Buscar

barriga de aluguel

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Possível contratar a “barriga solidária” ou “barriga de aluguel
O desejo de formar uma família muitas vezes esbarra em limitações impostas pela natureza. Com a capacidade de gerar comprometida, muitos casais necessitam de auxílio da ciência e tecnologia para concretizar a expansão do núcleo familiar.
Segundo a Organização Mundial de Saúde - OMS, a infertilidade caracteriza-se quando após um ano de vida sexual ativa, sem o uso de métodos contraceptivos, não há estação. As técnicas de reprodução humana assistida surgem como uma solução para os casos de infertilidade, muitas vezes utilizadas após a tentativa frustrada de casais inférteis a outros métodos.
Os primeiros casos registrados de empréstimo de útero teriam ocorrido em 1963, no Japão, e 1975, nos Estados Unidos.
O procedimento é indicado para a infertilidade vinculada a uma ausência, congênita ou adquirida, do útero, patologia uterina ou contraindicação médica à gravidez, que leve a uma absoluta impossibilidade de gestar.
A cessão temporária de útero também é conhecida por outros termos como maternidade substitutiva, gestação de substituição ou substitutiva, barriga de aluguel, maternidade sub-rogada, útero de empréstimo, entre outros.
A partir do próprio conceito de cessão temporária do útero já podemos perceber a complexidade do tema frente às relações estabelecidas pelas partes e as dúvidas de natureza jurídica provenientes dessas relações demonstram a importância de um estudo pormenorizado do assunto.
Não há legislação brasileira específica sobre a cessão temporária de útero. Por isso, o Conselho Federal de Medicina (CFM) editou norma deontológica regulamentando a conduta dos médicos e estabelecendo os requisitos a serem observados nos procedimentos de reprodução humana assistida.
Desde o ano de 1992, o CFM vem editando resoluções sobre o assunto e atualmente vige a Resolução nº 2.168/2017.
Diante das técnicas trazidas pela ciência, é essencial passarmos à análise da reprodução humana assistida frente aos princípios e direitos fundamentais que alicerçam o biodireito no ordenamento jurídico brasileiro de forma a verificar a possibilidade, ou não, de aderência e limitação à utilização dos mesmos.
O princípio da dignidade da pessoa humana, também conhecido como valor fundamental, apresenta duas projeções: de um lado a dignidade confere autonomia, liberdade de agir e decidir, por outro, restrição da própria liberdade diante do risco de violação que comprometa a dignidade do próprio titular.
Nesse sentido, diz-se que opera ao mesmo tempo como mola propulsora e freio da autonomia privada.
A dignidade humana é assegurada a partir da tutela de outros bens jurídicos que a ela estão vinculados, como a vida, a integridade física, a intimidade, em diferentes graus, e que remontam a proteção e o desenvolvimento de todas as pessoas.
O biodireito busca o fundamento de validade das regras jurídicas de comportamento no princípio da dignidade humana e nos direitos fundamentais previstos.
Nos casos de cessão temporária de útero é firmado um acordo para que uma mulher fértil (portadora) conceba, em seu útero, o filho de outra (mãe civil, genética ou socioafetiva). Quanto ao material genético utilizado há duas possibilidades: o embrião implantado na portadora foi fecundado com o material genético do casal interessado na procriação; embrião implantado na portadora foi fecundado com material alheio ao casal interessado na procriação.
No Brasil, a Resolução do CFM nº 2.168/2017 exige para acesso às técnicas de reprodução humana assistida a gratuidade, além da existência de um problema médico ou que se trate de união homoafetiva.
O acordo em que uma mulher empresta seu útero para o desejo de um casal em ter filhos é visto de forma mais amistosa pela sociedade em geral do que aquele oneroso, sendo reconhecido judicialmente nos Estados Unidos (alguns estados) e Inglaterra.
A cessão gratuita é vista como um ato de generosidade, afeto e altruísmo, sendo admitida a celebração do contrato firmado diante da impossibilidade natural de gestar.
Ainda que a avença não seja admitida com unanimidade pela doutrina, o procedimento vem sendo realizado no Brasil, em consonância com a Resolução do CFM. Por esse motivo, faz-se necessária a reflexão sobre a filiação das crianças nascidas por meio das técnicas de reprodução assistida frente às disposições do Código Civil brasileiro.
Maria Berenice Dias diz “a gestação por substituição seria um negócio jurídico de comportamento, compreendendo para a “mãe de aluguel” obrigações de fazer e não fazer, culminando com a obrigação de dar, consistente na entrega do filho”. A avença seria nula, pois a criança não pode ser objeto de contrato devido a proibição de gestar o filho alheio mediante pagamento, pela ilicitude do objeto (art.104, II CC). Porém entende que, apesar das vedações legais, não haveria justificativa para negar a remuneração pelo serviço prestado.
A família hoje se tornou plural, democratizou-se, transformando-se em um instrumento privilegiado de convivência, de amor e liberdade, voltada para a plena realização dos filhos.
Entende-se que a filiação não é somente aquela resultante de laços de sangue, mas também aquela que se forma pelo afeto, amor, convivência e carinho, sendo chamada de filiação socioafetiva.
Assim, são considerados pais ou mães aqueles que possuem uma relação de afeto com o filho, contraindo responsabilidades e deveres independentemente do vínculo biológico e, indo além, nada mais justo reconhecer como pai e mãe aqueles que antes da própria concepção desejaram intensamente a vida do filho, tendo contribuído ou não com o material genético para a projeção de um projeto parental.
É dentro desse projeto parental precedente ao nascimento dos filhos que está inserida a cessão de útero, também chamada de barriga de aluguel.
De fato, a barriga de aluguel, gestação de substituição ou cessão temporária do útero abalou o tradicional conceito de família e, principalmente, o da paternidade/maternidade.
O pai ou a mãe, atualmente, não se definem apenas pelos laços biológicos que os unem ao menor e sim pela vontade externada de ser pai ou mãe. Ou seja, uma questão que vai além do vínculo biológico e se caracteriza pela demonstração da vontade de assumir responsabilidades e deveres em face dessa filiação, principalmente, com demonstrações de afeto ao menor.

Outros materiais