o homem e estimule sua capacidade de superação e transformação social. A escolha entre uma ou outra possibilidade dependerá do ponto de vista no qual se constrói o sentido atribuído à competência e sobre o qual se efetivam as ações de formação do trabalhador. O ambiente de intercessão desses conceitos, sem dúvida, é a escola, espaço privilegiado de convivência política, social e de construção e reelabora- ção de saberes. Como a escola contribui para o desenvolvimento de profissionais competentes? Figura 4 – Desenvolvimento de competência. Legenda: A tecnologia é considerada uma das principais ferramentas para o desenvolvimento de competências. Link: https://previews.123rf.com/images/auremar/auremar1201/auremar120107144/12019464-businesspeople-on-a- -seminar-Stock-Photo.jpg 1.4 Principais aspectos da Educação Profissional no Brasil Para atender ao desafio de estar em sintonia com as inovações advindas do progresso tecnológico e econômico, a Educação Profissional traz uma proposta curricular mais abrangente que contempla o desenvolvimento de competências e habilidades alinhadas ao novo perfil produtivo. A intenção é desconstruir o passado com práti- cas educacionais tecnicistas, em que o conhecimento propedêutico acabou assumindo um papel secundário e o aluno vivenciava uma formação deficitária. A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, tenta contemplar os desafios expostos quando afirma o propósito de estender ao poder público a obrigatoriedade de oferta de Ensino Médio, na qualidade de um direito do cidadão. Nos artigos 39 a 42, está registrado que a educação profissional poderá ser desenvolvida de forma integrada, articulada, concomitante ou subsequente ao Ensino Médio, observadas as Diretrizes Curri- 13 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho culares Nacionais definidas pelo Conselho Nacional de Educação, as normas complementares dos respectivos sistemas de ensino e as exigências de cada instituição de ensino, nos termos do seu projeto pedagógico. No que se refere à organização curricular, a LDB traz diretrizes para que as ofertas educacionais estejam em consonância com a economia mundial. A reforma educacional, a partir da legislação em vigor, no que se refere à Educação Profissional, dá autonomia para organizar os currículos em suas ofertas de cursos técnicos, desde que tenham como referencial as Diretri- zes Curriculares Nacionais, considerando seus respectivos projetos pedagógicos e as peculiaridades regionais (SENAC, 2007). A legislação atual, apresenta, ainda, a proposição de que os currículos sejam pautados pelos perfis profissionais de conclusão, permitindo, dessa forma, delimitação de itinerários profissionais, tendo como dispositivos (DEPRESBITERIS, 2001, p. 23): https://previews.123rf.com/images/regioeligo/regioeligo1403/regioeligo140300127/26529972-Vector-Progress-Back- ground-Product-Choice-or-Version-Stock-Photo.jpg Entendemos que cabe à Educação Profissional o papel de estimular os alunos para um aprofundamento dos conhecimentos, inclusive aqueles que não são mobilizados diretamente pela ocupação que ele escolheu. 14 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Figura 5 – Educação Profissional Legenda: Estimular os alunos para um aprofundamento dos conhecimentos https://previews.123rf.com/images/dolgachov/dolgachov1603/dolgachov160302152/53432983-people-profession- -qualification-employment-and-success-concept--Stock-Photo.jpg A Educação Profissional traz, em seu histórico, fatos importantíssimos para a compreensão e visão de uma pers- pectiva para o futuro. Percebemos que o novo Ensino Técnico no Brasil percebe este segmento como instru- mento de transformação e de enriquecimento do conhecimento, sendo capaz de modificar a vida social e con- tribuir, assim, de maneira mais ampla ao conjunto da experiência humana. Atualmente, o aluno que opta pela formação profissional não é mais, majoritariamente, aquele que não tem oportunidade de frequentar o Ensino Superior. Este aluno encontra uma realidade diferenciada que expõe a figura do cidadão que deve dominar conceitos da educação geral e conceitos específicos de sua prática profissio- nal. Além disso, dissemina-se, hoje, o objetivo da democratização da educação não apenas para se formar para o mercado de trabalho, mas também para se adaptar a uma nova sociedade e enfrentar sua realidade. Para saber mais sobre a legislação que rege a Educação Profissional no Brasil, acesse: <http:// portal.mec.gov.br/component/content/article?id=32141>. Acesso em: 22 abr. 2017. 15 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho 1.5 O docente na Educação Profissional A falta de docentes qualificados se constitui num dos pontos de atenção mais importantes que dificultam a expansão da Educação Profissional no Brasil. Atualmente, anunciam-se diversas medidas político-educacionais voltadas ao crescimento da oferta desta modalidade no país. Por outro lado, ampliou-se o entendimento de que esse segmento educacional contempla processos educativos e de pesquisa, bem como a adaptação de soluções técnicas e tecnológicas para o desenvolvimento social e econômico nacionais. Compreende-se que a resolução desta questão está pautada na organização, planejamento e coordenação de esforços de superação da estrutura fragmentada que ainda caracteriza a Educação Profissional no Brasil. Há, hoje, ofertas variadas para a formação de docentes para esta área, mas são muito reduzidas considerando o potencial de demanda. Essas ofertas são constituídas por programas especiais, cursos de pós-graduação, forma- ção em serviço e formação a distância. Apesar de poucas, as licenciaturas têm sido apontadas como essenciais por se constituírem enquanto espa- ços privilegiados da formação docente inicial. Elas podem ter, ainda, um importante papel na profissionaliza- ção docente, pois incentivam o intercâmbio de experiências, o desenvolvimento da reflexão pedagógica sobre a prática docente e promovem o fortalecimento dos elos entre ensino-pesquisa-extensão. Isso favorece pensar a profissão, as relações de trabalho e de poder nas instituições escolares, a responsabilidade dos professores etc. As exigências em relação ao perfil dos docentes da Educação Profissional estão, hoje, mais elevadas e definidas. Superou-se o padrão da escola-oficina, que obrigava ao aluno a aplicação de séries metódicas de aprendiza- gem. Instrutores recrutados nas empresas, segundo o padrão de que para ensinar basta saber fazer, apresentam grandes limitações não somente pedagógicas, mas também teóricas, com relação às atividades práticas que ensinam, justamente pela falta de conhecimento didático e pedagógico. Os docentes enfrentam também novos desafios relacionados às mudanças organizacionais que afetam as rela- ções profissionais, aos efeitos das inovações tecnológicas e sobre as atividades de trabalho e ao novo papel que os sistemas simbólicos desempenham na estruturação do mundo do trabalho. São novas demandas à constru- ção e à reelaboração dos saberes fundamentais à análise, à reflexão e às intervenções críticas na atividade de trabalho. Superar o histórico de insuficiência de formação pedagógica que caracteriza a prática de muitos docentes da Educação Profissional contemporânea implica reconhecer que a docência é muito mais que mera transmissão de conhecimentos empíricos ou processo de ensino de conteúdos fragmentados e esvaziados teoricamente. Empírico: baseado na experiência e na observação, metódicas ou não. Glossário Para formar a força de trabalho requerida pela dinâmica tecnológica que se propaga mundialmente, é necessário um outro perfil de docente capaz de desenvolver pedagogias do trabalho independente e criativo, de construir a autonomia progressiva dos alunos e de participar de projetosmultidisciplinares e integrados. No mais, uma política definida para a formação de professores que atenda a tais necessidades será um grande incentivo para a superação da atual deficiência teórica e prática deste campo educacional em relação aos aspectos pedagógicos e didáticos. 16 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Sabemos que professores de Educação Básica e de Educação Profissional comungam das mesmas necessida- des com relação à valorização de sua formação, desenvolvimento profissional, condições de trabalho, salário e carreira, que os permitam enfrentar a precarização e se envolverem com todo o comprometimento necessário à educação de qualidade prevista, inclusive no atual Plano Nacional de Educação (PNE). Para saber mais a respeito do Plano Nacional de Educação acesse: <http://pne.mec.gov.br/>. Acesso em: 22 abr. 2017. É requisito básico que o docente da Educação Profissional seja um sujeito da reflexão e da pesquisa, aberto ao trabalho coletivo e integrado, comprometido com sua atualização permanente na área de formação específica e pedagógica, com plena compreensão do mundo do trabalho e das relações que envolvem educação e trabalho. Certamente, as bases tecnológicas constituem um diferencial importante do perfil do docente a ser formado, pois se referem ao conjunto sistematizado de conceitos, princípios e processos relativos a um eixo tecnológico e a determinada área produtiva – de bens e serviços – resultante, em geral, da aplicação de conhecimentos científicos. Figura 6 – Docente em sala de aula. Legenda: O docente tem o compromisso de contribuir para o desenvolvimento da educação profissional https://previews.123rf.com/images/goodluz/goodluz1506/goodluz150600736/41251665-Teacher-with-group-of-stu- dents-working-on-digital-tablet-Stock-Photo.jpg 17 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho Nesse sentido, o perfil do docente precisa, também, estar alicerçado, pois entendemos tratar-se de um profissio- nal que sabe o que, como e por que fazer e que aprendeu a ensinar para desenvolver adequadamente as com- petências de outros profissionais. Desta forma, tem papel e compromisso como educador, independentemente de outra atividade que venha a ter, contribuindo, assim, como participante ativo, para o desenvolvimento da educação profissional. Portanto, o professor da Educação Profissional deve ser capaz de permitir que seus alunos compreendam, de forma reflexiva e crítica, os mundos do trabalho, dos objetos e dos sistemas tecnológicos dentro dos quais estes evoluem. Devem também compreender: as motivações e interferências das organizações sociais pelas quais e para as quais estes objetos e sistemas foram criados e existem; a evolução do mundo natural e social do ponto de vista das relações humanas com o progresso tecnológico; como os produtos e processos tecnológicos são concebidos, fabricados e como podem ser utilizados; métodos de trabalho dos ambientes tecnológicos e das organizações de trabalho. O olhar crítico e reflexivo sobre as políticas educacionais, incluindo as de formação docente, na atual realidade é exigência numa sociedade tão desigual. Particularmente, a partir dos anos 1990, a prioridade dos governos tem sido a inserção do país no mercado globalizado, de forma que as políticas sociais vêm se mantendo atreladas ao bom desempenho da economia, cabendo à educação, de forma subordinada, o que sobra e não o que atenderia às necessidades efetivas da população. (Saviani, 2000). Precisa, igualmente, saber desenvolver comportamentos proativos e socialmente responsáveis com relação à pro- dução, distribuição e consumo da tecnologia. O docente da Educação Profissional deve ser capaz de descrever prá- ticas profissionais, de levar em conta o uso que quer fazer desta descrição nos processos de ensino e aprendizagem. Ou seja, é indispensável que, além da experiência profissional articulada à área de formação específica, ele saiba trabalhar com as diversidades regionais, políticas e culturais existentes, educar de forma inclusiva, contextualizar o conhecimento tecnológico, explorar situações-problema, dialogar com diferentes campos de conhecimentos e inserir sua prática educativa no contexto social, em todos os seus níveis de abrangência. Em resumo, o perfil do docente da educação profissional precisa dar conta de três níveis de complexidade: • Desenvolver capacidades de usar, nível mais elementar que está relacionado à aplicação dos conheci- mentos e ao emprego de habilidades instrumentais; • Desenvolver capacidades de produzir, o que requer o uso de conhecimentos e habilidades necessários à concepção e à execução de objetivos para os quais as soluções tecnológicas existem e devem ser adaptadas; • Desenvolver capacidades de inovar, nível mais elevado de complexidade e que está relacionado às exi- gências do processo de geração de novos conhecimentos e novas soluções tecnológicas. Esperamos ter levado você a uma reflexão bem embasada a respeito dos temas tratados nesta primeira unidade sobre Educação e Trabalho. Mas, como nossa intenção é que sua reflexão e os debates aqui levantados não se esgotem, convidamos você a ir até o fórum e participar das discussões, através de uma interação com seus colegas, a respeito desse tema. Essa troca é muito importante para enriquecer seu aprendizado. Use sua criativi- dade e debata com seus colegas! 18 Considerações finais No decorrer deste estudo, tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos históricos presentes na relação Educação e Trabalho, bem como perceber qual o papel da escola dentro deste processo. Os principais pon- tos abordados foram: • A definição dos conceitos de Educação e Trabalho, especialmente no que tange ao histórico destes termos ao longo da história, no Brasil e no mundo; • O início do processo de profissionalização da população no perí- odo pós-colonização pelos jesuítas; • O legado da Reforma Capanema nas primeiras iniciativas formais de Educação Profissional; • Competência como demanda advinda das mudanças nos siste- mas produtivos que impactaram o mercado de trabalho; • A escola como espaço social para a formação de trabalhadores que atendam às novas exigências de mercado, principalmente em relação à produtividade, competitividade e flexibilidade; • Principais características do docente que atua na Educação Pro- fissional: qual sua formação e como atua na preparação de novos profissionais que a cada dia apresentam perfis mais diferenciados. Referências bibliográficas 19 ALBORNOZ, S. O que é Trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. BRANDÃO, C. R. O que é Educação? 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. BRASIL. Decreto-Lei n.º 4048 (1942). Cria o serviço de Aprendizagem dos Industriários (SENAI). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4048.htm>. Acesso em 25 mar. 2017. ______. Decreto-Lei n.º 8621 (1946). Dispõe sobre a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial e dá outras providências. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/ Del8621.htm>. Acesso em 25 mar. 2017. ______. Lei n.º 4.024 (1961). Fixa as Diretrizes e bases da Educação Nacio- nal. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1960- 1969/lei-4024-20-dezembro-1961-353722-publicacaooriginal-1-pl. html>. Acesso em: 25 mar. 2017. ______. Lei n.º 9.394 (1996). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/ lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2017. DEPRESBITERIS, L. Concepções Atuais de Educação Profissional. 3 ed. Brasília: SENAI/DN, 2001. GENTILI, P. Educar para o desemprego: a desintegração da promessa integradora (2007). Disponível em: <http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/ sec21/ chave_artigo.asp?cod_artigo=209>. Acesso em: 25 mar. 2017 GHIRALDELLI JR., P. História da Educação.São Paulo: Cortez, 1990. 20 Educação e Trabalho | Unidade 1 - Perspectiva histórica da relação entre Educação e Trabalho KUENZER, A. Z. Ensino Médio: construindo uma proposta para os que vivem do trabalho. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. MANFREDI, S. M. Educação profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. MARX, K. O Capital: crítica da economia política. Trad. Regis Barbosa; Flávio R. Kothe. São Paulo: Abril Cultural, 1985. OLIVEIRA, R. A (Des)Qualificação da Educação Profissional Brasileira. São Paulo: Cortez, 2003. PERRENOUD, P. Dez Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. RAMOS, M. N. A Educação Profissional pela Pedagogia das Competências e a Superfície dos Documentos Ofi- ciais. In: MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Escola de Gestão da educação básica. Curso de Especialização em Gestão Escolar. Disponível em: <http://escoladegestores.mec.gov.br/site/8-biblioteca/biblioteca.htm>. Acesso em: 22 abr. 2017. SAVIANI, D. Da Nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação: por uma outra política educacional. Campinas: Autores Associados, 2000. SENAC. A Educação Profissional no Contexto da Educação. Disponível em: <www.senac.br>. Acesso em: 25 mar. 2017. Referência Complementar ENGELS, F.; MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Trad. Alex Martins. São Paulo: Martin Claret, 2005. 22 2Unidade 2 Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Para iniciar seus estudos Durante a abordagem do tema Educação e Trabalho nesta disciplina, pode- mos observar que a educação pode adotar como finalidade diversos papéis em função da sociedade, da religião ou do Estado e ter, na sua essência, os interesses industriais ou tecnológicos, políticos ou sociais. Nesta unidade, vamos aprofundar um pouco mais sobre o papel social e econômico que a educação pode assumir. Viajaremos um pouco na história, estudando os principais modelos de gerenciamento científico e discutiremos um pouco como, por exemplo, a Revolução Industrial teve papel primordial nos mode- los educacionais da época e que perduram até os dias de hoje. Ao iniciar seus estudos por aqui, faça-o com a mente aberta e com os hori- zontes ampliados para aproveitar ao máximo e deixe seus pensamentos divagarem para novas ideias e conhecimentos. Bons estudos e divirta-se! Objetivos de Aprendizagem • Identificar os modelos clássicos e modernos de gerenciamento científico do trabalho e sua relação com a educação; • Refletir sobre a evolução dos modelos pedagógicos e de gestão do trabalho no passado e no presente; • Problematizar acerca de questões ligadas aos saberes pedagógi- cos, em prática no mundo do trabalho; 23 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico 2.1 Introdução Falar em modelos de gerenciamento científico e educação faz com que nós viajemos no tempo e voltemos ao passado realizando uma verdadeira retrospectiva dos modelos e um paralelo com os moldes educacionais, prin- cipalmente no Brasil. A educação brasileira seguiu os momentos de nossa história com o interesse voltado para o Estado e para a elite burguesa durante muitos anos, principalmente no período da Ditadura Militar. Nesse contexto, falar em educação para a massa, para a população em geral, sempre foi falar em educação para o mercado profissional, para a formação da mão de obra que, durante muitos anos, movimentou as indústrias, a agricultura e as grandes multinacionais. Estudaremos um pouco sobre os modelos clássicos e modernos e fare- mos uma ligação direta com os períodos educacionais brasileiros, desde o período da educação oferecida pelos jesuítas até a educação profissional adotada durante o período da Ditadura Militar. Cabe ainda apontar, antes de entrarmos na próxima seção, que a relação entre trabalho e educação sempre esteve associada, principalmente nas políticas públicas e no momento da criação delas, ao mercado nacional e mundial, sempre regido pela economia. 2.2. Gerenciamento científico do trabalho Ao abordar o gerenciamento científico do trabalho, lançamos um olhar mais amplo para seus acontecimentos e o dividimos em duas partes: tradicional e inovadores, ou modernos. A primeira parte diz respeito aos primórdios, mescla-se com a Revolução Industrial (1760-1820/1840) e traz grandes visões organizacionais para as indústrias, principalmente com o advento de novas tecnologias que fizeram com que o processo de trabalho fosse repensado. O segundo período engloba mais especificamente o período pós- Revolução Industrial, o avanço da tecnologia e a reformulação do ambiente de produção e criação dentro das indústrias, principalmente com o avanço dos computadores e da robótica. Você já parou para pensar o quanto a Revolução Industrial foi responsável pelo atual modelo das indústrias? Como uma revolução afetou os principais modos de produção de uma gera- ção inteira? A Revolução Industrial foi muito expressiva para o modelo de indústria que se constituiu e se tornou o principal modelo até meados de 1920, a Era Produção em Massa, que deu base para a Era da Eficiência que, por sua vez, se estendeu até 1970, quando entramos em outra revolução, a Revolução da Informação, assunto sobre o qual falaremos mais à frente. A Era da Produção em Massa e a Era da Eficiência foram responsáveis por três modelos tradicionais de gerenciamento: clássico, comportamental e pragmático (este último você pode encontrar nos livros como Modelo Neoclássico). 24 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico O modelo clássico é embasado nas teorias e práticas de Ford e Taylor, que estruturaram suas indústrias basica- mente para a produção em larga escala para atender a demanda do mercado. Criou-se uma relação unilateral entre produtor e cliente, uma vez que não havia a possibilidade de personalização. Isto fica muito claro com a empresa automobilística Ford, na qual produzia-se apenas um único modelo em uma única cor. O trabalho dentro da indústria era totalmente operacional e a preocupação de seus gestores era somente na melhoria da tarefa realizada, com o interesse em apenas encontrar formas de conseguir aumentar a produção para atender ao mercado. O filme “Tempos Modernos” retrata o cotidiano de um operário em uma linha de produ- ção da época. Apesar do lado encantadoramente cômico pela atuação de Chaplin, o filme faz uma forte crítica à especialização dos operários em executar uma única tarefa dentro da indústria. Por muitas vezes, ele nem sabia o que estava produzindo efetivamente. Ficou curioso? Fica a dica para assistir o filme. Figura 1 – Filme “Tempos Modernos”. Legenda: Filme de 1936 dirigido e roteirizado por Charles Chaplin, principal protagonista, retrata de forma cômica o dia a dia de um operário em uma linha de produção onde sua única função era apertar parafusos. Fonte: Captura de tela do filme “Tempos Modernos” (1936). Tal preocupação ficou marcada na Teoria Clássica da Administração teorizada e colocada em prática por Henri Fayol (1841-1925), publicada em 1916 na França. Sua teoria dava ênfase total à estrutura da organização, bus- cando maior produtividade e maior eficiência do trabalhador e da empresa. 25 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico O primeiro veículo foi patenteado no ano de 1885 por Karl Benz, na Alemanha. Somente quase 25 anos depois, entrou em produção, nos Estados Unidos da América, o Ford Modelo T, o qual visava atingir a camada mais pobre da população, tornando-se o primeiro veículo popular a ser produzido. Durante muitos anos, o modelo clássico ficou sempre em primeiro plano, mas a preocupação, aos poucos, deixou de ser somente a produção, e passou a incluir como estes produtos estavam saindo da linha de montagem. O modelo comportamental foi fundado em estudos que comprovaram que o funcionário era a parte primordial para a produção rápida e com qualidade. A satisfação dos funcionários da linha de produção era essencial para a realizaçãode um trabalho rápido, eficiente e de qualidade; caso contrário, sua infelicidade e seu desconforto eram transmitidos diretamente para o produto. O modelo comportamental deixou de se preocupar diretamente com o quanto era produzido e passou a focar em quem produzia, trabalhando diretamente com a gestão das pessoas envolvidas no processo. A motivação para a realização do trabalho era o foco de estudos e investimentos. Este modelo trabalha com a ideia de conciliação das pessoas com a empresa, colocando o gestor como um con- dutor dos funcionários que lidera as equipes e os motiva para a realização do trabalho. A chave para a eficiência produtiva, nesse sentido, é a motivação. Além disso, o modelo supracitado reduz as dependências hierárquicas e as posições de comandos e chefias, tor- nando a organização um sistema social adaptativo e transformando-a num ambiente em que é capaz de realizar intervenções planejadas nos procedimentos, aumentando a eficiência da produção. O modelo pragmático ou neoclássico, por sua vez, introduz a necessidade de resultados palpáveis e concretos, metas delimitadas e objetivos a serem alcançados em determinados períodos de tempo. A administração passa a ganhar grande importância, abrangendo todos os demais modelos e incorporando, principalmente, a Teoria das Relações Humanas, com ênfase nos conceitos de motivação, de comunicação e de liderança. A empresa, agora, perde a sua característica de modelo fechado, tornando-se necessária sua adaptação à evo- lução pela qual o mercado está passando. A inovação de produtos e de abordagens para o mercado é o princípio básico para que a empresa continue sendo rentável. A partir de 1970, começa um novo período, o qual é chamado de Revolução da Informação e é responsável por dois novos modelos de gestão, nomeados como Novos Modelos. Estes são compostos por duas eras muito importantes e de grande destaque, principalmente pela tecnologia eletrônica e informatizada. São elas: • Era da Qualidade; • Era da Competitividade. Essas duas eram foram marcadas pelos modelos sistêmico e contingencial. 26 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Quadro 1 – Ondas de transformação. Revoluçao agrícola Revolução industrial Revolução da informação A té 1950 1970 Fonte: Elaborado pelo autor. Fonte das imagens: <http://www.coolclips.com>. Acesso em: 20 abr. 2017. O modelo sistêmico remete um pouco às características do modelo clássico de Ford. Porém, aqui o mundo está diferente, o que implica que as organizações também devem se comportar de forma diferenciada, neste caso, como sistemas. Sistemas que interagem com o meio, que sofrem influências externas e que têm o poder de influenciar o meio em que estão inseridos. Esta interação com o meio se torna tão intensa e tão necessária para o sucesso das organizações, que surgem as organizações estratégicas preocupadas principalmente com os clientes, que passam a exercer um papel ativo nas tomadas de decisões das organizações, assumindo, assim, o papel de influenciadores externos. Tem destaque, neste período, o que ficou conhecido como Toyotismo, um sistema de organização desenvolvido na fábrica de veículos automotivos da Toyota, no Japão, que tinha como principais características a mão de obra muito bem qualificada e sistemas mecanizados de fabricação com o principal foco em evitar o desperdício, pro- duzindo somente o necessário. O mercado é quem dita a velocidade de produção e a qualidade é primordial. A inspeção dos produtos é feita por profissionais de alta qualidade técnica e, junto a isso, é necessário expandir uma verificação de qualidade em todas as etapas da produção, e não somente no final, como era de costume na época. A utilização de pesquisas de mercado para verificação de se os produtos oferecidos estão de acordo com as exigências dos clientes tam- bém surgiram para, o quanto fosse necessário, fazer as alterações conforme a demanda. 27 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Figura 2 – Controle de qualidade da Toyota. Legenda: A figura 2 ilustra o processo de controle de qualidade da linha de produção de veí- culos da marca Toyota. Ela figura retrata a inspeção final do veículo ao final da linha de mon- tagem. Este processo se repete ao final de cada etapa de construção. Fonte: Toyota / Foto pública. Além da preocupação em melhorar a qualidade de seus produtos, a Toyota mantém um programa de conscientização e desenvolve projetos para diminuição do consumo de recur- sos naturais, aplicando uma metodologia própria, o Toyota Business Practices (TBP). Ficou curioso? Conheça mais sobre o projeto em <http://www.fundacaotoyotadobrasil.org.br/>. Acesso em: 20 abr. 2017. O modelo sistêmico foi extremamente importante para dar embasamento ao modelo que o sucederia a partir de 1990 e que ficou conhecido como modelo contigencial, desenvolvido em meio à Era da Competitividade, na qual o mundo está entrando na era globalizada, com um novo mercado interligado e sedento por novos produtos. Este modelo encontra um novo patamar de concorrência e as preocupações das empresas, que antes era local, agora é global. Apesar de todo o enfoque em alimentar um mercado consumidor o qual demanda uma enorme produção, a qualidade é prioridade. Agora o produto é personalizado, o consumidor escolhe entre diferentes opções do mesmo produto ou serviço, o que o torna algo mais pessoal e próximo ao cliente, que ganha voz ativa no mercado de produtos. Os profissionais passam a ser qualificados, gerando capital intelectual para as empresas, que se tornam multina- cionais com representantes nos polos comerciais mundiais de seus maiores interesses. Procura-se, neste período, a melhora da produção levando em consideração a melhoria contínua de seus trabalhos e processos. Além disso, começam a serem utilizadas diversas estratégias de investimento, produção e comercialização dos produtos. 28 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Com o advento da tecnologia, principalmente da informática e com as novas prioridades do mercado mundial, globalizado, com países estruturados a partir de seu poderio econômico e intelectual, surgiram novos modelos de gerenciamento, os chamados modelos emergentes. Este tipo de modelo não se baseia mais em burocracia, exército, igrejas ou indústrias. Seu principal ‘combustível’ é a tecnologia da informação, com princípios de colaboração, cooperação e coordenação. Devido à grande velo- cidade com que o mundo se transforma, a hierarquia e a burocratização perderam valor e importância, pois estes processos e arranjos travam o desenvolvimento e o desempenho dos novos empregados, que agora produzem conhecimentos, serviços e produtos de forma diferenciada. Figura 3 – Linha de montagem moderna. Legenda: Linha de montagem da fábrica da VW, localizada na cidade de São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo. Fonte: Volkswagen / Foto pública. Nos atuais modelos emergenciais, o papel do chefe perde totalmente o sentindo na estrutura, uma vez que a hierarquia está sendo descontruída e um novo formato de trabalho surge conforme a necessidade de cada mer- cado de trabalho, conforme cada área de atuação. Surgiu, em seu lugar, o líder, que desenvolve um papel de arti- culador, um orientador de um grupo que define o caminho que será seguido para atingir metas e resultados. O conhecimento, se prático, evolui rapidamente, tornando padrões que antes eram aceitos e duradouros por sécu- los, em outros que duram por curtos períodos, sempre sendo superados por novas descobertas ou inovações. No quadro a seguir, podemos observar as eras de evolução e os modelos que foram desenvolvidos ao longo dos anos. Após a Era da Competitividade, surgiu, em meados de 2000, uma nova era em que os modelos tomaram outras proporções, principalmente com a popularização da internet. A informação corre o mundo em frações de segundos e um produtocomercializado no extremo leste do planeta pode ser comprado facilmente por uma pessoa que está no centro. O conhecimento ganha muito mais importância do que o próprio produto físico e o capital passa a ser investido na produção de conhecimentos significativos e aplicados a objetos de real necessi- dade e interesse do mercado consumidor global. 29 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Quadro 2 – Linha do tempo das eras e os modelos de gestão. Er a da p ro du çã o em m as sa Er a da e fic iê nc ia Er a da q ua lid ad e Er a da c om pe ti ti vi da de Er a. .. Modelos tradicionais Novos modelos Modelos emergentes 1920 1950 1970 1990 2000 Fonte: Elaborado pelo autor. Legenda: Divisão dos modelos de gerenciamento científico por período e as eras que os compuseram e os compõem até os dias de hoje. As informações não param de chegar, não é mesmo? Aproveite e reflita mais sobre o tema visitando o Fórum Desafio e interagindo com os demais colegas. 2.3 Uma breve história da Educação Profissional no Brasil A Educação no Brasil, desde a chegada dos portugueses em 1500, vive momentos turbulentos no que diz res- peito à educação, principalmente se observamos que, ao longo dos anos, a educação básica torna-se principal meio de formação para o mercado de trabalho e, também, para a formação do cidadão. A primeira preocupação com a educação no Brasil é datada de 1549, com a chegada dos jesuítas para catequizar os índios. O principal objetivo dos jesuítas, nas chamadas reduções ou missões, era converter os índios ao Cristianismo e, ao mesmo tempo, orientá-los ao trabalho agrícola. Ao contrário do que sempre se imaginou, a vinda dos jesuítas ao Brasil objetivava, além da visibilidade católica, a preparação do índio para o trabalho, afinal a Igreja Católica enxergava o Brasil como uma excelente colônia para produção e exploração, o que se intensificou ao longo dos anos. Este é o primeiro registro de Educação voltada ao Trabalho da história brasileira, estado voltada aos inte- resses da Igreja Católica. Somente 210 anos depois, com a expulsão dos jesuítas pelo Marquês de Pombal, é que a Educação começa a ser definida e deixa de exercer a função de catequizar os índios, passando a atender a elite que já se movimentava 30 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico para o Brasil. A escola se organiza em aulas régias de Latim, Grego e Retórica e ganha um incentivo fiscal portu- guês para a produção de material literário para o Brasil. A retórica é muito utilizada nos dias atuais, principalmente nos cursos de Oratória, dando ao estudante uma formação para que se tenha uma boa postura e saiba se colocar com boa oratória e com as palavras certas para determinados fins. Durante os anos seguintes, este modelo educacional voltado para a elite predomina no Brasil, principalmente no período Imperial, com a vinda da Família Real portuguesa para o Brasil. Nessa época, começa uma forte expansão das escolas com foco nessa elite brasileira. Apesar de a educação ser para a elite, algumas escolas e academias surgem com um enfoque um pouco dife- rente, voltadas para a segurança e para a massa. Como exemplo temos as primeiras academias militares e o Laboratório de Química, no Rio de Janeiro, a primeira escola com a finalidade de capacitar toda a população. Outro exemplo é a criação do curso de agricultura na Bahia. Além disso, enquanto no Rio de Janeiro foram cria- dos cursos de formação primária e secundária, surge, Minas Gerais, a Escola de Serralheiros, Oficiais de Lima e Espingardeiros para formação e suprimento de ferramentas e armamento para o Brasil. Com a presença da Família Real no Brasil, o país vive uma grande crise na educação com a falta de docentes. Em 1822, ocorre o processo de independência do Brasil e, em 1879, surge a primeira reforma significativa, porém desastrada para a educação brasileira. A reforma de Leôncio de Carvalho propunha que qualquer pessoa que se sentisse apta para lecionar poderia fazê-lo de forma livre, conforme suas ideias, convicções e métodos. Propu- nha, ainda, que a frequência nos cursos secundários e superiores fossem livres. Durante este período, a qualidade educacional despencou drasticamente e a formação tornou-se algo mais banalizado, inclusive a ideia da educa- ção profissionalizante. No século seguinte, no governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1936), cria-se o Ministério da Educação e da Cultura (MEC), que amplia a interferência do Estado na educação, principalmente no que diz respeito à inclusão do Ensino Religioso na Educação Básica. Mesmo com a reformulação do MEC e da Constituição em 1934 (BRASIL, 1934), e a nova Constituição de 1937 (BRASIL, 1937), a educação profissionalizante não apresentava uma forma- lização quanto ao seu oferecimento, tendo em vista que davam atenção à educação quanto às responsabilidades para com a educação primária, deixando a cargo dos sindicatos e indústrias o ensino técnico-científico 31 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Quadro 3 – Períodos da educação brasileira. Fonte: Elaborado pelo autor. Com esta nova normalização para a educação, temos um enfoque profissionalizante, uma vez que ela é ofere- cida por indústrias e sindicatos especializados tendo em vista a formação de mão de obra qualificada e orientada para o setor. Dessa forma, torna efetivamente a educação como instrumento de preparação para o trabalho, o que ganha grande destaque, principalmente, com a constituição do Sistema S. Outro ponto a ser destacado na Constituição de 1937 é a divisão do ensino secundário em duas modalidades: • Ensino Secundário Clássico e Humanista, destinado à elite brasileira; e • Ensino Secundário Industrial, destinado à população geral. Sistema S – Termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas vol- tadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, e que, além de terem seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e caracte- rísticas organizacionais similares. Fazem parte do sistema S: Serviço Nacional de Aprendiza- gem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac). Existem, ainda, os seguintes: Ser- viço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar); Serviço Nacional de Aprendizagem do Coope- rativismo (Sescoop); e Serviço Social de Transporte (Sest). Fonte: <http://www12.senado.leg.br/noticias/glossario-legislativo/sistema-s>. Acesso em: 20 abr. 2017. Glossário Neste ponto da história brasileira, estávamos entrando num dos períodos mais sombrios para a educação e para a política nacional. Com uma forte influência do militarismo e uma dura ditadura, a educação brasileira ficou nas mãos dos militares. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1971 (BRASIL, 1971) torna o ensino do segundo grau em um ensino profissionalizante, enfatizando o papel da educação em formar a população para o mercado de trabalho, e não para a continuidade de seus estudos. 32 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Tal feito na educação fica claro quando se constitui o Programa de Profissionalização que oferece formação téc- nica profissional para a grande massa populacional brasileira. Este programa retorna em 2011 com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) que, além de englobar as redes estaduais e muni- cipais de ensino e todo o Sistema S, agora engloba as instituições de ensino superior com cursos de educação profissional e tecnológica. No período de transição para a democracia, com o fim do período da ditadura militar, o Brasil caminhava para um novo desconhecido e a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) que, complementada pela Lei de Diretrizes e Bases de 1996 (BRASIL, 1996),caminham juntas para um ensino médio e técnico voltado para a formação de cidadãos para o mercado de trabalho. 2.4. Desafio para a Educação frente aos modelos emergentes Esta nova era em formação produziu uma nova geração de jovens com posturas e métodos diferenciados dos tradi- cionais, a partir da expansão da internet como principal meio de fluxo de informação rápida e instantânea. O mundo se uniu completamente num banco de dados gigantesco e a educação formal, principalmente a brasileira, demora a se adaptar para entrar num modelo de educação que demanda uma adaptação rápida e significativa. Os modelos tradicionais educacionais desenvolvidos principalmente durante a Ditadura Militar, que ainda são aplicadas na maioria das escolas e que regem as principais políticas públicas, hoje já deixam de fazer sentido frente ao avanço exponencial das tecnologias da informação. É preciso repensar, com uma certa urgência, o formato como estamos educando as nossas crianças e jovens. Devemos conscientizar que, hoje, o professor não mais detém todos os conhecimentos, ele é um intermediador dos conhecimentos E o conhecimento não está mais somente nos livros e dentro das universidades, ele foi globalizado junto com a economia e com a política. Um jovem de 15 anos que possui um celular na palma da mão está conectado mundialmente. Ele tem um mundo de novas possibilidades e de novos conhecimentos a cada segundo, mundo este que se transforma, expande e traz novos conceitos e novas teorias. Gráfico 1 – Número de matrículas na educação profissional por rede de ensino – Brasil 2008-2016. Fonte: Censo Escolar 2016 – INEP. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/censo-escolar/>. Acesso em: 20 abr. 2017. 33 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Segundo último senso realizado no ano de 2016 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o Brasil conta com mais de 1,9 milhão de alunos matriculados na educação profissional, que inclui todos os programas governamentais e particulares de modalidades de educação profissional para alu- nos a partir dos 16 anos de idade. Mostra, ainda, que a procura pela rede pública de ensino aumentou cerca de 5% em relação ao ano de 2015 e que a rede particular registrou uma queda de mais de 12%. Você sabe o que é o INEP? Na apresentação presente no site do instituto, consta: “O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia fede- ral vinculada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro. Dentre os principais objetivos estão o subsídio da formulação e implementação de políticas públicas para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e equidade, bem como a produção de informações claras e confiáveis aos gestores, pesquisadores, educadores e público em geral.” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2017). Saiba mais em: <http://portal.inep.gov.br/>. Acesso em: 20 abr. 2017. Os mesmos dados do censo de 2016 mostram, ainda, que o número de matrículas na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) relacionado à educação profissional partiu de pouco mais de 18 mil alunos em 2008 e atingiu o patamar de mais de 105 mil alunos em 2015, registrando pouco mais de 95 mil alunos no ano de 2016, conforme pode ser observado no Gráfico 2. Gráfico 2 – Número de Matrículas do EJA por etapa de ensino – Brasil – 2008-2016. Fonte: Censo Escolar 2016 – INEP. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/censo-escolar/>. Acesso em: 20 abr. 2017. 34 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico O papel do professor é saber utilizar estes novos conceitos que surgem mundialmente a cada segundo e orientá- -los aos seus alunos. Cabe lembrar que o papel do professor, hoje, é formar o seu aluno para a cidadania e para o mercado de trabalho, no qual já pode ser inserido a partir dos 16 anos, por meio dos programas de Jovens Apren- dizes. A educação perdeu há muito tempo a formação para uma linha mais filosófica e científica, por interesses do Estado. Esta formação, no entanto, continua sendo para um mercado de trabalho, para uma produção em massa, mesmo que esta produção em massa ganhe um novo sentido, com empresas que produzem mais servi- ços do que produtos. 35 Considerações finais Nesta unidade, você conheceu os principais modelos de gerenciamento e o impacto direto que tiveram na educação, principalmente nas diversas fases educacionais brasileiras. Podemos destacar, como tópicos mais importantes: • O modelo clássico e o Fordismo, com linhas de produções sequenciais e individualização do trabalho; • O modelo comportamental, que se preocupa com o funcionário e sua motivação para realizar o trabalho; • O modelo pragmático ou neoclássico, que se preocupa com resultados plausíveis e palpáveis; • O modelo sistêmico, direcionado à interferência externa sobre a indústria; • O modelo contingencial mostra que há uma relação entre o meio em que a empresa está inserida e a própria empresa dentro de sua organização administrativa; • Os modelos emergentes se preocupam em atingir e organizar as novas formas de organizações que surgiram com o avanço da tecnologia; • A Educação Profissionalizante sofre grande influência, durante toda a história brasileira, do interesse de seus governantes ou de órgãos específicos; • As formas de organização educacional para o mercado de tra- balho, desde a chegada dos jesuítas até a atualidade. • O aumento significativo da educação profissional ao longo dos anos, principalmente se considerarmos o que é demonstrado pelo Censo Escolar de 2016. Referências bibliográficas 36 BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1934). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao34.htm>. Acesso em: 20 abr. 2017. _______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil (1937). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao34.htm>. Acesso em: 20 abr. 2017. _______. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em: 20 abr. 2017. ______. Lei n.º 5692 (1971). Fixa diretrizes e bases para o ensino de 1.º e 2.º graus, e dá outras providências. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1970-1979/lei-5692- -11-agosto-1971-357752-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 20 abr. 2017. ______. Lei n.º 9.394 (1996). Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 20 abr. 2017. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Censo Escolar 2016-2017. Disponível em: <http://portal.inep. gov.br/censo-escolar/>. Acesso em 20 abr. 2017. _______. Portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Disponível em: <http://por- tal.inep.gov.br/>. Acesso em: 20 abr. 2017. 37 Educação e Trabalho | Unidade 2 - Educação e Modelos de Gerenciamento Científico Referências Complementares ALBORNOZ, S. O que é Trabalho. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 2008. BRANDÃO, C. R. O que é Educação? 33. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995. CHIAVENATO, I. Introdução à Teoria Geral da Administração. 2. ed. São Paulo: McGraw Hill do Brasil, 1980. FAYOL, H. Administração Industrial e Geral. 4.ed. São Paulo: Atlas, 1960. PEREIRA, M. de F. R. Trabalho e Educação: uma perspectiva histórica. Curitiba: InterSaberes, 2012. TAYLOR, F. W. Princípios de Administração Científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1970. 39 3Unidade 3 Educação e Pós-modernidade Para iniciar seus estudos Nesta unidade, vamos analisar a Pós-modernidade como momento his- tórico, identificando algumas das suas características e desdobramentos. Se somarmosa este debate o tema Educação, certamente, teremos um campo vasto de reflexões acerca destes assuntos. Nosso convite é para que você percorra esta unidade e encontre insumos para uma análise sobre os principais desafios com os quais tem se deparado a Educação nesta fase pós-modernista, cujas características têm expressado transformações no âmbito das relações humanas, políticas, socioculturais e econômicas. Vamos começar? Objetivos de Aprendizagem • Discutir as contraposições de autores no que se refere à produção do conhecimento e sua disseminação em contextos caracteriza- dos como modernos ou pós-modernos, apresentando reflexão e problematização acerca das questões ligadas aos saberes e à pes- quisa em educação. Tópicos de estudo • 3.1 Contexto histórico da Pós-modernidade • 3.2 A educação como conhecimento na era Pós-moderna • 3.3 Desafios da educação Pós-modernista 40 Educação e Trabalho | Unidade 3 - Educação e Pós-modernidade 3.1. Contexto histórico da Pós-modernidade Vamos estudar, nesta unidade, as mudanças ocorridas na educação durante a denominada era pós-modernista, identificando suas relações com a Educação. A Pós-modernidade surgiu com ingresso da sociedade no período pós-industrial em 1950, resultando na crise das metanarrativas e na valorização da tecnologia e da informática. Estes aspectos propiciaram uma desvalorização dos saberes propedêuticos, que não se moldaram às linguagens essencialmente tecnológicas. Metanarrativa é um conceito utilizado pelo filósofo francês Jean-François Lyotard (1924- 1998) na obra “A condição pós-moderna”, de 1979. Para sua compreensão é necessária a constatação de que a ciência moderna, sua constituição, estruturou-se sobre a concepção de que existem sentidos a serem desvendados; de que existe a “Verdade” a ser revelada; de que existe a essência e a aparência das coisas e do mundo. Metanarrativas são filosofias da história que narram modelos explicativos universais e estáveis, ou seja, são “metassaberes” que estabelecem a perspectiva de conhecer a realidade e poder realizar um mundo mais justo; poder, por meio do conhecimento, emancipar o homem, trazer-lhe a luz, salvá-lo do obscurantismo, da selvageria, da alienação. Um exemplo de metanarrativa é a filosofia ilu- minista, que acreditava que a razão e seus produtos – o progresso científico e a tecnologia – levariam o homem à felicidade, emancipando a humanidade dos dogmas, mitos e supersti- ções dos povos primitivos. O marxismo é outro exemplo de metanarrativa. Para os marxistas, a história era impulsionada pelo confronto entre duas classes contraditórias, a burguesia e o proletariado, que resultaria, ao fim da revolução do proletariado, numa sociedade sem clas- ses, de plena liberdade e igualdade: o comunismo. Temos ainda como exemplos de metanar- rativas a concepção de Estado-Nação, a Bíblia, o Alcorão, entre outros. (SILVA, 2012) Saberes propedêuticos - Trata-se de um curso ou parte de um curso introdutório de dis- ciplinas em artes, ciências, educação, etc. É o que oferece ensinamento preparatório ou introdutório, os chamados conhecimentos mínimos ou básicos. Pode ser definido como um conhecimento prévio necessário para a aprendizagem. Glossário Com o advento do pós-moderno, a Educação ampliou sua capilaridade e, mostrando-se menos elitista, traz a proposta de propiciar conhecimento à sociedade de um modo geral. Tal aspecto mostra um fazer completa- mente contrário à capacitação exclusiva de uma minoria. No entanto, ao mesmo tempo em que se constituiu de forma democrática para a aquisição de conhecimento, a educação se inseriu nas regras do mercado, tornando- -se cada vez mais um objeto de consumo. De todo modo, não se pode falar em pós-modernidade sem fazer um contraponto com a modernidade. A modernidade nasce no berço de uma sociedade na qual se ressignificam os conceitos que explicavam o homem, o mundo e como se relacionam, tornando-se a razão a fonte da produção dos saberes, da ciência, alicerçada em bases de objetividade, distanciando-se dos poderes transcendentais e religiosos. O indivíduo passa a ser considerado como um sujeito empírico, objeto entre outros objetos do mundo real, mas que se constitui simul- taneamente como condição fundamental de qualquer experiência possível e da sua análise (GOERGEN, 1996). 41 Educação e Trabalho | Unidade 3 - Educação e Pós-modernidade A ênfase da subjetividade traz a liberação para que o homem se sirva de sua a sua razão para, conscientemente, criar normas de pensar e agir, livres de fundamentos em argumentos transcendentes. Com isto, a Modernidade abre-se para o futuro e gera a condição de se pensar e produzir progresso. Esses aspec- tos não se põem apenas nos ambientes científicos ou filosóficos, elas perpassam toda a sociedade. Dessa forma, a modernidade caracteriza-se, ainda, como o período da racionalidade que fundamenta não só o conhecimento científico, como também as relações sociais, as relações de trabalho, a vida social, a própria arte, a ética e a moral. Cria condições de verdade que enclausuram a própria razão e que geram formas de poder e padronizam con- textos e pessoas, impondo-se como instrumento de controle (HABERMAS, 1990). Críticas abrem-se contra esta razão que se põe como absoluta, razão que, nas palavras de Goergen (1996, p. 22): ...se anunciara como caminho seguro para a autonomia e liberdade do homem, revelar-se-ia, ao final, o mais radical e insensível inimigo do homem por transformá-lo em objeto a serviço dos ditames da performatividade científico-tecnológica. A eficiência alçada ao nível de norma suprema da razão impôs o abandono dos ideais e fins humanos. (1996, p.22) Diferentemente das classificações histórico-antropológicas, que classificam a existência humana em períodos (Pré-história, Idade Antiga, Média, Moderna, Contemporânea) a partir de mudanças naturais (geológicas ou bio- lógicas), sociais ou fatos políticos relevantes, a modernidade recebe essa denominação para configurar e denotar uma modificação no modo de compreensão do mundo que se observa a partir de meados do século XV e que se desenvolve até hoje. O Renascimento inaugura uma cisão com o passado, sendo que, ao longo do percurso histórico, o antigo e o moderno obtêm um afastamento significativo eliminando a Idade Antiga e a Idade Média do contexto dos novos tempos. Tendo em vista a herança histórica da ruptura entre antigos e modernos, é na segunda metade do século XIX, principalmente no campo da cultura, que aparece um novo conceito que se impõe no campo da criação estética, da mentalidade e dos costumes. O conceito de moderno adquiriu nesse contexto a designação de Modernidade. Figura 1: Arte Renascentista Legenda: Pode-se dizer que a escultura é a forma de expressão artística que melhor representa o renascimento Link:https://previews.123rf.com/images/mkistryn/mkistryn1508/mkistryn150800071/44180766-collection-of-renais- sance-sculptures-from-Florence-Italy-Stock-Photo.jpg 42 Educação e Trabalho | Unidade 3 - Educação e Pós-modernidade O termo modernidade, lançado por Charles Baudelaire (1996), surge como um conjunto de atitudes críticas, que conduz uma nova maneira de pensar e de se relacionar com o presente, também compreendido como atual. A atitude de Baudelaire em face ao modelo da arte moderna demonstra, sobretudo, um sentimento de separação com a tradição e o prenúncio da novidade no modo de pensar e de se relacionar socialmente. Portanto, falar sobre a ideia de pós-modernidade é fazer relação direta com a significação da modernidade, sendo necessário entender os princípios fundamentais da modernidade para poder se estabelecer o sentido de uma pós-modernidade. Figura 2 - Grafite em homenagem à Baudelaire, na França. Legenda: É considerado um dos precursores do simbolismo e reconhecido inter- nacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia. Link:https://previews.123rf.com/images/neydt/neydt1611/neydt161100046/64795251-MULHOUSE-France-3-Novem- ber-2016-graffiti-of-Charles-Baudelaire--Stock-Photo.jpg
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