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Fonte: https://www.freepik.com/ Fonte: http://www.cefuria.org.br/2015/10/30/educacao- popular-trocando-saberes-construindo-sabedoria/ Módulo 4 Trabalho – Saúde –Educação 1. Justificativa e objetivos A condição em que as pessoas em situação de rua se encontram acaba moldando as interações que a sociedade geral vai construir com essas pessoas. É comum perceber o medo e até mesmo a repulsa nos rostos de quem passa apressado pelas ruas das cidades. Falta, para a maior parte do senso comum, e até para muitos agentes estatais a compreensão de que situação de rua a qual muitas pessoas hoje no Brasil são submetidas é condicionada por diversos fatores estruturais – ausência de moradia fixa, trabalho formal, renda inconstante – e biográficos – a desagregação de vínculos familiares, acometimento de doenças mentais ou o uso abuso na utilização de álcool ou drogas – que podem ocorrer em conjunto ou separadamente. A situação de extrema vulnerabilidade das pessoas em situação de rua deve ser considerada para que lhes seja oferecida a chance de fortalecer sua autonomia individual e de um efetivo retorno à vida em comunidade. Nesta perspectiva o acesso aos direitos sociais fundamentais de saúde, educação e trabalho constituem vias para o encontro com a autonomia e para a saída efetiva das ruas. Este módulo abordará estes três direitos sociais. Ao conclui-lo, você estará apto a: Categorizar algumas das políticas públicas de trabalho, saúde e educação oferecidas pelo estado brasileiro para a população em situação de rua. 2. A situação educacional das pessoas em situação de rua e a educação como estratégia emancipadora. A pesquisa nacional sobre a população em situação de rua realizada em 2007 traz detalhamentos sobre o perfil de educação desta população. Na época da divulgação da pesquisa foi identificado o abismo educacional ao qual estas pessoas são submetidas. Segundo a pesquisa, das pessoas que estavam nas ruas naquela época 15,1% nunca havia estudado, 48,4% não havia terminado o primeiro grau, 10,3% haviam terminado o primeiro grau, 3,8% tinham o segundo grau incompleto e 3,2% tinham completado o segundo grau, pessoas com ensino superior incompleto e completo significavam, em ambas as categorias, 0,7% dos entrevistados. http://www.freepik.com/ http://www.freepik.com/ O artigo 6o. da Constituição Federal quando trata dos direitos sociais, aponta a garantia à educação como uma das formas de tornar reais os conceitos republicanos que movem o país. Seguindo este pensamento a Política Nacional para população em situação de rua consolidada no decreto 7.053/2009 aponta a educação como uma de suas ações estratégicas para a promoção dos direitos desta população. Ainda hoje, apesar de o decreto 7.053/2009 determinar que a União, estados, municípios e distrito federal devem assegurar à população em situação de rua o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas de educação, as políticas direcionadas para este segmento da população são escassas. Um amplo acesso à educação possibilita o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos fazendo com que ele se perceba como construtor e transformador da realidade em que vive. Possibilita ademais, a organização política dos sujeitos na luta por seus direitos. Paulo Freire, um dos maiores educadores do mundo, estudado dentro e fora do Brasil entendia que a real humanização dos sujeitos não pode se concretizar se estes estiverem na indigência, mas apenas com liberdade, possibilidade de decisão, de escolha e de autonomia. Estes são exatamente os obstáculos estruturais enfrentados pela população em situação de rua em relação às tentativas de retorno e continuação de sua escolarização. A superação dessas dificuldades pode se dar de maneira mais rápida e concreta com a efetivação do que é proposto pela ideia de educação libertadora e popular, na qual a emancipação, libertação e produção de consciências críticas permite a humanização da população em situação de rua. No sentido de serem concebidos como sujeitos de direitos que merecem não apenas a liberdade para comer, mas liberdade para criar e construir, para admirar e se aventurar como diz Paulo Freire. Veja o vídeo explicativo sobre o que é a educação popular: Paulo Freire (1921-1997) é tido como mais célebre educador brasileiro, autor de diversos livros defendia que o objetivo da educação é ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder transformá-lo. Para ele a educação pautada por estes objetivos contribui para levar as parcelas desfavorecidas da sociedade a entender sua situação de oprimidas e agir em favor da própria libertação. O livro mais conhecido de Paulo Freire se chama Pedagogia do Oprimido. Como uma prática educacional voltada para a conquista dos direitos sociais culturais, políticos e geradora de possibilidades a educação popular ajuda a compreender a realidade vivida pelos grupos ou comunidades e aponta caminhos para a superação dos problemas encontrados. A educação popular contribui também com as demais áreas tratadas neste módulo no sentido de atuar como uma ferramenta de organização na luta por justiça e dignidade das pessoas em situação de rua. Fato é que as escolas atuais não estão adaptadas para receber este púbico. Uma política educacional para a população em situação de rua deve se pautar por ações estratégicas que promovam a inclusão nos currículos das questões de igualdade social, gênero, raça, etnia, cultura e comunicação discriminatórias, especialmente com relação à população em situação de rua. É importante, ainda, pensar maneiras de a educação ser feita em meio aberto, onde as pessoas se encontram. Uma iniciativa pública de oferecimento de educação para as pessoas em situação de rua interessante é a Escola Meninos e Meninas do Parque, localizada em Brasília. A escola tem como objetivo principal garantir o direito à escolarização de adolescentes, jovens e adultos que estão em situação de rua ou acolhidos em instituições da capital federal. Suas ações proporcionam a reintegração escolar, considerando as possibilidades e limitações de cada um e estimulam a convivência comunitária entre os estudantes através do respeito das identidades pessoais e histórias de vida. Atualmente 16 professores ministram as disciplinas básicas do ensino regular como matemática, português e história e também oficinas sobre o corpo e artes em geral. Além disto, a escola promove a educação integrada baseada nas temáticas: Direitos Humanos, Diversidade, Cidadania e Meio Ambiente. Em setembro de 2018 haviam 182 estão matriculadas na escola, que funciona de manhã e a tarde. Os alunos que são formados lá recebem o diploma de ensino fundamental e são encaminhados a outras unidades públicas para continuar cursando o ensino médio. Para conhecer um pouco mais sobre a Escola Meninos e Meninas do Parque assista o vídeo abaixo: 3. Trabalho O direito ao trabalho é um direito humano inalienável reconhecido pela Declaração Universal em seu artigo 23 que diz: I. Todo o homem tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. II. Todo o homem, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. III. Todo o homem que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como a sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. IV. Todo o homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses. A Constituição Federal de 1988, por sua vez, trata do direito ao trabalho individual do seu artigo sétimo e até o artigo número onze. Nestesartigos são assegurados a qualquer cidadão brasileiro o direito a ter férias remuneradas com um terço a mais, os direitos dos empregados domésticos, a licença paternidade, o Fundo de Garantia por tempo de Serviço (FGTS), dentre tantos outros avanços legais. A inclusão do trabalho nestes textos legais tão importantes como são a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição Federal de 1988 reforça que o direito ao trabalho é um direito social e um direito humano. O trabalho, de fato, é o principal mecanismo de mediação entre a humanidade e a natureza. É através do trabalho que os seres humanos agem objetivamente sobre a natureza para construir algo novo que sirva para a manutenção de sua existência. O Trabalho como ação é, portanto, sempre a transformação da realidade e das consciências, já que ao construir objetivamente uma coisa, qualquer que seja ela, os sujeitos se constroem a si mesmos também. Conforme tem havido o desenvolvimento das formas de produção das coisas o sujeito trabalhador (homem ou mulher) que é contratado para produzir algo não mais se vê como parte do que é produzido porque não participa mais de todas as etapas e, na maioria das vezes sequer consegue adquirir o que produz. Isto é algo bastante visível no Brasil onde as relações de trabalho não são totalmente reguladas e a superexploração do trabalhador é uma marca histórica. Como diz na música “um sorriso negro” lindamente cantada pela sambista Dona Ivone Lara “negro sem emprego fica sem sossego”. De verdade qualquer pessoa sem trabalho/emprego perde o referencial de organização prática da vida, é o trabalho, e o dinheiro obtido dele, que possibilita aos sujeitos satisfazerem suas necessidades mais básicas, como alimentação, se vestir, acessar a saúde, acessar a educação, acessar o lazer, dentre tantas outras coisas. Para conhecer mais sobre educação popular leia o Caderno de Formação – Educação popular e direitos humanos do Instituto Paulo Freire. Disponível em: https://www.paulofreire.org/images/pdfs/livros/Cadernos_Formacao_Educacao_Pop ular.pdf https://www.paulofreire.org/images/pdfs/livros/Cadernos_Formacao_Educacao_Popular.pdf https://www.paulofreire.org/images/pdfs/livros/Cadernos_Formacao_Educacao_Popular.pdf Fonte: http://www.sbcs.org.br/sbcs-nrl/wp-content/uploads /2016/11/Dra.-Marcia-Marques-Waste-management-in- Brazil....pdf As sucessivas crises econômicas pelas quais o Brasil passou em todo século XX e agora neste início do século XXI ampliaram a exclusão e os impedimentos de as pessoas chegarem ao mercado de trabalho formal. Como parte de um sistema impiedoso, conforme desemprego, trabalho precário e as relações de trabalho opressivas aumentam com essas crises, identicamente os índices de pobreza e de vulnerabilidade da classe trabalhadora se elevam e, consequentemente, há uma expansão da população em situação de rua. A existência da população em situação de rua torna visíveis as desigualdades sociais criadas pelo modo econômico no qual estamos vivendo. A principal pesquisa nacional sobre a população em situação de rua realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) em 2007 revelou a extrema pobreza da população em situação de rua brasileira, composta em sua maioria por homens negros que mesmo estando em idade economicamente ativa não conseguem ocupar postos formais de trabalho. Segundo a pesquisa 47,7% desta população nunca teve anotação na carteira de trabalho ou fazia muito tempo que estava sem nenhum vínculo empregatício. Estes trabalhadores, apesar da precariedade de sua formação e contrapondo o senso comum preconceituoso que os identifica como preguiçosos e pedintes exercem atividades no dia-a-dia exercer das ruas que lhe garantem uma renda mínima diária, na época da pesquisa cerca de 52,6% dos entrevistados atuavam em atividades informais, sendo 27, 5% como catadores de materiais recicláveis, 14,1% como guardadores de carro, 6,3% atuando em atividades de limpeza e 3,1% como carregadores. Conforme estes dados uma parte considerável dos trabalhadores e trabalhadores que estão em situação de rua, 27,5%, atua na coleta de materiais recicláveis. Estes trabalhadores recebem assessoramento do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis (CNDDH) na defesa e garantia de seus direitos, enfrentamento às violações, sistematização de dados, produção de conhecimento e formação. Alguns já se organizam no Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR) e têm trabalhado princípios de auto-gestão e organização dos catadores através da onde a participação de todos é estimulada para construir a luta de seus direitos. Para saber mais sobre as influências da escravidão na formação do mundo do trabalho no Brasil leia a tese de Alexandre de Freitas Barbosa “A formação do mercado de trabalho no Brasil: da escravidão ao assalariamento.” Disponível em: http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_29e2fec4ca6bc76e1c5873caaee32758 http://bdtd.ibict.br/vufind/Record/CAMP_29e2fec4ca6bc76e1c5873caaee32758 Incluir a população em situação de rua no mundo do trabalho é um dos desafios colocados pela Política Nacional. Com este objetivo a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou, em 2018, uma lei que reserva o percentual de cinco por cento do total de vagas de trabalho disponibilizadas a partir das contratações de serviços e obras públicas municipais para que estas vagas sejam destinadas especificamente para pessoas em situação de rua que estejam sendo assistidas por políticas da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos daquela cidade. Similarmente há um projeto de lei que cria cota de contratação para pessoas em situação de rua tramitando no Senado Federal, este projeto foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) em 2018 e segue sendo analisado pelos senadores. Economia solidária A precarização das relações e condições de trabalho eleva sobremaneira os níveis de pobreza. Muitas são as alternativas de organização dos trabalhadores empobrecidos para se contrapor a este sistema excludente e criar alternativas de trabalho e renda, dentre elas destaca-se a economia solidária, modo de pensar o sistema econômico através de possibilidades mais humanas onde as pessoas e o cuidados com suas vidas são os eixos que dão centralidade. Na economia solidária o trabalho deixa de ser um modo de opressão para se tornar fator de agregação das relações entre os diversos sujeitos que dele participam. As cooperativas de economia solidária se apresentam como uma resposta interessante ao problema do desemprego e à exclusão social. Ao afirmar um modelo de desenvolvimento sustentável apoiado na dinamização de redes participativas, a economia solidária empresta um conteúdo transformador à inserção local das práticas econômicas solidárias. As experiências de autogestão promovem sistemas amplos de reciprocidade e contribuem para a consolidação da autonomia dos sujeitos e construção de vínculos que podem contribuir para uma saída efetiva das ruas. Alguns empreendimentos econômicos solidários vêm sendo desenvolvidos com pessoas e situação de rua e apresentam bons resultados por ter seu enfoque na integração desta população com a realização de atividades de formação e fomento a redes de comercialização e crédito solidários, não somente prezando a renda, como também um resgate da dignidade destas pessoas. Estes empreendimentos são constituídos principalmente por cooperativas populares (como as de catadores de materiais recicláveis) e associações de pequenos produtores. Dentre os princípios da economia solidária alguns merecem destaque: Autogestão: todos os integrantes são responsáveis pelo processo administrativo do coletivo. Nahora de tomada decisões são realizadas reuniões ou assembleias para que cada membro se manifeste para que coletivamente se decida o melhor. Autonomia: o grupo deve ser capaz de tomar suas próprias decisões, evitando qualquer influência externa. Solidariedade: as relações pessoas do grupo devem ser sustentadas pela solidariedade, informando, dividindo o que se sabe e o que se tem, tendo compaixão e cuidado com os outros. Cooperação: a cooperação guia o processo do trabalho individual para o trabalho coletivo, fazendo com que cada pessoa contribua com a outra. Respeito à natureza: conduzindo ações que reflitam e pensem o processo produtivo e do trabalho respeitando o meio ambiente. Comércio Justo: comércio justo é uma prática de comercialização voltada para os valores de justiça social e solidariedade. Os preços dos produtos são definidos a partir do valor da matéria prima e do trabalho empregado. Consumo consciente: o grupo deve adquirir somente o que precisar, sem criar excedentes. As relações com empresas que agridam a natureza vão contra um dos princípios da economia solidária. Valorização social do trabalho humano: todo trabalho é digno e não deve existir uma valorização/reconhecimento a mais por diferenças de tarefas de trabalho. Valorização da diversidade: reconhecimento do papel fundamental da mulher e do feminino e valorização da diversidade, sem discriminação de crença, cor, orientação sexual e qualquer tipo de deficiência. Os empreendimentos econômicos solidários podem ter ou não um registro legal de existência. Possuem as mais diversas características, são desde cooperativas, associações, empresas com autogestão, até redes de prestação de serviços e grupos produtivos dos quais participam trabalhadores das zonas urbanas ou rurais das cidades que dividem entre si as tarefas de gestão. Para concluir este tópico assista ao vídeo sobre o encontro dos coletivos de trabalho e economia solidária com população em situação de rua que ocorreu no Rio Grande do Sul: 4. Saúde Viver no cotidiano das ruas expõe as pessoas a diversas condições que aumentam a vulnerabilidade e expõem riscos à sua saúde. Situações constantes de invisibilidade social, impedimento de acesso às políticas públicas, preconceito, violências, privação de sono, estado constante de alerta, alimentação precária e pouca disponibilidade de água potável, geram agravamentos à sua saúde difíceis de serem resolvidos. A negação ou mau de atendimento para população em situação de rua nos serviços de saúde é algo combatido pelo Ministério da Saúde que dentre tantos documentos, na Portaria no. 940/2011 dispensa aos ciganos, nômades e pessoas em situação de rua a exigência de apresentar o endereço do domicílio permanente para aquisição do Cartão SUS. Apesar de o atendimento nas unidades de saúde ser um direito das pessoas em situação de rua muitas se recusam a ir até estes locais por já terem passado ou saberem da ocorrência de negação de atendimento, mau atendimento e impedimento de que entrem por causa da forma como estão vestidos ou por sua condição de higiene. A pesquisa nacional de 2007, já citada aqui, revelou que 18,4% das pessoas em situação de rua ouvidas já haviam passado por alguma experiência como estas. A Pesquisa também apontou que 29,7% tinham algum problema de saúde, tais como: hipertensão 10,1%, problemas psiquiátricos ou mentais 6,1%, HIV/AIDS 5,1%, e comprometimentos na visão ou cegueira 4,6%. Muitas pessoas, aproximadamente 19%, fazem uso regular de remédios que obtém em centros de saúde e postos locais. Quando precisam de algum atendimento 43,8% procuram em primeiro lugar as emergências dos hospitais e 27,4% procuram o posto de saúde de atendimento básico. Em relação a higiene os locais que as pessoas em situação de rua mais utilizam para tomar banho são a rua 32,6%, os albergues ou abrigos 31,4%, banheiros públicos 14,2% e a casa de parentes ou amigos 5,2%. Para fazer suas necessidades fisiológicas 32,5% usam a rua, 25,2 os albergues ou abrigos, 21,3% banheiros públicos, 9,4% estabelecimentos comerciais e cerca de 3% a casa de parentes ou amigos. Um grave problema de saúde que tem atingido a população em situação de rua no Brasil é a tuberculose. Algumas pesquisas realizadas no Distrito Federal e nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, demonstraram que a taxa de incidência de tuberculose entre as pessoas que estão em situação de rua fica entre 1.576 casos por 100 mil habitantes a 2.750/100 mil. Um número muito maior se comparados aos casos verificados na população geral, onde a taxa é de 38 ocorrências a cada 100 mil habitantes. Isso significa que a incidência de casos de tuberculose na população em situação de rua pode ser até 70 vezes maior em relação que a média de ocorrência nacional. O Ministério da Saúde possui uma política específica para o atendimento da população em situação de rua expressa na Resolução n° 2, de 27 de fevereiro de 2013 que apresenta o Plano Operativo para Implementação de Ações em Saúde da População em Situação de Rua. A resolução organiza uma série de diretrizes e estratégias para o enfrentamento desigualdades no acesso à saúde pela população em situação de rua no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Para garantir o acesso da população em situação de rua às ações e aos serviços de saúde a resolução entende que é preciso reduzir os riscos à saúde que decorrem dos processos de trabalho executados pelas pessoas na rua (como o devido armazenamento de materiais recicláveis que muitas das vezes causam ferimentos ou contaminações) e das suas condições de vida em geral. Para isto as estratégias para promoção da saúde definidas se organizam em cinco eixos: Fonte: http://www.jacarei.sp.gov.br/consultorio-na-rua-leva- cuidados-de-saude-populacao-em-situacao-de-rua/ 1. Inclusão da PSR no escopo das redes de atenção à saúde Para isso é necessário a implantação de Consultórios na Rua; melhoria na capacitação das equipes que fazem atendimentos de urgência e emergência; bem como a garantia de acesso à atenção domiciliar nos lugares onde as pessoas em situação de rua recebem acolhimento institucional. 2. Promoção e Vigilância em Saúde Neste eixo entende-se que o controle e redução da incidência de tuberculose, DST/aids devem ser intensificados mediante o estímulo a busca ativa e aos tratamentos para controle de doenças infecciosas. Acesso dessa população às vacinas disponíveis no SUS é requisito importante para o sucesso destas iniciativas. 3. Educação Permanente em Saúde na abordagem da Saúde da PSR As ações definidas neste eixo preveem a capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde para um melhor atendimento da população em situação de rua e a elaboração de material que informe a população em situação de rua sobre o SUS e as redes de atenção à saúde. 4. Fortalecimento da Participação e do Controle Social Aqui valoriza-se a formação e sensibilização das lideranças do movimento social da população em situação de rua para que possam, junto com os gestores públicos, articular e fomentar a capacitação de conselheiros de saúde sobre a temática saúde desta população, como parte disto aponta a importância de se instituir um comitê técnico de saúde da população em situação de rua ou organismo técnico parecido nas instâncias estaduais e municipais de saúde. 5. Monitoramento e avaliação das ações de saúde para a PSR O foco deste eixo é o monitoramento e avaliação das ações pactuadas, tendo sempre como prioridade as metas elencadas nos diversos planos estaduais e municipais de saúde. Consultório na rua Uma importante estratégia de atenção em saúde oferecida para as pessoas em situação de rua é o consultório na rua. Composto por uma equipe multiprofissional,sua função é ampliar o acesso da população em situação de rua aos serviços de saúde por meio de atendimento itinerante e, quando necessário, em parceria com as equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) presentes nos territórios. Segundo Portaria Nº 122, de 2011 que define as diretrizes de organização e funcionamento das Equipes de Consultório na Rua. As equipes dos consultórios na rua integram o componente de atenção básica da Rede de Atenção Psicossocial e desenvolvem ações de Atenção Básica, devendo seguir os fundamentos e as diretrizes definidos na Política Nacional de Atenção Básica para lidar com os diferentes problemas e necessidades de saúde da população em situação de rua. Dentre suas atribuições estão: a busca ativa e o cuidado aos usuários de álcool, crack e outras drogas. O desempenho de atividades in loco (na rua), de forma itinerante, desenvolvendo ações compartilhadas e integradas às Unidades Básicas de Saúde (UBS) e, quando necessário, também com as equipes dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dos serviços de Urgência e Emergência e de outros pontos de atenção, de acordo com a necessidade do usuário. O vídeo a seguir apresenta mais sobre a estratégia do consultório na rua: Ainda sobre o consultório na rua é importante destacar que ele é uma estratégia específica que faz parte de um todo que é o SUS. Não a única forma possível para atendimento da população em situação de rua. Assim como qualquer cidadão brasileiro a responsabilidade pela atenção à saúde da população em situação de rua é algo que faz parte das ações de todo e qualquer profissional do SUS, mesmo que ele não seja membro de uma equipe de consultório na rua. Ou seja, o atendimento à população em situação de rua não pode ser negado ou repassado para uma equipe de consultório na rua, caso alguém procure atendimento e alguma unidade de saúde. Para saber mais a respeito da política de consultórios na rua acesse: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_consultorio_rua.php Encerramos este q módulo. A seguir, você deverá realizar uma avaliação de aprendizagem! 5. Guarde na memória! Neste módulo você aprendeu a respeito de três importantes direitos sociais e humanos, trabalho, saúde e educação. Ainda nesse módulo, você recebeu informações gerais sobre as características de cada um deles e sobre a situação da população em situação de rua diante deles. Por fim ficou conhecendo algumas das políticas públicas de trabalho, saúde e educação oferecidas pelo estado brasileiro para a população em situação de rua. 6. Referências Bibliográficas ALMEIDA, S. F. D. O retorno da população em situação de rua à educação escolar: entre dificuldades e possibilidades. São Carlos: Especialização em Educação de Jovens e Adultos UFSCAR (TCC), 2011. BRASIL. Saúde da População em Situação de Rua - Um direito humano. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. ECOSOL Pop Rua - Formação em Economia Solidária para Pessoas em Situação de Rua. Porto Alegre: CAMP - Centro de Assessoria Multiprofissional, 2017. GHIRARDI, M. I. G.; LOPES, S. R.; ET AL. Vida na rua e cooperativismo: transitando pela produção de valores. Interface - Comunic, Saúde, Educ, São Paulo, p. 601-610, set/dez 2005. HINO, P.; SANTOS, J. D. 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São Paulo: Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo - SMDAS, 2016.
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