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Terapia Pos Moderna

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Prévia do material em texto

Brasília-DF. 
Terapias pós-Modernas
Elaboração
Karina Santos da Fonseca
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
Sumário
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
TERAPIAS PÓS-MODERNAS..................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
TERAPIAS PÓS-MODERNAS ....................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
AS ESCOLAS E AS TERAPIAS PÓS-MODERNAS .......................................................................... 17
CAPÍTULO 3
ABORDAGENS TERAPÊUTICAS PÓS-MODERNAS ....................................................................... 25
CAPÍTULO 4
EQUIPE REFLEXIVA .................................................................................................................. 30
CAPÍTULO 5
CONTRIBUIÇÕES TERAPÊUTICAS .............................................................................................. 46
PARA (NÃO) FINALIZAR ..................................................................................................................... 62
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 64
4
Apresentação
Caro aluno
A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se 
entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. 
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela 
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da 
Educação a Distância – EaD.
Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos 
conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos 
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional 
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.
Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo 
a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na 
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno 
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em 
capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos 
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar 
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para 
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita 
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante 
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As 
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer 
o processo de aprendizagem do aluno.
6
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não 
há registro de menção).
Avaliação Final
Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, 
que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única 
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber 
se pode ou não receber a certificação.
Para (não) finalizar
Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
7
Introdução
O Assistente Social, no exercício de suas atribuições, possui a necessidade do 
conhecimento das Terapias Pós-Modernas.
Por isso, torna-se relevante a obtenção de informações sobre a equipe reflexiva, as 
contribuições terapêuticas e as ferramentas conversacionais. Este Caderno de Estudos, 
portanto, tem o objetivo de proporcionar informações acerca das Terapias Pós-
Modernas, com o compromisso de orientar os profissionais da área de Serviço Social 
para que possam desempenhar suas atividades com eficiência e eficácia.
Objetivos
 » Aprofundar os conhecimentos teóricos sobre Equipe Reflexiva da Terapia 
Pós-moderna. 
 » Conhecer os aspectos relevantes sobre as contribuições terapêuticas. 
 » Levantar informações relevantes sobre ferramentas conversacionais.
9
UNIDADE ÚNICATERAPIAS PÓS-
MODERNAS
CAPÍTULO 1
Terapias Pós-Modernas
Família: grupo de pessoas ligadas entre si por laços de casamento ou de 
parentesco, ou conjunto de ancestrais ou descendentes de um indivíduo ou 
linhagem. Larousse Cultural, 1992.
No Brasil, podemos destacar como grandes nomes da Terapia Familiar dentre outros: 
Marilene Grandesso, Maria José Esteves, Terezinha Féres, Rosa Macedo, Sandra 
Fedulo, Roberto Faustino (Recife), Rosana Rapizzo e Luiz Carlos Prado.
É possível compreendermos que o sistema familiar vive interações que repercutem no seu 
desempenho, tanto em seu ambiente interno como externo. Desta forma, conseguimos 
entender um dos principais pilares da Terapia Familiar que é a circularidade que 
estuda atenciosamente as sequências interacionais dos familiares para um olhar mais 
aprofundado acerca dos fatores que estão “segurando” o padrão comportamental 
familiar. Sabe-se que todo sistema faz parte de um sistema maior, por esse motivo, 
é importante relacionar a família observando-se sua rede de subsistemas mediante a 
leitura de contextos mais amplos, ou seja: indivíduo, grupo, comunidade, sistema de 
crenças, cultural, político.
A família é compreendida como um sistema aberto, e, dependendo de como “administra” 
suas relações, poderá “trabalhar” para diante de um desafio, problema, continuar na 
sua zona de conforto e não propiciar a mudança, ficando na homeostase. Pode também 
“trabalhar” no favorecimento da mudança buscando condições de superação e novos 
significados. É importante ressaltar que a Terapia Familiar dos dias atuais tem seus 
paradigmas baseados na Ciência Pós-Moderna e se apoia nos seguintes conceitos:
 » Complexidade (não existe só uma realidade): base no multiverso; há 
diferentes olhares, múltiplos significados acerca de um mesmo fato.
10
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
 » Imprevisibilidade: compreender que as imprevisibilidades existem, pois 
muitos fatos não estão sob o nosso controle. 
 » Intersubjetividade:influências recíprocas entre o observador e a realidade 
observada: negação da neutralidade. Ou seja, enquanto participante do 
processo terapêutico, o terapeuta, também, coloca nesse percurso suas 
vivências.
A Teoria Sistêmica nos ensina a olhar como a vida das pessoas é moldada pelas interações 
tanto com seus familiares como pelos contextos nos quais estão inseridos. O contexto 
familiar é compreendido de forma menos objetiva e mais complexa, na qual se vai em 
busca dos diversos significados dos membros familiares e da família como um todo. O 
terapeuta familiar deverá atuar como um facilitador, ajudando nesse processo de curar 
feridas e também de mobilizar talentos e recursos.
Para tal é preciso que ao trabalhar no processo terapêutico familiar, o terapeuta possa 
se aprofundar nos seguintes pontos significativos:
 » contexto relacional;
 » circularidade dos comportamentos: individual e familiar, emocional, 
afetivo, cognitivo;
 » padrão de comportamento familiar-abertura /fechamento à mudança;
 » estrutura familiar: subsistemas, fronteiras, triângulos, alianças, colisões, 
hierarquia, papéis;
 » heranças familiares e suas influências: proximidade e diferenciação, 
sentimento de pertencer à família através dos seus valores e aprendizados, 
mas também se trabalhar em busca de um sentido de autoria própria: 
autonomia;
 » esse olhar familiar é transgeracional focando a família de origem e a 
família nuclear. muitas vezes, trabalhamos com a compreensão de três 
gerações;
 » processos de comunicação;
 » crenças, valores, significados;
 » ciclos de vida familiar;
 » função do sintoma na família;
11
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
O terapeuta familiar sistêmico procura desenvolver uma epistemologia voltada à 
atenção de como evolui na sua forma de conhecer, atuar, mediante a observação atenta 
dos seus valores, sua visão de mundo, e a forma através da qual faz a integração desses 
fatores ao contexto terapêutico. Seu olhar é, continuadamente, voltado ao contextual, ao 
relacional, sem esquecer também o valor do fator individual em cada sistema familiar, 
refletindo o terapeuta, que ao mesmo tempo que é parte integrante do sistema.
Contextualizando uma visão pós-moderna sistêmico-si-cibernética, dentro do conceito 
da Terapia familiar, Maria José Esteves (1980) coloca que é importante reforçar os 
seguintes pontos:
 » entender que a família é um sistema aberto e que o terapeuta não está 
a serviço de reparar ou consertar a disfunção. Importante o trabalho 
cooperativo entre família e terapeuta voltando o olhar à família também 
como recurso e não só dificuldade;
 » a intersubjetividade do terapeuta deverá ser compreendida e incluída no 
contexto do sistema: o terapeuta deverá, ao mesmo tempo que faz parte 
do sistema, dele tomar distância para refletir conteúdos que são seus e 
das famílias;
 » sabendo que não existe apenas uma realidade, o terapeuta precisa estar 
consciente das suas ideias que tem acerca das patologias, estruturas 
disfuncionais, seus preconceitos, das suas demandas, para que colocando 
tudo isso em parênteses, possa estar aberto para visões alternativas;
 » essencial que o terapeuta aja como facilitador da autonomia do cliente, 
uma vez que ele tem a função de “arquiteto do diálogo” que incentiva 
condições e facilita a abertura para a criação do espaço dialógico;
 » o terapeuta deverá compreender que adotar o pensamento circular não 
significa anular o pensamento linear que faz parte da sobrevivência 
de todos nós. Importante é focalizar ideias, sentimentos e ações, 
compreendendo como esses se entrelaçam e contribuem ao sentido de 
autoria das famílias, olhando também as condições de interdependência 
dessas situações;
 » fundamental ao terapeuta pós-moderno é investir, continuadamente, no 
exercício de aprender sobre terapia familiar, aprender como fazer esse 
tipo de terapia e aprender como ser um terapeuta de família.
12
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Vivemos hoje na terapia familiar a uma multiplicidade de abordagens tantas quantos 
forem os terapeutas em questão. Contudo, a ausência de um purismo de abordagens 
não significa uma anarquia epistemológica se considerarmos os marcos referenciais da 
pós-modernidade como seus denominadores comuns. Uma coerência epistemológica 
une as práticas pós-modernas de terapia em torno de alguns pressupostos teóricos 
comuns que organizam a ação dos terapeutas:
 » a consciência de que o terapeuta coconstrói no sistema terapêutico em 
ação conjunta com a família a definição do problema e das possibilidades 
de mudança; 
 » a crença de que toda mudança só pode se dar a partir da própria pessoa 
e da sua organização sistêmica autopoiética, sendo responsabilidade e 
especialidade do terapeuta a organização da conversação terapêutica; 
 » a mobilização dos recursos da família, da comunidade, das redes de 
pertencimento, legitimando o saber local de pessoas e contextos; 
 » uma concepção não essencialista de self compreendido como construído 
no contexto das relações e práticas discursivas; a visão da pessoa como 
autora de sua história e existência, competente para a ação, para o 
agenciamento de escolhas a partir de um posicionamento autorreflexivo, 
moral e ético, podendo criar e expandir suas possibilidades existenciais; 
 » a ênfase sobre os significados socialmente construídos na linguagem e 
nos espaços dialógicos, sendo construídos nos discursos emergentes e, ao 
mesmo tempo, responsáveis por suas transformações; 
 » a crença no diálogo, definido como um cruzamento de perspectivas como 
uma prática social transformadora para todos os envolvidos independente 
de seu lugar como terapeuta e cliente; 
 » a ênfase nas práticas de conversação e nos processos de questionamento 
como recurso para gerar reflexão e mudança, conforme expande os 
horizontes de terapeutas e clientes; 
 » a adoção de postura hermenêutica em que a compreensão é coconstruída 
intersubjetivamente pelos participantes da conversação; 
 » a ênfase muito mais no processo do que no conteúdo das histórias 
compreendendo as narrativas como locais e, portanto, idiossincráticas.
13
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Refletindo sobre o panorama atual da Terapia Familiar podemos considerar que sua 
consistência decorre de uma epistemologia unificadora pós-moderna apoiada numa 
hermenêutica contemporânea construída na intersubjetividade, envolvendo a pessoa 
do terapeuta como coconstrutor das realidades com as quais trabalha. A prática dessas 
terapias ditas pós-modernas envolve um trânsito do terapeuta entre teoria e prática de 
modo epistemologicamente coerente, de acordo com os meios que se lhe apresentem 
mais úteis e despertem seu entusiasmo e criatividade enquanto interlocutor qualificado.
Enquanto uma prática social transformadora esta terapia se organiza a partir dos 
contextos locais e das histórias culturais de distintas comunidades linguísticas. O 
respeito pela diversidade e multiplicidade de contextos com seus saberes locais implica 
numa terapia construída a partir da aceitação da responsabilidade relacional do 
terapeuta, legitimando os direitos humanos de bem-estar e de exercício da livre escolha.
Os imensos desafios que se apresentam para o terapeuta vindos do campo da saúde 
mental, das instituições voltadas para o cuidado e tratamento da pessoa, dentro de uma 
perspectiva pós-moderna, convidam para a humildade na construção do conhecimento 
e conduzem, cada vez mais para uma ação transdisciplinar numa instância de trocas 
colaborativas entre os distintos domínios de saber e no uso de técnicas como recursos a 
serviço do bem-estar. O caráter autorreferencial e de reflexo presente nas terapias pós-
modernas, desafiam o terapeuta a tornar explícitos os seus pré-juízos, os seus valores, 
suas opções ideológicas, nos limites da sua subjetividade, estabelecendo parâmetros 
para a clínica que pratica harmonizando de forma estética teoria e prática a serviço do 
bem-estar das famílias que são atendidas. 
O pensamento pós-modernoTemos encontrado uma pluralidade de entendimentos para o que pode ser chamado de 
pós-modernismo, desde a sua apresentação à Psicologia na conferência de Aarhus na 
Dinamarca, em 1989 (HOLZMAN; MORSS, 2000).
Embora nem todos esses entendimentos sejam coerentes entre si, o pós-modernismo 
pode ser compreendido como uma mudança paradigmática que surge da crise do 
modelo epistemológico da modernidade, colocando em xeque dentre outras coisas: 
 » a separação entre um mundo real e um mundo da experiência;
 » a segurança das representações claras e distintas como fundamento de 
um conhecimento válido, ou seja, a existência de verdades imutáveis 
como base para a construção do conhecimento;
14
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
 » a possibilidade de separação entre um sujeito epistêmico, apto para 
empreender um conhecimento confiável de origem insuspeita, e o objeto 
de seu conhecimento, ou seja, a possibilidade de um conhecimento 
objetivo.
A influência dos “neokantianos” e da nova física de Heisenberg, no início do Século 
XX, colocou em descrédito os parâmetros para o pensamento que, desde o século XVII, 
sustentavam a busca do conhecimento válido. A rejeição do sonho Iluminista de avanço 
seguro através da razão e da ciência (KVALE, 1992), resultou na rejeição dos discursos 
hegemônicos e monovocálicos que marginalizam vozes minoritárias, dissidentes e 
desviantes, apontando para as implicações políticas dessa marginalização. É neste lugar 
que podemos situar trabalhos como os de Foucault, Derrida, Baudrillard e Lyotard.
O conhecimento como um processo ativo, construído e não descoberto, apoia-se na ideia 
de que a compreensão humana é uma construção negociada entre redes conceituais 
das pessoas em transações no mundo. Assim, o pensamento pós-moderno questiona 
as metanarrativas, o discurso privilegiado de sujeitos epistêmicos com acesso também 
privilegiado a uma realidade independente e a busca de verdades universais. Dentro 
desta nova perspectiva, ao invés de uma espécie de “tribunal dos fatos” fora da esfera do 
“simplesmente humano”, conforme Ibañez (1992) refere-se à tradição da modernidade, 
o modelo de pensamento da pós-modernidade deixando de lado critérios de validade do 
conhecimento transportados por uma linguagem configurada como uma representação 
icônica do mundo real propõe a coerência e a viabilidade como valores epistêmicos. 
Não tem sentido, portanto, dentro desta nova perspectiva a busca de parâmetros 
para interpretação acurada da realidade na pretensa produção de um conhecimento 
independente do sujeito cognoscente da cultura e da história.
Enquanto no discurso da modernidade o conhecimento pode ser concebido como um 
processo sem sujeito, no discurso pós-moderno a existência do objeto do conhecimento 
implica necessariamente a presença do sujeito cognoscente (IBAÑEZ, 1992), criando 
uma crise ontológica que resulta no nascimento de uma consciência histórica de uma 
era em que todos somos protagonistas (MIRÓ, 1994). Assim, o pós-moderno pode ser 
considerado como um posicionamento crítico, uma postura filosófica que propõe uma 
nova visão da pessoa humana e do mundo. O conhecimento passa a ser compreendido 
como uma prática discursiva socialmente construída, cujo caráter local e contextual 
legitima múltiplas narrativas, resultando no multiperspectivismo de diferentes 
abordagens dirigidas para a construção de significados úteis para os propósitos 
humanos. Se sujeito e objeto se interconstituem podemos falar na singularidade e na 
multiplicidade dos contextos e das culturas, na generatividade da linguagem para a 
definição do self e do mundo e da aceitação do pressuposto de que conhecer implica em 
15
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
conviver com a incerteza, a imprevisibilidade e o desconhecido. Muitas são as questões 
que o pensamento pós-moderno evoca, muitas delas de natureza ideológica e política 
organizadas em torno de possibilidades de poder que o conhecimento pode assumir e, 
outras tantas, em torno de questões epistemológicas e hermenêuticas as quais pretendo 
abordar na consideração das terapias que podem ser ditas pós-modernas.
Terapias pós-modernas
Dentro de uma concepção pós-moderna, as abordagens terapêuticas e suas metáforas 
teóricas estabelecem tipificações do mundo da experiência, sendo, também, histórica e 
culturalmente contingentes (GRANDESSO, 1997). 
Nesse sentido, os conceitos teóricos pelos quais nós terapeutas construímos nossas 
compreensões das pessoas que nos procuram e dos dilemas que elas vivem, são 
construções sociais úteis, não devendo ser reificadas como se correspondessem a uma 
realidade pré-existente, independente do terapeuta em questão. 
O terapeuta pode ser considerado como um agente de transformação social para a qual 
contribui sua experiência pessoal, profissional e posicionamento político, implicando 
necessariamente uma ética das relações cujos traços mais significativos são a consciência 
e a autorreflexividade, nos dizeres de Gergen (1989, 1994, 1991 e 1998), e a consciência 
de que as práticas e métodos terapêuticos não são ideologicamente neutros. Quando 
atuamos como terapeutas estamos construindo uma certa forma de mundo, legitimando 
um determinado conjunto de relações sociais e de forma de tratamento e valorização 
das pessoas.
O pensamento da pós-modernidade configurado como um guarda-chuva paradigmático 
para a prática da terapia, manifesta-se em um conjunto de princípios e derivações práticas 
organizadas pelos enfoques construtivistas e construcionista social. Embora haja uma 
pluralidade de enfoques ditos construtivistas e construcionistas social (construtivismo 
radical, construtivismo crítico ou psicológico, construtivismo moderado, construtivismo 
dialético, construtivismo cultural, construtivismo epistemológico, construtivismo 
hermenêutico, construtivismo terapêutico, construtivismo social, construcionismo 
social, construcionismo social responsivo retórico, dentre outros), cujo detalhamento 
foge aos propósitos deste trabalho, todos eles se definem pós-modernos manifestando 
sua oposição a uma epistemologia objetivista e suas implicações tecnológicas baseadas 
no poder (GRANDESSO, 1998, 2000).
O pensamento pós-moderno na prática clínica reflete-se na mudança das metáforas 
teóricas que os terapeutas usam mudando das metáforas organizadas em torno do 
16
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
conceito de homeostase da Cibernética de Primeira Ordem, das metáforas bélicas do 
grupo de Milão, tão bem descritas num artigo de Cecchin (1992) para as ecológicas em 
torno do conceito de coevolução, cocriação e coparticipação (FREEDMAN; COMBS, 
1996). A história deste mais de meio século de terapia familiar pode ser descrita a partir 
dos desdobramentos que passaram a configurar o discurso terapêutico pós-moderno 
em torno de outras metáforas teóricas que, passando pela pessoa do terapeuta e seu 
engajamento num processo autorreflexivo, abandonando a noção de descoberta, 
organizaram as narrativas teóricas e as práticas terapêuticas em torno do conceito de 
coconstrução, tanto dos problemas como de suas soluções.
O pensamento pós-moderno trouxe para a terapia familiar uma mudança dos modelos 
informados pela Cibernética de Primeira Ordem, com sua ênfase nos padrões de 
interação e nas organizações familiares baseadas nas noções Parsonianas de estrutura 
e papel para os modelos condizentes com uma Cibernética de Segunda Ordem, com 
ênfase na construção de significados, nos modelos dialógicos e nas metáforas narrativas 
e hermenêuticas. Dentre as palavras-chave comumente empregadas pelos muitos 
modelos terapêuticos pós-modernos, destacam-se: sistemas linguísticos, narrativa, 
conversação, diálogo, histórias, significado, cultura. As teorias que os terapeutas adotam 
são, neste referencial pós-moderno, lentes provisórias (conforme o dizem ANDERSON; 
GOOLISHIAN, 1988), não derivando seu valor de qualquer pretenso valor verdade, 
mas sim de sua utilidade como marco gerador e organizador de significadosúteis para a 
compreensão dos dilemas humanos e favorecimento de uma prática terapêutica geradora 
de mudança. As técnicas, dentro desta concepção, somente podem ser compreendidas 
como criadoras de contextos propícios para a mudança terapêutica, derivando seu 
valor de sua generatividade para favorecer transformações criativas. Dessa maneira, 
uma teoria passa a ser considerada útil conforme ofereça subsídios para a construção 
de significados que façam sentido para organizar a experiência vivida pela família e a 
evolução do sistema terapêutico.
17
CAPÍTULO 2
As escolas e as terapias pós-modernas
A família poderia assim se constituir de uma instituição 
normalizada por uma série de regulamentos de afiliação e aliança, 
aceitos pelos membros. Alguns desses regulamentos envolvem: a 
exogamia, a endogamia, o incesto, a monogamia, a poligamia, e a 
poliandria (MINUCHIN, 1990).
Escola estrutural
Na década de 1950 a Teoria Estruturalista tornou visível o conflito entre as teorias 
Clássica e das Relações Humanas. A primeira considerava a organização formal sob 
uma visão de que para as empresas serem eficientes, deveria ter o foco na estrutura e na 
forma. Já a última valorizou a teoria informal, as pessoas e os grupos internos.
A Abordagem Estruturalista criou uma teoria mais abrangente, entendendo a empresa 
como uma organização aberta, ou seja, tendo grande interação com o ambiente externo 
direto e indireto. Além do conceito de homem organizacional, dos inevitáveis conflitos 
e dos incentivos mistos dentro da organização.
A Escola Estruturalista surgiu em decorrência do declínio do movimento das relações 
humanas no final da década de 1950 com os seguintes aspectos:
 » oposição entre os aspectos formais e os defendidos pelos autores da 
escola clássica informais valorizados pelos autores da Escola de Relações 
Humanas;
 » a necessidade de visualizar a organização como um todo e não de forma 
compartimentada e isolada. A organização lida com muitas variáveis 
complexas de ordem interna e externa. Ela tanto influencia como pode 
ser influenciada pelo ambiente externo direto e indireto;
 » a repercussão dos resultados dos estruturalistas na compreensão das 
organizações como um todo integrado e complexo.
18
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Conceito de estruturalismo
O estruturalismo é um método analítico e comparativo que estuda os elementos ou 
fenômenos em sua totalidade salientando seu valor de posição.
Os estruturalistas preocupam-se com as relações e interconexões das partes na 
constituição e na compreensão de todos. O estruturalismo esta alicerçado na totalidade 
e na reciprocidade para facilitar o entendimento de que o todo é o maior que a simples 
soma das partes.
Fundamentos da escola estruturalista
O homem organizacional: é aquele que desempenha diferentes papéis em organizações 
diversas. Para cada papel desempenhado, o homem deve adotar posturas/
comportamento, como a flexibilidade, tolerância, capacidade de adiar as recompensas 
e permanente desejo de realização.
A necessidade de o homem relacionar seu comportamento com o de outras pessoas 
com o fim de atingir um objetivo, gera a organização social. Na organização social, 
encontramos o elemento comportamento, gerado pelo estímulo, e o elemento estrutura, 
que é formado por categorias de comportamento ou conjuntos de comportamentos 
agrupados. Os conflitos inevitáveis: para os estruturalistas, o conflito entre grupos é um 
processo social fundamental, pois é o grande elemento propulsor do desenvolvimento, 
embora isso nem sempre ocorra.
O movimento estruturalista não só reconheceu o conflito como inevitável, mas também 
como muitas vezes desejável para tirar os empregados da zona de conforto. Ele deve 
estimular a mudança, ou seja, a passagem do estado estável para o estado instável.
A administração de conflitos requer a conservação de um nível adequado de conflitos 
em um grupo. Pouco conflito gera estagnação. Muito conflito gera rupturas e brigas 
internas. Ambos os casos são prejudiciais para o grupo. Dessa forma, compete ao gestor 
manter um nível adequado de conflitos por meio da utilização de técnicas de resolução 
e estimulação de conflitos.
O conflito nas organizações pode ser decorrente tanto dos atributos estratégicos, 
estruturais, processuais e ambientais quanto de desempenho.
Fatores como origem, educação, experiência e treinamento moldam cada empregado 
em uma personalidade única com um conjunto particular de valores. O resultado é que 
19
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
as pessoas podem ser vistas pelas outras como ríspidas, indignas de confiança, difíceis, 
estranhas de lidar. Essas diferenças pessoais podem estimular o conflito.
As técnicas geralmente utilizadas na resolução de conflito são a abstenção, acomodação, 
imposição ou coerção, acordo ou conciliação e colaboração.
Os incentivos mistos: os estruturalistas consideram importantes tanto os incentivos e 
recompensas psicossociais quanto os materiais, bem como as influências mútuas.
Os símbolos e os significados também devem ser prezados e compartilhados pelos 
outros, como a esposa, os colegas, os amigos, os vizinhos. Embora as recompensas sociais 
sejam importantes, elas não diminuem a importância das recompensas materiais.
Alguns autores identificaram a corrente que foi denominada corrente estruturalista cujo 
enfoque foi estabelecer uma crítica sobre o que tinha sido escrito até então dentro desse 
campo. Com isso foram passados em revista os conceitos da Escola Clássica, de Relações 
Humanas e da Burocracia, tomando-se novamente a retórica sobre organizações e sua 
complexidade.
As escolas anteriormente estudadas tinham visão parcial dos elementos que compunham 
uma organização. E é impróprio considerarmos que o Estruturalismo constitui por si 
só um corpo teórico com inovações conceituais sobre a administração, mas não o é 
considerá-lo a forma organizada de analisar os mesmos problemas já abordados de 
maneira fragmentada.
Ao estudarmos a organização sob a óptica estruturalista estamos necessariamente 
fazendo uma análise globalizante de todos os fatores que compõem o todo organizacional. 
Mais que isso, estamos reconhecendo a integração e interdependência desses fatores. 
Outro aspecto importante do conceito de estruturalismo é a influência que esses fatores 
exercem uns sobre outros, onde surge a necessidade de reconhecer a existência de um 
ambiente onde eles se inserem.
A finalidade da organização, em um sentido amplo, depende de alguma combinação 
dos seguintes fatores: das hipóteses concernentes à natureza do homem, da unidade de 
análise, ou seja, dos níveis institucionais, individuais e organizacionais e, por último, 
do ponto de partida da organização.
Minuchin é o principal teórico da Escola Estrutural e para ele a família é um sistema 
que se define em função dos limites de uma organização hierárquica. O sistema familiar 
diferencia-se e executa suas funções através de seus subsistemas. As fronteiras de um 
subsistema são as regras que definem quem participa de cada subsistema e como 
participa. Para que o funcionamento familiar seja adequado, estas fronteiras devem 
20
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
ser nítidas. Quando as fronteiras são difusas, as famílias são aglutinadas; fronteiras 
rígidas caracterizam famílias desligadas. Famílias saudáveis emocionalmente possuem 
fronteiras claras. A estrutura não é, para Minuchin (1974), uma entidade imediatamente 
acessível ao observador. É no processo de união com a família que o terapeuta obtém 
os dados, escalonamento do stress e a utilização dos sintomas. A terapia estrutural é 
uma terapia de ação e o sintoma é visto como um recurso do sistema para manter uma 
determinada estrutura.
Escola estratégica
A Escola Estratégica (HALEY, 1985; MADANES, 1984) é um modelo pragmático voltado 
essencialmente para a clínica. Sua preocupação é com a solução do problema e com a 
identificação dos comportamentos que mantêm o problema. Para cada resolução de 
problema,são traçadas estratégias específicas. Há um plano geral que inclui a primeira 
entrevista a qual tem lugar muito importante, pois além de explorar o problema, 
estabelece as metas e as atribuições que cabem a todos. Progressivamente vão sendo 
planejadas intervenções que requerem cooperação de todos até o estágio de resolução 
do problema e uma fase posterior de manutenção dos ganhos obtidos.
O termo estratégico é utilizado para descrever qualquer terapia em que o terapeuta 
realiza ativamente intervenções para resolver problemas. A visão estratégica define o 
sintoma como expressão metafórica ou analógica de um problema representando, ao 
mesmo tempo, uma forma de solução insatisfatória para os membros do sistema em 
questão.
A abordagem terapêutica é pragmática: trabalham-se as interações e evitam-se os 
porquês. O principal objetivo é mudar o comportamento manifesto do paciente. São 
utilizadas instruções paradoxais que consistem em prescrever comportamentos que, 
aparentemente, estão em oposição aos objetivos estabelecidos, mas que visam a 
mudanças em direção a eles. A instrução paradoxal é mais frequentemente utilizada 
sob a forma de prescrição de sintoma, isto é, encorajando- se aparentemente o 
comportamento sintomático. Para Watzlawick et al. (1967) o uso do paradoxo leva a 
substituir a ação do duplo vínculo patogênico por um duplo vínculo terapêutico.
Escola de Milão
Refere-se à escola da psicoterapia sistêmica desenvolvida pelos psiquiatras e 
psicanalistas milaneses Mara Selvini Palazzoli, Luigi Boscolo, Gianfranco Cecchin e 
Giuliana Prata. Esse grupo de estudiosos afastou-se da psicanálise na década de 1970 
e dava ênfase ao tratamento da família como um todo, priorizando a observação do 
21
“jogo” intrafamiliar, ou seja, das regras internas e implícitas que regem a família – e 
que, normalmente servem de apoio à sintomática.
Foi então desenvolvido um modelo sistêmico de intervenção familiar, que é utilizado no 
atendimento de famílias anoréticas e ou com problemas sérios emocionais.
Partindo da hipótese de que a família é um sistema autorregulado que se governa 
através de regras, Palazzoli et al.( 1978 ) relata suas pesquisas com diferentes grupos 
de famílias e conclui que as famílias de anoréticos são caracterizadas pela presença 
de redundâncias comportamentais e por regras particularmente rígidas, enquanto as 
famílias com um paciente psicótico, embora a rigidez do modelo base, apresentam 
enorme complexidade nas modalidades transacionais.
Um princípio terapêutico fundamental para o grupo de Milão é a conotação positiva 
dos comportamentos apresentados pela família. Quando se qualificam como positivos 
os comportamentos sintomáticos, motivados pela tendência homeostática do sistema 
e não os comportamentos. Outro tipo de intervenção utilizada pelo grupo de Milão é 
o ritual familiar, ou seja, uma ação ou uma série de ações das quais todos os membros 
da família são levados a participar. A prescrição de um ritual visa evitar o comentário 
verbal sobre as normas que perpetuam o jogo em ação. No ritual familiar novas regras 
substituem tacitamente as regras precedentes. Para elaborar um ritual o terapeuta 
deve ser bastante observador e criativo. O ritual é rigorosamente específico a uma 
determinada família.
A neutralidade é a posição de que o sistema deve ser visto em todas as suas partes, 
e todas têm a mesma importância na sua expressão. Na prática é fazer aliança com 
todos os membros da família. Além do valor da equipe como um importante recurso no 
atendimento, a Escola de Milão trouxe questionamento sobre intervalo entre as sessões, 
como um outro recurso terapêutico (BOSCOLO, CECCHIN, HOFFMAN; PENN, 1993). 
Nichols e Schwartz (2006-2007) consideram que a Escola de Milão pode ser vista 
como estratégica (na origem de seus conceitos e prescrições) e com ênfase na adoção de 
rituais, que são ações prescritas para dramatização da conotação positiva.
Escola Construtivista
No final da década de 1970, utilizando os conceitos da cibernética de segunda ordem e de 
sua aplicação aos sistemas sociais, surge a Escola Construtivista. A partir da concepção 
de retroalimentação evolutiva de Prigogine (1979), considera-se que a evolução de um 
sistema ocorre através da combinação de acaso e história em que, a cada patamar, 
surgem novas instabilidades que geram novas ordens, e assim sucessivamente. Nesta 
22
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
perspectiva em que os sistemas vivos são considerados como hipercomplexos e 
indeterminados, instabilidade e a crise ganham um novo sentido no sistema familiar. A 
crise não é mais um risco, mas parte do processo de mudanças assim como o sintoma.
Sendo assim, os terapeutas de família da Escola Construtivista passam a considerar a 
autonomia do sistema familiar partindo do estudo dos sistemas auto-organizados da 
cibernética de segunda ordem, e dos sistemas autopoéticos postulados por Humberto 
Maturana (1990). Ocorre, neste enfoque, uma ruptura entre o sistema familiar/observado 
e o terapeuta/ observador. O sistema surge como construção de seus participantes. O 
terapeuta estará interessado não mais no comportamento a ser modificado, mas no 
processo de construção da realidade da família e nos significados gerados no sistema. 
A ênfase é deslocada do que é introduzido no sistema pelo terapeuta para aquilo que o 
sistema permite a ele selecionar e compreender. Alguns terapeutas estratégicos podem 
ser citados como tendo incluído posteriormente na sua prática o modo de pensar 
construtivista; entre eles, os do grupo de Milão. Palazzoli et al. (1980) estabelecem 
três princípios indispensáveis ao trabalho terapêutico: a formação de uma hipótese, 
a circularidade e a neutralidade. A hipótese formulada deve ser testada ao longo da 
sessão; se rejeitada, o terapeuta procurará outras, baseando-se nos dados obtidos na 
verificação da primeira hipótese. Todas as hipóteses devem ser sistêmicas, ou seja, 
devem incluir todos os membros da família e fornecer uma conjetura que explique a 
função da relação. A circularidade diz respeito à capacidade do terapeuta de conduzir 
a sessão baseando-se nos feedbacks recebidos da família como resposta à informação 
que solicitou em termos relacionais.
A neutralidade consiste numa atitude de imparcialidade do terapeuta que se alia a 
cada membro da família, neutralizando qualquer tentativa de coalizão ou sedução de 
qualquer componente do grupo familiar.
O enfoque construtivista, proposto a partir de uma ótica sistêmica de segunda ordem, 
questiona, portanto o poder do terapeuta na terapia familiar e as intervenções 
terapêuticas diretivas. A ênfase não é colocada na pergunta, mas na construção da 
interação e a ação do terapeuta pretende explorar as construções onde surgem os 
problemas.
A Terapia Sistêmica de Família mudou juntamente com o mundo que já não é mais o 
mesmo. As ideias pós-modernas com contribuições dos aportes filosóficos abordando 
as questões da linguagem, as teorias sobre a construção conjunta de significado, as 
questões de gênero, a ética, as contribuições da nova física e os novos conhecimentos 
sobre o funcionamento do cérebro e da mente formaram um pano de fundo para o 
surgimento de novas escolas de Terapia de Família.
23
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Sem abandonar completamente os pressupostos anteriores, novas abordagens 
terapêuticas passaram a explorar as narrativas dos diversos membros de uma família 
em busca de diferentes descrições para os problemas e de mais recursos para o 
funcionamento da família, sempre se perguntando sobre o que seria adequado em cada 
contexto sociocultural. O terapeuta deixou de ser um observador externo, um especialista 
em detectar problemas, para se transformar em um articulador, um mediador de 
conversações preocupado em conhecer como determinada família se organiza e opera. 
E também os significados construídos e compartilhados por seus membros.
Nesse meio tempo, o desenvolvimento de nossas teorias da terapia temcaminhado rapidamente em direção a uma posição mais hermenêutica 
e interpretativa. Esta posição enfatiza os sentidos à medida que eles 
são criados e vivenciados pelos indivíduos nas conversações. Na busca 
por esta nova base teórica, desenvolvemos um conjunto de ideias que 
conduzem nosso entendimento e explicações à arena dos sistemas em 
movimento, que existem somente nos caprichos do discurso, da linguagem 
e da conversação. É uma posição firmada nos domínios da semântica e 
da narrativa que se apoia principalmente no princípio segundo o qual a 
ação humana acontece em uma realidade de entendimento criada pela 
construção social e do diálogo. Deste ponto de vista, as pessoas vivem e 
compreendem seu viver por meio de realidades narrativas construídas 
socialmente que conferem sentidos e organização à sua experiência. 
(ANDERSON; GOOLISHIAN, 1998, p.36)
Sem negar importância do conhecimento do especialista, o pós-modernismo põe em 
evidência o conhecimento local, o conhecimento trazido pelas histórias e narrativas 
pessoais. Geertz (1978), inspirado em Ryle – filósofo inglês representante da geração 
influenciada pelas teorias de Wittgentein sobre a linguagem – menciona dois tipos de 
narrativas ou descrições: as descrições superficiais, que buscam analisar os significados 
culturais a partir do ponto de vista do especialista, determinando o que eles são; e as 
descrições ou narrativas densas que analisam os significados a partir do ponto de vista 
dos atores interessando-se por quem eles são.
O pós-modernismo trouxe novas metáforas para a questão da comunicação. Chamamos 
a atenção para sua etimologia, que mostra a mesma origem das palavras ― comum –, 
―comuna–, ―comungar–: todas se originaram da expressão latina commune. Além da 
ideia da transmissão de informações, comunicação remete ao processo de construção 
de um sentido comum através da relação mediada pela linguagem. 
24
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
O pensamento da pós-modernidade, associado a uma prática clínica sistêmica, 
manifesta-se em um conjunto de princípios e derivações práticas em torno dos 
enfoques conhecidos como construtivismo e construcionismo social... Posso 
dizer que, em linhas bem gerais, a oposição dá-se entre uma visão de construção 
do conhecimento centrada no indivíduo, no caso do construtivismo, e uma 
centrada na construção social, no caso do construcionismo. (GRANDESSO, 
2000, p.56)
Para Benjamim, a experiência é fundamental; não a experiência isolada, mas sim a 
experiência de uma pessoa em interação com seu contexto pessoal, familiar, social, 
político, espiritual. E a narrativa que surgirá dessa experiência será sempre uma forma 
artesanal de comunicação, cujo sentido surge a cada vez que é narrada, a cada encontro 
entre narrador e ouvinte, que, estando em interação, em comunicação, construirão em 
conjunto o sentido do que vivem.
25
CAPÍTULO 3
Abordagens terapêuticas 
pós-modernas
De acordo com Minuchin (1999), as famílias são como sistemas 
sociais e, por essa razão, é necessário prestar atenção nas 
características de qualquer sistema, pois uma parte influência 
a outra e todo o sistema passa por períodos de estabilidade e 
mudança, como também o poder dessas diferentes partes pode 
ser desigual como em qualquer estrutura.
O trabalho com as famílias considera as motivações individuais, relacionais e sociais, 
permitindo uma abordagem contextualizada de sentido sistêmico, ou seja, passar da 
preocupação com o produto à preocupação com o encontro entre o sujeito e o produto 
num contexto sociocultural, como defende Sudbrack (2001). O modelo sistêmico postula 
que os problemas relacionados ao uso de drogas situam-se na interação do indivíduo com 
seu contexto, existindo uma interação dinâmica entre variáveis individuais, ambientais 
e a substância química. Parece-nos, então, um modelo abrangente e, portanto, o mais 
indicado para dar conta da complexidade do fenômeno. 
A epistemologia ecossistêmica de Bateson (1976, 1979) propõe a visão de contexto, em 
oposição à visão dicotomizada de indivíduo e ambiente. O contexto indica um conjunto 
vivo – o ecossistema – composto de um organismo e de seu ambiente, indissociáveis, 
e ligados pela constância na relação. O ecossistema inclui o indivíduo em relação com 
seu ambiente. Seguindo-se a proposta de Bateson da visão de contexto como elemento 
fundamental de toda comunicação e significação, não se deve isolar o fenômeno de seu 
contexto, pois cada fenômeno tem sentido e significado dentro do contexto em que se 
produz. 
Esta proposta de trabalho segue, também, os fundamentos da epistemologia da 
complexidade nas ideias de Morin (1992, 1996, 1996a), quando nos fala do desafio de 
não separar o objeto de seu meio, de não ser redutor e disjuntivo; que a complexidade 
é um desafio que o real nos traz, pois a realidade é complexa. Morin (1996) coloca que 
o objetivo do conhecimento não é descobrir o segredo do mundo, mas dialogar com o 
mundo. O pensamento complexo luta contra a mutilação, não contra a incompletude, diz 
este autor (1992). O pensamento complexo tende para o pensamento multidimensional. 
26
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
Com a teoria se reconhece a instabilidade, a indeterminação, a desordem, a ordem a 
partir das flutuações, a auto-organização, o acaso. Transpondo-se a perspectiva do caos 
na visão da complexidade, como propõe Ausloos (1995).
A epistemologia construtivista (VON GLASERSFELD, 1988, 1995; VON FOERSTER, 
1987,1988; WATZLAWICK, 1988, 1995) nos afasta da pretensão de objetivar e atingir 
uma realidade (a realidade é uma construção), e toda observação inclui o observador 
(como observadores, somos sempre parte do que observamos). O construtivismo 
reinsere o sujeito no processo de conhecimento. O cientista não é mais um observador 
neutro, mas ao contrário, as teses científicas são concebidas como criadas pelo e para o 
ser humano, a fim de apreender uma natureza complexa e desordenada (CAILLÉ, 1981 
apud SUDBRACK, 1997). A palavra chave no construtivismo é escolher: o terapeuta 
construtivista tem por objetivo resgatar no grupo as possibilidades deste reinvestir em 
outros níveis de leitura, de complexificar suas relações com o mundo (SUDBRACK, 
1994). 
A família, então, é vista como recurso, como um sistema que tem competências. 
Trabalhar em terapia sobre a competência supõe uma grande confiança na capacidade 
do sistema familiar em resolver problemas. Ausloos (1995) coloca que todas as famílias 
têm competências, mas em certas situações elas não sabem as utilizar, não sabem que 
as têm, estão impedidas de utilizá-las, ou ainda, impedem a si próprias de as utilizar por 
diferentes razões. O papel do terapeuta ou equipe terapêutica, como ativadora deste 
processo de competência familiar. Sobre este aspecto Ausloos (1995) refere que o papel 
do terapeuta é de trabalhar com a família para encontrar ou descobrir o que ela sabe 
para reinventar soluções e para resolver seus problemas.
A psicologia que tradicionalmente tem seu foco de ação centrado na identificação de 
problemas/doenças em busca de soluções ‘curas’ é convocada a propor novas formas 
de intervenção que deem conta das realidades atuais. E para que possamos construir 
estas perspectivas diferentes de intervenção clínica é preciso que modifiquemos alguns 
paradigmas tecnicistas. Inclusive compreendendo a intervenção clínica segundo 
propõe Figueiredo (1996), ou seja, o ethos da clínica psicológica é o de uma escuta 
diferenciada das aflições pelas quais passam as pessoas, aquilo que não é dito mas 
que gera tensões e conflitos. O paradigma proposto então é o ético-estético, ou seja, a 
produção de vida e a construção de cidadania, escutando-se o cotidiano como expressão 
das práticas humanas num determinado tempo e lugar com diferentes possibilidades 
de interpretação. 
Acreditamos que com esta perspectiva de atendimentos às famílias, estamos ampliando 
as possibilidades de os psicólogos se aproximarem das demandasatuais da sociedade, 
27
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
já que a identificação dos problemas com o abuso de drogas é tema recorrente e cada 
vez mais crescente. A sociedade em constante processo de mudança aponta para 
vivências e sofrimentos da coletividade que se alteram, cabendo a psicologia propor 
novas estratégias de enfrentamento desta realidade.
De acordo com Minuchin (1999), as famílias são como sistemas sociais 
e, por essa razão, é necessário prestar atenção nas características de 
qualquer sistema, pois uma parte influência a outra e todo o sistema 
passa por períodos de estabilidade e mudança, como também o poder 
dessas diferentes partes pode ser desigual como em qualquer estrutura.
A terapia familiar tem como objetivos, na perspectiva de Cordioli (1998), melhorar 
a comunicação entre os membros, desenvolver a autonomia e a individualização das 
diferentes pessoas, descentralizar e tornar mais flexíveis os padrões de liderança e de 
tomada de decisões, reduzir conflitos interpessoais, além de melhorar o desempenho 
individual.
Do mesmo modo, sua personalidade e comportamento são moldados pelo que a família 
permite e espera dele. Para Minuchim (1999), o indivíduo é a menor unidade do sistema 
familiar. O mesmo autor salienta que ele contribui para a formação de padrões familiares. 
As diferentes temáticas que emergiram dos atendimentos familiares realizados 
possuem desdobramentos a partir de um conflito central. O conflito que motivou o 
atendimento familiar num primeiro momento é identificado em um dos membros da 
família. Entretanto, no decorrer dos encontros realizados, a família começa a identificar 
como os demais familiares envolvem-se na conflitiva apresentada inicialmente, assim 
como, começam a perceber novas possibilidades de entendimento daquele conflito e a 
possibilidade uma mudança nos padrões de funcionamento familiar. 
O espectro de possibilidades de terapias que podem ser consideradas pós-modernas 
é bastante amplo. Podemos enumerar uma farta variedade de abordagens, 
organizadas de forma razoavelmente consistente, tanto do ponto de vista teórico, 
como das práticas clínicas derivadas, que podem ser ditas pós-modernas. Este 
trabalho propõe-se a oferecer um panorama atual do campo das terapias 
pós-modernas, tendo como referência principal a terapia familiar, embora não seja 
a intenção inventariar e classificar exaustivamente tal espectro.
Abordagens narrativas
É um pressuposto dessas abordagens que as pessoas vivem suas vidas através de 
histórias; que as histórias organizam e dão sentido à experiência e que os problemas 
existem na linguagem, sendo capturados nas histórias dominantes, coautoriadas nas 
28
UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
comunidades linguísticas das pessoas, tendo uma dimensão canônica. Entre suas 
variações, gostaria de destacar:
 » A terapia narrativa com ênfase nas micropráticas transformativas e na 
organização de histórias qualitativamente ‘melhores’ para o sistema, 
em torno dos “estranhos atratores”, fazendo referência à teoria do caos. 
Estes atratores caracterizam-se como opções potenciais que surgem nos 
pontos de bifurcação das histórias desestabilizadas pela conversação 
terapêutica, conforme o trabalho de Sluzki (1992;1998). 
 » A terapia narrativa com ênfase nos processos reflexivos e na abertura das 
palavras para os significados por elas construídos, bem como no processo 
de questionamento como contexto generativo em relação à mudança. 
Destaca-se neste enfoque o trabalho de Tom Andersen (ANDERSEN, 
1987; 1991; 1992; 1995; 1997) e o de Peggy Penn, o qual enfatiza a 
importância das diferentes vozes, a que vem da escrita, a que vem dos 
diálogos internos, além da que decorre das distintas conversações (PENN, 
1985; 1998; 2001). 
 » A terapia narrativa com ênfase na desconstrução das histórias dominantes 
e das práticas subjugadoras do self. A proposta de externalização, 
situando a pessoa e o problema como entidades distintas, contribui para 
desessencializar o self, ao tornar conhecidos os contextos organizadores 
das narrativas opressoras das quais as pessoas constroem empobrecidas 
visões de si mesmas e restritas possiblidades existenciais. A reconstrução 
narrativa, decorrente do trabalho terapêutico, caracteriza este modelo de 
terapia como sendo de reautoria da autobiografia. Considere-se, neste 
sentido, o trabalho de Michael White, David Epston, Jill Freedman 
e Gene Combs (WHITE, 1988; 1991; 1993; WHITE; EPSTON, 1990; 
FREEDMAN; COMBS, 1996). 
Abordagens colaborativas
Estas abordagens terapêuticas são organizadas em torno da definição dos sistemas 
humanos como sistemas linguísticos, geradores de linguagem e significado, 
organizadores e dissolvedores de problemas. Este é o caso da terapia de base dialógica, 
portanto, uma conversação de duas mãos de trocas colaborativas, de Harlene Anderson 
e do saudoso Goolishian (ANDERSON, 1994 1997; ANDERSON; GOOLISHIAN, 1992; 
1988; GOOLISHIAN; ANDERSON, 1994; GOOLISHIAN; WINDERMAN, 1988), em 
que o expert é o cliente. O processo de terapia é a conversação terapêutica na qual o 
29
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
terapeuta é um participante ativo e “arquiteto do diálogo”, forma de conversação na 
qual o terapeuta e o cliente participam do codesenvolvimento de novos significados, 
novas realidades e novas narrativas, a partir de uma postura terapêutica de genuíno 
não saber. 
Abordagens pós-modernas críticas
Podemos incluir aqui as propostas como a Just Therapy do grupo do Family Centre 
da Nova Zelândia (WALDEGRAVE, 1990; 2000). Charles Waldegrave, Kiwi Tamasese 
e Wally Campbell, organizam sua abordagem terapêutica em torno de conceitos de 
equidade e justiça social, considerando que muitos dos problemas e saúde mental 
e de relacionamentos, decorrem das consequências das diferenças de poder e de 
injustiças sociais. O grupo propõe que se considerem as influências do macrocontexto 
socioeconômico, político, cultural, étnico, de gênero e espiritual no microcontexto 
familiar. Para esses terapeutas há significados preferidos para as narrativas emergentes, 
edificados em torno de valores promovendo a igualdade de gênero, a autodeterminação 
cultural, pertencimento e espiritualidade. Tal proposta coloca o terapeuta no lugar 
de um profissional engajado com a transformação das políticas sociais mais amplas, 
comprometido com uma ética da igualdade e legitimação da pessoa, encorajando uma 
metodologia de ação/reflexão que considere não apenas indivíduos, casais e famílias, 
mas comunidades, sociedades e países.
Abordagens estrutural e estratégica pós-modernas
Redefinidas de acordo com uma epistemologia construtivista, tais abordagens 
acompanharam a evolução da Cibernética de Primeira para a de Segunda Ordem e 
podem ser consideradas pós-modernas. Considere-se, neste sentido, a terapia centrada 
nas soluções de Shazer (MILLER; de SHAZER, 2000) que, partindo das exceções em 
relação à manifestação de um problema, inicia um jogo de linguagem para a construção 
de lugares aptos para o encontro de soluções, baseadas na conduta do terapeuta e no seu 
uso de técnicas. Acima de tudo, tais releituras são feitas dentro de uma nova concepção 
epistemológica que redefine a abordagem quanto à noção do conhecimento, a prática 
clínica no que se refere ao uso das técnicas e papel do terapeuta.
30
CAPÍTULO 4
Equipe reflexiva
“Numa terapia orientada para o crescimento, a questão central é a de focar sobre 
a expansão do significado da experiência e a ampliação dos horizontes de vida”. 
(WHITAKER,1990, p.59)
Ao pensarmos sobre o processo terapêutico com olhar sobre a transgeracionalidade 
primeiramente consideraremos a postura do terapeuta no setting. A partir do momento 
em que se inicia uma terapia, terapeuta e família formam um sistema, no qual o 
terapeuta sai da postura de mero observador e atua dentro da configuração que se 
estrutura, relembrando da premissa sistêmica na qual aonde existem elementos em 
relação, há a um sistema operando.
Enfocaremosum terapeuta que baseia a sua prática, em uma posição narrativa, que 
considera que os sistemas humanos são geradores de linguagens e sentidos, (incluindo 
o sistema terapêutico), os quais são construídos socialmente dialogicamente, em uma 
troca de mão dupla, na qual novos sentidos são criados. O terapeuta passa a ser um 
observador- participante que exercita a sua “arte” ao fazer perguntas terapêuticas 
a partir de uma posição de não saber, que objetiva a criação dialógica de uma nova 
narrativa, que dá um novo sentido para a vida (MCNAMEE; GERGEN, 1998).
A inclusão do observador, a coconstrução, a autorreferência e a significação da 
experiência na conversação são características da intersubjetividade, que junto à 
complexidade e instabilidade, fundamenta o pensamento sistêmico (VASCONCELLOS, 
2002). Para o terapeuta, é fundamental se auto-observar, percebendo quais são 
os sentimentos, sensações, imagens que aparecem nas situações durante a sessão 
terapêutica, pois este conteúdo lhe servirá de guia para a realização do tratamento. Esta 
autopercepção está relacionada com o conhecimento que o terapeuta tem de sua própria 
vida, sua história e dinâmica familiar. Para um terapeuta trabalhar com os fenômenos 
transgeracionais, faz-se fundamental que ele mesmo tenha passado pela experiência 
de identificar quais os padrões predominantes em sua família, mitos, crenças, tema, 
conflitos de lealdade para observar sua influência na prática profissional identificando 
quais possíveis dificuldades e facilidades no desempenho de sua função terapêutica. 
Além de o terapeuta ter a experiência de fazer sua terapia pessoal, uma forma de o 
terapeuta entrar em contato com a transgeracionalidade de sua família é durante a 
formação em terapia familiar confeccionar o Genograma de sua família de origem. O 
modo como o Genograma é feito, dispõe as informações da família graficamente de 
31
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
forma a oferecer uma visão compreensiva dos complexos padrões familiares. A utilização 
do Genograma proporciona uma visão do quadro geracional de uma família e de seu 
movimento através do ciclo de vida: “Os genetogramas são retratos gráficos da história 
e do padrão familiar, mostrando a estrutura básica, a demografia e os relacionamentos 
da família” (CARTER; MCGOLDRICK, 1985, p.144). As informações reunidas através 
do Genograma incluem nomes e idades de todos os membros da família; datas 
exatas de nascimentos, casamentos, separações, divórcios, mortes, abortos e outros 
acontecimentos significativos; indicações datadas das atividades, ocupações, doenças, 
lugares de residência e mudanças no desenvolvimento vital; e as relações entre os 
membros da família.
Por meio dos Genogramas, ao acessar os principais mitos e crenças que norteiam a 
vida da família atendida, que a acompanham há gerações e determinam os padrões de 
relacionamentos é possível criação de hipóteses sobre o problema clínico da família. 
Com isso, é possível fazer determinadas predições sobre os processos futuros que a 
família vivenciará baseando-se na utilização do Genograma. De acordo com Bowen 
(apud WENDT; CREPALDI, 2007), passado e presente são examinados para se obter 
possíveis informações sobre o futuro.
Ao chegarem para a terapia, as famílias encontram-se focadas no momento presente, 
paralisadas pelos seus problemas e sentimentos ou ansiosas por um momento futuro, 
perdendo a consciência do movimento contínuo da vida que inclui passado, presente 
e futuro, junto às transformações dos relacionamentos familiares. “Quando o senso 
de movimento é perdido ou distorcido, a terapia pode devolver o senso da vida como 
um processo e movimento desde e rumo a” (CARTER; MCGOLDRICK, 1985, p.13). 
Whitaker (1990) recomenda expandir o entendimento familiar dos sintomas através de 
sua extensão para o passado, para as gerações prévias.
Outro método é impeli-los para frente, em direção às novas gerações. Ao supor que 
os sintomas têm continuidade através das gerações, é possível acessar ao rico mundo 
simbólico que percorre a família extensiva. Sequências comportamentais que formam 
padrões tornam-se organizadas em torno de temas, que frequentemente servem 
como metáforas para o tipo de sintoma que é escolhido. A palavra tema quer dizer 
uma questão específica emocionalmente carregada, em torno da qual há um conflito 
periódico. Visto que há muitos temas em toda a família, o terapeuta procura aquele que 
é mais relevante para o sintoma. O entendimento destas crenças e temas serve de base 
para a intervenção terapêutica (PAPP, 1992). A compreensão das crenças e dos temas é 
deduzida, por meio da escuta da linguagem metafórica, no rastreamento de sequências 
comportamentais. “O interesse primário do terapeuta é com o uso do comportamento 
e em como a função de uma parte do comportamento está ligada com a função de uma 
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
outra parte do comportamento, a fim de preservar o equilíbrio familiar” (PAPP, Op. cit. 
p.22).
Os terapeutas do grupo de Milão recomendam a utilização de perguntas sobre o futuro, 
pois pensam que estas podem revelar muitos temas familiares, e serem transformadoras 
na medida em que questionam uma premissa. “Se uma família está organizada em torno 
de uma premissa criadora de um problema, as perguntas relativas ao futuro podem, 
também, desafiar o poder de tal premissa, evitando que se perpetue”. (BOSCOLO et al. 
1993, p.51)
A ação terapêutica pode ser em si pode ser considerada um ritual, que provoca 
uma estrutura espacial e rítmica aos encontros, e pode prescrever rituais singulares 
adaptados a cada contexto familiar, os quais permitem que sejam abordadas situações 
que seriam explosivas se abordadas de frente. A ritualização terapêutica poderá 
apoiar-se em diversos suportes mediáticos, bem como nas suas hibridações recíprocas 
(palavras, desenhos, cartas, “objetos metafóricos”, equipamentos técnicos—registros, 
sala equipada com um espelho unidirecional, pessoas dos terapeutas, jogos relacionais, 
jogos interinstitucionais etc.) (M. SELVINI apud MIERMONT, 1994).
Em relação às situações de maltrato e abuso, os terapeutas que atuam de forma clássica, 
enfocam a urgência de proteção no presente perdendo de vista a história transgeracional 
Tilmans (2000), alerta sobre o risco que o terapeuta tem de que suas ações sejam 
“antiterapêuticas”, se ele não considera a história das três gerações familiares e sua 
complexidade, pois os pais que maltratam ou abusam de um filho, foram maltratados 
em sua infância, ou em outra etapa de sua vida. Portanto, olhar apenas para a situação 
de violência atual, pode agredir mais uma vez os pais que já foram maltratados.
Culturalmente, na época em que os pais eram crianças, não havia uma proteção social 
em relação às crianças como existe hoje, acumulando neles então, sofrimentos e 
experiências destrutivas para a construção de um eu positivo, em meio a muita solidão. 
É necessário que terapeuta fale sobre este tema para proteger a criança maltratada que 
existe dentro do adulto. O adulto que comete uma violência é responsável por seus atos 
e ao mesmo tempo uma vítima que tem urgente necessidade de proteção e respeito. O 
terapeuta deve saber como proteger a criança, vítima atual, sem maltratar mais uma 
vez o adulto e sua criança interna.
Para Byng-Hall (1998), o papel do terapeuta então seria propor um modelo de mudança 
no qual, ele ajudará a família se sentir segura o suficiente para arriscar a improvisar nos 
relacionamentos inseridos nos scripts familiares. A terapia serve desta forma, como 
uma base segura que facilita a mudança de um padrão inseguro para um seguro, na 
qual novos scripts podem ser criados.
33
TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Equipe Reflexiva
Uma das mais contundentes mudanças que as ideias oriundas do Construcionismo 
Social acarretaram na clínica pode ser observada na terapia familiar, com o advento 
da Equipe Reflexiva, que emergiu dos trabalhos de Tom Andersen (1991). Na terapia 
familiar,por ele conduzida, depois de um longo tempo de germinação, segundo 
Andersen “a própria ideia forçou seu nascimento” (ibidem p. 33). Após várias situações 
de hipóteses e incômodos pessoais dos terapeutas com o processo paralisado, aconteceu 
de em determinado momento, a equipe observadora da sessão terapêutica propor um 
momento de interação com a família, no mesmo ambiente.
O contexto clínico do surgimento da Equipe Reflexiva foi por uma mudança 
paradigmática. Neste caso, falamos da inclusão do observador no sistema por ele 
observado. Uma nova postura do terapeuta passou a ser estimulada com base nesse 
momento divisor águas.
A partir de então, surge a prática da Equipe Reflexiva que, presente no consultório, num 
momento em que é solicitada pelo terapeuta de campo, faz uma reflexão sobre o que 
ouviu até ali. Espera-se que esse momento seja uma diferença facilitadora da mudança. 
Essa crítica curiosa, proposta a partir do Construcionismo tem como uma das bases a 
crença de que os significados, as verdades humanas sejam variáveis dependentes do 
discurso, das conversações, enfim, da linguagem. 
Tal posicionamento possibilita ao terapeuta construcionista considerar em sua avaliação 
e em todo o seu procedimento num caso clínico, as variáveis relacionadas ao ambiente 
construído a partir das práticas discursivas.
Reflexão, curiosidade e irreverência
Propõe-se neste trabalho, que os Processos Reflexivos devam ser contemplados em 
alguns elementos importantes, como a própria reflexão, a curiosidade e a irreverência. 
Para o caso da reflexão, trago uma discussão conceitual, a fim de posicionar o termo 
conceitualmente.
No que se refere à curiosidade e a irreverência, propõe-se uma visita às ideias de Cecchin 
e uma discussão sobre características da função e do lugar de terapeuta, principalmente, 
mas não exclusivamente na Terapia Familiar.
Sobre a reflexão, podemos partir dos estudos sobre as ideias de Tom Andersen, acerca 
da adoção de equipes reflexivas, trabalhando sob a orientação dos Processos Reflexivos. 
Na terapia familiar, por ele conduzida, depois de um longo tempo de germinação, 
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
segundo Andersen “a própria ideia forçou seu nascimento” (p. 33, 1991). Após várias 
situações de hipóteses e incômodos pessoais dos terapeutas com o processo paralisado, 
aconteceu de em determinado momento, a equipe observadora da sessão terapêutica 
propor um momento de interação com a família, no mesmo ambiente. 
A partir desse momento divisor de águas, a terapia familiar conduzida por Andersen 
e seus discípulos vem delineando novas formas de tratamento e de concepção 
epistemológica da Terapia Sistêmica, agregando, inclusive, o estudo da cibernética 
como fonte de analogias epistemológica (RAPIZO, 2002).
A abrangência dos estudos acerca dos Processos Reflexivos pode ser verificada nas 
ramificações pedagógicas ressaltadas por Schon (1988), num experimento que passou 
a criticar a relação de poder\saber entre professor e aluno:
Um dia mostraram aos professores um vídeo sobre dois rapazes 
separados um do outro por uma tela opaca. Cada um dos rapazes tinha 
diante de si um conjunto de sólidos geométricos de diferentes tamanhos, 
formas e cores. Em frente de um dos rapazes estava um modelo 
fixo: defronte do outro, encontrava-se uma miscelânea de sólidos 
geométricos, que o segundo rapaz teria de transformar no modelo 
fixo seguindo as instruções do primeiro. À medida que os professores 
viam o filme, observavam que, embora as instruções do primeiro rapaz 
parecessem bem formuladas, o segundo estava cada vez mais confuso. 
Os professores diziam coisas como: O segundo rapaz parecia ser um 
aluno de aprendizagem lenta, não consegue estar atento durante muito 
tempo, não consegue seguir as instruções. Neste momento, uma das 
investigadoras salientou: Parece-me que o primeiro rapaz deu uma 
instrução errada, pois disse “põe o quadrado verde”, mas não existem 
quadrados verdes, só há quadrados laranja e as únicas coisas verdes 
são os triângulos. Uma das vantagens do vídeo é que pode ser revisto, 
e por isso os professores puderam voltar atrás e observar o filme uma 
vez mais. Com efeito, concluíram que as instruções do primeiro rapaz 
se referiam a um quadrado verde quando não havia quadrado dessa cor. 
À medida que continuavam a observar o filme, ficaram surpreendidos 
ao notar que, de fato, o segundo rapaz era exímio no cumprimento das 
instruções, encontrando sentidos em indicações sem nexo. Foi então 
que um dos professores notou algo de surpreendente: Aquilo que 
acabávamos de fazer, foi dar razão ao aluno. Essa expressão – dar razão 
ao aluno – inspirou os professores durante os restantes dois anos do 
seminário.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Este evento pode ser considerado de suma importância para as ideias de que falamos 
aqui .É o exemplo claro de uma mudança paradigmática prática.
O autor acima citado fala na formação de professores como profissionais reflexivos. A 
reflexão sugerida por Andersen aparece como algo ouvido que é internalizado e pensado 
antes de uma resposta a ser dada (p.35, 1991).
Na situação descrita acima, podemos encontrar justificativas para reflexões políticas, 
clínicas, filosóficas etc. Entretanto, penso ser importante sublinhar pelo menos dentre 
tantas analogias possíveis a partir do texto de Schon.
Como pano de fundo, podemos estabelecer uma discussão sobre o que uma postura 
reflexiva pode provocar nas relações tradicionais porque não venho defender a erosão 
das relações de poder no cotidiano. Todavia, penso que devam ser criticadas todas.
Dentro de um modelo tradicional o que significaria a atuação de um professor que 
reconstruísse a sua forma de ensinar baseado na contribuição de um aluno? Como 
isto seria possível se o aluno só tivesse a aprender? A analogia que proponho, ou a 
qual me rendo sem lutar, traz o exercício de colocar os pacientes no lugar de alunos. 
Que repercussões haverá quando nos dispusemos a rever toda a metodologia à qual 
fomos apresentados e pela qual fomos seduzidos, porque ela não está adequada a um 
paciente? Como ficará o meio acadêmico? Quais serão as consequências disso nos cursos 
de formação e especialização? Poderemos dizer que terapeutas comportamentais, por 
exemplo, poderão utilizar técnicas psicanalíticas, quando isso se adequar melhor a 
determinado paciente?
Falamos aqui, inicialmente, de flexibilidade. Esta fatalmente estará ligada ao trabalho 
conduzido à luz dos Processos Reflexivos. Não uma flexibilidade desordenada, 
desavisada, mas antes, a condição de se beneficiar de outras ideias, ideias estranhas ao 
arcabouço teórico ao qual nos tenhamos afeiçoado.
O tema da reflexão percorre um caminho eminentemente filosófico no que diz respeito 
à flexibilidade. Podemos considerar uma questão ética o pensamento crítico quanto à 
postura adotada pelo profissional em relação à suas convicções. É possível encontrar 
respaldo nas ideias de Feverabend (2010) quando este identifica o Relativismo Prático. 
Para ilustrar essa proposta, o autor apresenta a seguinte tese:
[...] indivíduos, grupos e civilizações inteiras podem lucrar ao estudar 
culturas, instituições e ideias estrangeiras, por mais fortes que sejam as 
tradições que apoiam suas próprias ideias (por mais fortes que sejam os 
argumentos que servem de base a elas). Por exemplo, os católicos podem 
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
se beneficiar ao estudar o budismo, médicos podem se beneficiar com 
um estudo de Nei Ching ou de um encontro com feiticeiros africanos, 
psicólogos podem se beneficiar de um estudo das maneiras como os 
romancistas e atores constroem um personagem, cientistas de um modo 
geral podem se beneficiar com um estudo de métodos e pontos de vista 
não científicos e a civilização ocidental como um todo pode aprender 
muito com as crenças, hábitos e instituições de povos “primitivos”. 
(p. 29, 2010).
A relação que aqui fazemos entre reflexão e flexibilidadenão é absoluta nem pretende 
ser e antes, a apresentação de uma interpretação possível para o que se pode entender 
por reflexão.
No campo conceitual, podemos obter várias definições e aplicações para o termo reflexão. 
È muito comum que as definições carreguem o sentido de uma ação reflexiva diante de 
algo apresentado ou vivenciado. Podemos visitar alguns comentários de Abbagnano 
(2007) sobre a definição feita por alguns grandes nomes da história da Filosofia:
[...] mesmo não empregando o termo [reflexão], Aristóteles admite o fato 
óbvio de que o intelecto ‘pode pensar-se’. (...) Os escolásticos expressaram 
esta possibilidade com o termo reflexão. Tomás de Aquino diz: ‘uma vez que 
reflete sobre si mesmo, o intelecto entende, conforme essa reflexão, tanto o seu 
entender quanto a espécie por meio da qual entende. (p. 986, 2007).
Ainda segundo Abbagnano podemos observar aqui o caráter essencial da reflexão, a 
partir da necessidade de refletir sobre si mesmo para então, entender o particular. 
Um trabalho focado na reflexão é menos simples do que afetivo. Pode ser encarada 
como uma postura frente ao que se nos apresentada. 
É comum, em nossos atendimentos, deparamos com situações que nos afetam e nos 
provocam. Cada uma dessas situações pode ser encarada como mais um momento em 
que o terapeuta deve escutar, acessar sua abordagem teórica de referencia, avaliar como 
deve proceder para fazer melhor o seu trabalho. 
A postura reflexiva vai além de uma pessoa autocrítica; é ainda, uma postura cuidadosa 
e atenta aos afetos em nós provocados pelo encontro com nossos pacientes. Segundo 
Leibniz, a reflexão é a atenção dada àquilo que está em nós, enquanto os nossos sentidos 
não conseguem acessar tal coisa (ABBAGNANO, 2007). 
Muito interessante, também, é a versão de Kant para a função da reflexão, afirmando 
que a reflexão não visa aos objetos em si para chegar aos conceitos. Antes disso, segundo 
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
Kant (in ABBAGNANO, 2007), a reflexão “é um estado de espírito em que começamos 
a dispor-nos a descobrir as condições subjetivas que nos possibilitam chegar aos 
conceitos.” (p.986) 
Um caráter ressaltado ainda por Abbagnano que consideramos importante apara este 
trabalho é o caráter de ação criativa. Tal ideia, proposta por Hegel (IBID) está de acordo 
com os pressupostos do Construcionismo Social, quando afirma que “tal ação criativa 
traz à luz a verdadeira natureza daquilo que se investiga e, portanto, de algum modo 
produz tal natureza” (p. 986). Nas palavras de Hegel, segundo Abbagnano, podemos 
identificar algo que pode ser identificado como uma proposta de construção da realidade 
pelo sujeito. 
Uma vez que, na reflexão, se obtém a verdadeira natureza, e esse 
pensamento é minha atividade, essa verdadeira natureza é igualmente 
produto do meu espírito, do meu espírito como Sujeito pensante, de 
mim, na minha simples universalidade, como Eu que é sem dúvida por 
si, ou seja, da minha liberdade. (ibid. p. 987).
Ainda temos, de acordo com o pensamento fenomenológico de Husserl, a reflexão 
retratada como uma espécie de percepção imanente, que se conecta imediatamente 
com o que é percebido (ibid.) 
Quando trazemos para discussão o termo irreverência, trazemos também, 
inevitavelmente conectado a ele, a curiosidade. A principal referencia teórica e inspiração 
para a proposta da irreverência e da curiosidade como elementos fundamentais para 
este trabalho está nas ideais do psicoterapeuta italiano Gianfranco Cecchun (1932-2004 
). Cecchun fez emergir Terapia Familiar os conceitos de curiosidade e de irreverência. 
Uma ideia importante e básica de seus estudos fala sobre a crítica ao saber apriorístico. 
Qualquer que seja, esse saber concorre para uma gama de preconceitos por parte do 
terapeuta, que na verdade, acabará eventualmente bloqueando o processo terapêutico, 
se tentar adaptar a problemática do paciente a um arcabouço teórico, antes de procurar 
investigar a situação e se relacionar genuinamente com a família. 
A observação das ideias de Cecchin que são tão bem exploradas e difundidas por 
seus predecessores, nos faz considerar a importância da crítica sobre o trabalho do 
profissional que conduz qualquer processo terapêutico. 
A irreverência e a curiosidade se mostram elementos básicos do conceito formulado por 
Cecchin, segundo Prati (2009), de irreverência teórica. De acordo com este princípio, 
procura-se constantemente criticar e investigar com curiosidade as teorias e práticas 
que surgem e são utilizadas na clínica. No trabalho de Prati observamos também as 
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UNIDADE I │TERAPIAS PÓS-MODERNAS
palavras de McNamee (2004) que fala sobre a chamada promiscuidade teórica, que 
além de se preocupar com o olhar crítico e curioso, atenta a para o modo como os 
profissionais tomam decisões no processo terapêutico, caminhando no sentido de uma 
compreensão do que realmente “significa ser um terapeuta” e fazer um trabalho clínico. 
( p.16) 
Nessa proposta, trazemos a necessidade de uma postura flexível e criativa. Devemos 
estar prontos para que um novo espaço se crie dentro da relação estabelecida. Uma 
nova forma de comunicação sempre terá vez. 
Nessa proposta, trazemos a necessidade de uma postura flexível e criativa. Devemos 
estar prontos para que um novo espaço se crie dentro da relação estabelecida. Uma 
nova forma de comunicação sempre terá vez caso estejamos atuando com uma atitude 
irreverente, curiosa e flexível.
Na terapia familiar, muitas vezes somos como que convidados a adotar uma postura 
rígida e talvez mais acessível para nós. A facilidade inicial pode se transformar em 
problemas posteriores, que serão observados quando o processo estiver muito limitado. 
Nas palavras de McNamee:
No campo da terapia de família, nossa preocupação é claramente 
ajudar as famílias a encontrarem modos produtivos de viver juntas, a 
inquestionável aceitação de que o método científico vai nos dizer qual 
teoria ou modelo é o certo para ser utilizado é mais do que limitante. 
Como observa Larner (2004), “ser científico é manter uma curiosidade 
investigativa sobre como por que a terapia funciona, e aceitar que 
a ciência pode não ser suficiente para explicar o processo” (p. 29). 
Uma ênfase dialógica (em oposição ao cientificismo) gera o tipo de 
irreverência (e curiosidade) exigida por uma terapia efetiva.
A irreverência pode ser encarada, simplesmente, como o ato de não reverenciar. É uma 
recusa sem agressividade. Uma recusa que substitui o tom carrancudo de uma recusa 
comum por uma alternativa mais produtiva que esta curiosidade.
O terapeuta irreverente surpreende a si mesmo, quando se vê aceitando participar 
de um processo para o qual uma linha teórica rígida e determinista aconselharia 
veementemente que ele se mantivesse distante.
Segundo McNamee, se formos um pouco irreverentes, talvez possamos começar a ver 
cada modelo de terapia como uma forma potencialmente útil de construção com nossos 
pacientes.
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TERAPIAS PÓS-MODERNAS│ UNIDADE I
A abertura às surpresas do encontro pode ser uma das mais eficazes ferramentas de que 
o terapeuta dispõe. Cada encontro é novo, cada encontro é único, e não somos capazes 
de prever as forças que irão emergir dele. Entretanto, podemos limitar essas forças, 
caso nos mantenhamos firmemente olhando para um único lado do horizonte, caso nos 
detenhamos a pensar sobre a validação de nossa abordagem teórica de afinidade.
Algumas palavras não combinam com o que procuramos trazer como objetivos de 
terapia: limitação é certamente uma delas. Quando uma forma de ver ou de lidar parece 
limitar as possibilidades de ação do sujeito em qualquer situação em que se encontre, a 
ampliação pode ser uma boa saída. É disso que falamos o tempo todo quando citamos 
a expressão mudança paradigmática.
Para o caso deste trabalho não é diferente. A proposta de uma aproximação entre 
Fenomenologia e Construcionismo Social pode ser encarada como uma proposta 
de outra visão sobre as coisas.

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