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Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 1 Capítulo 1 Histórico do Eletromagnetismo 1. Introdução A história do magnetismo começou com um mineral chamado magnetita (Fe3O4), a primeira substância com propriedades magnéticas conhecida pelo homem. Sua história anterior é obscura, mas seu poder de atrair ferro já era conhecido séculos antes de Cristo. A magnetita está amplamente distribuída. No mundo antigo, os depósitos mais abundantes ocorriam na região chamada Magnésia, localizada no que é hoje a Turquia, e a palavra magneto é derivada de uma similar grega, que se diz ter vindo do nome dessa região. Fig. 1.1: a magnetita No século III a. C., adivinhadores chineses da sorte operavam com duas placas, uma sobre a outra. A placa superior representava o céu e girava num pivô colocado sobre a placa inferior, que simbolizava a Terra. Além disso, na placa superior estava representada a constelação da Ursa Maior, que gira, no céu, ao redor do eixo Norte-Sul. O adivinho atirava contra as placas algumas peças de magnetita, que simbolizavam vários objetos, e de suas posições o futuro era deduzido. Uma das peças simbolizava a constelação da Ursa Maior e tinha a forma de uma colher. Com o tempo, colheres rotativas substituíram toda a placa superior e como essas colheres sempre se orientavam na direção Norte-Sul, os adivinhos se convenceram de que eram verdadeiramente objetos mágicos. Essa é, na verdade, a essência da bússola magnética, que se tornou um objeto familiar já no século I d.C. No século VI, os chineses descobriram que pequenas agulhas de ferro podiam ser magnetizadas caso fossem esfregadas com um pedaço de magnetita. Como a utilização da agulha magnética trouxe maior precisão na observação das direções magnéticas, os chineses também descobriram que o Norte e o Sul magnéticos não Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 2 coincidiam com o Norte e o Sul geográficos, descoberta que só foi feita no Ocidente após mais de setecentos anos. Ainda mais tarde os chineses perceberam que era possível magnetizar o ferro aquecendo-o até a incandescência e deixando-o esfriar estendido na direção Sul-Norte. No século XII, a bússola magnética era comum nos navios chineses. No Ocidente, o seu uso se iniciou pelo menos cem anos depois. Fig. 1.2: bússola magnética O primeiro a escrever sobre o magnetismo no Ocidente foi Peter Peregrinus que exercia, ao que parece, as funções de engenheiro militar no exército do rei da Sicília, no século XIII. Peregrinus escreveu um tratado datado de 1269 denominado De Magnete onde, além de descrever a magnetita e suas propriedades, definia a propriedade do imã de apontar sempre para o Norte, mencionava pela primeira vez o termo pólo magnético e explicava como um imã, quando partido em dois, se transformava em dois imãs. O tratado continha, ainda, uma tentativa de aplicar a força magnética para gerar um movimento perpétuo e uma menção da declinação magnética, isto é, do fato de o imã apontar para o norte magnético e não para o Norte geográfico. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 3 Fig. 1.3: De Magnete, de Peter Peregrinus O segundo a escrever sobre esse assunto no Ocidente foi o fabricante de instrumentos inglês Robert Norman, cujo livro apareceu em 1581 contendo um pequeno discurso sobre imãs e uma descrição da inclinação magnética, isto é, da inclinação da agulha magnética em relação à horizontal, que difere de um lugar para outro. Fig. 1.4: Cálice de Norman Mas o trabalho mais significativo desse tempo e o mais completo desde o tempo de Peter Peregrinus foi o livro De Magnete, publicado em Londres, em 1600, por William Gilbert, na época médico da rainha Elizabeth I. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 4 Fig. 1.5: Willian Gilbert O livro discutia a bússola magnética, o comportamento do imã propriamente dito, com seus poderes de atração e repulsão, a distinção entre a ação magnética e a ação elétrica do âmbar e o envolvimento de cada imã por uma "órbita invisível de virtude", que afetava qualquer pedaço de ferro que fosse colocado em sua vizinhança. O livro discutia, também, como um imã de forma esférica poderia desempenhar o papel da Terra e com o auxílio de pequenos imãs, demonstrava o comportamento daquilo que hoje chamamos de campo magnético terrestre, explicando a propriedade da agulha da bússola de sempre apontar para o Norte ou para o Sul, a declinação magnética e a inclinação magnética. Fig. 1.6: De Magnete, de Willian Gilbert Por mais de um século e meio depois de Gilbert, nenhuma descoberta de importância fundamental foi realizada, embora houvessem muitos melhoramentos práticos na construção de magnetos. Assim, no século XVIII construíram-se muitos magnetos compostos de ferro, formados de muitas lâminas de ferro magnetizadas presas juntas, que levantavam corpos de ferro com pesos 28 vezes maior que seus próprios pesos. Isso é mais notável quando observamos que existia um único modo de fazer magnetos naquela época: o ferro ou o aço tinham que ser esfregados com um imã ou com outro magneto que por sua vez tinha que ter sido esfregado com imã. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 5 No século XIX, o professor dinamarquês Hans Christian Oersted conseguiu provar experimentalmente, em 1820, que quando uma corrente elétrica passava ao longo de um fio aparecia um campo magnético e André Marie Ampére, na França, entre 1821 e 1825, esclareceu o efeito de uma corrente sobre um imã e o efeito oposto, de um imã sobre uma corrente. Fig. 1.7: Hans Christian Oersted Fig. 1.8: André Marie Ampère A pesquisa em materiais com propriedades magnéticas começou, pode-se dizer, com a invenção do eletromagneto, em 1825, uma vez que com ele se tornou Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 6 possível obter campos magnéticos muito mais intensos do que aqueles produzidos por imãs ou magnetos feitos com eles. Nos anos seguintes, Michael Faraday, na Inglaterra, iniciou suas pesquisas argumentando que se uma corrente num fio produzia efeitos magnéticos, como Ampère tinha demonstrado, o inverso poderia ser verdadeiro, isto é, um efeito magnético poderia produzir uma corrente elétrica. Para testar essa hipótese, Faraday enrolou duas espiras de fio num anelde ferro, uma ligada a uma bateria e a outra, ligada a um medidor de corrente elétrica, verificando a existência, na segunda espira, de uma corrente temporária quando ligava e desligava a bateria. Noutra experiência, Faraday usou uma espira enrolada em uma haste de ferro e dois imãs em forma de barra para demonstrar que os imãs, por si sós, podiam produzir uma corrente. Para explicar como a eletricidade e o magnetismo podiam afetar um ao outro no espaço vazio, Faraday propôs a idéia de um campo, imaginando linhas de força magnética tanto mais próximas umas das outras quanto mais intenso era esse campo e supondo que essas linhas tendiam a se encurtar sempre que possível e a se repelir mutuamente. Mais tarde, em 1837, Faraday introduziu também a idéia de linhas de força elétrica. Fig. 1.9: Michael Faraday O termo Eletromagnetismo é o nome da teoria unificada desenvolvida por James Maxwell em 1873 (conhecida como Teoria Geral do Eletromagnetismo, descrita em quatro equações fundamentais, denominadas equações de Maxwell) para explicar a relação entre a Eletricidade e o Magnetismo. Essa teoria baseia-se no conceito de campo eletromagnético. Quando o campo eletromagnético é estacionário não há propagação de informação através do espaço. Quando o campo eletromagnético é variável, há propagação das modificações desde a fonte do campo magnético através do espaço sob a forma de uma onda. São exemplos de campos eletromagnéticos variáveis as ondas de rádio, as microondas, o infravermelho, a luz, os raios ultravioletas, os raios X e os raios gama. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 7 Fig. 1.10: James Clark Maxwell As quatro equações de Maxwell expressam, respectivamente, como cargas elétricas produzem campos elétricos (Lei de Gauss), a ausência experimental de cargas magnéticas, como corrente elétrica produz campo magnético (Lei de Ampère), e como variações de campo magnético produzem campos elétricos (Lei de Faraday sobre a indução). Maxwell, em 1864, foi o primeiro a colocar todas as quatro equações juntas e perceber que era necessário uma correção na lei de Ampère: alterações no campo elétrico atuam como correntes elétricas, produzindo campos magnéticos. Fig. 1.11: Carl F. Gauss Além disso, Maxwell mostrou que as quatro equações, com sua correção, predizem ondas de campos magnéticos e elétricos oscilantes que viajam através do espaço vazio na velocidade que poderia ser predita de simples experiências elétricas. Usando os dados disponíveis na época, Maxwell obteve a velocidade de 310.740.000 m/s. Em 1865 Maxwell escreveu: “Esta velocidade é tão próxima da velocidade da luz que parece que temos fortes motivos para concluir que a luz em si (incluindo calor radiante, e outras radiações do tipo) é uma perturbação eletromagnética na forma de ondas propagadas através do campo eletromagnético de acordo com as leis eletromagnéticas.” Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 8 Maxwell estava correto em sua hipótese, embora ele não tenha vivido para ver sua comprovação por Heinrich Rudolf Hertz em 1888. Fig. 1.12: Heinrich Rudolf Hertz A explicação quantitativa da luz como onda eletromagnética é considerada um dos grandes triunfos da Física do século XIX (na verdade, Michael Faraday postulou uma descrição similar da luz em 1846, mas não foi capaz de dar uma descrição quantitativa ou predizer a velocidade). Além disso, serviu como base para muitos desenvolvimentos futuros na física, tais como relatividade restrita e sua unificação do campos magnéticos e elétricos como uma única quantidade tensorial, e a Teoria de Kaluza-Klein da unificação do Eletromagnetismo com gravidade e a relatividade geral. Fig. 1.13: T. Kaluza e O. Klein Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 9 2. Aplicações do Eletromagnetismo Algumas aplicações do Eletromagnetismo na área de Engenharia serão descritas a seguir: • Cálculo de campos eletrostáticos e magnetostáticos; • Campos variáveis no tempo, incluindo o comportamento transitório e em regime permanente de dispositivos eletromagnéticos, correntes de Foucault e efeito pelicular; • Propagação de ondas e problemas de espalhamento, incluindo dispositivos de microondas e antenas; • Otimização e problemas inversos em Eletromagnetismo; • Propriedades de materiais, incluindo supercondutores, materiais compostos e materiais susceptíveis às microondas, e o modelamento da anisotropia, histerese e ímãs permanentes; • Problemas de fronteira móvel relacionados a sistemas eletromagnéticos e campos eletromagnéticos acoplados a sistemas mecânicos, elétricos, eletrônicos, térmicos e fluidos; • Aplicação nas áreas de máquinas elétricas e acionamentos, dispositivos geradores de campos magnéticos intensos, eletroímãs a supercondutores, guias de onda, cavidades ressonantes, aplicações biomédicas, imagem por ressonância magnética, aquecimento indutivo, blindagem eletromagnética, aterramento, compatibilidade eletromagnética, ensaios não destrutivos, etc; • Métodos numéricos e metodologia de software em Eletromagnetismo, incluindo geração de malhas, malhas adaptativas, estimação de erros, solução de sistemas de equações algébricas, problemas de autovalores, computação paralela e vetorial, visualização, posprocessamento, técnicas de CAD/CAE, sistemas baseados no conhecimento e técnicas de inteligência artificial; • Óptica, laser, dispositivos e sensores ópticos, comunicação óptica; • Linhas de transmissão de energia elétrica e redes de dados; E etc., etc. e mais etc.... Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 10 Capítulo 2 Revisão de Análise Vetorial 1. Introdução – definição de vetor Defini-se vetor como uma entidade matemática dotada de módulo, direção e sentido. Na fig. 2.1 ilustra-se um vetor típico de origem no ponto P1 e extremidade no ponto P2, representados no espaço cartesiano. Fig. 2.1: vetor representado no espaço cartesiano O vetor R representado na fig. 2.1 é definido pela diferença entre os pontos que o compõem, isto é: 12 PPR −= r Ou seja, o vetor R é definido pela diferença entre o ponto de extremidade e o ponto de origem do mesmo. Em termos de coordenadas cartesianas tem-se: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 11 ),,(),,(),,( 121212111222 zzyyxxzyxzyxR −−−=−= r Defini-se módulo do vetor R ao comprimento do segmento de reta que une os pontos P1 e P2. Em termos de coordenadas cartesianas tem-se: 2 12 2 12 2 12 )()()( zzyyxxR −+−+−= r Defini-se vetor nulo O ao vetor cujas coordenadas são todasnulas. Em termos de coordenadas cartesianas tem-se: )0,0,0(=O r É muito importante se notar que o vetor nulo não é igual ao algarismo zero (0). O vetor nulo é uma entidade vetorial cujo módulo é nulo. 2. Nomenclatura adotada para representação vetorial Utilizar-se-á para a entidade vetorial letras maiúsculas dotadas de segmento de reta orientado sobre as mesmas. Para as entidades escalares (dotadas somente de módulo) letras maiúsculas sem o segmento de reta orientado. Para os versores (vetores de módulo unitário) letras minúsculas dotadas de acento circunflexo sobre as mesmas. Assim sendo, define-se versor como sendo a relação entre o vetor e seu módulo, dada por: A A A A aA r r r ==ˆ Utilizar-se-á os versores (ax, ay, az) para o sistema de coordenadas cartesianas. Assim, o vetor A poderá ser escrito analiticamente como sendo: zzyyxx aAaAaAA ˆ.ˆ.ˆ. ++= r Assim sendo, em termos de coordenadas, determina-se o versor aA relativo ao vetor A da seguinte forma: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 12 z zyx z y zyx y x zyx x zyx zzyyxx A a AAA A a AAA A a AAA A AAA aAaAaA a ˆˆˆ ˆ.ˆ.ˆ. ˆ 222222222222 ++ + ++ + ++ = ++ ++ = 3. Operações vetoriais Sejam dois vetores A e B definidos em suas coordenadas cartesianas. As operações matemáticas entre eles ficam assim definidas: I) Adição (ou subtração): zzzyyyxxx aBAaBAaBABA ˆ).(ˆ).(ˆ).( ±+±+±=± rr II) Propriedade Associativa: BCACBACBA rrrrrrrrr ++=++=++ )()()( III) Propriedade Distributiva: AkAkAkkBkAkBAk rrrrrrr ..).(..).( 2121 +=+⇒+=+ IV) Propriedade Comutativa: ABBA rrrr +=+ V) Elemento neutro: AAOOA rrrrr =+=+ VI) Produto escalar entre A e B : θcos..BABA = r o r onde θθθθ é o menor ângulo entre A e B. Em termos de coordenadas retangulares pode-se demonstrar que: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 13 222 ... zyx zzyyxx AAAAA BABABABA ++= ++= r o r r o r VII) Produto vetorial entre A e B : nasenBABA ˆ... θ=× rr onde θθθθ é o menor ângulo entre A e B e an é o versor normal ao plano definido por A e B. Para se saber qual a direção específica de an (e conseqüentemente do produto vetorial de A e B) utiliza-se a “regra da mão direita”, isto é, imagina- se um parafuso cuja rotação é dada pelos dedos da mão com exceção do polegar e o polegar fornece a direção de an, conforme fig. 2.2. Fig. 2.2: regra da mão direita ou do parafuso É claro que a propriedade comutativa não é válida para o produto vetorial. Pela “regra da mão direita” prova-se que: ABBA rrrr ×−=× Em termos de coordenadas cartesianas o produto vetorial entre A e B pode ser obtido calculando-se o determinante da seguinte matriz quadrada de ordem 3: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 14 zyx zyx zyx BBB AAA aaa BA ˆˆˆ =× rr O que resulta: zxyyxyzxxzxyzzy aBABAaBABAaBABABA ˆ)...(ˆ)...(ˆ)...( −+−+−=× rr 4. Sistemas de coordenadas Define-se o ponto P nos três sistemas de coordenadas ilustrados na fig. 2.3. Fig. 2.3: sistemas de coordenadas para o ponto P Observações fundamentais entre estes sistemas: I) Sempre se definem nesta ordem, por uma questão de facilidade de visualização (sinapses neurais); II) O ângulo φφφφ é o mesmo para os sistemas esférico e cilíndrico; porém, em termos de ordem para o sistema esférico, este ângulo corresponde à terceira coordenada, enquanto que, para o cilíndrico, é a segunda; III) A coordenada r é comum aos sistemas esférico e cilíndrico; porém, no cilíndrico r corresponde à distância entre o eixo z e o ponto P, tomada num plano normal a este, enquanto que, no esférico, ele corresponde à distância entre a origem e o ponto P; Outra forma de definir-se a posição do ponto P é através do método dos planos ortogonais, ilustrada na fig. 2.4. Note-se que: 0 ≤≤≤≤ θθθθ ≤≤≤≤ ππππ. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 15 Fig. 2.4: método dos planos ortogonais Este mesmo método pode definir também os versores de cada sistema de coordenadas, ilustrado na fig. 2.5. Fig. 2.5: versores nos três sistemas Assim, pode-se decompor o vetor A nos três sistemas de coordenadas como sendo: esférico ˆ.ˆ.ˆ. cilíndrico ˆ.ˆ.ˆ. cartesiano ˆ.ˆ.ˆ. →++= →++= →++= φφθθ φφ aAaAaAA aAaAaAA aAaAaAA rr zzrr zzyyxx r r r As operações de produto escalar e produto vetorial entre os versores pode ser resumida pelos diagramas das fig. 2.6 e 2.7, utilizando-se, como exemplo, do sistema de coordenadas cartesianas. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 16 Fig. 2.6: produto escalar entre os versores No diagrama da fig. 2.6 o O central representa o produto escalar entre os versores, isto é, ele vale 1 entre os versores de índices iguais e 0 para os versores de índices diferentes. Isto também é válido para os versores dos outros sistemas de coordenadas. Fig. 2.7: produto vetorial entre os versores Analogamente no caso do diagrama da fig. 2.7 o X central representa o produto vetorial entre os versores. Nota-se que o produto vetorial é positivo no sentido horário e negativo no sentido anti-horário. Quando os versores tem mesmo índice o produto vetorial é nulo. Isto também é válido para outros sistemas de coordenadas. 5. Elementos diferenciais de áreas, volumes e linhas No sistema cartesiano, por exemplo, o elemento de área na direção ay pode ser definido como sendo dS = dx. dz. No sistema esférico o elemento de área normal a ar é definido como sendo: dS = (r.dθθθθ).(r.senθθθθ.dφφφφ) = r2.senθθθθ.dθθθθ.dφφφφ Portanto, os elementos de área dependem de que direção e sistemas de coordenadas está se assumindo na situação vigente. Por sua vez, os elementos de volume só dependem do sistema de coordenadas e são ilustrados na fig. 2.8. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 17 Fig. 2.8: elementos diferenciais de volume para os três sistemas Para os elementos lineares, definidos pela diagonal de cada sistema ligada ao ponto P, tem-se: esférico ˆ...ˆ..ˆ. cilíndrico ˆ.ˆ..ˆ. cartesiano ˆ.ˆ.ˆ. →++= →++= →++= φθ φ φθθ φ adsenradradrld adzadradrld adzadyadxld r zr zyx r r r 6. Transformação cartesiano – cilíndricoPara se transformar o sistema cartesiano no cilíndrico deve-se fazer as seguintes identidades: zz senry rx = = = φ φ . cos. Para se fazer o inverso deve-se fazer as seguintes identidades: zz x y arctg yxr = = += φ 22 Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 18 Capítulo 3 Forças de Coulomb e o vetor campo elétrico 1. Lei de Coulomb A Lei de Coulomb é uma relação entre cargas elétricas estáticas. Por usa vez, uma carga elétrica é qualquer corpo que está em desequilíbrio eletrostático, isto é, em sua constituição atômica o número total de prótons não é igual ao número total de elétrons. Se fosse, a carga elétrica do corpo seria nula. Assim sendo, atribui-se então, aos prótons e elétrons (sem entrar nos méritos dos quarks up e down, sub-partículas atômicas constituintes dos prótons e elétrons), a menor quantidade possível de carga elétrica, cujo valor é, aproximadamente, 1,602.10-19 C, denominada carga elementar e, onde C é a unidade denominada Coulomb, dada em homenagem a Charles Augustin Coulomb, cientista francês. Charles Augustin Coulomb (1736 – 1806) Por convenção, adota-se que o próton possua uma carga positiva +e e o elétron uma carga –e. Portanto, se um corpo possuir uma carga elétrica equivalente a +5.e, por exemplo, significa que não só possui mais prótons do que elétrons mas que, em sua constituição, sua carga elétrica resultante é 5 vezes maior que a carga elementar. Sendo assim, o enunciado da Lei de Coulomb pode ser dado por: “Entre duas cargas elétricas existe uma força diretamente proporcional às magnitudes das cargas e inversamente proporcional ao quadrado da distância que as separa.” Em termos matemáticos pode-se escrever a força elétrica entre duas cargas elétricas Q1 e Q2 pela seguinte equação: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 19 213 21 21 212 21 21 1 . ...4 . ˆ. ...4 . R R QQ a R QQ F rr επεπ == Onde: F1 = força elétrica sobre Q1 devido à presença de Q2, cuja unidade no SI é o newton [N] dada em homenagem a Sir Isaac Newton, cientista inglês. Isaac Newton (1643 – 1727) a21 = versor apontando de Q2 para Q1 R21 = vetor deslocamento de Q2 a Q1 εεεε = permissividade elétrica do meio cuja unidade no SI é o farad/metro [F/m] dada em homenagem a Michel Faraday, cientista inglês. Michael Faraday (1791 – 1867) εεεε = εεεεr.εεεεo � εεεεr = permissividade elétrica relativa εεεεo = permissividade elétrica do espaço livre Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 20 Coulomb ainda percebeu que, se as cargas tivessem mesmo sinal, a força entre elas seria de repulsão e, se fossem de sinais contrários, a força seria de atração. Para o espaço livre (vulgo vácuo) valem as seguintes relações: Coulomb de cte./CN.m 10.9 4.π. 1 k :onde . . .ˆ. . .. ...4 . ˆ. ...4 . F/m 8,854.10F/m 36.π 10 ε1ε 229 o 213 21 21 212 21 21 213 21 21 212 21 21 1 12 9 or ⇒== ==== ≅=→= − − ε επεπ R R QQ ka R QQ kR R QQ a R QQ F oo rrr Por exemplo, deseja-se determinar a força elétrica sobre uma carga Q1 = 20 µC em virtude da carga Q2 = -300 µC. Q1 está localizada em (0,1,2) m e Q2 está em (2,0,0) m, supondo ambas estarem no espaço livre. Calculando o vetor R21 tem-se que: m 3ˆ.2ˆˆ.2)0,0,2()2,1,0( 2121 =⇒++−=−= RaaaR zyx r Como as cargas estão no espaço livre a força elétrica sobre Q1 devido à presença de Q2 é dada por: ( )( ) ( ) [N] â4.â2.â4.â2.ââ2.. 3 300.10.20.10 .9.10F zyxzyx3 66 9 1 −−=++− − = −−r Cujo módulo é 6 N e a direção mostra que realmente a força entre Q1 e Q2 é de atração, conforme já esperado. Supõe-se agora que haja uma carga de prova Q3 = 200 µC na origem do sistema cartesiano. A força sobre Q1 será, neste caso, a força resultante das duas cargas Q2 e Q3 sobre ela. Assim sendo, calcula-se o vetor R31, o que resulta: m 5Râ2.â(0,0,0)(0,1,2)R 31zy31 =→+=−= r Portanto a força da carga Q3 sobre Q1 resulta: ( )( ) ( ) [N] â6,439876. â3,219938.â2.â. 5 200.10.20.10 .9.10F zyzy1,5 66 9' 1 +=+= −−r Finalmente a força total das cargas Q3 e Q2 sobre Q1 resulta: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 21 [N] â2,439876.â1,219938.â4.FFF zyx ' 11 ++=+= rrr 2. Vetor campo elétrico O campo elétrico E é a região do espaço onde atuam forças elétricas. É a relação entre a força elétrica total devido a um conjunto de cargas elétricas sobre uma carga de prova pela própria carga de prova. Sua unidade no SI é o newton por coulomb (N/C) ou o volt por metro (V/m) dada em homenagem a Alessandro Giuseppe Antonio Anastasio Volta, cientista italiano. Alessandro Giuseppe Antonio Anastasio Volta (1745 — 1827) Assim sendo, o campo elétrico pode ser dado matematicamente por: R R Q ka R Q k Q F E R p r r r ..ˆ.. 32 === Por exemplo, no caso da carga Q1 do exemplo anterior, considerando as cargas Q2 e Q3, o campo elétrico no ponto onde ela se encontra (pois o campo elétrico é sempre no ponto e nunca sobre a carga) resulta: ( ) [N/C] .10â1,22.â0,61.â2.E 20.10 â2,439876.â1,219938.â4. Q F E 5 zyx 6 zyx 1 ++= ++ == − r r r 3. Distribuições de cargas elétricas As cargas elétricas podem estar distribuídas ao longo de um sistema e obedecem a três formas de distribuição possíveis, a saber: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 22 I) Distribuição ao longo de uma linha: dl R a kE L Rl . ˆ. . 2∫= ρr Onde ρρρρl denomina-se densidade linear de cargas (em C/m), isto é, é a carga elétrica distribuída ao longo da linha; II) Distribuição sobre uma superfície: dS R a kE S RS . ˆ. . 2∫= ρr Onde ρρρρS denomina-se densidade superficial de cargas (em C/m 2), isto é, é a carga elétrica distribuída ao longo da superfície; III) Distribuição no volume: dVol R a kE Vol RVol . ˆ. . 2∫= ρr Onde ρρρρVol denomina-se densidade volumétrica de cargas (em C/m 3), isto é, é a carga elétrica distribuída ao longo de todo o volume; Alguns casos particulares serão explanados em seguida: I) Cargas uniformemente distribuídas ao longo de uma linha infinita com densidade ρρρρl: Seja a figura 3.1 que modela uma linha infinita carregada uniformemente no eixo z: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 23 Fig. 3.1: modelo físicode uma linha infinita carregada uniformemente De acordo com a fig. 3.1 o campo elétrico pode ser dado por: ( ) ( ) r l rl zrl a r k E a zrr z rkdz zr azar kE ˆ. ..2 ˆ. . .... ˆ.ˆ.. . 2225,122 ρ ρ ρ = + = + − = ∞ ∞− ∞ ∞− ∫ r r II) Carga uniformemente distribuída ao longo de um plano infinito de densidade ρρρρS: Seja a figura 3.2 que modela um plano infinito carregado uniformemente localizado em z = 0: Fig. 3.1: modelo físico de um plano infinito carregado uniformemente De acordo com a fig. 3.2 o campo elétrico pode ser dado por: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 24 ( ) ( ) zS zSzr S akE a zr zkazar zr ddrr kE ˆ....2 ˆ. 1 .....2ˆ.ˆ.. ... . 0 22 2 0 0 5,122 ρπ ρπ φρ π = + − =+− + = ∞∞ ∫ ∫ r r Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 25 Capítulo 4 Fluxo elétrico e Lei de Gauss 1. Experiência de Faraday sobre o fluxo elétrico (ΨΨΨΨ) Diferentemente do campo elétrico E a grandeza escalar fluxo elétrico ΨΨΨΨ e a grandeza vetorial densidade de fluxo elétrico D não são mensuráveis diretamente. Suas existências foram inseridas na Eletrostática a partir de experimentos realizados no século XIX por Michael Faraday, cientista inglês. O aparato de Faraday consistia numa casca esférica condutora envolvendo uma carga elétrica +Q fixa em um referencial, conforme a figura 4.1. Fig. 4.1: Aparato de Faraday para a experiência sobre o fluxo elétrico De início, nenhuma carga é registrada sobre a superfície da casca. Posteriormente, fechando-se a chave momentaneamente, de forma a ligar o terra à casca, uma carga negativa –Q é detectada sobre a superfície da casca. A justificativa do surgimento desta carga negativa –Q é devido ao fluxo transitório de cargas negativas fluindo através da chave, a partir do terra, que se depositaram na casca. A causa deste fenômeno, observado por Faraday, sugere que um fluxo de +Q induzido (ou deslocado) na superfície condutora provocou o deslocamento da quantidade –Q de carga oriunda do terra até a superfície. Desde então, este fluxo de cargas foi designado de deslocamento de fluxo D. Faraday concluiu então que 1 C de carga elétrica corresponde a 1 C de fluxo elétrico, isto é: ΨΨΨΨ = Q [C] Por convenção o fluxo elétrico inicia-se na carga positiva e termina na carga negativa (Fig. 4.2(a)). Neste caso, a carga positiva é a fonte do fluxo e a carga negativa é aquela que absorve o fluxo elétrico. Por outro lado, na ausência de carga negativa, o fluxo elétrico estende-se até o infinito (Fig. 4.2(b)). Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 26 Fig. 4.2: Convenção do fluxo elétrico em cargas elétricas A figura 4.3 ilustra um determinado conjunto de linhas de fluxo elétrico atravessando uma determinada área de secção diferencial no espaço num determinado ponto. Fig. 4.3: Linhas de fluxo elétrico e o vetor D Defini-se deslocamento de fluxo elétrico ou densidade de fluxo elétrico D à diferenciação do fluxo elétrico que passa numa secção transversal S, isto é, é a concentração do fluxo elétrico que atravessa um elemento diferencial de área num determinado ponto do espaço, e é dado por: ][C/m â. dS dΨ D 2D= r Considere-se agora que uma determinada densidade volumétrica de carga esteja envolta pela superfície S. Considerando que 1 C de carga corresponde a 1 C de fluxo elétrico conclui-se que o fluxo elétrico total que passa pela superfície é exatamente a carga total que está confinada dentro dela. Mas nem sempre o vetor D é perpendicular à superfície S. Em alguns casos existe um ângulo entre os vetores D e dS, pois a superfície pode estar irregular (assimétrica) com relação ao fluxo, conforme ilustra a figura 4.4. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 27 Fig. 4.4: Superfície qualquer e o vetor D Assim sendo, de uma forma geral, o fluxo elétrico através da superfície S que confina a carga total em seu interior pode ser dada por: interna S QSdDΨ == ∫ r o r Cuja equação é conhecida na Eletrostática como a Lei de Gauss, em homenagem a Carl F. Gauss, cientista alemão, cujo enunciado pode ser dado por: “O fluxo elétrico total para fora de uma superfície fechada S é igual à carga elétrica total encerrada dentro desta superfície.” Carl F. Gauss (1777 – 1855) Na aplicação da Lei de Gauss o fator mais importante é a sábia escolha de uma superfície que possua a máxima simetria possível e que envolva a carga elétrica em seu interior, para simplificar a resolução da integração que, na maioria das vêzes, nem será preciso fazer. 2. Relação entre os vetores E e D Suponha que uma certa carga elétrica positiva +Q esteja na origem do sistema de coordenadas, conforme a figura 4.5. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 28 Fig. 4.5: superfície gaussiana em torno da carga +Q A carga está envolta por uma superfície esférica gaussiana de raio r e é totalmente simétrica com relação à posição de Q. Assim sendo, aplicando-se a Lei de Gauss nesta configuração, pode-se escrever a seguinte equação: r S S a r Q D rDSDdSDSdDQ ˆ. ..4 ..4... 2 2 π π = ==== ∫ ∫ r r o r Mas, nesta mesma configuração, o campo elétrico já estudado no cap. 3, pode ser dado por: rr a r Q a r Qk E ˆ. ...4 ˆ. . 22 επ == r Assim sendo, pelas equações apresentadas, a relação entre os vetores E e D pode ser dada por: ED rr .ε= 3. Condições para aplicação da Lei de Gauss As condições para a aplicação da Lei de Gauss em casos especiais (que envolvem considerável simetria) são: i) A superfície gaussiana deve ser fechada; ii) O vetor D deve ser normal (ou tangencial) a cada ponto sobre a superfície (ausência de irregularidades superficiais); iii) O módulo do vetor D deve ser constante a cada elemento de área dS onde D for normal à superfície; Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 29 Como exemplo de aplicação da Lei de Gauss obedecendo às condições descritas, considera-se uma distribuição linear de cargas ρρρρl localizada no eixo z em coordenadas cilíndricas, conforme a figura 3.1. Envolvendo esta configuração com uma superfície gaussiana cilíndrica (é óbvio!) tem-se a figura 4.6. Fig. 4.6: Cilindro gaussiano envolvendoa linha de carga Aplicando a Lei de Gauss para esta configuração resulta: ∫∫∫ ++= 321 SdDSdDSdDQ r o rr o rr o r Nas áreas 1 e 3 os vetores D e dS são ortogonais, logo o produto escalar entre eles é nulo. Porém, na superfície 2 os vetores D e dS são paralelos, o que resulta: LrDSDdSDQ S ...2... π=== ∫ Onde L é o comprimento do cilindro gaussiano. Por sua vez a carga elétrica total confinada no interior do cilindro pode ser dada por Q = ρρρρl . L. Substituindo este dado na equação da aplicação da Lei de Gauss resulta: r l a r D ˆ. ..2 π ρ = r Aplicando-se a relação entre os vetores E e D neste caso e supondo que a configuração esteja no espaço livre, tem-se que: r l a r k E ˆ. ..2 ρ = r Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 30 Cujo resultado é exatamente o mesmo que o obtido na mesma configuração através da definição de campo elétrico vista no cap. 3. Algumas aplicações da Lei de Gauss serão explanadas a seguir: I) Casca esférica de raio a e carga +Q envolta por uma outra casca esférica de raio b > a e carga –Q, formando um capacitor esférico: as regiões de interesse para determinar os vetores D e E são: um raio gaussiano r < a, outro raio gaussiano a < r < b e outro raio gaussiano r > b e todos formando esferas gaussianas; assim, aplicando-se a Lei de Gauss nestas regiões tem-se que: 000: ˆ. .r4. Q Eˆ. .r4. Q D ..4: 000: int 22 2 int int =⇒=⇒=> + =⇒ + =∴ +=⇒+=⇒+=⇒=<< =⇒=⇒=< ∫∫ QEDbr aa QrD.QD.SQdSD.QSdDbra QEDar r o r SS rrrr rr r o r rrrr πεπ π II) Modelo físico do átomo, isto é, uma esfera maciça de raio a com densidade volumétrica de carga ρρρρVol = ρρρρo . e -r/a: neste modelo à medida que o raio r aumenta diminui-se a carga total até o limite r = a; por isto, as regiões de interesse são um raio gaussiano r < a e um raio gaussiano r > a e todos formando esferas gaussianas; assim, aplicando-se a Lei de Gauss nestas regiões tem-se que: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 31 ( )[ ] ( )[ ] ( )[ ] r o o r o o a ar o Vol Vol r o r SS o r ar or ar o ar o r ar o Vol Vol r o r SS a r a Ea r a D aQ ddsendrerdVolQMas aa QrD.QD.SQdSD.QSdDar r aaarraea E r aaarraea D aarraeaQ ddsendrerdVolQMas aa QrD.QD.SQdSD.QSdDar ˆ. . ..0,1606028 ˆ. ..0,1606028 ...40,1606028. .....: ˆ. .r4. Q Eˆ. .r4. Q D ..4: . ˆ..2..2...2.ˆ..2..2...2. .2..2...2...4 .....: ˆ. .r4. Q Eˆ. .r4. Q D ..4: 2 3 2 3 3 int 0 .2 00 /2 int 2 int 2 int int 2 intintint 2 322/3 2 322/3 322/3 int 0 .2 00 /2 int 2 int 2 int int 2 intintint ε ρρ ρπ φθθρρ πεπ π ε ρρ ρπ φθθρρ πεπ π π π π π =⇒=∴ =∴ == =⇒=∴ =⇒=⇒=⇒=> ++− =⇒ ++− =∴ ++−=∴ == =⇒=∴ =⇒=⇒=⇒=< ∫ ∫∫∫ ∫∫ ∫ ∫∫∫ ∫∫ − −− − − rr rr r o r rr rr r o r Deve-se ressaltar que, em r = a, o valor do campo E deve ser o mesmo para ambas as regiões e vale: r o o a a E ˆ. ..1606028,0 ε ρ = r Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 32 Capítulo 5 Eletrodinâmica 1. Introdução A Eletrodinâmica é a parte do Eletromagnetismo que trata do movimento de cargas elétricas imersas em campos eletromagnéticos. Com o movimento de cargas existe a possibilidade de prever-se a existência, além dos campos elétricos, dos campos magnéticos. É o que acontece, por exemplo, quando o magma (rocha derretida à altíssima temperatura e pressão) existente no centro da Terra se move. Como é um fluido eletrizado, seu movimento gera o campo magnético terrestre. E, se o campo magnético da Terra se forma pelo movimento de cargas elétricas no interior do magma o mesmo movimento de cargas elétricas pode gerar também campos magnéticos em condutores elétricos, formando eletroímãs, que possuem a enorme vantagem de gerar campos magnéticos controláveis nas bobinas elétricas e nos solenóides, possuindo vasta aplicação na Engenharia, na área de Máquinas Elétricas e em seus dispositivos de comando e acionamento. 2. Trabalho elétrico e potencial elétrico Para se mover uma carga elétrica se faz necessário aplicar nela uma força elétrica que, por sua vez, gera um trabalho elétrico. Este trabalho é dado, assim como na Mecânica Clássica, pelo produto escalar da força pela distância (ou vetor deslocamento), isto é: ∫ −=→−=−= L e ldEQ.WldEQ.ldFdW r o rr o rr o r Onde o sinal negativo demonstra que a força aplicada na carga é de mesmo módulo que a força elétrica, porém de sinal contrário, para gerar em seu movimento um equilíbrio dinâmico (movimento com velocidade constante). A unidade do trabalho no SI é o joule [J] dada em homenagem a James Prescott Joule, cientista inglês. James Prescott Joule (1818 – 1889) Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 33 Por exemplo, deseja-se mover uma carga elétrica de -20 µC da origem até o ponto (4,0,0) m através do campo eletrostático E = (0,5.x + 2.y).âx + 2.x.ây [V/m]. O caminho a ser realizado pela carga é ao longo do eixo x, o que se conclui que dl = dx.âx Portanto, o trabalho realizado é assim obtido: ( ) µJ 80.dx2.y0,5.x.20.10W 4 0 6 =+= ∫ − Agora, deseja-se mover a mesma carga do ponto (4,0,0) m até o ponto (4,2,0) m. Neste caso, como x = 4 m é uma constante, tem-se que dl = dy.ây. Assim sendo, o trabalho realizado fica: µJ 320.dy2.20.10W 2 0 6 == ∫ − .x Agora, deseja-se mover a carga do ponto (4,2,0) m de volta à origem ao longo da diagonal que une os pontos. O trabalho fica assim determinado: ( )[ ] [ ] ( )[ ] µJ 4002,5.x.dx.20.10W0,5.dxdy0,5.xy:fazendo 2.x.dy.dx2.y0,5.x.20.10W âdy.âdx.â2.x.â.2.y0,5.x.20.10W 0 4 6 (0,0,0) (4,2,0) 6 (0,0,0) (4,2,0) yxyx 6 −==→=→= ++= +++= ∫ ∫ ∫ − − − o Assim sendo, por este exemplo, quando o trabalho realizado para mover-se uma carga de um ponto a outro independe do caminho, isto é, se definir-se a trajetória de um ponto a outro num caminho fechado de tal forma que o trabalho total seja nulo, o campo estático que gera este trabalho (e a força associada a ele) é denominado conservativo. Outra forma de verificar se o campo eletrostático é conservativo é o teste da derivada. Por exemplo, para um campo eletrostático que possui duas coordenadas num sistema cartesiano definido da seguinte forma: yyxx aEaEE ˆ.ˆ. += r Para o campo eletrostático ser conservativo, pelo teste da derivada, deve-se verificar se: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 34 x E y E yx ∂ ∂ = ∂ ∂ Por sua vez define-se potencial elétrico do ponto A relativamenteao ponto B como sendo o trabalho realizado sobre uma carga unitária positiva Q de modo a trazê-la de B até A isto é: ∫−== A B AB ldE Q W V r o r Cuja unidade no SI é o volt [V]. Define-se diferença de potencial (ddp) ∆∆∆∆V como sendo a diferença dos potenciais elétricos dos pontos relativos a um único ponto de referência, geralmente de potencial elétrico nulo (terra). Assim sendo, a ddp ∆∆∆∆VAB pode ser escrita da seguinte forma: ∆∆∆∆VAB = VA-0 – VB-0 = VA – VB Para uma carga pontual seu campo elétrico possui simetria esférica. Assim sendo o potencial elétrico pode ser assim escrito: −=−=−=−= ∫∫∫ BA r r r r r B A AB rr Qk r dr QkdrEldEV B A B A 11 ..... 2 r o r Por esta equação nota-se que, considerando que o ponto A está mais próximo da carga do que B, o potencial é maior próximo à carga (sua fonte). Assim sendo, se tomar-se o infinito como referencial (rB � ∞) o potencial pode ser escrito como sendo: r Qk VA . = Por exemplo, deseja-se determinar o potencial elétrico no centro de um quadrado de lado L onde quatro cargas pontuais +Q estão em seus vértices. Como a distância de todas as cargas ao centro do quadrado vale metade de sua diagonal o potencial devido às quatro cargas pode ser dado por: L Qk L Qk V .2 ..8 .2.5,0 ..4 == Finalmente, nota-se que, pela relação entre E e V pode-se determinar V em função do produto escalar entre E e dl e, além disto, integrando-se o produto escalar Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 35 ao longo de L. Mas, e quando deseja-se fazer o oposto, isto é, obter E em função de V e dl? Parece ser uma operação simples, mas V é uma grandeza escalar e E e dl são vetores. Portanto, duas operações deverão ser feitas: a primeira é derivar V ao longo da trajetória dada por L para se opor à integração de E com dl e a segunda é transformar esta derivação em vetor, pois E é um vetor. Assim sendo, o operador matemático que faz estas duas operações ao mesmo tempo denomina-se gradiente que, em coordenadas cartesianas, é definido como sendo: zyx a z V a y V a x V V ˆ.ˆ.ˆ. ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ =∇ r Assim sendo, a relação entre E e V pode ser dada pelo gradiente definido como sendo: VE ∇−= rr O sinal negativo indica que o campo elétrico E cresce na direção contrária, isto é, do potencial mais alto para o potencial mais baixo. Por exemplo, deseja-se saber o campo elétrico de uma carga pontual na região r > 0 onde seu potencial, com referencial nulo no infinito, pode ser dado por: r Qk VA . = Assim sendo, aplicando-se o gradiente de V em coordenadas esféricas tem- se que: rr a r Qk a r Qk r VE ˆ. . ˆ. . 2 = ∂ ∂ −=∇−= rr E este resultado condiz totalmente com a Lei de Coulomb. 3. Corrente Elétrica Corrente elétrica num ponto ou através de uma superfície é o fluxo ordenado de cargas elétricas que passa pelo ponto ou superfície. Geralmente adota-se a letra i (do alemão intensity = intensidade) para correntes variáveis no tempo e I para correntes invariáveis no tempo (em CC são valores máximos e em CA valores eficazes). O termo é apropriado para condutores metálicos (prata, cobre, ouro, alumínio e platina), mas inapropriado para fluidos e gases onde tanto portadores majoritários de carga positivos e negativos (íons) podem estar presentes. Neste caso é mais importante a densidade de corrente elétrica J, que será mais utilizada em Eletromagnetismo. Por sua vez, no SI, a unidade de i é o ampère (A) e a unidade do Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 36 J é o ampère por metro quadrado (A/m2) dada em homenagem a André Marie Ampère, cientista francês. André Marie Ampère (1775 – 1836) Nos metais a condução elétrica depende da estrutura cristalina do mesmo e das condições térmicas (temperatura), por causa da vibração molecular que aumenta conforme aumenta a temperatura. Assim sendo, quanto mais organizada for a estrutura do material maior a possibilidade de condução elétrica. Contrariamente, nos materiais isolantes esta estrutura organizada é inexistente, o que contribui para a baixíssima condução elétrica nestes materiais. Nos metais citados anteriormente, a estrutura cristalina predominante é a CFC (cúbica de face centrada), ilustrada na figura 5.1: Fig. 5.1: modelo de estrutura CFC Nesta estrutura a maior quantidade de moléculas envolvidas denota a possibilidade da formação de uma maior “nuvem eletrônica” no espaço vazio entre os átomos. Assim sendo, uma maior quantidade de elétrons livres por unidade de volume implica em maior condução elétrica. Portanto, se os elétrons forem excitados por um campo elétrico, a corrente elétrica, em nível microscópico, pode ser dada por: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 37 SvenI m ...= Onde: n = número de elétrons livres por unidade de volume [elétrons livres/m3] e = carga elementar = 1,602.10-19 C vm = velocidade de migração dos elétrons [m/s] S = secção transversal do metal [m2] Por sua vez o valor de n pode ser calculado da seguinte forma (supondo que cada átomo dispõe de 1 elétron livre): átomo elétron 1 . ρ ρ . N n molecular específicaAvogadro = Onde: NAvogadro = 6,02.10 26 átomos/kmol em homenagem a Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro, cientista italiano. Lorenzo Romano Amedeo Carlo Avogadro (1776 - 1856) ρρρρespecifica = massa específica do metal [kg/m 3]; ρρρρmolecular = massa molecular do metal [kg/kmol]; Por exemplo, para um condutor de cobre (ρespecifica = 8960 kg/m 3 � ρmolecular = 63,54 kg/kmol) o valor de n será 8,489015.1028 elétrons livres/m3. Portanto, para um condutor de cobre de 1,5 mm2 de secção transversal instalado num circuito que consome uma corrente de 15,5 A (típico de uma instalação residencial) a velocidade de migração eletrônica no interior do metal pode ser dada por: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 38 mm/s 0,75984 10.5,1.10.602,1.08,489015.1 5,15 .. ... 61928 =∴ ==→= −− m mm v Sen I vSvenI Estranho! Algo deve estar errado! Se os elétrons livres possuem tal velocidade, em 1 s eles se moveram apenas 0,75984 mm! Então, se o condutor de cobre ligar um interruptor à lâmpada e ele tiver 10 m, os elétrons demorarão, aproximadamente, 3 horas e 39 minutos para voltar de onde vieram (dar a volta completa)! Mas então porquê quando se aperta o interruptor imediatamente se acende a lâmpada? A explicação vem do famoso “efeito dominó”: cada elétron livre, nesta velocidade ínfima, colide com seu vizinho e vai transmitindo a energia eletromagnética por transferência de quantidade de movimento até o destino final. Isto é, a tamanha quantidade de elétrons livres no material faz com que a energia se propague por “choques” entre os elétrons ao longo do comprimento do mesmo. Evidentemente,isto não evita que, parte da energia eletromagnética propagada se dissipe, em forma de energia térmica, nas colisões por causa do atrito entre os elétrons livres (que é o famoso efeito Joule, princípio de funcionamento do chuveiro elétrico, do ferro elétrico, da lâmpada incandescente e demais dispositivos que transformam energia elétrica em energia térmica). Considerando-se que a velocidade migração é a relação entre o deslocamento de migração e o tempo de migração, pode-se escrever a equação da corrente elétrica da seguinte forma: t Q t Sden SvenI mm ∆ === ... ... Isto é, a corrente elétrica também pode ser dada pela relação entre toda a carga elétrica que flui através da secção transversal do metal pelo tempo que demora para fluir. Assim sendo, o ampère como unidade de medida de corrente elétrica, é a relação entre 1 C de carga a cada 1 s de fluxo, isto é: 1 A = 1 C/s 4. Densidade de corrente de condução A densidade de corrente de condução ocorre na presença de campos elétricos dentro de condutores com secção transversal fixa e é dada pelo produto da condutividade do material pelo campo elétrico necessário para a condução elétrica, isto é: ][A/m â. dS dI Eσ.J 2n== rr Onde ân é o versor normal à secção transversal do condutor. Assim sendo, outra forma de definir a corrente elétrica é pela definição do vetor J, isto é: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 39 ∫∫ == SS SdEσ.SdJI r o rr o r Por exemplo, para o condutor de cobre do exemplo anterior, a densidade de corrente de condução é dada por: 2 6- MA/m 310, 1,5.10 15,5 S I J === r Isto denota que as densidades de condução nos metais são muito elevadas, característica intrínseca dos mesmos. Outra propriedade intrínseca dos metais é a condutividade dada pelo produto da densidade de carga dos elétrons livres n.e (em C/m3) pela mobilidade m (em m2/V.s) com que os elétrons se movem dentro do metal, isto é: n.e.mσ = Sua unidade no SI é o siemens por metro [S/m] dada em homenagem a Ernst Werner von Siemens, inventor e industrial alemão. Ernst Werner von Siemens (1816 — 1892) Na tabela 5.1 descrevem-se quantitativamente estas propriedades dos principais metais condutores. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 40 Tab. 5.1: propriedades dos principais metais condutores (a 20 oC) Metal ρρρρespecífica (kg/m 3 ) ρρρρmolecular (kg/kmol) n (elétrons/m 3 ) m (m 2 /V.s) σσσσ (MS/m) Prata 10490 107,87 5,854250.10 28 0,0067068 62,9 Cobre 8960 63,54 8,489015.10 28 0,0042649 58,0 Ouro 19300 196,97 5,898665.10 28 0,0043388 41,0 Alumínio 2700 26,98 6,024463.10 28 0,0036472 35,2 Niquel 8908 58,71 9,134076.10 28 0,0008747 12,8 Platina 21090 195,09 6,507858.10 28 0,0009592 10,0 Finalmente, embora estas propriedades sejam consideradas intrínsecas (naturais) e isotrópicas (independentes da posição espacial do metal), elas são variantes com a temperatura. Por isto o meio ambiente influencia a forma de condução nos metais de tal maneira que é preferível o metal estar sem isolação e ao ar livre, com a devida refrigeração, do que isolado e no interior de algum eletroduto. A refrigeração é fundamental para boa condução nos metais. Isto não significa, obviamente, que cabos de alumínio nu numa linha de transmissão elétrica na Finlândia ou na Sibéria, regiões extremamente frias da Terra, terão maior rendimento de condução do que no Brasil, por exemplo. Não se deve esquecer que nestas regiões inóspitas o gelo que se forma ao redor dos cabos aumenta seu peso (onde os diâmetros de gelo chegam a ser 7 vezes maiores do que o diâmetro do cabo) e isto aumenta o vão de sua catenária (curva formada pelo cabo quando apoiado por duas torres ou dois postes pela ação de seu peso próprio). Contudo, se estas propriedades forem anisotrópicas (dependentes da posição do metal no espaço) seus valores deverão ser descritos por matrizes de ordem 3 x 3 e os cálculos por sistemas de equações de ordem 9 x 9, realizáveis somente por computadores avançados (cálculos estes conhecidos como tensoriais). 5. Lei de Ohm Em homenagem a Georg Simon Ohm, cientista alemão. Georg Simon Ohm (1789 – 1854) Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 41 Define-se resistência elétrica R de um metal como sendo a oposição do mesmo à passagem da corrente elétrica, cuja unidade no SI é o ohm (ΩΩΩΩ = S-1). Esta definição é bem apropriada a metais cuja corrente elétrica está em regime CC (corrente contínua) pois, se estiver em regime CA (corrente alternada) a definição a oposição à passagem de corrente elétrica denomina-se impedância elétrica Z, que, por sua vez, é um número complexo (NC) cuja parte real é a resistência elétrica R aqui definida. Por sua vez, a resistência elétrica é dada pela relação entre a ddp aplicada entre os terminais do metal pela corrente que o atravessa, isto é: ∫ ∫ ∫ ∫ == ∆ = S L S L SdE ldE SdJ ldE I V R r o r r o r r o r r o r .σ E esta equação é denominada forma elétrica da Lei de Ohm. Se considerar- se um condutor homogêneo (feito do mesmo material do início ao fim), de secção transversal constante S e de comprimento finito L a Lei de Ohm pode ainda ser dada por: S L dSE dlE SdE ldE I V R S L S L . 1 .. . . σσσ === ∆ = ∫ ∫ ∫ ∫ r o r r o r E, por sua vez, esta equação é denominada forma geométrica da Lei de Ohm. Ambas as equações enunciam as Leis de Ohm da seguinte forma, a saber: 1ª Lei de Ohm: “A resistência de um condutor filiforme e homogêneo é diretamente proporcional à ddp aplicada em seus terminais e inversamente proporcional à corrente elétrica que o atravessa”; 2ª Lei de Ohm: “A resistência elétrica de um condutor filiforme e homogêneo é diretamente proporcional ao seu comprimento e inversamente proporcional à área de sua secção transversal; a relação entre a resistência e os demais parâmetros é a condutividade do condutor”; Embora estas definições sejam conhecidas na literatura como 1ª e 2ª Lei de Ohm, respectivamente, não se sabe ao certo qual delas foi enunciada primeiro. O que importa é que elas só são válidas para condutores filiformes (em forma de fio) e Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 42 homogêneos. Outros casos que não se encaixam nestas condições deverão ser analisados pela definição mais básica da relação entre a ddp e a corrente elétrica. Por exemplo, deseja-se determinar a resistência de isolação de um cabo coaxial de comprimento L, raio interno a e externo b. Admitindo que a corrente total irá fluir do interior para exterior do condutor, a densidade de corrente J no cabo pode ser dada por: Lr I S I J ...2 π == Onde r é a distância radial no intervalo a < r < b. Por sua vez, o campo elétrico nesta configuração é dado por: Lr IJ E ....2 σπσ == A ddp entre os condutoresdo cabo é dada por: =−=⋅−= ∫∫ a b L I dr Lr I drEV b a b a ab ln. ...2 . ....2 σπσπ Portanto, aplicando a Lei de Ohm tem-se que: == a b LI V R ab ln. ...2 1 σπ Neste caso, vale ressaltar que a condutividade não é do condutor e, sim, do isolamento, que é da ordem de 10-15 S/m (geralmente poliuretano). Por exemplo, um cabo coaxial RG11 possui a = 0,81 mm e b = 3,555 mm. Para 1 m de comprimento de cabo a sua resistência de isolamento vale: Ω= = − T 0,235402 81,0 555,3 ln. 1.10..2 1 15π R Não é à toa que no cabo coaxial o sinal deve passar pelo condutor central no sentido axial e não no sentido radial, pois neste sentido, a resistência de isolamento é altíssima, impedindo qualquer fuga de sinal no cabo. Mas, dentro da Lei de Ohm, um caso em particular chama a atenção: e quando a secção transversal do condutor varia ao longo do comprimento? O caso a seguir que ilustra esta dependência da secção com o comprimento é denominado “o caso do tronco de cone elétrico”. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 43 Um condutor possui uma secção transversal circular de raio r no início do seu comprimento e este raio vai aumentando linearmente de um fator k até atingir o comprimento do mesmo. A figura 5.2 ilustra as vistas de topo e de perfil do modelo físico do condutor. Fig. 5.2: vistas de topo e de perfil do modelo do condutor em tronco de cone Neste caso, deve-se escrever a equação da linearidade entre o raio e o comprimento e aplicar a Lei de Ohm. Assim sendo, equacionando a linearidade entre o raio e o comprimento tem-se que: ( ) r.l L 1kr. R k.rr2RLl:para rr1R0l:para BA.lR:eLinearidad + − =∴ ==→= ==→= += Como existe uma variação geométrica no condutor a Lei de Ohm deve levar isto em consideração, fazendo-se que: ∫∫ == 2σ.π.R dl σ.S dl aResistênci Da equação da linearidade supra descrita tem-se que: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 44 ( ) ( ) .dR 1kr. L dl.dl L 1kr. dR − =→ − = Portanto, a equação da resistência deste condutor fica assim descrita: ( ) ∫∫∫ − === k.r r 22 R dR . 1kσ.π.r. L σ.π.R dl σ.S dl aResistênci 2σ.k.π.r L aResistênci = Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 45 Capítulo 6 Campos magnéticos estacionários 1. Introdução Assim como o campo elétrico é o lugar no espaço onde atuam forças elétricas o campo magnético é também o lugar do espaço onde atuam forças magnéticas. Por sua vez, um campo magnético estacionário H é aquele que pode ser gerado por um imã permanente ou por correntes estacionárias. Sua unidade no SI é o ampère por metro (A/m). Pelas equações de Maxwell prova-se que, na presença de um campo elétrico estacionário (invariante no tempo) não há a necessidade da presença de um campo magnético estacionário (isto é, cargas elétricas em repouso não geram campos magnéticos). Mas, impreterivelmente, na presença de campos elétricos não estacionários devem existir campos magnéticos não estacionários. E a combinação destes campos não estacionários é que gera a onda eletromagnética (OEM). 2. Lei de Biot-Savart A função desta lei é determinar o campo magnético de fontes puntiformes de corrente elétrica em sistemas não simétricos e ela possui este nome em homenagem a Jean Baptiste Biot, cientista francês e Félix Savart, médico e físico francês. Jean Baptiste Biot (1774 – 1862) Félix Savart (1791 – 1841) Seja um elemento diferencial de corrente I.dl, gerando uma intensidade incremental de campo magnético dH, conforme a fig. 6.1. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 46 Fig. 6.1: modelo para a lei de Biot – Savart Para este campo magnético dH valem as seguintes características: a) o campo varia inversamente com o quadrado da distância a I.dl; b) é independente do meio circunvizinho; c) possui direção e sentido fornecido pelo produto vetorial de I.dl por âR ou pela regra da mão direita ilustrada pela fig. 6.2; Fig. 6.2: regra da mão direita entre I e H A equação que define o campo magnético em função de I é dada pela Lei de Biot – Savart: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 47 [A/m] 4. ..4 ˆ. 32 .πR RlI.d R aldI Hd R rrr r × = × = π O sentido de R é do elemento de corrente para o ponto onde dH deve ser calculado, conforme a fig. 6.1. Todos os elementos de corrente que formam o filamento de corrente final contribuem para H e devem ser levados em conta. Portanto, a forma final da Lei de Biot – Savart leva-se a uma integração de todos os incrementos dH da configuração, isto é: ∫∫ × = × = 32 ..4 . ..4 ˆ. R RldI R aldI H R ππ rrr r Por exemplo, seja um fio infinito com uma corrente filamentar retilínea ao longo do eixo z, conforme fig. 6.3. No ponto z = 0 está o centro da circunferência, em coordenadas cilíndricas, cujo raio é r. Fig. 6.3: exemplo de aplicação da lei de Biot – Savart Para este caso a Lei de Biot – Savart resulta: 2/3222/322 ).(.4 ˆ... ).(.4 )ˆ.ˆ.(ˆ.. zr adzrI zr azaradzI Hd zrz + = + +× = ππ φ r Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 48 Considerando que o versor âφφφφ não varia com z ele pode ser retirado da integração. Os limites de integração são desde z = -∞ até z = +∞, o que resulta: φφ ππ a zr dzrI a zr dzrI H ˆ. ).(.4 .. .2ˆ. ).(.4 .. 0 2/3222/322 + = + = ∫∫ +∞+∞ ∞− r Esta integração é denominada imprópria, pois existe um limite tendendo ao infinito. Para resolvê-la aplica-se substituição trigonométrica, onde: θθθ drdztgrz .sec.. 2=⇒= O que resulta: ( ) ( ) r I r dI tgrr drrI zr dzrI H ..2..4 .cos. .2 ....4 .sec... .2 ..4 .. .2 2/ 0 2/ 0 2/3222 2 0 2/322 ππ θθ θπ θθ π ππ == + = + = ∫∫∫ +∞ Portanto: φ π a r I H ˆ. ..2 = r 3. Lei de Ampère A função desta lei é a mesma da anterior, porém para sistemas simétricos principalmente. Enunciado: “A integral de linha da componente tangencial de H sobre um percurso fechado é igual à corrente enlaçada por esse percurso.” Equacionalmente tem-se que: ∫ = intIldH r o r Para poder aplicar-se a lei de Ampère com a intenção de calcular H deve-se observar o seguinte: EletromagnetismoTeoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 49 a) a configuração deve ter considerável grau de simetria; se não houver, a lei de Biot – Savart deve ser empregada; b) em cada ponto do percurso fechado, H deve ser tangencial ou normal ao percurso; c) H tem o mesmo valor em todos os pontos do percurso onde ele é tangencial; Por exemplo, no caso do fio infinito da fig. 6.3, aplicando-se a lei de Ampère pode-se fazer: φ π π a r I HIrHldH ˆ. ..2 )..2.(∫ =⇒== rr o r Neste caso em particular, a solução pela lei de Ampère se mostra muito mais simples e rápida do que a Lei de Biot – Savart, simplesmente pelo respeito às observações dadas. 4. O operador rotacional O rotacional de um campo vetorial A é outro campo vetorial, cuja direção é perpendicular à A. Na fig. 6.4 ilustra-se um campo genérico A e um ponto P localizado numa região área ∆∆∆∆S limitada por uma curva fechada C, percorrida de tal forma a manter sempre à esquerda a área limitada. O sentido do versor ân é dado pela regra da mão direita. Fig. 6.4: modelo para o rotacional Portanto, defini-se o componente do rotacional do campo A na direção de ân ao limite: S ldA aArot S n ∆ = ∫ →∆ r o r o r 0 limˆ) ( Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 50 Em coordenadas cartesianas, o rotacional de A pode ser dado pelo determinante da matriz quadrada de ordem 3 dada abaixo: zyx zyx AAA zyx aaa Arot ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂ = ˆˆˆ r O que resulta: z xy y zx x yz a y A x A a x A z A a z A y A ˆ.ˆ.ˆ.Arot ∂ ∂ − ∂ ∂ + ∂ ∂ − ∂ ∂ + ∂ ∂ − ∂ ∂ = r Em coordenadas cilíndricas o rotacional resulta: z rzr r z a A r Ar r a r A z A a z AA r ˆ ).(1 ˆˆ 1 Arot ∂ ∂ − ∂ ∂ + ∂ ∂ − ∂ ∂ + ∂ ∂ − ∂ ∂ = φφ φ φ φ r Na segunda linha da matriz estão os componentes das derivadas parciais de A com relação às 3 coordenadas cartesianas. Estas componentes compõem o operador matemático denominado nabla (∇∇∇∇). Assim, pode escrever o rotacional de A em função do operador nabla, da seguinte forma: AArot rrr ×∇= 5. Relação entre a densidade de corrente J e o campo H Pela definição do rotacional, tem-se que: J dS dI S I aHrot S n == ∆ = →∆ 0 limˆ) ( o r Logo: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 51 JH rrr =×∇ Portanto, a Lei de Ampére para campos estacionários pode ser assim escrita: ∫ ∫== S SdJldHI r o rr o r Ou ainda: ( )∫ ∫ ×∇== S SdHldHI r o rrr o r 6. Densidade de fluxo magnético Defini-se densidade de fluxo magnético B ao campo de forças associado ao campo magnético H, dada por: HB rr .µ= Onde: µµµµ = µµµµo. µµµµr = permeabilidade magnética do meio; µµµµo = permeabilidade magnética do espaço livre = 4.π.10 -7 T.m/A µµµµr = permeabilidade magnética relativa do meio; µµµµr = 1 no espaço livre; µµµµr > 10 4 para meios altamente magnéticos (máquinas elétricas) No SI a unidade de B é o tesla [T] que equivale a 1 N/A.m, dada em homenagem a Nicola Tesla, cientista croata. Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 52 Nicola Tesla (1856 – 1943) Deve-se ressaltar que, enquanto o campo magnético H só depende de sua fonte (I) o vetor densidade de fluxo magnético B depende também do meio (µ) onde o campo H se encontra. 7. Fluxo magnético Defini-se fluxo magnético ΦΦΦΦ, através de uma superfície, à soma total de todas as linhas de força magnética que atravessam esta superfície, isto é: ∫∫ ==Φ SS SdHSdB r o rr o r .µ O fluxo magnético é uma grandeza escalar e, portanto, pode ser positivo ou negativo, dependendo da escolha do versor normal à superfície em dS. No SI a unidade do fluxo magnético é o weber [Wb] em homenagem a Wilhelm Weber, cientista norte americano. Wilhelm Weber (1804 – 1891) Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 53 Assim, pode-se escrever que: 1 T = 1 Wb/m2 Observação importante sobre o fluxo magnético: as linhas do fluxo são percursos fechados, sem ponto inicial ou final, ao contrário do fluxo elétrico que se origina nas cargas positivas e termina nas negativas. Portanto, os campos B não possuem fontes, o que significa dizer a não existência de monopólos magnéticos (pólo norte separado do pólo sul em um imã) que consiste em uma das equações de Maxwell. Por exemplo, deseja-se determinar o fluxo magnético por unidade de comprimento de um cabo coaxial conforme modelo dado na figura 6.5. Fig. 6.5: modelo físico de um cabo coaxial e suas dimensões Primeiramente determina-se o campo magnético e a densidade de fluxo magnético do cabo coaxial fazendo-se: φφ π µ π a r I Ba r I H d ˆ. ..2 . ˆ. ..2 =→= rr Após isto, integra-se a densidade de fluxo magnético na área diferencial do cabo na mesma direção da densidade de fluxo, isto é: Eletromagnetismo Teoria Prof. André Vitor Bonora FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba Página 54 = Φ ∴ = ==Φ ∫∫∫∫ a bI L r dr dz I adzdra r I SdB d b a L d S d S ln. .2 . . .2 . ˆ..ˆ. ..2 . 0 π µ π µ π µ φφ o r o r 8. Vetor potencial magnético Defini-se vetor potencial magnético A ao campo vetorial cujo rotacional é igual à densidade de fluxo magnético B, isto é: BA rrr =×∇ O vetor potencial magnético pode ser utilizado como condição intermediária para se obter B e, conseqüentemente, H. As unidades de A no SI são Wb/m ou T.m. Por exemplo, deseja-se determinar o vetor potencial magnético A do cabo coaxial dado na figura 6.5. As características do vetor potencial magnético A são: a) Sua direção deve ser a mesma da fonte do campo magnético (âz); b) A direção do seu rotacional deve ser a mesma do vetor B (âφφφφ); c) A variável de integração de A e B deve ser idêntica (r); Portanto, a única parcela do rot A que atende a estas características é: z d z b r ddz a r bI A a r drI Aa r I Ba r A A ˆ.ln. .2 . ˆ.. .2 . ˆ. ..2 . ˆ.Arot =∴ =→== ∂ ∂ −=×∇= ∫ π µ π µ π µ φφ r rrrrr 9. Teorema de Stokes A função do teorema de Stokes, no Magnetismo, é relacionar o vetor potencial magnético com o fluxo elétrico e possui seu nome em homenagem a George Gabriel Stokes, cientista irlandês. Eletromagnetismo Teoria
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