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1 BACHARELADO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS JOSÉ RIBAMAR PEREIRA DO NASCIMENTO A CONTABILIDADE NO TERCEIRO SETOR - A IMPORTANCIA DA GESTÃO CONTABIL NO TERCEIRO SETOR, ESTUDO DE CASO: SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE FORTALEZA - CE. FORTALEZA 2013 1 JOSE RIBAMAR PEREIRA DO NASCIMENTO A CONTABILIDADE NO TERCEIRO SETOR - A IMPORTANCIA DA GESTÃO CONTABIL NO TERCEIRO SETOR, ESTUDO DE CASO: SANTA CASA DE MISERICÓDIA DE FORTALEZA - CE. Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Ciências Contábeis da Faculdade Ateneu – Campus Messejana, como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis. Orientador: FORTALEZA 2013 2 2 Todas as instituições ‘sem fins lucrativos’ tem algo comum: são agentes de mudança humana. ‘Seu produto’ é um paciente curado, uma criança que aprende; um jovem que se transforma em um adulto com respeito próprio; isto é tôda uma vida transformada”. Peter F. Drucker. 3 3 LISTA DE SIGLAS CFC Conselho Federal de Contabilidade IDIS Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social NBC Norma Brasileira de Contabilidade OSCIP Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público ONGs Organizações não Governamentais OS Organização Social 4 4 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 00 1.1 Delimitação do tema ...................................................................................... 00 1.2 Objetivos ........................................................................................................ 00 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 00 1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 00 1.3 Justificativa ..................................................................................................... 00 1.4 Problematização .............................................................................................. 00 1.5 Hipóteses ....................................................................................................... 00 1.6 Metodologia ..................................................................................................... 00 1.6.1 Tipos de pesquisa ........................................................................................... 00 1.6.2 Métodos utilizados na pesquisa ..................................................................... 00 1.6.3 Técnicas de apresentação dos resultados ..................................................... 00 1.7 Referencial teórico ......................................................................................... 00 1.8 Etapas da pesquisa ........................................................................................ 00 2 TERCEIRO SETOR........................................................................................ 00 2.1 Origem ........................................................................................................... 00 2.2 Conceito ........................................................................................................ 00 2.3 Legislação aplicável ao Terceiro Setor ........................................................... 00 3 PESSOAS JURIDICAS ................................................................................. 00 3.1 Conceito ......................................................................................................... 00 3.2 Classificação das pessoas jurídicas .............................................................. 00 3.2.1 Classificação da pessoas jurídica quanto as suas funções e capacidades .................................................................................................................................. 00 3.2.1.1 Pessoas jurídicas de direito publico interno ................................................ 00 3.2.1.2 Pessoas jurídicas de direito publico externo ............................................... 00 3.2.2.3 Pessoas jurídicas de direito privado ............................................................ 00 3.3 Classificação da pessoa jurídica quanto a sua estrutura ................................ 00 4. TIPOS DE ORGANIZAÇÕES ......................................................................... 00 4.1 Associações ................................................................................................... 00 4.2 Fundações ..................................................................................................... 00 4.3 Organizações sociais .................................................................................... 00 4.4 Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIPs ................ 00 5 5 4.5 Organizações Religiosas .............................................................................. 00 4.6 Partidos políticos ........................................................................................... 00 5 DEMONTRAÇÕES CONTABEIS PARA ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS ........................................................................................................... 00 5.1 Balanço patrimonial ....................................................................................... 00 5.2 Demonstrações do superávit ou déficit do exercício ...................................... 00 5.3 Demonstrações do patrimônio social.............................................................. 00 5.4 Demonstrações de origens e aplicações de recursos ................................... 00 5.5 Demonstrações do fluxo de caixa ................................................................. 00 5.6 Notas explicativas .......................................................................................... 00 6 ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 00 6.1 Breve histórico da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza ........................ 00 6.2 Funcionamento da entidade ........................................................................... 00 6.3 Estrutura funcional.......................................................................................... 00 6.4 Organograma ................................................................................................. 00 6.5 Estratégia e planos para o futuro ................................................................... 00 6.5.1 Autossustentação ......................................................................................... 00 6.5.2 Relações com o mercado ............................................................................. 00 6.5.3 Área jurídica ................................................................................................ 00 6.5.4 Expectativas para 2014 ............................................................................... 00 6.6 Demonstrações financeiras ......................................................................... 00 6.6.1 Notas explicativas ás demonstrações contábeis em 31.12.2012 ................ 00 6.6.2 Índices – indicadores econômico-financeiros .............................................. 00 6.6.3 Analise do resultado econômico-financeiro em 2012 ................................. 00 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................00 REFERENCIAS 6 6 1. INTRODUÇÃO A contabilidade existe desde a antiguidade e seu papel social é estabelecer um sistema de informação para as organizações, sejam elas com ou sem fins lucrativos. Sua evolução acompanhou o próprio desenvolvimento social, cultural e econômico das sociedades humanas, surgindo de uma necessidade pratica, pois a medida que o homem a ter maior quantidade de recursos financeiros e bens, enfrentava dificuldade para memorizar suas riquezas, passando assim, a requerer registros para controlar o patrimônio. 7 7 1.1 Delimitação do tema Pretende-se através deste trabalho, medir o grau de importância da contabilidade para seus usuários internos e externos, as técnicas aplicadas e utilizadas na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, organização beneficente do Terceiro Setor situada na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará no ano de 2013. Analisando esses aspectos, formula-se o seguinte problema de pesquisa: Qual a relevância da contabilidade no processo de gestão para o Terceiro Setor? 1.2 Objetivos De acordo com Gil (2006) o objetivo da pesquisa define o que o pesquisador pretende realizar tendo em vista o problema levantado. 1.2.1 Objetivo geral O presente trabalho tem como objetivo geral, demonstrar a aplicabilidade da contabilidade, sendo ferramenta de suporte à boa gestão dos recursos financeiros captados para o Terceiro Setor. 1.2.2 Objetivos específicos Demonstrar os aspectos formais e legais de uma entidade do Terceiro Setor. Esclarecer a importância da contabilidade para o terceiro setor, a tributação das entidades do terceiro setor, o significado e classificação do terceiro setor. Estudo de caso na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. 1.3 Justificativa A contabilidade é uma ciência social e seu objeto é o controle e analise do patrimônio das organizações, sejam elas com ou sem fins lucrativos. Assim sendo, demonstra aos usuários internos e externos informações 8 8 econômicas financeiras sobre seus patrimônios e suas variações, utilizando-se de registros contábeis, demonstrações, diagnósticos e prognósticos expressos sob a forma de relatórios e pareceres. As associações do Terceiro Setor têm como objetivo principal a melhoria da qualidade de vida das pessoas necessitadas. Portanto, atuam nas áreas de educação, saúde, esportes, lazer, orientação vocacional, qualificação profissional, cultura, etc. O Terceiro Setor é mantido com recursos de doações de empresas e pessoas físicas e, também, com repasse de verbas públicas. Existem também muitas associações que conseguem obter recursos através da organização de festas, jantares, bazares e venda de produtos (artesanatos, bijuterias, camisas, agendas, etc). A sustentabilidade das organizações do Terceiro Setor está atrelada à sua capacidade de gestão, é um equivoco afirmar que as empresas sem fins lucrativos não podem auferir lucros. Elas não só podem ser lucrativas como devem, do contrario, incapacita-se de investir em novos projetos sociais. Tal proibição reside na distribuição e não na geração e reinvestimento desses lucros. Terceiro Setor é um termo usado para fazer referência ao conjunto de sociedades privadas ou associações que atuam no país sem finalidade lucrativa. O terceiro setor atua exclusivamente na execução de atividades de utilidade pública. Possuem gerenciamento próprio, sem interferências externas. A maior parte das organizações do Terceiro Setor depende financeiramente da solidariedade alheia, não havendo uma certeza de entrada permanente de recursos, condição de sobrevivência que, ao lidar com escassez de recursos, exige uma gestão eficiente da organização. Portanto, este ambiente dinâmico, de competitividade por recursos, impõe nova postura gerencial e de controle: cultivo da transparência, avaliação de desempenho e evidenciação contábil. O Terceiro Setor é composto de organizações sem fins lucrativos, criadas e mantidas principalmente pela participação voluntaria, em um âmbito não governamental, dando continuidade às praticas tradicionais da caridade, da misericórdia, e da filantropia. 9 9 Diante dessa realidade, vê-se a relevância do estudo do tema em questão, uma vez que mesmo com a visão voltada para o social, o Terceiro Setor também tem um processo econômico que precisa ser acompanhado, e a contabilidade é fundamental, pois contribui para manter a transparência e credibilidade junto a seus colaboradores e a sociedade. Assim sendo, é necessário e imprescindível que os profissionais da contabilidade tenham conhecimento aprofundado de um setor que só cresce na conjuntura social atual. 1.4 Problematização Segundo Gil (2006), o problema de pesquisa é qualquer questão não resolvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do conhecimento. Pretende-se demonstrar que o Terceiro Setor trata-se de uma junção do setor estatal (agentes políticos atuando para fins públicos) e do setor mercado (agentes privados atuando para fins privados), para uma finalidade maior, suprir as falhas do Estado e do setor privado em atendimento às necessidades da população (agentes privados atuando para fins públicos) em especial a população carente. Daí a necessidade de uma contabilização adequada dos atos e fatos ocorridos nas instituições. Para o presente trabalho de pesquisa sobre o terceiro setor, é indispensável que se estabeleça uma relação formal entre um caso real e os referenciais teóricos, portanto é necessário conhecer e compreender a formação das políticas públicas que norteiam o setor e, para tanto, resta saber o grau de envolvimento do poder público com as entidades não governamentais. Qual a relevância da contabilidade no processo de gestão para o Terceiro Setor? 1.5 Hipóteses As Entidades do Terceiro Setor devem ser consideradas como empresas, pois apesar do rotulo de atividade sem fins lucrativos, as mesmas 10 10 visam fins econômico ou “superávit”. Estas instituições possuem atividades a cumprir e publico alvo. As Organizações do Terceiro Setor brasileiras exigem um padrão especifico de registro contábil para que possam produzir prestações de contas compatíveis com sua realidade, a fim de oferecê-las à sociedade civil e ao Estado e aos seus mantenedores. As Empresas do Terceiro Setor não possuem fins lucrativos, mas recebem doações do governo ou de entidades/empresas para o custeio de suas atividades. A partir desta premissa é que se pode afirmar que uma contabilidade formal é tão indispensável nessas entidades quanto em uma empresa que visa lucros. O Terceiro Setor, apesar de atividade não lucrativa, capta e gera recursos, o que requer uma contabilidade formal e organizacional. Diante destes fatos a Contabilidade atua, como sendo uma ferramenta de informação formal e estruturada. São componentes do terceiro setor: as Associações, as Sociedades, as Fundações Privadas, os Partidos Políticos e as Organizações Religiosas. 1.5 Metodologia Para realizar este trabalho a metodologia aplicada terá o intuito de aumentar o conhecimento do pesquisador, visando se utilizar de procedimentos de pesquisas, métodos e técnicas descritas nos tópicos seguintes. 1.6.1 Tipos de pesquisa GIL (2002, p. 41) descreve que as pesquisas podem ser classificadas em três grandes grupos: exploratórias, descritivas e explicativas. Esta pesquisa foi classificada em exploratória e descritiva. 1.6.2 Métodosutilizados na pesquisa O método utilizado na pesquisa pretende ser apresentado de forma racional e ordenado, para se alcançar os objetivos estabelecidos. O método de abordagem aplicado foi o método dedutivo no qual este fará uma relação lógica a fatos verídicos. 11 11 1.6.3 Técnicas de apresentação dos resultados Quanto à técnica aplicada, trata-se de um estudo de caso, que se caracteriza pelo aprofundamento de informações no campo pratico, de maneira que permita a investigação de forma ampla e detalhada. Outra modalidade aplicada nesta pesquisa será através do estudo de caso, com o propósito de se obter um trabalho amplo e pormenorizado, com situações concretas para que se tenha um resultado abrangedor. Serão realizadas entrevistas, bem como repassados questionários ao publico gestor da entidade investigada, com fim destinado a se visualizar, não só falhas contábeis possivelmente existentes, mas de verificar como são aplicadas as regras contábeis normatizadoras no funcionamento da casa de saúde. Pretende-se que ao final, após uma analise do que foi coletado, tenha um resultado de grande valia para os atuais e futuros profissionais da contabilidade. 1.7 Referencial teórico 1.8 Etapas da pesquisa 12 12 2 TERCEIRO SETOR 2.1 Origem Os registros do Terceiro Setor no mundo remontam à Historia Antiga (civilizações gregas, egípcias, remanas etc). Pode-se afirmar que a cultura que influencia a formação do Terceiro do Setor teve sua origem basicamente em duas grandes correntes: a Religiosa e a Greco-Romana. Assim sendo, as organizações do Terceiro Setor despontaram em todas as partes do mundo como um movimento fundamentado nos princípios da caridade, beneficência, filantropia e solidariedade, através da sociedade civil organizada – igrejas cristãs. O surgimento do Terceiro Setor no Brasil ocorre de uma necessidade da iniciativa privada em promover ações voltadas para o âmbito social, educacional, cultural e ambiental, a fim de suprir a ineficiência e incapacidade do Estado em atender as crescentes necessidades econômicas sociais das populações mais carentes. Não se tem o dado exato de qual seja o inicio das primeiras organizações deste setor. “A Santa Casa de Misericórdia de Santos, criada em 1543, talvez seja a primeira instituição do Terceiro Setor de que sem tem registro no Brasil”. (REVISTA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO. 2002 p. 30). Esse fenômeno passa a ter maior ressonância para a sociedade principalmente a partir da Constituição de 1988. No entanto estudos mostram que, desde a colonização, estas organizações atuam no Brasil. Em um primeiro momento, em associações voluntarias fundada pela Igreja Católica, que atuava nas áreas assistenciais, como a saúde e a educação. Num segundo momento, na década de 30, no governo de Getulio Vargas, período em que o assistencialismo predominou na estratégia política do governo, também se vislumbra a atuação dessas organizações. Num terceiro momento, na década de 70, em que as instituições de caráter filantrópico e os movimentos sociais, com o apoio da Igreja Católica, tornaram-se porta vozes de problemas, como a repressão, desigualdade e injustiça social também se notam a ação das mesmas. Finalmente, o quarto momento pode ser formalmente marcado com o advento da Constituição de 1988, que definiu o conceito de cidadania e traçou a elaboração de políticas sociais. Com isso, foram elaboradas varias outras 13 13 leis, como a Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Orgânica da Assistência Social e a mais importante: a Lei 9.790/99, que criou as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, as chamadas OSCIPs. Para Araujo (2009, p. 1), o Terceiro Setor pode ser caracterizado como um “agente de transformação do ser humano”. No entendimento do autor, os serviços prestados pelas entidades do Terceiro Setor visam, principalmente, à transformação do ser humano. Essa iniciativa tem raízes históricas antigas. No Brasil, uma retrospectiva dos principais fatos históricos, relativos ao período de 1543 e 1999, voltados ao Terceiro Setor pode ser destacada conforme abaixo: ● 1543 – Fundação da Santa Casa de Misericórdia da então Vila de Santos – SP. ● 1549 – Chegada da primeira missão jesuítica do Brasil; ● 1908 – Chegada da Cruz Vermelha ao Brasil; ● 1910 – O escotismo, fundado dois anos antes na Inglaterra por Robert Baden-Powel, se estabeleceu aqui, para “ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião”; ● 1935 – Promulgada a Lei de declaração de utilidade publica, que regula a relação e colaboração do Estado com as Entidades Sem Fins Lucrativos – ESFL; ● 1945 – O presidente Getulio Vargas cria a Legião Brasileira de Assistência – LBA; ● 1961 – Nasceu a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE, que mudou o conceito de assistência aos excepcionais, atualmente denominados de Portadores de Necessidades Especiais; ● 1967 – O Governo criou o Projeto Rondon e levou universitários ao interior do país para atender comunidades carentes; ● 1983 – Surgiu a Pastoral da Criança, treinando lideres comunitários para combater a mortalidade infantil; ● 1993 – Herbert de Souza, o Betinho, fundou a Ação da Cidadania contra a Miséria e pela Vida; ● 1995 – Fernando Henrique Cardoso criou o programa Comunidade Solidária que substituiu a Legião Brasileira de Assistência; 14 14 ● 1995 – Implantado o programa Universidade Solidária – Unisol, atuante a partir de 1996; ● 1998 – Foi promulgada a Lei 9.608, que regulamenta a pratica do voluntariado; ● 1999 – A Lei 9.790 qualificou as organizações da sociedade civil de direito público e disciplinou um termo de parceria; Ainda na década de 90, com a reforma do Estado, iniciada por Fernando Collor de Melo, e continuada por Fernando Henrique Cardoso, surgiram as Organizações Sociais (O.S), sendo sua existência atrelada a um titulo público, o título de O.S, fornecido pelo Estado para a organização que reúnem impostas pela concedente. Efetivamente uma O.S é uma organização do Terceiro Setor (associação ou fundação), cuja função é cumprida com o apoio do Estado, que se deu pela promulgação da Lei Federal no. 9.637, de 15 de Maio de 1998, que inseriu também um novo conceito e uma nova forma de atuação e de cooperação entre o Estado e as chamadas entidades sem fins lucrativos, através do contrato de gestão. Pode-se perceber, portanto que essa categoria de organizações sem fins lucrativos apresentam uma característica conferida pela lei, que é a de manter o contrato de gestão. Observando-se a retrospectiva histórica do Terceiro Setor no Brasil, verifica-se, inicialmente, a preocupação com os segmentos filantrópicos, voltados ao assistencialismo religioso e de saúde. As entidades que, em sua maioria, eram patrocinadas pela Igreja Católica, procuravam preencher a necessidade de prover a saúde da população mais carente. 2.2 Conceito A expressão Terceiro Setor tem origem no termo inglês Third Sector. São empregadas também outras denominações como, Voluntary, Independent ou Non-profit Sector e Public Charities. O conceito de Terceiro Setor tem gerado muita controvérsia dentro e fora do mundo acadêmico, não existindo unanimidade entre os diversos autores, inclusive no tocante a sua abrangência. 15 15 São muitas as designações dadas às entidades que são públicas quanto aos seus objetivos, pois visam à transformação da sociedade, sem privilegiar o interesse de alguns, e que, por outro lado, são privadas quanto a sua forma de constituição e manutenção. Essas entidades são constituídas a partir de associações voluntarias e mantidas a partir das ações desse voluntariado. Segundo Souzain Oliveira e Romão (2001, p. 28) conceitua o Terceiro Setor no Brasil e acrescenta como é considerado juridicamente. Escreve ele: A definição do Terceiro Setor a partir da análise do ordenamento jurídico brasileiro é tarefa hercúlea. Somando-se ao sem número de elementos teóricos que balizam os estudos doutrinários sobre o tema, a própria legislação constitucional e infraconstitucional é heterogênea na definição do Terceiro Setor. As denominações encontradas nos textos legais são as mais diversas, apesar de muitas vezes estarem se referindo à mesma situação jurídica. Registra-se a utilização de termos legislativos cmo associação, associação civil, serviço social, estabelecimento particular de educação gratuita, instituição artística, instituição científica, instituição de ensino, instituição fundada por associação civil, instituição de iniciativa de indivíduos, associação particular, associação profissional, templo de qualquer culto, igreja, partido político, instituição de assistência social, serviço assistencial, instituição privada, entidade filantrópica, entidade som fins lucrativos, organização representativa da população, escola comunitária, escola filantrópica, entidade sindical, sindicato, entidade beneficente de assistência social e, por fim entidade não governamental. De qualquer maneira, pode-se dizer que, no Brasil, a denominação Terceiro Setor é utilizada para identificar as atividades da sociedade civil que não se enquadram na categoria das atividades estatais (Primeiro Setor, representado por entes da Administração Pública) ou das atividades de mercado (Segundo Setor, representado pelas empresas com finalidade lucrativa). Podem ser distinguidas nesse contexto três esferas, a estatal, em que tanto os “meios” quantos os “fins” são públicos; o mercado, em que tanto os meios quanto os “fins” são privados, e uma terceira esfera, em que os “meios” são privados, no entanto os “fins” podem ser públicos ou privados. A 16 16 essa terceira esfera, que não é estatal nem de mercado, tem se atribuído, com ampla aceitação, a designação de Terceiro Setor. Qualificam-se como entidades do Terceiro Setor as Organizações Não Governamentais (ONGs), que por sua vez compreendem as Associações, Fundações, Entidades Assistenciais, Institutos, Clubes Recreativos, Entidades Desportivas e qualquer outra união de pessoas que buscam ao bem comum não visando lucro. De acordo com Araujo, (2009 p. 1). No atual panorama econômico mundial, pode-se afirmar que existem três setores distintos, que de formas diversificadas fazem movimentar a economia e trabalham para a evolução da sociedade. Situado no primeiro setor está o Estado, que, por meio de seus órgãos e entidades, exerce suas múltiplas atividades, quais sejam, política, administrativa, econômica e financeira, com o objetivo de cumprir suas finalidades básicas, desempenhando as seguintes funções: ● instituição e dinamização de uma ordem jurídica; ● resolução dos conflitos sociais por meio da aplicação das normas instituídas; ● administração e gerenciamento dos bens públicos para atender as necessidades da coletividade. Assim sendo, o Primeiro Setor compreende o poder publico responsável pelas questões coletivas, o Segundo Setor é a iniciativa privada (empresas), tendo interesses mercantis e, por fim, o Terceiro Setor, que compreende as organizações representadas pela sociedade civil, com características privadas, porem sem fins lucrativos, em geral com finalidade puramente social. O segundo setor é o privado, responsável pelas questões individuais, tendo objetivo primordial o lucro. O terceiro setor é constituído por organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de caráter público. O Terceiro Setor é assim chamado porque engloba instituições com fins públicos, produzem e comercializam bens e serviços, não são estatais, nem visam lucro financeiro com os empreendimentos efetivados, de caráter privado, que não se enquadram, portanto no Primeiro Setor (Estado). 17 17 Estas entidades sem fins lucrativos são instituições privadas com propósitos específicos de provocar mudanças sociais e cujo patrimônio é constituído, mantido e ampliado a partir das contribuições, doações, subvenções, receitas de aplicações financeiras, receitas de capital, mercadorias e serviços, taxas e outras. Oliveira e Romão (2011 p.28) escrevem: Genericamente, o Terceiro Setor é visto como derivado de uma conjugação das finalidades do Primeiro Setor com a metodologia do Segundo, ou seja, composto por organizações que visam a benefícios coletivos, embora não sejam integrantes do governo. São de natureza privada, embora não objetivem auferir lucros. As organizações que atuam efetivamente em ações sociais, na busca de benefícios coletivos públicos, que podem ser consideradas como de utilidade pública, são capazes de auxiliar o Estado no cumprimento de seus deveres, atentando para as desigualdades vigentes no país e a incapacidade do Estado de desempenhar com eficiência as atividades que lhe são atribuídas. 2.3 Legislações aplicáveis ao terceiro setor A legislação aplicável às Entidades do Terceiro Setor inicia-se com a Constituição Federal que deve ser respeitada em toda a sua magnitude e o Código Civil (Lei nº 10.406/02) – arts. 44 a 52 (Normas Gerais); arts. 53 a 61 (Associações); arts. 62 a 69 (Fundações); e; arts. 2.031, 2.033 e 2.034 (Adaptação ao Código Civil). Outras legislações também são aplicáveis, dentre essas leis destacam-se o Decreto 3.000/1999 que trata dos aspectos tributários das empresas ou a Lei nº 6.404/76 que abrange os aspectos societários e contábeis. No Brasil, o principal diploma legal sobre regulamentação contábil é a Lei nº 6.406, de 15 de dezembro de 1976, conhecida como a Lei das SAs. “Embora essa lei refira-se às Sociedades Anônimas, caracterizadas por terem seu capital social dividido em partes iguais e ideias denominadas ações e cujos sócios tem a sua responsabilidade limitada ao valor das ações que subscreveram, ainda assim, essa lei pode ser aplicada às demais sociedades ou organizações que se utilizem de recursos no cumprimento dos seus objetivos” (ARAUJO, p.53 2009). A Lei nº 6.406/76 é seguida por todos os segmentos empresariais na estruturação de suas contas contábeis e na publicação das demonstrações financeiras. A Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, veio alterar alguns dispositivos desta Lei 6.406/76 no sentido de adequar as demonstrações contábeis aos padrões internacionais, atendendo as diversas mudanças 18 18 ocorridas nos planos mundiais nos níveis econômicos e sociais. Com ela, procurou-se também facilitar a inserção das empresas nacionais no processo de convergência contábil internacional, o que permitirá o aumento da transparência das demonstrações financeiras. Entretanto a Lei nº 9.790 de 23 de março de 1999, trata-se de uma legislação exclusiva para as OSCIPs, que qualifica a pessoa jurídica como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e cria o Termo de Parceria. Na esfera contábil, a principal contribuição desse expediente legal está no seu artigo quarto que dispõe sobre as normas mínimas de prestação de contas a serem observadas por este tipo de entidade. Outra legislação fundamental à contabilidade das entidades do Terceiro Setor, incluindo-se as OSCIPs, é a Resolução do Conselho Federal de Contabilidade – CFC nº 877, de 18 de abril de 2000, (CFC, p.212, 2006), que em seuartigo primeiro aprova a Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 10.19 - Entidades sem Finalidade de Lucros. Esta legislação veio regulamentar os processos de contabilidade institucionalizados até então e revesti-los do rigor legal. Outras legislações do CFC também são aplicáveis a determinadas entidades do Terceiro Setor. A NBC T 10.4 (CFC, p.159, 2006), refere-se aos critérios contábeis aplicáveis às Fundações e a NBC T 10.18 (CFC, p.207, 2006), trata das Entidades Sindicais e Associações de Classe. Num aspecto mais genérico a NBC T 3 (CFC, p. 95, 2006) e a NBC T 6 (CFC, p. 116, 2006), vem fundamentar a contabilidade, sendo que a primeira trata dos conceitos, conteúdo, Estrutura e Nomenclatura das Demonstrações Contábeis e a segunda trata de sua divulgação. Entretanto, cabe ressaltar que as entidades do Terceiro Setor possuem características especificas que são complementadas pela NBC T 10.19.(CFC, p.212, 2006). 19 19 PESSOAS JURIDICAS 3.1 Conceito A pessoa jurídica não é algo de físico e palpável, que pode ser tocado como é o homem, pessoa natural. A existência da pessoa jurídica e a natureza destas organizações são identificadas pelo Código Civil. Pessoas Jurídicas são entidades a que a lei empresta personalidade, isto é, são seres Pessoa Jurídica é a unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, que visa à concepção de certos fins, reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e de obrigações. No Brasil, Alemanha, Espanha e Itália usa-se a expressão “pessoa jurídica”, em Portugal, “pessoa coletiva”, na França “pessoa moral”. Para Oliveira e Romão (2011 p.3): A figura da pessoa jurídica é um instituto da ciência do direito, que tem merecido um tratamento especial, dadas as suas variadas e múltiplas aplicações. Para que se tenha melhor compreensão sobre o instituto jurídico, é necessário entender que num dado momento o individuo debate-se com as suas limitações, tornando-se incapaz de trazer ao cenário das realizações certos anseios que nutrem, pois tais anseios são maiores do que suas energias; portanto, acima dos seus limites individuais. A definição de Pessoa Jurídica é encontrada no Código Civil em seu Artigo 40 e define Pessoa Jurídica como uma entidade a que a lei empresta o seu nome, atuando com personalidade distinta da dos membros que a criaram – que combinam seus esforços e recursos para atingir os objetivos traçados. A existência da Pessoa Jurídica inicia-se com o registro do instrumento de constituição (Ex. Contrato Social, Estatuto) em Órgão de Registro (Ex. Juntas Comerciais e Cartórios de Registro de Títulos e Documentos). O estatuto social deve refletir os objetivos e formas da atuação da entidade, devendo ser revisto na medida em que as regras básicas nele contidas se mostram omissas ou defasadas em relação ao grau de amadurecimento da entidade. Os membros da entidade devem analisar criteriosamente o seu estatuto e verificar até que ponto possibilita um trabalho livre e autônomo da diretoria ou trazem em seu conteúdo vícios ou casos não previstos. Existem estatutos sociais que se revelam omissos em alguns aspectos, como no caso das eleições que não esclarecem sobre a possibilidade de reeleição da diretoria ou sobre o preenchimento dos cargos em vacância, ou ainda sobre os requisitos para assumir a direção da entidade. O Artigo 54 do Código Civil Brasileiro 20 20 dispõe sobre os requisitos básicos do estatuto social de uma Entidade. Assim sendo, basicamente o Estatuto deverá conter: ● a denominação; ● os fins a que se destina a sociedade; ● o prazo de duração da entidade, não dispondo o estatuto será por tempo indeterminado; ● endereço da sede; ● o modo pelo qual se administra; ● o modo como se representa ativa e passivamente; ● o modo como se representa judicial e extrajudicialmente; ● se os membros respondem subsidiariamente pelas obrigações sociais; ● se o ato constitutivo é reformável no tocante à administração, e de que modo; ● os direitos e deveres de cada membro da associação; ● as condições para extinção da entidade; ● a destinação do seu patrimônio em caso de extinção; ● a remuneração ou não de seus membros. 3.2 Classificações das pessoas jurídicas A doutrina apresenta a classificação das pessoas jurídicas de maneira não uniforme, pois grande parte dos doutrinadores de pronto se preocupa em fazer distinção entre as pessoas jurídicas de direito publico ou de direito privado. Segundo Oliveira e Romão (2011 p. 10), as pessoas jurídicas podem ser classificadas: a) quantos as suas funções e capacidade; b) quanto a sua estrutura; c) quanto a sua nacionalidade. 3.2.1 Classificação da pessoa jurídica quanto as suas funções e capacidades De acordo com Oliveira e Romão (2011 p. 11), Considerando o primeiro aspecto, as pessoas jurídicas estão classificadas como de direito publico, interno ou externo, e de direito privado. 3.2.1.1 Pessoas jurídicas de direito publico interno 21 21 São caracterizadas não só pela personalidade jurídica de direito publico, como também pelo regime jurídico de direito público a que se submetem. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvando direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. (Código Civil Brasileiro, 2002 Art. 43) Estão classificadas como pessoas jurídicas de direito publico interno, (Código Civil Brasileiro, 2002 Art. 41): I – a União; II – os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; III – os Municípios; IV – as autarquias, inclusive as associações publicas (alterado pela Lei nº 11.107, de 6-4-2005 – DOU de 7-4-2005); V – as demais entidades de caráter publico criadas por lei. O parágrafo único estabelece: Salvo disposições em contrario, às pessoas jurídicas de direito, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código. 3.2.2.2 Pessoas jurídicas de direito publico externo São pessoas de direito publico externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional publico. (Código Civil, 2002 Art. 42). Assim temos que: Todas as pessoas jurídicas de direito publico externo, regidas pelo direito internacional publico, são as nações estrangeiras e a Santa Sé. Entre elas pode ser igualmente incluída a Organização das Nações Unidas (ONU) (Oliveira e Romão, 2011 p. 11). 3.2.2.3 Pessoas jurídicas de direito privado O nosso ordenamento jurídico ocupa-se do tema quando no Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406, de 1º de janeiro de 2002) traz no seu Art. 44: São pessoas jurídicas de direito privado: I – as associações; II – as sociedades; III – as fundações; 22 22 Pela aprovação da Lei nº 10.825, de 22 de dezembro de 2003, temos a inclusão de mais dois incisos, que são: IV – as organizações religiosas; V – os partidos políticos. § 1º São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registrodos atos constitutivos e necessários ao seu funcionamento. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003). § 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003). § 3º Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme disposto em lei especifica. (Incluído pela Lei nº 10.825, de 22.12.2003). 3.3 Classificações da pessoa jurídica quanto a sua estrutura Neste ponto o Código Civil vigente traz ao seu texto alguns dispositivos que apontam para exigências quanto à estrutura das pessoas jurídicas no que se refere aos seus atos constitutivos. Não há um tratamento uniforme, mas particularidades que merecem considerações. 23 23 4. TIPOS DE ORGANIZAÇÕES 4.1 Associações Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. (Código Civil, 2002 Art. 53) As associações são entidades de direito privado, constituídas pela união ou reunião de pessoas que objetivam uma determinada atividade com fim não lucrativo, ou seja, sem interesse de dividir o resultado financeiro entre elas, podendo ser de caráter social, educacional, beneficente, de classe entre outras. São assim caracterizadas por efetivamente, não distribuir ou dividir entre os membros integrantes os resultados financeiros. Toda a renda proveniente de suas atividades deve ser revertida para os seus objetivos estatutários. As associações são pessoas jurídicas, regidas por um estatuto social próprio, podendo haver ou não capital no ato da constituição. As rendas provenientes da atividade explorada são destinadas à finalidade descrita em seu estatuto. O novo Código Civil em seu cap. II, Art. 54, dispõe: 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá: I – a denominação, os fins e a sede da associação; II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III – os direitos e deveres dos associados; IV – as fontes de recursos para sua manutenção; V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005); VI – as condições para alteração das disposições estatutárias e para a dissolução; VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (Incluído pela Lei nº 11.127, de 2005). O Art. 55 e Art. 56 do mesmo Código dispõem: “Art. 55 Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. Art. 56 A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrario.” 4.2 Fundações Fundação é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins econômicos ou lucrativos, que se forma a partir da existência de um patrimônio destacado pelo seu instituidor, através de escritura pública ou testamento, para servir a um objeto especifico, voltado a causas de interesse público. 24 24 De acordo com o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), as fundações privadas são entidades de direito privado com fim altruístico, dotadas de personalidade jurídica. Estas são administradas de acordo com as determinações de seus fundamentos e criadas por vontade de um instituidor, que pode ser pessoas física ou jurídica capaz de designar um patrimônio no ato da sua constituição. O novo Código Civil (2002, p. 7) diz em seu Art. 62 cap. III, que a Fundação será instituída mediante: Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser a maneira de administrá- la. Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. O novo Código Civil (2002, p. 7) dispõe nos artigos 63 e 65 sobre as Fundações: Art. 63. Quando insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante. Art. 64. Constituída a fundação por negocio jurídico entre vivos, o instituidor é obrigado a transferir-lhe a propriedade, ou outro direito real, sobre os bens dotados, e, se não o fizer, serão registrados, em nome dela, por mandado judicial. Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recursos do juiz. Assim como as associações, as fundações estão inseridas nas mesmas características. Logo, as fundações somente poderão constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência, conforme o art. 62 da Lei 10.406/2002. Para constituir uma associação o primeiro passo é a realização de uma reunião entre as pessoas interessadas em se organizar juridicamente para desenvolver e implementar o desejo que possuam em comum, ou seja, trata- se de uma Assembleia Geral de Criação da Organização, onde serão definidos os, os aspectos que irão nortear a associação, tais como: missão, objetivos, forma de atuação da diretoria e dos conselhos, principais atividades a serem 25 25 desenvolvidas para o cumprimento da missão e consecução dos objetivos, entre outros aspectos que envolvam a criação da organização. Na reunião, as pessoas deverão decidir pela elaboração dos documentos básicos, que são: Estatuto Social e Ata de Constituição. No estatuto social, contem as regras de funcionamento da entidade. A ata de constituição é o instrumento jurídico que relata o que foi discutido na reunião de constituição, inclusive a aprovação do estatuto e eleição dos dirigentes da associação. Todos os documentos deverão ser registrados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, observando-se que o estatuto deve ser visado por um advogado, nos termos da lei. De acordo com Araujo, (2009, p. 16). Essa assembleia deverá ser presidida por um membro interessado e escolhido entre os presentes, devendo ser secretariada por um membro também escolhido entre os presentes, que irá transcrever para a ata de fundação ou criação da associação todos os acontecimentos e decisões ocorridos naquela assembleia – ainda segundo o mesmo autor, assemelha- se muito a uma assembleia de condomínio residencial. Para a criação de uma fundação, deve-se consultar previamente o Ministério Público para o direcionamento das ações a serem adotadas, dentre as quais: (a) lavratura da escritura de instituição; (b) elaboração de estatuto pelos instituidores; (c) aprovação do estatuto pelo Ministério Público (Curadoria de Fundações) e; (d) registro da escritura de instituição, do estatuto e respectivas atas no Cartório competente. Observe-se que todos os acontecimentos de uma fundação deverão ser acompanhados e fiscalizados pelo Promotor de Justiça, também conhecido como Curador de Fundações. Código Civil artigo 66: Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do estado onde situadas. Após o registro dos documentospelo Cartório e adquirida a personalidade jurídica, a entidade (associação ou fundação) deverá realizar os demais registros necessários ao seu funcionamento. (Secretaria da Receita Federal, Prefeitura, INSS, Caixa Econômica, etc). 26 26 Diferenças Básicas entre Associação e Fundação Quadro Comparativo Associação Fundação Constituída por pessoas Constituída por patrimônio, aprovado previamente pelo Ministério Público. Pode (ou não) ter patrimônio inicial O patrimônio é condição para sua criação A finalidade é definida pelos associados A finalidade deve ser religiosa, moral, cultural ou de assistência, definida pelo instituidor. A finalidade pode ser alterada A finalidade é perene Os associados deliberam livremente. As regras para deliberações são definidas pelo instituidor e fiscalizadas pelo Ministério Público. Registro e administração são mais simples Registro e administração são mais burocráticos. Regida pelos artigos 44 a 61 do Código Civil. Regida pelos artigos 62 a 69 do Código Civil. Criada por intermédio de decisão em assembleia, com transcrição em ata e elaboração do estatuto. Criada por intermédio de escritura pública ou testamento. Todos os atos de criação, inclusive o estatuto, ficam condicionados à prévia aprovação do Ministério Público. 4.3 Organizações Sociais De acordo com a Lei nº 9.637. de 15 de maio de 1998, o Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa cientifica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e atividades à saúde, atendidos os requisitos previstos nesse diploma. Segundo o artigo 2º da mesma Lei, para as organizações sociais comprovarem o registro de seu ato constitutivo terão de dispor sobre: a natureza social relacionada à sua área de atuação, a sua finalidade lucrativa, conselho administrativo, a previsão de participação e atribuições da diretoria, 27 27 obrigatoriedade de publicação anual, sendo associação civil, a aceitação de novos associados, proibição da distribuição de bens ou parcela do patrimônio liquido, previsão de participação no órgão colegiado de deliberação superior. Terão que ter aprovação quanto a conveniência e oportunidade de sua qualificação como organização social, do Ministério ou titular de órgão superior ou regulador da área de atividade correspondente ao seu objeto social e do Ministério de Estado da Administração Federal e Reforma do Estado. O embasamento jurídico para o surgimento das Organizações Sociais (OS) se deu pela promulgação da Lei Federal nº 9.637, de 15 de maio de 1998, que inseriu uma nova forma e conceito de cooperação entre o Estado e entidades sem fins lucrativos, o contrato de gestão. Segundo Rocha in Araujo (2009, p. 21): “a figura do contrato de gestão ocupa lugar de destaque na estratégia administrativa preocupada em alterar o perfil do Estado. A relação entre o núcleo estratégico do Estado e os demais setores deixa de ser disciplinado pela lei, na qual impera uma relação de mando, de subordinação, e passa a ser disciplinado pelo contrato, no qual impera uma relação de coordenação e cooperação, sendo que por intermédio do contrato de gestão o núcleo estratégico do setor do Estado apresenta aos demais núcleos de objetivos que devem ser cumpridos”. Conforme a Lei das OS, Lei nº 9.637/98, o contrato de gestão deve seguir regras para permitir às Organizações Sociais (OS) uma melhor execução de tarefas e objetivos, cumprindo assim sua missão e trazendo transparência na utilização dos recursos. Para Araújo (2009, p. 24), as principais regras contidas na legislação que tratam do contrato de gestão estão apresentadas na seção III dessa mesma lei que diz: “Do contrato de Gestão Art. 5 Para os efeitos desta lei entende-se por contrato o instrumento firmado entre o Poder Público e o Estado e a entidade qualificada como organização social, com vista à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades nas áreas relacionadas (...)”. 4.4 Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIPs É a qualificação outorgada pelo Ministério da Justiça (Fundamentação Legal: Lei nº 9.790/99 e Decreto nº 3.100/99) às entidades que possuem como finalidade o desenvolvimento de uma das seguintes atividades: (a) promoção da assistência social; (b) promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico; (c) promoção gratuita da educação, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que trata esta Lei; (d) promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar de participação das organizações de que 28 28 trata esta Lei; (e) promoção da segurança alimentar e nutricional; (f) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável; (g) promoção do voluntariado; (h) promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza; (i) experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivo e de sistemas alternativos de produção, comercio, emprego e credito; (j) promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar; (k) promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da democracia e de outros valores universais e (i) estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas, produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo. A legislação especifica que as atividades podem ser desenvolvidas mediante execução direta, por meio de doação de recursos físicos, humanos e financeiros, ou ainda pela prestação de serviços intermediários. Vantagens: (a) oferecer dedutibilidade do Imposto de Renda das pessoas jurídicas doadoras; (b) possibilitar a remuneração de dirigentes sem a perda do beneficio fiscal e; (c) celebrar Termos de Parceria com o Poder Público. Segundo Araújo (2009, p. 25), “[...] as organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIP) são organizações do terceiro setor que, por intermédio da lei, relacionam-se com o estado através de termo de parceria. São organizações parceiras do Estado”. A Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, a chamada Lei do Terceiro Setor, é o instrumento disciplinador das OSCIPs. Esta Lei foi regulamentada pelo Decreto nº 3.100, de 30 de junho de 1999, destacando como requisitos básicos legais para qualificar uma OSCIP o seguinte: Art. 1º - Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei. Para Araújo ( 2009, p.30): Os avanços promovidos pela chamada Lei do Terceiro Setor, ao exigir a correta aplicação dos recursos, bem como a manutenção de contabilidade completa de suas operações e a necessidade de auditoria independente para as OSCIPs, não 29 29 devem ser considerados com meros aspectos intervencionistas do Estado no terceiro setor, mas como instrumento que evoca a transparência na gestão dessas organizações. E a contabilidade como instrumento de evidenciação e analise de operações e gestão está presente como condição sem a qual a OSCIP não mantém essa denominação (que vem aconpanhada de direitos e obrigações específicos), e isso enseja a aplicação do disposto no inciso IV do art. 4º citado, que a obriga a entregar os bens adquiridos com recursos públicos provenientes do termo de parceria a outra organização da mesma natureza. No que tange à remuneração de dirigentes, prevista na Lei do Terceiro Setor, a polemicasobre a perda da imunidade tributaria, por força da legislação do Imposto de Renda, foi resolvida. A OSCIP pode remunerar dirigentes sem que haja fato gerador de tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal. Assim consta do texto da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2003, em seu art. 34: “Art. 34. A condição e a vedação estabelecidas, respectivamente, no art. 13, § 2º, III, b, da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, e no art. 12, § 2º, a, da Lei nº 9.532, de 10 de dezembro de 1997, não alcançam a hipótese de remuneração de dirigente, em decorrência de vinculo empregatício, pelas Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), qualificadas segundo as normas estabelecidas na Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, e pelas Organizações Sociais (OS), qualificadas consoante os dispositivos da Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente à remuneração não superior, em seu valor bruto, ao limite estabelecido para a remuneração de servidores do Poder Executivo Federal”. Essa lei veio a dirimir a dúvida, estendendo também às OSs a mesma condição de remuneração de seus dirigentes sem a preocupação com a perda da isenção ou imunidade do Imposto de Renda e demais tributos federais. Assim, com a promulgação da Lei nº 10.637/2002 o Estado repara uma injustiça que cometia, pois não fazia distinção entre a condição de entidade “sem fins lucrativos”, que não distribui resultados, e daquela entidade privada e “que realiza distribuição de resultados”, pois a remuneração de dirigentes em organizações do terceiro setor é, tão somente, contraprestação pelos serviços que o diretor empregado realiza, diferentemente dos rendimentos dos sócios de organizações com finalidade de lucros. Em outras palavras, após a edição da Lei nº 10.637/2002, é possível a remuneração de dirigente pela associção sem a perda da condição de “entidade sem fins lucrativos”, desde que cumpra os requisitos dessa lei. 30 30 4.5 Organizações Religiosas 4.6 Partidos políticos ........................................................................................... 00 31 31 5 DEMONTRAÇÕES CONTABEIS PARA ENTIDADES SEM FINS LUCRATIVOS 5.1 Balanço patrimonial O CFC, com base na NBC T 3, conceitua o Balanço Patrimonial como “ a demonstração contábil destinada a evidenciar, quantitativamente e qualitativamente, numa determinada data, o Patrimônio e o Patrimônio Liquido da entidade”. O Patrimônio Líquido, segundo a NBC T “compreende os recursos próprios da entidade e o seu valor é a diferença entre o valor do Ativo e o valor do Passivo, que pode ser positivo, nulo ou negativo”. A NBC T, determina ainda, a substituição da conta Capital Social das organizações com finalidade de lucros pela expressão ‘Patrimônio Social’, não fazendo alusão a mudança de denominação do Grupo do Patrimônio Liquido (ARAUJO, p.55, 2009). Pode-se concluir que Patrimônio Líquido possui as mesmas características das empresas do segundo setor e a denominação de Patrimônio Social considera o fato de o patrimônio pertencer à sociedade e não a particulares. 5.2 Demonstrações do superávit ou déficit do exercício 5.3 Demonstrações do patrimônio social.............................................................. 00 5.4 Demonstrações de origens e aplicações de recursos ................................... 00 5.5 Demonstrações do fluxo de caixa ................................................................. 00 5.6 Notas explicativas .......................................................................................... 00 6 ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 00 6.1 Breve histórico da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza ........................ 00 6.2 Funcionamento da entidade ........................................................................... 00 6.3 Estrutura funcional.......................................................................................... 00 6.4 Organograma ................................................................................................. 00 6.5 Estratégia e planos para o futuro ................................................................... 00 6.5.1 Autossustentação .......................................................................................... 00 6.5.2 Relações com o mercado ............................................................................. 00 6.5.3 Área jurídica ................................................................................................ 00 6.5.4 Expectativas para 2014 ............................................................................... 00 32 32 6.6 Demonstrações financeiras ......................................................................... 00 6.6.1 Notas explicativas ás demonstrações contábeis em 31.12.2012 ................ 00 6.6.2 Índices – indicadores econômico-financeiros .............................................. 00 6.6.3 Analise do resultado econômico-financeiro em 2012 ................................. 00 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 00 33 33 REFERENCIAS ARAUJO, Osório Cavalcante, Contabilidade para organizações do terceiro setor. São Paulo, 2009. BRASIL, [Código Civil (2002)], Código Civil: Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. – 6ª Ed. – Brasília – Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012, p.20. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em www.presidencia.gov.br/legislação. Acesso em 29 set 2013. BRASIL. Decreto 3.000/1999 – Regulamento do Imposto de Renda, disponível no site www.planalto.gov.br, acessado em 29 set 2013. BRASIL. Lei nº 9.637, de 00 de março de 1998. BRASIL. Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria e dá outras providencias. Lei das OSCIPs. Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9790.htm. Acesso em 29 set 2013. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Princípios fundamentais e normas brasileiras de contabilidade. Conselho Federal de Contabilidade: Brasília CFC, 2006. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2006. IDIS. Instituto para o desenvolvimento do investimento social. Disponível em http://www.idis.org.br/sobre-o-idis Acesso em: 30 set 2013. OLIVEIRA, Aristeu - ROMÃO Valdo. Manual do terceiro setor e instituições religiosas: trabalhista, previdenciária, contábil e fiscal. 3ª Edição. São Paulo: Atlas, 2011. TERCEIRO SETOR: A sociedade por ela própria. Revista Brasileira de Administração. Ano XII, n.38. set. 2002. p. 30-36.
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