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Psicoterapia breve de orientação psicanalitica - Eduardo Alberto Braier

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Psicoterapia Breve de 
Orientação Psicanalítica
E d u a r d o A l b e r t o B r a i e r
|
Martins Fontes
o v a i ̂
&
Eduardo Alberto Braier
PSICOTERAPIA BREVE 
DE ORIENTAÇÃO 
PSICANALÍTICA
Tradução: IPEPLAN
'orf\
BIBL'iOt£:'.A c/i 
O
, 4*
% 0 ^
Martins Fontes
São Paulo 2000
c.o, m f
4'k.wrf
, 2 l/ v O I
i ’ r
£.«fa ofo-fl /oi publicada originalmente em espanhol com o título 
PSICOTERAPIA BREVE DE OR1ENTACIÓN PSICOANALÍTICA 
por Ediciones Nueva Vision, Buenos Aires, em 1984. 
Copyright © Ediciones Nueva Vision SAiC, Buenos Aires, 1984. 
Copyright © Livraria Martins Fontes Editora Lida.,
São Paulo. 1986, para a presente edição.
Ia edição
novembro de 1986 
3® edição
março de 1997
2a tiragem
março de 2000
Coordenação da tradução
Maria Risolera de Oliveira Marcondes 
Revisão da tradução 
Maria Esteia Hei der Cavalheiro 
Revisão gráfica 
Eloisa da Silva Aragão 
Ivete Batista dos Santos 
Produção gráfica 
Geraldo Alves 
Paginação/Fotolitos 
Studio 3 Desenvolvimento Editorial
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Braier. Eduardo Alberto
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica / Eduardo Alberto 
Braier : tradução IPEPLAN. - 3a ed. - São Paulo : Martins Fontes, 
1997. - (Psicologia e Pedagogia)
Título original: Psicoterapia breve de orientación psicoanalítica. 
Bibliografia.
ISBN 85-336-0598-6
1. Psicanálise 2. Psicoterapia breve 1. Título. II. Série.
CDD-616.8914
97-1058________________ ____________________ NLM-WM 420
Índices para catálogo sistemático:
I. Psicoterapia breve : Psicanálise : Medicina 616.8914
Todos os direitos para a língua portuguesa reservados à 
Livraria Martins Fontes Editora Ltda.
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 
01325-000 São Paulo SP Brasil 
Tei. (11) 239-3677 Fax (11) 3105-6867 
e-mail: info@martinsfontes.com 
http.il Mww. martinsfontes. com
mailto:info@martinsfontes.com
http://www.martinsfontes.com
r
índice
Prefácio à edição brasileira XV
por Maurício Knobel 
Prefácio 1
1. Introdução 3
Referências bibliográficas 7
2. Resenha histórico-bibliográfica 9
A psicoterapia breve na Argentina 12 
Referências bibliográficas 13
3. Fundamentos teóricos 15
Introdução 15
Pelos caminhos da psicanálise 16 
A psicoterapia individual breve de orientação psicanalítica 
Os fins terapêuticos 18 
A temporalidade 21 
A técnica 21
Resultados e mecanismos terapêuticos 49 
Referências bibliográficas 56
TÉCNICA
4. Entrevistas preliminares 63
Introdução 63
O estabelecimento da relação terapêutica 63 
A história clínica 65 
Avaliação diagnostica eprognostica 65 
Avaliação diagnostica 65 
Papel do psicodiagnóstico 69 
Avaliação prognostica 70 
A devolução diagnóstico-prognóstica 71 
Contrato sobre as metas terapêuticas e a duração do 
tratamento 73
Explicitação do método de trabalho. Fixação das demais 
normas contratuais 76 
Referências bibliográficas 77
5. Planejamento do tratamento 79
Referências bibliográficas 81
6. O tratamento 83
Introdução 83
A relação paciente-terapeuta no tratamento breve 84 
Uma regra básica de funcionamento em psicoterapia 
breve de orientação psicanalítica 89
0 emprego constante do método da associação livre 
(“regra fundamental" da psicanálise) nos 
tratamentos breves 90
Adoção de uma regra básica de funcionamento para 
psicoterapias breves 93 
Uso operativo do método da associação livre nos 
tratamentos breves 93 
Conformação definitiva de uma regra de 
funcionamento para psicoterapias breves 95 
Digressões sobre afocalização e a atenção do terapeuta 95 
Elementos psicoterapêuticos verbais 99 
Generalidades 99
As interpretações na psicoterapia breve de 
orientação psicanalítica 100 
Outras intervenções verbais 117 
Sobre as sessões 118 
Outros recursos terapêuticos 119 
O emprego de psicofármacos 120 
A participação de familiares e/ou pessoas próximas 
do paciente no tratamento 121 
Referências bibliográficas 125
7. Uma sessão de psicoterapia breve 129
A sessão 136
Comentários sobre a sessão 141 
Referências bibliográficas 148
8. Dificuldades do terapeuta para a formação, prática 
e investigação em psicoterapias breves 149 
Introdução 149
A dificuldade de adaptação ao enquadramento da 
psicoterapia breve 151
"Psicoterapia breve 'versus'psicanálise” 151 
Na intimidade da relação terapeuta paciente 152 
Dificuldades ante o término do tratamento 
psicoterapêutico breve 159 
Dificuldades na avaliação dos resultados obtidos em 
psicoterapia breve 159
Desprestígio da psicoterapia breve enquanto indicação 
terapêutica 160
Outras dificuldades do terapeuta ante as terapias breves 161
Conclusões 162
Referências bibliográficas 163
9. A respeito do término do tratamento em psicoterapia 
breve 165
Introdução 165
Reações causadas no paciente pela separação 166 
Reações causadas no terapeuta pela separação 170 
Aspectos técnicos 171
Conclusões 174 
Referências bibliográficas 175
10. Alguns problemas técnicos característicos e riscos 
em psicoterapia breve 177
Referências bibliográficas 182
11. A avaliação dos resultados terapêuticos em 
psicoterapia breve 185
Introdução 185 
Um método de avaliação 186 
A avaliação imediata 187
Alternativas do paciente ao terminar o tratamento 194 
A avaliação mediata 196
Problemas na avaliação dos resultados terapêuticos 200 
Referências bibliográficas 204
12. Indicações da psicoterapia breve 207
Referências bibliográficas 211
13. Dos tratamentos breves 213
Exemplificação do método psicoterapêutico de 
objetivos limitados 213
Dados biográficos de interesse (resumo) 214 
Avaliação diagnostica 215 
A hipótesepsicodinâmica inicial 216 
A s metas terapêuticas 219 
Prognóstico 220 
Planificação do tratamento 220 
Evolução durante o tratamento 223 
Avaliação dos resultados terapêuticos 225 
Considerações finais 228 
O caso da jovem que vomitava às segundas-feiras. 
Aprofundamento no foco 229 
Motivos da consulta 230 
Dados biográficos de interesse 231 
Avaliação diagnostica 232
Hipótese psicodinâmica inicial. Conflitiva focal 232 
Metas terapêuticas 233 
Prognóstico 233 
Planificação do tratamento 234 
Evolução durante o tratamento 235 
Avaliação dos resultados terapêuticos 241 
Considerações finais 245 
Referências bibliográficas 249
14. Formação de terapeutas em psicoterapia breve 251 
Introdução 251 
Aprendizagem teórica 252 
Treinamento psicoterapêutico 253 
Supervisão clínica 254
Algumas condições necessárias para um terapeuta 
em psicoterapias breves 254 
Referências bibliográficas 263
Notas 265
Para Susana, Natacha e Florencia. 
Para meus pais.
“Defrontamo-nos então com o trabalho 
de adaptar nossa técnica às novas 
condições.”
Sigmund Freud, Os caminhos da terapia 
psicanalítica (1919).
Prefácio à edição brasileira
Apresentar ao leitor a edição brasileira do livro de Braier é 
uma honra e um prazer. É também sentir que estamos contribuin­
do para o esforço atual para tornar a psicoterapia acessível a uma 
ampla camada da população que necessita desta modalidade de 
atendimento.
Eduardo A. Braier é um psicanalista argentino, que recebeu a 
formação rigorosa do Instituto de Psicanálise da Associação Psi­
canalítica Argentina.
São poucos, infelizmente, os que conseguem associar o rigor 
da prática psicanalítica a uma consciência social e comunitária. E 
isso não apenas no devaneio intelectual, mas na confrontação do 
dia-a-dia com o paciente que procura ajuda nos hospitais e centros 
de saúde.
Braier procurou oferecer uma contribuição concreta para 
aqueles que buscam ajuda para os problemas emocionais, sem te­
rem acesso a uma técnica complexa, demorada e elitista.
Conhece e reconhece a Psicoterapia Breve e resolve elaborar, 
através do próprio exercício clínico, uma teoria da técnica para a 
sua prática.
Como participante das investigações sobre psicoterapias bre­
ves do Colégio Acta, de 1967, posso constatar o amadurecimento 
das idéias, a precisão dos conceitos, a elaboração cuidadosa das 
técnicas ao longo desses anos bem como a organização e clareza 
com que são agoraapresentados.
X V I
Os fundamentos teóricos de Braier têm origem na psicanáli­
se. Como bom discípulo de Freud, aceita o desafio do mestre e 
procura “adaptar nossa técnica às nossas condições”. De aluno 
fiel converte-se em mestre generoso e nos oferece esta contribui­
ção, esta modalidade de terapia que resulta de uma cuidadosa ava­
liação da técnica psicanalítica.
Estuda minuciosa e cuidadosamente os princípios clássicos e 
a prática da psicanálise e compara-os com a sua própria experiên­
cia neste campo relativamente novo da psicoterapia. Braier é o 
psicanalista cauteloso unido ao terapeuta audacioso, com os pés 
no chão e voltado para o futuro. A linguagem é, por momentos, 
rigidamente psicanalítica, mas reflete sempre uma compreensão 
dinâmica do processo terapêutico, veículo de uma proposta con­
creta e acessível.
Aceita a possível utilização de recursos terapêuticos múlti­
plos e afirma que ninguém é dono da verdade, privilegiando di­
versas e diferentes hipóteses, principalmente dentro da área psica­
nalítica.
A sua técnica criteriosamente elaborada é apresentada com 
metodologia, depois de uma revisão minuciosa dos conceitos de 
Malan e da terapia focal. Inicia com o estudo das entrevistas preli­
minares e, a meu ver, merece especial destaque a afirmação de 
que é necessária uma ampla e minuciosa avaliação diagnostica, 
sem a qual será difícil iniciar um processo psicoterapéutico.
O capítulo cinco, sobre “Planejamento do tratamento”, é 
extremamente rico pelos conceitos que traz. No estudo sobre “O 
Tratamento”, o autor parece não ter esquecido nenhum daqueles 
detalhes que respondem às muitas perguntas que constantemente 
nos fazem os alunos e os estudiosos da técnica. O livro traz muitas 
respostas e sua contribuição didática é inquestionável.
A apresentação detalhada de um caso clínico é uma ilustra­
ção de grande valor didático e um estímulo para o aprendizado e a 
compreensão da proposta do autor. Não disfarça as dificuldades 
que existem para a formação de quem pretende se iniciar na práti­
ca desta modalidade psicoterapêutica e reconhece seus problemas 
técnicos e riscos.
Os difíceis temas da avaliação e das indicações são aborda­
dos em capítulos separados e de grande valor para a pesquisa.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Prefácio à edição brasileira X V II
Os exemplos clínicos ajudam o leitor a entender e a familiari­
zar-se com esta técnica tão concisa, aqui apresentada de modo 
abrangente. O modelo de “ficha clínica para psicoterapias breves” 
que encerra o livro é um guia útil para quem procura sistematizar 
estes estudos.
O país e os leitores de língua portuguesa vão se beneficiar 
com esta obra, que, além de seu valor didático, teórico, prático e 
de pesquisa, é um importante auxiliar clínico.
Considero necessário parabenizar a empresa editora pela 
seleção desta obra. Não se trata de um “transplante artificial”, só 
válido na sua microcultura de origem, e sim de uma ampla e 
imparcial obra teórico-técnica, perfeitamente aplicável em nossa 
cultura, em nossa sociedade.
Braier consegue aqui abrir nossos olhos a uma realidade, ofe­
recer a teoria de uma técnica compreensível dentro do campo psi- 
canalítico e mostrar que a psicoterapia não é necessariamente o 
privilégio de uma classe social, mas deve ser uma possibilidade 
aberta para muitos; mostra também que este mundo conflitante 
necessita cada vez mais de especialistas com conhecimentos 
sérios e profunda sensibilidade social.
A polêmica sobre “investigação” da personalidade ou seu 
“tratamento” é estéril, academicista e, do ponto de vista psicanalí- 
tico, uma atitude resistencial. Não existe pesquisa em psicanálise 
sem assistência a quem procura este contato único e absolutamen­
te singular. Este trabalho é uma mostra do quanto se pode fazer 
quando existe compreensão humana do ser humano e não uma 
escondida fobia ao contato interpessoal criativo e enriquecedor da 
alma.
Campinas, junho de 1986.
PROF. DR. MAURÍCIO KNOBEL
Professor Titular de Psiquiatria Clínica da FCM da UNICAMP 
Professor Titular de Processos Psicoterápicos do Dept° de 
Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC Campinas.
Prefácio
Meu interesse pela psicoterapia breve nasceu em meus anos 
de residente em Psiquiatria (1968-71), primeiro no Serviço de 
Psicopatologia do Hospital Pinero e, depois, no serviço de mesmo 
nome no Hospital Ramos Mejía. No trabalho hospitalar, defron- 
tei-me com o problema ocasionado pela necessidade de propor­
cionar assistência psiquiátrica a grandes massas da população. 
Isso motivou minha apresentação a concurso para obter uma bolsa 
municipal que era oferecida pela Secretaria de Saúde Pública de 
Buenos Aires, que me proporcionou uma experiência clínica de 
um ano na investigação de terapias breves, no segundo dos servi­
ços citados (1971-72). Desde então, e concomitantemente à mi­
nha dedicação a terapias prolongadas, não abandonaria mais o 
.estudo e a investigação das técnicas de objetivos e tempos limita­
dos, sempre partindo do corpo teórico-psicanalítico. Minha práti­
ca em tais técnicas, além da exercida em consultório particular, 
inclui uma passagem de aproximadamente 2 anos pelo CEMEP 
(Centro de Psicologia Médica), como terapeuta da instituição 
(1972-73). A isto se somou o poderoso estímulo que significou o 
intercâmbio científico com colegas, o trabalho docente que venho 
exercendo sobre o assunto em hospitais, instituições e em nível 
privado e, mais recentemente, o enorme enriquecimento que me 
proporcionou a formação na Associação Psicanalítica Argentina. 
Todos esses fatos me animaram, finalmente, a empreender a ár­
dua tarefa de escrever este livro. Minha intenção é de nele expor
2 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
com clareza principalmente as experiências e idéias pessoais que 
venho acumulando até o momento, complementadas por uma 
revisão crítica, que de nenhum modo pretende ser completa, da 
bibliografia existente sobre o tema.
Como sempre ocorre, certos pontos despertaram em mim um 
interesse maior que outros, motivando alguns desenvolvimentos. 
Entre eles se encontram: os fundamentos teóricos, a regra de fun­
cionamento do paciente, os tipos de atenção do terapeuta, as difi­
culdades do terapeuta para a formação, a prática e a investigação 
em psicoterapias breves, o termino do tratamento, alguns incon­
venientes técnicos e riscos a eles relacionados e os problemas 
concernentes à avaliação dos resultados terapêuticos.
Quero expressar meus mais sinceros agradecimentos a todos 
aqueles que de uma maneira ou de outra me ajudaram nesse em­
preendimento, especialmente:
Ao Dr. Luiz Allegro, que realizou um leitura crítica dos ori­
ginais e, além disso, me incentivou constantemente, assim como 
ao Dr. Marcos Guites, que leu o capítulo 13.
Ao Dr. Héctor J. Fiorini, pelo generoso estímulo e pelas su­
gestões que pessoalmente me ofereceu durante anos de frutíferas 
discussões sobre as psicoterapias. Boa parte de meu entusiasmo 
pelo tema deve-se à leitura de seus excelentes trabalhos.
Ao Sr. Ifim Kantor, a quem coube a enorme tarefa, realizada 
com carinho e esmero, de transcrever meus ilegíveis manuscritos.
A Dra. Blanca R. Montevecchio, que supervisionou os trata­
mentos breves que efetuei durante minha investigação no Serviço 
de Psicopatologia do Hospital Municipal J. M. Ramos Mejía.
Ao Dr. Moisés Kijak e a Elisabeth G. De Garma, que foram 
meus analistas.
Aos colegas membros dos diferentes grupos de estudo por 
mim coordenados, principalmente os seguintes: doutores Víctor 
Feder, Alejandro Puente, Alba Brengio, Delia Saffoires, Mónica 
Noseda, Isaías Finkelstein, Ricardo Frigerio; licenciados Jorge A. 
Brener, Aída Núnez, Claudia H. De Zanoto, Silvia S. De Fin­
kelstein e Suzana Boz.
A meus pacientes.
Buenos Aires, agosto de 1980.
EDUARDO A. BRAIER
1. Introdução
As chamadas psicoterapias breves surgiram essencialmente 
como uma resposta ao problema assistencial colocado pela massa 
cada vez maior de população consultante.Em nosso meio, os inci­
pientes serviços de psicopatologia hospitalar, os centros de saúde 
mental, as instituições privadas e os hospitais psiquiátricos tive­
ram, em determinado momento, e de forma similar a outros paí­
ses, de implementar técnicas breves. Da mesma maneira, a seu 
tempo, tinham incorporado, com idêntica finalidade, o uso de 
modernos psicofármacos e da psicoterapia grupai, já que os tera­
peutas, em quantidade insuficiente, não conseguiam cobrir a 
demanda de pacientes. As terapias de curto prazo, individuais e 
grupais, permitiram ampliar a assistência psiquiátrica, propósito 
este que, por outro lado, não era compatível com o emprego de 
tratamentos longos. As limitações econômicas de muitos que 
acorrem em busca de ajuda terapêutica foram e são, sem dúvida, 
um fator que vem exercendo uma influência decisiva no desenvol­
vimento e na difusão das terapias breves, naturalmente mais aces­
síveis às pessoas de poucos recursos. Os objetivos terapêuticos 
deveríam, então, centrar-se na superação de sintomas e incidentes 
agudos ou situações perturbadoras atuais, que se apresentam 
como prioritárias por sua urgência e/ou importância.
Esses procedimentos terapêuticos vão alcançando, de um 
modo gradual, novos traços distintivos, o que nos conduz, de ime­
diato, ao problema de sua denominação. Os diversos nomes que
4 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
recebem revelam as tentativas de tomar precisas algumas daquelas 
que se consideram suas principais características (embora indu­
zam, em definitivo, a aumentar a confusão reinante), as quais, é 
conveniente citar para poder, desde já, deixar claro a que situações 
e métodos psicoterápicos vou referir-me ao longo desta obra.
Em primeiro lugar cabe examinar a denominação psicotera­
pia breve, que por ser, sem dúvida, a mais difundida e imposta 
pelo uso, empregamos aqui com muita freqüência1. Apesar disso, 
há que se admitir que não é a mais adequada: em princípio porque 
essas terapias são breves do ponto de vista do terapeuta, e quando 
sua duração é comparada com a do tratamento psicanalítico, em 
geral mais prolongado (1), mas podem não parecer breves por 
exemplo para o paciente. Acima de tudo, tal denominação é dis­
cutível, já que uma psicoterapia pode ser de duração certamente 
prolongada - um ano ou mais - mas ter as metas limitadas e as 
características técnicas próprias e essenciais desses procedimen­
tos (focalização, planejamento, etc.), que as distinguem da psica­
nálise corrente e de outras psicoterapias.
As terapias a que fazemos referência também são conhecidas 
como psicoterapias de tempo limitado, denominação essa que 
novamente alude à sua temporalidade, mas que denota não só bre­
vidade, como também a fixação de um limite de tempo para o tra­
tamento, em virtude do qual este passa a ter, geralmente c de ante­
mão, uma data de finalização preestabelecida. Tampouco este é 
um fato necessariamente constante nesses tratamentos.
Outra denominação a que se costuma recorrer, a de psicote­
rapias de objetivos limitados, é, a meu ver, muito apropriada, já 
que se refere a um elemento importante e que, diferentemente de 
outros elementos, sempre se faz presente em tais terapias, que por 
conseguinte poderão ser concomitantemente de tempo limitado 
ou não.
Pode-se também empregar a denominação psicoterapia bre­
ve de orientação psicanalítica, que dá título a este livro, e que 
cscolhi porque me interessa explicitar que se trata de uma terapia 
originada nas teorias de psicanálise e, assim, estabelecer uma di­
ferença com respeito aos tratamentos breves alicerçados em ou­
tras orientações terapêuticas (terapias comportamentais, análise 
transacional, etc.).
Introdução 5
Alguns autores preferem designá-las com nomes que servem 
para destacar algumas de suas peculiaridades técnicas e que suge­
rem diferenças com relação às da psicanálise clássica: terapias 
planejadas (3) ou focais (4), por exemplo.
Entre nós Szpilka e Knobel propuseram denominá-las psico­
terapias não-regressivas, para acentuar outro aspecto importante 
delas (5).
A chamada psicoterapia de emergência concerne, no meu 
entender, à forma de psicoterapia rápida ou breve que partilha 
apenas algumas das características e dos métodos de que nos ocu­
pamos. Refere-se, particularmente, a uma terapia de urgência em 
“situações especiais de crise e exigência” (2), tais como episódios 
de natureza psicótica (tentativas de suicídio, delírios agudos, 
etc.). Em tais situações, com ffeqüência prevalece a necessidade 
de estancar a crise, obtendo-se um alívio sintomático, de modo 
que na maioria dos casos deve-se postergar a busca.de insight no 
paciente até um segundo momento terapêutico, já que de imediato 
suas condições egóicas não costumam permiti-lo.
Nesta obra referir-me-ei, sobretudo, a uma psicoterapia de 
objetivos limitados, basicamente interpretativa ou de insight, que 
deve ser empregada em indivíduos com capacidade egóica sufi­
ciente para serem tratados por meio dela,
É necessário afastar a absurda antinomia que alguns preten­
dem criar entre a psicanálise e a P.B.. Ambos os métodos constam 
de objetivos terapêuticos, indicações clínicas e técnicas diferen­
tes. É perigoso incorrer no erro de pensar que a psicanálise é o 
único tratamento válido realizável, como também no de superva- 
lorizar os alcances da P.B., atribuindo-lhes resultados espetacula­
res. (De minha parte, longe de querer apresentar o tratamento 
breve como uma panacéia, tratarei aqui não só de suas possibili­
dades, mas também, e com certo detalhe, de suas limitações e ris­
cos.) É melhor dizer que é possível instrumentar uma terapêutica 
breve baseada no esquema conceituai da psicanálise, o que signi­
ficará uma proveitosa aplicação de suas teorias em situações nas 
quais não é possível utilizar a técnica psicanalítica corrente, como 
por exemplo, no ambiente hospitalar. Além disso, considero que 
não devemos deixar de atender aos numerosos pacientes que, 
tanto no meio hospitalar como no consultório particular, não
6
podem, por motivos diversos (econômicos, mas também de resis­
tência, ou por sua idade avançada, etc.) ser abordados através de 
um tratamento psicanalítico, exigindo que adaptemos nossos 
recursos técnicos às possibilidades e necessidades do paciente, 
sem esperar que sejam eles quem devam amoldar-se a um único 
método terapêutico. Caso isso ocorresse, correriamos o risco de 
tomar por intratáveis indivíduos que simplesmente - e frequente­
mente só em caráter transitório - não estão em condições de ser 
analisados. Cabe acrescentar que em muitas ocasiões uma terapia 
de objetivos e tempo limitados pode ser o passo inicial em direção 
a um posterior tratamento analítico, convertcndo-se, num primei­
ro momento, na mais conveniente, ou ainda, na única abordagem 
terapêutica viável, que poderá trazer, como resultado, uma 
mudança nas condições do paciente que o torne apto para efetuar, 
em seguida, uma psicoterapia prolongada.
A superação das diversas dificuldades dos profissionais para 
encarar a formação, a prática e a investigação em P.B. surge clara­
mente como premissa. De um tempo para cá, já são muitos os que 
falam na importância do emprego deste método terapêutico, mas 
são poucos os que preconizam e aplicam procedimentos técnicos 
apropriados ao contexto em que tal método cabe. Também chama 
a atenção a escassa participação dos analistas de maior experiência 
na investigação dessas terapias. Pessoalmente, interessei-me em 
obter uma compreensão profunda de algumas das motivações 
inconscientes do terapeuta que subjazem a suas dificuldades para 
ajustar-se ao enquadramento requerido pela P.B.
Constitui uma necessidade premente contar com uma teo­
ria da técnica da P.B. estruturada com mais solidez, que possibi­
lite um ensino adequado de seus princípios básicos (sem que tal 
afirmação desmereça o reconhecimento da existência de contri­
buições de decisiva importância sobre o tema, que enriqueceram 
profundamente nossa visão dele). Orientomeu trabalho em direção 
a essa meta, tentando conceituar uma modalidade terapêutica 
que reconhece suas fontes no corpo teórico da psicanálise, mas 
que, segundo creio, se diferencia nitidamente de sua técnica. 
Acima de tudo, procurei sistematizar os sucessivos passos do 
processo terapêutico e ensaiei um critério de avaliação dos re­
sultados.
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Introdução 7
Também serão bem-vindas a realização e a transmissão de
novas experiências clínicas organizadas em P.B., que possibilitem 
validar ou questionar as concepções teóricas sustentadas atual­
mente.
Por último, desejo esclarecer que nesta obra irei ocupar-me 
especialmente do que tange à psicoterapia individual breve em 
pacientes adultos e adolescentes, ainda que muitos dos conceitos 
apresentados sejam extensivos ao tratamento de crianças e aos 
procedimentos grupais (psicoterapia breve de casal, grupo fami­
liar, etc.).
Referências bibliográficas
1. Alexander F., “Eficacia dei contacto breve”, em Alexander, F e 
French, T., Terapêutica psicoanalítica, Paidós, Buenos Aires, 1965, 
cap. IX.
2. Bellar, L. e Swall, L., Psicoterapia breve y de emergencia, Pax- 
México, México, 1969.
3. French, T., “Planificación de la psicoterapia”, em Alexander, F. e 
French, T., ob. cit., em 1, cap. VII.
4. Malan, D. H., A Study of Brief Psychotherapy, Tavistock, Londres; 
Charles Thomas, Springfield, Illinois, 1963. (Versão castelhana: La 
psicoterapia breve, Centro Editor de América Latina, Buenos Aires, 
1974.)
5. Szpilka, J. e Knobel, M., “Acerca de la psicoterapia breve”, Coloquio 
Acta 1967: Psicoterapia breve, Acta psiq. psicol. Amér, Lat., vol. 
XIV, n°2, Buenos Aires, junho de 1968.
2. Resenha histórico-bibliográfica
Passaremos em revista os principais acontecimentos e obras 
que marcaram a evolução da terapêutica breve de orientação psi­
canalítica.
Devo começar tal revisão assinalando que os primeiros tra­
tamentos efetuados pelo próprio Freud na etapa pré-analítica e no 
começo da analítica eram, de certo modo, terapias breves, pois 
duravam só alguns meses. O fundador da psicanálise se achava 
empenhado, inícialmente, em buscar curas rápidas, a princípio 
dirigidas para a solução de determinados conflitos e sintomas1.
Freud atendeu a Gustav Mahler, com resultados satisfatórios, 
durante algo mais de... quatro horas, a maior parte das quais trans­
correram enquanto ambos passeavam por Leyden (9). Outro trata­
mento célebre, o do Homem dos ratos, que conseguiu bons resul­
tados, e cujo histórico clínico foi publicado em 1909 (5), durou 
tão-somente 11 meses.
Gradualmente e com os progressos da psicanálise, o trata­
mento foi-se tornando mais prolongado. Incidem fatores como a 
resistência, a sobredeterminação dos sintomas, a necessidade de 
elaboração, os fenômenos transferenciais, etc. (12).
O desenvolvimento dos acontecimentos mais relevantes 
pode ser resumido como se segue:
1914: no histórico clinico do Homem dos lobos, redigido em 
1914 e editado em 1918 (7j, Freud disse que fixou pela primeira
10 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
vez uma data para o término da análise, numa tentativa de acelerar 
o desenvolvimento do processo terapêutico2.
1916: Ferenczi menciona, pela primeira vez, a necessidade 
de uma psicoterapia breve, sendo repreendido por Freud (13 )3.
1918: em uma conferência pronunciada em Budapeste e edi­
tada no ano seguinte (“Os caminhos da terapia psicanalítica” [8]), 
Freud propõe uma psicoterapia de base psicanalítica para respon­
der à necessidade assistencial da população, e sugere que se com­
binem os recursos terapêuticos da análise com outros métodos. 
Tal proposta é de importância decisiva para fundamentar, poste­
riormente, a configuração de uma terapia breve de orientação psi­
canalítica.
1920-1925: S. Ferenczi e O. Rank realizam tentativas para 
abreviar a cura psicanalítica. Escrevem conjuntamente um livro, 
no qual abordam o tema (3), recebendo duras críticas de Freud.
Ferenczi propõe o chamado “método ativo”, que logo aban­
donará. Rank, por sua vez, defende a possibilidade de um trata­
mento analítico breve baseado na tentativa de superar, em poucos 
meses de análise, o trauma do nascimento, que considera o nódulo 
da neurose.
1937: em “Análise terminável e interminável”, Freud assina­
la que as tentativas de abreviar a duração da análise que consome 
muito tempo não requerem justificação “e se baseiam em impera­
tivas considerações de razão e de conveniência” . Em várias passa­
gens desse artigo sublinhará que o encurtamento da duração da 
análise é um fato desejável. Mas também fustigará as tentativas 
que Rank efetuara nessa direção desde 1924, baseadas em sua 
concepção a respeito do trauma de nascimento. O mesmo fará em 
relação a Ferenczi.
Neste, um de seus últimos trabalhos, Freud recorda que, para 
acelerar o tratamento analítico no caso do Homem dos lobos, re­
correu ao expediente de fixar-lhe um limite de tempo. Acrescenta 
que posteriormente também tomou essa medida em outros casos, 
dizendo a respeito dela: “(...) é eficaz, contanto que se faça no 
momento oportuno. Mas não se pode garantir o cumprimento total 
da tarefa. Pelo contrário, podemos ter certeza de que, enquanto 
parte do material se tornará acessível sob a pressão dessa amea­
ça, outra parte ficará guardada e enterrada como estava antes, e
Resenha histórico-bibliográfica 11
perdida para nossos esforços terapêuticos. Porque, uma vez que o 
analista tenha fixado o limite de tempo, não pode prolongá-lo; de 
outro modo, o paciente perdería a fé que nele deposita” (6).
1941: o Instituto de Psicanálise de Chicago organiza um con­
gresso nacional sobre psicoterapia breve. Aumenta o interesse 
pelo tema nos Estados Unidos.
1946: aparece Psychoanalytic Therapy (Ronald Press, Nova 
York), de F. Alexander e T. French e colaboradores do Instituto de 
Psicanálise de Chicago, obra que inicia uma nova e decisiva etapa 
no campo das técnicas breves. Os autores recolocam a necessida­
de de abreviar o tratamento analítico e de efetuar terapias breves 
com uma compreensão psicanalítica. Incluem conceitos sobre 
planejamento da psicoterapia, flexibilidade do terapeuta, manejo 
da relação transferenciai e do ambiente, utilidade de ressaltar a 
realidade externa e eficácia do contato breve. Tomam como ponto 
de partida uma experiência clínica na qual intervém um número 
importante de terapeutas experientes. O livro descreve numerosos 
históricos clínicos (1).
1963: publica-se A Study o f Brief Psychotherapy, de D. H. 
Malan (Tavistock Publications Limited, Londres). A obra descreve 
uma experiência clínica de investigação baseada em tratamentos 
de curto prazo, realizada por terapeutas da Clínica Tavistock, de 
orientação kleiniana. Nela se detalha a técnica focal. O autor acen­
tua a conveniência de interpretar a transferência de maneira exaus­
tiva dentro da terapia breve (em acentuada dissidência com muitos 
outros), assim como a necessidade de trabalhar a separação entre 
paciente e terapeuta, causada pelo término do tratamento. Além 
disso desenvolve, brilhantemente, um método psicodinâmico para 
avaliar os resultados terapêuticos. O livro oferece uma detalhada 
apresentação de 19 casos tratados com psicoterapia individual bre­
ve, que inclui os acompanhamentos efetuados. A supervisão dos 
tratamentos esteve a cargo de M. Balint (12).
1965: aparece Short-Term Psychotherapy, obra compilada 
por L. Wolberg (Grune and Stratton, Inc., Nova York), que contém 
trabalhos de Avnet, Masserman, Hoch, Rado, Alexander, L. Wol­
berg, Kalinowsky, Wolf, Harrower e A. Wolberg. Sobressai o de 
L. Wolberg, a respeito da técnica da psicoterapia breve (16).
12 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Também nesse ano L. Bellak e L. Swall publicam Emergency 
Psychotherapy and Brief Psychotherapy (Grune and Stratton, No­
va York). Os autores incluem diversos temas, entre os quais se 
destacam: o enfoque do tratamento à luz da psicologia psicanalíti­
ca do ego, a aplicaçãoda teoria da aprendizagem, o insight e a ela­
boração (2).
1971: em TheBriefer Psychotherapies (Brunner Mazel, Inc., 
Nova York), Small realiza uma extensa compilação das idéias de 
numerosos autores sobre o tema (14).
A psicoterapia breve na Argentina
1967: tem lugar o Colóquio Acta 1967: Investigações sobre 
psicoterapia breve, que apresenta valiosas contribuições. Partici­
pam, entre outros, R. J. Usandivaras, J. 1. Szpilka, M. Knobel, A. 
E. Fontana, G. S. de Dellarossa, H. Ferrari, A. G. Marticorena e 
A. Dellarossa (15). Esse colóquio é um testemunho do crescente 
interesse que começa a se manifestar, em nosso meio, pelo proble­
ma das psicoterapias (individuais ou grupais) em serviços psi­
quiátricos - dc recente criação - de hospitais gerais, hospitais 
psiquiátricos e instituições privadas, que oferecem tratamentos a 
honorários reduzidos em razão da demanda cada vez maior de 
assistência psicológica por parte da população. Empregam-se tra­
tamentos de duração limitada com base psicanalítica, mas a ativi­
dade é desorganizada e confusa e não se apresentam, ainda, maio­
res perspectivas de instrumentalizar técnicas suficientemente sis­
tematizadas e coerentes.
1970: aparece o primeiro livro de autor argentino, exclusiva­
mente consagrado ao tema: Psicoterapia breve, de H. Kesselman, 
com prólogo de J. Bleger. O autor, utilizando o esquema referen­
cial de Pichon-Rivière aborda, entre outros aspectos, o planeja­
mento e as técnicas de mobilização, e assinala algumas caracterís­
ticas essenciais das interpretações a serem utilizadas no trabalho 
terapêutico (10).
1973: publica-se Teoria y técnica de psicoterapias, de H. J. 
Fiorini, amplo e valioso estudo sobre o tema, no qual se destacam 
especialmente o capítulo referente à primeira entrevista em psico-
Resenha histórico-bibliogràfica 13
terapia breve e o que oferece um modelo teórico do foco terapêu­
tico (4).
1975: Psicoanálisisypsicoterapia breve en la adolescência*, 
de J. C. Kusnetzoff, aborda, em sua segunda parte, o tema da psico­
terapia individual e grupai breve do adolescente. É de especial 
interesse o capítulo destinado à teoria da comunicação e à psicote­
rapia breve, assim como a inclusão da família no tratamento (11).
1980: em nosso meio atualmente é indiscutível a necessidade 
de se recorrer a psicoterapias menos custosas que a análise, tanto 
em tempo como em dinheiro, a fim de responder à demanda de 
um número cada vez maior de indivíduos. A aplicação das chama­
das psicoterapias breves se difunde ostensivamente, mas ainda 
não se lhes reconhece um status teórico, que, no entanto, começa 
a se delinear, sendo relativamente escassas as investigações que 
têm suscitado.
Referências bibliográficas
1. Alexander, F. e French, T., Terapêutica psicoanalítica, Paidós, Bue­
nos Aires, 1965.
2. Bellak, L. e Small, L., Psicoterapia brevey de emergencia, Pax- Mé­
xico, México, 1969.
3. Ferenczi, S. e Rank, O., The Development of Psychoanalysis, Zurich 
International Press, Leipzig e Viena, 1924.
4. Fiorini, H. J., Teoriay técnica de psicoterapias, Nueva Vision, Bue­
nos Aires, 1973.
5. Freud, S., “Análisis de un caso de neurosis obsesiva”, em O.C., Bi­
blioteca Nueva, Madri, 1948, t. II.
6 . __“Análisis terminable y interminable”, em O.C., Biblioteca Nue­
va, Madri, 1968, t. III.
7 . __ “Historia de uma neurosis infantil”, em O. C., ob. cit. em 5, t. II.
8 . __“Los caminos de la terapia psicoanalítica”, em O. C., ob. cit., em
5, t. II.
9. Jones, E., “Vida y obra de Sigmund Freud”, Nova, Buenos Aires, 
1960, t. II.
* Traduzido para o português sob o título Psicanálise e psicoterapias breves na 
adolescência, tradução de Patrícia M. E. Cenacchi, edição brasileira adaptada e revis­
ta pelo autor, Rio de Janeiro, Zahar, 1980. (N. do T.)
14 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
10. Kesselman, H., Psicoterapia breve, Kargieman, Buenos Aires, 1970.
11. KusnetzofF, J. C., Psicoanálisis y psicoterapia breve en la adoles­
cência, Kargieman, Buenos Aires, 1975.
12. Malan, D. H., A Study of Brief Psychotherapy, Tavistock, Londres, 
Charles Thomas, Springfield, Illinois, 1963 (Versão castelhana: La 
psicoterapia breve, Centro Editor de América Latina, Buenos Aires, 
1974).
13. Rey Ardid, R., Prólogo al tomo III de S. Freud, O.C., ob. cit. em 6, 
1968.
14. Small, L., Psicoterapias breves, Granica, Buenos Aires, 1972.
15. Usandivaras, R. J. e outros, Coloquio Acta 1967: Psicoterapia bre­
ve, Actapsiq. psicol. Amér. Lat., vol. XIV, n° 2, Buenos Aires, junho 
de 1968.
16. Wolberg, L. e col., Psicoterapia breve, Gredos, Madri, 1968.
3. Fundamentos teóricos'
Introdução
Os problemas de teoria em terapias breves são numerosos e 
comprometem o seu reconhecimento dentro do panorama psico- 
terapêutico.
Atualmente creio que podemos encontrar contribuições mui­
to valiosas ao tema, mas, se há pontos de coincidência entre os 
diversos autores no que concerne a uma teoria do processo, tam­
bém é certo que paralelamente ainda reina muita confusão entre 
os leitores, talvez provocada por uma verdadeira miscelânea de 
conceitos teóricos que nem sempre podem articular-se entre si. 
Como assinala Fiorini, falta uma estrutura unitária que suste 
esses procedimentos (13). E para sua obtenção que devemos diri­
gir nossos esforços.
Gostaria de assinalar uma carência particularmente notória, 
que é a de uma concepção mais ou menos definida e aceita quanto 
aos mecanismos terapêuticos atuantes nessas terapias.
Neste capítulo me proponho a discorrer sobre alguns temas 
cuja recolocação considero de importância decisiva dentro da ten­
tativa de configurar um marco conceituai para as psicoterapias de 
objetivos e tempo limitados. Além disso, procurarei, ao longo 
desta obra, expor o marco conceituai que venho adotando pes­
soalmente, e ao qual pretendo dotar da necessária coerência, atri­
buto - disso tenho consciência - nada fácil de alcançar. Meu pon-
16 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
to de partida, como o de muitos investigadores, são as teorias psi- 
canalíticas. Na verdade, não encontro motivos para prescindir de 
teorias tão valiosas como a do inconsciente, do conflito psíquico, 
da sobredeterminação, dos mecanismos defensivos, da gênese dos 
sonhos, das séries complementares, da estrutura do aparelho psí­
quico, da transferência, das resistências e de tantas outras que nos 
permitem compreender a problemática do paciente e do processo 
terapêutico2. Porém, o que realmente terá de ser modificado é a 
técnica, que por múltiplas razões não poderá continuar sendo a 
mesma que a empregada em psicanálise, devendo ajustar-se ao 
contexto próprio desses procedimentos. Incluo-me assim entre 
aqueles que propõem uma psicoterapia breve de orientação psica­
nalítica, mas entendendo que deve ser algo tecnicamente muito 
diferente de uma “psicanálise breve”.
Pelos caminhos da psicanálise
Minha concepção da terapêutica breve é fiel aos princípios 
básicos formulados por Freud num trabalho que adquire signifi­
cação especial dentro do tema que nos ocupa e que talvez não 
tenha sido suficientemente valorizado. Refiro-me à conferência 
pronunciada em Budapeste em 1918, e publicada um ano depois 
sob o título de “Os caminhos da terapia psicanalítica” (26). Já 
naquela época, Freud adiantou-se a fatos que sobreviriam poste­
riormente, entre os quais hoje podemos incluir o aparecimento 
dos tratamentos breves como uma tentativa de possibilitar a assis­
tência psicológica a um número maior de pessoas. Muitos dos 
pensamentos expressos naquela ocasião vigoram ainda hoje. Na 
parte final do trabalho, Freud assinala a necessidade de no futuro 
os psicanalistas adotarem medidas para estender o tratamento psi- 
coterapêutico a grandes massas da população. Reconhece que se 
tropeça em inconvenientes para consegui-lo, derivados de carac­
terísticas próprias do método psicanalítico, que limita a atenção a 
poucos indivíduos, e de fatores de ordem econômica. Dirigindo- 
se a seus colegas psicanalistas, Freud disse textualmente:“Qui­
sera examinar com os senhores uma situação que pertence ao 
futuro e que talvez lhes pareça fantástica. Mas, a meu ver, merece
Fundamentos teóricos 17
que acostumemos a ela nosso pensamento. Sabem muito bem que 
nossa ação terapêutica é bastante restrita. Somos poucos, e cada 
um de nós não pode tratar mais do que um número limitado de 
doentes por ano, por maior que seja nossa capacidade de trabalho. 
Diante da magnitude da miséria neurótica de que padece o mundo 
e de que quiçá pudesse não padecer, nosso rendimento terapêutico 
é quantitativamente insignificante. Além disso, nossas condições 
de existência humana limitam nossa ação às classes abastadas da 
sociedade.” Mais adiante antecipa a criação de estabelecimentos 
assistenciais estatais, nos quais os psicanalistas tratem gratuita­
mente dos pacientes por meio da psicoterapia: “Por outro lado, é 
possível prever que algum dia chegará a vez de despertar a cons­
ciência da sociedade, e adverti-la de que os pobres têm tanto 
direito ao auxílio do psicoterapeuta como ao do cirurgião, e de 
que as neuroses ameaçam tão gravemente a saúde do povo como a 
tuberculose, não podendo ser seu tratamento tampouco abandona­
do à iniciativa individual. Criar-se-ão, então, instituições módicas 
para as quais serão designados analistas encarregados de conser­
var a resistência e o rendimento de homens que, abandonados a si 
mesmos, se entregariam à bebida, de mulheres prestes a sucumbir 
sob o peso das privações e de crianças cujo único porvir é a delin­
quência ou a neurose. O tratamento seria, naturalmente, gratuito.” 
Assinala logo a seguir a necessidade de se modificar, nessas cir­
cunstâncias, a técnica psicanalítica, o que me parece da maior 
importância, pois hoje em dia muitos analistas resistem a fazê-lo, 
mostrando-se “mais realistas que o rei” . “Caberá a nós, então, o 
trabalho de adaptar nossa técnica às novas condições” (o grifo é 
meu). Em seguida expõe, ao contrário do que alguns poderíam 
supor, seu ponto de vista a respeito do uso de diferentes recursos 
terapêuticos em tais casos, em lugar de preconizar, de modo ex­
clusivo, o método psicanalítico (o que endossaria o critério que 
hoje sustenta a multiplicidade de elementos terapêuticos nas tera­
pias breves, especialmente nas que ocorrem em instituições assis­
tenciais): “Na aplicação popular de nossos métodos talvez tenha­
mos de misturar ao ouro puro da análise o cobre da sugestão dire­
ta; também a influência hipnótica poderia aqui voltar a ter lugar 
como no tratamento das neuroses de guerra”3 ainda que, de ime­
diato, sublinhe que os componentes básicos de tais tratamentos
18 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
deverão provir da psicanálise (isso, como tudo o que disse ante­
riormente, também se converteu em realidade, já que atualmente 
se conta com a P.B. de orientação psicanalítica): “Mas, quaisquer 
que sejam a estrutura e a composição dessa psicoterapia para o 
povo, seus elementos mais importantes e eficazes continuarão 
sendo, desde já, os tomados da psicanálise propriamente dita, ri­
gorosa e livre de toda tendenciosidade” (o grifo é meu).
A psicoterapia individual breve de orientação psicanalítica
Ante a perspectiva de se adotar uma técnica breve de base 
psicanalítica, faz-se necessário, para definir melhor seus elemen­
tos principais, estabelecer uma comparação com nosso modelo 
original, o tratamento psicanalítico. Desse modo, tentarei clarifi­
car os pontos de contato entre os dois métodos terapêuticos e, 
muito especialmente, suas diferenças4. Dentro dos procedimentos 
breves, referir-me-ei, fundamentalmente, à técnica dirigida ao 
insight, sobre a qual podem apresentar-se mais dúvidas a respeito 
de suas relações com a técnica analítica, contrariamente ao que 
acontece com uma terapia essencialmente de apoio, cuja caracte­
rização é mais simples e mais conhecida.
Juntando-me à iniciativa de alguns setores, como Bellak (6), 
Small (6), (48) e Malan (40) e com um propósito principalmente 
didático, considerarei três aspectos essenciais: 1) os fins terapêu­
ticos, 2) a temporalidade, 3) a técnica.
Os fins terapêuticos
A psicanálise reconhece como meta fundamental o tornar 
consciente o inconsciente. Mas a experiência clínica nos permite 
comprovar que essa finalidade traz, além disso, a perspectiva 
simultânea de uma reconstrução da estrutura da personalidade 
do analisando como resultado terapêutico talvez mais transcen­
dente. Essa reconstrução envolve a resolução de conflitos básicos 
e de seus derivados através da elaboração e do conseqüente ga­
nho de um maior bem-estar, com o qual se pretende eliminar ou 
aliviar os sintomas de modo franco e duradouro.
Fundamentos teóricos 19
Na terapia de objetivos limitados, como o próprio nome indi­
ca, as metas são reduzidas e mais modestas que as do tratamento 
psicanalítico. A limitação dos objetivos terapêuticos é caracterís­
tica do procedimento de que nos ocupamos, e aparece em função 
das necessidades mais ou menos imediatas do indivíduo. Os obje­
tivos podem colocar-se em termos da superação dos sintomas e 
problemas atuais da realidade do paciente, o que implica, antes de 
tudo, o propósito de que este possa enfrentar mais adequadamente 
determinadas situações conflitivas e recuperar sua capacidade de 
autodesenvolvimento, de modo que na prática se ache em condi­
ções de adotar certas determinações quando isso se revele neces­
sário. Exemplo: uma jovem professora, com francas alterações de 
caráter, apresentava recentemente sintomas de depressão e dc 
conversão histérica (paralisia dos membros inferiores e des­
maios), ligados a situações conflitivas surgidas em sua relação 
com a diretoria de sua escola, tudo isso lhe ocasionando sérias 
dificuldades adaptativas no plano profissional. Fixaram-se os 
seguintes objetivos para uma terapia de curta duração: conseguir 
que a jovem obtivesse um alívio de seus sintomas e sobretudo que 
pudesse compreender e manejar melhor os conflitos subjacentes a 
seu problema atual a fim de poder reintegrar-se no trabalho e de­
senvolver-se mais saudavelmente em seu meio profissional.
De preferência, e na medida do possível, a solução dos pro­
blemas imediatos e o alívio sintomático deverão, em um sentido 
psicodinâmico, corresponder à obtenção de um princípio de insight 
do paciente a respeito dos conflitos subjacentes (o que supõe que 
cm certa medida também nos propomos a tornar conscientes 
aspectos inconscientes, ainda que a meta central, em si, não seja a 
exploração do inconsciente como ocorre na psicanálise). Além 
disso, o trabalho pode ser encarado a partir do lugar do terapeuta e 
com uma visão dinâmica, como tendo o propósito de clarificar e 
resolver, ainda que de modo parcial, parte da patologia do pacien­
te. Malan fala precisamcntc em “elaborar brevemente um dado 
aspecto da psicopatologia” (40). No exemplo há pouco citado, 
isto consistia esscncialmente em conseguir que a paciente se 
conscientizasse parcialmente de aspectos do conflito básico rela­
cionado com a figura da mãe, diante da qual mantinha uma atitu­
de infantil de extrema submissão, que se alternava com tentativas
20 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
de rebelião, do que derivavam dificuldades em sua relação com 
representantes da autoridade materna, como sucedia com a direto­
ra. Segundo Malan, sua proposta oferecería a vantagem de nos 
permitir incluir expectativas de resultados terapêuticos maiores 
do que se concebéssemos as metas meramente circunscritas à re­
missão de um determinado sintoma ou à resolução de uma situa­
ção crítica (40). Assim, no tratamento da professora, por detrás do 
intento de resolver aspectos do conflito primário com a figura 
materna, poder-se-ia aspirar não só a obter a remissão ou a dimi­
nuição da intensidade dos sintomas atuais, além de conseguir que 
a jovem pudesse solucionar seus problemas de relação com a dire­
tora, mas também a conseguir mudanças favoráveis em suas rela­
ções patológicas com outras mulheres que representassemsua 
mãe (uma companheira mais velha, a dona da pensão, etc.), uma 
maior iniciativa e a superação de inibições, não só na área profis­
sional como também em outras (sexual, social, etc.). Considero 
então que toda formulação, nos termos correntes, de objetivos 
terapêuticos limitados, deve pressupor, no terapeuta, uma refor­
mulação de tais objetivos num sentido psicodinâmico que os abar­
que e que quase sempre haverá de transcendê-los em alguma me­
dida. Explica-se, assim, a aparição posterior de certas mudanças 
no paciente no que concerne a problemas em outras áreas de sua 
vida que, inclusive, não chegam a ser mais tratados de maneira 
explícita ou direta durante a terapia, mas que se acham ligados, de 
certo modo, às perturbações que tenham sido objeto de nossa 
abordagem terapêutica.
Numa ordem de importância geralmente secundária, figu­
ram diversas formas de oferecer ajuda ao paciente no que se refere 
às situações perturbadoras, seja procurando aliviar sua ansiedade 
através de meios como por exemplo os psicofármacos, seja inter­
vindo diretamente nessas situações de sua realidade, como no 
caso da assistência social, etc.
Ao aprofundar mais o tema dos objetivos terapêuticos, ve­
mos que estes, na realidade, não são tão limitados em uma terapia 
breve de predomínio interpretativo. Tal impressão aumenta assim 
que admitamos que tal terapia inclui a presença de outras metas, 
valiosas, implícitas e constantes, vinculadas às enunciadas até 
aqui e que podem ser concebidas em termos da recuperação da
Fundamentos teóricos 21
auto-estima (6) e da aquisição de consciência da enfermidade. 
(Tratarei mais detidamente desses aspectos no capítulo 11.)
A temporalidade
Enquanto que num tratamento psicanalítico a duração não é 
determinada de antemão, prolongando-se durante anos, nas cha­
madas terapias breves é comum que a fixemos previamente, e que 
seja mais curta, em geral, de uns meses. Essas peculiaridades, das 
quais derivam as denominações talvez mais difundidas desses 
procedimentos (psicoterapias breves, psicoterapias de tempo li­
mitado, etc.), configuram um traço diferenciado muito destacado 
dos mesmos, ainda que, como já assinalei, não esteja presente 
necessariamente em todos os casos.
Stekel, entre outros, apontou a incidência favorável que, no 
processo terapêutico, poderia ter a limitação temporal estabelecida 
de antemão, a qual estimularia o progresso da terapia (50)5. De ime­
diato, cabe assinalar que quando se fixa um prazo de encerramento, 
este cria invariavelmente uma situação bastante diferente na situa­
ção psicanalítica, influenciando de modo decisivo os diferentes 
aspectos do vínculo terapêutico, em especial a finalização do trata­
mento, tema que mais adiante analiso detidamente (ver os capítulos 
8 e 9). Mas, acima de tudo, deve-se levar em conta que a limitação 
temporal confere à terapia uma estrutura mais definida em termos 
de “princípio, meio e fim” (43), introduzindo definitivamente na 
relação terapêutica um novo e necessário elemento de realidade, 
que esmorece no paciente a produção de fantasias regressivas oni­
potentes de união permanente com o terapeuta. Tais fantasias se 
desenvolvem e se manejam com mais facilidade no contexto do tra­
tamento psicanalítico do que no da terapia da qual nos ocupamos.
A técnica
O método breve pode ser tecnicamente diferenciado da psi­
canálise corrente. Pouco a pouco foi-se configurando uma teoria 
do tratamento que compreende uma atitude particular diante de
22
distintos fenômenos psicoterapêuticos - transferência, regressão, 
resistências, etc. - , enquanto se confirmam alguns princípios 
dinâmicos operativos, cuja validade é corroborada pela experiên­
cia clínica.
Desenvolverei aqui os seguintes aspectos:
- O trabalho com os conflitos.
- Regressão. Dependência. Transferência. Neurose de trans­
ferência.
- O problema da resistência.
- Insight e elaboração.
- Fortalecimento e ativação das funções egóicas.
- Focalização.
- Multiplicidade de recursos terapêuticos.
- Planejamento.
- Quadro comparativo entre algumas características teórico- 
técnicas da psicanálise e da psicoterapia breve de orienta­
ção psicanalítica.
-Outros conceitos de especial aplicação em psicoterapia 
breve (situação-problema, foco, ponto de urgência e hipó­
tese psicodinâmica inicial).
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
O trabalho com os conflitos6
Podem-se estabelecer claras diferenças entre uma psicotera­
pia de objetivos limitados e um tratamento psicanalítico no que 
diz respeito à abordagem dos conflitos psíquicos do paciente.
Recordemos, primeiramente, como se tratam os conflitos em 
psicanálise. A investigação psicanalítica demonstra-nos que as si­
tuações conflitivas atuais do indivíduo estão relacionadas a con­
flitos infantis, dos quais, em realidade, decorrem. São exemplos 
de conflitos derivados os que a professora antes mencionada apre­
sentava na sua relação com a diretora da escola, relação caracteri­
zada por uma marcada submissão a ela. ou os de uma mulher que 
obstinadamente rivaliza com sua sogra. Ambas as situações reme­
tem a um conflito infantil com a figura materna, transferida para 
as relações atuais.
Fundamentos teóricos 23
Os conflitos infantis genéticos se produzem, como sabemos, 
em relação com os objetos primários do sujeito, sendo sua nature­
za edípica ou pré-edípica. Durante o tratamento analítico, o pa­
ciente revive tais conflitos (sobretudo no seio da relação transfe­
renciai com o terapeuta), que são analisados profundamente a fim 
de se conseguir sua resolução (e a de seus derivados) por meio do 
trabalho elaborativo (elaboração dos conflitos).
Na P.B. orientada em direção ao insight há, como primeiro 
fator distintivo digno de nota, uma eleição dos conflitos (deriva­
dos) a serem tratados, que recairá nos que prevalecem por sua 
urgência e/ou, por sua importância, quer dizer, que subjazem ao 
problema atual, motivo do tratamento (ver “Focalização”, p. 37, e 
“O foco”, pp. 40 ss.)7. É habitual, além disso, que o trabalho tera­
pêutico se circunscreva, a priori, a encarar exclusivamente esses 
derivados do conflito primitivo infantil, sem se aprofundar mais 
nele, por princípios elementares de prudência, evitando-se que se 
produza uma excessiva mobilização afetiva e, sobretudo, que se 
favoreça no paciente a regressão. O terapeuta deverá centrar-se, 
de preferência, nos atuais fatores determinantes desses conflitos 
subjacentes focais; freqüentemente isso bastará para se obterem 
bons resultados terapêuticos e, principalmente, para serem alcan­
çados os objetivos propostos8.
Mas também considero que em alguns tratamentos breves é 
necessário e possível confrontar o paciente com o conflito origi­
nal. Isso ocorre quando, seja no começo seja mais freqüentemente 
no transcurso do tratamento, tem-se a impressão de que de outro 
modo não se obterão maiores progressos no transcorrer deste, 
e/ou quando aspectos desse conflito básico se acham muito próxi­
mos à superfície psíquica do paciente. Em algumas ocasiões é o 
próprio paciente, se tem capacidade de insight, quem menciona o 
conflito infantil, relacionando-o com sua situação conflitiva. Em 
todas essas circunstâncias, o terapeuta pode empreender um tra­
balho interpretativo cauteloso de certos componentes do conflito 
básico, em especial dos que estejam imediatamente vinculados à 
problemática focal e que adquiram relevância para a finalidade de 
se alcançar a clarificação e a superação de tal problemática. Não 
se deverão abordar outros aspectos do conflito, já que não tem 
sentido abrir feridas de maneira indiscriminada na estrutura defen-
24
siva do paciente, pondo a descoberto conteúdos que, sem dúvida, 
não se terá oportunidade de analisar suficiente e convenientemen­
te nessa terapia.
Freqüentemente colocar-se-á, para nós, o problema de saber 
até onde poderemos nos aprofundar, mediante interpretações, 
com vistas a nos aproximarmos das metas terapêuticas propostas, 
o que terá de ser avaliado em cada casoparticular (ver pp. 101, 
102 e 111 ss.). Trata-se de um ponto que requer tato e experiência 
por parte do terapeuta.
Quando se trata de uma psicoterapia de breve duração, o 
terapeuta pode sentir-se pressionado pelo tempo, devendo evitar 
sobretudo cair em interpretações prematuras sobre os conflitos 
infantis. Já sabemos com quanta insistência Freud preveniu a 
respeito dos riscos de tal procedimento no tratamento psicanalí­
tico (24).
Como se pode perceber a esta altura de minha exposição, em 
P.B., diferentemente do que ocorre na psicanálise, realiza-se uma 
tarefa interpretativa parcial dos conflitos do paciente, circunscrita 
àqueles que tenham sido escolhidos, os quais, por sua vez, são 
abordados de um modo também parcial, lncursione-se ou não na 
interpretação das raízes infantis da conflitiva focal, sempre se faz 
uma tentativa de solucionar interpretativamente os conflitos deri­
vados, ainda que esta não seja idêntica à que se possa obter atra­
vés da psicanálise. Trata-se de uma resolução parcial ou incom­
pleta ( 1), que consiste na produção de certas mudanças dinâmicas 
nos conflitos, muitas vezes suficientes para se obterem benefícios 
terapêuticos nada desdenháveis. (Quanto às prováveis modifica­
ções no estado dos conflitos, ver p. 53.)
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
Regressão. Dependência. Transferência.
Neurose de transferência
Os fenômenos regressivos, de dependência, transferenciais e 
neurótico-transferenciais acham-se intimamente relacionados no 
tratamento psicanalítico. Denominações tais como dependência 
regressiva ou neurose transferenciai regressiva refletem, em algu­
ma medida, essa correlação. Por isso farei referência a esses con-
Fundamentos teóricos 25
ceitos de maneira conjunta, dentro de um mesmo subtítulo deste 
capítulo, numa tentativa de esclarecer as diferenças que nesses as­
pectos apresenta o tratamento breve de insight com relação à psi­
canálise.
A regressão pode ser entendida como o processo pelo qual 
readquirem vigência estados ou modos de funcionamento psíqui­
co pertencentes a etapas anteriores do desenvolvimento do indiví­
duo. Na realidade, Freud ocupou-se do conceito de regressão em 
diferentes contextos a enfermidade mental, a transferência com 
o analista, os sonhos e a classificou em três tipos: tópica, tempo­
ral e formal (18) (25). Aqui vou referir-me em especial à regres­
são temporal na transferência com o terapeuta.
No processo analítico trata-se de favorecer, por diferentes 
meios (posição deitada do paciente, associação livre, silêncio do 
analista, freqüência às sessões, etc.), uma regressão vivencial útil, 
a qual representa um meio essencial para se alcançar o objetivo 
terapêutico. A regressão é necessária para a revivescência dos 
conflitos originais infantis do analisando em sua relação com o 
analista (neurose de transferência) e sua conseqüente elaboração. 
Isso implica, além disso, que a regressão produzida gere um in­
cremento da dependência do analisando em relação ao analista, 
que costuma representar basicamente figuras parentais. Espera- 
se, é claro, que o processo regressivo se reverta ao longo do cami­
nho terapêutico, dando lugar a um crescimento psicológico paula­
tino, que tornará possível que o paciente assuma realmente uma 
conduta mais adulta na vida.
Para compreender as diferentes peculiaridades ao vínculo 
terapêutico em terapias breves de insight, é preciso além disso 
levar em conta os conceitos de transferência e de neurose de 
transferência9.
Laplanche e Pontalis descrevem a transferência como “o pro­
cesso em virtude do qual os desejos inconscientes se atualizam 
sobre certos objetos, dentro de um determinado tipo de relação 
estabelecida com eles, e, de um modo especial, dentro da relação 
analítica”. Acrescentam: “Trata-se de uma repetição de protótipos 
infantis, vivida com um marcado sentimento de atualidade” (38) 
(P- 459).
26 Psicoterapia breve de orientação psicanalitica
Quanto à neurose transferenciai, diremos que é a reprodução 
da neurose infantil na relação com o analista. Pressupõe a reedi­
ção seletiva de determinadas situações e mecanismos infantis na 
relação terapêutica, ou seja, citando novamente Laplanche e Pon- 
talis (38), a neurose transferenciai consiste em uma “neurose arti­
ficial em que tendem a se organizar as manifestações de transfe­
rência” (p. 258). Esses autores estabelecem, com base nos escritos 
de Freud, a diferença entre as reações de transferência propria­
mente dita. Em relação a esta última expressam-se: “de um lado, 
coordena as relações de transferência a princípio difusas (‘trans­
ferência flutuante’, segundo Glover) e, de outro, permite ao con­
junto de sintomas e condutas patológicas do paciente adotar uma 
nova função ao referir-se à situação analítica” (p. 259). Mesmo 
assim, Freud faz referência à neurose transferenciai como a uma 
“massa de pautas culturais neuróticas estereotipadas, expostas 
na situação analítica” (15). (Os grifos são meus.)
A transferência, inicialmente considerada por Freud como 
um obstáculo no tratamento psicanalítico, logo passou a ocupar, 
tanto para ele como para a maior parte dos psicanalistas, um papel 
de decisiva importância na cura (22), até converter-se sua análise 
na tarefa central. Deste fato se depreende que é conveniente per­
mitir - e inclusive promover - durante a terapia psicanalitica, o 
desenvolvimento da neurose transferenciai, cuja resolução, por 
meio da elaboração, será fundamental se aspira à cura do anali­
sando. E oportuno recordar aqui a definição que dá Rangel! da 
psicanálise como método terapêutico: “A psicanálise é um méto­
do de terapia pelo qual se estabelecem condições favoráveis para 
o desenvolvimento de uma neurose transferenciai, na qual o pas­
sado se restaura no presente com o propósito de, mediante um ata­
que interpretativo sistemático às resistências que se opõem a isso, 
obter uma resolução dessa neurose (transferenciai e infantil), com 
o fim de provocar mudanças estruturais no aparelho mental do 
paciente para que este seja capaz de uma adaptação ótima à vida” 
(grifos do autor). Rangell acrescenta que tais condições indispen­
sáveis distinguem qualitativamente a psicanálise de seus diversos 
derivados (46).
Na psicoterapia breve de insight, em troca, não é conveniente 
favorecer o desenvolvimento da regressão nem de uma neurose
Fundamentos teóricos 27
transferenciai. Os mecanismos terapêuticos não se sustentam, em 
geral, no desenvolvimento, na análise e na resolução da neurose 
transferenciai, dado que as condições do paciente e/ou do enqua­
dramento não são apropriadas para tais fins; por outro lado, como 
as metas terapêuticas não estão dirigidas para a reestruturação da 
personalidade nem para resolver conflitos básicos do indivíduo, 
mas sim para mitigar alguns sofrimentos atuais, não seria coeren­
te que o insight de aspectos da relação transferenciai neurótica, 
regressivo-dependente, continuasse sendo o recurso terapêutico 
fundamental nesse novo contexto; o que adquire importância 
agora é a busca de insight do paciente a respeito de situações con- 
flitivas atuais de sua vida cotidiana (que são as que habitualmente 
dão origem à consulta), razão pela qual o trabalho interpretativo 
recai mais em suas relações com os objetos de sua realidade exter­
na do que na relação com o terapeuta.
Segundo Szpilka e Knobel, nesses procedimentos é preciso 
precaver-se de estimular tanto a regressão como a neurose de 
transferência (51) (37). Bellak e Small (6), do mesmo modo que 
Wolberg (54), entre outros, também aconselham que sc evite, den­
tro do possível, o desenvolvimento da neurose transferenciai. Seu 
desencadeamento, junto ao de uma regressão vivencial, pode con- 
siderar-se uma complicação (às vezes inevitável) nas psicotera- 
pias breves, já que, ao deixar truncada sua elaboração, tendo em 
vista as limitações inerentes a esses tratamentos, deixaria - iatro- 
genicamente - o paciente em um estado regressivo-dependente, 
expondo-o a diversasreações transferenciais nocivas em virtude 
da mobilização afetiva produzida e, em particular, a dificuldades 
para aceitar sua separação com relação ao terapeuta, ante a pers­
pectiva de terminar sua terapia10.
Por meio de diferentes recursos, aos quais mais adiante me 
referirei em detalhes (ver capítulo ò), deve-se procurar que o 
paciente não concentre muita libido na relação com o terapeuta. 
Se bem que os fenômenos transferenciais também ocorram, às 
vezes inexoravelmente, na psicoterapia breve, podemos esperar 
que a adoção de algumas medidas técnicas impeça que a transfe­
rência alcance demasiada intensidade e chegue a cobrir e a domi­
nar a situação terapêutica, configurando uma neurose de transfe-
Psicoterapia breve de orientação psicanalítica28
rência11. A terapia deve sustentar-se no predomínio de uma trans­
ferência sublimada (6).
A regressão só deveria ser permitida em pequeno grau, não 
indo além dos níveis requeridos para possibilitar a exploração e 
experiências iniciais de insight de situações conflitivas atuais. O 
tratamento, em lugar de fomentar a dependência do paciente, deve 
inclinar-se para a estimulação e o reforçamento de sua iniciativa 
pessoal, ou seja, de suas capacidades autônomas.
Os critérios apresentados até aqui definem as características 
que terá de assumir a relação terapêutica em P.B. (ver capítulo 6, 
especialmente “A relação paciente-terapeuta no tratamento bre­
ve”, pp. 84 ss.).
O problema da resistência12
No tratamento psicanalítico, chamamos resistência aos 
diversos obstáculos que o analisando opõe ao acesso ao seu pró­
prio inconsciente, isto é, ao trabalho terapêutico e à cura.
Em 1925, Freud distinguiu e sistematizou cinco formas de 
resistência de um ponto dc vista estrutural, em seu trabalho “Ini­
bição, sintoma e angústia” (21). Três delas procedem do ego e 
são: as resistências da repressão, as da transferência e as do ganho 
secundário da doença. As outras são as resistências do id, também 
chamadas por Freud de resistências do inconsciente, e as resistên­
cias do superego13.
A análise exaustiva das resistências constitui uma parte im­
prescindível de todo tratamento psicanalítico. O prolongamento 
deste deve-se, em grande parte, à necessidade de elaboração 
daquelas (27).
Na terapia breve interpretativa, também surgem resistências 
no paciente, que podem ser consideradas, por acréscimo, como 
obstáculos que este interpõe ao avanço do processo psicoterapêu- 
tico especificamente do insight.
Habitualmente, a análise das resistências em P.B. não apre­
senta, como se poderia supor, o mesmo caráter intensivo que em 
psicanálise. A limitação temporal, quando existe, é um dos moti­
vos para que isso ocorra, ainda que não o único; basicamente, a pró­
pria índole do procedimento não contempla fins tão ambiciosos.
O tratamento das resistências que dependem dos mecanis­
mos defensivos do ego, em P.B., pode apresentar as seguintes 
características: a) algumas defesas são combatidas, quer dizer, 
analisadas; b) outras, em troca, são respeitadas ou ainda reforça­
das pelo trabalho terapêutico, de acordo com o que pareça indica­
do em cada caso, com base nas condições do paciente e do enqua­
dramento. Como exemplo do mencionado no item a, podemos 
citar a necessidade de trabalhar as defesas maníacas (negação, 
onipotência, etc.), perigosamente incrementadas, ou, o que é mais 
comum, ter de atacar parcialmente as barreiras repressivas de 
conteúdos inerentes ao sofrimento atual, além dos mecanismos de 
isolamento, intelectualização, projeção, etc. Pelo contrário, e a 
propósito do expresso no item b, com frequência optamos por não 
perturbar certos mecanismos defensivos caracterológicos, permi­
tindo ao paciente que os conserve, seja porque queremos evitar 
uma mobilização afetiva excessiva e difícil de manejar no trata­
mento, seja por tratar-se de defesas relativamente úteis, as quais - 
ainda que só ocasionalmente - poderia ser conveniente reforçar.
O tema da resistência da transferência em P.B. também mere­
ce alguns comentários. Ao menos nas terapias desse tipo, tal resis­
tência não costuma ser muito intensa. Isso se deve ao seguinte: 
sabemos que esse tipo de resistência obedece em parte ao ressen­
timento despertado no paciente, por sentir-se frustrado em sua 
relação transferenciai com o terapeuta, razão pela qual Menninger 
propõe chamá-la de resistência de frustração ou de vingança 
(41). Na medida em que, em P.B., a relação terapêutica é menos 
frustrante para o paciente, já que existe um vínculo mais “real” e 
uma maior proximidade afetiva da parte do terapeuta, conseqüen- 
temente a hostilidade que desperta naquele pode ser menor do que 
a que o tratamento psicanalítico desperta; portanto, as resistências 
transferenciais também serão menores (35). Mas o terapeuta de­
verá lutar sempre para que se obtenha esse resultado, procurando 
fazer com que predomine uma transferência positiva. Quando es­
sas resistências se exacerbam, achamo-nos ante um dos motivos 
fundamentais, para cuja dissolução, a meu ver, se justifica o em­
prego de interpretações transferenciais no tratamento breve (ver 
capítulo 6, pp. 107 ss,).
Fundamentos teóricos______________________ _____________ _
30 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
“Insight ” e elaboração14
Entre os problemas ainda não resolvidos no terreno da psico­
terapia breve de base psicanalítica, acham-se os que concernem 
ao papel do insight e da elaboração e sua relação com as mudan­
ças que se obtêm nos pacientes.
Começaremos por lembrar sucintamente os significados es­
senciais de ambos os termos.
Com o insight queremos dizer, como L. Grinberg, “a aquisi­
ção do conhecimento da própria realidade psíquica” (31). Tal 
conhecimento pressupõe uma participação afetiva: não se trata 
simplesmente de compreender no sentido intelectual, mas tam­
bém de poder experimentar emocionalmente o contato com os 
aspectos inconscientes do mesmo.
A elaboração ou trabalho elaborativo (working through) é 
um conceito de significado complexo e não suficientemente defi­
nido na bibliografia psicanalítica. Uma definição simples a des­
creve como “o processo pelo qual um paciente em análise desco­
bre, gradualmente, através de um lapso de tempo prolongado, as 
conotações totais de alguma interpretação ou insighf’ (47). 
(“Elaboração”, p. 49, grifos do autor.)
E conhecida a importância do insight e da elaboração no tra­
tamento analítico. A finalidade das interpretações do analista, 
que são, por excelência, seu instrumento terapêutico, é promover 
o insight dos conflitos no paciente. E oportuno citar aqui Rycroft: 
“O objetivo do tratamento psicanalítico é definido, algumas ve­
zes, em termos da aquisição de insight, ainda que mesmo Freud 
nunca tenha utilizado essa formulação, preferindo a idéia de que 
seu objetivo é fazer consciente o inconsciente” (47). (“Insighf’, 
p. 68, grifos do autor.) Com relação a esse ponto, Grinberg diz: 
“Freud havia assinalado que o objetivo básico do analista é 
conhecer; por conseguinte, não deve estar preocupado com o 
objetivo terapêutico. Esse objetivo de conhecer, em realidade, 
não se contradiz com o objetivo terapêutico, sendo o insight o 
fator central, e a pré-condição de toda mudança duradoura na 
personalidade” (31).
A elaboração, como trabalho de aprofundamento do pacien­
te, implicará que este assimile as interpretações corretas do ana-
Fundamentos teóricos 31
lista, condição essencial para o êxito terapêutico (39). A respeito 
do princípio da elaboração, cabe lembrar:
a) Requer dois fatores elementares: tempo (é por isso que a 
necessidade de elaboração constitui uma causa importante do 
prolongamento do tratamento psicanalítico) e trabalho (o labor 
analítico) (27). Do último se depreende que tem lugar no paciente 
fundamentalmente na presença do analista e com a participação 
deste.
b) Em seu desenvolvimento intervém a regressão do anali­
sando (31).
c) Inclui a tarefa de superar as resistências e a análise exaus­
tiva dos conflitos, naqual tem especial importância o que trans­
corre dentro dos limites da neurose transferenciai (27).
Na terapia breve de orientação psicanalítica, a concepção da 
existência de insight e de elaboração apresenta numerosos pontos 
obscuros.
Sendo assim, é válido falar-se em insight nesses tratamen­
tos? Creio que sim, ainda que com certas ressalvas, como vere­
mos em seguida.
Propiciar ao paciente a aquisição de insight por meio de in­
terpretações - especialmente dos psicodinamismos relacionados 
com o transtorno atual, motivo do tratamento deve constituir, a 
meu ver, nosso principal propósito na terapia dinâmica breve, 
sempre que as condições psíquicas do paciente o permitirem. Es­
sa atitude terapêutica nos permitirá abrigar maiores esperanças de 
conseguir um progresso mais sólido e estável no paciente, ao 
aumentar sua capacidade egóica para enfrentar e resolver as situa­
ções conflitivas. A busca de insight no tratamento breve é preco­
nizada por numerosos autores, entre eles, Bellak e Small, os quais 
assinalam, clara e repetidamente, seu valor, em diferentes passa­
gens de sua obra (6). Mas a técnica breve requer restrições pecu­
liares para o insight do paciente, que é necessário consignar:
- Com respeito à sua extensão entendo que em geral dadas as 
limitações do enquadramento - e sobretudo quando se trata de 
uma terapia de curta duração - só nos resta a alternativa de pro­
porcionar o que poderiamos considerar como experiências ini­
ciais de “insight”, um autoconhecimento limitado às dificuldades 
habitualmente contidas no foco terapêutico (mas que tampouco
32 Psicoterapia breve de orientaçãopsicanalítica
pode dar conta de todos os aspectos do conflito subjacente ao pro­
blema vital focal, mas, unicamente, dos mais próximos e aces­
síveis à compreensão psicológica do paciente dentro desse enqua­
dramento). Isso poderá servir, ser suficiente - ou não - para os pa­
cientes, para obter mudanças dinâmicas favoráveis, pôr em mar­
cha um processo progressivo que continue ainda depois de finali­
zado o tratamento e estimular sua auto-observação e motivação 
para as experiências psicoterapêuticas de índole interpretativa. 
Em suma, numa terapia de objetivos - e, eventualmente, de tempo 
- limitados, também o insight estará naturalmente limitado em 
sua extensão, diferentemente daquele mais amplo, decorrente de 
um tratamento intensivo e prolongado como o psicanalítico; trata- 
se de uma verdade óbvia, mas que é necessário ter presente para 
estudar tudo aquilo que se relacione com mecanismos terapêuti­
cos e grau de eficácia dos procedimentos breves.
- Quanto ao tipo e profundidade, cabe assinalar que enquanto 
o insight psicanalítico tem lugar em meio a uma atmosfera regres­
siva que o favorece, dependendo principalmente da atividade inter­
pretativa a respeito das diversas reações próprias da neurose de 
transferência, em P.B. a busca de insight está dirigida, com mais 
freqüência, para as relações do sujeito com os objetos externos de 
sua vida cotidiana e presente, ainda que não despreze os fenôme­
nos transferenciais mais notórios, que trabalham como obstáculo 
(resistências transferenciais), e/ou ilustram a problemática do 
paciente, como se verá mais adiante (pp. 106 s.). Mais abrangente, 
o insight psicanalítico também o é na medida em que oferece 
maiores possibilidades de alcance de situações infantis reprimidas 
que serão revividas na situação transferenciai, permitindo, em sín­
tese, uma conexão mais completa do que sucede no mundo externo 
extra-analítico e na relação transferenciai analítica do paciente 
com sua vida passada. São tipos e graus de profundidade diferen­
tes de insight, mas nem por isso devem ser-lhes negadas totalmen­
te a validade e a eficácia que se obtêm no tratamento breve. (“Não 
se pode sustentar, com tanta ênfase, que o insight através da trans­
ferência seja o único tipo de insight que sirva para a organização e 
reintegração do ego”, afirma Karno [36].)
Todavia, é possível estabelecer outra diferença com o insight 
do tratamento psicanalítico, que remete à natureza mesma do
Fundamentos teóricos 33
fenômeno de compreensão psicológica no paciente, e também 
obedece à necessidade de controlar a intensidade dos fenômenos 
regressivos e transferenciais: Szpilka e Knobel sugerem que em 
terapias breves o insight possua uma “maior participação cogniti­
va que afetiva” (51), levando o paciente, como medida prudente e 
mediante um determinado estilo interpretativo (ver pp. 110 ss.) na 
relação transferenciai, antes à compreensão que à revivescência 
das situações infantis determinantes de seu problema atual (51). 
Expressa dessa maneira, essa proposição corre o risco de ser dis­
torcida. Entendo que não implica, como alguns poderíam supor, 
um mero insight intelectual (que configuraria uma nova forma de 
resistência), pois não deixa de ter certa ressonância afetiva. Mas a 
diferença entre o insight psicanalítico, que é mais pleno e vivido, 
em suma, dotado de uma maior e às vezes diferente repercussão 
emocional, e o insight do tratamento breve tem de ser, nesse senti­
do, um fenômeno na medida do possível mais controlado pela ati­
vidade terapêutica, em especial se explora circunstancialmente 
aspectos da transferência com o terapeuta correspondentes ao 
infantil-genético. (Será menos necessário controlá-lo se atender 
aos componentes mais atuais da transferência com o terapeuta ou 
com outros objetos da realidade externa do paciente.)
Examinemos agora o problema da elaboração na terapia 
dinâmica breve, cuja bibliografia, como se podería supor, é suma­
mente escassa. Bellak e Small citam, como princípios gerais da 
“psicoterapia rápida”, a comunicação, o insight (do terapeuta e do 
paciente) e a elaboração (6).
Como não se estimula o desenvolvimento da regressão nem o 
da neurose transferenciai, e não se realiza uma análise intensiva 
desta nem das resistências, considero que em P.B. não podemos 
falar em elaboração no mesmo sentido que em psicanálise. Em 
todo caso, o trabalho de elaboração real será escasso, principal- 
mente se existe limitação de tempo. Este, como vimos, é um fator 
fundamental para que a elaboração tenha lugar15. Estaríamos, 
então, diante de um dos pontos mais discutíveis no que diz respei­
to à validade terapêutica desses procedimentos. Sem dúvida, é 
possível conceber um processo qualitativamente distinto do pro­
cesso de elaboração analítica, sem a profunda reestruturação meta 
psicológica que ela implica e basicamente circunscrito à conflitiva
34 Psicoterapia breve de orientação psicanalítica
focal. Um processo imperfeito e incompleto, mas enfim de mu­
dança, que em circunstâncias em que o tratamento esteja limitado 
em sua duração, também o estará, mas que em alguns pacientes, 
com capacidades egóicas suficientes, poderá talvez ainda conti­
nuar, depois de concluído o tratamento breve. Nesse último caso 
seria uma espécie de “auto-elaboração”, a qual se teria iniciado, a 
princípio, com o trabalho terapêutico, para seguir um caminho pro­
gressivo até a consolidação dos resultados16. Os mecanismos ínti­
mos desse fenômeno, que apresentaria, talvez, grande importância 
terapêutica em alguns casos, ficam difíceis de precisar no momen­
to17. Talvez as modificações significativas que às vezes se eviden­
ciam, inclusive na estrutura de personalidade de pacientes tratados 
com o procedimento breve, em testes projetivos efetuados anos 
depois de finalizado o tratamento (32), se relacionem a mecanis­
mos desse tipo. Mais adiante, considerando os resultados e meca­
nismos terapêuticos, retornaremos à discussão desses fatos.
Finalmente, cabe acrescentar que numa terapia de objetivos e 
tempo limitados talvez seja necessário concluir que o insight e a 
elaboração terão de ser em boa parte estimulados, quer dizer, faci­
litados e agilizados mediante o papel ativo do terapeuta, dadas as 
condições de focalização e de curta duração do tratamento.
Fortalecimento e ativação das funções egóicas
Considero que a aquisição

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