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CAPÍTULO DOZE O LOBO FRONTAL: A coroa do cérebro Tradutoras e revisoras: Josiane Silva, Larissa Martins, Mariah Cidral Revisão técnica da tradução: Dr. Carlos Henrique de A. Cosendey SEÇÃO I Função do lobo frontal uando o sol nasceu no dia 13 de setembro de 1848, ninguém daquela época poderia imaginar os acontecimentos importantes que começariam a agitar o mundo da ciência médica naquele dia: uma estranha série de acontecimentos com Phineas P. Gage, um respeitado mestre de obras de 25 anos que trabalhava na construção de uma estrada de ferro em Vermont. Imagino que o dia tenha começado como outro qualquer, Phineas provavelmente tomou o seu desjejum, se arrumou para ir trabalhar, deu um beijo em sua esposa e nos seus filhos e, em seguida, dirigiu-se para o seu trabalho na construção ferroviária. Ao sair pela porta, ele deve muito bem ter dito: “Estarei em casa para o jantar hoje à noite". Mas, Phineas não voltou para ter a última refeição do dia. Seu trabalho era instalar uma linha férrea em uma região montanhosa e, para isso, era necessária uma quantidade significativa de detonação e Phineas era o homem encarregado desta tarefa. A rotina era bem estabelecida: perfurar um longo buraco na rocha, preenchê-lo parcialmente com pó explosivo, em seguida, cobrir o pó com Q PROVA INCONTESTÁVEL areia. Então, uma barra de ferro era usada para empurrar a areia e, assim, consolidar a carga explosiva para, finalmente, acender um estopim e realizar a detonação. Naquele dia fatídico, 13 de setembro, tudo estava indo como planejado; o buraco profundo e oco havia sido perfurado e a carga explosiva havia sido cuidadosamente colocada lá dentro. Mas, uma falha ocorreu nessa rotina, fosse pela distração de Phineas ou porque seu assistente simplesmente não conseguiu cobrir a carga explosiva com areia; em todo caso, Gage estava de pé à frente do buraco sem saber que não havia areia alguma cobrindo a carga explosiva. Por acidente, Gage começou a bater com a barra de ferro diretamente sobre o pó e, aparentemente, a haste gerou uma faísca ao encostar-se em uma pedra dentro do buraco. O pó, por não ter sido coberto com areia, incendiou e provocou uma forte explosão e, em vez de atravessar a rocha, a força da explosão atingiu diretamente Phineas. A barra de ferro de 5,8 kg, 2 cm de espessura e 3 metros de comprimento foi arremessada diretamente contra ele. Com a força de um míssil, o ferro atravessou sua bochecha esquerda, passou por trás de seu olho esquerdo, atravessou seu cérebro e saiu novamente alguns centímetros atrás da linha do cabelo depois de passar pelo crânio, couro cabeludo e cabelos de Phineas durante o seu trajeto. A explosão foi tão poderosa que a barra de ferro ainda teve força suficiente para voar pelo ar depois de atravessar a cabeça de Phineas e cair a muitos metros de distância. A localização da lesão de Gage é mostrada na Figura 1. Você diria que aquela explosão dramática acabaria com a vida do jovem Phineas Gage, mas não foi isso o que aconteceu. Gage ficou brevemente atordoado, mas dentro de um breve período de tempo ele recuperou plena consciência e foi capaz de falar e até mesmo andar com a ajuda de seus colegas de trabalho. Apesar de estar muito bem no início, uma infecção O LOBO FRONTAL ameaçou sua vida ao longo das várias semanas que se seguiram e, de maneira surpreendente, naquela época em que ainda não havia antibióticos, Phineas Gage não morreu de nenhuma infecção fatal. Ele sobreviveu e recuperou-se quase que por completo — ao menos no que se refere à sua saúde física. Os únicos traços físicos que permaneceram foram a perda de visão do olho esquerdo, uma cicatriz em sua bochecha esquerda, por onde o ferro entrou e uma cicatriz no topo de sua cabeça por onde saiu. Havia apenas um problema: ele não era mais Phineas Gage. A lesão do lobo frontal causou deterioração do caráter Antes do acidente, Phineas era um trabalhador e esposo muito amado, responsável e inteligente. Ele era conhecido como uma pessoa de moral elevada e, de acordo com um relato, foi descrito como "um devoto piedoso e reverente". O caráter de Phineas era tão excelente que os registros de trabalho elogiavam-no como "o mestre de obras mais eficiente e capaz" já contratado pela Rutland e Burlington Railroad. Depois do acidente, Gage parecia estar em ótima forma física e, mentalmente, muito inteligente. Ele podia trabalhar e falar muito bem e sua memória estava tão boa quanto antes do acidente. Mas, algumas coisas importantes ficaram diferentes após o acidente. Seu declínio moral ficou imediatamente evidente. Ele tornou-se muito emotivo e irritava-se facilmente. Logo depois da sua lesão, ele perdeu o interesse pela igreja e pelos assuntos espirituais. Phineas tornou-se irreverente e propenso ao mundanismo excessivo. Ele perdeu todo o respeito pelos costumes sociais e tornou-se totalmente irresponsável. Além disso, passou de um empregado valioso para a lista de desempregados. Phineas foi demitido da empresa quando não pode mais exercer suas funções de maneira responsável. O Dr. John Harlow, seu médico, afirmou que o acidente de Gage destruiu o "equilíbrio, por assim dizer, entre a sua faculdade intelectual e suas propensões animais". Ele acabou abandonando sua esposa e família e juntou-se a um circo itinerante. A lobotomia frontal traumática de Phineas Gage custou-lhe a personalidade, seus padrões morais e seu compromisso com a família, com a igreja e as pessoas queridas. PROVA INCONTESTÁVEL Phineas morreu 13 anos depois do acidente. O Dr. Harlow soube de sua morte cerca de cinco anos depois do fato e, aparentemente a benefício da ciência, fez um pedido incomum. Ele perguntou à família de Phineas se eles permitiriam que seu corpo fosse exumado e seu crânio mantido como um registro médico permanente. A família concordou e, até hoje, o crânio, juntamente com a barra de ferro (que foi enterrada ao lado de Phineas), encontram-se no Warren Anatomical Medical Museum da Universidade de Harvard.1 Como não foi realizada necropsia, as especulações a respeito de onde exatamente a lesão havia ocorrido continuaram ao longo dos anos. O marco desse caso ilustre foi testemunhado em 1994, quando uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo, a Science, dedicou a sua reportagem de capa a Phineas Gage.2 A revista publicou um artigo em coautoria com os cientistas de Harvard, da Universidade de Iowa e do Instituto Salk em San Diego. Esses pesquisadores usaram uma simulação sofisticada de computador e estudos de raios X do crânio para tentar identificar a parte exata do cérebro que, na verdade, havia sido danificada. Eles concluíram que Phineas Gage perdeu uma área importante em ambos os lados da parte frontal do cérebro conhecida como regiões esquerda e direita dos lobos frontais. O que podemos aprender com o caso excepcional de Phineas Gage? Ele demonstrou que uma parte do cérebro, o lobo frontal, é responsável pelo raciocínio moral e comportamento social. Conteúdo desse capítulo O capítulo começa com uma explicação da função do lobo frontal. Em seguida, serão explorados os fatores que dificultam a ação do lobo frontal; serão examinados também os benefícios e os danos que a dieta pode causar ao lobo frontal. Finalmente, serão apresentadas outras medidas que podemos tomar para melhorar a função do lobo frontal. Fatores relacionados com o estilo de vida também podem danificar o lobo frontal Hoje em dia, essa área do cérebro assumiu um significado ainda maior devido a, pelo menos, duas razões. Primeiro, porque há uma ênfase crescente no desenvolvimento pessoal e desempenhomental. Em segundo lugar, O LOBO FRONTAL porque muitos sentem que as normas sociais e o raciocínio moral estão desmoronando. Alguns neurocientistas perguntam se há razões físicas para explicar essas supostas mudanças. Pode haver fatores relacionados com o estilo de vida, que possam comprometer essa parte crítica do cérebro e afetar, em essência, o que somos? A resposta é definitivamente "sim". Nossa prática de vida diária pode realmente afetar nosso temperamento, nossas emoções e nosso comportamento. A parte frontal do nosso cérebro pode ser potencializada ou comprometida, dependendo de nossas escolhas habituais. Essa revelação da neurociência tem profundas implicações para todos nós, pois, ao compreendermos os fatores que afetam nossos lobos frontais, podemos melhorar nosso desempenho no trabalho ou na escola, desenvolver melhores habilidades sociais, ser pais, vizinhos ou cônjuges mais responsáveis — e a lista continua. Embora a maioria das pessoas não escolha um livro de saúde para ler sobre seus lobos frontais, este pode ser o capítulo mais importante em todo o meu livro. Eu os encorajo a ler com atenção o que se segue. Sua capacidade de adotar com sucesso as mudanças para um estilo de vida saudável defendidas neste livro pode, muito bem, depender do seu lobo frontal operando com máxima eficiência. Funções do lobo frontal O cérebro é dividido em várias seções, ou lobo. Cada um exerce funções específicas. Atrás da testa estão os lobos frontais direito e esquerdo que, por conveniência, são referidos coletivamente como "o lobo frontal". Esse é o maior lobo do cérebro3 e é a sede do juízo, do raciocínio, do intelecto e da vontade.4, 5, 6 Além disso, é o centro de controle de todo o nosso ser. Alguns cientistas referem-se ao lobo frontal como a "coroa" do cérebro. Estudos mostraram que essa chamada "coroa" executa uma variedade de funções vitais. Algumas delas estão listadas na Figura 2.7 PROVA INCONTESTÁVEL A espiritualidade, o caráter, a moralidade e a vontade são as características que formam nossa individualidade singular. Portanto, uma pessoa com lobo frontal lesado pode parecer a mesma, mas se você interagir com ela, geralmente fica evidente que ela "simplesmente não é a mesma". O Livro dos livros faz alusão à importância do lobo frontal em conhecer a Deus. O último livro da Bíblia faz uma declaração provocadora, citada na Figura 3. Esse texto sugere que o caráter de Deus ("Seu nome") seja reproduzido em nosso caráter (exemplificado pelo lobo frontal, que está localizado logo atrás de nossa testa). Tamanho e função do cérebro É fascinante observar como o tamanho do lobo frontal difere entre o homem e os animais. É o lobo frontal que distingue os humanos do resto do reino animal, como se pode observar na Figura 4.8 Os animais que têm lobos frontais menores têm formas de vida limitadas e guiadas por instinto. Aqueles com lobos frontais maiores são capazes de realizar funções mais complexas. Os gatos, com apenas 3,5% do cérebro no lobo frontal, são limitados em juízo e raciocínio. Esses animais têm capacidade muito limitada para analisar informações e fazer julgamentos com base em novas informações; por esta razão, eles dependem basicamente do instinto. Os cães são mais treináveis, porque 7% do seu cérebro encontram-se no lobo frontal. Entre os animais, os chimpanzés são os que têm lobos frontais maiores, até 17% de seu cérebro. Os seres O LOBO FRONTAL humanos, por outro lado, têm 33 a 38% do seu cérebro no lobo frontal. Alguns animais têm outras partes do cérebro mais desenvolvidas que os seres humanos. Por exemplo, em comparação com os seres humanos, os chimpanzés têm cerebelos muito maiores — a área do cérebro que controla a coordenação. Isso tem uma razão, porque os chimpanzés precisam de muito equilíbrio e agilidade para balançar de árvore em árvore. As aves também possuem o cerebelo bem desenvolvido para o voo, a aterrisagem e a caça. Todas essas atividades requerem um nível elevado de coordenação. Outros animais podem ter o lobo occipital muito mais generoso — o centro do cérebro que aloja a visão. Assim, sua visão é geralmente muito melhor que a dos seres humanos. Ainda há outros animais que possuem lobos parietais mais desenvolvidos. No entanto, para os seres humanos, a diferença é claramente o nosso lobo frontal ser muito maior. Assim, temos uma capacidade de raciocínio espiritual elevado e uma capacidade de aprendizagem superior. Para apreciar plenamente o significado dos lobos frontais, é de grande valia que se examinem mais alguns casos dos anais da história médica. Uma das razões para isso é que Phineas Gage só perdeu parte de seus lobos frontais. As escolhas no estilo de vida podem afetar todo o nosso lobo frontal — ainda que de maneira menos dramática que a perda de Phineas. Outros estudos de caso de lesão do lobo frontal No final do século XIX, os psiquiatras começaram a realizar um procedimento cirúrgico chamado "lobotomia frontal” (que significa literalmente a remoção do lobo frontal). Embora às vezes uma parte do lobo fosse removida fisicamente, outras vezes era removida "funcionalmente" por interrupção de suas conexões nervosas. No início, a operação era realizada para "ajudar" as pessoas que eram violentas ou criminalmente insanas.9 A prática da lobotomia frontal tornou-se cada vez mais popular na década de 1930 e 1940, tanto que um dos pioneiros da técnica mais moderna, Dr. Egas Moniz, recebeu em 1949 o Prêmio Nobel de Medicina.10 Outra medida de sua popularidade era a sua aceitação por parte da elite cultural. Rosemary Kennedy, irmã de John F. PROVA INCONTESTÁVEL Kennedy, tinha retardo mental brando e também passou por uma lobotomia frontal.11 Porém, desde o auge da operação em meados do século XIX, temos contemplado mais os seus efeitos colaterais de consequências psicológicas devastadoras. Por essa razão, essa operação é raramente utilizada hoje em dia. A lobotomia frontal de Patrícia Patrícia era uma enfermeira cirúrgica muito bem sucedida que estava preparando-se para uma lobotomia frontal. A esperança era que a operação pudesse resolver seus muitos problemas de culpa, com os quais ela lutava há vários anos. Após o procedimento, houve mudanças marcantes em seus interesses, atitude, desempenho no trabalho e integridade, Estava claro que Patrícia tornou-se uma pessoa diferente. Suas características antes e depois da lobotomia estão resumidas na Figura 5.12 Lesão lobo frontal de uma criança de quatro anos M. H., uma menina de quatro anos, foi atingida por um carro e sofreu lesões em ambos os lados de seu lobo frontal. Após o acidente, ela exibiu um comportamento depravado, que persistiu em sua vida adulta. As mudanças em seu caráter foram tão marcantes quanto às de Patrícia. Essas alterações dramáticas estão listadas na Figura 6.13 Lesão do lobo frontal de um bebê G.K., quando bebê, sofreu um dano bilateral no lobo frontal nos primeiros sete dias de vida. Da infância até os 31 anos de idade, ele mostrava as características típicas de alguém que havia sofrido lesão do lobo frontal, conforme está descrito na Figura 7.14 O LOBO FRONTAL No início, sua família pensou que seu comportamento irresponsável devia- se ao fato de que ele era apenas uma criança. Infelizmente, essas características persistiram até a idade adulta. A disciplina dos pais não parecia ter efeito algum. Ele não tinha nenhuma amizade expressiva e não podia enxergar suas diversas falhas. A insistência por obter gratificação imediata (incluindo promiscuidade sexual) é uma característica comum da disfunção do lobo frontal.Efeitos comuns da disfunção dos lobos frontais Através de estudos sobre os danos acidentais do lobo frontal, combinados com os resultados de lobotomias frontais e estudos de dos fármacos que afetam a parte frontal do cérebro, os cientistas identificaram muitos dos efeitos da disfunção dos lobos frontais. Esses efeitos estão listados na Figura 8.15, 16, 17, 18, 19 Como ilustração dos efeitos morais e sociais do lobo frontal, considere a seguinte história verídica. Uma mulher foi questionada antes de ir para a mesa de cirurgia: "o que você faria se tivesse perdido um relógio que fosse emprestado?". A mulher respondeu: "Eu precisaria pagar pelo relógio ou comprar um e devolvê-lo". Depois que seu lobo frontal foi removido na cirurgia e ela havia se recuperado, ela foi questionada novamente e desta vez ela respondeu: "Eu teria que pedir outro relógio emprestado!". À medida que a criança amadurece, o efeito do desenvolvimento do lobo frontal é aparente. Uma criança pequena só pode ver à frente um dia de cada vez. Você pode dizer-lhe algo que vai acontecer amanhã e ela vai se lembrar apenas se você lembrá-la. Ao amadurecer, a criança começa a ganhar mais presciência. Ao chegar à segunda série, ela percebe que no próximo ano ela estará no terceiro ano e, ao continuar a amadurecer, ela acabará planejando a sua carreira. Os lobos frontais continuam a desenvolver-se por 30 anos.20 Com treinamento adequado, à medida que a PROVA INCONTESTÁVEL criança amadurece, ela torna-se um adulto que, por fim, percebe que suas ações hoje têm influência sobre a eternidade à sua frente. Isto indica um dos maiores desenvolvimentos do lobo frontal. A habilidade de usar ideias abstratas, tais como a interpretação de provérbios, é um ato especial do intelecto. Se você pedir a alguém que não utiliza seu lobo frontal de maneira plena para interpretar um provérbio como "as pessoas em casas de vidro não devem atirar pedras", ele vai responder muito concretamente, como: "É óbvio que não, elas vão danificar suas casas". Este exemplo ilustra o raciocínio concreto — um processo mental que tende a desconsiderar conceitos abstratos. Quanto à compreensão matemática, o cálculo na verdade ocorre na parte posterior do lobo parietal. Assim, sem o funcionamento do lobo frontal, você pode ter grandes habilidades matemáticas de adição, subtração e multiplicação. No entanto, quando se trata de matemática superior, a qual requer raciocínio, tais como álgebra, geometria e cálculo em especial, são necessárias funções do lobo frontal para obter resultados impecáveis. Um lobo frontal perfeito também é uma necessidade, caso você deseje ter empatia de forma mais eficaz por alguém que está envolvido com um problema. Isto é verdade especialmente se a pessoa estiver passando por algo que você nunca experimentou pessoalmente. Uma lista de outros efeitos comuns da deterioração do lobo frontal é mostrada na Figura 9.21, 22, 23 Doenças psicológicas causadas por disfunção do lobo frontal Não é nenhuma surpresa que algumas doenças psicológicas tenham suas raízes em problemas do lobo frontal. Uma lista desses distúrbios é mostrada na figura 10. Mania é um transtorno emocional caracterizado por uma atividade notável, emoção, passagem rápida de ideias, O LOBO FRONTAL insônia e atenção instável. Esse transtorno pode ter sua origem na disfunção do lobo frontal. O transtorno obsessivo-compulsivo, caracterizado por uma intrusão aparentemente persistente, incontrolável e repetitiva de pensamentos, impulsos ou ações indesejáveis, também pode ter origem na disfunção do lobo frontal. O déficit de atenção e hiperatividade também pode resultar de problemas no lobo frontal.24 Desde 1990, o número de pessoas diagnosticadas portadoras do déficit de atenção e hiperatividade nos EUA subiu de 900 mil para mais de dois milhões em 1995.25 Muitos dos casos de depressão também podem estar relacionados com o lobo frontal. Exames cerebrais sofisticados (tomografia por emissão de pósitrons, ou PET) revelam que pacientes deprimidos podem ter redução de 60% no fluxo sanguíneo do lobo frontal.26 Ao trabalhar com pacientes deprimidos, há evidências de que se uma pessoa conseguir aumentar a atividade do seu lobo frontal, o fluxo sanguíneo para a área será maior. Assim, a depressão pode ser significativamente melhorada ou corrigida. O apetite e o lobo frontal Alguns problemas físicos de saúde comuns que encontro em meu trabalho como médico têm suas causas no lobo frontal do cérebro. O controle do apetite é um problema predominante em nossa sociedade e nem toda pessoa com excesso de peso tem problema para controlá-lo, mas, muitas delas mostram essa dificuldade. O nível crescente da obesidade nos EUA traz à tona preocupações com relação à prevalência dos problemas de controle do apetite.27, 28 Mesmo os transtornos alimentares como a bulimia parecem ter sua origem no lobo frontal, porque o centro superior de controle do apetite está no lobo frontal do cérebro. Não importa o quão faminto você esteja ou o quão forte o seu desejo possa ser por algo que pode ser prejudicial, geralmente você pode PROVA INCONTESTÁVEL suprimir este desejo se o seu lobo frontal estiver funcionando normalmente. As pessoas que têm lobo frontal normal têm grande dificuldade em suprimir tais impulsos. Algumas pessoas com sobrepeso, que sabem que estão comendo muito, continuam a comer porque seus lobos frontais não são totalmente eficientes em dizer "não". As implicações da pesquisa sobre o lobo frontal Esses estudos demonstraram o papel vital do lobo frontal em determinar o nosso caráter, porque um lobo frontal danificado resulta em um caráter deficiente. O autocontrole, a confiabilidade, a leitura atenta, o raciocínio abstrato e as relações interpessoais são todas funções complexas que dependem de um lobo frontal em bom funcionamento. As lesões causadas por acidentes ou operações cirúrgicas planejadas no lobo frontal, exemplificadas em nossos estudos de caso, é uma coisa, mas o que acontece com os danos que podem involuntariamente resultar de um estilo de vida não saudável? A mensagem principal deste capítulo não é encorajá-lo a evitar profissões nas quais você venha a trabalhar com dinamites, ter cuidado ao atravessar a rua, ou evitar uma cirurgia para doença psiquiátrica. Tudo isso é importante. No entanto, hoje em dia, as causas mais comuns de disfunção do lobo frontal não são as cirurgias, os acidentes de trabalho ou outros traumas. As principais causas de disfunção do lobo frontal são hábitos de estilo de vida inadequados. De fato, a mensagem principal deste capítulo é de que os traços negativos de caráter dos indivíduos examinados até agora não são limitados àqueles que não possuem o lobo frontal, ou nos quais este se encontra comprometido devido a um trauma. Hoje, muitos indivíduos de nossa sociedade sofrem das mesmas falhas de caráter como o resultado das escolhas relacionadas com o estilo de vida. Muitos dos nossos hábitos mais cultuados gratificam-nos em curto prazo, mas silenciosamente nos roubam aquilo que é de valor inestimável — quem realmente somos. Sem percebermos, os nossos hábitos de hoje prejudicam o desempenho dos nossos lobos frontais de hoje e amanhã. O LOBO FRONTAL Por isso, um dos propósitos deste capítulo é mostrar que a disfunção do lobo frontal não se limita aos efeitos causados por um dano traumático ou pela remoção cirúrgica. Em minha opinião, os efeitos do estilo de vida e da nutrição em nosso lobo frontal são mais importantes que seus efeitos em doenças cardíacas, câncer, osteoporose, insuficiência renal e todasas outras doenças degenerativas combinadas. O cérebro merece prioridade quanto à proteção, quando se percebe que é dele que se origina nossa qualidade de vida. Assim como as escolhas relativas ao estilo de vida protegem o lobo frontal, um lobo frontal saudável nos coloca em melhor posição para tomar conta de nossas vidas. Isto significa que, ao fazer escolhas mais saudáveis, o desempenho do meu lobo frontal aumenta e torna as mudanças subsequentes do estilo de vida ainda mais fáceis. Talvez nenhuma função do lobo frontal seja tão vital para tornar as mudanças do estilo de vida mais fácil, que a força de vontade. A força de vontade pode não parecer tão importante em nossa vida diária, mas ela é realmente essencial. Tenho visto muitos pacientes morrerem devido a uma força de vontade deficiente. Não, eu não estou falando das pessoas que perderam a vontade de viver, por mais importante que isso seja. Eu me refiro às milhares de pessoas que morrem porque sentiram que não tinham força de vontade para mudar seu estilo de vida antes que fosse tarde demais. Hoje em dia, dezenas de milhares de pessoas estão definhando em seus leitos de morte devido à força de vontade deficiente. Há diabéticos que durante anos não tiveram força de vontade para praticar exercícios, comer direito ou manter o olhar atento no açúcar do sangue. Agora, estão na etapa final de doenças cardíaca e renal. Há fumantes que não tiveram a vontade de "parar por bem" e, agora, estão morrendo com câncer terminal. Outras pessoas não tiveram força de vontade para fazer as mudanças do estilo de vida necessárias para seus problemas de pressão arterial e, agora, encontram-se paralisadas devido às doenças vasculares cerebrais. Esses casos e muitos outros atestam a grande escassez da força de vontade em nosso país. Na verdade, uma das minhas maiores preocupações ao escrever este livro é que muitas das ideias importantes - que mudam nossa vida - e foram discutidas aqui nunca PROVA INCONTESTÁVEL terão importância na vida de muitos leitores. O motivo? A falta da força de vontade. A partir dessa perspectiva, ressalto o fato de que uma das funções mais vitais do lobo frontal é a vontade. Cientistas demonstraram que o que chamamos de "força de vontade" reside no lobo frontal.29 O Dr. Bernell Baldwin, Ph.D., neurofisiologista no Instituto Wildwood da Geórgia, resumiu parte dessa importante literatura sobre a vontade em um artigo para líderes de comunidades religiosas. Baldwin apontou que a investigação sobre os ferimentos causados por estilhaços em veteranos da Primeira Guerra Mundial mostrou déficits na força de vontade entre aqueles feridos na parte frontal de seus cérebros. Enquanto que aqueles que sofreram ferimentos na parte de trás de suas cabeças não tinham qualquer alteração de sua vontade.30 A nossa capacidade de discernir onde a batalha realmente acontece está intimamente relacionada com a força de vontade. Se não enxergarmos os problemas de forma clara, provavelmente não vamos perceber que precisamos exercer a nossa força de vontade para superar um desafio. Para ilustrar este ponto, o Dr. Baldwin citou a pesquisa de A. R. Luria, um cientista russo. Luria constatou que os indivíduos com lobos frontais normais tinham capacidade de tirar conclusões rápidas sobre o significado de fotografias cuidadosamente projetadas. No entanto, os indivíduos com disfunção do lobo frontal conseguiam descrever com precisão os componentes da imagem — mas tendiam a não enxergar "a imagem real" — o significado mais amplo por trás dos detalhes. Isto é muito relevante no âmbito da mudança no estilo de vida. A percepção deficiente deixa-nos destinados a ignorar como os conceitos- chave no estilo de vida aplicam-se à nossa própria vida. As deficiências de força de vontade, por outro lado, nos predispõem ao fracasso, mesmo nas áreas em que reconhecemos claramente que temos algum problema. Em suma, as funções dos dois lobos frontais quanto ao discernimento e à vontade são indispensáveis para o bom aproveitamento de todo o material que eu apresento neste livro. Há uma última razão atual pela qual a atenção para com o nosso lobo frontal é tão importante. Hoje, o aconselhamento psicológico e a terapia O LOBO FRONTAL comportamental são populares e benéficos em alguns casos. No entanto, alguns profissionais de saúde mental ignoram o fato de que os hábitos de vida atuais podem ser fatores importantes que contribuem para as doenças psicológicas. Se aqueles que sentem a necessidade de tal aconselhamento adotassem um estilo de vida realmente saudável, prestassem muita atenção ao que colocam em seu corpo e a que expõem sua mente, muitos experimentariam uma existência mais gratificante e feliz. SEÇÃO II Disfunção do lobo frontal devida ao uso de drogas, nicotina, álcool, cafeína e substância química tóxica Que fatores do estilo de vida afetam nossos lobos frontais? Para maximizar a eficiência de nossos lobos frontais, devemos nos concentrar tanto nas coisas positivas que devemos fazer, quanto nas coisas negativas que devemos evitar. Na verdade, ao reconhecermos plenamente as maneiras pelas quais, muitas vezes, comprometemos nossos lobos frontais, podemos apreciar melhor como os fatores saudáveis podem nos ajudar a expandir as capacidades do cérebro. A partir desta perspectiva, começarei por considerar os hábitos de vida que prejudicam a função do lobo frontal. Mais adiante, abordarei alguns dos fatores principais que parecem melhorar a função do lobo frontal. Na figura 11, há uma lista de fármacos e substâncias a serem evitados a fim de proteger o lobo frontal. Efeitos das drogas no lobo frontal Muitos norteamericanos têm se preocupado pela demora no enfrentamento da questão do crescente e intenso uso de drogas em nossa nação. Atualmente, de acordo com diversas pesquisas amplamente divulgadas,31 tem havido um aumento acentuado tanto na aceitação de drogas ilegais, quanto na utilização destas drogas entre os jovens americanos. Os PROVA INCONTESTÁVEL pais temem que seus filhos usem drogas ilícitas por conta de sua natureza viciante e pelas implicações físicas, mentais e sociais do vício. Eles também temem pelo que seus filhos possam fazer "sob a influência" das drogas, como por exemplo, adotar comportamentos de alto risco que poderiam acabar com suas vidas ainda na juventude e esta, em particular, é uma preocupação importante. Mesmo uma pessoa que não pareça estar intoxicada pode ter a função do lobo frontal embotada. Essa deficiência predispõe aos comportamentos de risco, que podem resultar em um acidente automobilístico, a aquisição da infecção por HIV ou algum outro evento que possa mudar suas vidas, ou até mesmo leva-los à morte. Além das drogas ilícitas, outras substâncias prejudicam a função do lobo frontal. Muitas pessoas sentem-se enganadas ao pagar por uma consulta médica e sair do consultório sem ao menos a prescrição de um remédio. Os anúncios na televisão, no rádio e nas revistas nos bombardeiam com a necessidade que temos em tomar remédios vendidos sem prescrição. A cafeína e o álcool são drogas aceitas culturalmente. O uso de nicotina é socialmente estigmatizado em muitos lugares, mas ainda é tratada legalmente como uma opção de vida e não como uma droga capaz de alterar a mente e ser poderosamente viciante. Drogas ilícitas e deficiência mental Os perigos das drogas ilícitas sobre o desempenho mental são bem conhecidos. Parece haver pouca necessidade em falar sobre o quanto as drogas entorpecentes alteram a mente — incluindo o lobo frontal. Este problema, no entanto, é ainda pior do que se pensavaanteriormente, pois há evidência crescente de que as drogas proibidas afetem o cérebro por muito mais tempo depois do desaparecimento de seus efeitos agudos. Uma pesquisa recente financiada pelo National Institute of Drug Abuse descobriu que estudantes universitários que eram usuários frequentes de maconha tinham problemas de atenção, memória e aprendizagem até por 24 horas depois da última utilização da droga32. Muito tempo depois de passar o “barato”, o cérebro ainda continuava a funcionar em baixa velocidade. Hoje em dia, estudos demonstraram que a maconha e seus O LOBO FRONTAL primos – álcool e nicotina – são prejudiciais ao cérebro do feto em desenvolvimento. A mãe usuária de maconha proporciona ao filho o legado de uma longa vida com disfunção cerebral.33 A mensagem da pesquisa sobre a maconha aplica-se ao uso de álcool, que ainda será discutido neste capítulo; ou seja, o desempenho do cérebro das pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas entorpecentes pode ser prejudicado por muito tempo após o usuário pensar que os efeitos tenham desaparecido. Para ter uma função do lobo frontal ideal, deixe as drogas ilícitas fora de cogitação. Drogas legais também podem agredir o lobo frontal Alguns fármacos comercializados com e sem prescrição também podem deprimir a função do lobo frontal. Se você for a uma biblioteca e ler um livro de referência sobre fármacos e seus efeitos, você descobrirá que muitos afetam o sistema nervoso central;’ uma das áreas mais comumente afetadas no sistema nervoso central é o lobo frontal. Muitas pessoas fazem uso de medicamentos que não são realmente necessários e seus efeitos colaterais podem ser prejudiciais à personalidade e ao caráter. É por isso que, antes de decidir fazer uso de um medicamento, você deve ponderar cuidadosamente os benefícios em relação aos riscos. A figura 1234 mostra uma lista de tipos de fármacos que comumente afetam a mente. Se atualmente você faz uso de algum desses medicamentos, não pare de repente. Em vez disso, fale com o seu médico, afinal de contas, não é uma decisão fácil saber o que fazer com relação a muitos desses medicamentos. Um bom exemplo disso são os medicamentos usados para controlar a pressão arterial elevada, pois alguns destes fármacos podem prejudicar a função do lobo frontal. No entanto, se a hipertensão não for tratada de forma adequada, poderá resultar em um acidente vascular cerebral, causando uma disfunção muito maior no lobo frontal. Por essa razão, muitos médicos defendem as intervenções terapêuticas no estilo de vida como meio ideal para o controle da pressão arterial. O capítulo 6, "Uma Nação sob Pressão", descreve essas intervenções terapêuticas. Também fornecemos mais informações sobre a importância do controle da pressão arterial a fim de maximizar a PROVA INCONTESTÁVEL função do lobo frontal ainda neste capítulo. Hoje em dia, essas intervenções terapêuticas estão se tornando parte da prática médica corrente para ajudar as pessoas livrarem-se dos medicamentos, em vez de acrescentar novos medicamentos em seu programa de reabilitação. Uma pesquisa com norteamericanos de mais idade mostrou que eles estão em risco maior que o normal de ter disfunção mental, desenvolver efeitos colaterais dos medicamentos e também sofrer efeitos deletérios da pressão arterial elevada. O CDC (Centers for Disease Control) americano apontou recentemente que os americanos de 65 anos ou mais têm quase duas vezes mais risco de sofrer reações adversas aos medicamentos, comparados aos mais jovens.35 Além disso, a pesquisa destacou o fato de que os fármacos para pressão alta causam frequentemente efeitos colaterais adversos nesse grupo da população. O CDC afirmou que: “...uma estratégia importante na prevenção de reações adversas aos medicamentos utilizados pelos idosos é limitar o número de fármacos utilizados".36 Claro, a preocupação com relação aos efeitos colaterais dos medicamentos e a mudança no estilo de vida para tratar doenças já existiam muito antes da recente afirmação da CDC. Uma das declarações históricas mais interessantes foi escrita por Ellen White. Suas palavras são citadas na Figura 13.37 As drogas lícitas (socialmente aceitáveis) frequentemente interagem com medicamentos e causam efeitos O LOBO FRONTAL secundários. Por exemplo, o álcool aumenta significativamente o risco de consequências adversas dos fármacos — incluindo efeitos sobre a clareza mental. Em um estudo com mais de 100 indivíduos hospitalizados recentemente e que representavam um amplo leque da população (homens e mulheres de 14 a 88 anos), 10% tinham desenvolvido interações entre álcool e os medicamentos que lhes foram prescritos ao deixarem o hospital.38 O álcool lesa o lobo frontal O álcool tem efeitos diretos sobre o lobo frontal, além de agravar o risco de efeitos colaterais dos medicamentos. Na verdade, ele é um dos agressores do lobo frontal mais utilizado na América. Vamos examinar uma pesquisa esclarecedora sobre esse assunto. Há muitos anos, alcoólicos e não alcoólicos eram estudados a partir de dois testes de diagnóstico modernos: ressonância magnética (MRI) e tomografia por emissão de pósitrons (PET). A ressonância magnética é hoje um exame bem conhecido, que pode demonstrar a estrutura real do cérebro. Entre os alcoólicos, foi revelada uma quantidade impressionante de perda da massa cinzenta do lobo frontal. A substância cinzenta é onde os corpos das células nervosas do cérebro estão concentradas (em contraste com a massa branca mais profunda, onde predominam as fibras nervosas que deixam aquelas células). Tecnicamente chamada de "atrofia cortical", essa condição de perda de massa cinzenta indica uma perda real de células cerebrais, que estão envolvidas em funções críticas do lobo frontal. Por outro lado, a tomografia por emissão de pósitrons (PET) demonstra a função cerebral. Com esse exame, os alcoólicos mostraram metabolismo reduzido de glicose — indicando atividade reduzida do lobo frontal.39 Esses efeitos deletérios aos lobos frontais não se aplicam apenas aos que consomem grande quantidade de álcool. Pesquisadores demonstraram redução mensurável da habilidade de pensamento abstrato entre 1300 homens e mulheres que bebiam pouco, ou seja, apenas um drinque por semana. Nesse estudo, um homem mediano bebia apenas cerca de duas vezes por semana e, nestas ocasiões, ingeria em média dois drinques de bebida alcoólica. As mulheres bebiam menos ainda. Em PROVA INCONTESTÁVEL média, elas bebiam apenas uma vez a cada cinco dias e, nestas ocasiões, ingeriam dois drinques. Mesmo com esses baixos níveis de consumo, os testes para averiguar o funcionamento mental mostraram limitações. Na verdade, com o aumento da ingestão de álcool, a capacidade de pensamento abstrato (medida do desempenho do lobo frontal) diminuiu ainda mais.40 Essas mudanças não poderiam ser explicadas pelos efeitos agudos do álcool ou pela intoxicação, porque todos os testes de avaliação mental foram realizados pelo menos 24 horas depois da última ingestão de álcool pelo participante. Muitas pessoas acreditam que os acidentes de automóveis sejam mais frequentes entre os que bebem, principalmente devido aos efeitos intensos sobre a coordenação, o julgamento e a atenção, que podem ser observados em "bêbados" e em outros indivíduos claramente intoxicados. No entanto, em muitos casos, o problema pode realmente estar relacionado com déficits de julgamento mais sutis, que ocorrem com aqueles que bebem socialmente e aparentemente não têm anormalidades. Esses motoristas que ingerem álcool podem não ter coordenação prejudicadae seu discurso pode parecer perfeitamente normal. Contudo, alguns momentos depois, eles podem derrapar para fora da estrada ou se envolver em uma colisão. O motivo? Seu julgamento prejudicado não forneceu aviso adequado sobre a velocidade necessária para realizar uma curva com êxito ou parar a tempo ao se deparar com uma emergência na estrada. Os indivíduos com níveis de álcool no sangue entre 0,05 a 0,09%, menos que o limite legal da maioria estados, têm pelo menos nove vezes mais risco de sofrer acidentes de trânsito fatais que aqueles com nível zero41. Isto é, em grande parte, devido ao fato de que o álcool interfere com a função do lobo frontal muito antes de prejudicar outras partes do cérebro, tais como o centro de coordenação. O álcool também interfere no desenvolvimento cerebral do feto. Hoje em dia, não restam dúvidas de que as mulheres que ingerem álcool durante a gravidez afetam negativamente seus filhos para o resto da vida. O Capítulo 17, intitulado “Quer uma bebida?”, explica melhor essa questão. Isso foi também foi demonstrado nos testes com O LOBO FRONTAL animais.42 A pesquisa com animais é particularmente interessante — e preocupante — porque aponta para outro fator de risco de disfunção cerebral na infância: o uso de álcool pelos pais.43 Os pais que bebem estão provavelmente prejudicando os lobos frontais de seus filhos. Ellen White, há décadas, escreveu sobre a importância da influência desses fatores paternos. Seus comentários estão citados na Figura 14.44, 45 A cafeína prejudica a função do lobo frontal A cafeína tem efeitos de longa duração sobre o cérebro. Isto não é inesperado, uma vez que é o “estimulante” escolhido nos Estados Unidos para um despertar matinal. No entanto, um alto preço é pago por essa estimulação. Vejamos como a cafeína atua e, em seguida, veremos alguns de seus efeitos colaterais associados. A cafeína afeta o sistema de comunicação do cérebro de várias maneiras. Ao explorar essas relações, é preciso lembrar que as células cerebrais comunicam-se entre si por meio de estímulos químicos. As células nervosas liberam substâncias químicas chamadas de neurotransmissores (ou "mensageiros químicos") que são captados pelas células adjacentes. Em seguida, esses neurotransmissores provocam alterações na célula que os recebe. Alguns neurotransmissores provocam estimulação dos receptores da célula nervosa, enquanto outros causam depressão. A ampla influência da cafeína concentra-se principalmente em sua capacidade de afetar os níveis de dois transmissores: acetilcolina e adenosina. A cafeína prejudica a química cerebral ao aumentar o nível de acetilcolina e interferir na transmissão de adenosina. Assim, a cafeína desregula o delicado equilíbrio da transmissão nervosa no cérebro, o que pode ter consequências devastadoras. A adenosina atenua (ou impõem um ritmo mais lento) muitos aspectos da transmissão nervosa do cérebro. Contudo, a cafeína reduz sua capacidade de executar trabalho, PROVA INCONTESTÁVEL permitindo, assim, a estimulação artificial do cérebro. Para uma pessoa leiga, a adenosina pode parecer um "vilão". Afinal, quem quer diminuir a transmissão do cérebro? Talvez possamos entender esta questão de forma mais clara fazendo uma analogia: a importância de bons freios em um automóvel. Você não entra em seu automóvel para ficar parado — você entra nele para ir a algum lugar. No entanto, você não se sentiria confortável ao dirigir um carro que não tem a capacidade de parar. Bons freios são essenciais — especialmente em um veículo feito para andar. Da mesma forma, tanto os neurotransmissores como a adenosina, que desempenham um grande papel em "colocar os freios", são muito importantes para o equilíbrio do cérebro. Existem sérias preocupações na literatura psiquiátrica sobre o papel da cafeína no "desequilíbrio" da mente. A cafeína tem sido associada à ansiedade, à neurose ansiosa, à psicose (um estado em que a pessoa perde o contato com a realidade) e à esquizofrenia, o chamado distúrbio de "dupla personalidade".46 Outros pesquisadores acrescentaram a essa lista o delírio induzido pela cafeína e a anorexia nervosa.47 Um terceiro neurotransmissor chamado dopamina também aumenta quando você ingere uma bebida que contém cafeína.48, 49 Isto é extremamente preocupante. Algumas das doenças psiquiátricas mais graves como a esquizofrenia parecem ser provocadas, em parte, pela quantidade dopamina.50 Na verdade, o tratamento farmacológico tradicional desses transtornos mentais graves consiste em administrar agentes bloqueadores da dopamina.50 Consequentemente, não é admirável que a cafeína — uma substância que aumenta os níveis de dopamina — aumente o risco de certas doenças mentais, embora, a princípio, possa parecer inofensiva. Outras doenças psiquiátricas com profundos efeitos do lobo frontal podem resultar do desequilíbrio das comunicações cerebrais causado pela cafeína. Isso é particularmente aplicável à depressão. A diminuição da função do e do fluxo sanguíneo do lobo frontal parece ser uma característica da depressão.51, 52 Uma pesquisa indica que essas mudanças possam estar, em O LOBO FRONTAL parte, relacionadas com os níveis de dopamina no lobo frontal.53 Ao reconhecer que a cafeína neutraliza o papel da adenosina no fornecimento de um bom fluxo sanguíneo ao cérebro e desequilibra a fisiologia da dopamina, poderíamos nos perguntar se há uma ligação entre o uso da cafeína e a depressão. O projeto de pesquisa norueguês aclamado internacionalmente e conhecido como estudo do coração de Tromso ofereceu pelo menos uma resposta parcial. Os pesquisadores escandinavos avaliaram 143.000 homens e mulheres e descobriram um aumento significativo de depressão entre as mulheres que ingeriam grande quantidade de café (mas não nos homens que consumiam uma quantidade semelhante de café). Os resultados estão demonstrados na Figura 15.54 Além da associação com a depressão, as mulheres que consumiam mais café também tinham mais problemas para lidar com o estresse. A razão pela qual esses efeitos não apareceram nos homens não ficou evidente. Isso pode indicar que as mulheres sejam mais suscetíveis à cafeína, ou pode ser atribuído à acentuação da predisposição feminina à depressão por ação da cafeína. A adaptação do cérebro à cafeína cria dependência Se a cafeína é tão boa para nós, como alguns leigos (e até mesmo alguns cientistas) gostariam que acreditássemos, é interessante notar que o cérebro faz um grande esforço para tentar desfazer os efeitos dessa “droga” legal e popular. Em uma situação de exposição crônica à cafeína, o cérebro tenta compensar de pelo menos duas maneiras. Primeiro, ele diminui a produção de acetilcolina, como foi mencionado antes.55 Essa parece ser uma maneira de reduzir o impacto do aumento do nível da acetilcolina provocado pela cafeína. Em segundo lugar, o cérebro aumenta o número de receptores de adenosina.56 Essa é PROVA INCONTESTÁVEL provavelmente uma resposta para conferir à adenosina ação mais proeminente na comunicação do cérebro — apesar da cafeína bloquear sua função de alguma forma. Infelizmente, essas alterações cerebrais contribuem para a dependência à cafeína. Desse modo a estrutura e a função cerebral alteram-se e, consequentemente, o cérebro passa a contar com a cafeína nesse ambiente. Essa é uma das razões pelas quais os usuários de café ficam tão habituados com sua bebida matinal. Se não recebem sua cafeína, eles sentem que estão correndo com menos da metade de suas forças. Além disso, se os usuários de café param de consumir a bebida, eles são suscetíveis a desenvolver sintomas de abstinência,por exemplo, dor de cabeça, além da fadiga. O "remédio" rápido para a dor de cabeça causada pela abstinência de cafeína é a ingestão de café, refrigerantes com cafeína ou um dos muitos remédios para dor de cabeça que contêm cafeína. Entretanto, nenhuma dessas opções é tão boa como "resistir" à abstinência. Normalmente, dentro de um ou dois dias, o cérebro adapta-se a um ambiente interno normal sem a cafeína, as dores de cabeça desaparecem e o cérebro caminha no sentido de um equilíbrio químico mais favorável. No entanto, tive alguns pacientes que tiveram dores de cabeça graves por até duas semanas depois da retirada da cafeína. Nesses casos, pode ser que tivessem predisposição às dores de cabeça, que foram desencadeadas pela abstinência da cafeína. Em termos práticos, o desequilíbrio da química cerebral causado pela cafeína cria condições para problemas maiores que apenas a abstinência da cafeína e os transtornos psiquiátricos já mencionados. Esse desequilíbrio também pode debilitar o desempenho físico e mental dos indivíduos que não têm sintomas psiquiátricos e não estão passando pela abstinência. Os efeitos da cafeína no sentido da deterioração do desempenho mental foram documentados. Embora a cafeína tenda a ajudar as pessoas a realizar tarefas simples de forma mais rápida, há evidências de que ela seja "prejudicial para tarefas mais complexas com relação ao tempo de reação motora e à coordenação motora fina".57 A diminuição da produção de acetilcolina que resulta do uso regular de cafeína, pode também contribuir para isso.58 O LOBO FRONTAL Pesquisadores demonstraram claramente que a diminuição da acetilcolina do cérebro está associada ao funcionamento mental prejudicado.59, 60 Além disso, apesar da tradição comum, os autores de uma revisão médica extensiva sobre cafeína não encontraram qualquer evidência de que esta substância ajuda a melhorar a capacidade intelectual.61 Um resumo de alguns dos efeitos da cafeína no cérebro pode ser visto na Figura 16. Não é nenhuma surpresa que a cafeína interfira com o sono. A cafeína ingerida dentro de uma hora antes de deitar faz com que fique mais difícil pegar no sono, diminui a quantidade total do tempo dormido e piora significativamente a qualidade do sono.62 De forma especial, a cafeína diminui os estágios do sono mais profundos e restauradores (estágios 3 e 4). Talvez o mais surpreendente seja que quantidades excessivas de cafeína podem causar problemas cerebrais graves, incluindo convulsões.63 Há também relatos de mortes humanas devidas à cafeína.64 Eu seria negligente se não mencionasse que a cafeína causa uma série de efeitos que podem afetar indiretamente a função do lobo frontal. Ao causar doença e estresse físico- psicológico devidos a essas condições, o lobo frontal pode sofrer ainda mais sob o domínio deplorável da cafeína. Algumas das outras consequências para a saúde, devidas ao uso de cafeína estão relacionadas na Figura 17.65, 66, 67, 68, 69, 70, 71, 72 Embora alguns desses efeitos sejam controversos (alguns estudos encontraram uma relação com a cafeína, mas outros não), devemos nos perguntar PROVA INCONTESTÁVEL se vale mesmo a pena correr o risco com a cafeína, quando já descobrimos tantos outros problemas causados por ela. Outro efeito importante do lobo frontal relacionado à cafeína diz respeito à nossa dimensão espiritual. Isso foi evidenciado anos atrás por Ellen White. Ela explicou que a estimulação do cérebro pela cafeína poderia "afrouxar" a língua num diálogo, como está explicado na Figura 18.73 A definição de fofoca é compartilhar informações pessoais com alguém que não faz parte do problema ou da solução. O chá das mulheres tem sido historicamente visto como lugar de fofoca. Observe, no entanto, que o gênero sexual não é mencionado. A declaração poderia aplicar-se também aos homens ou às reuniões mistas, especialmente quando "as bebidas certas" são ingeridas. White sugere que uma das causas da fofoca possa ser o tipo de bebida que é servida nas reuniões sociais. A compreensão dos efeitos da cafeína no lobo frontal confirma a plausibilidade de suas preocupações. Prejuízos causados pela nicotina no lobo frontal Dedico um capítulo inteiro (Capítulo 16: “Morrer por um cigarro? Largue o vício e viva) ao tema sobre a dependência da nicotina. Basta dizer aqui que a nicotina tem efeitos estimulantes no sistema nervoso, que são semelhantes aos da cafeína, razão porque também deve ser evitada. Ironicamente, a qualidade do sono, o desempenho e até mesmo o controle do estresse sofrem com o uso de cigarros. Por exemplo, os fumantes têm menos capacidade de realizar tarefas mentais complexas, que os não fumantes.74 Digo que tudo isso é irônico porque muitos fumantes acreditam que as qualidades mentais, na verdade, melhorem ao fumar. A pegadinha é que, quando eles param, esses problemas pioraram inicialmente antes de melhorar. Pouco depois que alguns indivíduos param de O LOBO FRONTAL fumar, eles equivocadamente pensam que fumar os ajudava nessas áreas e, por esta razão, voltam para seus cigarros depois de vários dias de abstinência. Além dos efeitos mentais de curto prazo, o tabagismo afeta o funcionamento do cérebro em longo prazo. Em comparação com as pessoas que não fumam, os fumantes correm risco dobrado de desenvolver demência (perda significativa irreversível da inteligência) causada por doença de Alzheimer e outras causas.75 Um último efeito notável da nicotina refere-se aos seus efeitos pré- natais. A nicotina utilizada por uma mulher grávida prejudica a função cerebral de seu filho, talvez para a vida toda. Pesquisas mostraram déficits mentais nos filhos de fumantes, que só podem ser explicados pelos efeitos da nicotina. Um estudo comparou a função mental das crianças de três anos idade, cujas mães fumaram durante toda a gravidez, com a das crianças cujas mães pararam de fumar durante a gravidez. Os filhos das mulheres que haviam largado o vício tiveram resultados significativamente melhores.76 SEÇÃO III Efeitos da dieta e da nutrição na função do lobo frontal. Até agora, vimos os efeitos prejudiciais das drogas (e medicamentos), do álcool, da nicotina e da cafeína nos lobos frontais. Alguns desses fatores exercem seu efeito primário ou principal no lobo frontal. Por outro lado, a maioria das coisas que melhoram a função cerebral geralmente produz um efeito benéfico em todo o cérebro. Um exemplo clássico sobre esse assunto é a nutrição. Quanto mais aprendemos sobre nutrição, mais percebemos que a alimentação ideal é vital ao desempenho superior do cérebro. Veremos que nossas escolhas alimentares podem melhorar ou prejudicar o desempenho do cérebro. Melhoria da função cerebral por aleitamento materno, gorduras polinsaturadas e vitaminas Nossas primeiras escolhas alimentares não são realmente nossas. Aqueles que tiveram a sorte de ter mães que optaram pela amamentação receberam uma preciosa herança ao lobo frontal. Pesquisas mostraram que PROVA INCONTESTÁVEL as crianças que são amamentadas têm vantagem mental, que persiste por no mínimo alguns anos e, provavelmente, por toda a vida.77, 78 Todas as razões da vantagem do leite materno não são conhecidas. No entanto, há um fator que parece ser o teor de gordura do leite materno. O Dr. Yokota, do Japão, demonstrou que ratos recém-nascidos precisam de quantidades adequadas de gorduras ômega 3 em sua dieta. Sem essas gorduras, a aprendizagem é prejudicada.79 Outras equipes de pesquisa internacionais, como por exemplo Bourre e seus colegas franceses,80 fizeram descobertas semelhantes em testes com animais. Todos demonstraram a necessidadevital de gorduras ômega 3 no cérebro de mamíferos em desenvolvimento. É bem reconhecido nos círculos de pesquisa, que o leite em pó tradicional proporciona valores de gordura ômega 3 abaixo do padrão, quando comparado com o leite materno.81 Complementar a dieta da criança com outros alimentos, além do leite em pó, pode não compensar satisfatoriamente o déficit de ômega 3. Um grupo de pesquisadores chegou à seguinte conclusão surpreendente: "Conclui-se que é praticamente impossível complementar a dieta dos bebês alimentados com leite em pó com os alimentos integrais disponíveis atualmente, de forma a equipar à ingestão de ácidos graxos de cadeia não ramificada (AGNR) dos bebês amamentados por suas mães.82 A superioridade do aleitamento materno é, obviamente, uma informação importante para os futuros pais. No entanto, o tipo adequado de gordura também parece ser necessário para a aprendizagem de curto prazo dos adultos. O Dr. Coscina e seus colegas demonstraram esse fato há uma década.83 Eles alimentaram dois grupos de ratos adultos com dietas que tinham quantidades idênticas de gordura. No entanto, a gordura provinha de fontes diferentes. Depois de apenas três semanas, os ratos alimentados com uma dieta baseada em quantidade moderada de gordura vegetal (20% de óleo de soja polinsaturado) mostraram melhora das habilidades de aprendizagem, em comparação com aqueles receberam dieta baseada em 20% de gordura saturada (banha). Os autores consideraram isso como uma prova sólida "de que as variações de curto prazo na qualidade da gordura da dieta O LOBO FRONTAL podem melhorar a aprendizagem dos mamíferos". Pesquisadores israelenses descobriram também que os animais alimentados com dieta com teores adequados dessas gorduras vegetais (p.ex., ácido alfa linolênico e ácido linoleico) podiam melhorar a memória e ajudar o cérebro a tolerar mais a dor.84 O Dr. Bernell Baldwin sugeriu uma explicação do porque o tipo de gordura pode fazer diferença. As gorduras saturadas, que são normalmente encontradas nos produtos de origem animal, podem tornar a comunicação neural do cérebro mais difícil. Sua hipótese é de que as membranas onde ocorre a comunicação cerebral (chamadas de sinapses) tornam-se mais rígidas com uma dieta rica em gordura saturada. Por outro lado, as gorduras insaturadas provenientes dos vegetais, das sementes e das nozes tornam as membranas mais flexíveis, que por sua vez, fazem com que as comunicações cerebrais sejam mais eficientes.85 Algumas das pesquisas mais recentes continuam a demonstrar os efeitos nocivos da gordura saturada no desempenho cerebral, mas não encontraram provas que sugerem que essas alterações da membrana sejam responsáveis.86 Outra possibilidade é que algumas das gorduras insaturadas tenham, na verdade, efeitos benéficos que podem ser bloqueados por suas primas saturadas. Se isso for verdade, as gorduras insaturadas, assim como as gorduras ômega 3, também podem ser especialmente importantes para a aprendizagem do adulto. Felizmente, para os adultos, há outras fontes dessas gorduras de elevada qualidade além do leite materno. O Capítulo 5, "A verdade sobre os Peixes", explora classe singular de gorduras conhecidas como ômega 3 e enumera uma série de excelentes fontes vegetarianas destes nutrientes. A ingestão de gorduras polinsaturadas não são os únicos elementos nutricionais essenciais à melhoria da função cerebral. A ingestão adequada de vitaminas e minerais também parece ser essencial ao desempenho do cérebro humano. Alguns dos micronutrientes que têm um papel na melhoria dos resultados do nosso cérebro são tiamina, riboflavina, niacina, B6, B12, ácido fólico, vitaminas antioxidantes A, C e E e ferro.87, 88, 89 A lista crescente desses nutrientes fala a favor de uma dieta bem equilibrada, que PROVA INCONTESTÁVEL seja rica em uma ampla gama destes compostos. Lições fornecidas pelos carboidratos Outras partes do corpo podem utilizar gorduras, proteínas ou carboidratos como fontes de energia, mas não o cérebro. O cérebro usa glicose, um carboidrato simples, quase exclusivamente como fonte de energia.90 Aparentemente, como resultado do metabolismo muito rápido do cérebro, ele é dependente do fornecimento minuto-a- minuto desse carboidrato simples. Isso é mais fácil de compreender quando você entende que o cérebro tem taxa metabólica 7,5 vezes maior que os tecidos corporais em geral.91 Embora o cérebro represente apenas 2% da massa do nosso corpo, ele responsável por 15% do nosso metabolismo total. O cérebro, no entanto, não tem muito espaço para armazenar nutrientes — o espaço é extremamente limitado pelo envoltório rígido do crânio. Apenas um fornecimento de dois minutos de glicose é disponibilizado às células cerebrais - e isto na forma de glicogênio, que é o composto de armazenamento de açúcar. Assim, para o desempenho máximo, o lobo frontal necessita de sangue com nível de glicose constante e adequado. No capítulo sobre o açúcar e a diabete (Capítulo 8), eu destaco como uma dieta contendo muito alimento refinado pode fazer o açúcar do sangue subir rapidamente e, em seguida, cair abaixo do normal. Essas opções de alimentos são abundantes em máquinas que vendem lanches e em balcões de sobremesa. É melhor deixá-los fora de nossas dietas. Seria melhor comer livremente de uma variedade saudável de carboidratos complexos, como os encontrados em batatas, arroz, pães integrais e cereais. Os açúcares simples são também carboidrato, mas é importante entender a diferença entre os açúcares simples presentes nos lanches concentrados e os que são encontrados em frutas naturais que vêm empacotadas com uma grande quantidade de fibras. Anos atrás, quando os cientistas descobriram que o cérebro funcionava melhor com o combustível de carboidrato, algumas pessoas começaram a se referir aos doces em barra como "alimento para o cérebro". Por fim, aprendemos que, para o desempenho prolongado, o açúcar refinado não era alimento para o cérebro; O LOBO FRONTAL era exatamente o contrário, como está indicado na Figura 19. Um estudo com 46 meninos de cinco anos foi particularmente revelador.92 Os meninos com pouco açúcar em sua dieta tinham limiar de atenção superior e respostas mais precisas, que os meninos que ingeriam grandes quantidades de açúcar. A diferença não pôde ser explicada pelo QI ou pelo status social e educacional dos pais. Quando testados, os meninos que consumiam dieta com baixo teor de açúcar refinado tiveram desempenho equivalente ao de uma série à frente na escola. Esse estudo provocante sugere que uma dieta melhor ajude a transformar um aluno de nível B em um aluno de nível A. Se o açúcar é um carboidrato e o carboidrato é o combustível preferido do lobo frontal, então como uma dieta rica em açúcar poderia prejudicar a função cerebral? Deixe-me tentar dar-lhe a melhor explicação que encontrei sobre esse paradoxo aparente. Nossos corpos foram criados para consumir alimentos como frutas e grãos em estado natural e não beneficiado. Esses alimentos ajudam a manter o nosso nível de açúcar sanguíneo relativamente estável. No entanto, quando os alimentos que contêm açúcares refinados entram no sistema digestivo, o açúcar do sangue sobe drasticamente e o corpo reage como se tivesse acabado de ser exposto a um grande volume de alimento natural. Em resposta, o pâncreas produz grande quantidade de insulina. Entretanto, o rápido aumento do açúcar sanguíneo é ilusório. Ao contrário dos alimentos vegetais naturais, os alimentos ricos em açúcar refinado tendem a ser rapidamente absorvidos. O resultado é que o rápido aumento de açúcar no sangue tem curta duração.Com a insulina ainda presente e nenhum açúcar a mais entrando no trato digestivo, o nível de açúcar no sangue pode despencar. Não é incomum que o açúcar PROVA INCONTESTÁVEL no sangue caia bem abaixo de onde estava antes do alimento açucarado ser ingerido. Se o nível de açúcar sanguíneo de uma pessoa diminui a níveis suficientes, as funções do lobo frontal podem sofrer devido ao fornecimento inadequado de combustível. Para piorar a situação, provavelmente a resposta mais comum à hipoglicemia seja ingerir outro alimento açucarado. Embora isso faça com que o açúcar sanguíneo aumente rapidamente mais uma vez, pesquisas demonstram que o cérebro precisa de mais 45 a 75 minutos para recuperar a função intelectual normal, depois que o açúcar do sangue volta ao normal.93, 94 A mensagem que tiro dessa pesquisa é de que tanto os adultos, quanto as crianças em idade escolar, precisam fazer escolhas alimentares corretas, se quiserem trabalhar com a eficiência mental máxima. Cada dia deve começar com um café da manhã de alta qualidade, que inclua uma seleção equilibrada de fontes vegetais de nutrição. Eu prefiro uma variedade de frutas e cereais integrais, juntamente com algumas nozes. Esses itens tendem a manter o açúcar sanguíneo na faixa adequada ao longo de toda a manhã, sem a necessidade de lanches. Eu explico com mais detalhes a importância de um café da manhã saudável no Capítulo 1: "Princípios da Saúde Ideal". Um suprimento liberal de frutas, verduras e grãos fornece a melhor nutrição para o lobo frontal. Todos esses alimentos contêm quantidade saudável de carboidratos. Por outro lado, praticamente todos os tipos de carne são desprovidos de carboidratos. Se você verificar as tabelas nutricionais, verá um tema recorrente — seja carne vermelha, peixe ou frango — todos marcam um grande zero (ou muito próximo a ele) na categoria de carboidrato.95 Esses alimentos são geralmente ricos em gordura e proteína, mas deficientes em carboidrato; esta pode ser uma razão pela qual a carne parece estar associada a disfunção sutil do lobo frontal. Entretanto, há uma ironia em todos esses dados. Como o cérebro é muito adaptável e acostuma-se com o estilo de vida que você leva, até mesmo as mudanças mais saudáveis podem causar um declínio de curto prazo na eficiência cerebral, antes que qualquer melhoria ocorra. É equivalente ao que acontece com a nicotina, que descrevo no Capítulo 16, quando alguém O LOBO FRONTAL abandona o hábito de fumar. Apesar dos efeitos prejudiciais da nicotina no cérebro, quando uma pessoa para de fumar, a qualidade do sono e a agilidade mental tendem a piorar antes de melhorar. O mesmo é provavelmente verdade com a dieta. Pesquisas sugerem que, quando as pessoas aumentam drasticamente sua ingestão de gordura ou até mesmo de carboidrato, o desempenho mental pode sofrer no curto prazo. No entanto, continuar com o estilo de vida mais saudável trará os benefícios esperados com o tempo. A mensagem é: não importa o quão difícil isso possa ser em curto prazo, desenvolva novos hábitos de saúde e mantenha-se firme.96 Transmissores falsos nos alimentos calóricos confundem as células cerebrais Outras substâncias dietéticas podem ter efeito prejudicial no lobo frontal. Uma delas é a substância química chamada tiramina. A tiramina é encontrada em abundância nos queijos, nos vinhos e em outros alimentos calóricos.97 Sem dúvida, parte da disfunção do lobo frontal causada pela tiramina é resultado da estimulação do sistema hormonal de reação ao estresse. Quando esse composto é ingerido, as terminações nervosas simpáticas são estimuladas para liberar uma substância química chamada norepinefrina, que é o principal composto químico que desencadeia a resposta do corpo ao estresse.98 O estresse definitivamente provoca um aumento no estado de alerta, no entanto, isto frequentemente interfere no controle motor fino dos processos mentais necessários à aprendizagem, à classificação analítica de objetos, ao pensamento criativo e à memória ideal. Isso não é nenhuma surpresa para aqueles que ainda têm lembranças vívidas dos desempenhos ruins nos testes escolares devido ao estresse durante os exames. O Dr. Guyton observa que o sistema hormonal do estresse pode realmente diminuir o fluxo sanguíneo cerebral.99 Isso pode ser uma explicação para a deterioração do desempenho cerebral sob estresse real, ou sob uma condição de estresse provocada pela ingestão de tiramina. Devido à capacidade da tiramina de causar alterações químicas nervosas (especificamente a liberação de norepinefrina), ela tem sido apelidada de um falso neurotransmissor. Desse modo, a tiramina pode ser entendida como um composto que, em um nível celular, PROVA INCONTESTÁVEL confunde as células cerebrais.100, 101, 102 Ela atua como mensageiro químico cerebral ou neurotransmissor; no entanto, ela provém dos alimentos que ingerimos e não das comunicações iniciadas pelas próprias células cerebrais. Em outras palavras, a estimulação da tiramina nas células cerebrais alega carregar uma mensagem, quando não há, na realidade, o que carregar. Assim, outra maneira de conceituar a disfunção da parte frontal do cérebro causada pela tiramina como um resultado da confusão mental causada pela falsa comunicação. Outro componente químico relacionado que causa problemas de transmissão cerebral é a triptamina. Assim como a tiramina, a triptamina é classificada como "amina biogênica". A triptamina também é conhecida por seus efeitos que alteram a mente. Esse composto foi associado aos pesadelos e até foi classificado no grupo das drogas como LSD e psilocibina, porque pode causar efeitos alucinógenos.103 Curiosamente, as fontes alimentares que contêm triptamina geralmente também têm tiramina. Alguns exemplos de alimentos com concentrações altas desses elementos que alteram a mente incluem queijos,104 peixes105 e salsichas.106, 107 Além disso, a deterioração precoce das aves produz esses compostos, pois uma grande percentagem de bactérias que contaminam as aves domésticas têm a capacidade de decompor seus tecidos e transformá-los nessas substâncias tóxicas.108 A questão da deterioração dos produtos de origem animal e sua relação com os compostos químicos que alteram a mente deve ser levada a sério. Uma pesquisa recente indicou que possa ocorrer deterioração significativa, mesmo em temperaturas normais de refrigeração. Um relatório sobre peixes descobriu que havia deterioração durante a refrigeração, que produzia outra amina biogênica chamada trimetilamina.109 (Aliás, a trimetilamina é encontrada também em outros frutos do mar e tende a formar substâncias químicas causadoras de câncer110). A triptamina também pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento do câncer. Quando é combinada com o álcool (e em presença da bactéria Helicobacter pylori, que é comum no estômago), a triptamina pode dar origem aos membros da família dos compostos de Harman111 — uma classe O LOBO FRONTAL de produtos químicos que têm propriedades cancerígeas112, 113 reconhecidas, bem como efeitos mentais comprovados.114 Um fato mais interessante sobre os compostos de Harman é que eles são encontrados em bebidas alcoólicas como a cerveja e o vinho.115 Alguns dos efeitos que alteram a mente causados pelo álcool, assim como alguns dos riscos de câncer também causados pelo álcool, podem estar relacionados em parte com esses compostos. Esses mesmos compostos de Harman podem até desempenhar um papel na perpetuação do desejo de ingerir álcool.116 Qual é o significado prático de alguns desses dados sobre as aminas biogênicas e seu efeito desestabilizador na mente? Existemmuitas aplicações pertinentes. Deixe-me mencionar duas delas de maneira breve. Primeiramente, pode haver uma relação entre as aminas biogênicas como a triptamina e a tiramina e uma série de distúrbios comportamentais brandos. Por exemplo, esses compostos podem ser um dos muitos fatores que influenciam a hiperatividade das crianças.117 Em segundo lugar, os pesadelos podem realmente ser um problema comum após a ingestão de alimentos ricos em triptamina e tiramina à noite. (Por isso, cuidado se você adora comer pizza tarde da noite.) As preocupações quanto a esses produtos químicos podem oferecer um entendimento mais claro sobre porque Ellen White escreveu que “queijo nunca deve ser colocado no estômago”.118 O ácido araquidônico e as moléculas grandes presentes na carne debilitam a função do lobo frontal Outro elemento químico dietético que causa problemas cerebrais é o ácido araquidônico. Esse composto interfere com a produção e o armazenamento de acetilcolina, um neurotransmissor importante já mencionado, que está amplamente relacionado à função do lobo frontal. Você deve lembrar-se de que a diminuição da acetilcolina cerebral está associada ao funcionamento mental alterado.119,120 Assim, o ácido araquidônico resulta na diminuição da capacidade de o lobo frontal funcionar de forma eficiente.121 Uma das fontes dietéticas mais comuns de ácido araquidônico é a carne. Na verdade, o ácido araquidônico é encontrado quase PROVA INCONTESTÁVEL que exclusivamente em produtos de origem animal.122 Outro problema com a carne é o seu efeito adverso no cérebro. Cientistas russos descobriram que a ingestão de carne em uma única refeição pode aumentar um hormônio específico do estresse, conhecido como 17- hidroxicorticosteroide (17-HCS). Baldwin sugere que produtos químicos dessa natureza, em razão do seu peso molecular alto, possam estimular as regiões do cérebro de maneira desigual.123 As áreas racionais superiores do cérebro são protegidas por algo chamado de "barreira hematoencefálica", que parece ser impermeável às substâncias químicas como o 17-HCS. Por outro lado, essas moléculas grandes que provocam estresse são capazes de estimular as áreas inferiores do cérebro onde não existe essa barreira, como por exemplo, a glândula hipófise, onde muitos hormônios são produzidos. Tudo isso é extremamente importante, porque essas áreas cerebrais inferiores são onde se localizam nossas faculdades mais animalescas e menos racionais. Em outras palavras, comer carne pode ter um efeito estimulante devido aos compostos como o 17-HCS, mas a estimulação pode desequilibrar o pensamento racional e favorecer os comportamentos mais impulsivos. Ellen White escreveu palavras de cautela sobre os efeitos prejudiciais da ingestão da carne para a atividade intelectual. Essa citação está reproduzida na Figura 20.124 Na verdade, benefícios físicos e mentais são proporcionados ao comermos os alimentos certos. Ellen White fez recomendações acerca desse tipo de dieta, como está ilustrado na Figura 21.125 Vemos que Ellen White tinha compreensão e conhecimento significativo sobre os efeitos do estilo de vida na função cerebral. Nos capítulos anteriores, vimos seus pensamentos em muitas outras áreas da saúde e das doenças humanas. Como isso é O LOBO FRONTAL possível, tendo em vista a época em que ela escreveu (entre 1860 a 1915), muito antes da explosão da informação médica científica que temos hoje? A extensão e a validação de suas instruções e as evidências dos meios como ela as recebeu estão descritas no Anexo X. As bifenilas policloradas (BPCs) interferem com o desenvolvimento cerebral A dieta vegetariana de uma mulher grávida também pode beneficiar o desenvolvimento cerebral do feto. Como descrevo no capítulo sobre os peixes (Capítulo 5), existe preocupação crescente quanto às toxinas em nossos alimentos — particularmente aqueles que contêm carne. Num exemplo bem divulgado, determinou-se que as mulheres que comiam peixes do lago Michigan durante a gravidez tiveram exposição mais acentuada às bifenilas policloradas (BPCs) e contaminantes relacionados. No momento do parto, os pesquisadores estimaram a exposição dos recém-nascidos às BPCs por meio da dosagem destes compostos químicos no sangue do cordão. Quando as crianças expostas realizaram testes neurológicos quatro anos depois, os pesquisadores observaram que as crianças com níveis mais altos de BPC tinham déficits cerebrais, inclusive dificuldade de entender leitura, atenção reduzida e memória mais fraca.126 Uma dieta espartana pode melhorar o desempenho cerebral Há anos os pesquisadores sabem que os animais vivem mais tempo quando consomem uma dieta de baixa caloria (isto é, comem menos que comeriam normalmente).127 Uma equipe de investigação americana, sob a direção do Dr. L.W. Means, acrescentou novas evidências aos benefícios de uma dieta mais espartana. Means e seus colegas, por medição direta, demonstraram melhor desempenho cerebral com uma dieta de baixa caloria.128 Além disso, sua pesquisa PROVA INCONTESTÁVEL demonstrou que os animais receberam esses benefícios cerebrais, mesmo que iniciassem essa dieta de restrição em uma idade mediana. Esse não é um artigo de pesquisa isolado. Pesquisadores da Itália demonstraram o óbvio pela primeira vez: ratos mantidos com uma dieta normal perdiam função mental à medida que envelheciam. No entanto, os investigadores descobriram que os ratos mais velhos mantidos com uma dieta de baixa caloria desde o nascimento tinham habilidades mentais tão boas quanto seus correspondentes mais jovens. Nosso desempenho cerebral de hoje pode ser afetado pelo número de calorias que consumimos há 15 anos. Noventa e nove indivíduos de 75 anos ou mais tiveram seu desempenho mental testado na Califórnia por meio do Mini- Exame do Estado Mental. Os indivíduos que consumiram mais calorias em 1976 tiveram escores menores no teste realizado em 1991. Esse estudo indicou que o consumo de mais calorias na meia-idade acelere o declínio da função mental com o envelhecimento.129 Esses estudos sugerem que os excessos (também referido como "comer destemperadamente") podem prejudicar o cérebro todo. Esse declínio mental global também poderia comprometer o lobo frontal. Há algumas décadas, E. G. White descreveu os efeitos nocivos dessas práticas no cérebro. Suas citações estão ilustradas na Figura 22.130 A intemperança geralmente está associada à ingestão de álcool e os riscos são bem conhecidos. Nesse capítulo, vimos os perigos adicionais da intemperança do comer e seu impacto profundo no lobo frontal. Embora a autora dessa declaração, Ellen White, tenha escrito extensivamente sobre saúde, ela estava preocupada principalmente com as questões teológicas e espirituais, como indica sua declaração final: "E essa é uma fonte fecunda de provações da igreja". A causa principal de discórdia, mesmo em uma reunião do conselho da igreja, pode O LOBO FRONTAL não ser devido a um problema superficial, mas aos alimentos consumidos de antemão, o que torna impossível ver a questão de forma clara e racional. Se comer sem temperança aplica-se às contendas da igreja, não se aplicaria também às questões em reuniões de negócios, relações familiares e na vida em geral? Outra declaração da mesma autora encaixa perfeitamente com as informações deste capítulo. "Poucos... percebem o quanto seus hábitos alimentares têm a ver com a sua saúde...".131 Quando isto foi escrito em 1865, havia pouca compreensão da correlação entre dieta e saúde. Hoje, a literatura científica está repleta de estudos que indicam claramente as consequências da nutrição
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