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Introdução à Assistência Farmacêutica Aula 4 - Mercado farmacêutico e acesso a medicamentos INTRODUÇÃO Você já deve saber que o mercado farmacêutico é um segmento que movimenta altos valores �nanceiros, e que a produção e venda de medicamentos promovem acúmulo de grandes fortunas pelas empresas desse segmento. Mas você já re�etiu sobre a real necessidade da população em usar esses medicamentos? Será que esse uso é racional e que esse consumo exagerado é garantia de resolução dos problemas de saúde da população? Nesta aula, vamos tentar responder tais questões. Bons estudos! OBJETIVOS Estimar a in�uência de fatores econômicos e sociais na oferta e no consumo de medicamentos, com base nas características do mercado farmacêutico mundial; Identi�car a necessidade de intervenção do Estado no mercado, com vistas à garantia de acesso da população aos medicamentos. MERCADO FARMACÊUTICO Vamos iniciar esta aula conhecendo os tipos de necessidades supridas pelo mercado farmacêutico, que incluem as seguintes doenças: DOENÇAS GLOBAIS Aquelas que afetam tanto os países desenvolvidos quanto os países em desenvolvimento e que constituem a maior concentração de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da indústria farmacêutica. Exemplos: • Câncer; • Diabetes; • Doenças cardiovasculares. DOENÇAS NEGLIGENCIADAS Aquelas nas quais a indústria farmacêutica baseada em pesquisa tem interesse apenas marginal e que a�igem, primeiro, as populações dos países em desenvolvimento, embora também afetem indivíduos dos países ricos. Exemplos: • Malária – que pode ser contraída em viagens; • Tuberculose. DOENÇAS EXTREMAMENTE NEGLIGENCIADAS Aquelas que afetam exclusivamente as populações dos países em desenvolvimento. Como a maioria desses pacientes é pobre demais para pagar qualquer tratamento, elas não representam praticamente nenhum mercado. A maioria �ca excluída do escopo dos esforços de P&D da indústria de medicamentos e, portanto, fora do mercado farmacêutico. Exemplos: • Doença do sono; • Doença de Chagas; • Leishmaniose; • Úlcera Buruli; • Dengue; • Hanseníase; • Filariose linfática; • Esquistossomose. Atenção , Há, também, a parcela do mercado farmacêutico que se refere a produtos voltados não necessariamente para o tratamento e a prevenção de doenças, mas que constituem um segmento muito lucrativo nos países ricos e que estão intimamente relacionados ao estilo de vida. Como exemplo das condições a que esses produtos atendem, podemos citar: • A celulite; • A calvície; • As rugas; • As dietas; • O estresse; • Os problemas de adaptação a fuso horário. , Á INVESTIMENTO EM P&D DE NOVOS FÁRMACOS: DOENÇAS NEGLIGENCIADAS Há uma forte relação entre pobreza e saúde. Os indivíduos dos países de renda média e baixa arcam com um ônus desproporcional de doenças, particularmente no que se refere a doenças transmissíveis. Em 2001, as 20 empresas farmacêuticas de maior faturamento bruto em todo o mundo foram objeto de uma pesquisa sobre suas atividades recentes de desenvolvimento de medicamentos. Mesmo demonstrando alguma atividade que envolvia doenças negligenciadas, a pesquisa indicou que o investimento do setor privado nesse campo era mínimo. Uma doença mortal ou muito grave pode ser negligenciada quando: • As opções de tratamento são inadequadas ou não existem; • Seu mercado potencial de drogas é insu�ciente para provocar uma pronta resposta do setor privado; • O interesse do governo em lutar contra ela é insu�ciente. São grandes as di�culdades para o desenvolvimento de P&D em tecnologias e produtos que combatam as doenças negligenciadas. Além disso, há poucos investimentos �nanceiros nesse segmento, quando comparados às pesquisas cujo foco são as enfermidades que atingem os países ricos – como a AIDS, por exemplo. Apesar disso, diversos são os trabalhos cientí�cos desenvolvidos na tentativa de diminuir tanto o número expressivo de pessoas que sofrem as consequências dessas doenças quanto os gastos governamentais com os tratamentos disponibilizados. MERCADO FARMACÊUTICO MUNDIAL O mercado farmacêutico mundial movimenta grandes volumes �nanceiros. A tabela a seguir relaciona, de acordo com as vendas, as principais indústrias desse mercado no mundo. Observe: Fonte da Imagem: Oxy_gen / Shutterstock Analisando esses números, vemos que, em 2011, o mercado global de medicamentos vendeu US$ 855,455 bilhões. Então, nesse ano, o somatório das vendas das 10 principais indústrias farmacêuticas representou mais de 40% desse mercado. Outra forte característica desse segmento é a concentração de P&D para novos medicamentos em países desenvolvidos, pois as empresas relacionadas são multinacionais e possuem sede em países ricos. Os Estados Unidos lideram as vendas no mercado farmacêutico mundial, conforme mostra a tabela a seguir: MERCADO FARMACÊUTICO NO BRASIL Fonte da Imagem: vepar5 / Shutterstock A tabela anterior mostra que, em 2010, o Brasil vendeu US$ 22,1 bilhões, �cando na oitava posição. O fato de os grandes mercados farmacêuticos predominarem em países desenvolvidos re�ete uma baixa taxa de inovação no mercado brasileiro. Mas esse paradigma sofreu modi�cações a partir da implementação da Lei de Patentes, em 1997, e com a introdução da política de medicamentos genéricos no Brasil. Desde então, o País tem aumentado o consumo e a produção desses medicamentos e vem estimulando o desenvolvimento das empresas nacionais. MONOPÓLIOS CONFERIDOS PELA PROTEÇÃO PATENTÁRIA Em 1997, o governo brasileiro aderiu ao acordo TRIPS (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) ou Acordo de Propriedade Intelectual (glossário), e passou a reconhecer a Lei de Patentes – Lei nº 9.279/1996. (glossário) https://bvc.cgu.gov.br/bitstream/123456789/2357/1/acordo_trips.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm Esse acordo estabelece que os países membros da Organização Mundial de Comércio (OMC) devem garantir patentes (glossário) em todos os campos tecnológicos, exceto quando essa garantia ferir os interesses de saúde pública daquele país. Nesse caso, podem-se usar as salvaguardas descritas na legislação. Fonte da Imagem: Nobelus / Shutterstock As patentes são concedidas apenas quando o elemento é inovador. Países que investem fortemente na inovação tecnológica e em P&D de novos produtos são os maiores interessados no acordo TRIPS. O governo brasileiro adotou esse acordo muito mais por uma pressão exercida pelos países desenvolvidos e detentores das tecnologias do que por interesses internos. E, sem pensar em uma moeda de troca, que garantiria a associação da assinatura do acordo a uma política de estímulo ao desenvolvimento dos setores tecnológico e de pesquisa, a aprovação da Lei de Patentes deixou de contemplar: 1 - O estabelecimento de uma política industrial para o setor farmacêutico nacional; 2 - O apoio de políticas de incentivo às áreas de P&D para o setor farmacêutico. Além disso, algumas questões não foram consideradas, como, por exemplo: A pouca experiência do setor farmacêutico nacional na área de P&D; A precariedade de infraestrutura e de pessoal quali�cado em propriedade intelectual no Brasil; A formação de recursos humanos especializados em áreas prioritárias da cadeia de medicamentos. ATIVIDADE PROPOSTA Chegou a hora de exercitar o que você aprendeu! Analise a seguinte situação: Uma grande indústria farmacêutica desenvolve um novo fármaco capaz de evitar de�nitivamente a infecção pelo Zika vírus, mas seu custo é elevado. Será sensato aguardar todo o período de comercialização exclusiva por parte da empresa detentora da patente em detrimento da saúde da população, que sofre com a doença e não dispõe de alternativa farmacológica para esse �m? Justi�que sua resposta. Resposta Correta Saiba Mais , Para saber mais sobre licenciamento compulsório, clique aqui. (http://www.abiaids.org.br/_img/media/EFAVIRENZ.pdf) http://www.abiaids.org.br/_img/media/EFAVIRENZ.pdf Glossário PATENTES Título de propriedade concedido pelo Estado, que assegura a seu titular – inventor – exclusividade temporáriapara a exploração de determinada invenção. ROYALTIES Palavra de origem inglesa que se refere à importância cobrada pelo proprietário de uma patente de produto, de processo de produção, de marca etc. ou pelo autor de uma obra para permitir seu uso ou sua comercialização. No caso do petróleo, os royalties são cobrados das concessionárias que exploram a matéria-prima, de acordo com sua quantidade. O valor arrecadado �ca com o poder público. Disponível aqui. (http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/infos/inforoyalties_.htm) Acesso em: 24 fev. 2016. http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/infos/inforoyalties_.htm
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