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DIREITO DO TRABALHO
TERCEIRIZAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE MÃO DE OBRA NO DIREITO DO TRABALHO
Visão detalhada sobre terceirização e intermediação de mão de obra no direito do trabalho
1. Conceito
A palavra “terceirização” é um neologismo derivado da palavra terceiro. Em detrimento das várias mudanças quanto à forma de organização das empresas e da linha produtiva, foi proposto, pela empresa automobilística Toyota, um modelo marcado pela horizontalização da produção. Significa dizer que cada setor da empresa, antes com estrutura vertical (a mesma empresa se responsabilizava por todas as etapas de desenvolvimento do produto), foi convertido em uma empresa especializada para desenvolvimento de determinado produto ou fornecimento de mão de obra especializada para executar atividades específicas.
Assim surgiu a terceirização trabalhista, também denominada “modelo japonês”, em que se tem a dissociação do vínculo empregatício do vínculo jurídico de trabalho que lhe seja correspondente. Há, dessa forma, três partes envolvidas na dinâmica da terceirização – tanto àquela referente ao trabalho temporário quanto à permanente: empregadora (empresa de trabalho temporário ou empresa prestadora de serviços), empregado e empresa tomadora de serviços (trabalho temporário) ou contratante (terceirização permanente).
Considerando a dinâmica contratual proveniente da terceirização, pode-se conceituá-la como relação jurídica marcada pela participação de três partes, em que se tem a figura de uma empresa que fornece produtos ou mão de obra a favor de outrem. Assim, o fruto do trabalho, ou o trabalho em si, do empregado da empresa prestadora será absorvido pela empresa tomadora/contratante dos serviços.
Em 2017, o instituto sofreu alterações bastante expressivas. A Lei nº 6.019/1974, que até então regulamentava a terceirização temporária (trabalho temporário), passou a regulamentar também a terceirização permanente. Esta, até então, era precariamente delimitada na Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que se encontra parcialmente prejudicada pelas novas regras provenientes da Reforma Trabalhista.
2. Hipóteses
Considerando todas as alterações realizadas na Lei nº 6.019/1974, tem-se como hipóteses de terceirização:
a) Temporária (trabalho temporário):
· necessidade de substituição transitória de pessoal permanente;
· demanda complementar de serviços.
b) Permanente:
· Qualquer atividade pode ser terceirizada de forma permanente. A Lei nº 6.019/1974 foi alterada pela Lei nº 13.467/2017, cuja entrada em vigor ocorreu no dia 11 de novembro do mesmo ano. Até então, discutia-se o fato de se poder terceirizar ou não qualquer atividade — meio ou fim — de forma permanente. Para sanar o conflito, o legislador reformista alterou a redação do art. 4º-A da Lei nº 6.019/1974:
Art. 4º-A Considera-se prestação de serviços a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução. 
De fato, pela redação do art. 4º-A, é válida a terceirização permanente de qualquer atividade da empresa contratante, mesmo que seja sua atividade principal. Entende-se, pois, atividade principal como sendo a atividade-fim dessa empresa.
Embora o TST ainda não tenha se manifestado em relação à Súmula nº 331, afirma-se que está nitidamente prejudicada, pois permitia a terceirização permanente em apenas três circunstâncias:
· conservação e limpeza;
· vigilância;
· atividade-meio.
As alterações feitas na Lei nº 6.019/1974 são reflexos da intensa flexibilização trabalhista à qual o direito do trabalho foi submetido, tornando-o mais permissivo e vulnerável, sob a ótica da terceirização.
3. Partes envolvidas
Enquanto no trabalho temporário – terceirização temporária – apenas pessoas jurídicas podem figurar na condição de contratante e contratada (empresa de trabalho temporário e empresa tomadora de serviços), na terceirização permanente, são partes (CORREIA, 2018):
· A empresa prestadora de serviços, como sendo aquela que “contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores ou subcontrata outras empresas para realização desses serviços” (art. 4º-A, § 1º da Lei nº 6.019/1974). É necessário que essa empresa prestadora seja pessoa jurídica de direito privado e tenha capacidade econômica compatível com a sua execução.
· Contratante: de acordo com o art. 5º-A da Lei nº 6.019/1974, “a contratante é pessoa física ou jurídica que celebra contrato de prestação de serviços relacionados a quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal”.
A contratante pode ser pessoa física ou jurídica.
· O empregado da empresa prestadora de serviços, cujo produto resultante do seu trabalho ou, até mesmo, sua mão de obra, será adquirido/explorado pela contratante.
4. Requisitos de constituição da empresa prestadora de serviços
O art. 4º-B da Lei nº 6.019/1974 define, de forma expressa, os requisitos necessários para funcionamento regular da empresa prestadora de serviços a terceiros, todos eles incluídos pela Lei nº 13.429/2017:
Art. 4º-B São requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros:
I – prova de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ);
II – registro na Junta Comercial;
III – capital social compatível com o número de empregados, observando-se os seguintes parâmetros:
a) empresas com até dez empregados – capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais);
b) empresas com mais de dez e até vinte empregados – capital mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais);
c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados – capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais);
d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados – capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais); e
e) empresas com mais de cem empregados – capital mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais).
5. Direitos a serem equiparados
Para amenizar os efeitos perversos do uso da terceirização trabalhista, o legislador garantiu alguns direitos a serem equiparados a favor do trabalhador terceirizado, quando as atividades forem executadas nas dependências da tomadora, de forma a amenizar a desigualdade jurídica inerente à sistemática terceirizante. Tais direitos estão previstos no art. 4º-C da Lei nº 6.019/1974, destacado a seguir:
Art. 4º-C São asseguradas aos empregados da empresa prestadora de serviços a que se refere o art. 4º-A desta Lei, quando e enquanto os serviços, que podem ser de qualquer uma das atividades da contratante, forem executados nas dependências da tomadora, as mesmas condições:
I – relativas a:
a) alimentação garantida aos empregados da contratante, quando oferecida em refeitórios;
b) direito de utilizar os serviços de transporte;
c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da contratante ou local por ela designado;
d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando a atividade o exigir.
II – sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de instalações adequadas à prestação do serviço.
§ 1º Contratante e contratada poderão estabelecer, se assim entenderem, que os empregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos empregados da contratante, além de outros direitos não previstos neste artigo.
§ 2º Nos contratos que impliquem mobilização de empregados da contratada em número igual ou superior a 20% (vinte  por cento) dos empregados da contratante, esta poderá disponibilizar aos empregados da contratada os serviços de alimentação e atendimento ambulatorial em outros locais apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a manter o pleno funcionamento dos serviços existentes.
Na terceirização permanente, não se aplica salário equitativo a favor do trabalhador terceirizado; trata-se de direito reconhecido apenas ao trabalhador temporário.
EIRIZAÇÃO E INTERMEDIAÇÃO DE MÃO DE OBRA NO DIREITO DO TRABALHO
Responsabilizaçãono serviço terceirizado
1. Responsabilidade da contratante
A contratante, ao se inserir na dinâmica da terceirização, pode vir a assumir responsabilidade quanto aos créditos decorrentes da relação jurídica trabalhista pactuada. Os efeitos pertinentes à sua responsabilidade dependem da licitude ou ilicitude da terceirização.
Já que a Lei nº 6.019/1974, alterada pela Lei nº 13.467/2017, permite a terceirização permanente de qualquer atividade, o critério analisado para identificar a licitude será a ausência de subordinação ou pessoalidade do trabalhador com a empresa contratante ou tomadora de serviços. O tipo de atividade terceirizada deixou de ser critério relevante  para identificar a licitude do contrato, exceto para terceirização temporária, uma vez que o art. 2º preserva a restrição ao trabalho temporário para substituição transitória de pessoal permanente ou à demanda complementar de serviço.
Portanto, para a licitude da terceirização permanente, não pode haver pessoalidade ou subordinação do trabalhador com a empresa contratante.
Para a licitude da terceirização temporária, além da restrição quanto à pessoalidade ou subordinação do trabalhador com a tomadora de serviços, é necessária a observância das hipóteses de contratação e, ainda, do prazo máximo de vigência do contrato — 180 dias, prorrogáveis por mais até 90 dias. Vale lembrar que, para essa prorrogação, não se faz necessária a intervenção da Secretaria de Trabalho a fim de autorizá-la.
Uma vez sendo lícita, a responsabilidade será subsidiária, ou seja: cobra-se a dívida trabalhista, em um primeiro momento, da empresa de trabalho temporário ou da empresa prestadora de serviços. Em um segundo momento, cobra-se da empresa tomadora ou contratante. Para que esta seja atingida, é necessário que conste no título executivo judicial, ou seja, deverá fazer parte da ação trabalhista desde o seu momento inicial (CORREIA, 2018).
Se a tomadora de serviços/contratante for órgão da Administração Pública, a responsabilidade subsidiária será aplicada apenas se comprovada culpa do órgão. Sendo ilícita a terceirização, por ter sido realizada fora dos critérios permissivos pela Lei nº 6.019/1974, haverá vínculo de emprego reconhecido diretamente com a contratante.
Se for órgão da Administração Pública, tal solução seria inconstitucional, uma vez que, para validade do contrato, o art. 37 da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) exige concurso público de provas ou de provas e títulos, exceto para cargos de confiança ou atendimento a excepcional interesse público. Por ser interesse excepcional, a contratação dar-se-á de forma temporária.
Nesse caso, o contrato será declarado nulo e haverá incidência dos efeitos conforme Súmula nº 363 do Tribunal Superior do Trabalho (TST): saldo de salário e depósitos correspondentes ao FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço). O saque do FGTS também será autorizado.
	RESPONSABILIDADE
	Terceirização lícita:
· Segmento privado: subsidiária.
· Segmento público: subsidiária, desde que comprovada culpa do órgão da Administração Pública.
	
	Terceirização ilícita:
· Segmento privado: vínculo empregatício diretamente com a empresa tomadora dos serviços.
· Segmento público: contrato será declarado nulo (trabalhador terá direito a: saldo de salário, depósitos e saque do FGTS).

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