Buscar

CONTEÚDO 3

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 195 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 195 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 195 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 1/195
LETRA DE CÂMBIO
ORIGEM E EVOLUÇÃO DA LETRA DE CÂMBIO
11. CONCEITO DE LETRA DE CÂMBIO
Entende-se por letra de câmbio uma ordem dada, por escrito, a uma pessoa, para
que pague a um beneficiário indicado, ou à ordem deste, uma determinada
importância em dinheiro. Requer, assim, a letra de câmbio, três elementos
pessoais, que no título têm funções diversas: o que dá a ordem, chamado
sacador; o a quem a ordem é dada, que se chama de sacado; e aquele a favor de
quem é emitida a ordem, denominado de tomador ou beneficiário. Em virtude do
princípio da autonomia das obrigações cambiárias, e sendo diversas as funções
exercidas na letra por cada um desses elementos, uma mesma pessoa, física ou
jurídica, pode figurar no título como sacador (aquele que cria e emite a letra,
dando a ordem de pagamento), como sacado (aquele a quem a ordem para pagar
é dada) e mesmo como tomador (aquele em favor de quem é dada a ordem). A lei
brasileira que regulava a letra de câmbio (Decreto nº 2.044, de 31 de dezembro
de 1908) permitia expressamente que a letra de câmbio fosse emitida em favor
do sacado (art. 1º, nº IV), não mencionando, entretanto, se poderia ter como
sacado o próprio sacador. A doutrina se dividia a respeito, uns admitindo a
permissão, outros a negando. Hoje, adotada entre nós a Lei Uniforme sobre Letras
de Câmbio e Notas Promissórias, a dúvida foi desfeita, pois tal lei expressamente
permite (art. 3º) seja a letra emitida contra a pessoa que a saca e em favor dela
própria. Assim, as divergências que, a respeito, são encontradas entre autores
que, antes de entrar em vigor a Lei Uniforme, trataram do assunto entre nós, hoje
não têm mais razão de ser, não cabendo a sua invocação em face das disposições
expressas da lei.
A letra de câmbio é um título de crédito, dotado de literalidade e de autonomia
das obrigações. Desempenha importantíssima função econômica pela ampla
utilização do crédito que proporciona. Entre nós foi regulada, até 1966, pelo
Decreto nº 2.044, de 31 de dezembro de 1908. Havendo, porém, em 24 de
janeiro de 1966, pelo Decreto Executivo nº 57.663, promulgado o Governo a
Convenção de Genebra para a Adoção de uma Lei Uniforme sobre Letras de
Câmbio e Notas Promissórias, a partir de então passou a reger a letra de câmbio,
no direito brasileiro, aquela Lei Uniforme, que alterou várias normas no Decreto
nº 2.044, de 1908.
Tanto a Lei brasileira nº 2.044, como a Lei Uniforme, tratam da letra de câmbio e
da nota promissória. São esses títulos diferentes, se bem que tenham muitos
princípios em comum. Dada a existência de tais princípios, a letra de câmbio e a
nota promissória são chamados títulos cambiários ou, simplesmente, cambiais.
12. HISTÓRICO
A origem da letra de câmbio não está devidamente esclarecida, dela só se tendo
maior conhecimento a partir da Idade Média. Costuma a história desse título ser
dividida em três períodos, o primeiro chamado de período italiano, que vai da
Idade Média ao último quartel do século 17; o segundo, período francês, das
Ordenanças de Comércio, de 1673, até meados do século 19; e o último, período
alemão, de 1848 aos dias atuais. A cada um desses períodos corresponde um
conceito da letra de câmbio.
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 2/195
12.1. Período italiano
Apesar de pesquisadores do direito afirmarem que os princípios que regulam as
letras de câmbio já eram, de forma rudimentar, conhecidos em Roma, e mesmo,
antes, entre os assírios, foi na Idade Média que começou a estruturar-se esse
instituto jurídico, nas cidades italianas, com a finalidade de facilitar operações
comerciais.
Realmente, estando as cidades marítimas italianas em pleno florescimento, na
Idade Média, para elas acorriam mercadores dos lugares os mais diversos, com o
fito de fazer transações. Dada a diversidade das moedas então existentes, havia
necessidade de serem elas trocadas pelas moedas das cidades em que se
realizavam os negócios. Surgiu, assim, a operação de câmbio ou troca de moedas,
exercida pelos cambistas ou banqueiros, pessoas que se especializavam nessas
atividades. A troca de moeda por moeda constituía o chamado câmbio manual,
sendo a operação imediatamente liquidada. Em regra, tais transações se
efetuavam nas feiras.
Muitas vezes, entretanto, os mercadores, com receio de regressar às suas terras
de origem conduzindo avultadas quantias em dinheiro, depositavam as mesmas
em mãos dos banqueiros, estabelecendo com esses que tais importâncias,
convertidas em moedas diversas, deveriam ser entregues em lugares outros que
não aqueles em que eram depositadas. Para atestar o depósito, os banqueiros
emitiam um documento (quirógrafo) em que, convertidas as moedas, declaravam
que pagariam a soma mencionada no lugar designado. Esse pagamento poderia
ser realizado ou pelo próprio banqueiro ou por seus correspondentes naqueles
outros lugares. O pagamento seria feito ao depositante, cujo nome constava do
documento, ou a pessoa por esse indicada, que funcionava como seu
representante.
Tal documento, emitido pelo banqueiro em favor do depositante ou de seu
representante, assemelhava-se à atual nota promissória, por ser uma promessa e
não uma ordem de pagamento.
Emitido o documento, para que o pagamento fosse efetuado era necessário que o
banqueiro enviasse uma carta ao seu correspondente na outra localidade,
determinando que entregasse à pessoa que conduzia o documento, ou ao seu
representante, a importância designada. Essa carta, que era uma ordem de
pagamento, deu origem à letra de câmbio; podia ser remetida diretamente pelo
banqueiro ao seu correspondente ou entregue ao depositante, devendo este, ou a
pessoa por ele designada, apresentá-la ao banqueiro a fim de receber a
importância consignada no outro documento.
Com o decorrer dos tempos, sempre visando a essa modalidade de troca e de
remessa de dinheiro de um lugar para outro, a carta do banqueiro começou a ser
entregue diretamente ao depositante, estabelecendo-se, também, que este
sempre poderia designar um seu representante para fazer o recebimento da
importância dada em depósito. Passou a carta de autorização do banqueiro a ter
importância primordial nesse contrato, ficando relegado a segundo plano o título
de promessa de pagamento que, inicialmente, era o documento principal da
operação. Mas, de qualquer modo, a carta de autorização, que tinha o nome de
lettera di pagamento ou simplesmente lettera di cambio, pois sempre tratava de
uma troca (cambio) de dinheiro, pressupunha um depósito primitivo, por parte do
credor, de dinheiro em mãos de banqueiro. Como o dinheiro em depósito, além de
convertido em espécie diferente, deveria ser pago numa praça diversa daquela em
que a operação se iniciara, dava-se a esse contrato o nome de cambio trajecticio,
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 3/195
diferente, portanto, da troca imediata, verificada nas feiras, em que uma pessoa
entregava ao banqueiro moedas de uma espécie e recebia moedas de outra
espécie, que era o chamado câmbio manual.
Esse primeiro estágio de desenvolvimento da letra de câmbio, denominado
período italiano, caracteriza-se, assim, por ser a letra um instrumento para a
troca e remessa de dinheiro de um lugar para outro, não havendo, de tal modo,
uma verdadeira operação de crédito.
O período italiano durou da Idade Média até o terceiro quartel do século 17,
quando a Ordenança de Comércio francesa, de 1673, deu novo conceito à letra de
câmbio, no que foi seguida pelo Código de Comércio de 1808 e pelos que
adotaram a orientação desse.
12.2. Período francês
Enquanto, no seu estágio inicial, a letra de câmbio representava apenas o
instrumento decorrente de um contrato de troca e remessade dinheiro de um
lugar para outro, ao ser acolhida na Ordenança de Comércio Terrestre de 1673 e,
mais tarde, no Código francês de 1808, passou a significar um instrumento de
pagamento, não se atendo, simplesmente, à transferência de dinheiro. Por essa
razão, já não era o depósito em mãos do banqueiro que dava origem à letra;
qualquer importância que o sacado (pessoa a quem era dada à ordem) devia ou
poderia dever, futuramente, ao sacador (credor, pessoa que dava a ordem),
proveniente de qualquer transação – fornecimento de mercadorias etc. –,
possibilitava a emissão de letra.
O fato principal desse período foi a adoção da cláusula à ordem e,
consequentemente, o nascimento do endosso. Segundo aquela cláusula,
constando ela da letra, o tomador ou beneficiário poderia transferir o título a
qualquer pessoa sem o consentimento do sacador, e a pessoa a quem a letra era
transferida ficava investida de todos os poderes de titular na mesma mencionada.
A transferência se fazia de modo simples, com a assinatura do tomador nas costas
do título; assim surgiu o endosso, modalidade especial de transmissão dos títulos
de crédito.
Entretanto, a emissão da letra ainda pressupunha um contrato inicial. Para existir
a letra, se tornava necessária provisão do sacador em mãos do sacado; por tal
razão, devia a letra, para garantia do tomador, ser, inicialmente, apresentada ao
sacado, a fim de que esse declarasse se estava disposto a cumprir a ordem, ou,
em outras palavras, se aceitava a ordem do sacador. Surgiu, desse modo, o
aceite, consistente na manifestação do sacado de acatar a ordem dada pelo
sacador de efetuar o pagamento da letra na época do seu vencimento.
Caracterizou-se, assim, esse segundo período evolutivo da letra de câmbio por se
transformar ela em um instrumento de pagamento, pelas facilidades criadas para
a sua circulação, com adoção da cláusula à ordem e do endosso e pela vinculação
do sacado à obrigação, com o aceite.
12.3. Período alemão
A partir do início do século 19, os juristas começaram a estudar mais
profundamente a letra de câmbio e novas interpretações foram dadas ao seu
conteúdo. Foi, sobretudo, na Alemanha onde tais estudos se desenvolveram. E
deve-se principalmente a Karl Einert a conceituação da letra de câmbio não mais
como um simples meio de pagamento, instrumento de um contrato preliminar,
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 4/195
mas como um verdadeiro título que vale por si próprio de acordo com a vontade
manifestada pelo subscritor.
Chamou Einert a letra de câmbio de “papel-moeda do comerciante” e explicou
essa sua afirmativa declarando que, do mesmo modo como o Tesouro emite
cédulas representativas de valor, assim o faz o comerciante, ao subscrever uma
letra de câmbio. Apesar de reconhecer-se que a letra de câmbio diverge,
grandemente, dos títulos emitidos pelo Tesouro, a afirmativa de Einert serviu para
mostrar peculiaridades que deviam revestir esses títulos e que, posteriormente,
foram adotadas pelas legislações de quase todos os países.
Graças, assim, aos estudos dos alemães, principalmente de Einert e de Thöl, a
letra de câmbio passou a ser considerada um verdadeiro título de crédito, não
estando a sua existência dependente de um contrato preliminar causador do seu
aparecimento. Nasce a letra de um ato unilateral da vontade do sacador, e, uma
vez preenchidas certas formalidades, vale pelo que nela está escrito. E o direito
do seu possuidor é autônomo e abstrato, independente da relação fundamental,
ou seja, do negócio que, por acaso, deu origem à letra. Por se tratar de um direito
autônomo e abstrato, não são oponíveis exceções aos possuidores da letra
baseadas nas relações desses obrigados com os obrigados anteriores. Essa nova
conceituação da letra de câmbio veio satisfazer plenamente as necessidades do
comércio que, dado o progresso verificado no mundo da metade do século
passado para cá, dia a dia se desenvolve. Importante título de crédito, empregado
por comerciantes e não comerciantes, a letra de câmbio foi, por lei, revestida de
inúmeras garantias, de modo a ser utilizada com facilidade e segurança.
Com essas características, conceitua-se, hoje, a letra de câmbio como um título
de crédito formal (já que, para valer como tal, devem ser, na sua feitura,
atendidos certos requisitos), literal (valendo apenas o que nela está escrito) e
abstrato (o que significa que o direito nela mencionado não está na dependência
de uma causa anterior, em regra chamada de relação fundamental). A letra tem a
sua origem principalmente na vontade unilateral do seu criador e as obrigações
dos que assinaram na mesma são obrigações autônomas, cada uma valendo por
si própria.
13. A LETRA DE CÂMBIO NO DIREITO ESTRANGEIRO
Regulada pela Ordenança do Comércio Terrestre de 1673, a letra de câmbio
passou, com nova estrutura, para o Código de Comércio francês de 1808,
constituindo o Título Oitavo e constando dos arts. 110 a 189. Essa parte do
Código francês foi mais tarde modificada pela lei de 7 de junho de 1894 e,
posteriormente, por várias outras leis, entre as quais a de 8 de fevereiro de 1922
e o Decreto-Lei de 30 de outubro de 1935, que deu novo texto ao Título VIII (arts.
110 a 189) do Código de Comércio e que fez uma adaptação da Lei Uniforme de
Genebra, de 7 de junho de 1930, com a singularidade de que a Convenção que
estabeleceu essa Lei só foi ratificada pela França em 1936, isto é, depois de ter
sido adaptada a Lei Uniforme ao direito interno francês. Divergindo da maioria dos
países, a França conservou o instituto da provisão, continuando a ser essa
necessária para ser emitida uma letra. Pressupõe assim a letra de câmbio
francesa um negócio fundamental a que fica ligada, o que a descaracteriza como
uma obrigação criada por ato unilateral da vontade do sacador.
Os códigos surgidos depois da promulgação do Código de Comércio francês – o
espanhol, de 1829, o português, de 1833, o Código Albertino, de 1865 e, em
geral, quase todos os sul-americanos, que nada mais foram que a aceitação ou
adaptação do código espanhol – seguiram a orientação francesa, enquadrando a
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 5/195
letra de câmbio como um título destinado a efetuar pagamentos, só permitido
havendo diversidade entre o lugar da emissão e o do pagamento (o art. 110,
primitivo, do Código francês declarava: “A letra de câmbio é sacada de um lugar
para outro”), resultante de um contrato inicial que se formalizava pela provisão.
Entretanto, essa orientação encontrou opositores nos sistemas legais da
Inglaterra e da Alemanha, que davam à letra de câmbio um conceito diverso.
Na verdade, na Inglaterra existiam duas modalidades de letras de câmbio, uma
destinada a circular apenas no país (Inland-Bill) e outra para circulação no
exterior (Foreign-Bill). Se a segunda era resultante de um contrato, como a letra
de câmbio francesa, a primeira fazia abstenção da distancia loci, não
representando, necessariamente, a remessa de valores de um lugar para outro,
donde, em consequência, não haver à sua base um contrato de câmbio nem ser
necessária a provisão, isto é, o valor fornecido em mãos de sacado. Esse título,
em alguns casos, não exigia sequer a assinatura do sacador, bastando que o
nome desse constasse do documento, “de maneira a não dar lugar a nenhum
equívoco”.
Foi na Alemanha, contudo, que maior reação se fez ao conceito francês da letra de
câmbio como um título só utilizável de um lugar para outro, sempre ligado a um
contrato original. Depois de vários estudos e discussões de notáveis juristas, foi
aprovada, em Leipzig, em 24 de novembro de 1848, a “Lei Geral Alemã sobre
Letras de Câmbio” (Die Allgemeine Deutsche Wechselordnung), discutida e aceita
por representantes de 37 Estados que então compunham a Alemanha. Essa lei,
que se baseou, em grande parte, nas ideiasexpostas, em 1839, por Einert, no seu
livro Das Welchselrecht nach dem Bedurfnisse im 19. Iahrhunderts, foi depois
ligeiramente modificada pela lei de 18 de abril de 1861, comumente conhecida
como Novelas de Nüremberg e, finalmente, tornada obrigatória em todo o Império
alemão pela lei de 22 de abril de 1871.
O que diferencia a lei alemã da francesa é o fato de que, naquela, a exemplo do
que acontecia com o Inland-Bill da Inglaterra, o título não representa o transporte
de valores de um lugar para outro nem se requer que haja provisão em mãos do
sacado, como estabelecia o Código francês. Entretanto, para que seja o título
caracterizado como tal, necessário é que, no contexto, esteja escrita a frase letra
de câmbio (Wechsel) em alemão, ou uma expressão estrangeira a ela equivalente.
Deve, igualmente, o título conter outros requisitos essenciais, tais como a
importância a pagar, o nome da pessoa em favor da qual, ou à ordem de quem
deve o pagamento ser feito, a época de pagamento, a assinatura do sacador, a
designação do lugar, dia, mês e ano em que a letra foi sacada, o nome da pessoa
indicada para pagar (sacado) e a nomeação do lugar onde deve ser efetuado o
pagamento, que será o designado ao lado do nome do sacado, se um outro não
estiver expressamente mencionado (art. 4º). Se faltar algum desses requisitos o
título não será considerado letra de câmbio (art. 7º). Toma, assim, a letra de
câmbio o caráter de um título de crédito criado pela vontade unilateral do sacador,
sem ficar dependente de um contrato original, como acontece com o direito
francês; é, também, um título formal, devendo conter requisitos essenciais para
valer como tal.
A orientação alemã passou a influenciar os demais países. A Bélgica adotou-a,
com algumas restrições, através da lei de 20 de maio de 1872 sobre a letra de
câmbio e a nota promissória, a Hungria fez o mesmo pela Lei nº XXVII, de 1876,
entrada em vigor em 1877.7A Itália, reformando, em 1882, o seu Código de
Comércio de 1865, que obedecia à orientação francesa, aderiu igualmente ao
modelo alemão, através dos artigos 251 e seguintes do mesmo Código. Essa
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 6/195
orientação foi mantida pelo Decreto Real de 14 de dezembro de 1933, que pôs em
vigor a Convenção de Genebra. E em vários outros países – Áustria, Polônia,
Suécia, Japão, Portugal – tomou corpo a ideia de dar à letra de câmbio a
característica de um título que contém direitos e obrigações autônomos, sem
dependência da relação fundamental e valendo pelo que nele está escrito.
14. UNIFORMIZAÇÃO DO DIREITO CAMBIÁRIO
Dado o desenvolvimento das relações comerciais entre os povos, que dia a dia, no
decorrer deste século, se tornaram mais intensas, em virtude, sobretudo, do
surgimento dos novos meios de transportes, juristas e comerciantes voltaram
suas atenções para a necessidade do estabelecimento de regras uniformes sobre a
letra de câmbio, a serem aceitas pelos governos interessados. E por esse motivo
algumas conferências se realizaram, com a participação de grande número de
países, logrando êxito final.
De há muito, realmente, mostrara-se a necessidade da uniformização das normas
do direito cambiário e vários congressos se manifestaram nesse sentido, tendo em
vista o fato de se prestar excelentemente a letra de câmbio para pagamentos
internacionais. Com a faculdade que têm os países de legislar sobre assuntos de
seu próprio interesse, a adoção de regras comuns a todos viria, indiscutivelmente,
quebrar óbices que dificultavam a expansão do título, principalmente no que
concerne à capacidade, à responsabilidade dos que apõem os seus nomes nos
títulos e à circulação destes. Reconhecendo tal fato, já em 1869 o 1º Congresso
das Câmaras de Comércio italianas, reunido em Gênova, “acolheu com prazer a
proposição de Minguetti, declarando ser útil e oportuno que o governo tomasse a
iniciativa de tratados com os governos estrangeiros para se adotar uma lei
cambial universal”. Em 1885, o Congresso Internacional de Direito Comercial,
reunido em Antuérpia, Bélgica, discutiu e aprovou um projeto de lei cambial
internacional, projeto esse que foi emendado no Congresso de Bruxelas, reunido
nessa cidade em outubro de 1888.
Foi, entretanto, em 1910 e 1912 que, em Haia, se adotaram medidas efetivas
para a uniformização das regras relativas à letra de câmbio. Atendendo a uma
convocação do governo holandês, feita em 1908, 35 países, através de
representações especiais, se reuniram em Haia, em 1910, para a elaboração de
uma lei uniforme sobre a letra de câmbio. O Brasil foi representado pelo dr.
Rodrigo Otávio, que também foi o nosso delegado na segunda Conferência,
realizada na mesma cidade, em 1912, na qual foi finalmente aprovado o texto do
Regulamento Uniforme sobre a letra de câmbio e a nota promissória, sendo
pedido aos Estados participantes que fizessem adotar, em suas legislações,
aquelas regras, facultando-se, contudo, aos mesmos, algumas alterações nas
normas gerais.
Vinte e sete dos países que participaram das Conferências de Haia assinaram a
Convenção sobre o Regulamento Uniforme; entre eles não figuraram, entretanto,
a Inglaterra e os Estados Unidos. Cumpre notar que a lei brasileira sobre as letras
de câmbio, promulgada em 1908, estava em perfeita harmonia com a doutrina
vitoriosa em Haia, o que muito honra a cultura jurídica do país, principalmente os
profundos conhecimentos que, sobre o assunto, tinha o inspirador de nossa lei,
Desembargador José Antônio Saraiva.
Estabeleceu o Regulamento aprovado em Haia em 1912 que a letra de câmbio é
um título à ordem, contendo uma ordem de pagamento, dispensando-se o fator
relativo à distancia loci para que possa ser sacada. Deve trazer sempre a cláusula
cambiária e é destinada à circulação. Garantias especiais foram dadas ao portador
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 7/195
de boa-fé e a autonomia das obrigações cambiárias foi afirmada no fato de ser
reconhecida a obrigação do avalista ainda mesmo que fosse invalidada a
obrigação do avalizado (arts. 1º, 10, 15 e 31 do Regulamento).
Apesar do grande avanço dado pelas Conferências de Haia à ideia da unificação do
direito cambiário, na prática poucos países adotaram em suas leis os princípios do
Regulamento aprovado em 1912. Maiores dificuldades surgiram com a eclosão da
guerra de 1914 a 1918. O Brasil, apesar de ter aprovado a Convenção pelo
Decreto nº 3.756, de 17 de agosto de 1919, jamais converteu em lei o texto do
Regulamento Uniforme.
Desejando, contudo, promover realmente a unificação do direito cambiário,
realizou-se em Genebra, em 1930, uma Conferência Internacional, sob os
auspícios da Liga das Nações, presidida pelo jurista holandês Limburg. Tomando
por base o Regulamento Uniforme aprovado em Haia em 1912, essa Conferência,
de que participaram 31 Estados, aprovou uma Lei Uniforme sobre Letras de
Câmbio e Notas Promissórias, além de ao mesmo tempo, serem adotadas também
Convenções sobre conflito de leis em relação às letras de câmbio e notas
promissórias e sobre selos em ditos títulos.
Adotaram a Convenção de Genebra: a Alemanha, Bélgica, Dantzig, Dinamarca,
Finlândia, Holanda, Itália, Japão, Noruega, Portugal, Suécia, Suíça, França, Brasil,
Polônia, Rússia e Grécia.
15. A LETRA DE CÂMBIO NO DIREITO ANGLO-AMERICANO
O direito anglo-americano, em relação à cambial, difere bastante do chamado
sistema continental, ou seja, do adotado pelos países que obedecem a orientação
da Lei Uniforme de Genebra. Nem a Inglaterra nem os Estados Unidos aderiram à
Convenção de Genebra e a sua não adesão já tinha mesmo sido prevista pela
comissão nomeada pelo Comitê Econômico da Liga das Nações, composta dos
juristas Jitta, Lyon-Caen, Chalmers e Klein, para dar parecer sobre a possibilidade
da unificação. Realmente, aqueles dois países não aceitaram a Lei Uniforme,muito embora tenha a Inglaterra adotado a Convenção sobre selos nas letras de
câmbio.
Baseado na common law e na equidade, difere bastante o direito anglo-americano
do que predomina nos países europeus e sul-americanos. E isso, naturalmente, se
reflete no direito cambiário, apesar dos juristas terem tentado uma aproximação
dos dois sistemas, atenuando as divergências. Entretanto, algumas dessas ainda
perduraram, dando ao sistema anglo-americano características diversas das do
sistema continental.
Assim é que, enquanto predominou o formalismo no sistema continental, no
anglo-americano “há um maior liberalismo em matéria de forma, embora a
cambial seja considerada contrato formal em oposição aos simples contratos”. Na
letra de câmbio inglesa não constitui requisito essencial a inserção no documento
da expressão “letra de câmbio” e uma modalidade especial de causa, a
consideration, é requerida para a validade do título. Este só se completa com a
sua transferência (delivery). Algumas outras características próprias do sistema
jurídico anglo-americano afastam a letra de câmbio do sistema continental.
Convém, entretanto, ressaltar que, apesar dessas divergências, “o direito anglo-
americano, mais particularista e individualista, fundado no prestígio do precedente
judiciário, chega... por outro método e por outros caminhos, a soluções em
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 8/195
grande parte semelhantes às alcançadas no sistema continental”. Isso porque “há
mais uma diferença de técnica e de conceitos jurídicos do que de resultados”.
A LETRA DE CÂMBIO NO DIREITO BRASILEIRO
16. CÓDIGO COMERCIAL
O Código Comercial brasileiro regulou as letras de câmbio no Título XVI – Das
letras, notas promissórias e créditos mercantis – Cap. I, arts. 354 a 424. O art.
425, integrante do Cap. II desse mesmo Título, tratava das “letras de terra”, que
eram “em tudo iguais às letras de câmbio com a única diferença de serem
passadas e aceitas na mesma província”.
 
Na Seção I, arts. 354 a 359, tratava o Código “da forma das letras de câmbio e
seus vencimentos”, dispondo, inicialmente, que a letra de câmbio devia ser datada
e declarar o lugar em que foi sacada, a importância a pagar e a espécie de
moeda, o valor recebido, em moedas ou em mercadorias, a época e o lugar do
pagamento, o nome da pessoa que devia pagar e a quem, “e se é exigível à
ordem e de quem”, o número de vias, entendendo-se, em falta dessa declaração,
que se tratava de uma única via (art. 354). A letra poderia ser passada à vista, a
dias ou meses da vista, por prazo indeterminado (que o Código chamava “a dias
ou meses de vista precisos”), a dias ou meses da data e a dia certo (art. 355).
Passava, em seguida, a determinar regras para a contagem dos prazos de
vencimento (arts. 356 a 358) e a estipular que, “havendo diferença entre o valor
lançado por algarismo no alto da letra e o que se achar por extenso no corpo dela,
este último será sempre considerado o verdadeiro, e a diferença não prejudicará a
letra” (art. 359).
Na Seção II, arts. 360 a 364, tratava o Código “dos endossos”, admitindo o
endosso em preto, “completo e regular”, que devia ser datado, escrito nas costas
da letra, “expressar o nome daquele a cuja ordem deve fazer-se o pagamento” e
“declarar se é valor recebido ou em conta ou se confere somente poderes de
mandatário ou procurador”, entendendo-se que “o endosso à ordem, sem declarar
se é valor recebido ou em conta, confere somente poderes de mandatário, sem
transferência da propriedade” (art. 361). Os endossos incompletos ou em branco
eram apenas tolerados, exigindo a lei, entretanto, “para serem válidos, que, pelo
menos, contenham a data do dia em que se fizeram, escrita pela própria letra do
endossante que o assinar; e presume-se sempre que são passadas “à ordem com
valor recebido” (art. 362). O endosso falso era considerado nulo mas só viciava os
endossos posteriores; os “de letras já vencidas ou prejudicadas, e daquelas que
não são pagáveis à ordem, têm o simples efeito de cessão civil” (arts. 363 e 364).
A Seção III, arts. 365 a 370, dizia respeito ao sacador, estatuindo o art. 366 que
este “é obrigado a ter suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ao
tempo do vencimento”, no que seguia a orientação do art. 115 do Código do
Comércio francês, já à época da promulgação do nosso Código modificado pela lei
de 19 de março de 1817. E o art. 368 explicava que “entende-se que existe
suficiente provisão de fundos em poder do sacado quando este, ao tempo de
vencimento, é devedor do sacador, ou àquele por conta de quem a letra foi
passada, de quantia ao menos igual, ou quando qualquer dos dois tiver crédito
aberto pelo sacado, que baste para o pagamento da letra”.
A Seção IV, arts. 371 a 391, referia-se ao portador da letra de câmbio, estatuindo
normas para a apresentação desta ao sacado e necessidade do protesto por falta
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 9/195
de aceite ou de pagamento. A Seção V, arts. 392 a 404, tratava do sacado e
aceitante, e a Seção VI, arts. 405 a 414, regulava o processo do protesto. Era
nessa seção (art. 408) que o Código obrigava o oficial público perante quem se
intentaria o protesto, a fazer imediatamente o apontamento da letra, ou seja, a
inscrição do título em livro especial que era obrigado a possuir para tal fim. A
figura do apontamento desapareceu no Decreto nº 2.044, mas ainda hoje os
cartórios incumbidos do protesto de títulos empregam bastante o termo, temendo
os comerciantes o apontamento dos seus títulos por acreditarem que, com isso,
fica o seu crédito abalado.
O recâmbio era tratado na Seção VII, arts. 415 a 421, e os arts. 422 a 424, Seção
VIII, continham disposições gerais. No art. 422 o Código se referia aos
abonadores ou avalistas das letras, considerando-se, “ainda que não sejam
comerciantes... solidariamente garantes das mesmas letras, e obrigados ao seu
pagamento, com juros e recâmbios, havendo-os, e a todas as despesas legais”. O
art. 425, já no Cap. II deste Tít. XVI, era dedicado às “letras de terra”, títulos
idênticos às letras de câmbio “com a única diferença de serem passadas e aceitas
na mesma província”.
A fonte desse Título do Código Comercial foi o Código Comercial português de
1833, que tratava das letras de câmbio no Título VII, arts. 321 a 423. Mas tanto o
Código português como o nosso seguiram a orientação do francês, sendo aquele
mais expresso pois, no art. 321, dizia que “a letra de câmbio é o instrumento do
contrato de câmbio, e pode definir-se numa carta solene datada dum lugar, pela
qual o que a assina, que se chama sacador, encarrega aquele, a quem escreve,
que se denomina sacado, de pagar em outro lugar, quer à vista, quer numa época
determinada, a uma pessoa designada, que se conhece pelo nome de portador, ou
à sua ordem ao endossatário, uma soma de dinheiro enunciada nela, e
reconhecendo haver recebido ou fiado do tomador o valor da letra nas expressões
valor recebido, ou valor em conta”. Vê-se aí que o legislador português de 1833
seguiu, em tudo, a orientação do Código francês de 1808, conceituando a letra de
câmbio como o instrumento de um contrato de câmbio destinado a transportar
valores de um lugar para outro.
Não foi tão taxativo o legislador brasileiro de 1850, mas da leitura dos dispositivos
do Código Comercial relativos à letra de câmbio facilmente se verifica que a
orientação seguida foi idêntica, muito embora, ao ser promulgado o nosso Código,
já estivesse em vigor a lei alemã de 1848, sendo de notar que essa se baseou
principalmente nos estudos de Einert, que datam de 1830, havendo, desse modo,
oportunidade de serem as teorias por este defendidas do conhecimento dos
elaboradores do Código Comercial, cujo projeto foi iniciado em 1832.
Assim, de maneira expressa, exigia o Código que a letra de câmbio mencionasseo
valor recebido, especificando se foi em moeda, e a sua qualidade, em
mercadorias, em conta ou por outra qualquer maneira (art. 354, III), e que o
sacador tivesse suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ao tempo do
vencimento (art. 366). Do conjunto dos dispositivos do Código Comercial conclui-
se que a letra de câmbio era, por ele, tratada como o instrumento de um contrato
de câmbio, servindo para a remessa de valores de um lugar para outro, segundo a
doutrina do Código de Comércio francês.
Essa orientação foi, contudo, inteiramente modificada pela lei que derrogou o Tít.
XVI do Código Comercial, número 2.044, de 31 de dezembro de 1908, que seguiu
a doutrina inicialmente emanada da lei alemã e depois ampliada e atualizada por
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 10/195
congressos e convenções internacionais, de modo a que a letra de câmbio
pudesse melhormente atender às necessidades econômicas dos povos.
17. DECRETO Nº 2.044, DE 1908
Enquanto estiveram em vigor os dispositivos do Código Comercial, coube
principalmente à jurisprudência traçar normas para melhor adaptar a letra de
câmbio aos interesses do comércio, algumas vezes até mesmo violando a lei
como, em parecer de 26 de junho de 1907, se expressava a Comissão de
Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, de que foi relator João Luiz
Alves.
Apesar dessa notável contribuição dos nossos juízes e tribunais, cada dia se
tornava mais patente a necessidade de serem modificados os dispositivos do
Código Comercial relativos a tão importante matéria. No exterior, vários países
que, inicialmente, haviam seguido a orientação francesa, alteraram ou
substituíram suas leis, abraçando a doutrina alemã por ser a que melhor atendia
às necessidades do comércio. Além disso, inúmeras foram as obras doutrinárias
que surgiram apreciando a nova conceituação da letra de câmbio, sendo o
assunto, em detalhes, debatido em vários congressos internacionais.
No Brasil, sentiu-se a necessidade da reforma do Código nesse tocante, mas o
movimento, a tal respeito, só veio a tomar corpo depois da publicação, em 1905,
do livro Direito Cambial Brasileiro, do desembargador José Antônio Saraiva,
professor na Faculdade de Direito de Minas Gerais. Nessa obra capital para a
atualização do nosso direito cambiário, o ilustre mestre mineiro defendia a
doutrina alemã que conceituava a letra de câmbio como um título emanado da
vontade unilateral do subscritor, mostrando-se perfeitamente a par dos mais
modernos conhecimentos sobre o assunto.
Convencido da necessidade de ser modificado o Código Comercial no capítulo
relativo à letra de câmbio, o então deputado federal Justiniano de Serpa
apresentou à Câmara dos Deputados, em 7 de novembro de 1906, projeto de lei
modificando o disposto nos arts. 354, 361, 362, 371, 377, 382, 394, 412, 425,
426 e 427 do Código Comercial. As modificações propostas, apesar de a
melhorarem, não alteravam, contudo, substancialmente, a doutrina do Código,
uma vez que ainda ficava patente a influência francesa, sobretudo pela
manutenção do instituto da provisão, que dava à letra de câmbio o caráter de
instrumento de um contrato. Isso sentiu a Comissão de Legislação e Justiça da
Câmara que, manifestando o desejo de que o assunto fosse tratado não com
medidas paliativas mas de maneira mais profunda, ofereceu um substitutivo ao
projeto, sendo autor do mesmo o Dr. João Luiz Alves. Para a feitura desse
substitutivo foi especialmente ouvido o Desembargador José Antônio Saraiva,
“autor do mais profundo estudo que, sobre a matéria, enriquece a nossa literatura
jurídica”, segundo o relator. Esse substitutivo, com ligeiras modificações, foi
aprovado pela Câmara e pelo Senado, transformando-se no Decreto nº 2.044, de
31 de dezembro de 1908.
Seguiu o Decreto nº 2.044 a orientação mais atualizada na época sobre a letra de
câmbio, caracterizando-a, segundo a doutrina alemã, como um título autônomo,
que vale por si mesmo (per se stante), oriundo de um ato unilateral da vontade
do subscritor que, por isso mesmo, pode designar-se beneficiário (tomador) da
ordem dada, o que não poderia verificar-se no sistema contratual do Código, já
que a ninguém é dado contratar consigo mesmo. Igualmente, segundo o Decreto
nº 2.044, não era a letra de câmbio instrumento para transporte de valores de um
lugar para outro, podendo, assim, ser sacada para pagamento na mesma praça, o
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 11/195
que facilitava enormemente sua circulação. Ainda, tornou-se desnecessária a
provisão, feita pelo sacador em mãos do sacado, ao tempo do vencimento, bem
como a inclusão no título da expressão valor recebido ou em conta, exigida pelos
arts. 366 e 354, III, do Código Comercial, já que a letra era um instrumento
destinado a mobilizar o crédito, tendo nesse a sua razão de ser. Os direitos que a
letra conferia ao portador não tinham, assim, dependência de qualquer negócio
preexistente, ou seja, da relação fundamental. E por tal motivo a falsidade ou
nulidade de qualquer assinatura anterior não invalidava a letra, não sendo,
portanto, oponíveis exceções aos possuidores anteriores, visto como “as
obrigações cambiais são autônomas e independentes umas das outras” (Decreto
nº 2.044, art. 43).
Apesar de ter sido inicialmente recebida com restrições, até mesmo com oposição,
pelo comércio em geral (a Associação Comercial do Rio de Janeiro chegou a
reunir-se para declarar sua repulsa à nova lei), o Decreto nº 2.044 conseguiu,
com o decorrer dos anos, demonstrar que o legislador brasileiro captara
perfeitamente as mais modernas teorias existentes sobre o direito cambiário, a tal
ponto o fazendo que ainda hoje os seus princípios gerais estão em perfeita
consonância com a melhor doutrina que, em todos os países, norteia o assunto.
18. ADESÃO DO BRASIL À LEI UNIFORME
O Brasil, através de delegados especiais, participou das principais Conferências
internacionais para a unificação do direito sobre a letra de câmbio e a nota
promissória. Em Haia, nas Conferências de 1910 e 1912, foi o Brasil representado
pelo Dr. Rodrigo Otávio, que as reuniões apresentou ao Ministro das Relações
Exteriores dois preciosos “Relatórios”, um em 1911 e outro em 1914. Em
Genebra, em 1930, foi nosso representante, como plenipotenciário, o Dr.
Deoclécio de Campos, adido comercial em Roma e antigo professor na Faculdade
de Direito do Pará.
Subscrevendo o Governo brasileiro a Convenção de 7 de junho de 1930 para a
adoção de uma Lei Uniforme sobre Letras de Câmbio e Notas Promissórias, a
adesão à mesma só se fez em 26 de agosto de 1942, por nota da Legação
brasileira em Berna ao Secretário-Geral da Liga das Nações. A ratificação
legislativa necessária para a entrada em vigor, no país, da Convenção, foi feita 22
anos depois da adesão, ou seja, em 8 de setembro de 1964, através do Decreto
Legislativo nº 54. Finalmente, a promulgação da Convenção se operou por
intermédio do Decreto Executivo nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966, que
promulgou, igualmente, as duas outras Convenções realizadas em Genebra, uma
destinada a regular conflitos de leis em matéria de letras de câmbio e notas
promissórias, e a outra concernente ao imposto do selo em matéria de letras de
câmbio e notas promissórias.
19. A VIGÊNCIA DA LEI UNIFORME NO DIREITO BRASILEIRO. REVOGAÇÃO DO
DECRETO Nº 2.044
Após a promulgação do Decreto Executivo nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966, a
doutrina e a jurisprudência brasileiras atravessaram uma fase de dúvidas sobre se
a Lei Uniforme de Genebra estaria ou não em vigor, revogada, assim, o Decreto
nº 2.044, de 31 de dezembro de 1908. Eminentes juristas e respeitáveis tribunais
se manifestaram a respeito, admitindo uns a tese de que a Lei Uniforme passara a
constituir direito interno brasileiro, revogando o Decreto nº 2.044, outros julgando
que fora aceitaapenas a Convenção para a adoção de uma lei sobre letras de
câmbio e notas promissórias, devendo, contudo, essa nova lei, cujo texto deveria
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 12/195
ser semelhante ao da Lei Uniforme, escoimado das reservas feitas pelo Governo
Brasileiro, ser discutida e aprovada pelo Congresso.
Dentre os que, desde o início aceitaram a Lei Uniforme como integrante do direito
interno brasileiro, revogando e substituindo o Decreto nº 2.044, destacaram-se o
Dr. Antônio Mercado Júnior, que, a respeito, apresentou excelentes estudos no
Instituto de Direito Comparado da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, estudos mais tarde publicados no livro Nova Lei Cambial e Nova Lei do
Cheque (Saraiva, São Paulo, 1966), e os eminentes professores Oscar Barreto
Filho, Theophilo de Azevedo Santos e Vicente Marotta Rangel que, em
substanciosos trabalhos, opinaram pela inclusão da Lei Uniforme no direito interno
brasileiro. Em posição contrária colocaram-se também respeitáveis estudiosos,
entre os quais o mestre José Maria Whitaker e o Professor Gastão de Moura Maia
Filho.
Por outro lado, enquanto a doutrina discutia sobre a integração ou não da Lei
Uniforme no direito brasileiro, divergiam os tribunais a respeito. Enquanto o
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em várias decisões, seguindo a lição do
Professor Lélio Candiota de Campos, da Faculdade de Direito da Universidade do
Rio Grande do Sul, aceitava a Lei Uniforme como integrada no nosso direito, o
Tribunal de Alçada de São Paulo seguia orientação oposta, admitindo a
permanência do Decreto nº 2.044. Levado o caso ao Supremo Tribunal Federal,
esse propendia pela aceitação da Lei Uniforme sem, contudo, se definir
claramente. Para complicar mais ainda a situação, uma terceira corrente surgiu,
patrocinada pelos eminentes Professores J. C. de Sampaio Lacerda e Rodolfo
Araújo com o apoio do Tribunal de Alçada de São Paulo (Ac. de 6 de novembro de
1960, da 6ª Câmara Cível, apel. nº 127.161), admitindo que a Lei Uniforme não
revogou a lei brasileira sobre a letra de câmbio e notas promissórias, valendo,
entretanto, nas relações internacionais.
Nessa controvérsia, de um certo modo aflitiva para uma verdadeira orientação
sobre se estava ou não em vigor, no Brasil, como lei interna, revogada assim, o
Decreto nº 2.044, a Lei Uniforme de Genebra, foi o Poder Executivo chamado a
definir-se, através da consulta feita à Consultoria-Geral da República pelo Banco
do Brasil e Ministério da Fazenda. Em longo e brilhante Parecer, o então
Consultor-Geral da República, Professor Adroaldo Mesquita da Costa, opinou pela
adoção, entre nós, da Lei Uniforme, revogando, assim, o Decreto nº 2.044. O
Parecer, aprovado pelo Sr. Presidente da República e publicado no Diário Oficial da
União de 26 de setembro de 1968, foi taxativo ao afirmar:
“Estão em vigor no Brasil a Lei Uniforme sobre Letras de Câmbio e Notas
Promissórias, assinada em Genebra em 7 de junho de 1930, e a Lei Uniforme
sobre Cheque, ali assinada a 19 de março de 1931, ambas com as necessárias
adaptações de seus textos aos textos ainda vigentes de nosso direito e a elas
anteriores, em face das reservas a elas oferecidas pelo Brasil, no momento em
que a elas aderiu.”
Mas a verdade é que nem mesmo com o Parecer do Consultor-Geral da República
foi aceita a inclusão da Lei Uniforme como direito interno brasileiro. Continuaram
a circular no mercado de capital, com o beneplácito do Banco Central do Brasil,
letras de câmbio ao portador, em flagrante desrespeito à Lei Uniforme, que não as
permite. O VII Congresso Nacional de Bancos, reunido em Curitiba, em 1969, se
bem que propendesse pela adoção de Lei Uniforme, concluiu por pedir a
elaboração de uma nova lei cambiária, que seguisse os trâmites legais,
reconhecendo que o Parecer do Consultor-Geral da República era meramente
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 13/195
opinativo, só ao Supremo Tribunal Federal cabendo dar um pronunciamento
definitivo sobre a questão, o que não fora feito até então. E mesmo publicações
mais recentes, de mestres abalizados, como a obra do Professor J. Eunápio
Borges, Títulos de Crédito (Forense, 1971), mantinham a opinião de que a Lei
Uniforme não revogara o Decreto nº 2.044, continuando esta em pleno vigor.
O impasse foi resolvido com a decisão do Supremo Tribunal Federal constante do
Acórdão de 4 de agosto de 1971, proferido no Recurso Extraordinário nº 71.154,
do Paraná, de que foi relator o eminente Ministro Oswaldo Trigueiro e aceito pela
unanimidade de seus pares. Referindo-se o pleito a um caso de prescrição do
cheque, cujo prazo na Lei Uniforme diverge do da lei brasileira, depois de estudar
o problema da vigência ou não da Lei Uniforme no direito brasileiro, acentuando,
inclusive, a atitude do Supremo, que até então não tomara decisão definitiva,
afirma o voto do Relator, aceito unanimemente:
“Quanto ao direito brasileiro, não me parece razoável que a validade dos tratados
fique condicionada à dupla manifestação do Congresso, exigência que nenhuma
das nossas Constituições jamais prescreveu. Por outro lado, acho que, em virtude
dos preceitos constitucionais anteriormente citados, a definitiva aprovação do
tratado, pelo Congresso Nacional, revoga as disposições em contrário da
legislação ordinária”.
A partir de então passou a ser por todos aceita a Lei Uniforme de Genebra sobre
Letras de Câmbio e Notas Promissórias como a reguladora desses títulos no Brasil.
20. RESERVAS DO GOVERNO BRASILEIRO À LEI UNIFORME
 
Segundo o art. 1º da Convenção para a adoção de uma Lei Uniforme sobre Letras
de Câmbio e Notas Promissórias, as Altas Partes Contratantes têm a permissão de
formular certas reservas ao disposto no texto legal, em tal caso atribuindo-se o
direito de dispor, com normas próprias, sobre a matéria não aceita. As reservas
serão formuladas por ocasião da ratificação ou adesão à Convenção, e serão
escolhidas entre as mencionadas no Anexo II da referida Convenção.
Ao promulgar a adesão à Convenção de Genebra, pelo Decreto Executivo nº
57.663, de 24 de janeiro de 1966, o Governo brasileiro formulou reservas a vários
dispositivos da lei, dentre as enumeradas no Anexo II da Convenção. Isso significa
que, em vigor o texto de Genebra, as matérias objeto das reservas são, contudo,
reguladas por lei nacional, não se aplicando no Brasil o texto de Genebra na sua
totalidade. As reservas foram feitas aos arts. 2, 3, 5, 6, 7, 9, 10, 13, 15, 16, 17,
19 e 20 do Anexo II. Sobre cada uma delas resumidamente falaremos a seguir.
20.1. Reserva ao art. 2º do Anexo II – Falta de assinatura do próprio punho do
obrigado no título
O art. 2º do Anexo II da Convenção dispõe que:
“Qualquer das Altas Partes Contratantes tem, pelo que respeita às obrigações
contraídas em matéria de letras no seu território, a faculdade de determinar de
que maneira pode ser suprida a falta de assinatura, desde que por uma
declaração autêntica escrita na letra se possa constatar a vontade daquele que
deveria ter assinado”.
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 14/195
A reserva enseja que a assinatura seja suprida, isto é, substituída por outro modo
de identificação do signatário que não seja o seu próprio nome. Deve-se essa
reserva ao fato de, em certos países, como o Japão, a Índia, o Egito e a Turquia,
ser possível subscrever-se a letra de câmbio com um sinal qualquer que seja
considerado como o nome da pessoa, ou por um carimbo ou mesmo pela
impressão digital; do mesmo modo, como acontecia na Espanha e no Brasil, a
assinatura podia ser feita por mandatário, tendo validade legal. Considerando que
tal assunto deve ser resolvido por cada país, a Conferência de Genebra incluiu, no
Anexo II, a faculdadede, utilizando da reserva, disporem os signatários a
respeito.
A Lei Uniforme, referindo-se às assinaturas dos obrigados no título, diz apenas
que, da letra, deve constar como requisito especial a assinatura do sacador (art.
1º, nº 8), nada especificamente acrescentando quanto à assinatura por
intermédio de mandatário, apesar do contido no art. 8º que, de modo geral,
admite a assinatura por procurador munido com os poderes necessários. Por outro
lado, reportando-se ao aceite, dispõe a Lei Uniforme (art. 25) que “o aceite é
assinado pelo sacado”. Do mesmo modo, o aval “é assinado pelo dador do aval”
(art. 31, 2ª al.) e o endosso “deve ser assinado pelo endossante” (art. 13).
Fazendo a reserva permitida pelo art. 2º do Anexo II, o Governo brasileiro se
permite o direito de determinar a maneira de serem supridas as assinaturas, de
próprio punho, dos obrigados na letra, que são o sacador, o aceitante, os
endossantes e os avalistas. Ora, o Decreto nº 2.044 contém dispositivo expresso
sobre a assinatura por mandatário, declarando o nº V do art. 1º que da letra deve
constar “a assinatura do próprio punho do sacador ou de mandatário especial”,
isto é, esclarecendo melhor a intenção da lei, do mandatário munido de poderes
especiais. Quanto aos endossantes, igualmente dispõe o art. 8º, 2ª al., do Decreto
nº 2.044 que, “para a validade do endosso é suficiente a simples assinatura do
próprio punho do endossador ou do mandatário especial”. Em relação ao
aceitante, reza o art. 11 que, “para a validade do aceite é suficiente a simples
assinatura do próprio punho do sacado, ou do mandatário especial”. Finalmente,
no que diz respeito aos avalistas, estatui o art. 14 que “para a validade do aval, é
suficiente a simples assinatura do próprio punho do avalista, ou mandatário
especial”.
Nessas condições, permitindo a Convenção fosse melhor disposto pelos Governos
que à mesma aderiram o suprimento da falta de assinatura do próprio punho dos
obrigados na letra, e havendo o Governo brasileiro se valido dessa permissão,
tem-se que, no Brasil, podem o sacador, o aceitante, endossantes e avalistas
obrigar-se nas letras mediante mandatários munidos de poderes especiais,
vigorando, a esse respeito, as regras contidas nos arts. 1º, nº V, 8º, 2ª al., 11 e
14 do Decreto nº 2.044, que tratam da matéria.
A utilização da reserva, pelo Brasil, diz respeito apenas ao suprimento da
assinatura pela assinatura do mandatário, sobre que havia legislação a respeito.
Nada impede, entretanto, que, valendo-se da reserva, venha o Brasil a dispor
sobre a assinatura de outro modo, como, por exemplo, por chancela mecânica, a
exemplo do que resolveu o Banco Central em relação aos cheques (Res. nº 74, de
17 de novembro de 1967).
20.2. Reserva ao art. 3º do Anexo II – Letra incompleta
Dispõe o art. 3º do Anexo II:
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 15/195
“Qualquer das Altas Partes Contratantes reserva-se a faculdade de não inserir o
art. 10 da Lei Uniforme na sua Lei nacional.”
Reza o art. 10 da Lei Uniforme:
“Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada
contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos
ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de má-fé
ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave.”
Como se vê, dispõe a Lei Uniforme que não é oponível ao portador, a não ser
quando este aja de má-fé, o fato de haver a letra sido completada contrariamente
ao estabelecido. Já o art. 3º da lei brasileira nº 2.044 dizia que os requisitos da
letra são considerados lançados ao tempo da emissão do título, só sendo admitida
prova em contrário em caso de má-fé do portador. De um certo modo, os
dispositivos das duas leis são semelhantes, apresentando-se, contudo, mais
amplo o da lei brasileira, pois a Lei Uniforme só permite a inoponibilidade da
exceção quando há acordo entre as partes quanto aos requisitos a serem lançados
no título. A lei brasileira dispensa esse acordo para que a exceção não seja
oposta, a não ser, como acontece também na Lei Uniforme, quando o portador
usa de má-fé.
Não tendo o Governo brasileiro aceito o art. 10 da Lei Uniforme, por fazer uso da
reserva permitida pelo art. 3º do Anexo II da Convenção, a nosso ver permanece
em vigor o art. 3º do Decreto nº 2.044.
20.3. Reserva ao art. 5º do Anexo II – Prazo para apresentação da letra
O art. 5º do Anexo II estatui que:
“Qualquer das Altas Partes Contratantes pode completar o art. 38 da Lei
Uniforme, dispondo que, em relação às letras pagáveis no seu território, o
portador deverá fazer a apresentação no próprio dia do vencimento; a
inobservância desta obrigação só acarreta responsabilidade por perdas e danos.
 
As outras Altas Partes Contratantes terão a faculdade de fixar as condições em
que reconhecerão uma tal obrigação”.
Reza o art. 38 da Lei Uniforme:
“O portador de uma letra pagável a dia fixo ou a certo termo de data ou de vista
deve apresentá-la no dia em que ela é pagável ou num dos dois dias úteis
seguintes.
A apresentação da letra a uma câmara de compensação equivale à apresentação
para pagamento”.
Confrontando os dois dispositivos, verifica-se que, pela Lei Uniforme, a letra com
prazo certo deve ser apresentada para pagamento no dia do vencimento ou num
dos dois dias úteis seguintes, permitindo o art. 5º do Anexo II que a letra seja
apresentada no dia do vencimento e não nos dois dias úteis seguintes a essa data.
Entretanto, se a letra não for apresentada no dia do vencimento, esse fato só
acarreta responsabilidade por perdas e danos.
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 16/195
A lei brasileira dispunha que a letra deve ser apresentada para pagamento no dia
do vencimento, ou, sendo este feriado legal, no primeiro dia útil seguinte (art.
20). A reserva feita pelo Governo brasileiro foi, ao que parece, no sentido de ser
mantido esse princípio do Decreto nº 2.044. Mas, deve-se observar que o art. 5º
do Anexo II permite, realmente, a apresentação apenas no dia do vencimento,
como dispunha a lei brasileira, ficando, porém, estabelecido que a não
apresentação nesse dia acarreta apenas responsabilidade por perdas e danos.
Assim sendo, o portador que não apresenta letra no dia do vencimento não
poderá promover o protesto da letra no primeiro dia útil seguinte à apresentação,
como acontece no regime da lei brasileira (art. 44, 3ª al.).
Disso não trata a lei brasileira. E, em tais condições, parece-nos que, para
completar o art. 38 da Lei Uniforme, como permite o art. 5º do Anexo II, terá o
Governo que editar norma especial a respeito. Enquanto tal não acontecer, estará
em vigor, em sua forma primitiva, o art. 38 da Lei Uniforme, apesar da reserva
feita, por falta de legislação supletiva a respeito.
20.4. Reserva ao art. 6º do Anexo II – Câmaras de compensação
O art. 6º do Anexo II estatui:
“A cada uma das Altas Partes Contratantes incumbe determinar, para os efeitos
da aplicação da última alínea do art. 38, quais as instituições que, segundo a lei
nacional, devem ser consideradas câmaras de compensação.”
A última alínea do art. 38, já acima transcrito, dispõe:
“A apresentação da letra a uma câmara de compensação equivale à apresentação
a pagamento.”
Como se vê, não se trata, evidentemente, de reserva, que pressupõe sempre a
derrogação de uma norma da lei para a substituição por outra; é, simplesmente,
um reenvio, fazendo com que o Governo determine quais as instituições que entre
nós são consideradas câmaras de compensação.
20.5. Reserva ao art. 7º do Anexo II – Pagamento em moeda estrangeira
Dispõe o art. 7º do Anexo II:
 
“Pelo que se refere a letras pagáveis no seu território, qualquer das Altas Partes
Contratantes tem a faculdade de sustar, se o julgar necessário, em circunstâncias
excepcionais relacionadas com a taxa de câmbioda moeda nacional, os efeitos da
cláusula prevista no art. 41 relativa ao pagamento efetivo em moeda estrangeira.
A mesma regra se aplica no que diz respeito à emissão no território nacional de
letras em moedas estrangeiras.”
O art. 41, a que se refere o art. 7º do Anexo II, reza:
“Se numa letra se estipular o pagamento em moeda que não tenha curso legal no
lugar do pagamento, pode a sua importância ser paga na moeda do país, segundo
o seu valor no dia do vencimento. Se o devedor está em atraso, o portador pode,
à sua escolha, pedir que o pagamento da importância da letra seja feito na moeda
do país ao câmbio do dia do vencimento ou ao câmbio do dia do pagamento.
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 17/195
A determinação do valor da moeda estrangeira será feita segundo os usos do
lugar do pagamento. O sacador pode, todavia, estipular que a soma a pagar seja
calculada segundo um câmbio fixado na letra.
As regras acima indicadas não se aplicam ao caso em que o sacador tenha
estipulado que o pagamento deverá ser efetuado numa certa moeda especificada
(cláusula de pagamento efetivo numa moeda estrangeira).
Se a importância da letra for indicada numa moeda que tenha a mesma
denominação mas valor diferente no País de emissão e no de pagamento,
presume-se que se fez referência à moeda do lugar de pagamento.”
Pela reserva feita, fica sem vigor a 3ª alínea desse art. 41 que determina que,
sendo estipulado pelo sacador que o pagamento deve ser efetuado em certa
moeda não especificada, não são aplicadas as regras de conversão de moeda
estrangeira em moeda nacional, permitida pelas alíneas anteriores. Sem efeito
aquela alínea 3ª, é admitida a conversão, mesmo que o pagador tenha estipulado
o pagamento efetivo em moeda estrangeira.
Aceitando essa conversão, já existe legislação no Brasil (Dec. nº 23.501, de 27 de
novembro de 1933, que “declara nula qualquer estipulação de pagamento em
ouro, ou em determinada espécie de moeda, ou por qualquer meio tendente a
recusar ou restringir, nos seus efeitos, o curso forçado do mil-réis papel”; Lei nº
28, de 15 de fevereiro de 1935; Lei nº 6.650, de 29 de junho de 1944 etc.).
O art. 25 do Decreto nº 2.044 permitia o pagamento em moeda estrangeira, se
determinado na letra, concordando, assim, com a 3ª alínea do art. 41 da Lei
Uniforme, ora objeto de reserva.
20.6. Reserva ao art. 9º do Anexo II – Apresentação para protesto no próprio dia
do vencimento
Estatui o art. 9º do Anexo II:
“Por derrogação da alínea 3ª do art. 44 da Lei Uniforme, qualquer das Altas Partes
Contratantes tem a faculdade de determinar que o protesto por falta de
pagamento deve ser feito no dia em que a letra é pagável ou num dos dois dias
úteis seguintes.”
Diz a alínea 3ª do art. 44 da Lei Uniforme:
 
“O protesto por falta de pagamento de uma letra pagável em dia fixo, ou a certo
termo de data ou de vista, deve ser feito num dos dois dias úteis seguintes àquele
em que a letra é pagável. Se se trata de uma letra pagável à vista, o protesto
deve ser feito nas condições indicadas na alínea precedente para o protesto por
falta de aceite.”
Como se vê do texto acima transcrito, pela Lei Uniforme não é permitida a
apresentação da letra para protesto no dia do vencimento da mesma e sim num
dos dois dias seguintes a esse vencimento. A lei brasileira, tratando do assunto
(art. 28), também não permitia o protesto no próprio dia do vencimento, e sim no
dia seguinte a esse (“A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou
de pagamento, deve ser entregue ao oficial competente no primeiro dia útil ao
que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento” etc.). Divergia, assim,
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 18/195
a lei brasileira da Lei Uniforme unicamente quanto ao prazo em que a letra
deveria ser apresentada ao oficial para protesto: pela lei brasileira, somente no
primeiro dia útil seguinte ao do vencimento; pela Lei Uniforme, num dos dois dias
úteis seguintes ao vencimento.
Como, em certos países, era permitida a apresentação da letra para protesto no
próprio dia do vencimento, foi admitido, através da adoção da reserva constante
do art. 9º do Anexo II da Convenção, que os Estados contratantes, por
dispositivos próprios, alterassem o disposto na terceira alínea do art. 44 da Lei
Uniforme, para fazer com que a letra, nos países que assim o desejassem, fosse
apresentada para protesto também no dia do vencimento. Isso resolveria a
situação daqueles países que, em suas leis, já continham tal permissão.
Estranhamente, o Governo do Brasil, país em que a lei estava, em parte,
concordante com a Lei Uniforme, ambas não permitindo a apresentação da letra
para protesto no próprio dia do vencimento, adotou a reserva do art. 9º do Anexo
II, procurando, assim, inovar na matéria, dentro do nosso direito, com a
permissão de ser a letra apresentada para protesto no próprio dia do vencimento.
Ao que nos parece, houve engano ou precipitação por parte do Governo brasileiro
quanto à adoção da reserva contida no art. 9º do Anexo II. A tendência atual do
Governo brasileiro é ampliar o prazo para apresentação da letra ao protesto e não
restringi-lo, como acontece com a adoção da reserva, permitindo-a no próprio dia
do vencimento do título. O Projeto de Código de Obrigações de 1965, no art. 984,
§ 2º, declarava que “o protesto deve ser tirado no prazo de cinco dias, contado do
vencimento, para assegurar o direito de regresso”, acrescentando a Exposição de
Motivos (p. XXIX), ao justificar a inovação: “No tocante ao protesto, formalidade
comprobatória da recusa do aceite ou do pagamento (art. 984), amenizou-se o
rigor do direito cambial vigente, autorizando-se seja tirado no prazo de cinco dias
do vencimento, para assegurar o direito de regresso.” É verdade que o Projeto
não falou na data em que o título deve ser apresentado para protesto; mas,
declarando que o protesto deve ser tirado no prazo de cinco dias, contado do
vencimento, é de admitir-se que o dia do vencimento não esteja incluído nesse
prazo.
Nessas condições, ensejou o Governo, com a adoção da reserva (se bem que
acreditemos que não desejasse isso), que a letra passe a ser apresentada a
protesto não apenas num dos dois dias seguintes ao próprio vencimento mas,
igualmente, no mesmo dia do vencimento. Contrariamente à opinião de Mercado
Júnior acreditamos que, com a adoção da reserva, não há necessidade de ser
editada norma especial, por parte do Governo, declarando que a letra pode ser
apresentada para protesto também no próprio dia do vencimento, visto estatuir o
texto do art. 9º que o Governo pode derrogar a 3ª alínea do art. 44 para
determinar (e exclusivamente para isso) que o protesto por falta de pagamento
pode ser feito também no dia do vencimento. Adotando a reserva, ipso facto o
Governo permitiu a apresentação da letra para protesto naquele dia.
Assim sendo, em resultado da adoção da reserva contida no art. 9º do Anexo II,
hoje as letras podem ser apresentadas para protesto ou no próprio dia do
vencimento ou num dos dois dias úteis seguintes a esse, de acordo com o texto
reformado da 3ª alínea do art. 44 da Lei Uniforme.
20.7. Reserva ao art. 10 do Anexo II – Direito de ação do portador contra os
coobrigados na letra
O art.10 do Anexo II dispõe:
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 19/195
“Fica reservada para a legislação de cada uma das Altas Partes Contratantes a
determinação precisa das situações jurídicas a que se referem os nos 2 e 3 do art.
43 e nos 5 e 6 do art. 44 da Lei Uniforme.”
O art. 43 da Lei Uniforme trata do exercício dos direitos de ação do portador
contra os endossantes, sacador e outros coobrigados, no vencimento, se o
pagamento não foi efetuado, e mesmoantes do vencimento, se houver recusa
total ou parcial do aceite (1º). O nº 2 do art. 43, objeto da reserva, estatui que o
portador pode exercer esses direitos de ação contra tais obrigados,
“nos casos de falência do sacado, quer ele tenha aceite, quer não, de suspensão
de pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, ou de ter sido
promovida, sem resultado, execução dos seus bens”.
O nº 3 do citado art. dá idêntico direito ao portador,
“nos casos de falência do sacador de uma letra não aceitável”.
Permitindo a reserva que a legislação nacional regule esses casos, e tendo o
Governo brasileiro aceito assim fazê-lo, não há problemas, no nosso direito, em
relação à falência do aceitante, visto já dizer que o Decreto nº 2.044, art. 19, nº
II, que a “letra é considerada vencida quando protestada – pela falência do
aceitante”. Assim sendo, quando há falência do aceitante, a letra é considerada
exequível contra os obrigados regressivos já que o obrigado principal, com a
superveniência da falência, não pode mais ser executado.
Entretanto, o nº 2 do art. 43 da Lei Uniforme refere-se, também, ao direito de
regresso contra os coobrigados no título, em caso de falência do sacado que não o
aceitou, de suspensão de pagamentos por parte do mesmo e, até, no caso de ter
sido promovida, sem resultado, execução dos seus bens. E no nº 3 do mesmo art.
é dado ao portador direito de regresso contra os coobrigados nos casos de falência
do sacador de uma letra não aceitável. Esses são casos não contemplados na lei
brasileira e que precisam ser regulados por normas especiais, inclusive porque
tratam de matéria nova, como a letra não aceitável, desconhecida do nosso direito
até a adoção da Lei Uniforme, pois no Decreto nº 2.044 a letra não aceitável não
era permitida, taxativamente estatuindo o art. 44, número III:
“Para os efeitos cambiais, são consideradas não escritas:
III – a cláusula proibitiva da apresentação da letra ao aceite do sacado.”
Também nenhum dispositivo existe quanto à permissão do direito de ação contra
os demais coobrigados no caso de falência do sacador.
Assim sendo, contrariamente à opinião de Mercado Júnior, julgamos que persiste,
apenas, de nossa legislação anterior, o princípio do nº II do art. 19 do Decreto nº
2.044, que considera a letra vencida quando protestada por falência do aceitante.
Não havendo em nossa legislação normas sobre o exercício de direito de ação
contra os demais coobrigados em caso de falência do sacado, de suspensão de
pagamentos do mesmo, ainda que não constatada por sentença, de execução de
seus bens, mesmo que sem resultado, e de falência do sacador de letra não
aceitável, devem ser editadas normas legais regulando os direitos do portador
quanto aos demais coobrigados. Enquanto não surgirem essas normas, ficarão em
vigor os dispositivos a respeito dos nos 2 e 3 do art. 43 da Lei Uniforme.
A reserva se refere também aos nos 5 e 6 do art. 44 da Lei Uniforme, que rezam:
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 20/195
“No caso de suspensão de pagamentos do sacado, quer seja aceitante, quer não,
ou no caso de lhe ter sido promovida, sem resultado, execução dos bens, o
portador da letra só pode exercer o seu direito de ação após apresentação da
mesma ao sacado para pagamento e depois de feito o protesto.
No caso de falência declarada do sacado, quer seja aceitante, quer não, bem
como no caso de falência declarada do sacador de uma letra não aceitável, a
apresentação da sentença de declaração de falência é suficiente para que o
portador da letra possa exercer o seu direito de ação.”
Esses dispositivos complementam os nos 2 e 3 do art. 43, esclarecendo o modo
de como pode o portador exercer o seu direito de ação contra os coobrigados. A
eles se aplicam as considerações acima feitas, vigorando da lei brasileira apenas
as regras concernentes à falência do aceitante, as demais necessitando de uma
regulamentação legal, até o aparecimento da qual ficam em vigor os dispositivos
da Lei Uniforme.
20.8. Reserva ao art. 13 do Anexo II – Taxa de juros
Dispõe o art. 13 do Anexo II:
“Qualquer das Altas Partes Contratantes tem a faculdade de determinar, no que
respeite às letras passadas e pagáveis no seu território, que a taxa de juro a que
se refere o nº 2 dos arts. 48 e 49 da Lei Uniforme poderá ser substituída pela taxa
legal em vigor no território da respectiva Alta Parte Contratante.”
O nº 2 do art. 48 da Lei Uniforme estatui que o portador pode reclamar contra
quem exerce o seu direito de ação “os juros à taxa de 6% desde a data do
vencimento”.
No mesmo sentido, o nº 2 do art. 49 declara que a pessoa que pagou uma letra
pode reclamar dos seus garantes. “Os juros de dita soma, calculados à taxa de
6% desde a data em que pagou”.
Possibilita, assim, a reserva, que seja alterada essa taxa, com a adoção da taxa
legal do país. O Governo brasileiro adotou a reserva mas não é necessária a
estipulação de uma nova taxa de juros, visto estar regulada por lei a taxa de juros
legais do país, na base de 11,18 % ao ano (atualizado até 12.11.07 – Fonte:
Banco Central do Brasil – site http://www.bcb.gov.br/selic).
20.9. Reserva ao art. 15 do Anexo II – Perda de direitos ou prescrição
Estatui o art. 15 do Anexo II:
“Qualquer das Altas Partes Contratantes tem a liberdade de decidir que, no caso
de perda de direitos ou de prescrição, no seu território subsistirá o direito de
proceder contra o sacador que não constituir provisão ou contra um sacador ou
endossante que tenha feito lucros ilegítimos. A mesma faculdade existe, no caso
de prescrição pelo que respeita ao aceitante que recebeu provisão ou tenha
realizado lucros ilegítimos.”
O caso, como já assinalou Mercado Júnior, é o de mero reenvio, não de reserva. E
o art. 48 do Decreto nº 2.044 já trata do assunto, estando o mesmo em vigor.
20.10. Reserva ao art. 16 do Anexo II – Provisão e relação fundamental
Diz o art. 16 do Anexo II:
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 21/195
“A questão de saber se o sacador é obrigado a constituir provisão à data do
vencimento e se o portador tem direitos especiais sobre essa provisão está fora do
âmbito da Lei Uniforme.
O mesmo sucede relativamente a qualquer outra questão respeitante às relações
jurídicas que serviram de base à emissão da letra”.
Ainda aqui se trata de reenvio. Como assinala Mercado Júnior, o Decreto nº 2.044
não tem dispositivos expressos sobre o assunto mas o art. 51, referindo-se à ação
cambial, declara que nessa “somente é admissível defesa fundada em direito
pessoal do réu contra o autor”, afastando, assim, a causa do título do âmbito do
direito cambiário. Também os princípios da abstração e da autonomia das
obrigações cambiárias são de aplicar-se ao assunto relativo à reserva feita.
20.11. Reserva ao art. 17 do Anexo II – Prescrição
O art. 17 do Anexo II assim se expressa:
“A cada uma das Altas Partes Contratantes compete determinar na sua legislação
nacional as causas de interrupção e de suspensão da prescrição das ações
relativas a letras que seus tribunais são chamados a conhecer.
As outras Altas Partes Contratantes têm a faculdade de determinar as condições a
que subordinarão o conhecimento de tais causas. O mesmo sucede quanto ao
efeito de uma ação como meio de indicação do início do prazo de prescrição, a
que se refere a alínea terceira do art. 70 da Lei Uniforme.”
A terceira alínea do art. 70 da Lei Uniforme estatui:
“As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador prescrevem
em seis meses, a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele
próprio foi acionado.”
Ainda aqui, se trata de reenvio e não de reserva, regulando a matéria de
interrupção ou suspensão da prescrição normas do direito comum que são
aplicadas à cambial.
A última parte do art. 70 da Lei Uniforme refere-se ao prazoda prescrição da ação
de um endossante contra outro, fixando a lei o período de seis meses para ser
utilizada a ação, contados do dia em que o endossante pagou a letra ou do em
que ele próprio foi acionado.
A lei brasileira não contém dispositivo a respeito, referindo-se apenas ao prazo
prescricional da ação contra o sacador, aceitante e respectivos avalistas e à ação
contra o endossante e seus avalistas – ação que, por não estar explícita, se supõe
ser do portador contra um dos endossantes ou seus avalistas e não do endossante
contra endossante.
 
Assim, a nosso ver, está em vigor a última parte do art. 70 da Lei Uniforme, por
não termos, em nosso direito, dispositivo expresso sobre a espécie.
20.12. Reserva ao art. 19 do Anexo II – Cláusula cambial na nota promissória
Diz o art. 19 do Anexo II:
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 22/195
“Qualquer das Altas Partes Contratantes pode determinar o nome a dar, nas leis
nacionais, aos títulos a que se refere o art. 75 da Lei Uniforme ou dispensar esses
títulos de qualquer denominação especial, uma vez que contenham a indicação
expressa de que são à ordem.”
O art. 75 da Lei Uniforme se refere à Nota Promissória e seus requisitos
essenciais, e o nº 1 desse artigo, que dispõe sobre o nome do título, está assim
expresso:
“A Nota Promissória contém:
I – Denominação “Nota Promissória” inserida no próprio texto do título e expressa
na língua empregada para a redação desse título.”
Como se vê do art. 19 do Anexo II, a reserva permite ser mudado o nome do
título, ou até deixar de mencioná-lo, contanto que o mesmo contenha a indicação
expressa de que é à ordem.
Não atinamos, por isso mesmo, o motivo dessa reserva pelo Governo brasileiro,
visto como nosso Decreto nº 2.044 já dispôs como requisito essencial para a
validade do título a denominação “Nota Promissória” (art. 54, I). Se deseja o
Governo brasileiro que, entre nós, circulem notas promissórias sem esta
denominação, necessário será ser editada norma especial regulando a matéria
pois, assim não o fazendo, continua em vigor o nº 75 da Lei Uniforme, que é,
como foi dito, semelhante ao nº I do art. 54 do Decreto nº 2.044.
Quanto à obrigatoriedade da cláusula de que se trata de um título à ordem, está
ela contida no nº 5 do art. 75 da Lei Uniforme (“o nome da pessoa a quem, ou à
ordem de quem deve ser paga”), semelhante ao nº III do art. 44 do Decreto nº
2.044 (“o nome da pessoa a quem deve ser paga”), faltando, apenas, a cláusula à
ordem. Mas ao nº 5 do art. 75 não é permitido fazer reserva, estando, assim, em
vigor.
20.13. Reserva ao art. 20 do Anexo II – Aplicação de disposições das letras de
câmbio às notas promissórias
Dispõe o art. 20 do Anexo II:
“As disposições dos arts. 1º ao 18 do presente Anexo relativas às letras, aplicam-
se igualmente às notas promissórias.”
Trata-se, apenas, de uma extensão das reservas feitas às letras de câmbio para
as notas promissórias. Tendo esses títulos características gerais muitas vezes
semelhantes, natural é que a reserva feita a dispositivo da lei referente a um
deles se aplique também ao outro, quando possível.
Tais foram as reservas adotadas pelo Governo brasileiro à Lei Uniforme sobre
Letras de Câmbio e Notas Promissórias entre as permitidas nos 23 artigos
contidos no Anexo II da Convenção. O estudioso da matéria, ao perquirir ou
aplicar aquela lei, deve ter em conta as reservas feitas com as quais o Governo
brasileiro discordou, dentro do possível, do texto integral da lei, que entre nós é
aceito com essas alterações.
21. A TRADUÇÃO DA LEI UNIFORME
Como acima dito (supra, nº 11, nota 3), o Brasil, ao adotar a Lei Uniforme, não
fez uma tradução da mesma, publicando como sua, apesar de não ser isso
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 23/195
declarado, a tradução feita em Portugal e por aquele país posta em vigor através
do Dec. nº 25.556, de 30 de outubro de 1936.
Isso se verifica cotejando-se a lei brasileira com a tradução portuguesa: as
palavras são as mesmas, salvo ligeiríssimas modificações, e a própria construção
das frases mostra que a tradução de nossa lei não é brasileira e sim portuguesa.
Já fizemos sentir esse fato através de um trabalho publicado na Revista de Direito
Mercantil, Nova Série, nº 5, e inserto como apêndice na 1ª edição deste livro;
mas o apanhado de expressões mal traduzidas pela lei portuguesa está
incompleto naquele trabalho, existindo muitas outras não mencionadas.
A tradução da lei uniforme adotada em Portugal tem merecido, de mestres
portugueses, severas críticas pela maneira falha com que foi feita. Sendo aquela
tradução adotada no Brasil, é lógico que nossa lei cambiária, segundo o texto
oficial em vigor, está eivada de erros que merecem ser corrigidos, pois alguns
deles desvirtuam completamente o sentido original e verdadeiro da Lei Uniforme.
Além desses defeitos da tradução portuguesa, existem outros, no texto divulgado
no Brasil, oriundos da falta de cuidado na transcrição da tradução portuguesa, ou
até devidos à revisão. Não tendo sido feitas as correções necessárias, é lógico que
tais defeitos prejudicam os intérpretes ou aplicadores da lei que, ignorando os
textos oficiais, em inglês e francês, se atêm ao que foi publicado como certo pelo
Governo brasileiro.
A fim de dirimir essas anomalias, enumeramos, a seguir, os principais defeitos
existentes na tradução portuguesa da Lei Uniforme, inclusive os erros na
publicação do texto, no Brasil, como Lei Brasileira. Esses defeitos, no nosso
entender, estão a merecer correção por parte do Governo.
Cap. I
“Da emissão e forma da letra”
O texto oficial francês, de que foi feita a tradução da lei portuguesa, se refere à
criação e não à emissão da letra de câmbio. Os termos criação e emissão, em
direito cambiário, têm significados diferentes, o primeiro sendo o ato de formalizar
a letra e o segundo o de pô-la em circulação. Deveria, assim, a denominação do
Cap. I ser traduzida por “Da Criação e da forma da letra de câmbio” e não “Da
emissão e forma da letra”.
Art. 1º:
“A letra contém:
1 – a palavra letra inserta no próprio texto do título e...”
O texto original francês estatui:
 
“La lettre de change contient:
1 – la dénomination lettre de change...”
O tradutor português traduziu lettre de change simplesmente por letra. Essa
tradução é correta, no direito português, em virtude de haver o Código Comercial
20/05/2020 UNIP - Universidade Paulista : DisciplinaOnline - Sistemas de conteúdo online para Alunos.
https://online.unip.br/imprimir/imprimirconteudo 24/195
daquele país, de 1888, substituído a expressão letra de câmbio do Código anterior
simplesmente por letra (art. 278). Assim, em Portugal, o termo legal para
exprimir uma letra de câmbio é simplesmente letra, sendo, portanto, exata, para
o direito português, a tradução de lettre de change por letra.
O mesmo, entretanto, não ocorre no Brasil. Entre nós, o título tem o nome de
letra de câmbio, consagrado pelo Decreto nº 2.044, de 31 de dezembro de 1908,
e por todas as leis que se referem ao assunto. Em tais condições, a expressão
equivalente a lettre de change é letra de câmbio e não simplesmente letra. Foi,
portanto, um erro aceitar a palavra letra, certa no direito português para significar
letra de câmbio, em vez de letra de câmbio, que é a designação legal do título no
direito brasileiro. O assunto tem importância dado o formalismo dos títulos de
crédito, sendo sacramental o emprego no título da denominação do mesmo
constante do nº 1 do art. 1º da Lei Uniforme.
Art. 1º:
“2 – O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada”.
O legislador português traduziu a palavra mandat, do texto francês, por mandato.
Esse termo, em francês, na Lei Uniforme, tem sido bastante criticado, visto poder
se confundir com o contrato de mandato, fazendo do sacado um

Continue navegando