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LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL unidade 1

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LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL
CAPÍTULO 1 - A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E DA ESCRITA, BEM COMO SUAS PRÁTICAS DISCURSIVAS, OCORREM DE MANEIRAS DISTINTAS?
Izaura da Silva Cabral
LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL
CAPÍTULO 1 - A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ORAL E DA ESCRITA, BEM COMO SUAS PRÁTICAS DISCURSIVAS, OCORREM DE MANEIRAS DISTINTAS?
Izaura da Silva Cabral
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Introdução
Olá estudante! Seja bem-vindo(a) à disciplina Leitura e Produção Textual.
Cada modalidade de uso da língua, seja oral ou escrita, apresenta suas peculiaridades. Isso não significa que sejam duas formas totalmente distintas, mas pode-se dizer que há uma variação, um contínuo que varia da conversação espontânea à escrita formal. Você já pensou que tanto a fala quanto a escrita são atividades produzidas de acordo com o contexto em que há uma necessidade de comunicação?
Nesse sentido, você reconhece a importância de saber produzir textos orais e escritos tanto na linguagem formal quanto na coloquial?Sabia que, da mesma forma que é importante conhecer os mecanismos de uma fala proficiente, é necessário reconhecer os tipos textuais e suas marcas para também produzir uma escrita com proficiência?
O domínio da linguagem verbal contribui para a formação de leitores proficientes, ativos e críticos.Por isso, neste capítulo, você descobrirá, primeiramente, como distinguir a fala da escrita. Como futuro profissional de Letras, você precisa saber esses conceitosa fim de reconhecer qual é o mais adequado para determinado contexto de produção. No exercício da docência, por exemplo, essas duas formas de linguagem – oral e escrita – devem receber a mesma atenção na sala de aula, com o incentivo para a convivência com os mais variados gêneros textuais. Assim, o docente ampliará suas vivências, inserindo-se no universo letrado, interagindo com proficiência.
1.1 Fala e escrita
A língua é um sistema de signos convencionais que permite que uma comunidade de falantes estabeleça possibilidade(s) de comunicação. Esse caráter social da língua permite não somente que um grupo de pessoas se comunique, mas também que cada integrante de uma mesma comunidade escolha uma forma de se expressar. Cada indivíduo de uma determinada sociedade apresenta uma maneira de falar. No entanto, não é possível criar cada um sua própria língua e ser compreendido pelos outros. Assim, cada indivíduo, ao utilizar a língua de maneira própria na comunidade, cria sua fala particular, e esta é condicionada por normas socialmente estabelecidas, porém é ampla o suficiente e permite exercitar o ato criativo de comunicação.
Além disso, tanto a forma escrita quanto a forma falada seguem algumas normas para que a comunicação se efetive. Por exemplo, enquanto um sujeito pode dizer/escrever “Aquela menina era paupérrima”,outro pode usar “Aquela menina era muito pobre”. As variações encontradas ocorrem porque cada um se manifesta de maneira própria, de acordo com seu repertório de palavras.
Contudo,é sempre necessário observaras estruturas da língua, nesse caso, a portuguesa. Não se pode correr o risco de que os enunciados produzidos se tornem incompreensíveis, conforme o exemplo: “pobre aquela muito era menina”.
É importante ressaltar que, embora façam parte de um mesmo sistema linguístico, a linguagem oral e escrita apresentam características e usos distintos. A seguir, você poderá comparar as diferenças e aprender mais sobre cada uma delas.
1.1.1 Características distintas
Uma pessoa, ao falar, utiliza-se de um vocabulário, ou seja, utiliza-se das palavras que conhece. Porém, pode utilizar também outros códigos linguísticos, como voz baixa e alta, gestos, e pode apresentar reações variadas como expressões faciais – caretas, sorrisos, caras de desconfiança –, entre outras. Inclusive, ao falar, o indivíduo tem a tendência de repetir as ideias ou conceitos, na tentativa de reforçar o ponto de vista adotado e convencer o ouvinte. E, nesse caso, não existe a necessidade em acentuar e pontuar as frases, pois a entonação e as pausas na fala cumprem esta função. Além disso, não se preocupa com que letra irá representar aquele som – ao contrário do que ocorre na escrita.
Já no texto escrito, o ato é baseado no vocabulário que irá estabelecer a comunicação entre o texto e o receptor. E, distintamente da fala, a escrita exige preocupação e atenção maiores, uma vez quea informação passada não se extinguirá com o tempo. De acordo com Burke (2003), a escrita fixar-se-á por tempo indeterminado, tendo apenas o suporte como contexto. Como exemplos têm-se os documentos históricos e os livros clássicos, os quais permanecem sendo lidos durante centenas de anos. Assim, pode-se dizer que, no texto escrito, o autor é obrigado a fazer referências mais precisas sobre a situação, apontar mais detalhes e informações sobre a mensagem que quer transmitir, o que requer um trabalho de elaboração mais detalhado.
Os sumérios e os egípcios foram os primeiros povos a desenvolverem, por volta de 4000 a. C., um sistema de escrita próprios. Porém, não há possibilidade de atribuir o início da escrita a uma única sociedade. Para conhecer melhor a história destes povos, acesse o link (SOUZA,  [s/ d]): <http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/origem-escrita.htm>.  
De acordo com Antunes (2007), na escrita, pode-se pensar e repensar a produção, planejar para depois partir para o registro. Além disso, há a possibilidade de voltar ao que já foi produzido, corrigindo, acrescentando palavras e termos, reorganizando-os, o que faz com que a escrita seja mais demorada do que a fala, e requeira maior trabalho. Nesse sentido, a escrita passa a ser um processo, no qual os três elementos – autor-texto-leitor – correlacionam-se para que haja produção de significados.
Nesse sentido, veja o que afirma Koch (2003, p. 34):
[...] a escrita não é compreendida em relação apenas à apropriação das regras da língua [...] mas, sim, em relação à interação escritor-leitor, levando em conta, é verdade, as intenções daquele que faz uso da língua para atingir o seu intente sem, contudo, ignorar que o leitor com seus conhecimentos é parte constitutiva desse processo. 
Ainda, há que se considerar que a fala é ensinada, corrigida com base na gramática da língua escrita. Este fato permite considerar que a fala não apresenta características só dela. Sendo assim, torna-se necessária a distinção entre ambas as linguagens. Uma não deve se fundir à outra, na maioria das produções, a não ser com a finalidade de produzir a fala, no discurso direto, de uma personagem narrativa.
Dessa maneira, pode-se dizer que a modalidade oral e a modalidade escrita constituem universos distintos dalinguagem e, portanto, apresentam suas próprias peculiaridades. De acordo com Martins (1982), a modalidade escrita, muitas vezes, dá a sensação de que se caminha para a totalidade, a partir do momento em que há o distanciamento grandioso entre quem produz a escrita e quem recebe; por sua vez, a oralidade é limitada à presença do interlocutor e, além disso, pressupõe um envolvimento maior entre os falantes (MARTINS, 1982). No entanto, essa organização nem sempre se concretiza, uma vez que há outros fatores que interferem.
No momento da escrita, ainda conforme Martins (1982, p. 34), o autor pode buscar impedir que o “leitor interfira diretamente no universo textual”. Indiretamente, porém, essa intervenção acaba por acontecer, visto que, continuamente, ajustamos a escrita à imagem que fazemos daquele que receberá o texto, prevendo possíveis perguntas que ele poderia fazer, buscando sempre respondê-las. Por isso, a presença do leitor imaginário requer do autor um grandeesforço de elaboração e precisão, para que possa elevar o texto escrito a um grau de completude e preenchimento, que se refletem no uso dos vocábulos, no uso das normas gramaticais, sempre obedecendo à norma culta, criando um texto objetivo e claro, eliminando as ambiguidades.
De outra forma se dá a produção oral, haja vista que a relação estabelecida como falante é direta, reproduzida em um processo de diálogo, que conta aindacom uma série de recursos extralinguísticos, os quais facilitam a emissão da mensagem pelo falante.A interação face a face tem por princípio o tempo real e, portanto, a espontaneidade ao se elaborar o texto, produto do ato comunicativo. Dessa forma, é comum encontrarem-se hesitações, truncamentos, correções, repetições, inserções, paráfrases, falsos começos, enfim, tudo o que se considera defeito na elaboração textual.
Em razão do exposto, pode-se dizer que tanto naprodução oral quanto na escrita, espera-se a eficiência e o sucesso da comunicação, de modo a se concretizar pelo contínuo ajustamento de linguagem que o emissor da mensagem faz com relação ao seu destinatário.
Para entender melhor as distinções entre as duas modalidades, a oral e a escrita, observe o quadro a seguirra Zoom
Figura 1 - Diferenças entre a fala e a escrita.Fonte: Elaborado pela autora, adaptado de MARCHUSCHI; DIONISIO, 2007, p. 28.
O livro Escrever melhor: guia para passar os textos a limpo, de Dad Squarisi e Arlete Salvador (2008), traz dicas de como melhorar o seu texto. De maneira bem-humorada, as autoras trabalham a reescrita e afirmam que, sim, é possível transformar um texto comum numa escrita sedutora, gostosa de ler. E, ainda, indicam como escapar das ciladas da língua portuguesa.
Enfim, sempre é importante considerar que, mesmo tendo suas particularidades, a escrita e a oralidade se intercomunicam e, muitas vezes, em alguns textos escritos, a oralidade insiste em deixar suas marcas; no entanto, é necessário identificar quando não se deve deixar as marcas da oralidade permearem o texto.
1.1.2 Marcas de oralidade na escrita
A produção oral, pela criança, se inicia desde muito cedo; o contato com a fala se dá desde o ventre da mãe, assim o falante já está exposto a essa linguagem muito antes de conhecer a escrita. Geralmente, pelo menos nos primeiros seis anos de vida, mesmo que veja letras e palavras, a criança ainda não sabe para que servem, nem  como usá-las. Portanto, a chegada da escrita na vida do ser humano se dá mais tarde do que a expressão oral, mas os mecanismos próprios do discurso escrito devem ser trabalhados aos poucos, a fim de que o aluno não pense que uma modalidade deva se sobressair à outra.
O uso da oralidade, na escola, e suas marcas próprias devem ser analisados. Para Cajal (2001), ela será mais bem compreendida quando inserida no mundo da escrita. Para tanto, deve-se considerar os seguintes aspectos:
· o oral é principalmente trabalhado como percurso de passagem para a aprendizagem da escrita;
· os professores ensinam o oral a partir da escrita;
· a forma oral está bastante presente em sala de aula, mas nas variantes e normas escolares, a serviço somente da estrutura formal escrita da língua;
· a leitura em voz alta, isto é, a leitura oralizada, representa a atividade oral mais frequente na prática escolar.
Dessa maneira, uma prática em sala de aula deve abordar o desenvolvimento da oralidade, não apenas sob a perspectiva da fala como reprodução da escrita, mas antes fazer com que o aluno conheça e possa produzir diversas práticas orais de linguagem, contextualizadas, e que ele também possa reconhecer as relações muito variáveis que estas mantêm com a escrita.
De acordo com Azeredo (2005, p. 40): “[...] os gêneros textuais são, portanto, as formas relativamente estáveis pelas quais a comunicação verbal se materializa nas diferentes práticas sociais”. A partir dessa ideia, eis a importância de se colocar em sala de aula esse tipo de trabalho. É essencial destacar que o ato de comunicar é muito mais que falar; o que importa desenvolver na oralidade do aluno é a sua eficiência comunicativa, e para tanto ela deve ser desenvolvida assim como a escrita.
Quando se escreve um texto, dependendo do gênero textual específico, há a exigência do uso da norma culta da língua.Esse fato limita a forma de expressão. Por exemplo, no gênero dissertativo, devem-se evitar palavras e expressões que passem ao leitor a impressão de que há um diálogo com ele. Lembre-se de que uma das características da oralidade é a interação entre os sujeitos. A partir disso, numa dissertação, devem-se evitar expressões como “você”, “né”, “tá”, e verbos no imperativo, gerúndio e particípio – e/ou quaisquer outros tipos de interação com o receptor.
Já no texto narrativo, podem-se utilizar marcas da oralidade – como travessão, vocativo, entre outras – para reproduzir as falas de personagens a partir do discurso direto. A oralidade aparece de maneira mais frequente, e busca, na escrita, uma aproximação com a fala.
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Figura 2 - No momento da leitura, o interlocutor não está presente, portanto, o texto precisa ser produzido com mais cuidado.Fonte: Lisa S., Shutterstock, 2018.
Imagine que você foi solicitado a escrever um texto. A primeira coisa a fazer é observar o gênero textual, e as possibilidades que tal gênero permite: uso de marcas da oralidade ou não, permissão do autor colocar-se no texto ou não, necessidade de manter a impessoalidade ou não, enfim, devem ser consideradas todas as características do gênero textual em questão. O mais importante ao identificar adiferença entre a oralidade e a escrita é perceber os contextos nos quais você deve utilizar a linguagem cotidiana – conhecida como coloquial – ou a linguagem formal de acordo com a norma culta, aspecto que exige o conhecimento prévio das normas da língua.
Desse modo, você precisa saber que, no caso de um texto dissertativo, as marcas de oralidade tidas como aceitáveis em determinados textos, tais como gírias, vícios de linguagem, abreviaturas, trocas de letras, erros de concordância, não devem ser aplicadas. Por isso, há a necessidade de saber discernir uma linguagem da outra.
Nesse sentido, é possível que você esteja se perguntando: e quanto à linguagem da internet e das redes sociais? Conforme Diniz (2014), com o advento da tecnologia de informação e com tantos dispositivos e aplicativos disponíveis para facilitar a comunicação, estar conectado com o mundo tornou-se uma necessidade. O autor aponta para as diferentes relações possibilitadas pela internet, como negócios, compras, ou simplesmente o contato com outras pessoas.
 Assim, cada um dos objetivos da comunicação exige que se sigam regras, da mesma forma que para os textos escritos fora do ambiente virtual. Nessa “era das redes sociais”, as quais reproduzem na escrita o discurso oral, “observa-se a criação de uma linguagem particular” (DINIZ, 2014, p. 4), ou seja, a criatividade entra em cena através de inúmeros recursos, por exemplo, os emoticons (ícones e/ou sinais gráficos que representam as emoções ou o estado de espírito dos internautas). Além disso, de acordo com Diniz (2014, p. 6):
[...] outra vantagem, além de facilitar a autoexpressão, é a rapidez. Falar é mais rápido do que escrever, por isso são comuns as abreviaturas: vc (você), blz (beleza), abc (abraço), tdb (tudo de bom), bj (beijo), t+ (até mais) e assim por diante, com o objetivo de agilizar a escrita. Estes recursos são bastante utilizados em conversas online e constituem parte do conjunto de expressões que um usuário frequente precisa aprender para facilitar sua comunicação.
Destaca-se que o uso da comunicação na internet é, afinal, o grande desafio do futuro profissional da área de Letras no exercício da docência. Por isso, a necessidade de conhecer cada especificidade dos diferentes gêneros textuais reflete tanto na fala quanto na escrita do sujeito que faz uso da língua.
A escrita é a representação da oralidade que exige regras próprias. Por exemplo,ao escrever, usam-seos sinais de pontuação, que marcam as pausas e dão sentido às frases. Estes recursos não se aplicam à fala, pois essas pausas ficam claras pela entonação e pelas outras linguagens utilizadas para a comunicação, como a corporal e expressões faciaisdo falante, permitindo aointerlocutor identificarse o tom corresponde a uma afirmação, exclamação ou pergunta.
Contudo, a linguagem escrita permite o uso intencional da informalidade ao representar,por exemplo, a regionalidade nas falas dos personagens de um texto, escrevendo as palavras de acordo com as pronúncias peculiares de cada região. Da mesma maneira, é possível fazer um jogo com a linguagem formal e a informal, principalmente se houver finalidade de produzir humor.
Inúmeras são as diferenças e as formas de aplicação de cada uma das linguagens. Como estudante de Letras, você precisa estar ciente disso e saber transitar entre os diferentes gêneros textuais nos mais variados contextos de comunicação.
1.2 Escrita e interação
A escrita está indubitavelmente presente no cotidiano, e ela é uma ferramenta da qual nos utilizamos para o envio de recados bem simples – como aqueles deixados na porta da geladeira –, de mensagens postadas nas redes sociais, ou de orientações para a equipe de trabalho em uma empresa; os registros da vida cotidiana de uma sociedade são feitos, em sua maior parte, de forma escrita.
Dessa maneira, considerando que a linguagem é um sistema pronto, de acordo com Koch e Elias (2010), pode-se dizer que o sujeito torna-se apenas o receptor de dada informação, não tendo a permissão de intervir de maneira alguma na fala de quem escreve, por se tratar de uma voz pronta e preconcebida. Inclusive, para que a escrita cumpra seu papel de interação é preciso observar determinados fatores,como os elementos da gramática da língua, que são considerados essenciais na interpretação, cabendo ao leitor simplesmente a decodificação dos códigos trazidos pela escrita.
“Influência da linguagem oral na escrita”, trabalho desenvolvido por Lucélia Lopes Nobre (2011) para o curso de Especialização em Gramática e Ensino da Língua Portuguesa, abordaos processos de leitura e escrita, aliados ao desenvolvimento da fala. O objeto de estudo da autora foram as atividades com os gêneros textuais realizadas por alunos do quinto ano do Ensino Fundamental. Para conferir o trabalho e seus resultados, acesse o endereço: <http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/60697>.
Quando o foco é o escritor, a língua é vista “[...] como representação do pensamento e de sujeito como senhor absoluto de suas ações e de seu dizer.” (KOCH; ELIAS, 2010, p. 9). Para o escritor, a escrita passa a ser um mecanismo de expressão de seus pensamentos, sem considerar o leitor. Koch (2003) também acrescenta a presença de um ego que emite a representação mental, a partir do qual o autor pretende que o leitor absorva aquilo que imaginou. Porém, cabe ao autor direcionar a interpretação que o leitor deve ter do texto.  para Zoom
Figura 3 - Quando escreve, o autor espera que o receptor compreenda facilmente a sua mensagem.Fonte: Shutterstock, 2018.
Quando o foco textual se baseia na interatividade, a imagem e a presença do sujeito considerado agente do processo representam papel relevante. Isso se deve por sua inserção ocorrer no sentido de ampliar a discussão, destacando ou diminuindo a fala do autor, introduzindo as falas dos interlocutores, ou outras vozes. Portanto, a partir da observação desses aspectos, se consegue extrair das entrelinhas inúmeras ideias jamais imaginadas por aquele que lhes deu origem.
De maneira geral, conforme Koch e Elias (2010), considera-se que a escrita é representativa de um universo constantemente ampliado, podendo assim dizer que à proporção que os implícitos forem requeridos, a compreensão dos fatos, do pensamento do escritor, maiores são as possibilidades de serem extraídas outras informações, podendo até ocorrer um processo de rotatividade. Sendo assim, oportuniza-se um espaço para os diversos tipos de implícitos, permitindo, tantoao autor quanto ao leitor,a possibilidade de teremoutros olhares, outras interpretações, outras vivências, a partir da leitura.
Koch e Elias (2010) destacam que o ser humano sente-se à vontade para expor seu ponto de vista, interagindo cognitivamente enquanto ser social, no momento em que se insere e passa a ser parte integrante do ato de interpretação textual. O leitor passa, então, a ser um interlocutor do texto escrito.  O texto, escrito ou lido, deixa de pertencer ao seu escritor. Passa a ser de todos os leitores/autores que construirão os sentidos, as reflexões por meio das inferências, dos cortes, vazios e acréscimos. Nesta concepção, torna-se evidente um elemento fundamental para toda e qualquer produção textual: as variadas possibilidades de ampliar os horizontes de leitura, a capacidade de mobilizar no leitor a expansão de suas vivências.
1.2.1 O que é escrita?
Para iniciarmos a discussão sobre o que é escrita, recorremos a Sobral (2008), para quem o termo scriptura, escritura, sinônimo de escrita, é a ação ou efeito de escrever (representar as palavras ou as ideias com letras ou outros sinais traçados em papel ou noutra superfície). Trata-se, por outro lado, do sistema de sinais convencionais utilizado para escrever (por exemplo, a escrita alfabética).
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Figura 4 - Uma escritura pode estar em uma carta,documento, bilhete, ou em qualquer suporte que conserve a escrita.Fonte: Dreamstime, Shutterstock, 2018.
A escrita, quanto está presente em um documento legal, assinado, validado na presença ou não de testemunhas, reconhecido pelo cartório, geralmente serve para validar oficialmente uma transação ou um negócio, além de dar garantias para ambas as partes. De acordo com Sobral (2008, p. 33), em outros termos, “[...] a escrita é um modelo da comunicação humana, que se realiza através de sinais visuais que constituem um sistema”.
As primeiras representações da escrita datam dos 4000 anos antes de Cristo. Desde então, essa linguagem se desenvolveu de duas formas: a ideográfica, símbolos que representam ideias, conceitos e ações; e a fonética, sinais que representam os sons da fala.
Dizer que a escrita representa a fala não é tarefa simples, porque, além disso, é preciso entender a fala também como produção essencialmente humana, que não se pode tomá-la como dote especial concedido por divindades ou por fatores biológicos. A oralidade deve ser entendida e concebida como um instrumento criado pelo ser humano para se comunicar, uma vez que, ao longo da história, havia a necessidade de se viver em comunidades para garantir a sobrevivência da espécie. Dessa maneira, o ser humano criou símbolos e seus significados, atos que possibilitaram a comunicação entre seus pares, e concedeu-lhe a liberdade de poder pensar e agir mesmo sem ser na presença daquele objeto a que se referia. Nessa mesma linha, criaram-se as ideias, as abstrações, ou seja, para cada ser concreto há também um som (grito, gesto ou ação) que o simboliza.
Nesse sentido, pode-se dizer que a fala é uma maneira de representar diretamente as ideias porque ela não é planejada ou refeita como a escrita. Em razão disso, se diz que a escrita é uma representação de segunda ordem.
Enquanto professor, você precisa dar atenção ao aspecto descrito, o qual precisa ser amplamente trabalhado com o aluno em fase de aquisição da escrita, segundo Koch e Elias (2010), pois, só assim, ele conferirá à língua escrita a importância e a função que ela deve ocupar no contexto social em que estamos inseridos. Da mesma forma, apontar simplesmente que a escrita seja sistema de representação, apesar de verdadeiro, em nada auxilia. 
1.2.2 Escrita e ativação de conhecimento
A produção escrita, para ativar o conhecimento, deve proporcionar a interação com o leitor, uma vez que o texto produzido é direcionado a ele, e não se resume apenas a um conjunto de regras. A respeito da interação escritor-texto-leitor, Koch (2003) faz uma abordagem sobre a escrita e a ativação dos conhecimentos, considerando que, ao produzir o texto escrito, o autor recorre ao repertório deconhecimentos que estão armazenados em sua memória, a fim de desenvolver a escrita: conhecimento linguístico, enciclopédico, de textos e interacionais. Esses saberes não são estáticos, mudam conforme as experiências e convenções sociais.  
De acordo com Koch e Elias (2010), a atividade de escrever exige que o autor/produtor do texto tenha conhecimento das regrasgramaticais, do emprego correto das vírgulas e das demais pontuações.
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Figura 5 - Ao escrever, ativa-se o repertório de leituras e de conhecimento prévio de cada sujeito.Fonte: Kinga, Shutterstock, 2018.
O conhecimento enciclopédico mostra-se presente quando o autor, ao produzir músicas, tirinhas etc., recorre a tais conhecimentos que tem na memória, sejam eles culturais, literários, históricos ou científicos. Muitos textos de humor (tirinhas) utilizam-se desse conhecimento enciclopédico para tornar os textos engraçados, mas o leitor só entenderá se também for conhecedor do assunto. De acordo com Koch (2003, p. 41), no exercício de escrever recorre-se 
[...] constantemente a conhecimentos sobre coisas do mundo que se encontram armazenados em nossa memória, como se tivéssemos uma enciclopédia em nossa mente, constituída de forma personalizada, com base em conhecimentos de que ouvimos falar ou que lemos, ou adquirimos em vivências e experiências variadas. 
Esses conhecimentos são fundamentais para que se compreendam certos textos como tirinhas, músicas, pois podemos recorrer a eles quando houver a necessidade.
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Figura 6 - O autor deve produzir o seu texto de acordo com a situação de interação a ser estabelecida, ou seja, adequar o gênero textual à situação comunicativa.Fonte: ESB Professional, Shutterstock, 2018.
Falando em “interação”, fica claro que o escritor, com base em seus conhecimentos interacionais, organiza o texto de acordo com a intenção de ambos: do produtor, que deseja transmitir a informação, e do leitor que busca uma compreensão do texto. O autor, ao desenvolver certos textos, pensa no leitor e na quantidade de informação necessária numa situação comunicativa. 
1.3 Escrita e práticas comunicativas
Uma das maneiras de estabelecer a comunicação humana se dá por meio de textos, e estes aparecem sob diversos formatos, preenchendo funções em variadas situações cotidianas. Por sua vez, o texto só se realiza por intermédio de gêneros que, na verdade, ordenam as bases da estrutura social.  Sendo assim, na aquisição da língua, se faz muito mais do que simplesmente dominar formas. Domina-se, inclusive, a comunicação nas práticas sociais cotidianas, uma vez que é inconcebível que a comunicação verbal não esteja permeada por algum gênero.
1.3.1 Para que servem os gêneros textuais?
Você acredita que nos damos conta da infinidade de situações comunicacionais cotidianas? Em um único dia, as relações sociais se desenvolvem em distintos contextos e cenários que exigem determinado comportamento linguístico. Considerando, de acordo com Marchuschi (2001), que a linguagem é o mais eficiente meio de comunicação, pode-se dizer que ela permite a interação com o outro, além de oportunizar a alteração do discurso utilizado de acordo com as necessidades de determinado contexto.
A partir dessa constante necessidade humana de interagir e comunicar-se com o outro, nasceram o que conhecemos como gêneros textuais. Eles não podem ser numerados, em virtude de que variam muito e são constantemente adaptados às necessidades dos falantes. Portanto, mesmo que seja impossível contá-los, é possível observar que apresentam peculiaridades que permitem identificá-los e reconhecê-los entre tantos outros gêneros. Pode-se dizer que,das características dos gêneros textuais, ou marcas textuais, fazem parte a apresentação de tipos estáveis de enunciados, além de estruturas e conteúdos temáticos que facilitam sua definição (MARCUSCHI, 2001).
Para Bakhtin (1997), os gêneros são enunciados, orais e escritos, mais ou menos estáveis e circulam em esferas específicas. Não se deve considerar o gênero apenas como uma reunião dos três elementos centrais – tema, construção composicional e estilo – que formam os enunciados, mas também observar outros elementos da situação de produção, de recepção e de circulação desses gêneros, como o papel dos interlocutores, a finalidade do uso do gênero, as relações dialógicas entre gêneros da mesma esfera ou com outras esferas.
Dessa maneira, é importante destacar a estabilidade relativa dos gêneros: eles são muito mais do que uma lista de características fixas que, atendidas, darão origem a textos de determinados gêneros. Estes podem variar, dentro de algumas situações da própria prática social, conforme variarem as especificidades dos projetos desenvolvidos por cada professor na sua prática pedagógica.
No vídeo Redação, o professor Pasquale Cipro Neto ([2011] 2016) ensina como estruturar e desenvolver os diferentes tipos de redação. Aos 33 minutos e 10 segundos, a aula apresenta, de maneira clara, a aplicação do conhecimento sobre gêneros textuais, suas marcas e função social, para que sejam utilizados a fim de estabelecer comunicação com seus interlocutores. Confira em <https://www.youtube.com/watch?v=chEwA_PBC9c>.
Tendo em vista o grande número de gêneros que circulam socialmente e a necessidade de focar naqueles compatíveis com o interesse do estudante e com sua necessidade de alcançar uma atuação discursiva autônoma e cidadã na vida social, os gêneros poderão ser selecionados a partir de vários critérios, como a relação entre a produção escrita ou oral, e as partes da literatura e gramática que o professor venha a trabalhar.
1.3.2 Quais são as estratégias para orientar a produção textual?
Para tratar de estratégias textuais, destacamos em primeiro lugar que as atitudes para a produção, tanto escritas quanto faladas, devem passar pelo planejamento do professor, afim de que tal atividade tenha como finalidade aprimorar novos métodos qualitativos de ensino, colocando o aluno em uma situação de sujeito ativo da aprendizagem. Essa assertiva refere-se ao fato de que dominar a escrita, por exemplo, não é pré-requisito de que o educando possaconstruir o sentido do texto, compreendendo, interpretando e produzindo textos escritos de forma autônoma e eficiente, já nos primeiros anos do Ensino Fundamental.
Visando à concretização deste aprendizado, o trabalho do professor deve ser sistemático e constantemente avaliado, aliado às diversas ferramentas de ensino, as quaispossam considerar a realidade social e a bagagem cultural que a criança leva para sala de aula, com suas vivências de mundo, seu repertório sociocultural.
Quanto mais gêneros textuais forem apresentados aos alunos, mais eles se tornarão leitores eficientes, a partir da prática da oralidade e da produção textual. Estes são processos que os estudantes devem dominar, em primeira instância, como autores na hora do registro, a fim de, depois, serem compreendidos pelos outros. 
Conforme Koch e Elias (2010), usar as mais diversas linguagens escritas ou orais, durante a aprendizagem e produção textual, enriquece este trabalho e pode fazer com que o aluno se desenvolva como ser pensante e dinâmico diante do que lhe foi proposto. Uma das principais estratégias de produção textual éa presença de textos utilizados pelos estudantesno seu cotidiano, visando maior identificação com o gênero. Além disso, pode-se adotar também a organização de um ambiente capaz de ser um espaço físico, social e cultural, para que haja a possível utilização do gênero em destaque. Isso poderia reproduzir uma situação de comunicação, para que então este trabalho instigue e desperte novos conhecimentos, valores, atitudes, desejos e capacidade de reflexão sobre a própria produção, para se formar leitores de diferentes gêneros escritos ou visuaisque saibam utilizá-los de acordo com a situação comunicativa.
Inclusive, para o trabalho de produção, um critério que não pode ficar de fora no momento da escolha do gênero a ser utilizado, são as esferas de circulação desses gêneros nos quais o estudante pode já estar atuando ou ainda vai atuar, seja em sua vida pessoal, profissional ou acadêmica, seja em sua situação político-cidadã.
1.4 Escrita e contextualização
Quando se tratada abordagem sobre escrita e contextualização,é preciso considerar que o estudante deve intervir em todo o processo de aprendizagem, sempre fazendoconexões entre os conhecimentos. Nessa perspectiva, o educando não é um mero espectador (como no ensino tradicional); ele passa a ser o centro, o protagonista. Dessa forma, age como alguém que pode resolver problemas e mudar a si mesmo e o mundo ao seu redor, ou seja, ampliar de forma considerável os seus horizontes.
Para tanto, é fundamental que o docenteorganize situações comunicativas, conforme Koch e Elias (2010), comuns ao cotidiano do aluno, e o faça interagir ativamente de modo intelectual e afetivo, trazendo o dia a dia para a sala de aula e aproximando-o do conhecimento científico. Essa é uma estratégia sempre possível de ser utilizada, uma vez que são inúmeros, e praticamente inesgotáveis, os campos e os contextos de experiências vivenciadas pelos alunos e pela escola, e que no momento de sua utilização em sala de aula, podem dar vida e significado ao conhecimento.
Conforme Marcuschi (2002, p. 35): “[...] o trabalho com os gêneros textuais é uma extraordinária oportunidade de se lidar com a língua em seus mais diversos usos autênticos do dia-a-dia.” Este teórico ressalta que, no ensino, pode-se trabalhar com gêneros para incentivar os alunos a produzirem ou analisarem eventos linguísticos,  tanto orais quanto escritos existentes no seu contexto de atividade discursiva. Além disso, nessas situações de produção, orais ou escritas, podem ser abordados os mais variados temas inseridos em determinados gêneros textuais, como, por exemplo, problemas ou fenômenos psíquicos, físicos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e políticos do país ou do mundo. Estes temas não precisam estar diretamente ligados aos alunos, mas podem fazer referência a seus familiares, amigos ou conhecidos, desde que os discentes estejam, de alguma forma, envolvidos com a situação apresentada.
1.4.1 Considerações sobre contexto sociocognitivo
A pragmática estuda a descrição dos atos da fala, isto é, ela dá destaque para as ações que os usuários da língua, em situações de comunicação entre seus interlocutores, realizam por meio da linguagem, considerada uma atividade intencional e social, que visa a determinados fins – e, para tanto, exige determinado tipo de texto.Para compreender o que seja o contexto sociocognitivo, segundo Koch (2003, p. 24), em primeiro lugar, ele se insere na compreensão de que o contexto “[...] abrange o contexto linguístico inserido no texto; [...] a situação de interação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e, também, o contexto sociocognitivo dos interlocutores que, na verdade, subsume os demais”.
No entanto, a presença dos interlocutores, também representada no estudo dos enunciados, ainda não é suficiente. Isso porque os sujeitos agem como se se movessem no interior de um tabuleiro de xadrez, em que cada um desempenha um papel social, regido por algumas convenções, as quais trazem normas de conduta e impõem condições, estabelecendo deveres, valores que, portanto, também limitam a liberdade. E ao se pensar em um trabalho textual é importante “[...] propiciar acesso às ferramentas de expressão e compreensão de processos discursivos, proporcionando ao aluno condições para adequar a linguagem aos diferentes contextos sociais” (PARANÁ, 2008, p. 54). Nesse sentido, para interpretar um texto, o aluno deve considerar o contexto no qual está inserido e, assim, também saberá como produzir textos adequados à comunicação que o emissor necessita fazer.e a imagem para Zoom
Figura 7 - As manifestações de linguagem de uma determinada cultura têm a função, na maioria das vezes, de perpetuar tradições, usos, costumes e rotinas a serem obedecidas.Fonte: stroblowski, Shutterstock, 2018.
Em razão do que foi dito, viu-se que tipo de contexto  passou a ser levado em conta: o sociocognitivo. Diante disso, para que duas ou mais pessoas possam compreender-se mutuamente, e para que a comunicação se efetue com sucesso, é necessário que as respectivas conjunturas sociocognitivas sejam, pelo menos, parcialmente semelhantes, ou seja, o conhecimento de mundo de ambas deve apresentar aspectos comuns. Dessa forma, esse contexto constitui um conjunto de suposições, baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para a interpretação de um texto e fundamentais para o sucesso da comunicação. 
1.4.2 Fatores de contextualização
Chamam-se fatores de contextualização aqueles que “ancoram” o texto, ou seja, aqueles que o seguram e mantêm sua coerência. Sem os elementos contextualizadores, ficaria difícil decodificar a mensagem. Não são fatores pertencentes ao texto, mas “[...] elementos que contribuem para equacionar alternativas de compreensão” (MARCUSCHI, 1983, p. 16).
Entre os exemplos, podemos observar que em documentos, correspondências oficiais e outros textos deste gênero, o timbre, o carimbo, a data e a assinatura são de extrema importância, servindo, inclusive, para dar fé ao texto. Entre os fatores gráficos, temos: disposição na página, ilustrações, fotos, localizações no jornal ou revista (caderno, página), que contribuem para a interpretação do texto.
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Figura 8 - Os textos de legislações, por exemplo, apresentam determinadas características comuns que podem ser observadas em todas as leis.Fonte: rawf8, Shutterstock, 2018.
Também é necessário destacar os fatores perspectivos ou prospectivos, considerados como aqueles que avançam expectativas e apontam pistas ao leitor sobre o conteúdo ao longo do texto. Além disso, o título, o autor e o início do texto também desempenham essa função.
Leia mais sobre os fatores de contextualização textuais na obra de Luis Antônio Marcushi (1983), Linguística do texto: o que é e como se faz. De acordo com o autor, existem os contextualizadores propriamente ditos e os perspectivos ou prospectivos.
Pode-se dizer que ler e compreender um texto é uma atividade semelhante à de solucionar problemas. Ao descobrir a resposta final, teremos estabelecido uma relação mútua com a coerência do texto.
Ao escrever o texto, o autor verifica adequações como o grau de formalidade, a variedade do vocabulário, como o tema vai ser tratado, o lugar e o contexto da comunicação, considerando as imagens recíprocas que os interlocutores fazem uns do outros.
Ainda a respeito dos fatores de contextualização, destaca-se a presença da situacionalidade, outro fator responsável pela coerência do texto e que atua em duas direções: da situação para o texto e do texto à situação. Conforme Travaglia e Koch (2007): “[...] a aceitabilidade acontece quando duas pessoas estão conversando, ou seja, há um emissor e um receptor”, e nesse diálogo eles procuram compreender um ao outro, ativando seus conhecimentos e relacionando-os com o que lhes foi transmitido, para, assim, entender o sentido do texto.
Ao falarmos da situação para o texto, dizemos que a mesma ocorre quando há a possibilidade de determinar a proporção pela qual a situação comunicativa interfere na produção e na recepção do texto e, consequentemente, no estabelecimento da coerência, ao observarmos o contexto imediato da interação: o sociopolítico-cultural, no qual a interação se insere (KOCH, 2003).
O texto tem reflexos importantes da situação comunicativa, por exemplo, o mundo textual (produzido pelo autor) não é jamais igual, alguns teóricos chamam de verossímil, ou semelhante ao mundo real. Assim, mesmo que uma narrativa conte um fato real, ela está repleta de elementos ficcionais, como o ponto de vista do autor. Considerando que um dos significados do termo verossímil é “provável”, dessa maneira, ao atentarmos para o texto narrativo, podemos dizer que este precisa ser constituído de um mundo possível, a fim de que provoque no leitor a sensação de que o enredo possa realmente existir, ou vir a ocorrer. Mesmo assim, as ações na narrativa não precisam corresponder de forma exata ao universo exterior, porém devem apresentar características semelhantes à realidade. Com base no que foi dito, o texto narrativo ficcional apresenta duas características básicas de verossimilhança: a externa, que diz respeito ao que é aceito pelosenso comum, tido como possível, provável; e a interna, caracterizada pela coerência narrativa, que é a sequência temporal dos fatos, sendo que os mesmos devem apresentar certa sequência temporalmente, como nessa ordem: uma causa (um fato) desencadeia uma consequência e essa, por sua vez, dá origem a novos fatos, assim sucessivamente. Quando essa sucessão, por um motivo ou outro, se torna contraditória, pode-se dizer que então a narrativa adquiriu um aspecto inverossímil (KOCH, 2003).
Quanto à recriação do mundo real, dizemos que o autor utiliza-se de sua visão de mundo e escreve de acordo com seus objetivos, propósitos, princípio, convicções, crenças, seu repertório. Mesmo que os referentes do texto não sejam idênticos aos do mundo real, eles são reconstruídos no interior do texto. Sendo assim, o indivíduo que recebe o texto também o interpreta conforme a sua visão de mundo, os seus propósitos, as suas convicções e o seu conhecimento prévio, de maneira que na escrita há sempre uma mediação entre o mundo real e o textual. Isso se relaciona com o aspecto discutido anteriormente sobre o repertório de cada leitor e sua memória textual e de mundo.
No tocante à coerência, podemos dizer que a situacionalidade desempenha um papel relevante, ou seja, um texto que é coerente em determinada situação pode não sê-lo em outra. Tem-se então a necessidade da adequação do texto à situação comunicativa. Por exemplo, uma carta aberta para um monge budista pode ter sentido dentro da comunidade budista e para as pessoas que a escreveram, mas não terá sentido para quem não conhece tal filosofia de vida.
Já a respeito da informatividade, dizemos que um texto faz referência ao grau de previsibilidade ou expectativas das informações contidas nele. O texto será menos informativo se contiver apenas informações previsíveis ou redundantes. Dessa forma, pode-se dizer que seu grau de informatividade será baixo. Por outro lado, se apresentar informações inéditas – inesperadas ou imprevisíveis –, ele terá um grau de informatividade alto. Por exemplo, quando escrevemos uma dissertação e nossa argumentação for embasada no senso comum, o texto terá um grau de informatividade baixo, mas, se trouxermos diferentes exemplos, dados de pesquisas e outros autores para dialogar com aquilo que pensamos, apresentaremos um texto mais informativo. Contudo, à primeira vista do leitor, o entendimento deste texto pode parecer difícil, uma vez que exige do receptor um maior esforço no sentido da decodificação.
É a informatividade que determina a seleção e o arranjo da informação no texto, de maneira que o receptor possa calcular o sentido da escrita com maior ou menor facilidade, dependendo da intenção do produtor de construir um texto mais – ou menos – hermético, polissêmico e conforme o contexto da produção.
Em razão do que foi visto, você poderá concluir que os textos que apresentam o maior grau de informatividade são mais comuns na literatura e na linguagem figurada em geral. No entanto, aparecem com frequência também em textos publicitários e jornalísticos.
Síntese
Você concluiu os estudos referentes à distinção entre a linguagem escrita e a fala, a partir de suas características e elementos peculiares.
Neste capítulo, você teve a oportunidade de:
· distinguir as características da oralidade e da escrita;
· reconhecer marcas de oralidade na escrita;
· identificar o uso de reguladores textuais continuadores típicos da fala;
· definir escrita e interação;
· identificar os focos da escrita: língua, escritor, interação;
· reconhecer os tipos de conhecimento provindos da escrita;
· compreender o que são gêneros textuais;
· reconhecer conteúdos e estilos;
· compreender a função do contexto;
· reconhecer fatores de contextualização;
· identificar situações de contexto sociocognitivo.
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