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IAG – USP Departamento de Astronomia ASTRONOMIA PARA A TERCEIRA IDADE - 2012 - Índice Coordenação Augusto Damineli Neto CAPÍTULO 1 FUNDAMENTOS DE ASTROFÍSICA: o tipo de informação que nos chega desde o espaço e através de quais canais. Prof. Dr. Roberto Boczko (boczko@astro.iag.usp.br) CAPÍTULO 2 A MEDIDA DO UNIVERSO: descrição dos elementos fundamentais na estruturação espacial dos cosmos através de abordagem abrangente, que vai das nuvens de gás e poeira aos aglomerados de galáxias. Prof. Dr. Walter J. Maciel (maciel@astro.iag.usp.br) CAPÍTULO 3 SOL. UMA ESTRELA DA VIA LÁCTEA: descrição genérica do Sol e comparação com os demais tipos de estrelas. Prof. Dr. Enos Picazzio (picazzio@astro.iag.usp.br) CAPÍTULO 4 SISTEMA PLANETÁRIO: descrição dos corpos do Sistema Solar: planetas, satélites e corpos menores. Prof. Dr. Amaury A. de Almeida (amaury@astro.iag.usp.br) CAPÍTULO 5 A TERRA VISTA PELO BURACO DA FECHADURA: uma abordagem geofísica da Terra. Prof. Dr. Eder C. Molina (eder@iag.usp.br) e Ricardo I.F. Trindade (rtrindad@yahoo.com.br) CAPÍTULO 6 METEOROLOGIA E SEUS FENÔMENOS: uma visão geral dos fenômenos atmosféricos, decorrentes da interação entre atmosfera e radiação solar. Engº. Mário Festa (mariofesta@model.iag.usp.br) CAPÍTULO 7 FUNDAMENTOS DE COSMOLOGIA: descrição geral da cosmologia atual, discutindo os modelos cosmológicos e as evidências naturais que os sustentam. Prof. Dr. Roberto D. D. da Costa (roberto@astro.iag.usp.br) CAPÍTULO 8 A VIDA NO CONTEXTO CÓSMICO: perspectivas de detecção de vida fora da Terra nas próximas décadas com base nos conhecimentos atuais de planetologia. Prof. Dr. Augusto Damineli Neto (damineli@astro.iag.usp.br) mailto:boczko@astro.iag.usp.br mailto:Maciel@astro.iag.usp.br mailto:picazzio@astro.iag.usp.br mailto:picazzio@astro.iag.usp.br mailto:eder@iag.usp.br mailto:rtrindad@yahoo.com.br mailto:roberto@astro.iag.usp.br mailto:damineli@astro.iag.usp.br R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 1 FUNDAMENTOS DE ASTROFÍSICA PARALAXE TRIGONOMÉTRICA Sejam T’ e T” duas posições da Terra, separadas por 6 meses, em sua órbita em redor do Sol. Seja E uma estrela que, quando comparada às demais, se encontre bem mais próxima da Terra. Procuremos determinar a distância r dessa estrela até o Sol. Por causa da mudança de posição do observador (preso à Terra) ocorre o efeito de paralaxe, ou seja, mudança na posição relativa da estrela em relação ao fundo de estrelas mais distantes. Duas fotografias da mesma região do céu em torno da estrela E mostrarão que a posição de E variou com relação às demais estrelas. Seja x=E’E”. Se se conhecer a distância D entre o foco F da luneta com a qual a foto foi tirada, e a posição da chapa fotográfica, podemos escrever a relação tan 2p = x/D Conhecido o valor de p, podemos determinar a distância r do Sol à estrela aplicando tan p = d/r Como o valor de p é sempre muito pequeno (na prática nunca ultrapassa 0,76”) podemos escrever que p = d/r (com p em radianos) Lembrando que rad correspondem a 180 , ou seja (180*60*60)“, então p” = 206265d/r Se adotarmos como unidade fundamental de distância a Unidade Astronômica (que é a distância média da Terra ao Sol) então d=1 e a expressão anterior se torna: p” = 206265/r (r em UA) PARSEC Imagine que de uma estrela possa se ver a distância da Terra ao Sol sob um ângulo de 1”. Por definição, a distância dessa estrela ao Sol será de 1 parsec. Usando p=1 na expressão anterior, obtemos que r=206265 UA. Portanto: 1 parsec = 206265 UA Se passarmos a medir o r em parsec, então podemos reescrever a expressão anterior como: p” = 1/r (com r em parsec) R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 2 ANO-LUZ Define-se ano-luz como sendo a distância percorrida pela luz, no vácuo, durante 1 ano. Sendo c 300.000 km/s, então: 1 ano-luz 9,46 10 15 m 9,46 10 12 km 63.233 UA Dessa forma, 1 parsec 3,262 anos-luz. MAGNITUDE ESTELAR SEGUNDO HIPARCOS Observando as estrelas, Hiparcos conseguiu, através de comparações, classificá-las segundo seu brilho em 6 categorias: as mais brilhantes receberam a denominação de estrelas de primeira magnitude e as mais fracas visíveis a olho nu foram classificadas como estrelas de sexta magnitude. As demais foram interpoladas entre esses extremos. FLUXO ESTELAR MEDIDO NA TERRA As magnitudes adotadas por Hiparcos englobavam uma característica fisiológica humana; não tinham uma definição física rigorosa. Na tentativa de classificar os brilhos estelares mais rigorosamente, definiram o Fluxo Estelar Fr de uma estrela a uma distância r do Sol: é a potência luminosa que atinge uma placa, de área unitária, colocada perpendicularmente à direção de incidência dos raios luminosos. Se se admitir a placa como sendo a lente de área A de um telescópio, e P a potência incidente nela, então: Fr = P/A [W/m 2 ] MAGNITUDE APARENTE Medindo-se os fluxos emitidos pelas estrelas classificadas por Hiparcos, pode-se chegar à seguinte função matemática entre as duas grandezas: m = cte -2,5 log Fr A constante cte é determinada para cada instrumento de modo que as magnitudes m calculadas sejam próximas dos valores adotados por Hiparcos. Se aplicarmos essa fórmula para uma estrela de magnitude 1 e outra de magnitude 6 e subtrairmos membro a membro, obteremos que F1/F6 = 100 ou seja, uma estrela de magnitude 1 tem fluxo 100 vezes o fluxo de uma estrela de magnitude 6. Ou, dito de outra forma, quando a magnitude aumenta de 5, o fluxo aumenta 100 vezes. Medição do fluxo solar permite dizer que a magnitude aparente do Sol é -26,73. R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 3 LUMINOSIDADE ESTELAR Define-se luminosidade estelar L como sendo a potência total emitida pela estrela. Se admitirmos que a estrela se encontra à distância r do Sol, então o fluxo Fr que atravessa uma superfície esférica hipotética de raio r pode ser escrito como: Fr = L/(4 r 2 ) onde (4 r 2 ) representa a área da tal superfície esférica. Assim, a luminosidade da estrela pode ser calculada por: L = Fr 4 r 2 Com essa definição, a magnitude aparente pode ser obtida por: m = cte - 2,5 log [ L/(4 r 2 ) ] MAGNITUDE ABSOLUTA A magnitude absoluta M de uma estrela é definida como sendo a magnitude aparente que essa estrela teria se estivesse colocada a uma distância padrão de nós. Essa distância foi escolhida como sendo de 10 parsecs. Assim, usando r=10, a magnitude absoluta poderia ser escrita por: M = cte - 2,5 log [ L/(4 10 2 ) ] A título de curiosidade, a magnitude absoluta do Sol é 4,84, motivo pelo qual costuma-se dizer que o Sol é uma estrela de 5 grandeza (procure evitar esse termo! Use magnitude) MÓDULO DE DISTÂNCIA A subtração entre as duas últimas expressões fornecerá a expressão chamada módulo de distância: m - M = 5 log (r/10) [r em parsecs] COMO IRRADIA UMA ESTRELA? Imagine que um telescópio é apontado para uma estrela para se medir o fluxo dela proveniente. Mas, ao invés de deixar que a luz estelar incida diretamente no fotômetro (instrumento dedicadoa medir potência, ou energia, incidente nele) intercalemos, na trajetória dos raios luminosos, um filtro, que permita a passagem da luz apenas em uma dada cor (comprimento de onda). Meçamos o fluxo nessa faixa de cor. Mudando o filtro por outros, atuantes em outras cores, repitamos o procedimento de medição dos diferentes fluxos. Num gráfico, representemos esses fluxos em função das cores. Verifica-se que uma curva que bem se adapta a esses dados é a curva de distribuição de fluxo de um corpo negro, chamada função de Planck. A curva contínua no gráfico representa a função de Planck que melhor se adapta aos pontos definidos pelos fluxos medidos. Costuma-se dizer que, em face desse ajuste, uma estrela pode ser considerada, do ponto de vista de emissão de energia, como sendo um corpo negro. R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 4 TEMPERATURA EFETIVA DE UMA ESTRELA Tendo-se descoberto qual a temperatura do corpo negro que representa a função de Planck que melhor se ajusta aos fluxos medidos, dizemos que a temperatura efetiva dessa estrela é a temperatura do corpo negro que emite com a mesma potência que a estrela em questão. LEI DO DESLOCAMENTO DE WIEN Verifica-se que a forma da curva da função de Planck depende da temperatura do corpo negro. Quanto maior for sua temperatura, tanto menor será o comprimento de onda no qual o máximo da emissão ocorre. Verifica-se que o produto do comprimento de onda (na máxima potência) pela temperatura é uma constante. A expressão matemática da lei do deslocamento de Wien pode ser escrita como: T = 0,290 [ em cm e T em Kelvin] Isso significa que, se de uma estrela pudermos determinar o comprimento de onda correspondente ao máximo da emissão, podemos determinar sua temperatura através da fórmula anterior. RAIO DE UMA ESTRELA Admitamos que uma estrela tenha a forma esférica com raio R. Se adotarmos que ela irradia como um corpo negro, então vale a lei de Stefan-Boltzmann: o fluxo superficial FR é proporcional à quarta potência da temperatura absoluta da estrela: FR = T 4 onde é a constante de Stefan-Boltzmann, valendo 5,67x10 -8 W/(m 2 K 4 ). Podemos calcular a luminosidade da estrela por meio de: L = FR (4 R 2 ) ou então por: L = ( T 4 ) (4 R 2 ) Por essa expressão podemos obter o raio R da estrela, desde que conheçamos a luminosidade e a temperatura efetiva da estrela. MAGNITUDE MONOCROMÁTICA Até agora, quando falamos de fluxo, não deixamos clara a faixa do espectro no qual ele era medido. Definamos fluxo monocromático F como sendo aquele medido numa determinada faixa de comprimento de onda. Usando esse fluxo, achamos o fluxo monocromático, naquele comprimento de onda, por: m = cte -2,5 log F É bastante usado um sistema de magnitudes denominado UBV, correspondendo a: R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 5 U = magnitude no ultra-violeta = 3600 angstrons B = magnitude no azul (“Blue”) = 4500 angstrons V = magnitude no visível = 5500 angstrons ÍNDICE-DE-COR DE UMA ESTRELA Define-se índice-de-cor de uma estrela como sendo a diferença entre duas magnitudes monocromáticas diferentes da estrela: IC12 = m1 - m2 onde 1 deve ser menor que 2. Em particular, são bastante usados os índices-de-cor: (U - B) = ICUB = mU - mB (B - V) = ICBV = mB - mV RELAÇÃO COR-COR Os valores teóricos, para um corpo negro, que coincidem, aproximadamente, com os valores laboratoriais, de U-B e B-V podem ser colocados num gráfico; obtemos o segmento de reta da figura. Quando as mesmas medidas são feitas para estrelas, a curva obtida difere de uma reta; ela está representada na figura sob a forma de uma curva. Verifica-se que a componente mais responsável pela discrepância é a cor U-B, sendo que B-V da estrela não difere muito do valor teórico de corpo negro. MAGNITUDE BOLOMÉTRICA Enquanto que a magnitude monocromática representa o fluxo numa determinada faixa de cor, opostamente a magnitude bolométrica representa o fluxo em todos os comprimentos de onda. É, pois, uma magnitude obtida utilizando-se o fluxo total emitido em todos os comprimentos de onda. Como é muito difícil, se não impossível, medir o fluxo em todos os comprimentos de onda eficientemente com os detectores existentes, desenvolveu-se, experimentalmente para uns poucos astros, uma medida desse fluxo bolométrico e procurou-se uma relação com o fluxo visível mensurável. Obteve-se a chamada Correção Bolométrica: CB = V -Mbol = v - mbol ou CB = Mbol - V = mbol - v não havendo um consenso na ordem das parcelas. R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 6 RELAÇÃO COR-TEMPERATURA É uma relação que permite obter a temperatura de uma estrela quando se conhece a cor B-V da estrela: Basta que se meça a magnitude no visível e no azul para que se possa obter a temperatura efetiva da estrela. ESPECTROS ESTELARES DECOMPOSIÇÃO DA LUZ Conforme explicado por Newton, quando a luz branca atravessa um prisma ela se decompõe nas sua diferentes cores. Pela lei de Snell-Descartes, aplicada ao ponto de emergência da luz no prisma representado na figura, suposto no vácuo, temos: n’ sen A = n sen r No vácuo, n = c / c e = Tc. No prisma, n’ = c / v’ e ‘ = Tv’ ; logo, temos que n’ = cT/ ‘. Então: sen r = (cT/ ‘) sen A O desvio angular sofrido por uma determinada radiação que atinge o anteparo a uma distância y desde o ponto O, pode ser escrito como sendo: = r - A ESPECTRO CONTÍNUO Se aquecermos um corpo sólido, ou um fluido altamente comprimido, e decompusermos a luz que ele emitir, obteremos um espectro contínuo,ou seja, não haverá possibilidade de distinguir com clareza os limites de uma determinada cor. R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 7 ESPECTRO DE LINHAS DE EMISSÃO Quando um gás é aquecido para emitir luz, se ela for decomposta num prisma, veremos que, ao invés de um espectro contínuo, teremos um espectro apenas com algumas linhas, ou raias, brilhantes. Verifica-se que cada material emite um conjunto diferente de linhas espectrais, de modo que se pode dizer que o conjunto de linhas espectrais de um material representa a impressão digital desse material. Determinando-se o conjunto de linhas espectrais de um material previamente desconhecido e comparando-o com um catálogo de linhas espectrais de materiais conhecidos, pode-se identificar o material desconhecido. A esse processo se chama Análise Espectral. LEIS DE KIRCHHOFF DE UM CORPO NEGRO Kirchhoff descobriu que Se um corpo sólido emite luz, seu espectro é um espectro contínuo. Se a luz emitida por um corpo sólido atravessar um gás mais frio, então a luz, ao se decompor num prisma, aparecerá com um fundo contínuo mas com algumas linhas escuras. O espectrose chama espectro de linhas de absorção. Se a luz emitida por um corpo sólido atravessar um gás ainda mais quente que o corpo, ao fundo contínuo emitido pelo sólido se sobreporão linhas brilhantes, originando o espectro de emissão. Notar que se o gás atravessado nos dois casos for do mesmo material, as linhas de emissão e de absorção serão as mesmas. Em outras palavras, um gás frio absorve as mesmas cores que emitiria se estivesse quente. ESPECTROS ESTELARES Verifica-se que a grande maioria das estrelas emite luz cujo espectro é de um fundo contínuo com linhas escuras, ou seja, um espectro com linhas de absorção. Isso sugere que a maior parte das estrelas seja formada de um fluido (plasma) muito compacto e quente, que emite como um corpo negro, e que ela esteja envolvida por uma camada gasosa mais fria que o seu interior. Gás R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 8 CLASSIFICAÇÃO ESPECTRAL DAS ESTRELAS Verifica-se que o espectro de diferentes estrelas pode apresentar diferenças significativas, mas no geral, verifica-se que os diversos espectros podem ser classificados em alguns poucos tipos: Tipos espectrais e suas características gerais: O Poucas linhas na parte visível do espectro; predominam as linhas de hélio, hidrogênio, silício, nitrogênio etc. ionizados; aparecem as linhas de Balmer do hidrogênio. B As mesmas linhas do tipo O mas, em lugar das linhas de hélio ionizado, aparecem as do hélio neutro; e todas as demais num estado de ionização bem inferior do que em O; as linhas de Balmer se tornam muito intensas próximo à A. A As linhas de Balmer do hidrogênio predominam perto de B; aparecem linhas de metais uma vez ionizados. F As linhas de Balmer começam a enfraquecer, mas ainda são fortes;enfraquecem as linhas de metais ionizados, aumentando a intensidade de linhas de metais neutros; o espectro começa a ficar complexo perto de G. G As linhas de cálcio ionizado e as do hidrogênio e potássio se tornam bem intensas, enfraquecendo as linhas de Balmer; muitas linhas de metais ionizados e neutros. K As linhas mais intensas são as dos metais neutros; aparecem linhas do óxido de titânio; as linhas de Balmer ainda são visíveis. M As linhas de óxido de titânio predominam no espectro; linhas de metais neutros se tornam bem intensas. Uma maneira de decorar a ordem da classificação é a frase: Oh, Be A Fine Girl, Kiss Me! Cada tipo espectral, com exceção do O, pode ser subdividido em classes de 0 a 9: 05...09 B0 B1...B8.B9 A0...A9 F0...F9 G0...G9 K0...K9 M0...M9 R. Boczko Fundamentos de Astrofísica Cap. 1 - 9 DIAGRAMA DE HERTZPRUNG E RUSSELL Utilizando estrelas cujas distâncias podiam ser obtidas por meio da paralaxe trigonométrica, Hertzprung e Russell colocaram num gráfico as relações que puderam encontrar para essas estrelas. O diagrama a seguir representa esses dados: Mais tarde verificou-se que novas classificações podiam ser obtidas. O resumo está no diagrama a seguir: CLASSES DE LUMINOSIDADE De acordo com a luminosidade e o tipo espectral, as estrelas podem ser classificadas em: Ia Supergigantes brilhantes Ib Supergigantes fracas II Gigantes brilhantes III Gigantes IV Subgigantes V Estrelas da Seqüência Principal VI Sub-anãs VII Anãs brancas W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 1 A MEDIDA DO UNIVERSO Resumo: Neste texto, apresentamos um resumo da palestra intitulada “A medida do Universo”, apresentada no curso de Astronomia para terceira idade, realizado no IAG/USP, em novembro e dezembro de 2001. Apresentamos uma descrição dos elementos fundamentais que constituem a estrutura do Universo, em uma abordagem que vai desde o planeta Terra, onde habitamos, até os aglomerados de galáxias e grandes estruturas do Universo. Nossa viagem começa em nosso próprio planeta – a Terra – uma esfera de raio de 6.400 km que gira em torno de uma estrela, o Sol. A Terra nos é muito familiar, de modo que não nos damos conta de quanto é difícil encontrar condições semelhantes em todo o Universo. Essas condições, incluindo as pequenas variações de temperatura e pressão, a densidade do ar, a umidade e, acima de tudo, a absorção da energia que vem do Sol, são muito peculiares, constituindo o produto de vários fatores. Por exemplo, as dimensões do planeta, em particular sua massa, devem ser restritas para que a vida pudesse ter surgido. A posição na órbita em torno do Sol é também um fator fundamental, regulando a incidência de energia e a distribuição de temperatura no solo. A composição química também deve refletir as necessidades impostas pela vida, como a abundância de oxigênio. Hoje são conhecidos muitos planetas, mas todos são de grandes dimensões, semelhantes a Júpiter, os quais não reúnem as condições necessárias para o surgimento e manutenção da vida. Avançando um pouco além, encontramos a Lua, um satélite bem menor do que a Terra, com um raio da ordem de 1.700 km, e massa pequena demais para reter uma atmosfera respirável (cerca de 1,2% da massa terrestre). Apesar da pequena distância que nos separa da Lua, cerca de 384.000 km, esta é a maior distância que o homem conseguiu percorrer no espaço, o que mostra quanto estamos longe de conquistar o cosmo. A maior parte da informação que os astrônomos conseguem obter vem da luz das estrelas e de outros objetos, mas existem casos especiais em que podemos realizar experimentos e testes com pedaços de corpos que caem do céu. Os meteoritos são um bom exemplo, e refletem as condições do meio interplanetário, chegando até nós de maneira mais ou menos aleatória. Outros corpos que se aproximam bastante de nós são os cometas, que podem ser muito brilhantes, contendo um núcleo de gelo e poeira, uma cabeleira e a cauda, que contém partículas carregadas e poeira.Vários desses cometas são periódicos, e sua volta pode então ser prevista com bastante antecedência. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 2 O cometa Hale-Bopp Os asteróides são também membros do sistema solar, variando em tamanho desde pequenas rochas até atingir dimensões de satélites ou pequenos planetas. Mas os elementos dominantes do espaço interplanetário são mesmo os planetas, principalmente os gigantes como Júpiter e Saturno. Esses planetas são “quase estrelas” – em seu processo de formação atingiram massas muito altas, mais de 300 massas terrestres no caso de Júpiter e cerca de 95 massas terrestres no caso de Saturno. Esses planetas têm raios enormes, 11 raios terrestres para Júpiter e quase 10 raios terrestres para Saturno. Em comparação, um planeta como Vênus é mais parecido com a Terra, com um raio de 0,95 do raio terrestre e 0,8 de sua massa. A principal figura do sistema solar é, naturalmente, o Sol. Ele é uma estrela anã, com um raio de 7 x 1010 cm, ou seja, cerca de 700 mil quilômetros. Sua massa é de 2 x 1033 g, ou 300 mil vezes maior que a da Terra. Outras estrelas podem ser muito maiores; as gigantes e supergigantes podem ter raios até mil vezes maiores do que o Sol. Uma característica interessante do Sol é sua temperatura. Ela é da ordem de 6.000 graus na sua superfície, e é por isso que o Sol tem uma cor amarelada. Outras estrelas, mais quentes, podem ter cores azuladas, e as mais frias são avermelhadas.W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 3 O Sol na luz visível, com manchas A temperatura do Sol não é constante, mas aumenta muito à medida que nos aproximamos de seu núcleo. Isto é extremamente importante, pois são as altas temperaturas das regiões centrais do Sol – cerca de dezenas de milhões de graus – que permitem que os núcleos de hidrogênio se transformem em núcleos de hélio, constituindo as reações termonucleares que produzem a energia emitida pelo Sol. É interessante dizer que o Sol – e os outros objetos que podemos observar – são muito diferentes dependendo do tipo de instrumento que utilizamos. Os telescópios clássicos, assim como nossos olhos, conseguem “enxergar” apenas a chamada radiação visível, ondas com comprimentos de aproximadamente 5.000 angstroms. Ondas mais curtas, como as da radiação ultravioleta, ou dos raios X, podem ser observados com detectores apropriados. Esses detectores observam a radiação emitida nessas regiões, que pode ser muito diferente da radiação visível. Portanto, o Sol é muito diferente quando observado na radiação visível ou na radiação ultravioleta, por exemplo. As demais estrelas podem ser como o Sol: isoladas, amarelas e pequenas, mas podem também ocorrer aos pares, quando são chamadas de “estrelas binárias”, ou em grupos maiores, como os aglomerados abertos, com até centenas de estrelas, e os aglomerados globulares, com centenas de milhares de estrelas. Esses aglomerados são muito importantes para o estudo da evolução das estrelas, pois suas estrelas foram formadas ao mesmo tempo e de uma mesma nuvem de gás, de modo que sua composição química deve ser muito parecida. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 4 O aglomerado globular 47 Tuc Um aglomerado aberto muito conhecido são as Plêiades, que podem ser vistas facilmente, próximas à constelação do Touro, e às vezes são chamadas de “Sete Estrelas”. Esses aglomerados são relativamente jovens, e suas idades são da ordem de até um Giga ano, que corresponde a menos do que um bilhão de anos. Em Astronomia, as idades são muito grandes: o Sol e a Terra têm idades de cerca de 4,5 bilhões de anos, e a nossa Galáxia deve ter mais de 10 bilhões de anos. Uma estrela como o Sol dura pelo menos 7 bilhões de anos, mas as estrelas maiores e com massas maiores duram muito menos, cerca de alguns milhões de anos, o que é uma idade pequena, em termos astronômicos… Mas podemos observar estrelas que acabaram de nascer, nos chamados “berçários cósmicos”, como as regiões HII, nas quais os átomos de hidrogênio estão ionizados, isto é, perderam o elétron que girava em torno dos núcleos. Uma das regiões HII mais conhecidas é a Nebulosa de Órion, onde são observadas estrelas muito jovens e quentes, nuvens contendo moléculas complexas e emissão na faixa infravermelha do espectro. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 5 A Nebulosa de Órion, uma região HII Da mesma maneira que observamos estrelas jovens, como as chamadas estrelas T Tauri, ou as estrelas quentes embebidas em regiões de hidrogênio ionizado, podemos também observar estrelas velhas, nos seus estágios finais de evolução. Nesse caso, é importante distinguir as estrelas pequenas, com massas semelhantes à massa do Sol, e as estrelas de grande massa, digamos, acima de dez vezes a massa do Sol. No caso das primeiras, que é o caso do Sol, em seus estágios finais essas estrelas sofrem o colapso de seu núcleo, isto é, as camadas internas não conseguem suportar o peso das camadas situadas acima delas, que desabam sobre o núcleo. Isso acontece quando se esgota o hidrogênio combustível que existe no centro das estrelas. Então, a temperatura central aumenta muito, e as camadas externas da estrela são expelidas, formando uma nebulosa planetária, que é uma nuvem de gás e poeira em volta de uma estrela colapsada. Isso vai acontecer com o Sol daqui a alguns bilhões de anos. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 6 A nebulosa planetária NGC 7293 Se a massa da estrela for alta, da ordem e acima de dez massas solares, o colapso é mais violento, e o processo de expulsão das camadas externas também, podendo eventualmente explodir a estrela inteira. Esse é o fenômeno conhecido como uma “supernova”, e várias supernovas já foram observadas, confirmando a teoria. Após algum tempo, que pode ser da ordem de milhares de anos, essas supernovas deixam vestígios no céu, os restos ou remanescentes de supernovas, que são filamentos longos e complexos de gás, contento partículas carregadas e campos magnéticos. Finalmente, se a massa da estrela for realmente muito alta, acima de vinte ou trinta massas solares, o colapso final será extremamente violento e nada poderá detê-lo: forma-se então um buraco negro, com um campo gravitacional tão forte que nem a luz consegue escapar. Naturalmente, nesse caso sua detecção e observação são muito difíceis, e é necessário encontrar um sistema binário, em que uma das estrelas é a estrela colapsada. Nesse caso, a queda de matéria sobre o buraco negro forma um disco de matéria muito quente, que emite raios X que podem ser detectados. Os objetos que existem no espaço entre as estrelas podem ser muito complexos. Além das nebulosas planetárias, regiões HII e restos de supernovas, existem também nebulosas de reflexão, contendo grãos de poeira, as nuvens de hidrogênio neutro, que são nuvens gigantescas que se espalham pelo disco de nossa Galáxia, e as nebulosas escuras, como o famoso “Saco de Carvão”, que pode ser observado próximo à constelação do Cruzeiro do Sul, ou a nebulosa da “Cabeça de Cavalo”, na constelação de Órion. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 7 A Nebulosa da Cabeça de Cavalo, em Órion As estrelas e o meio interestelar fazem parte de um sistema que está em constante evolução. Elas nascem a partir de nuvens de gás, queimam e consomem seu combustível nuclear, devolvendo depois parte ou toda a sua massa ao meio interestelar de onde vieram, para que outras gerações de estrelas sejam formadas. Esta “evolução química” é essencial para nossa existência: os átomos de carbono e outros elementos que constituem nossos corpos foram formados no interior de estrelas de uma geração que já não existe mais, de modo que somos todos filhos das estrelas. Todos esses objetos – estrelas simples, binárias e múltiplas, aglomerados, nebulosas e nuvens de gás e poeira – estão imersos na Via Láctea, a nossa Galáxia. Podemos ver parte da Via Láctea a olho nu, em noites claras. Esta galáxia tem uma forma achatada, vista de lado, e apresenta um disco com braços espirais, vista de cima. O diâmetro do disco é da ordem de 50 mil parsecs, sendo um parsec igual a 3 x 1018 cm. Sua espessura é muito menor, da ordem de algumas centenas de parsecs, e todo o disco está envolto por um halo rarefeito, com um diâmetro duas vezes maior que o do disco. Não é muito fácil estudar a estrutura de nossa galáxia, pois estamos dentro dela e não temos a opção de sair e examiná-la de longe; mas podemos observar muitas outras galáxias externas, e várias dessas galáxias são semelhantes à nossa. Uma das mais conhecidas é a galáxia de Andrômeda, que é bastante semelhante à Via Láctea. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 8 A galáxia de Andrômeda Outras galáxias são observadas de topo, isto é, a partir de um eixo perpendicular ao disco, de modo que podemos observarmais claramente a existência de braços espirais semelhantes aos que existem na Via Láctea. Galáxias como essas podem ter algumas centenas de bilhões de estrelas. Sua massa é, portanto, de algumas centenas de bilhões de massas solares, ou ainda maior, se houver objetos não luminosos que não são detectados, o que constitui a chamada “matéria escura”. Nem todas as galáxias têm discos ou são espirais. As maiores são elípticas, e outras, geralmente pequenas, são totalmente irregulares, como as “Nuvens de Magalhães”, duas galáxias que podem ser vistas a olho nu logo abaixo do Cruzeiro do Sul. W. J. Maciel A Medida do Universo Cap. 2 - 9 O aglomerado de galáxias de Hydra As galáxias não são as maiores estruturas que podemos ver. De fato, muitas delas estão agrupadas em “aglomerados de galáxias”, em que um número de galáxias ocorre em uma mesma região do céu – evidenciando sua origem comum – separadas pelo meio intergaláctico, que é semelhante ao meio interestelar, mas ainda mais diluído e de difícil detecção. Grupos de galáxias podem apresentar efeitos curiosos, como o canibalismo galáctico, em que duas galáxias se interpenetram. Esses fenômentos têm sido bastante estudados, e estão associados com um aumento na taxa de formação das estrelas dessas galáxias. Além disso, a existência de grupos de galáxias é um passo além no estudo das estruturas em grande escala, da Cosmologia e da origem do Universo. E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 1 SOL: UMA ESTRELA DA VIA LÁCTEA O Sol é o laboratório natural onde pesquisamos a vida das estrelas. Nele, podemos observar a superfície, a atmosfera e, através de métodos indiretos, o seu interior. Testando sistematicamente os modelos de estrutura interna e externa com os dados observacionais podemos refinar a teoria da estrutura estelar. Evidentemente o modelo solar não se aplica diretamente às estrelas diferentes do Sol, mas ele serve de base para o desenvolvimento de uma teoria mais ampla. a 1030 = 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000; são 30 zeros b Grau Kelvin, escala de temperatura absoluta. K = oC + 273. Tabela 1. Propriedades físicas do Sol Interior solar Com raio de aproximadamente 200.000 km, pressão elevada e temperatura altíssima (15 milhões oC) o núcleo ocupa a região central do Sol. Nessas condições os átomos de gás hidrogênio são fundidos e formam o gás hélio. Cada quilograma de hidrogênio transformado em hélio produz cerca de 178 milhões de kWh! Isto já vem acontecendo há 4,5 bilhões de anos e deverá durar ainda por mais 5 bilhões de anos. Devido à elevada concentração de matéria no interior solar, a energia demora cerca de 1 milhão de anos para chegar até a superfície do solar. Portanto o calor que recebemos aqui na Terra foi gerado há muito tempo. Esse núcleo é envolto pela camada radiativa, que tem cerca de 300.000 km de espessura. Nela a energia produzida no núcleo é absorvida pelos átomos e reemitida de imediato, continuamente em direção à superfície solar. Por último há a camada convectiva, com cerca de 196.000 km de espessura. Nela, a energia proveniente de baixo chega à superfície através da convecção: a matéria quente sobe, resfria-se, desce, é reaquecida, sobe, etc. As células convectivas mais profundas têm dezenas de milhares de quilômetros de diâmetro, já as mais superficiais têm aproximadamente 1.000 km. Massa 1,99 1030 kg a 332.943 (Terra=1) Diâmetro equatorial Diâmetro aparente médio 1.391.980 km 30 min. de arco 109,3 (Terra=1) Densidade média Gravidade na superfície Velocidade de escape 1.410 kg/m3 274 m/s2 618 km/s 0,255 (Terra=1) 28 (Terra=1) 56 (Terra=1) Luminosidade 3,9 1026 Watt Temperatura superficial 5.780 K b Período de rotação sideral 25,1 dias no equador 34,4 dias nos pólos E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 2 Superfície Fotosfera, palavra de origem grega que significa “esfera de luz”, é a superfície visível do Sol1 abaixo do qual nada enxergamos. Ela tem cerca de 500 km de espessura, temperatura aproximada de 5.800 K, e é mais rarefeita que a atmosfera terrestre. Região Raio interno (km) Temperatura (K) Densidad e (kg/m 3 ) Propriedades Núcleo 0 15.000.000 150.000 Energia gerada por fusão nuclear Camada radiativa 200.000 7.000.000 15.000 Energia transportada por radiação eletromagnética Camada convectiva 500.000 2.000.000 150 Energia transportada por convecção Fotosfera 696.000 5.800 2 10 -4 Superfície: a parte que enxergamos Cromosfera 696.500 4.500 5 10 -6 Baixa atmosfera, fria e avermelhada Zona de transição 698.000 8.000 2 10 -10 Região de aumento rápido de temperatura Coroa 706.000 1.000.000 10 -12 Alta atmosfera, quente, visível nos eclipses (10-4 = 0,0001; 10-10 = 0,0000000001; etc.) Tabela 2. Modelo solar padrão Há quatro fenômenos característicos da fotosfera: (1) Obscurecimento do limbo solar (Figura 1). Quando olhamos para o centro do disco estamos vendo as camadas mais profundas da fotosfera, que são mais quentes, por isso ele é mais brilhante. (2) Manchas solares. São regiões escuras, têm cerca de 10.000 km, estão associadas a fortes campos magnéticos e giram com o mesmo período da rotação solar (Figura 1). A parte central, umbra, está a cerca de 4.500 K, e a parte periférica, penumbra, está a cerca de 5.500 K. Como a temperatura delas é menor que a da fotosfera, elas parecem mais escuras. Geralmente as manchas aparecem em grupos, as maiores podem durar até 100 dias. (3) Textura granulada. Elas aparecem em imagens de alta resolução obtidas acima da atmosfera terrestre (Figura 1). Cada grânulo é uma célula convectiva, com diâmetro médio de 1.000 km e tempo de vida de cerca de 5 a 10 minutos. O gás aquecido chega à superfície pelo centro, esfria e desce pelos bordos, por isso elas são mais brilhantes no centro. (4) Linhas de absorção. Ao passar a luz solar por um prisma o físico alemão Joseph Fraunhofer descobriu, no início do séc.19, que o espectro solar é entrecortado por linhas escuras, as linhas de absorção ou de Fraunhofer. Atmosfera solar Ela é formada pela cromosfera (baixa atmosfera) e coroa (alta atmosfera). A luz branca proveniente da fotosfera é absorvida pelos átomos da cromosfera, em comprimentos de onda (cores) específicos. 1 JAMAIS se deve olhar para o Sol sem a proteção adequada de um filtro solar. Uma maneira simples para se ver a fotosfera: faça um furo de 1 cm de diâmetro em um papel e cubra um espelho com ele. Aponte o espelho para o Sol e faça a imagem solar ser refletida sobre um anteparo de cor clara (pode ser uma parede) a uma distância de 5 a 10 m. Repare que próximo ao limbo o disco é menos brilhante. Se tiver sorte poderá ver algumas manchas. E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 3 A relação direta entre espécies atômicas e linhas de absorção nos permite investigar a composição química do Sol, além das propriedades físicas básicas da fotosfera solar, como, densidade, pressão, temperatura, movimentos radiais e campos magnéticos. A Tabela 3 apresenta a composição química do Sol. Elemento Abundância em percentagem Sobre o número total de átomos Sobre a massa total Hidrogênio 91,2 71,0 Hélio 8,7 27,1 Oxigênio, Carbono, Nitrogênio, Silício, Magnésio, Neônio, Ferro, Enxofre, etc. 0,1 1,9 Tabela 3. Composiçãoquímica solar Cromosfera Palavra de origem grega que significa “esfera colorida”. Essa fina camada atmosférica está situada bem acima da fotosfera e é visível a olho nu durante os eclipses solares totais, sobretudo no início e no fim da totalidade2. Sua cor avermelhada é devida à emissão pelo átomo de hidrogênio, conhecida por luz no H (diz-se aga-alfa). A espessura aproximada da cromosfera é 2.000 km, e sua temperatura cresce com a altura até atingir cerca de 25.000 K. O aquecimento é provocado pela dissipação de energia de origem magnética. Como a densidade na cromosfera é cerca de mil a um milhão de vezes menor que a da fotosfera (Tabela 2) ela se torna transparente na luz branca. Mas nas regiões do ultravioleta e do H a cromosfera é muito brilhante e apresenta estruturas altamente complexas e magnetizadas, 2 Período de escuridão. Figura 1. [esquerda] O disco solar na luz visível, e as manchas. Note o obscurecimento do limbo solar (Marshall Space Flight Center). [direita] Imagem de alta resolução mostrando a granulação da fotosfera (NASA) E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 4 lembrando a estrutura granulada da fotosfera (Figura 2). Esse mosaico de células cromosféricas é denominado supergranulação, porque estas células têm em média 30.000 km e tempo de vida da ordem de meio dia, valores bem maiores que os característicos das células fotosféricas. Os bordos das supergranulações são contornados por espículos, estruturas finas e longas (700 km de diâmetro e 7.000 km de altura), escuras e quase verticais. Por eles matéria ascendente e descendente fluem com velocidade aproximada de até 100 km/s. Zona de Transição Acima da cromosfera há uma região, com aproximadamente 10.000 km de espessura, onde a temperatura cresce rapidamente, passando de 25.000 K para mais de 1 milhão K. Ela separa a cromosfera da coroa. Como sua temperatura é elevada essa região pode ser observada diretamente na luz ultravioleta. Coroa Embora ela possa ser vista até alguns raios solares acima da superfície, sua extensão é ilimitada. Na luz branca a coroa brilha tanto quanto a Lua Cheia. Como isso equivale apenas a 1 milionésimo do brilho fotosférico, a coroa só pode ser vista durante um eclipse solar total ou com instrumentos específicos (coronógrafo). Sua característica mais marcante é a temperatura elevada (cerca de 2 milhões K) e praticamente constante. Nessas condições os átomos dos elementos químicos presentes perdem elétrons e formam um gás quente, constituído prótons, elétrons e íons mais pesados, e magnetizado, denominado plasma. O hidrogênio ionizado (perdeu seu único elétron) é o constituinte majoritário da coroa. O ferro, por exemplo, nessa temperatura pode perder 13 dos seus 26 elétrons (representado por FeXIV), e emite fortemente na luz verde. O calor sempre flui da região quente para a região fria. Então, por que a temperatura da coroa é tão mais elevada que a da fotosfera? Essencialmente, o mecanismo de Figura 2. Cromosfera vista no H [esquerda] As zonas claras (regiões ativas) são mais quentes, e as escuras, mais frias. O arco no bordo superior é uma protuberância. [direita] Detalhe mostrando a supergranulação cromosférica. Os espículos, distribuem-se nos contornos das células quase que verticalmente. (HAO) E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 5 aquecimento coronal é a dissipação de enormes quantidades de energia associada ao campo magnético solar. A energia magnética armazenada no campo é instantaneamente dissipada quando linhas de polaridade opostas (positiva e negativa) e próximas interagem e se anulam. A quantidade de energia liberada depende da intensidade do campo magnético. A forma da coroa Na luz branca a coroa é bem estruturada com arcos, elmos, estrias, e seu brilho provém da luz fotosférica espalhada pelos elétrons livres (Figura 3). Como a distribuição espacial dos elétrons é governada pelo campo magnético, a distribuição de brilho da coroa na luz branca torna-se um forte diagnóstico de ambos. Essa coroa é a que vemos a olho nu durante um eclipse solar total. Sua forma varia com o ciclo de atividade3: na fase de máxima atividade solar ela é mais esférica (Figura 3), mas na fase de mínima ela é mais alongada no equador. Quando observada em ondas de rádio, na luz ultravioleta ou em raios-X, a coroa tem formas específicas (Figura 3). As zonas escuras da coroa em raios-X são os buracos coronais, regiões de onde se origina o vento solar. Vento Solar Radiação eletromagnética (luz) e partículas de altas velocidades escapam do Sol continuamente. Esse fluxo de partículas, constituído de elétrons, prótons (núcleo do hidrogênio), núcleos de hélio e íons de elementos químicos mais pesados, é o vento solar. Ele propaga-se pelo espaço interplanetário, arrastando consigo campo magnético. A luz atinge a Terra cerca de 8 minutos depois de deixar a fotosfera. Mas as partículas, que se movem mais lentamente (500 a 700 km/s), levam alguns dias para chegar até nós. Embora o vento solar retire cerca de 1 milhão de toneladas de matéria a cada segundo, menos que 0.1% da massa solar foi perdida desde o nascimento do Sol, há 4,6 bilhões de anos. Ao interagir com a magnetosfera terrestre, o vento solar produz as auroras boreal e austral nos hemisférios norte e sul, respectivamente. 3 Ver adiante Figura 3. [esquerda] Coroa na luz branca, vista no eclipse total de 11/08/99 . [centro] Coroa na luz ultravioleta emitida por átomos de ferro ionizado. [direita] Coroa em raios-X. Quanto maior o brilho, maior a temperatura. As zonas escuras são os buracos coronais. Imagens de Fred Spenak (esquerda) e dos satélites SOHO (centro) e YOHKOH (direita). E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 6 Atividade Solar A luz e o vento solar variam ciclicamente entre picos de máximo e mínimo, de acordo com a atividade solar. Isso afeta muito pouco a luminosidade total do Sol, mas nos afeta significativamente. A variabilidade cíclica do número de manchas é conhecida desde meados do séc.19. Em média a periodicidade do ciclo é 11,2 anos, e ele começa quando o número de manchas é mínimo. Gradativamente a quantidade de manchas vai aumentando até atingir um máximo, depois volta a cair, e o ciclo se repete. Portanto, a quantidade de manchas varia com ciclo de atividade solar. Longe de serem fenômenos isolados as manchas estão associadas a outros fenômenos de superfície que ocasionalmente emergem com violência e expelem em direção à coroa grandes quantidades de energia e partículas. Esses eventos ocorrem nas zonas ativas ou centros de atividade. Essas atividades aquecem regiões da fotosfera (fáculas) e da cromosfera (praias) tornando-as mais brilhantes. Outro fenômeno caracterizado pela atividade solar é a protuberância: filamentos enormes de gás excitado em forma de arcos, propagando-se a centenas de milhares de km dentro da coroa. Freqüentemente estão acima das zonas ativas. As erupções solares, são fulgurações decorrentes da liberação súbita de grandes quantidades de energia magnética no centro das regiões ativas. A temperatura numa erupção 100 milhões de K, e a energia liberada poderia abastecer as necessidades energéticas da humanidade por milhões de anos. As estrelas não são iguais, nem imutáveis. Apesar de tratarmos o Sol como uma estrela padrão, há muitos tipos de estrelas e suas características mudam durante suas vidas. O tempo que uma estrela leva desde o nascimento até a entrada na Seqüência Principal (SP), quando começaa gerar energia por reação termonuclear, depende da massa (ver Tabela 4). O tempo de vida de uma estrela também depende da sua massa. Quanto maior a massa da estrela maior é a quantidade de hidrogênio disponível para gerar energia; em princípio deve viver mais tempo. De outro lado, quanto maior a luminosidade (energia emitida por unidade de tempo), mais curto é o tempo de vida da estrela. Portanto, quanto maior a massa da estrela, maior é a luminosidade e menor o tempo de vida. Veja na Tabela 5 as estimativas teóricas dos tempos de vida estrelas de diferentes massas. Tabela 4. Escala de tempo da evolução pré-Seqüência Principal. Massa (em massa solar) Tipo espectral Tempo para chegar à SP (em anos) 30 O6 30.000 10 B3 300.000 4 B8 1.000.000 2 A4 8.000.000 1 G2 30.000.000 0.5 K8 100.000.000 0.2 M5 1.000.000.000 E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 7 Massa (em massa solar) Tempo de vida na SP (em anos) 60 2 milhões 30 5 milhões 10 25 milhões 3 350 milhões 1,5 1,6 bilhão 1 9 bilhões 0,1 Trilhões Tabela 5. Tempos de vida para estrelas da Seqüência Principal Evolução de estrelas com até 11 massas solares. As estrelas não permanecem eternamente na SP, apenas passam a maior parte de suas vidas nessa fase. À medida que o hidrogênio vai sendo consumido, um caroço de hélio vai se formando no interior da estrela. A massa da estrela determina o tempo de vida e os caminhos de sua evolução. Se a massa for suficientemente grande para promover temperaturas cada vez mais elevadas na região central, o processo de fusão nuclear (formação de elementos pesados a partir de elementos mais leves) continua até a formação do elemento químico ferro (26Fe). A partir daí, as reações são endotérmicas, isto é, absorvem energia ao invés de liberar. Estrelas de grande massa, quando chegam nesta fase morrem de forma catastrófica. Simplificadamente podemos dizer que estrelas de pequena massa morrem brandamente, enquanto estrelas de grande massa morrem catastroficamente. Nem todo o calor gerado na fusão do hidrogênio é liberado para o espaço, parte dele é absorvido pelo material interno fazendo a temperatura local aumentar. Esse aumento de temperatura provoca aumento de pressão, altera o equilíbrio entre as pressões interna (do gás contido abaixo da camada) e externa (do gás que está acima da camada) e faz com que a estrela se expanda. Como a expansão provoca queda de temperatura e pressão, a estrela se contrai. Esse processo tem fim quando as forças se equilibram, e a estrela se ajusta à nova circunstância. Durante a evolução a estrela passa várias vezes por essa situação. Quando o hidrogênio disponível para a fusão se extingue (caso das estrelas de pequena massa), ou quando a temperatura central aumentar o suficiente para propiciar a fusão do hélio (caso de estrelas de grande massa), a estrela abandona a SP e sofre mudanças na estrutura e na luminosidade. O Sol já se encontra na SP há 4,6 bilhões de anos. Sua temperatura superficial é praticamente a mesma que tinha quando entrou nessa fase, mas seu brilho é cerca de 30% maior que o daquela época. Com o passar do tempo, a composição química sofrerá mudanças: a quantidade de hidrogênio diminuirá e a de hélio aumentará. A estrutura interna será a de um núcleo de hélio (crescente) circundado por uma camada hidrogênio em fusão (Figura 4A). A elevação gradativa de temperatura do núcleo de hélio aumenta a taxa de geração de fusão nuclear do hidrogênio na camada circundante. Após cerca de 10 bilhões de anos, esse aumento de temperatura provocará uma elevação brutal da pressão e a estrela sofrerá uma expansão gigantesca. Com a expansão, a superfície aumenta e a temperatura superficial diminui. A estrela torna-se uma gigante vermelha, uma estrela de baixa temperatura mas de alta luminosidade. Betelgeuse ( de Órion) e Antares ( do Escorpião), ambas 400 vezes maiores do que o Sol, são dois exemplos. Quando isto acontecer com o Sol, sua superfície envolverá Mercúrio e, nestas circunstâncias, provavelmente aqui na E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 8 Terra os oceanos não mais existirão e a superfície rochosa será derretida. No diagrama HR esta fase da evolução estelar é ilustrada através de um movimento para a direita e para cima, em direção ao canto superior direito onde se localiza o ramo das gigantes. As diferenças de densidade numa gigante vermelha são brutais: enquanto o seu núcleo de hélio tem cerca de 100.000 g/cc (no Sol é 150 g/cc), as camadas mais externas da estrela está com cerca de 10-6 g/cc (1 milionésimo da densidade da água). No momento em que a temperatura central da estrela atingir cerca de 100 milhões K, a contração do núcleo de hélio cessa e inicia-se a fase de fusão nuclear, desta vez transformando hélio em carbono (12C): 3 núcleos de hélio (4He) são fundidos para formar um núcleo de carbono, tendo como produto intermediário um núcleo instável de berílio (8Be). A fusão inicial do He ocorre de forma violenta e descontrolada, como a de uma bomba, mas em seguida se processa normalmente. Assim o carbono vai se acumulando no centro da estrela, provoca expansão e contração da mesma que, em decorrência, apresenta variações de luminosidade e temperatura superficial. Do carbono e o hélio surge o oxigênio (16O). A fusão do carbono só ocorre quando a temperatura superar 600 milhões K. Uma estrela de 1 massa solar jamais atingirá esse estágio e a geração de energia ocorrerá por tempo limitado, através da queima do hélio e do hidrogênio nas camadas superiores. Na fase final de vida essa estrela sofre pulsações radiais crescentes, contraindo-se e expandindo-se periodicamente, podendo formar uma nebulosa planetária. A estrela remanescente fica com cerca de metade da massa que tinha e contrai; ela pode adquirir um raio de 10.000 km! Seu brilho provém da energia armazenada das reações nucleares (que já cessaram) e ela se transforma numa anã branca, estrela muito pequena, de cor branca e temperatura superficial elevada. A perda incessante de energia provoca a queda de temperatura, a cor vai se tornando avermelhada, até definhar definitivamente e se tornar uma anã negra. Se a anã branca pertencer a um sistema binário (duas estrelas ligadas pela gravidade) pode haver fluxo de matéria da superfície da companheira, uma estrela da SP, para a superfície da anã branca. A violência desse processo pode provoca um clarão súbito, a estrela brilha repentinamente dando a ilusão que uma nova estrela surgiu naquele lugar. Esse é o fenômeno da estrela nova. Quando o processo é recorrente, temos uma nova recorrente. Figura 4. (A) À esquerda, o esquema da estrutura interna de uma estrela da SP, convertendo hidrogênio em hélio. (B) À direita, o esquema da estrutura de uma estrela de uma massa solar quando a fusão do hélio se estabelece. E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 9 Evolução de estrelas com massa entre 11 e 50 massas solares Como vimos, quanto maior a massa da estrela mais curta é a sua vida. Após a queima do hélio as estrelas de grande massa promovem a fusão dos elementos mais pesados, na ordem crescente de massa atômica, isto é: carbono (12C), oxigênio (16O), neônio (20Ne), magnésio (24Mg) e silício (28Si), este produzindo o ferro (26Fe). A partir de então não há mais fusão atômica no núcleo. Estas reações ocorrem em camadas sobrepostas, as internas com elementos mais pesados. Na Tabela 6 tem-se os detalhes desse processo. Fonte de energia Temperatura (milhões K) Tempo para exaustão (anos) Fusão do hidrogênio 15 10 milhões anos Fusão do hélio 170 1 milhãoanos Fusão do carbono 700 1.000 anos Fusão do neônio 1.400 3 anos Fusão do oxigênio 1.900 1 ano Fusão do silício 3.300 1 dia Tabela 6. Temperaturas necessárias para ocorrência de fusão nuclear e tempo de exaustão do combustível nuclear para estrelas com 20 massas solares. À medida em que os elementos mais leves vão sendo consumidos nas camadas mais externas, o núcleo de ferro vai crescendo gradativamente até atingir um valor limite equivalente à cerca de 1,4 massas solares. Quando isso acontece a estrela implode repentinamente. A temperatura do núcleo de ferro pode atingir 10 bilhões K e desintegrar a estrela. Desse processo violento surgem os elementos químicos mais pesados que o 26Fe, que são ejetados ao espaço a grandes velocidades. Esse fenômeno explosivo libera tanta energia que pode ser visto a grandes distâncias, até mesmo em outras galáxias, e é conhecido por supernova tipo II. Estas supernovas podem brilhar mais que toda a galáxia em que se encontra. Na Via Láctea, ocorre em média uma supernova a cada 50 anos. Figura 5. Esquema das transfomações na vida de uma estrela com 1 massa solar Figura 6. Modelo de uma estrela tipo nova. E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 10 O objeto que resta dessa explosão tem cerca de 1,5 a 2 massas solares, possui aproximadamente 20 km de raio e é extremamente denso; é a estrela de nêutrons. Essa estrela gira muito rapidamente, e a luz emitida é concentrada num facho. Se esse facho de luz estiver em nossa direção vemos um pulso de luz cada vez que ele estiver apontando para a Terra. Por isso esses objetos foram batizados com o nome pulsar. Figura 7. A Nebulosa do Caranguejo é o que restou da explosão (supernova) observada pelos chineses em 1054 a.C. No centro fica o pulsar. (Monte Palomar / AAO) Evolução de estrelas com mais de 50 massas solares Estrelas com massa entre 50 e 100 massas solares brilham tanto quanto 100 mil a 1 milhão de sóis durante suas vidas breves. Essas estrelas perdem tanta massa durante a fase de Seqüência Principal que praticamente lhe restam apenas o núcleo de hélio. O núcleo de ferro que será formado posteriormente é tão maciço que, após a implosão que dá origem a uma supernova tipo Ib, o colapso gravitacional não pára para formar uma estrela de nêutrons. Ele continua indefinidamente, criando um objeto tão maciço, com campo gravitacional tão intenso, que nem a luz consegue escapar. Esse objeto escuro é denominado buraco negro. Embora ele não possa ser visto diretamente há evidências indiretas que denunciam sua presença. Por exemplo, a luz dos objetos que se encontram adiante do buraco negro e que estão na linha de visada sofrem desvio de trajetória. Outra evidência é a luz (raios X) emitida pela matéria que está sendo sugada pelo buraco negro. A Figura 8 ilustra um modelo de buraco negro formado num sistema binário. A Figura 9 ilustra simplificadamente o que foi discutido anteriormente. Estrelas com massa entre 0,8 e 11 massas solares, entram na SP como tipos B, A, F ou G, produzem nebulosas planetárias e terminam como anãs brancas. Estrelas com massa intermediária, entre 11 e 50 massas solares, iniciam como estrelas tipos O ou B, produzem supernovas tipo II e terminam como estrelas de nêutrons. Estrelas maciças entram na SP como tipo O, passam pela fase de Wolf-Rayet, produzem supernovas tipo Ib e terminam como buracos negros. E. Picazzio Sol: Uma Estrela da Via Láctea Cap. 3 - 11 Figura 9. Ilustração simplificada da evolução de estrelas de diferentes massas, após abandonarem a Seqüência Principal. (Adaptado de I. Iben Jr e A.V.Tutukov, Sky & Telescope, dezembro/97, pág.39) Figura 8. Um buraco negro pode ser observado através da radiação X emitida pelo gás aquecido em queda. No caso a estrela que se tornou um buraco negro suga a matéria da sua companheira, uma gigante azul. O ciclo da evolução estelar Embora parte do material usado nas reações termonucleares seja transformado em energia, a matéria da Via Láctea está sendo continuamente reciclada. Das estrelas antigas, deficientes de material pesado, às estrelas jovens, ricas em metais, observamos o processo de enriquecimento em ação. O Sol, uma estrela jovem rica em metais, é um produto de muitos ciclos. Sem os elementos produzidos no interior de supernovas a vida na Terra seria impossível. Somos formados de poeira estelar. A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 1 O SISTEMA PLANETÁRIO Introdução O homem primitivo conhecia sete corpos celestes que, vistos desde a superfície da Terra, parecem se moverem entre as "estrelas fixas". São eles o Sol e a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Eram chamados "planétes", termo grego que significa "errante". Hoje o termo designa astros sem luz própria que giram em torno de estrelas como o Sol. Mercúrio - Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol. Foi visitado por uma única sonda espacial, a Mariner 10. Ela passou pelo planeta três vezes, em 1973 e 1974. Apenas 45% de sua superfície foi mapeada. Não possui satélites em órbita. Visto de perto, Mercúrio assemelha-se à Lua, em tamanho e aspecto. Sua superfície é coberta de crateras. As variações de temperatura em Mercúrio são as mais extremas do Sistema Solar, situando-se entre -180 oC e 400 oC. Mercúrio pode, às vezes ser observado através de binóculo ou mesmo a olho nu, mas está sempre muito próximo do Sol e por ser muito pequeno e pouco brilhante, dificilmente é notado à luz do crepúsculo. Figura 1: Sumário gráfico de Mercúrio. Vênus - Segundo planeta em ordem de afastamento do Sol, situando-se entre Mercúrio e a Terra. A órbita de Vênus, dentre as de todos os demais planetas, é a mais circular. A primeira sonda a visitar Vênus foi a Mariner 2, em 1962. Ele foi posteriormente visitado por muitas outras (mais de 20 até o presente), incluindo a Pioneer Venus e a sonda soviética Venera 7, a primeira sonda a descer em outro planeta, e Venera 9, que transmitiu as Lento período de rotação: 58,65 dias terrestres Bacia Caloris Crateras Crateras raiadas Curva de Choque Sol Calor Intenso Campo magnético Planaltos Penhascos ou falésias Frio Congelante Cauda Magnética Núcleo Grande Crosta Fina Massa: 3,30 x 1026 g =0,055MTerra Raio: 2439 km = 0,382 RTerra Densidade média: 5,43 g/cm3 Período de Rotação: 58,6462 dias terrestres Período Orbital: 87,969 dias terrestres Distância média ao Sol: 0,387 U.A. Mercúrio não tem satélites Campo magnético superficial: 0,0035 gauss Calor fervente A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 2 primeiras fotos da superfície. Mais recentemente (1992), a sonda americana Magalhães fez mapas detalhados da superfície de Vênus usando radar. É o planeta que mais se aproxima da Terra em distância, e é também o mais brilhante objeto do céu depois do Sol e da Lua. Vênus é facilmente visível a olho nu em certas épocas do ano e não possui satélites. Às vezes (impropriamente) é chamado de "estrela matutina", "estrela d'alva", ou ainda "estrela vespertina". Sua atmosfera, composta basicamente de gás carbônico (95% de CO2), é tão espessa que se torna impossível observar a sua superfície diretamente ao telescópio. A pressão da atmosfera de Vênus, na superfície, é de 90 vezes superior a da Terra (aproximadamente a mesma que existe a uma profundidade de 1 km nos oceanos terrestres). Essa densa atmosfera produz um forte efeito estufa que aumenta a temperatura de Vênus, tornando a sua superfície mais quente (calor suficiente para derreter o chumbo) que a de Mercúrio, a despeito de estarquase duas vezes mais distante do Sol. Uma vez que Vênus é um planeta inferior, ele apresenta fases quando visto da Terra com um telescópio. A observação desse fenômeno por Galileu Galilei foi um importante elemento a favor da teoria heliocêntrica de Copérnico. Figura 2: Sumário gráfico de Vênus. Terra - Terceiro planeta do Sistema Solar pela ordem de afastamento do Sol, do qual dista cerca de 150 milhões de quilômetros. É o único planeta do Sistema Solar cuja atmosfera contém uma grande quantidade de oxigênio. É também provavelmente o único planeta que contém água em abundância: quase 2/3 da superfície da Terra é coberto de água em estado líquido formando os oceanos. Tanto a água quanto o oxigênio são elementos essenciais Rotação retrógrada com período lento de 243 dias terrestres Atmosfera de dióxido de carbono Efeito Estufa Nuvens de ácido sulfúrico Massa = 0,815 MT 6052 km ou 0,95 RT Sempre coberto por nuvens Rajadas de ventos de 100 m/s na atmosfera superior Pressão superficial 90 bars Temperatura superficial 730°C Termosfera fria Superfície tórrida Nuvens estratificadas Nenhum campo magnético forte Massa: 4,87 x 1027 g = 0,815 MTerra Raio médio: 6052 km = 0,949 RTerra Densidade média: 5,25 g/cm3 Período de Rotação: 243 dias 36 minutos (retrógrado) Período Orbital: 224,701 dias Distância média ao Sol: 0,723 U.A. Vênus não possui satélites e nem campo magnético intrínseco detectável A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 3 para a evolução da vida como a conhecemos. Os mais antigos fósseis de organismos vivos têm cerca de 3,7 bilhões de anos. Não há registro do período crítico em que a vida se iniciou. Ao que se sabe, é o único planeta habitado e com uma civilização inteligente. Tentativas de contato com outras eventuais civilizações alienígenas extraterrestres, até hoje fracassaram. Possui um único satélite natural, a Lua. A Terra, naturalmente, pode ser estudada com o auxílio de sondas espaciais e satélites artificiais, e as imagens tiradas do espaço são de considerável importância; por exemplo, elas ajudam na elaboração de mapas, na previsão do tempo e na navegação. Figura 3: Sumário gráfico da Terra. A Lua - É o satélite natural da Terra. Seu movimento de revolução em torno do planeta dura cerca de 27 dias e 8 horas, tempo igualmente que leva para ela girar em torno de seu próprio eixo. Por essa razão o lado lunar voltado para nós é sempre o mesmo. A Lua naturalmente, é conhecida desde os tempos pré-históricos. É o segundo astro mais brilhante no céu depois do Sol. A interação gravitacional entre a Lua e a Terra é a causa do efeito das marés. Sua origem é objeto de estudo pelo astrônomos. Não se sabe com certeza se ela foi formada junto com a Terra ou depois. O mais provável, contudo, é que a Lua pode ser o resultado de uma colisão entre a Terra e um outro corpo. A Lua não tem atmosfera. Sua superfície é seca e bastante acidentada, apresentando um relevo com montanhas, planícies e crateras. Em 21 de julho de 1969, Neil A. Armstrong e Edwin Aldrin desceram na Aurora Oval Camada de Ozônio Fina camada Atmosférica estratificada Efeito estufa Movimento continental Ciclos vitais Eras glaciais Partículas capturadas Tempestades Litosfera Astenosfera Campo magnético Manto Núcleo sólido Núcleo líquido Pressão Superficial 1 bar Temperatura Superficial 288 K Massa: 5,975 x 1027 g Raio: 6378 km Densidade média: 5,52 g/cm3 Período de rotação: 23 h 56 m 4 s Período orbital: 1 ano = 365,26 dias Distância média ao Sol: 1 U.A. = 149,6 x 109 km Número de satélites = 1 (Lua) Campo magnético superficial = 0,35 gauss Expansão oceânica A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 4 superfície lunar através da nave Apollo e trouxeram de lá alguns quilos de amostras de seu solo. A última alunissagem aconteceu em dezembro de 1972. Recentemente descobriu-se fortes evidencias, através das sondas Clementine (1994) e Lunar Prospector (1997) que a Lua têm armazenado consideráveis quantidades de água misturada com o seu solo, concentradas nas regiões polares. Figura 4: Sumário gráfico da Lua. Marte - Quarto planeta em distância ao Sol, Marte é as vezes chamado de planeta vermelho devido a sua coloração avermelhada pelo óxido de ferro. Marte é quase metade do tamanho da Terra. A primeira sonda a visitar Marte foi a Mariner 4, em 1965. Várias outras se seguiram, inclusive duas Viking, em 1976. A partir de 1997, voltou a ter a sua superfície estudada principalmente de várias sondas espaciais, como Pathfinder e Mars Global Surveyour. Sem dúvida, Marte se assemelha muito com a Terra. Seu estudo poderá fornecer muitos indícios de como a Terra eventualmente poderá ser no futuro. Marte tem dois satélites, que presume-se que sejam asteróides capturados do cinturão de asteróides que se estende entre as órbitas de Marte e Júpiter: Fobos (Medo) e Deimos (Terror). Marte com a sua semelhança e proximidade com a Terra, é o planeta mais provável no Sistema Solar para uma futura colonização de seres humanos. Isso por causa da provável existência Massa: 7,353 x 1025 g = 0,0123 MTerra Raio: 1738 km = 0,2725 RTerra Densidade média: 3,344 g/cm3 Período de rotação: 27,322 dias terrestres Período orbital: 27,322 dias terrestres Distância média da Terra: 3,844 x 105 km A Lua se afasta da Terra Rotação síncrona 27 dias O lado oculto da Lua tem poucos mares e uma crosta espessa Mares de lava fluíram até 3 a 4 bilhões de anos atrás Mascons Regolito pulverizado (solo) Nenhuma Atmosfera Planaltos com crateras de impacto criadas a 4 bilhões de anos atrás Cratera raiada jovem Sem campo magnético dipolar Campo magnético remanescente Nenhuma água Núcleo ? Astenosfera Tremores profundos Litosfera espessa Crosta fina A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 5 de água em seu subsolo. A atmosfera de Marte é fina, composta essencialmente de dióxido de carbono (95,3%) além de nitrogênio (2,7%), argônio (1,6%) e traços de oxigênio (0,15%) e água (0,03%). A pressão média na superfície de Marte é de apenas 1/100 pressão da Terra. Marte é permanentemente encoberto por calotas de gelo em ambos os pólos, compostas em sua maior parte de dióxido de carbono sólido ("gelo seco"). Seu eixo de rotação é inclinado com relação ao Sol e por isso apresenta as quatro estações climáticas como na Terra: Inverno, Primavera, Verão e Outono. Figura 5: Sumário gráfico de Marte. Os Asteróides O Cinturão de Asteróides está localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter, como se fosse uma barreira ou campo minado e indicando, como previsto pela lei de Titius-Bode (1772), que ali a uma distância média de 2,8 UA do Sol, deveria existir ou ter se formado um planeta. Foi assim que Ceres foi descoberto por Giuzeppe Piazzi, no primeiro dia do ano de 1801. Atualmente Ceres é classificado como planeta-anão. Atualmente são conhecidos e catalogados cerca de 20000 asteróides. Várias centenas mais são descobertos a cada ano. Existem contudo, centenas de milhares de outros desses corpos que são muito pequenos para serem observados da Terra, apesar do refinamento das técnicas observacionais. No Verão, calota polar de gelo de água Chryse Planitia, pouso da Viking. Vida? Antigos rios Vastos desfiladeiros No inverno, calota polar de gelo de água e dióxido de carbono congeladoNo futuro, Phobos deverá colidir com o planeta Solo congelado Fina camada de ar frio Vulcões Fortes ventos 3390 km ou 0,53 RT Terreno intensamente craterizado Massa: 6,4 x 1026 g = 0,107 MTerra Raio: 3397 km = 0,532 RTerra Densidade Média: 3,93 g/cm3 Rotação: 24h 37m 22s Período Orbital: 1,88 anos Distância Média ao Sol: 1,52 U.A. Número de Satélites: 2 (Fobos e Deimos) Campo magnético extremamente fraco A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 6 O inventário dos grandes asteróides está bastante completo; conhecemos hoje provavelmente 99% dos asteróides com diâmetros acima de 100 km. Conhecemos 26 asteróides com diâmetro superior a 200 km. Daqueles, na faixa entre 10 e 100 km, cerca de metade está catalogada. Porém, conhecemos muito poucos asteróides menores, talvez existam perto de 1 milhão de asteróides com diâmetro de cerca de 1 km. Figura 6: O cinturão principal de asteróides. As órbitas de alguns asteróides selecionados e os asteróides Troianos. A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 7 Figura 8: Asteróides – sumário gráfico Figura 7: Desenho em escala mostrando os tamanhos relativos de alguns dos maiores asteróides, comparados com aquele do planeta Marte. Os números ao lado dos nomes indicam os períodos de rotação em horas. A escala horizontal dá a distância média ao Sol, em UA. A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 8 Júpiter - O maior dos planetas do Sistema Solar, com um diâmetro de 143 mil km (relativamente, cerca de 11 vezes o da Terra) e massa 318 vezes maior que a Terra. Júpiter é o quarto objeto mais brilhante no céu (depois do Sol, Lua e Vênus). A descoberta de Galileu, em 1610, das quatro luas de Júpiter, Io, Europa, Ganimedes e Calisto (hoje conhecidas como luas Galileanas), foi a primeira constatação de um centro de movimento que, claramente, não estava centrado na Terra. Esse foi um ponto significativo a favor da teoria heliocêntrica de Copérnico. Por defender abertamente a teoria de Copérnico, Galileu foi aprisionado a mando da Inquisição, forçado a renunciar suas crenças e condenado ao cárcere. Júpiter foi visitado pela primeira vez pela sonda Pioneer 10 em 1973 e, mais tarde, pelas sondas Pioneer 11, Voyager 1, Voyager 2, Ulysses e mais recentemente, a Galileu. Ele é composto de cerca de 86% de hidrogênio e 14% de hélio, com traços de metano, água e amônia. Como Saturno, Júpiter tem anéis, mas apenas quatro, fracos e escuros, formados principalmente de pequenas partículas de poeira. Em julho de 1994, os 21 fragmentos do Cometa Shoemaker-Levy 9 colidiram com Júpiter. Os resultados foram espetaculares e durante vários meses as marcas dessas colisões ainda eram visíveis na sua atmosfera. Quando observado à noite, Júpiter parece às vezes como a "estrela" mais brilhante do céu (perdendo apenas para Vênus, que nunca é visível a altas horas da noite). As quatro luas Galileanas são facilmente visíveis com binóculo; algumas faixas e a Grande Mancha Vermelha podem ser vistas com um pequeno telescópio astronômico. Júpiter tem 63 satélites conhecidos: as quatro grandes luas Galileanas Io, Europa, Ganymede e Callisto são os principais. Figura 9: Sumário gráfico de Júpiter. Massa: 1,90x1030 g =317,89 MTerra Raio: 71 492 km = 11,2 RTerra Densidade média: 1,314 g/cm3 Período de Rotação: 9h 55m 29,7s Período Orbital: 11,86 anos terrestres Distância média ao Sol: 5,203 U.A. Número de satélites: 63 Campo magnético: 4,3 gauss A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 9 Massa: 5,68x1029 g =95,18 MTerra Raio: 60 330 km = 9,46 RTerra Densidade média: 0,71 g/cm3 Período de Rotação: 10h 39m 22s Período Orbital: 29,46 anos terrestres Distância média ao Sol: 9,54 U.A. Número de satélites: 49 Campo magnético: 0,2 gauss Saturno - O sexto planeta a partir do Sol. Galileu foi o primeiro a observá-lo com um telescópio, em 1610. Os anéis de Saturno, compostos basicamente de cristais de várias substâncias químicas congeladas (mas partículas rochosas cobertas por gelo podem também existir), permaneceram como um fenômeno único no Sistema Solar até 1977, quando foi descoberto os escuros anéis ao redor de Urano e, pouco depois, em torno de Júpiter e Netuno. Saturno foi visitado pela primeira vez pela Pionner 11 em 1979 e, mais tarde, pelas sondas Voyager 1 e Voyager 2. Saturno é o menos denso dos planetas; sua densidade específica (0,7) é inferior a da água (1,0) (se você pudesse colocar Saturno dentro d'água, ele flutuaria!). Como Júpiter, Saturno é composto de cerca de 75% de hidrogênio e 25% de hélio, com traços de água, metano e amônia. Pode-se ver Saturno no céu noturno, a olho nu. Embora não seja tão brilhante quanto Júpiter, é facilmente identificável porque ele não "pisca" como as estrelas e tem coloração amarelada. Os anéis são visíveis através de um pequeno telescópio astronômico. Saturno tem pelo menos 49 satélites conhecidos. É bem possível que existam vários outros pequenos satélites ainda não descobertos. Figura 10: Sumário gráfico de Saturno. A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 10 Urano - É o sétimo planeta em ordem de afastamento do Sol. Era desconhecido dos povos antigos. Foi descoberto acidentalmente, em 13 de março de 1781, pelo astrônomo inglês William Herschel (1738-1822). A constituição física de Urano é semelhante à de Júpiter, Saturno e Netuno, com um pequeno núcleo de hidrogênio metálico líquido, espessa e extensa atmosfera, composta principalmente de 89% de hidrogênio, 11% de hélio, com traços de metano, amônia e água. A cor azulada de Urano é o resultado da absorção da luz vermelha pelo metano na alta atmosfera. Como outros planetas gasosos, Urano tem anéis. Urano é, às vezes, dificilmente visível à olho nu, mesmo em uma noite bem escura. Pode ser visto através de um bom binóculo ou um pequeno telescópio astronômico. Urano possui um sistema de anéis escuros e foi visitado somente por uma espaçonave, a Voyager 2, em 24 de janeiro de 1986. Urano tem 27 satélites ou luas conhecidas. Figura 11: Sumário gráfico de Urano. Massa: 8,72x1028 g =14,54 MTerra Raio: 26 150 km = 4,10 RTerra Densidade média: 1,21 g/cm3 Período de Rotação: 17,24 horas Período Orbital: 84 anos terrestres Distância média ao Sol: 19,2 U.A. Número de satélites: 27 Campo magnético: 0,1-1,1 gauss A. A. de Almeida O Sistema Planetário Cap. 4 - 11 Netuno - O oitavo planeta em ordem de afastamento do Sol, e o segundo descoberto por telescópio. A descoberta de Netuno constitui um marco da astronomia teórica, pois foi a primeira vez que o homem através de cálculos matemáticos descobriu um novo planeta do Sistema Solar. Foi observado pela primeira vez pelo astrônomo alemão G. Gale (1812- 1910), na noite de 23 de setembro de 1846. O seu nome foi sugerido pelo astrônomo francês Urban Leverrier (1811-1877), tendo em vista que o planeta possuía uma coloração esverdeada, o que lembrava Netuno, o deus romano do mar verde, equivalente ao deus grego Poseidon. Netuno é composto de cerca de 89% de hidrogênio e 11% de hélio, com traços de metano, amônia e água. Netuno tem 13 satélites conhecidos.
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