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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2019.0001080283 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº 2227727-52.2019.8.26.0000, da Comarca de Atibaia, em que é agravante FERNANDA QUINTANILHA PELOSO SILVEIRA, é agravada FABIANA SALDANHA DE OLIVEIRA. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 19ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores RICARDO PESSOA DE MELLO BELLI (Presidente sem voto), DANIELA MENEGATTI MILANO E JOÃO CAMILLO DE ALMEIDA PRADO COSTA. São Paulo, 18 de dezembro de 2019. MOURÃO NETO Relator Assinatura Eletrônica PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2227727-52.2019.8.26.0000 -Voto nº 19.642 2 Agravo de Instrumento n. 2227727-52.2019.8.26.0000 Voto n. 19.642 Comarca: Atibaia (3ª Vara Cível) Agravante: Fernanda Quintanilha Peloso Silveira Agravada: Fabiana Saldanha de Oliveira MM. Juiz: Rogério Aparecido Correia Dias Processual. Execução de título extrajudicial. Decisão que indeferiu pedido de reconhecimento de fraude à execução. Pretensão à reforma. Fraude à execução. Alegação de fraude consistente no divórcio consensual com partilha de bens no curso da execução simuladamente, a fim de esvaziar o patrimônio da devedora. Indícios de má-fé. Necessidade de prévia intimação do terceiro. Inteligência do art. 792, 4º, do Código de Processo Civil. RECURSO PROVIDO EM PARTE. I Relatório. Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto por Fernanda Quintanilha Peloso Silveira contra a decisão de fls. 200 dos autos da execução que move em face de Fabiana Saldanha de Oliveira, a qual indeferiu pretendida declaração de fraude à execução ao fundamento de que não identificada a hipótese do artigo 792, inciso IV, do Código de Processo Civil. Pugna pela reforma do decisum ao argumento de que “a dívida executada fora constituída na vigência do casamento, momento em que os bens do casal não haviam sido partilhados e que, portanto, metade pertencia a Agravada, e considerando também que o divórcio foi apenas uma farsa para o fim de desviar os bens” (fls. 1/9). Pelo despacho de fls. 224/228 o insigne Desembargador PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2227727-52.2019.8.26.0000 -Voto nº 19.642 3 Hamid Bdine deferiu a antecipação da tutela recursal “a fim de permitir a intimação do terceiro adquirente, até para que, querendo, apresente embargos de terceiro”. Sem contraminuta. II Fundamentação. Nos autos de execução fundada em cheques que move em face da ora agravada, postulou a exequente fosse decretada fraude à execução, declarando-se ineficaz partilha de bens realizada pela executada na ocasião de seu divórcio com terceiro, ao argumento de que “a dívida aqui executada fora constituída na vigência do casamento, momento em que os bens do casal não haviam sido partilhados e que, portanto, metade pertencia a Executada, e considerando também que o divórcio foi apenas uma farsa para o fim de desviar os bens da Executada” (fls. 127/132 dos autos originais da execução, digitais). A decisão agravada indeferiu a pretendida declaração ao fundamento de que não teria sido identificada “a hipótese do art. 792, inciso IV, do Código de Processo Civil” (fls. 200 daqueles autos). Pois bem. Inicialmente, cumpre registrar a nulidade da r. decisão recorrida. O artigo 489, §1º, I, do Código de Processo Civil estabelece que “§ 1º não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida”. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2227727-52.2019.8.26.0000 -Voto nº 19.642 4 A decisão recorrida se limitou a indicar que o pedido formulado não se identifica com a hipótese prevista no art. 792, IV, do CPC sem, contudo, indicar qualquer elemento fático decisivo para tal conclusão. Entretanto, em razão do efeito devolutivo atinente ao presente recurso, não há qualquer prejuízo às partes já que esta Superior Instância tem agora a possibilidade de reanalisar a matéria posta. Passado isso, no mérito, o recurso deve ser parcialmente provido. O art. 792, inciso IV, do Código de Processo Civil prevê que “a alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência”. No caso concreto, a alegação de fraude à execução está pautada na tese de que a agravada, a fim de frustrar a satisfação do débito perseguido, simulou, em junho de 2017, divórcio consensual com seu cônjuge (fls. 6 deste recurso e 137 dos autos de origem) em que lhe remanesceu tão somente as quotas sociais de empresa insolvente (fls. 135 dos autos de origem), ao passo que ao seu marido ficou atribuída a propriedade exclusiva de uma moto, um carro e a totalidade de quotas sociais de outra empresa. Demonstrou a agravante, ainda, que em perfil da rede social facebook, em setembro de 2018, ambos ainda mantinham o status de casado, elemento apto a indicar a fraude perpetrada (fls. 138/140 dos autos de origem). Embora o ato praticado em si não seja de alienação ou oneração, existe a potencialidade de que tenha sido realizado em simulação, tratando-se, na realidade, de transferência do ativo em benefício do cônjuge com a finalidade de fraudar a execução. PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2227727-52.2019.8.26.0000 -Voto nº 19.642 5 Com efeito, existem fortes elementos indicativos de má-fé, porque o marido da executada permaneceu com ao menos dois bens móveis frente à insolvência corroborada pela presente execução infrutífera, além do fato de mais de um ano após o divórcio homologado judicial ainda ostentarem a condição de casados perante a sociedade, por meio das redes sociais. O § 4º do artigo 794 dispõe, no entanto, que “antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias”. De rigor, portanto, a reforma da r. decisão recorrida a fim de permitir a intimação do terceiro adquirente, até para que, querendo, apresente embargos de terceiro, ratificando-se assim a medida recursal de urgência. Essa solução foi adotada por esta C. Câmara em caso fático análogo, a seguir ementado: “Agravo de Instrumento Execução de título extrajudicial Pedido para reconhecimento de fraude a execução Afastamento, por conta da ausência de anotação da penhora no registro do imóvel Existência, porém, de indícios de possível má-fé da adquirente, na condição de ex-mulher do devedor, a considerar-se que, quando da partilha de bens formalizada em divórcio, o processo já tramitava, com citação válida Indício suficiente a autorizar a investigação de possível má-fé Aplicação de orientações advindas de julgamento do REsp repetitivo 956.943/PR - Pertinente a investigação perquirida Recurso provido, para anular o r. decisório impugnado e determinar a intimação da adquirente do bem imóvel constrito, nos termos do artigo 792, § 4º, do NCPC” (Agravo de Instrumento n. 2109385-53.2017.8.26.0000, Rel. Cláudia Grieco Tabosa Pessoa, j. em 18.9.2017). PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Agravo de Instrumento nº 2227727-52.2019.8.26.0000 -Voto nº 19.642 6 III Conclusão. Diante do exposto, dá-se provimento em parte ao recurso, nos termos acima explicitados. MOURÃO NETO Relator (assinatura eletrônica) 2019-12-18T17:23:38+0000 Not specified
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