Buscar

Estratégias de Tradução do Português Escrito para a Libras (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
1 
 
 
 
Estratégias de Tradução do Português Escrito para a Libras: 
Uma proposta de Atuação para o Intérprete Educacional 
 
BRUNO GONÇALVES CARNEIRO 
ESTER FERNANDES NUNES 
 
RESUMO 
 
O presente artigo é um estudo descritivo de alguns aspectos metodológicos que motivaram o 
trabalho do tradutor na construção de um texto em língua de sinais a partir de um texto na 
língua portuguesa. Esse tipo de procedimento (filmagem) tende a aumentar nos próximos anos 
no Brasil, pelo aumento de demanda por esse tipo de serviço, na produção de materiais 
didáticos em Libras e na organização da escola no atendimento às especificidades linguísticas e 
culturais da comunidade surda. Apresenta também uma descrição quanto às competências 
linguísticas e referenciais necessárias para a elaboração do texto alvo em língua brasileira de 
sinais (Libras), inerentes ao campo de atuação da tradução intermodal. Este trabalho 
fundamenta-se nos Estudos Descritivos da Tradução. Vimos que houve adequações linguísticas, 
quando traduzimos o texto fonte do português para a Libras, e preocupações de ordem técnica, 
específicos da produção de vídeos. Sugerimos que o tradutor/ intérprete de Libras deve ter 
conhecimentos básicos sobre produção/ edição de vídeos e alertamos também para a 
importância do trabalho em equipe, numa forma de assegurar a qualidade do produto final. 
 
Palavras-chave: tradução, interpretação, língua de sinais, intermodal. 
 
 
1. Introdução 
 
A língua de sinais utilizada nos centros urbanos do Brasil – a Libras1 – é uma língua de 
complexidade e atributos comparáveis a qualquer outro sistema dessa natureza. No campo dos 
Estudos da Tradução já se reconhece sua legitimidade, embora as pesquisas ainda sejam 
escassas. Por outro lado, esse status ainda é desconsiderado principalmente na implementação 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
2 
de políticas de inclusão envolvendo a comunidade surda brasileira, que muitas vezes não tem 
assegurados os direitos à sua língua e cultura. Os motivos para tal entrave são diversos, mas, 
certamente, uma das causas é a insistência da sociedade majoritária em enxergar deficiência no 
surdo, desprezando sua forma de significar o mundo. 
 
A Libras foi reconhecida oficialmente como língua no Brasil em 24 de abril de 2002, 
através da lei 10436. Essa lei, que no ano de 2012 completou dez anos, junto aos decretos que 
a regulamentam, acarretou em conquistas importantes para os surdos brasileiros. Dentre elas, 
estão a implementação obrigatória da disciplina de Libras como componente curricular em 
alguns cursos de graduação, a formação de professores de língua de sinais em nível superior, a 
formação de professores surdos e de intérprete de Libras. 
 
Nesse sentido, a língua de sinais brasileira ganha visibilidade em todo território nacional 
e os surdos, que também são cidadãos brasileiros (com direitos, deveres, mas que não tem o 
português como primeira língua), passam a conquistar e a ocupar espaços outrora 
inimagináveis, exigindo a partir de então, a presença do profissional tradutor/ intérprete de 
língua de sinais2. Assim, o surdo, a língua de sinais e o intérprete permeiam o cotidiano social, 
adentrando em contextos dos mais diversos: educacionais, laborais, culturais, e outros. 
 
A inclusão do aluno surdo no ensino regular exige de toda a escola um esforço a fim de 
eliminar as barreiras de comunicação e proporcionar um ambiente de conforto cultural e 
linguístico. Nesta perspectiva, toda a equipe pedagógica deve se organizar para a aplicação de 
atividades em Libras, como adaptação de material didático, provas e avaliações. Uma atividade 
nova para a equipe de intérpretes de Libras, que tende a crescer nos próximos anos, 
considerando que a sociedade está amadurecendo no sentido de enxergar a surdez a partir de 
sua diferença. 
 
O presente artigo é um estudo descritivo de alguns aspectos metodológicos que 
motivaram o trabalho do tradutor na construção de um texto em língua de sinais a partir de um 
texto na língua portuguesa. Apresenta também uma descrição quanto às competências 
linguísticas e referenciais necessárias para a elaboração do produto final, inerentes ao campo de 
atuação da tradução intermodal3. 
 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
3 
As estratégias descritas são resultados de um trabalho de tradução em que não houve 
suporte tecnológico profissional. Por isso, quisemos descrevê-la, por ser essa a realidade da 
maioria das escolas inclusivas do Brasil, pois não contam com recursos humanos e materiais 
que profissionalizariam as etapas de um trabalho como o descrito. Nesse sentido, consideramos 
oportuno as páginas que seguem, pois explicitam estratégias simples e viáveis que buscam 
atender as especificidades linguísticas e culturais da comunidade surda. 
 
2. Tradução/ interpretação de línguas de sinais 
 
No Brasil, publicações sobre a história e sistematização da tradução e interpretação 
ainda são escassas (LACERDA, 2009). 
 
A partir do texto de Pagano (2003, apud LACERDA, 2009) podemos verificar que este 
campo de atuação é tão antigo quanto os registros sobre a história da humanidade. A referência 
mais antiga seria a de um hieróglifo do terceiro milênio antes de Cristo. Há também registros de 
intérpretes na Grécia antiga e no Império Romano. No período da Idade Média, há menção de 
encontros diplomáticos durante as Cruzadas, e na Idade Moderna, durante o período das 
grandes navegações, em expedições exploratórias às Américas. 
 
Ainda de acordo com a autora, a forma sistemática que conhecemos hoje da tradução e 
interpretação (em conferências, por exemplo), se consolidou apenas no século XX, devido a 
eventos vinculados às Primeira e Segunda grandes guerras. No caso da Segunda Guerra 
Mundial, o Julgamento de Nuremberg envolveu um contexto em que estavam quatro línguas 
fundamentais: inglês, francês, russo e alemão. No evento citado, a interpretação consecutiva 
não poderia ser usada, já que despenderia muito tempo, prejudicando a dinâmica dos 
julgamentos. 
 
Seguindo as informações acima, inferimos que a atuação do intérprete de línguas de 
sinais é tão antiga quanto à existência das línguas de sinais, independente do nome designado 
aos sujeitos que desempenhavam tal atividade e ao status profissional conferido a ela. Sempre 
existiram pessoas que intermediavam a comunicação entre surdos e ouvintes ao longo da 
história. Mas, em relação ao reconhecimento (e por fim, regulamentação) enquanto atividade 
laboral, a tradução/ interpretação de língua de sinais é considerado um fenômeno novo. 
 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
4 
Segundo Quadros (2003) e Lacerda (2009), a história da constituição do profissional 
intérprete de língua de sinais, em vários países, partiu de atividades voluntárias. No Brasil, esse 
processo de formação profissional não é diferente. E da mesma forma, no Brasil e em outros 
países, um elemento fundamental na solidificação da interpretação de Libras enquanto prática 
profissional foi o reconhecimento legal das línguas de sinais enquanto línguas. 
 
Ainda de acordo com as autoras, a presença dos intérpretes de língua de sinais no Brasil, 
iniciou predominantemente em trabalhos religiosos, na década de 80. A partir dos anos 90, 
devido à maior participação social e articulação política dos surdos, a FENEIS (Federação 
Nacional de Educação e Integração dos Surdos) instituiu unidades de tradutores/ intérpretes 
ligadas a escritórios regionais (da FENEIS), o que contribuiu significativamente para formação 
do profissional. Consequentemente, o intérprete passou a ocupar outros espaços e a demandar 
várias conquistas legais. 
 
 O trabalho de tradução/ interpretação de língua de sinais/ língua oral é exigido em 
qualquer atividade em que um surdo esteja envolvido. É um direito garantido por lei (MASUTI; 
SILVA, 2011), a fim de atender a especificidade linguística do surdo e a eliminar barreiras de 
comunicação. Nesse sentido, há a lei nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000, que estabelece 
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de 
deficiência e mobilidade reduzida, em seu capítulo VII, artigo 18, regulamentada pelo decreto 
5296 de 02 de dezembro de 2004. Em 2002, o Congresso Nacional decreta e o então presidente 
da república Fernando Henrique Cardoso sanciona a Lei 10.436 em 24 de dezembro, que 
reconhece a Libras como meio legal de comunicação e expressão da comunidade surda 
brasileira. Há o decreto nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta a Lei que 
oficializa a Libras como língua de comunicação e instrução dos surdos brasileiros e também 
define questões sobre o profissional tradutor/ intérprete de língua de sinais. Existe a 
recomendação nº 001 do CONADE de 15 de julho de 2010, para garantir a aplicação do 
princípio da acessibilidade à pessoa surda ou com deficiência auditiva em concursos públicos em 
igualdade de condições com os demais candidatos. Por fim, citamos a lei nº 12.319 de 01 de 
setembro de 2010, que regulamenta a profissão do Tradutor/ Intérprete de Língua de Sinais no 
Brasil. 
 
 Assim, o intérprete de Libras é quem possibilita a comunicação entre surdos e ouvintes, 
promovendo a mediação entre os interessados. Ele deve ter domínio da Libras e do Português, 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
5 
da diversidade de sentidos e possibilidades de construções nesses sistemas, dos aspectos 
culturais que envolvem as línguas e as comunidades de fala, conhecimento das implicações da 
surdez no desenvolvimento do indivíduo surdo, e principalmente, conhecimento da comunidade 
surda e convivência com ela (LACERDA, 2009). É importante também ter boa fluência, ser 
versátil e ter uma postura ética para uma atuação com a pessoa surda (QUADROS, 2003). 
Outras habilidades específicas são necessárias, de acordo com o contexto em que é chamado a 
atuar. Por exemplo, a área educacional requer dele conhecimentos/desempenho que podem 
diferir dos exigidos em conferências ou na área da saúde. 
 
 Outro atributo necessário ao tradutor/ intérprete de língua de sinais é a atuação como 
ator (SEGALLA, 2010). Isso no que diz respeito à produção de vídeos sinalizados com objetivo 
de disponibilizar ao surdo mais informações em Libras. A atuação implica em outro quesito, que 
é a desinibição frente às câmeras. 
 
 
3. Estudos Surdos 
 
Muitos ainda definem o surdo a partir da deficiência. Definem-no referenciando naquele 
que ouve, acarretando a idéia de que ser surdo é não ouvir, não falar, não se comunicar e não 
entender. Mas, de acordo com Perlin (2005), os surdos têm diferença e não deficiência. Ao 
contrário do que muitos pensam, não possuem a sensação de perda. Ser surdo é pertencer a 
uma comunidade que faz significação de mundo a partir da visão. Comunicam-se, vivenciam 
uma cultura e desenvolvem uma identidade também baseada neste sentido. 
 
As culturas são móveis, discordantes, em contínua construção, assim como as 
sociedades, em intercâmbio mutualístico. Exibimos uma pluralidade interna, e é ingênuo admitir 
a identidade como algo definido e definitivo (INNERRARITY, 2004). Estamos sempre em 
formação. A essência que nos constitui é algo poroso, sem limites claros. A exemplo desse 
hibridismo cultural, Quadros e Sutton-Spence (2006, p. 111) mencionam que os surdos 
possuem aspectos comuns enquanto pessoas surdas, mas também partilham traços em 
conjunto de suas comunidades nacionais. 
A identidade e a cultura das pessoas surdas são complexas, já que seus 
membros frequentemente vivem num ambiente bilíngue e multicultural. 
Por um lado, as pessoas surdas fazem parte de um grupo visual, de uma 
comunidade surda que pode se estender além da esfera nacional, no 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
6 
nível mundial. É uma comunidade que atravessa fronteiras. Por outro 
lado, eles fazem parte de uma sociedade nacional, com uma língua de 
sinais própria e com culturas partilhadas com pessoas ouvintes de seu 
país (QUADROS; SUTTON-SPENCE, 2006, p. 111). 
 
Os surdos existem em todos os tempos da história da humanidade e com eles, as línguas 
sinalizadas, deixando seus traços visuais; marcas acerca da diferença surda, do seu modo de 
enxergar, discutir e descrever o mundo (STROBEL, 2008). 
No intuito de romper paradigmas e estabelecer uma nova visão do sujeito surdo (bem 
como sobre sua língua, história, educação, cultura), surge os Estudos Surdos, uma ramificação 
dos Estudos Culturais. Este movimento diz respeito à descrição do surdo e de toda sua 
significação de mundo a partir de um ponto de vista de dentro, o que implica em usar lentes 
diferentes dos ouvintes ou de qualquer representação depreciativa do ser surdo (SKLIAR, 
2005). 
 
O texto fonte do nosso trabalho de tradução, que motiva o presente informe descritivo, é 
fruto desse movimento dos Estudos Surdos, que surgiu no Brasil com mais ênfase a partir da 
década de 80. Descrevemos o capítulo que traduzimos a seguir. 
 
 
O texto fonte 
 
O presente trabalho, como já mencionado na introdução, é um estudo descritivo de 
alguns aspectos metodológicos que motivaram o trabalho de tradução na construção de um 
texto em língua de sinais a partir de um texto na língua portuguesa. O texto de partida ou texto 
fonte é um dos capítulos que compõe o livro Estudos Surdos IV, organizado por Quadros e 
Stumpf (2009). É o décimo segundo do livro, intitulado Entrevista com tradutores surdos do 
curso de Letras Libras da UFSC: discussões teóricas e práticas acerca da padronização 
linguística, de autoria de Thaís Fleury Avelar. 
 
Segundo as organizadoras do livro Estudos Surdos IV, aautora Avelar (2009) trata da 
padronização linguística na Libras, abordando problemas decorrentes da variação linguística 
observada no Ambiente Virtual de Ensino Aprendizagem (AVEA), do curso de graduação em 
letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Traz à tona uma discussão que 
é comum nas línguas faladas, mas completamente original nos estudos das línguas de sinais, 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
7 
sobre a variação e a necessidade de padronização linguística. Para fomentar a discussão, a 
autora apresenta entrevista com tradutores surdos que atuam no curso de graduação em letras 
Libras. 
 
O texto é dividido basicamente em seis partes, incluindo a introdução. Nas primeiras 
sessões, a autora faz um recorte sobre o funcionamento do curso de letras Libras da UFSC na 
modalidade à distância (Ead), descrevendo as ferramentas virtuais de ensino aprendizagem, 
como vídeos, textos em português, textos em Libras, links, simulações, etc. Todos estes 
materiais compõe o AVEA, instrumento que possibilita a interação síncrona e assíncrona4 entre 
professores, alunos e demais envolvidos nesse ambiente. Esse ambiente virtual permite 
também uma discussão entre todos os personagens do curso, através de fóruns, emails, chats, 
vídeo-conferências e outros. Os textos sinalizados disponíveis nesse ambiente são frutos de 
processos tradutórios de textos originalmente produzidos na língua portuguesa. Estes são 
traduzidos para a Libras e ficam disponíveis para o acesso, criando assim um ambiente bilíngue. 
 
O curso de graduação em letras Libras na modalidade Ead da UFSC permite a interação 
entre alunos das cinco regiões do Brasil. Ou seja, o curso permite a troca e o intercâmbio entre 
sujeitos sinalizadores que apresentam suas variantes dialetais, “carregados” de sinais regionais. 
É nesse contexto que emerge a discussão do nosso texto fonte, já que no curso de letras Libras, 
não há uma padronização entre os sinais utilizados entre os tradutores, apenas aqueles 
relacionados às disciplinas específicas. A discussão se torna mais acalorada quando ficamos 
cientes de que a equipe de tradução é formada por surdos provenientes de estados diferentes 
da federação, e que a variação dialetal é ligada a questões culturais e de identidade. A proposta 
de padronização de alguns itens lexicais certamente influência o processo ensino aprendizagem, 
já que alguns sinais passam a se tornar comuns a todos os usuários do AVEA. 
 
O texto propôs discutir alguns aspectos teóricos relacionados à variação dialetal e à 
padronização linguística, investigando a opinião dos tradutores sobre essas questões por meio 
de entrevistas. Pode-se perceber que há variações dialetais entre os tradutores surdos que 
produzem os vídeos sinalizados no AVEA. Nota-se também que eles são cientes da importância 
da padronização linguística, pois se preocupam em usar os sinais mais correntes entre os 
sinalizadores e, quando necessário, buscam dicionários de instituições reconhecidos pela 
comunidade surda. 
 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
8 
Nas considerações finais, a autora sugere que o próprio processo tradutório de materiais 
visuais para o curso de graduação em letras Libras da UFSC, já promove uma espécie de 
padronização, porque dissemina e usa sinais (disponíveis no AVEA) que acabam sendo usados 
em consenso nas diferentes regiões do Brasil. 
 
 
4. Metodologia 
 
Sob o prisma dos aspectos teóricos, sugerimos que este trabalho é regido dentro dos 
Estudos Descritivos da Tradução. Segundo Nielsen (2007) os Estudos Descritivos da Tradução 
se dedicam a estudar tudo que seja apresentado e concebido como tradução, cujo foco pode ser 
orientado à função, ao processo ou ao produto. Dessa forma, a tradução é encarada através de 
um enfoque não apenas linguístico, mas intercultural. 
 
A tradução depende das relações entre os sistemas em contato; depende, acima de 
tudo, da posição que o tradutor ocupa no sistema de chegada e da tolerância do meio para com 
ele. Os Estudos Descritivos da Tradução preocupam-se também com questões como: por que 
esse tipo de texto foi escolhido para traduzir? Quem foi o tradutor? Para qual público se traduz? 
 
A partir de então, a tradução, nos estudos descritivos, não é observada como 
fenômeno meramente linguístico mas, de um modo bem mais abrangente. Importa perceber a 
importância da tradução no contexto e na evolução da cultura de chegada, dando-se atenção 
também a aspectos institucionais, ideológicos, culturais, literários, dentre outros. Sem dúvida, 
no nosso caso, a cultura surda deve ser considerada. 
 
Em relação à organização do trabalho tradutório, em seus aspectos gerais, nossa 
primeira preocupação foi realizar um trabalho em equipe. Todo o processo de tradução do texto 
fonte Entrevista com tradutores surdos do curso de Letras Libras da UFSC: discussões teóricas e 
práticas acerca da padronização linguística para a Libras foi realizado por uma dupla de 
tradutores/ intérpretes de língua de sinais. Optamos por desenvolver assim o nosso trabalho 
para aumentar a qualidade do produto final. Somos cientes que a tradução envolve escolhas e, 
certamente, havendo uma discussão prévia em equipe antes de tais escolhas, o produto final 
seria melhor. 
 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
9 
Nesse sentido, a parceria para o trabalho tradutório em questão também objetivou 
dividir responsabilidades, chamando para a equipe um ônus que certamente teria outro peso, 
caso o trabalho fosse realizado isoladamente. 
 
Quanto à formatação do vídeo em relação aos aspectos de iluminação, vestimenta, e 
outros, adotamos algumas orientações da Revista Brasileira de Vídeo Registros em Libras5. Lá, 
no sítio da revista, há algumas orientações quanto à produção e registro de artigos científicos 
em Libras. Algumas das orientações acatadas serão descritas no capítulo seguinte. 
 
 
5. Descrição das estratégias de tradução do português escrito para a Libras 
 
A filmagem é uma das formas de registro das línguas sinalizadas, e nesse caso, há 
necessidade de captar o sinalizador, já que a produção das palavras nas línguas de sinais é 
organizada a partir da articulação de fonemas em locais externos no corpo do sinalizador. Esse 
tipo de procedimento (filmagem) tende a aumentar nos próximos anos no Brasil, pelo aumento 
na demanda por esse tipo de serviço. 
 
 
O estúdio de gravação 
 
Antes mesmo de iniciarmos o estudo do texto fonte, discutimos sobre o local de 
gravação, já que este é um quesito importante e que interfere diretamente na qualidade do 
produto final. Procuramos um local reservado, sem interferências sonoras ou visuais. Usamos 
um tecido branco para a imagem de fundo e luz artificial a fim de minimizar e/ou eliminar 
qualquer tipo de sombra que viesse a surgir. No chão, marcamos um quadrantepara que o 
sinalizador pudesse se deslocar levemente, sem que saísse do foco da filmagem. Da mesma 
forma, adequamos e marcamos a altura do pedestal, local onde a câmera era posicionada. 
 
Em relação à posição do sinalizador dentro do quadrante da filmagem, seguimos as 
orientações da Revista Brasileira de Vídeo Registros em Libras. De acordo com as normas da 
revista6, preconiza-se que o quadrante no sentido crânio-caudal, deve abranger uma distância 
de seis a oito centímetros acima da cabeça do sinalizador e seis a oito centímetros abaixo de 
suas mãos, quando unidas em situação de repouso com os cotovelos fletidos a 90º graus. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
10 
 
Sobre as dimensões laterais, o quadrante não pode ser menor que à região dos 
cotovelos quando flexionados, de forma que as extremidades dos dedos estendidos se toquem 
em cima da região central do tórax. 
 
Em relação à vestimenta, decidimos usar a cor vermelha para o Título, Notas de Rodapé 
e Citações Diretas e a cor preta para o Corpo do Texto em si. Embora a Revista Brasileira de 
Vídeo Registro em Libras prescreva uma cor específica para os Subtítulos, não acatamos a 
sugestão, e os mantemos na língua portuguesa. Veja as imagens da figura 1, a seguir. 
 
Figura 1 – Cor da vestimenta do sinalizador durante as gravações 
 
 
Título, Notas de Rodapé e Citações Diretas Corpo do Texto 
 
 
Organização da filmagem 
 
Após essa etapa inicial, reescrevemos o texto para uma espécie de interlíngua, entre o 
português e a Libras. Utilizávamos itens lexicais da língua portuguesa dentro da estrutura 
sintática da Libras, de forma a contemplar também a organização espacial das línguas 
sinalizadas. As discussões foram produtivas. Líamos o texto fonte, debatíamos sobre o 
significado e elegíamos um “equivalente” na Libras. Nesse momento, sinalizávamos diversas 
vezes, em várias versões, até que uma forma fosse escolhida. Atentávamo-nos para não fazer 
uma forma sinalizada (português sinalizado) do texto fonte. 
 
Sinalizamos parágrafo a parágrafo ou em trechos maiores, quando possível, de acordo 
com o discorrer do assunto e da memória do tradutor. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
11 
 
Um dos tradutores lia a versão na interlíngua para que o outro sinalizasse. Ensaiávamos 
bastante antes de iniciarmos a gravação. O ledor do roteiro atuava também como intérprete de 
apoio e diretor das filmagens: analisava a posição do sinalizador no quadrante, o uso do 
espaço, das marcações não manuais, iluminação, dentre outros aspectos. Ele é quem iniciava e 
finalizava o ciclo de filmagens. 
 
Durante a leitura, percebemos o quanto é importante o “narrador” respeitar as 
características prosódicas do texto, para orientar aquele que sinaliza. 
 
Padronizamos, conforme prescrição da Revista Brasileira de Vídeo Registros em Libras, a 
posição inicial e final nas mãos a cada ciclo de filmagens. As mãos do sinalizador mantinham-se 
em repouso conforme ilustrado na figura 1, anteriormente. 
 
As imagens que compõem o texto fonte também fizeram parte da filmagem. Inserimo-
las no produto final em vídeo, anexando-as ao canto esquerdo superior do vídeo, conforme a 
figura 2 abaixo, a partir da versão digitalizada da obra que traduzimos. Toda a série de livros 
Estudos Surdos está disponível gratuitamente para download7. 
 
Figura 2 – Imagens do texto fonte. 
 
 
 
Em vários momentos do texto, disponibilizamos legendas em língua portuguesa. Nessas 
situações, o sinalizador apenas apontava para a parte inferior do quadrante. A figura 3, a 
seguir, ilustra o uso da legenda e o benefício da apontação como forma de tornar a sinalização 
menos “carregada” de datilologia. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
12 
 
Figura 3 – Uso da legenda e da apontação 
 
 
 
Em menção a autores (citações diretas e indiretas), optamos por inserir a o sinal AUTOR 
antes da explicitação de seus nomes, na tentativa de ratificarmos, junto ao leitor, de que se 
trata da inserção do pensamento de alguém no texto. De forma semelhante, inserimos o sinal 
ANO antes de mencionar o ano de publicação da obra citada. O mesmo aconteceu com a 
numeração das páginas (citações diretas), em que articulamos previamente o sinal NÚMERO. 
 
 
Adequação a nível lexical 
 
Durante a leitura do texto, no trabalho de elaboração da versão escrita na interlíngua e 
em discussões da versão em Libras, encontramos uma gama de possibilidades na escolha de 
itens lexicais. Elegemos aqueles que melhor se adequassem ao contexto resgatado. 
 
Durante esse trabalho de escolhas, deparamo-nos com uma situação curiosa, que diz 
respeito à marcação de gênero na língua portuguesa e na ausência de processo morfológico 
semelhante, na língua de sinais brasileira. Sabemos que a distinção de gênero na Libras é feito 
pela justaposição dos sinais HOMEM ou MULHER a nomes. Mas, será que a todo momento 
teríamos que fazer o uso destes itens na elaboração to texto alvo? O recorte abaixo ilustra bem 
essa discussão. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
13 
 
Avelar, 2009, p. 366 
“O objetivo principal é analisar os dados a partir de entrevistas com uma professora e 
tradutora surda, e outros quatro tradutores surdos, sondando suas expectativas quanto ao 
uso de sinais diferentes e investigando sobre a crescente necessidade de uma padronização 
linguística no AVEA.” 
 
No exemplo acima, seria mais adequado usar o sinal MULHER PROFESS@R TRADUT@R 
SURD@? Entendemos que não. Não há necessidade de marcar a frase com o sinal MULHER, 
porque essa distinção de gênero no texto fonte não é importante no discurso, apenas 
estabelece uma especificidade linguística do português. 
 
Agora consideremos outra situação. Na fala da presidente da república, quando a Dilma 
se denomina “a primeira presidenta do Brasil”, a marcação de gênero tem outra denotação. Não 
se refere apenas a uma concordância, mas a uma manifestação discursiva, com implicações 
importantes no significado. Aqui valeria a pena usar o sinal MULHER, caso fosse traduzido para 
a Libras. 
 
 
Alterações linguísticas 
 
Na elaboração do texto alvo, é comum ocorrerem adaptações (acréscimos de 
informações) de ordem linguística, com o objetivo de realizar ajustes necessários devido a 
língua alvo (VASCONCELOS, 2008). Nesse sentido, descrevemos o uso da bóia nas línguas de 
sinais e apresentamos alguns exemplos em que ela foi acrescentada no texto sinalizado. 
 
Observa-se, no níveldiscursivo, a simultaneidade na produção de itens lexicais nas 
línguas sinalizadas, na medida em que cada unidade articulatória manual atua de maneira 
autônoma. As mãos do sinalizante podem assumir diversas configurações de forma 
independente e representar eventos simultâneos. Constroem também uma espécie de plano de 
fundo no discurso sinalizado (MCCLEARY; VIOTTI, 2007). 
 
Segundo Mccleary e Viotti (2007), é frequente a manutenção de parte do sinal por uma 
das mãos por um período superior ao de sua realização, e o sinalizante pode atribuir um papel 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
14 
relevante à mão que permanece, como uma espécie de suporte semântico. Liddell (2003) 
chama esse recurso de bóia, referindo-se à permanência visual de um item lexial (ou parte 
dele) enquanto o fluxo discursivo continua a acontecer, bem como à ação da mão não 
dominante quando se configura, de forma a recuperar referentes do discurso. 
 
A mão não dominante também pode adquirir a configuração de sinais numéricos, em que 
cada dígito é associado a uma entidade do contexto discursivo. Durante uma reunião de 
trabalho, por exemplo, caso um sinalizante repasse as informações provenientes do seu chefe 
aos colegas de equipe, pode usar a bóia para configurar uma lista. A mão dominante pontua 
cada um dos dígitos da mão não dominante, e o sinalizante segue promovendo o enunciado. 
Assim, cada toque que a mão dominante faz num dígito da outra, é seguido de sinais que 
abordam as decisões da reunião. 
A associação entre entidades e dígitos geralmente é feita pelo contato na 
ponta de cada dígito apropriado, seguido da descrição associada a ele. 
Algumas vezes o contato precede a descrição, em algumas acompanham 
a descrição, e noutras tanto precede quanto acompanha a descrição 
(LIDDELL 2003, p. 224). 
 
A seguir, ilustramos na figura 4 o uso de boia numérica na elaboração do texto alvo. 
Transcrevemos o trecho no texto fonte e sua versão no texto alvo, respectivamente. 
 
Avelar (2009, p. 366) 
“Os entrevistados vêm de regiões brasileiras diferentes (Santa Catarina, Rio de Janeiro e 
São Paulo), apresentando, portanto, diferenças linguísticas e culturais, fato esse que pode 
influenciar na maneira como veem a relação entre a variação linguística dos sinais, a 
padronização e a questão das identidades surdas e da cultura surda em contato. 
ENTREVISTA APONTAR LUGAR DIFERENTE SC, RIO, SP. TEM DIFERENÇAS LINGUÍSTICAS 
CULTURAIS. 
DIFERENÇAS INFLUENCIAR OPINIÃO DELES QUATRO (boia numérica) 1-VARIAÇÃO 
LINGUÍSTICA 2- PADRONIZAÇÃO 3- IDENTIDADE SURDA 4-CULTURA SURDA CONTATO. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
15 
 
 
 
Figura 4 – Uso da boia numérica (QUATRO) 
 
 
 
Análise técnica 
 
Após a filmagem de cada trecho, seguimos com a avaliação dos vídeos recém 
sinalizados. Consideramos este tipo de análise de ordem técnica, pois diz respeito à nitidez e 
qualidade da imagem, clareza de articulação dos parâmetros, iluminação, etc. 
 
O primeiro aspecto que nos chamou a atenção foi a “disposição” do sinalizador. De 
alguma forma, o tradutor deve se portar a transmitir um ar de “motivação”. Caso contrário, o 
vídeo se torna monótono. Deve haver uma pequena dose de vigor, para que o leitor seja 
estimulado a continuar a leitura do material. 
 
Em algumas situações, as mãos do sinalizador saiam do foco da câmera, o que prejudica 
diretamente a qualidade do vídeo. A figura 5 ilustra esse problema, durante a articulação do 
sinal PRINCIPAL. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
16 
 
Figura 5 – Mão do sinalizador está fora do foco. 
 
 
Um dos motivos percebidos que influenciaram essa “saída de foco” foi o local onde o 
sinalizador articula seus sinais. O sinalizador da imagem, muitas vezes articulava seus sinais em 
frente do rosto, e não em frente ao tronco. Isso fez com que pequenos deslocamentos da mão 
não fossem capturados pela câmera. O problema foi corrigido a tempo. 
 
Percebemos também que não há uma uniformidade quando à distância do sinalizador em 
relação à câmera. Em algumas situações, o sinalizador está posicionado mais próximo que em 
outras partes do vídeo. Concordamos que a aproximação/ afastamento do sinalizador de forma 
alternada, promove uma dinamicidade ao vídeo. O que estamos levantando é a falta de 
marcações “de palco” mais sistemáticas. São fatores importantes que devem ser analisados, 
devido à modalidade de produção. 
 
 
6. Considerações finais 
 
 O fenômeno da tradução/ interpretação da língua de sinais permite que a comunidade 
surda tenha acesso cada vez mais à informação e formação. Trata-se de uma atividade que 
promove o resgate da participação, que nos próximos anos tente a aumentar no Brasil. A 
modalidade de trabalho apresentado nessas páginas é uma necessidade crescente e carece de 
urgente sistematização. Acreditamos que este trabalho, de alguma forma, contribui para isso. 
 
O presente trabalho, intitulado Estratégias de tradução do português escrito para a 
Libras: uma proposta de atuação para o intérprete educacional, é um estudo descritivo de 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
17 
alguns aspectos metodológicos que motivaram o trabalho do tradutor na construção de um 
texto em língua de sinais a partir de um texto na língua portuguesa. Apresentou também uma 
descrição quanto às competências linguísticas e referenciais necessárias para a elaboração do 
produto final, inerentes ao campo de atuação da tradução intermodal. 
 
Vimos que há adequações linguísticas de ordem lexical, sintática e discursiva, quando 
traduzimos o texto fonte do português para a Libras. Nessa modalidade de trabalho (produção 
de vídeo) outros aspectos são levados em consideração, como o estúdio, iluminação, qualidade 
da imagem, foco, disposição do sinalizador, entre outros. Sugerimos que o tradutor/ intérprete 
de língua de sinais conheça aspectos básicos de edição de vídeo. Alertamos também para a 
importância do trabalho em equipe, numa forma de assegurar a qualidade da interpretação. 
 
Certamente, estudos precisam ser feitos sobre o assunto, a fim de desvendarmos mais a 
relação entre a tradução intermodal, produção audiovisual, as línguas de sinais e parâmetros de 
avaliação. 
 
 
7. Referências 
 
AVELAR, T. F. Entrevista com tradutores surdos do curso de Letras Libras da UFSC: discussões 
teóricas e práticas acerca da padronização linguística. In: QUADROS, R. M.; STUMPF, M. R. 
Estudos Surdos IV: série de pesquisas. Editora Arara Azul: Petrópolis,2009. p. 364-393. 
BRITO, L. F. Por uma gramática de língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1995. 
INNERARITY, D. Educar para uma sociedade multicultural. In: CASTRO, G. C.; DRAVET, F. 
(Orgs). Sob o céu da Cultura. Brasília: Thesaurus; Casa das Musas, 2004. p. 59-74. 
LACERDA, C. B. F. Intérprete de Libras em atuação na educação infantil e no ensino 
fundamental. Editora Mediação: Porto Alegre, 1º edição. 2009. 
LIDDELL, S. K. Grammar, gesture and meaning in american sign language. Cambridge: 
Cambridge University Press, 2003. 
MASUTTI; M. L.; SILVA, G. G. L. Tradução e Interpretação de Libras I. Universidade Federal de 
Santa Catarina. Bacharelado em Letras Libras. 2011 
MCCLEARY, L.; VIOTTI, E. Transcrição de dados de uma língua sinalizada: um estudo piloto da 
transcrição de narrativas na língua de sinais brasileira (LSB). In: LIMA-SALLES, H. M. M. (Org.). 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
18 
Bilinguismo dos surdos: questões linguísticas e educacionais. Goiânia: Cânone Editoração, 
2007. p. 73-96. 
NIELSEN, Annie Alvarenga Hyldgaard. A Face oculta de Pagu: um caso de pseudotradução no 
Brasil do século XX. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, dissertação de mestrado, 
2007. 
PERLIN, G. T. T. Identidades surdas. In: SKLIAR, C. (Org.). A surdez: um olhar sobre as 
diferenças. 3. ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005. 192 p. 
QUADROS, R. M.; SUTTON-SPENCE, R. Poesia em língua de sinais. Traços da identidade surda. 
In: QUADROS, R. M. (Org). Estudos Surdos I: Série de Pesquisas. Petrópolis: Editora Arara 
Azul, 2006. p. 110-165. 
QUADROS, R. M. O tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa. 
Secretaria de Educação Especial. Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos. MEC: 
Brasìlia, 2003. 
SEGALA, R. R. Tradução intermodal e intersemiótica/ interlingual: Português brasileiro escrito 
para Língua Brasileira de Sinais. 2010. 74 f. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução) – 
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, 2010. 
SKLIAR, C. Os estudos surdos em educação: problematizando a normalidade. In: ______ A 
surdez. O olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005. p. 7-32. 
STROBEL, K. L. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. 2008. 176f. Tese 
(Doutorado em Educação) – Curso de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de 
Santa Catarina, Florianópolis, 2008. 
VASCONCELOS; M. L. Estudos da Tradução I. (Texto base da disciplina). Universidade Federal 
de Santa Catarina. Bacharelado em Letras Libras. 2008. 
 
Notas 
1No Brasil existe a língua de sinais kaapor brasileira, utilizada por surdos da comunidade indígena Urubu-Kaapor, 
localizada no Estado do Maranhão (BRITO, 1995). 
2Usamos o termo tradutor/intérprete na Introdução deste trabalho, para conduzir o leitor ao reconhecimento (ou numa 
tentativa de) abarcar toda esfera de atuação deste profissional, apesar de algumas de suas áreas de abrangência ainda 
não seres sistematizadas no Brasil. Posteriormente, em alguns momentos no corpo do trabalho, usamos apenas o termo 
interpréte, por questões de estética textual, mas que se refere à mesma complexidade de atuação. 
3De acordo com Segala (2010), a inserção das discussões sobre a tradução e interpretação das línguas de sinais nos 
Estudos da Tradução demandou a necessidade e a emergência de mais um tipo de tradução/interpretação, a Tradução 
Intermodal, que se refere ao processo tradutório relacionado a línguas de modalidades diferentes. 
4Avelar (2009) explica que iteração síncrona é aquela que acontece por meio de ferramentas virtuais ao vivo, em tempo 
real. Já a assíncrona é a interação que não acontece em tempo real, como a interação por email. 
 EAA-Editora ARARA AZUL Ltda 
CENTRO VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
REVISTA VIRTUAL DE CULTURA SURDA 
Edição nº 11 / Junho de 2013 – ISSN 1982-6842 
 
Estrada União e Indústria, nº 11590 – Shopping 2000 – Sala 108 
Itaipava – Petrópolis / RJ – CEP 25.730-745 
TELEFAX: (24) 22320016 – CELULAR: (24) 88189890 
Site: http://editora-arara-azul.com.br/portal/ 
E-mail: eaa@editora-arara-azul.com.br 
 
19 
5A Revista Brasileira de Vídeo Registros em Libras é uma iniciativa interessante da Universidade Federal de Santa 
Catarina. Mais um exemplo de que a língua de sinais vivencia um momento histórico no Brasil, obtendo cada vez mais 
prestígio. Para mais detalhes, acesso o sítio <http://revistabrasileiravrLibras.paginas.ufsc.br/ >, acessado em 17 de 
junho de 2012. 
6Para conhecer as normas da Revista Brasileira de Vídeo Registro em Libras acesse o site 
<http://revistabrasileiravrLibras.paginas.ufsc.br/> 
7Os livros da série Estudos Surdos são disponibilizados gratuitamente no site da Editora Arara Azul, no site 
<http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/pesquisas-em-estudos-surdos/> 
 
 
Identificação dos Autores: 
 
 
 
 
BRUNO GONÇALVES CARNEIRO 
 
Mestre em linguística pela Universidade Federal de Goiás 
(2012), graduado em letras Libras bacharelado pela 
Universidade Federal de Santa Catarina (2012), graduado em 
fisioterapia pela Universidade Federal dos Vales do 
Jequitinhonha e Mucuri (2006). Atua como intérprete de 
Libras na Escola SESI Marlei Maria Moreira em Araguaína-TO. 
Email: brunotoca@yahoo.com.br 
 
 
 
 
 
 
 
ESTER FERNANDES NUNES 
 
Pós-graduanda latu sensu em linguística. Graduada em letras 
Libras bacharelado pela Universidade Federal de Santa 
Catarina (2012). Atua como intérprete de Libras na 
Secretaria Municipal de Educação de Araguaína-TO. 
Email: ester_letrasLibras@hotmail.com 
 
 
 
 
 
http://revistabrasileiravrlibras.paginas.ufsc.br/
http://editora-arara-azul.com.br/novoeaa/pesquisas-em-estudos-surdos/
mailto:brunotoca@yahoo.com.br
mailto:ester_letraslibras@hotmail.com

Continue navegando