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Conteúdo Interativo Análise de Conjutura e Serviço Social - Equacionamneto da Questão Social AULA 9

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Acumulação capitalista e questão social
Aula 9: Análise de conjuntura e Serviço Social –
equacionamento da questão social
Apresentação
Nesta aula, analisaremos as propostas neoliberais do processo capitalista que vem crescendo na sociedade brasileira,
bem como a nova postura do Estado e das relações de trabalho nesse cenário.
Além disso, entenderemos a gravidade da questão social no Brasil, o que permite ao pro�ssional de Serviço Social
aproximar-se da realidade brasileira e re�etir sobre sua atuação pro�ssional nesse contexto.
Por �m, apresentaremos os dados do desemprego no país e a importante participação do Terceiro Setor para enfrentar
essa problemática.
Objetivos
Explicar a ideia neoliberal advinda do processo capitalista;
Avaliar dados atualizados sobre as expressões da questão social;
Analisar a gravidade do desemprego no Brasil.
Projeto neoliberal
Para iniciar, é importante mencionar que o neoliberalismo  , surge na década de 1970, por meio da Escola Monetarista, do
economista Milton Friedman, como uma proposta para a crise que atingiu a economia mundial, em 1973, provocada pelo
aumento excessivo no preço do petróleo.
Entre a segunda metade do século XIX e início do XX, no contexto do liberalismo, houve o reconhecimento dos direitos de
cidadania política e social mais amplo para esses segmentos em função do crescimento do movimento operário, mas o
liberalismo nega as políticas sociais, que vão se generalizar no contexto de crise do liberalismo e crescimento do Estado de
Bem-Estar Social.
1
http://estacio.webaula.com.br/cursos/acqs01/aula9.html
 Conceito de neoliberalismo. | Fonte: Por ImageFlow /Shutterstock.
Com o neoliberalismo, o desemprego estrutural aumenta, assim como as demandas do capital em torno dos superlucros
apontam para a diminuição dos gastos sociais. Esse cenário tem como resultado um processo con�ituoso de negociação e
luta de classes e seus segmentos, que se colocam em condições desiguais nas arenas de negociação disponíveis no Estado
democrático de direito, o que leva a con�itos também extra institucionais.
Portanto, é importante entender como as políticas públicas sociais são entendidas:
Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online
A intervenção do Estado na formulação e na implementação dos padrões de
proteção social dos trabalhadores e da população como um todo vêm sendo
construída em favor de um movimento privatista alimentado pela doutrina
neoliberal, em que as conquistas sociais são desmontadas para dar conta das
exigências do mercado que se impõem como valor sagrado e força absoluta. De
acordo com o meu ponto de vista e apoiado em algumas evidências quotidianas
nacionais e internacionais, além do olhar dos estudiosos, argumento que as atuais
políticas públicas implantadas, tanto nos países de capitalismo avançado como
nos países de capitalismo periférico, por estarem ancoradas na concepção
neoliberal, não são efetivamente políticas sociais.
(SILVA, 1999, p. 79)
Assim, parte da compreensão da existência de políticas públicas sociais no âmbito do Estado é analisada frente às
recon�gurações em face da implementação de um modelo neoliberal. Dessa forma, as políticas públicas sociais dependem da
concepção de sociedade que norteiam o governo.
Desta forma, a expansão do capitalismo – com suas leis permanentes, livre
concorrência e ampliação da mais-valia – causou o aumento das discussões
sobre questões sociais, como trabalho, moradia, saúde, transporte e
educação, afetando diretamente crianças, adolescentes e idosos.
Temos, na atualidade, o trabalho
infantil, a dependência química e
abandono como fatores que
prejudicam o processo de
desenvolvimento infanto-juvenil,
além do abandono e dos maus
tratos aos idosos. .
A partir dessas expressões da
questão social e também dos
movimentos sociais e a favor
dessa população, as políticas
públicas veem contribuir para
defesa e garantia dos direitos
humanos. No entanto, tais
medidas, no Brasil, têm as
características de serem
centralistas, imediatistas e
seletivas, fazendo com que o
direito perca o seu enfoque na
integralidade.
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Portanto, na década de 1990, teve início, de forma acelerada, a implantação da ideologia neoliberal, que tem como princípios:
1. Desresponsabilização do Estado;
2. Privatização do setor público;
3. Desregulamentação das leis trabalhistas;
4. Ideologia do consumo.
Fonte: Por Alexander Limbach / Shutterstock.
Com tudo que aprendemos, é evidente que este projeto se contrapõe ao projeto hegemônico do Serviço Social, elaborado
desde a década de 1980. O projeto neoliberal reforçou como demanda para o Serviço Social:
1
Seleção socioeconômica dos usuários
2
Atuação psicossocial
3
Ação �scalizadora
4
Assistencialismo
5
Predomínio de práticas individuais, impondo ao pro�ssional
o desa�o de concretizar os princípios do Código de Ética
Pro�ssional.
Atividade
1. O neoliberalismo nasceu para:
a) Proteger o Estado.
b) Criar o Estado.
c) Punir o Estado.
d) Reinventar.
e) Enfraquecer o Estado.
Identidade pro�ssional diante da conjuntura
O Serviço Social está atrelado às intervenções necessárias nessa conjuntura de problemas sociais. Como ciência social
aplicada, permite ao pro�ssional intervir de forma crítica, utilizando-se dos mais diversos instrumentais das ciências humanas.
O processo de maturação do Serviço Social, ao longo da construção da identidade pro�ssional, trouxe inúmeros avanços à
categoria, como o processo de rompimento com práticas conservadoras e de ajustamento do indivíduo para a conquista de
uma função social e de um papel de�nido na distribuição sociotécnica do trabalho.
O compromisso com a classe trabalhadora corresponde ao principal motivo
de existência da pro�ssão, pois, junto a ela, o pro�ssional trabalha a favor
da igualdade, da justiça, da universalidade e da equidade.
Desta forma, pensar o Serviço Social inserido na divisão sociotécnica do trabalho signi�ca reconhecer que, além de sua
dimensão técnica, ele também tem uma dimensão social, ou seja, a pro�ssão atende às várias determinações no âmbito do
modo de produção capitalista e, portanto, nas relações sociais.
Essas relações entre indivíduos concretos, com necessidades também concretas, exigem do pro�ssional um arsenal teórico-
metodológico, ético-político e técnico-operativo capaz de responder à variada gama de demandas histórico-sociais de seu
cotidiano pro�ssional.
Neste sentido, a dimensão técnica da pro�ssão assume uma importante posição do agir pro�ssional na medida em
que possibilita a operacionalização da intervenção do assistente social na realidade posta, ou seja, como defende
Guerra (2007), reduz a pro�ssão a uma dimensão de signi�cância do ser funcional vinculado à manutenção da ordem
do capital. Desta forma, deixa de considerar que, para dar conta de todas as demandas que atravessam a pro�ssão, é
exigido do pro�ssional de Serviço Social um olhar ampliado, crítico e diferenciado frente ao cotidiano no qual se insere
enquanto ser social, enquanto sua construção histórica, bem como no qual estão os demandatários das políticas
sociais, que têm como um de seus objetivos centrais diminuir as mazelas geradas pelo capitalismo, especialmente em
tempos de avanço neoliberal.
 O exercício da profissão. | Fonte: Por Rido / Shutterstock.
Desta forma, a pro�ssão exige um nível de racionalidade que permita
aos pro�ssionais atuar nos desa�os e di�culdades do agir pro�ssional,
por meio de uma intervenção crítica e propositiva, possibilitando o seu
reconhecimento social.
Independentemente do espaço de atuação, a apreensão do cotidiano, estrutura e conjuntura são elementos essenciais para a
intervenção pro�ssional. O assistente social deve sempre estar disposto para ir além da intervenção, não perdendo de vista a
atitude investigativa. A inquietude é um dos principais legados da pro�ssão, que busca a mudança, a transformação e a
indignação diante a violação de direitos.
No pensar eagir pro�ssional, estão a dimensão investigativa, fundamental para o entendimento, compreensão e construção da
materialização do trabalho pro�ssional do assistente social de forma crítica-criativa e propositiva-transformadora, como
estabelecido no projeto ético-político pro�ssional do Serviço Social, que estabelece que a dimensão investigativa frente ao
processo de desvelamento do real é constitutiva da interventiva (OLIVEIRA et al., 2018).
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Agravamento das expressões da questão social
A gênese da questão social está no modo no qual os homens se organizam para produzir, num determinado momento
histórico de constituição das relações sociais capitalista, o que tem continuidade na esfera da reprodução social.
Desta forma, quando pensamos no processo de produção e
reprodução das relações sociais inscritas num momento
histórico, sendo a questão social uma in�exão de tal
processo, pensamos na produção e na reprodução, que são
movimentos inseparáveis na totalidade concreta, das
condições de vida, de cultura e de produção da riqueza.
As políticas sociais e a formatação de padrões de proteção
social podem ser consideradas desdobramentos, ou mesmo
respostas e formas de enfrentamento, da questão social.
Como enfrentamento das expressões multifacetadas da
questão social no capitalismo, na qual o seu fundamento
está nas relações de exploração do capital sobre o trabalho,
há as políticas sociais e a formatação de padrões de
proteção social.
Conceito de relações sociais. | Fonte: Por cate_89 / Shutterstock.
A sua gravidade vem pelo neoliberalismo, em que veri�camos que o
interesse privado se torna a medida de todas as coisas, obstruindo a esfera
pública, com a recusa das responsabilidades e das obrigações sociais do
Estado.
Em decorrência do denominado enxugamento do Estado presente no neoliberalismo, observamos a desorganização e a
destruição dos serviços sociais públicos. Assim, a incidência das ações de governo ocorre com a prestação destes serviços, o
que será veri�cado no cotidiano do trabalho do assistente social.
Saiba mais
Para saber mais sobre o assunto, sugerimos que assista ao documentário: PRIVATIZAÇÕES: a distopia do capital.
Como exemplo dessa realidade, temos o desemprego. Vamos abordar mais sobre essa realidade no texto a seguir:
Como exemplo dessa realidade, temos o desemprego. Vamos abordar mais sobre essa realidade no texto a seguir:
 Desemprego capitalista
 Clique no botão acima.
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Segundo (1999 apud IAMAMOTO, 2007), o desemprego capitalista é uma das expressões mais dramáticas, talvez a
mais severa, da questão social e que impulsiona as demais. As origens do desemprego capitalista são indissociáveis
de um sistema econômico que prefere não produzir a produzir sem lucro, já que o objetivo é acumulação de riqueza
para poucos.
A busca pela articulação da produção com lucro e a venda das mercadorias para que o capitalismo funcione
corretamente deverão produzir lucro com a venda das mercadorias produzidas. (HUSSON, 1999 apud IAMAMOTO,
2007)
As novas formas de expressão da questão social foram desencadeadas pelo crescente domínio do mercado nos
processos econômicos e sociais a partir das duas últimas décadas do século passado, trazendo as ideias do
neoliberalismo que implicou em grandes reduções dos investimentos públicos nas políticas sociais, com cortes de
gastos e transferências dos serviços para o setor privado e empresarial (IAMAMOTO, 2007), em que poucos podem
pagar pelos serviços.
Veja a estatística atual do desemprego no Brasil.
No Brasil atual, veri�camos que, até mesmo aqueles que possuem melhores condições de trabalho permeadas por
identidade, status e proteção, têm desa�os decorrentes da internacionalização do mercado, da mundialização e das
exigências da concorrência e da competitividade, o que acarreta, por exemplo, a redução do preço da força de trabalho,
em busca de lucro.
As consequências desse cenário são graves, não só para os trabalhadores assalariados, como também para os não
assalariados. Observa-se, ainda, a subcontratação para tarefas fora da empresa, com condições muito precárias,
restritas de direitos, sem ou com pouca proteção.
O assalariamento pensado traz a condição do operário dentro de um sistema de seguridade com grandes riscos de
saúde por não possibilitar um futuro certo, que não confere prestígio e poder, gerando uma grande desigualdade social
em decorrência das diferenças vivenciadas por aqueles que desfrutavam de um número de garantias e direitos e
aqueles que não possuíam (CASTEL, 1998 apud ARCOVERDE, 2000, p. 79). É a legitimação de uma sociedade do
trabalho, que dela não poderá sobreviver em sua velhice.
A desestabilização que ocorre envolvendo o trabalho assalariado causa repercussões em outras formas de trabalho e
ocupações, que contribuem para o agravamento da precarização e vulnerabilidade. Há que se relatar que um emprego
por tempo determinado, temporário, contribui para a manutenção do desemprego. No Brasil, há repercussões em
todas as categorias sociais, sendo os mais afetados, os trabalhadores com menor quali�cação.
 Fonte: https://g1.globo.com/economia/
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Na conjuntura brasileira, veri�camos, inclusive, que os trabalhadores quali�cados também não possuem a segurança,
pois sua situação ocupacional também é instável. É importante pensarmos na condição daqueles que vivenciam o
desemprego, temporário ou estrutural, pois, diante da situação na qual se encontram, experimentam outros tipos de
exclusão e que causam doenças.
As manifestações da questão social no Brasil, amplas ou restritas, marcadas por desemprego, precarização do
trabalho, suspensão de gastos sociais, indicam que conteúdos, natureza e método são inadequados. Tais resultados
desta gestão social atingirão usuários do Serviço Social, novos ou tradicionais, que são famílias, crianças, mulheres,
adolescentes, idosos, desempregados, despossuídos, excluídos, de�cientes, doentes, usuário de drogas, alcoolistas,
organizações de bem-estar, funcionários, sindicatos, causando desconforto aos sujeitos responsáveis pelo
enfrentamento da questão social (Estado, mercado e sociedade civil organizada).
 Filas imensas de desempregados no Brasil em 2019. | Fonte: https://revistaforum.com.br/
Comentário
A construção das lutas pelos direitos das pessoas idosas no Brasil aconteceu de dentro para fora, partiu da organização das
pessoas que vivem essa fase da vida. O movimento social do idoso no Brasil reforçou a discussão sobre as políticas públicas,
que proporcionou a criação de leis importantes.
É fundamental criar maior número de agendas de pesquisas e estudos sobre o envelhecimento da população, trazer a re�exão
num contexto sociopolítico e demográ�co de transformação da velhice e o surgimento de mais uma nova forma de entender a
questão social nessa área.
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Atividade
2. A gênese da questão social está no modo pelo qual:
a) Os homens se organizam para produzir.
b) Os homens se socializam.
c) A política social se organiza.
d) Os meios de produção são ofertados aos homens.
e) A sociedade valoriza seu trabalho.
3. Qual alternativa a seguir indica uma das expressões mais severas da questão social?
a) Aumento salarial.
b) Construção dos sindicados.
c) Desemprego.
d) Leis.
e) Estado.
Notas
Neoliberalismo 1
O neoliberalismo se fundamenta como um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas, que visa defender a não
participação do governo na economia, ou seja, a prioridade das decisões é que deve haver total liberdade de comércio, através
do livre mercado e, assim, garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país.
Referências
CASTEL, R. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Petrópolis: Vozes, 1998.
GUERRA, Yolanda. Instrumentalidade no trabalho do assistente social. CEFESS, ABEPSS, CEAD, UNB, Fundação Universidade
de Brasília Programa de Capacitação continuada para assistentes sociais,módulo 4, ano 2000, pp. 51-63.
IAMAMOTO, Marilda Villela. O serviço social em tempo de capital fetiche: capital �nanceiro, trabalho e questão social. 1. ed.
São Paulo: Cortez, 2007.
OLIVEIRA, J. J. A. et al. Temas contemporâneos de pesquisa. Bauru: Canal 6, 2018.
SILVA, Paulo da Trindade Nery. São as políticas públicas efetivamente políticas “sociais”? Florianópolis: Motrivivência, n.12,
1999.
SUGUIHIRO, V. L. Tieko. A ação investigativa na prática do assistente social. Disponível em: http://goo.gl/sS3VAI. Acesso em:
23 jun. 2019.
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Novas expressões da questão social;
Flexibilização trabalhista;
Compromisso do assistente social com a visão crítica e criativa.
Explore mais
Para saber mais sobre os assuntos estudados nesta aula, sugerimos a leitura do livro:
DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaios sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
Esse livro traz uma análise sobre a necessidade de compreender o liberalismo, o neoliberalismo e suas consequências.
A obra nos faz pensar sobre a conjuntura econômica e social no Brasil e no mundo. Consegue nos fazer compreender e trazer
novas ideias sobre as consequências da ideologia nas pessoas e na sociedade, muito além da economia.

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