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HELOISA NOGUEIRA - TCC - Heloísa Nogueira 19 11 ÚLTIMA CORREÇÃO_ VF (1)

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
FACULDADE DE DIREITO
HELOÍSA NOGUEIRA DOS SANTOS
ANÁLISE PELO JUIZ ACERCA DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Campinas
2019
HELOÍSA NOGUEIRA DOS SANTOS
ANÁLISE PELO JUIZ ACERCA DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Faculdade de Direito da PUC-CAMPINAS como requisito básico para a conclusão do curso de Direito. 
Orientador (a): Prof. Cláudio José Franzolin
Campinas
2019
HELOISA NOGUEIRA DOS SANTOS
ANÁLISE PELO JUIZ ACERCA DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado na Faculdade de Direito da PUC-CAMPINAS como requisito básico para a conclusão do curso de Direito. 
Orientador (a): Prof. Cláudio José Franzolin
.
Aprovado em ______/_______/______
Banca Examinadora:
AGRADECIMENTOS
Este trabalho representa para mim uma conquista pessoal, acadêmica e profissional, pois graça a todas as experiências que me foram proporcionadas pela faculdade pude desenvolver tal pesquisa.
Assim, gostaria de agradecer primeiramente a Deus por ter preparado todo o caminho que trilhei e que ainda trilhar. Em ato contínuo, agradeço aos meus pais, Paula e Amarildo, minha irmã e toda minha família que sempre me apoiaram durante esses cinco anos.
Agradeço imensamente também a todos os Professores que fizeram parte da minha formação acadêmica, cada um deles com seu conhecimento e experiência acrescentaram grandemente ao meu conhecimento, especialmente o Professor Cláudio José Franzolin, meu orientador, que confiou em mim durante todo este ano, permitindo que o desenvolvimento do presente trabalho ocorresse de forma constante e equilibrada.
Também agradeço a todos os profissionais da área de recuperação judicial com quem já tive a oportunidade de trabalhar, pois foi nesta oportunidade que descobri o meu amor pelo instituto.
Por fim, a todos os meus amigos por partilharem junto comigo as angústias, dificuldades e dúvidas que surgiram durante esse período.
A todos vocês, meus sinceros agradecimentos!
RESUMO
Esta dissertação tem como objeto a análise da atuação judicial no âmbito dos processos de recuperação judicial de empresas, regulados pela Lei nº 11.101 de 9 de fevereiro de 2005 (“LRE”). No primeiro capítulo, é feita breve introdução acerca da problemática, seguindo para explanações acerca do instituto da recuperação judicial. São feitas breves considerações históricas no âmbito nacional de evolução das Leis que disciplinam a falência e a Recuperação Judicial, bem como acerca da natureza jurídica do Plano de Recuperação Judicial, a atuação dos credores e o critério de crise no âmbito da Lei. No segundo capítulo são expostos os princípios que norteiam a atuação do juiz em qualquer procedimento passando a explorar os seus poderes no âmbito do processo de recuperação judicial. Dividindo o estudo em dois tipos de controle de legalidade. A partir disso é realizada a proposta da aplicação de três critérios objetivos para guiar a atuação do juiz no momento da homologação do Plano de Recuperação Judicial a fim de avaliar o mérito do plano de recuperação judicial para se averiguar se, além de atenderem aos critérios de legalidade, as disposições do plano de recuperação atingem os objetivos traçados pela LRE, no sentido de tutela da empresa viável e tutela institucional do crédito.
Palavras-chave: Plano de Recuperação Judicial, Controle de Legalidade, Critérios Objetivos.
ABSTRACT
This study aims at the analysis of role played by judges in connection to the proceedings of judicial corporate reorganization established under Federal Law No. 11,101, dated February 9, 2005 (“LRE”). In the first chapter, a brief introduction about the problem is given, following the explanations about the institute of judicial recovery. Brief historical considerations are made at the national level of the evolution of Laws governing bankruptcy and Judicial Reorganization, as well as the legal nature of the Judicial Reorganization Plan, the performance of creditors and the crisis test under the Law. In the second chapter, the principles that guide the performance of the judge in any procedure after the exploitation of his powers in the judicial recovery process are set forth. Dividing the study into two types of legality control Based on this, a proposal is made to apply three objective criteria to determine the judge's performance at the time of approval of the Judicial Reorganization Plan and an evaluation purpose or the merit of the judicial recovery plan for the average, in addition to meeting the legality requirements such as displaying a recovery plan to achieve the objectives set by the LRE, with no sense of viable company protection and institutional credit protection.
Key words: Judicial Reorganization Plan, legality control, objective criteria.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	7
1. CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DA LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SEUS PRINCÍPIOS	9
1.1. Contexto histórico	9
1.2.1. Princípios norteadores do procedimento recuperacional	12
1.2. Conceito de crise financeira sob o aspecto econômico e jurídico da Lei 11.101/05	15
1.3. Natureza jurídica do Plano de Recuperação Judicial	17
1.3.3. A novação no Plano de Recuperação Judicial	19
1.4. Poderes dos credores diante o plano apresentado	20
2. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ATUAÇÃO JURISDICIONAL NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO	26
2.1. Princípios Constitucionais	26
2.2. Princípios do Código de Processo Civil	27
2.3. Poderes do juiz na recuperação judicial	29
2.3.1. Deferimento do Processamento da Recuperação Judicial	30
2.3.2. A Homologação do Plano de Recuperação Judicial	32
2.3.3. Decisão de Encerramento do processo de Recuperação Judicial	34
3. CONTROLE DE LEGALIDADE	35
3.1. O controle de legalidade estrita	35
3.1.1. A possibilidade de o Plano prever a liberação de garantias reais e fidejussória com relação a todos os credores	36
3.2.2. A possibilidade de o Plano prever a extensão dos efeitos da homologação do Plano com relação aos coobrigados	39
3.2. Controle de legalidade material	41
3.2.1. Voto abusivo por conflito de interesse	43
3.2.2. Voto abusivo de minoria	44
3.3. Critérios objetivos para análise do juiz no momento da homologação do plano	47
3.3.1. Primeiro e Segundo Critério: Exequibilidade do Plano de Recuperação Judicial frente à realidade da empresa	48
3.2.2. Terceiro Critério: Inexistência de Vícios no Negócio Jurídico	51
CONCLUSÃO	52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	53
INTRODUÇÃO
O instituto da recuperação judicial atualmente tem ganhado muita atenção, não somente no meio jurídico, mas também na mídia. A razão para isso é o aumento dos pedidos formulados nos últimos anos, como se vê muitas empresas renomadas no mercado brasileiro estão fazendo uso do referido instituto, tais como, Avianca[footnoteRef:1], Livraria Cultura[footnoteRef:2], Aeroporto Viracopos[footnoteRef:3], Saraiva[footnoteRef:4] entre outras. [1: Avianca Brasil entra com pedido de recuperação judicial. Jus Brasil. dez. 2018. Disponível em: <https://escritoriopj.jusbrasil.com.br/noticias/657614248/avianca-brasil-entra-com-pedido-de-recuperacao-judicial>. Acesso em: 2 nov. 2019.] [2: D’AVILA, Mariana. Livraria Cultura pede recuperação judicial após fechar lojas Fnac pelo país. InfoMoney. 25 out. 2018. Disponível em: <https://www.infomoney.com.br/mercados/livraria-cultura-pede-recuperacao-judicial-apos-fechar-lojas-fnac-pelo-pais/>. Acesso em: 2 nov. 2019.] [3: CARVALHO, Marcello. Entenda a crise de Viracopos e o que pode acontecer com o futuro do aeroporto. G1. 2 out. 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2019/10/02/entenda-a-crise-de-viracopos-e-o-que-pode-acontecer-com-o-futuro-do-aeroporto.ghtml>. Acesso em: 2 nov. 2019. ] [4: AZEVEDO, Rita. Saraiva pede recuperação judicial. Valor Econômico. 23 nov. 2018. Disponível em: <https://valor.globo.com/empresas/noticia/2018/11/23/saraiva-pede-recuperacao-judicial.ghtml>. Acesso em: 2 nov. 2019.] 
O procedimento da recuperação judicial tem como basea continuidade da atividade empresária e a manutenção de sua fonte produtora, essa premissa guarda relação com o fato de que a empresa é um agente econômico que possui grande impacto no micro e macro sistema do qual faz parte. 
	Sendo assim, a extinção da empresa com a decretação de falência traz um alto custo a sociedade como um todo, dessa forma para que isso seja evitado, através da Lei 11.101 de 2005 criou-se o instituto da recuperação judicial, que nasceu para servir como ferramenta na continuidade das empresas que são economicamente viáveis.
	Este procedimento poderá ocorrer extrajudicialmente ou judicialmente, sendo que no presente trabalho o estudo foi delimitado ao procedimento judicial, especialmente no que tange à atuação do juiz no momento de homologação do Plano de Recuperação Judicial.
A metodologia utilizada foi a revisão literária acerca dos temas explorados nos três capítulos, para tanto se usou principalmente a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e, pontuais decisões do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ademais. A base teórica do trabalho se deu em doutrinas especializadas, sendo que seu desenvolvimento se debruçou principalmente na tese de mestrado elaborada por Janaína Campos Mesquita Vaz acerca dos poderes do juiz no âmbito da homologação do Plano de Recuperação Judicial. 
A relevância do tema reside no fato de que a Lei atual determinou critério insatisfatório para a análise da homologação do Plano de Recuperação Judicial, gerando grande discussão acerca dos limites na atuação do juiz frente à vontade da empresa e de seus credores.
 Assim sendo, o primeiro capítulo se propõe a trazer um breve panorama histórico acerca da evolução do direito falimentar no Brasil até a criação da lei em vigência. Adentrando as normas dispostas na lei 11.101/05, passa-se a analisar o conceito de crise financeira, depois a natureza jurídica do Plano de Recuperação Judicial e, os poderes dos credores diante deste Plano. 
No segundo capítulo se analisa em um primeiro momento os princípios que norteiam a atuação do juiz no âmbito do processo civil e, depois no âmbito da recuperação judicial. Através disso, se segue analisando os poderes do juiz nos seus três principais atos, quais sejam: decisão de deferimento, homologação e encerramento. 
Por fim, no terceiro capítulo analisa-se com profundidade o ato judicial de homologação do Plano de Recuperação Judicial através do Controle de Legalidade a ser exercido, sendo este divido em controle estrito e material. Neste cenário, o presente trabalho busca no ordenamento jurídico vigente, bem como nos princípios norteadores do instituto uma solução para esta situação, sustentar a compatibilidade existente entre a Lei 11.101/05 e o Código de Processo Civil no que tange a atuação jurisdicional, traçando assim possíveis critérios objetivos para limitar a atuação dos juízes ao homologarem o plano de recuperação judicial.
1. CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS DA LEI DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL E SEUS PRINCÍPIOS
Antes de adentramos ao tema necessário se faz breve explanação acerca do cenário histórico que o instituto da recuperação judicial se encontra inserido. A lei 11.101/05 atual diploma normativo que disciplina o referido instituto nasceu através da necessidade que surgiu no cenário econômico- jurídico do país.
Como se depreende da exposição de motivos da Lei[footnoteRef:5] que se encontra disponível no site do Senado, a recuperação judicial surgiu como uma “substituição à concordata suspensiva, com a finalidade de proteger o interesse da economia nacional, e aos trabalhadores na manutenção dos seus empregos. ” [5: BRASIL. Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Exposição de motivos. Diário Oficial da União. Brasília, DF, fev. 2005. Disponível em: <https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2005/lei-11101-9-fevereiro-2005-535663-exposicaodemotivos-103273-pl.html>. Acesso em: 2 nov. 2019] 
Em continuidade aos motivos que justificavam a criação de uma nova Lei, o então Ministro da Justiça no mesmo documento, já citado, sustentou que: “Com as transformações econômico-sociais ocorridas no País, a legislação falimentar não mais atende aos reclamos da sociedade, fazendo-se necessária a edição de nova lei, mais ágil e moderna. ”
Assim, através da exposição de motivos da Lei é possível concluir-se que o instituto da recuperação judicial surgiu como resposta a uma necessidade da sociedade em se desenvolver e obter mecanismos mais adequado a realidade comercial existente no País.
1.1. Contexto histórico
Historicamente sabe-se que o direito falimentar brasileiro se iniciou sem muita precisão em seus institutos, como pontuado por Penalva e Salomão em sua obra, sendo que o instituto da recuperação judicial, assim denominado pelo legislador brasileiro somente com a edição da Lei 11.101/05, surgiu através de uma construção de anos do direito falimentar. Os autores supracitados dividem a “evolução do direito falimentar em quatros fases”:
 “A primeira fase (Código Comercial até a República) – a) não conceituava com precisão os institutos, b) não concedia aos credores demasiada autonomia na organização falimentar, c) a falência se caracterizava pela cessação de pagamentos, estando difícil de ser definido – segunda fase (Decreto 917 de 1890[footnoteRef:6] – Lei Carlos de Carvalho) a) Moratória, pagamento integral de todos os credores em até um ano. Dependida de ¾ dos credores. Somente cabível antes do protesto, b) acordo extrajudicial, natureza contratual. Assembleia Geral dos Credores Quirografários. Negado, decretava-se falência. Somente admissível antes do protesto, c) cessão de bens; dependia da aprovação dos credores. Somente possível antes de protesto. Formava-se um contrato união (forma de liquidação) – terceira fase (Decreto Lei 7.661/75, baseado no anteprojeto de Trajano de Miranda Valverde), a) reforçou bastante o aspecto judicial da falência e da concordata, proibindo a moratória amigável. Eliminou a natureza contratual da concordata, b) diminui a influência dos credores concentrando os poderes nas mãos do juiz – Quarta fase (Lei 11.101/05) – alterou substancialmente todos os institutos relacionado ao direito comercial, inserindo a recuperação judicial e extrajudicial[footnoteRef:7]. [6: ] [7: SALOMÃO, Luis Felipe. SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência: Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 6-7. ] 
O sistema anterior a concordata prosseguiu vigente por cinco décadas, até que em 1945 nasceu o Decreto-Lei 7.661[footnoteRef:8] que normatizava o instituto da Concordata, sendo que esta surgiu com natureza de um favor legal do Estado, em um sistema de prevenção ou suspensão que como explanado por Ricardo Negrão[footnoteRef:9]: [8: BRASIL. Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945. Lei de Falências. Diário Oficial da União. Rio de Janeiro, RJ, jun. 1945. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del7661.htm>. Acesso em: 2 nov. 2019.] [9: NEGRÃO, Ricardo José Nogueira. A eficiência do Processo Judicial na recuperação de empresa. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 31.] 
Subsistiram, no regime de 1945, os institutos da continuação de negócio do falido e as concordatas preventiva e suspensiva, esta nas formas tempestiva (art. 178) e tardia (art. 185), como delineado nos dois diplomas anteriores. Duas mudanças essenciais, contudo, quanto aos requisitos da proposta e forma de aprovação afastaram a similitude dos institutos de 1908-1929 e de 1945.
Lanzarini, ao discorrer sobre a vigência do Decreto Lei 7.661, que instituiu a Concordata, afirma que o instituto estabelecia situação “inalcançável ao devedor”. De forma que:
Embora vigente por mais de quarenta anos, referido Decreto-lei já demonstrava sinais significativos de desgaste e ineficácia, e sua reformulação impunha-se imprescindível para que se adequasse aos anseios da realidade inconstante da economia mundial, fomentada pelo fenômeno daglobalização, objetivando preservar a empresa. A rigidez da norma, que impossibilitava a negociação entre devedor e credores, dificultou sobremaneira o sucesso do instrumento legal, revelando-se a concordata ineficaz à recuperação da empresa na medida em que seus objetivos eram inalcançáveis[footnoteRef:10]. [10: LANZARINI, Clarice Ana. Sustentabilidade da empresa em crise: Análise Preliminar de Admissibilidade do pedido de Recuperação Judicial. Revista de Direito Recuperacional e Empresa (RT). Vol. 4. Abr. – jun. 2017.p. 1 – 20. Especialmente na p. 5.] 
Para que fique demonstrado a diferença do desenvolvimento da empresa no cenário falimentar brasileiro no instituto da Concordata e, na atual lei de recuperação judicial e falência, interessante se faz utilizar como exemplo o caso de duas grandes empresas brasileiras que se socorreram do instituto da Concordata que por conta de sua magnitude e complexidade fizeram com que ocorressem alterações sensíveis no cenário falimentar do país. 
Os dois casos em questão são o da Parmalat Brasil[footnoteRef:11], e a Incorporadora Imobiliária Encol[footnoteRef:12]. que pediram concordata preventiva em 28/01/2004 e 24/11/1997 respectivamente, a Encol por um lado teve sua falência decretada dois anos após seu pedido Enquanto, por outro lado, a Parmalat teve a oportunidade de migrar seu pedido de concordata para um pedido de recuperação judicial, haja vista que lei foi promulgada treze meses após o pedido de Concordata, sua falência veio a ocorrer em 2010, em razão de fraude e escândalos que circundavam os fundadores da empresa na Itália[footnoteRef:13]. [11: NASCIMENTO, João Paulo de Andrade. O Instituto da Recuperação Judicial e o caso Parmalat. Conteúdo Jurídico. 24 out. 2014. Disponível em: <https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41358/o-instituto-da-recuperacao-judicial-e-o-caso-parmalat>. Acesso em: 2 nov. 2019. ] [12: ENCOL. O processo: Período da Concordata. Processo de falência 862/97. Disponível em: <http://www.massafalidaencol.com.br/processo.html>. Acesso em 2 nov. 2019.] [13: ZANETTI, Robson. A falência da Parmalat. Administradores. 27 jul. 2010. Disponível em: <https://administradores.com.br/artigos/a-falencia-da-parmalat>. Acesso em: 2 nov. 2019.] 
Utilizando esses casos como paradigma é importante ressaltar que a diferença do “sucesso” da recuperação econômica de uma para outra está inteiramente ligada com o fato de que a Parmalat Brasil teve a oportunidade de se beneficiar da atual lei de recuperação, enquanto a Encol se socorreu do antigo instituo da Concordata.
Nesse mesmo sentido, como bem acentuado por Daniel Cárnio Costa[footnoteRef:14], o instituto da Concordata e da Falência funciona como um pêndulo que em um primeiro momento pendia demasiadamente em favor dos credores, de modo que os credores ao buscarem pela satisfação de seu crédito, e, ainda temerosos pela possibilidade de novos inadimplementos não permitiam que a empresa em crise se recuperasse. [14: COSTA, Daniel Carnio. Reflexões sobre processo de insolvência: divisão equilibrada de ônus, superação do dualismo pendular e gestão democrática de processos, Cadernos Jurídicos, v. 16, n. 39. Escola Paulista da Magistratura (EPM): São Paulo, p. 59.77, jan. / mar. 2015.p. 59-77. Disponível em:<http://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/CadernosJuridicos/37de%2004.pdf?d=636688261614679211>. Acessado em: 20 nov. 2019.] 
Com as inovações trazidas pelo instituto de recuperação, este deixa de ser visto como um favor prestado pelo Estado, como era a concordata na sistemática passada e, passa a ter um caráter de negociação entre os credores e o devedor, sendo tal situação ressalvada para as empresas consideradas economicamente viáveis, como dispôs o Ministro Luís Felipe Salmão no julgamento do Resp n° 1.359.311.[footnoteRef:15] [15: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial: REsp – 1.359.311 SP. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Jusbrasil. 09 set. 2014. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/documentos/142376292/recurso-especial-n-1359311-sp-do-stj>. Acesso em: 12 nov. 2019. Ementa: DIREITO EMPRESARIAL. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO EM ASSEMBLEIA. CONTROLE DE LEGALIDADE. VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA. CONTROLE JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE.1. Cumpridas as exigências legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo plano tenha sido aprovado em assembleia (art. 58, caput, da Lei n. 11.101/2005), não lhe sendo dado se imiscuir no aspecto da viabilidade econômica da empresa, uma vez que tal questão é de exclusiva apreciação assemblear.2. O magistrado deve exercer o controle de legalidade do plano de recuperação -no que se insere o repúdio à fraude e ao abuso de direito -, mas não o controle de sua viabilidade econômica. Nesse sentido, Enunciados n. 44 e 46 da I Jornada de Direito Comercial CJF/STJ.3. Recurso especial não provido.] 
1.2.1. Princípios norteadores do procedimento recuperacional
Como visto, a alteração da Lei que disciplina o instituto da falência e da recuperação judicial trouxe com si muitas mudanças. Nesse ponto surgem novos princípios do procedimento de recuperação, que em nada se comunicam com os institutos anteriores, para Negrão a recuperação judicial se formou, pois: “ a diretriz do Legislador ao estabelecer multiplicidade de instrumentos recuperatórios” visava cumprir norma maior, “com vistas a atender à função social da propriedade e do incentivo à atividade econômica”[footnoteRef:16] [16: NEGRÃO, Ricardo. Curso de Direito comercial e de empresa, vol. 3: recuperação de empresas, falência e procedimentos concursais administrativos. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 154] 
Nessa perspectiva extrai-se do artigo 47 da Lei 11.101/05[footnoteRef:17], coração da norma, muitos dos princípios norteadores da lei, que temo como objetivo viabilizar a superação da crise-econômica-financeira, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora (...), promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estimulo à atividade econômica” [17: Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. (BRASIL, 2005).] 
O princípio da função social, bem como o da preservação da empresa se encontram no artigo supracitado de forma expressa, sendo tal fato um ponto relevante que merece atenção, pois como bem pontuado por Lanzarini a atuação da empresa encontra-se inserida em um contexto que exige a colaboração de todos para superação da situação de crise, como se vê:
“Dentre os objetivos específicos previstos pelo legislador destaca-se a manutenção da fonte produtora, ou seja, da própria empresa e atividade por ela desenvolvida, afinal, todos os interesses se voltam a esta, permitindo a geração de novos empregos e riquezas, em prol das necessidades da comunidade: ”.[footnoteRef:18] [18: LANZARINI, Clarice Ana. Sustentabilidade da empresa em crise: Análise Preliminar de Admissibilidade do pedido de Recuperação Judicial. Revista de Direito Recuperacional e Empresa (RT). Vol. 4. Abr. – jun. 2017.p. 1 – 20. Especialmente na p. 4.] 
Nesse contexto delineado pelos próprios princípios da Lei 11.101/05, extrai se que a colaboração é elemento essencial para o sucesso da recuperação judicial, sendo que a atuação do juiz frente a estes princípios é essencial para sua efetividade.
Ainda, cumpre salientar que a Lei 11.101/2005 está fundamentada nos princípios constitucionais de valorização do trabalho humano e da livre iniciativa, de garantir o desenvolvimento nacional e promover o bem de todos, sendo que para Warde Junior e Pereira[footnoteRef:19] tal efetivação no caso concreto só se dará com a participação do juízo recuperacional. [19: WARDE JUNIOR, Walfrido Jorge; PEREIRA, Guilherme Setoguti Julio. Um falso combate - discricionariedadeda assembleia geral de credores por oposição aos poderes do juiz no escrutínio do plano de recuperação judicial. In: Revista dos Tribunais, nº 951, ano 104, janeiro de 2015, São Paulo, p. 445-457, em especial, na p. 455.] 
Assim é dever do juiz através da aplicação dos princípios constitucionais e do Código de Processo Civil: “com auxílio efetivo do administrador judicial garantir e fiscalizar a divisão equilibrada de ônus entre todos os agentes”, uma vez que a continuidade da empresa é de interesse de toda a sociedade, em razão da função econômica que desempenha[footnoteRef:20] . [20: COSTA, Daniel Carnio. Reflexões sobre processo de insolvência: divisão equilibrada de ônus, superação do dualismo pendular e gestão democrática de processos, Cadernos Jurídicos, v. 16, n. 39. Escola Paulista da Magistratura (EPM): São Paulo, p. 59.77, jan. / mar. 2015.p. 59-77. Disponível em:<http://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/CadernosJuridicos/37de%2004.pdf?d=636688261614679211>. Acessado em: 20 nov. 2019.] 
Logo, no que concerne ao princípio da preservação da empresa, é certo que este decorre do princípio da função social na medida em que a empresa, como fonte geradora de riqueza econômica, emprego e renda, merece proteção, haja vista que sua atividade que está diretamente ligada ao desenvolvimento e crescimento nacional, como dispõe artigo 47 da Lei 11.101/05 supracitado.
Assim defende Mamede, ao dizer que tem se que a recuperação judicial não se destina à salvaguarda individualmente o empresário (individual ou sociedade), mas sim, a ordem econômica do país: 
“O princípio da função social da empresa reflete-se por certo no princípio da preservação da empresa, que dele é decorrente, tal princípio compreende a continuidade das atividades de produção de riquezas como um valor que deve ser protegido, sempre que possível, reconhecendo, em oposição, os efeitos deletérios da extinção das atividades empresarias, que não só prejudica o empresário ou a sociedade empresária, prejudica todos os demais.”[footnoteRef:21]. [21: MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 430.] 
Conclui-se, portanto, que os princípios trazidos no bojo da Lei 11.101/05 são essenciais para uma melhor compreensão de seu objetivo, devendo estes sempre serem utilizados como guia na atuação do juiz durante o procedimento recuperacional, especialmente no que tange a decisão de homologação do Plano de Recuperação Judicial, haja vista que é esta que concede o beneplácito de recuperação ao credor.
1.2. Conceito de crise financeira sob o aspecto econômico e jurídico da Lei 11.101/05
O fato do Legislador ter escolhido o vocábulo crise econômico-financeira para denominar a situação adversa vivida pelo devedor é um ponto interessante, pois como apontado por Negrão ao discorrer sobre o tema; “ o termo utilizado pelo legislador abrange fatores que impedem o empresário de perseguir o objeto de sua empresa e, ainda, a insuficiência de recursos para o pagamento das obrigações assumidas”[footnoteRef:22]. [22: NEGRÃO, Ricardo José Nogueira. A eficiência do Processo Judicial na recuperação de empresa. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 151.] 
Nesse mesmo sentido entende Evandro de Pontes, Mestre em Direito Comercial, que configura o termo crise como uma referência lógica que estará conectado ou a uma ideia de alteração inesperada ou atrelada a ideia de incertezas no estado atual:
“(...) uma primeira, principal e técnica, de emprego patológico e que se circunscreve à ideia de alteração repentina e brusca, para melhor ou para pior, do estágio de uma doença; e uma segunda, secundária e figurativa, de emprego geral e analógico, representado a ideia de incerteza ou ameaça de um estado atual ou presente. [footnoteRef:23] [23: PONTES, Evandro Fernandes. Os credores, a empresa em crise e os efeitos da livre composição na Lei 11.101/2005. Revista de Direito Empresarial (RT), vol. 11/2015, 2015. p.303-353, especialmente na p. 308.] 
A situação prevista pode ser classificada como um estado de instabilidade, sendo o critério de distinção entre o estado falimentar e o estado recuperacional a reversibilidade do referido estado, que configura a viabilidade econômica da empresa, como entendido por Campinho ao defender que o esforço para a superação da crise econômico-financeira é fruto de uma trabalho conjunto[footnoteRef:24]. [24: CAMPINHO, Sérgio. Falência e recuperação de empresa. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 129-130.] 
Ainda, Evandro Pontes[footnoteRef:25] defende trabalha com o entendimento de que o termo crise se referirá a uma situação passageira, sendo que está caraterização é o critério para verificar-se a viabilidade econômica real da empresa. [25: PONTES, Evandro Fernandes. Os credores, a empresa em crise e os efeitos da livre composição na Lei 11.101/2005. Revista de Direito Empresarial (RT), vol. 11/2015, 2015. p.303-353, especialmente na p. 310. ] 
Assim, como já visto, considerando que a crise representará um estado atual ou presente de incertezas, podemos suavemente fazer um paralelo com a lei de recuperação judicial, pois como se depreende do art. 61 da LRF, o prazo esperado para a duração da situação recuperatória é de dois anos a contar da homologação do plano de recuperação judicial aprovado. 
Tem se, portanto, que da ótica jurídica o termo crise econômica financeira remete a uma situação transitória para a empresa que se socorre do instituto da recuperação judicial. Não devendo o vocábulo ser entendido como algo negativo, mas sim um fato, pois como se denota do art. 51[footnoteRef:26] de mesmo diploma, o empresário ou a sociedade empresária ao requerer o deferimento do processamento de seu pedido precisa esclarecer especificamente as causas da “crise”, Manoel Justino Bezerra significa dizer que: [26: Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira; II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção; III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente; IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento. (BRASIL, 2005)] 
“A recuperação judicial destina-se às empresas que estejam em situação de crise econômico-financeira, com possibilidade, porém, de superação, pois aquelas em tal estado, porém em crise de natureza insuperável, devem ter sua falência decretada, até para que não se tornem elemento de perturbação do bom andamento das relações econômicas do mercado”.[footnoteRef:27] [27: BEZERRA Filho, Manoel Justino. Lei de Recuperação de Empresas e Falências comentada. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 136] 
	Ulhôa complementa o entendimento esposa acima, ao tipificar três possíveis natureza para a crise enfrentada pelo devedor. O autor sustenta que a crise poderá ser econômica, patrimonial ou financeira, como se vê:
“Por crise econômica deve-se entender a retração considerável bis negócios desenvolvidos pela sociedade empresária. (...) A crise financeira revela-se quando a sociedade empresária não tem caixa para honrar seus compromissos. (...). Por fim, a crise empresarial é a insolvência, isto é, a insuficiência de bens no ativo para atenderà satisfação do passivo. ”[footnoteRef:28] [28: COELHO, Fábio Ulhôa. Comentários à Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 13 ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. p.63-65.] 
O reforço necessário do ponto de vista econômico que não pode ser afastado, pois, está diretamente conectado com o tempo, a forma e a efetividade da recuperação judicial requerida pelo devedor, sendo que esta análise deverá ser feita tanto pelo juízo quanto pelos credores no sentido de verificar a viabilidade da empresa em se recuperar.
Assim, o que se depreende do termo crise, é a demonstração de situação adversa que seja alterável e pontual, devendo ser comprovada pela empresa a sua capacidade de superação desse estado através da continuidade de suas atividades e renegociação de suas dívidas.
1.3. Natureza jurídica do Plano de Recuperação Judicial
Como explorado no tópico anterior o requisito crucial para que uma empresa se utilize do instrumento legal da recuperação judicial, é a sua capacidade em demonstrar viabilidade econômica perante o Juízo no momento do pedido de processamento e, novamente em momento subsequente aos credores através de seu Plano de Recuperação Judicial. Isso deixa evidente que a situação de crise deverá se tratar de um cenário passageiro, do qual a empresa através da continuidade de suas atividades conseguirá superar.
Assim, o documento que deverá demonstrar a viabilidade econômica da empresa é o Plano de Recuperação Judicial, ele está disciplinado no artigo 53 da Lei 11.101/05, que dispõe que a empresa recuperanda terá 60 dias a contar do deferimento do processamento de seu pedido para apresentar proposta aos seus credores, devendo conter: “I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, II – demonstração de sua viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada”.
O que se depreende, portanto, dos artigos 53[footnoteRef:29] e 55[footnoteRef:30] da LRF é que a empresa ao requerer o processamento de sua recuperação judicial, terá sua viabilidade econômica financeira analisada pelos credores, que na hipótese de concordância ou discordância, terão o poder de decidir se a empresa continua em seu processo de recuperação ou se é convolada em falência. [29: Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em falência, e deverá conter:I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo;II – demonstração de sua viabilidade econômica; e III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo para a manifestação de eventuais objeções, observado o art. 55 desta Lei.] [30: Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei.Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o caput deste artigo, não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53, parágrafo único, desta Lei, contar-se-á da publicação deste o prazo para as objeções.] 
Sérgio Campinho[footnoteRef:31] sobressalta que o instituto da recuperação judicial deve ser visto com a natureza de um contrato judicial, com feição novativa, realizável através de um plano de recuperação, obedecidas, por parte do devedor, determinadas condições de ordens objetiva e subjetiva para sua implementação e sucesso. [31: CAMPINHO, Sérgio. Falência e recuperação de empresa. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2018, p. 32-33.] 
Em mesmo sentido se posiciona Vaz[footnoteRef:32], ao sustentar que o Plano de Recuperação Judicial possui caráter exclusivamente negocial entre a Recuperanda e seus credores, para ela isso significará dizer que a atuação jurisdicional será necessária para “a conformação de um ambiente negocial mais equilibrado”. [32: VAZ, Janaina Campos Mesquita. Recuperação judicial de empresas: atuação do juiz. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016, p. 36. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2132/tde-17062016-190654/pt-br.php>. Acesso em: 1 nov. 2019] 
Daniela Piha, em seu artigo “A natureza negocial do Plano de Recuperação Judicial”, ainda ressalta que a natureza negocial do Plano de Recuperação Judicial é sustentada por cumprir com todos os requisitos esculpidos no art. 104 do Código Civil[footnoteRef:33], como se vê: [33: Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei. (BRASIL, 2002).] 
“(...). Trata-se, no entanto, de negócio jurídico específico, porquanto inserido no ambiente da recuperação judicial, instituto dotado de inegável viés público. Em outras palavras, o plano de recuperação extrapola a simples função de renegociar o débito de uma empresa em crise e apresentar um novo plano de pagamento para os seus credores. A renegociação visa a preservar tanto a atividade empresarial, como a manutenção de empregos, a fim de que o empresário possa cumprir a sua função social.[footnoteRef:34] [34: PIHA, Daniela. A natureza negocial do plano de recuperação judicial. 2017. 43 f. Tese (Especialização) - Curso de Direito, Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, São Paulo, 2017. Pág. 38.] 
Conclui-se, portanto, que a natureza do Plano de Recuperação Judicial é de negócio jurídico, haja vista que há bilateralidade e sinalagma na relação jurídica estabelecida entre as partes, bem como cumpre com os requisitos estabelecidos no Código Civil para a configuração de um negócio jurídico.
1.3.3. A novação no Plano de Recuperação Judicial 
Cumpre dizer, ainda, que além de todo o exposto o Plano de Recuperação Judicial ao entabular um novo contrato entre as partes, opera uma novação nas declarações anteriormente estabelecidas no contrato individual de cada credor. 
A Lei 11.101/2005 inovou ao instituir uma nova forma de novação no ordenamento jurídico brasileiro, que através do seu art. 61, 62 e 63 cria um microssistema pós recuperação judicial que visa garantir tanto o cumprimento integral do Plano aprovado, quanto a possibilidade de efetiva execução na hipótese de inadimplemento.
Como se depreende de conteúdo da lei supracitada, os referidos artigos dispõem que a respeito da consequência da aprovação do plano sobre os credores sujeitos aos efeitos da recuperação judicial, estabelecendo a possibilidade da novação de caráter especial. Essa especialidade inicia com a ressalva do caput ao fazer constar a expressão “sem prejuízo das garantias”, e em seguida estabelecer que a nova natureza jurídica daquelas obrigações passa a ser de título executivo judicial.[footnoteRef:35] [35: GONÇALVES, Oksandro. O aval na recuperação judicial. Revista de Direito Recuperacional e Empresa (RT Online), vol. 9, jul. – set. 2018. p. 10. ] 
Essa novação é considerada sui generis, pois diferentemente da prevista no Código Civil, a Novação operada na Lei 11.101/05 permite que os credores se mantenham com as garantias dadas na pactuação original, que nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho, significará dizer que “ as novações, alterações e renegociações realizadas no âmbito da recuperação judicial são sempre condicionais, quer dizer, valem e são eficaz somente com o sucesso do Plano implementado”[footnoteRef:36]. [36: COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 13 ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. p.248-249.] 
Assim, considerando que o Plano de Recuperação Judicial opera “novo” negóciojurídico entre as partes através da Novação sui generis criada pela Lei 11.101/05, e ainda, que esta configura título executivo passível de execução caso o Plano não seja devidamente cumprido, é evidente que se trata de real acordo entabulado entre as partes.
1.4. Poderes dos credores diante o plano apresentado
O artigo 39[footnoteRef:37] da LRF estabelece que o requisito necessário para que o credor tenha direito de voto em sede de Assembleia é estar arrolado ao mínimo em um dos quadros gerais de credores apresentados em juízo, seja o apresentado pelo devedor no momento do pedido, seja o apresentado pelo Administrador quando de sua análise. [37: Art. 39. Terão direito a voto na assembleia-geral as pessoas arroladas no quadro-geral de credores ou, na sua falta, na relação de credores apresentada pelo administrador judicial na forma do art. 7º, § 2º, desta Lei, ou, ainda, na falta desta, na relação apresentada pelo próprio devedor nos termos dos arts. 51, incisos III e IV do caput, 99, inciso III do caput, ou 105, inciso II do caput, desta Lei, acrescidas, em qualquer caso, das que estejam habilitadas na data da realização da assembleia ou que tenham créditos admitidos ou alterados por decisão judicial, inclusive as que tenham obtido reserva de importâncias, observado o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 10 desta Lei. § 1º Não terão direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação os titulares de créditos excetuados na forma dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei. § 2º As deliberações da assembleia-geral não serão invalidadas em razão de posterior decisão judicial acerca da existência, quantificação ou classificação de créditos. § 3º No caso de posterior invalidação de deliberação da assembleia, ficam resguardados os direitos de terceiros de boa-fé, respondendo os credores que aprovarem a deliberação pelos prejuízos comprovados causados por dolo ou culpa (BRASIL,2005).] 
Ainda, possuem direito de voto os créditos daqueles que ao tempo da Assembleia já estejam devidamente Habilitados, sendo vedado expressamente pelo mesmo dispositivo a contabilização de votos dos credores beneficiados pela exceção do (§§ 3 e 4 do artigo 49)[footnoteRef:38], que são os créditos decorrente de contrato de câmbio e contratos com garantia em alienação fiduciária e, claro, os créditos dos sócios, sociedades coligadas, controladoras e controladas que eventualmente estejam submetidas aos efeitos da Recuperação Judicial. [38: Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.§ 1º Os credores do devedor em recuperação judicial conservam seus direitos e privilégios contra os coobrigados, fiadores e obrigados de regresso.§ 2º As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação judicial.§ 3º Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial. § 4º Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância a que se refere o inciso II do art. 86 desta Lei (BRASIL,2000).] 
Diante desse cenário considerando que a Lei impõe uma contabilização específica que concilia em seu critério a classe e o valor do crédito, antes de adentrar aos poderes dos credores é necessário elucidar como se dará a contabilização de cada voto.
A aprovação do plano de recuperação “demanda a obtenção de voto favorável”[footnoteRef:39] (i) da maioria simples dos credores por cabeça presentes à assembleia nas classes I e IV, respectivamente, titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho e dos credores titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte (art. 45, § 2º, LRF); e (ii) da maioria entre os credores titulares de créditos com garantia real e créditos quirografários (classes II e III) computados por volume de crédito e por cabeça dos presentes à assembleia (art. 45, § 1º, LRF)[footnoteRef:40]. [39: CORRÊA, Raphael Nehin. Voto abusivo do credor ou abuso de direito do devedor? Uma análise crítica sobre a preservação da empresa economicamente viável em contraponto à preservação dos interesses do empresário (acionista controlador). Revista de Direito Recuperacional e Empresa (RT online), vol. 6. 2017. p. 3.] [40: Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.§ 1º Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembléia e, cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.§ 2º Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes, independentemente do valor de seu crédito.§ 3º O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de verificação de quorum de deliberação se o plano de recuperação judicial não alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito. (BRASIL,2005)] 
Na hipótese desse quórum não ser atingido ainda há a possibilidade de aprovação do Plano de Recuperação Judicial pelo denominado Cram Down, previsto no artigo 58 §1[footnoteRef:41], desde que atendido os requisitos impostos pelo dispositivo citado. [41: Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei. § 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia, tenha obtido, de forma cumulativa: I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembléia, independentemente de classes; II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas; III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei. (BRASIL, 2005).] 
	Vaz[footnoteRef:42] explica que instituto do Cram Down é “instrumento judicial de superação de veto de uma classe, cuja a consequência é a aprovação forçada de plano que tenha sido rejeitado em Assembleia Geral de Credores”. [42: VAZ, Janaina Campos Mesquita. Recuperação judicial de empresas: atuação do juiz. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, São Paulo, p.99, 2016.] 
Neste tocante, necessário ressaltar que a decisão pela aplicação ou não do Cram Down é exclusivamente[footnoteRef:43] do juízo recuperacional que deverá analisar não só o atendimento dos requisitos do artigo supracitado mas também outras questões atinentes ao desenvolvimento viável da Recuperação Judicial. [43: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial: REsp – 1337989 SP. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Jusbrasil. 04 jun. 2018. Disponível em:<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/595923428/recurso-especial-resp-1337989-sp-2011-0269578-5/inteiro-teor-595923431?ref=juris-tabs>. Acesso em: 10 nov. 2019. Ementa: RECURSO ESPECIAL. DIREITO EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PLANO. APROVAÇÃO JUDICIAL. CRAM DOWN. REQUISITOS DO ART. 58, § 1º, DA LEI 11.101/2005. EXCEPCIONAL MITIGAÇÃO. POSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. 1. A Lei nº 11.101/2005, com o intuito de evitar o "abuso da minoria" ou de "posições individualistas" sobre o interesse da sociedade na superação do regime de crise empresarial, previu, no § 1º do artigo 58, mecanismo que autoriza ao magistrado a concessão da recuperação judicial, mesmo que contra decisão assemblear. 2. A aprovação do plano pelo juízo não pode estabelecer tratamento diferenciado entre os credores da classe que o rejeitou, devendo manter tratamento uniforme nesta relação horizontal, conforme exigência expressa do § 2º do art. 58. 3. O microssistema recuperacional concebe a imposição da aprovação judicial do plano de recuperação, desde que presentes, de forma cumulativa, os requisitos da norma, sendo que, em relação ao inciso III, por se tratar da classe com garantia real, exige a lei dupla contagem para o atingimento do quórum de 1/3 - por crédito e por cabeça -, na dicção do art. 41 c/c 45 da LREF. 4. No caso, foram preenchidos os requisitos dos incisos I e II do art. 58 e, no tocante ao inciso III, o plano obteve aprovação qualitativa em relação aos credores com garantia real, haja vista que recepcionado por mais da metade dos valores dos créditos pertencentes aos credores presentes, pois "presentes 3 credores dessa classe o plano foi recepcionado por um deles, cujo crédito perfez a quantia de R$ 3.324.312,50, representando 97,46376% do total dos créditos da classe, considerando os credores presentes" (fl. 130). Contudo, não alcançou a maioria quantitativa, já que recebeu a aprovação por cabeça de apenas um credor, apesar de quase ter atingido o quórum qualificado (obteve voto de 1/3 dos presentes, sendo que a lei exige"mais"de 1/3). Ademais, a recuperação judicial foi aprovada em 15/05/2009, estando o processo em pleno andamento. 5. Assim, visando evitar eventual abuso do direito de voto, justamente no momento de superação de crise, é que deve agir o magistrado com sensibilidade na verificação dos requisitos do cram down, preferindo um exame pautado pelo princípio da preservação da empresa, optando, muitas vezes, pela sua flexibilização, especialmente quando somente um credor domina a deliberação de forma absoluta, sobrepondo-se àquilo que parece ser o interesse da comunhão de credores. 6. Recurso especial não provido.] 
Como exposto, em regra, a aprovação do Plano de Recuperação Judicial sempre se dará pela aprovação em Assembleia Geral de Credores, nesse sentido cristalizou o Superior Tribunal de Justiça[footnoteRef:44][footnoteRef:45][footnoteRef:46][footnoteRef:47] ao pronunciar que “A assembleia de credores é soberana em suas decisões quanto aos planos de recuperação judicial”, havendo a ressalva que, “as deliberações do plano estão sujeitas aos requisitos de validade dos atos jurídicos em geral, que estão sujeitos a controle judicial” [44: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial: REsp - 1532943 MT. Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze. Portal Justiça. 03 set. 2016. Disponível em: <https://www.portaljustica.com.br/acordao/1916604>. Acesso em: 2 nov. 2019. Ementa: RECURSO ESPECIAL. CONTROLE JUDICIAL DE LEGALIDADE DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL APROVADO PELA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. POSSIBILIDADE, EM TESE. PREVISÃO DE SUPRESSÃO DAS GARANTIAS FIDEJUSSÓRIAS E REAIS NO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL DEVIDAMENTE APROVADO PELA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. VINCULAÇÃO, POR CONSEGUINTE, DA DEVEDORA E DE TODOS OS CREDORES, INDISTINTAMENTE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de legalidade do plano de recuperação judicial que, em si, em nada contemporiza a soberania da assembleia geral de credores. A atribuição de cada qual não se confunde. À assembleia geral de credores compete analisar, a um só tempo, a viabilidade econômica da empresa, assim como da consecução da proposta apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela validade das manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar os efeitos legais das normas que se revelarem cogentes. 2. A extinção das obrigações, decorrente da homologação do plano de recuperação judicial encontra-se condicionada ao efetivo cumprimento de seus termos. Não implementada a aludida condição resolutiva, por expressa disposição legal, "os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originariamente contratadas" (art. 61, § 2º, da Lei n. 11.101/2005). 2.1 Em regra, a despeito da novação operada pela recuperação judicial, preservam-se as garantias, no que alude à possibilidade de seu titular exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impor a manutenção das ações e execuções promovidas contra fiadores, avalistas ou coobrigados em geral, a exceção do sócio com responsabilidade ilimitada e solidária (§ 1º, do art. 49 da Lei n. 11.101/2005). E, especificamente sobre as garantias reais, estas somente poderão ser supridas ou substituídas, por ocasião de sua alienação, mediante expressa anuência do credor titular de tal garantia, nos termos do § 1º do art. 50 da referida lei. 2.2 Conservadas, em princípio, as condições originariamente contratadas, no que se insere as garantias ajustadas, a lei de regência prevê, expressamente, a possibilidade de o plano de recuperação judicial, sobre elas, dispor de modo diverso (§ 2º, do art. 49 da Lei n. 11.101/2009). 3. Inadequado, pois, restringir a supressão das garantias reais e fidejussórias, tal como previsto no plano de recuperação judicial aprovado pela assembleia geral, somente aos credores que tenham votado favoravelmente nesse sentido, conferindo tratamento diferenciado aos demais credores da mesma classe, em manifesta contrariedade à deliberação majoritária. 3.1 Por ocasião da deliberação do plano de recuperação apresentado, credores, representados por sua respectiva classe, e devedora procedem às tratativas negociais destinadas a adequar os interesses contrapostos, bem avaliando em que extensão de esforços e renúncias estariam dispostos a suportar, no intento de reduzir os prejuízos que se avizinham (sob a perspectiva dos credores), bem como de permitir a reestruturação da empresa em crise (sob o enfoque da devedora). E, de modo a permitir que os credores ostentem adequada representação, seja para instauração da assembléia geral, seja para a aprovação do plano de recuperação judicial, a lei de regência estabelece, nos arts. 37 e 45, o respectivo quorum mínimo. 4. Na hipótese dos autos, a supressão das garantias real e fidejussórias restou estampada expressamente no plano de recuperação judicial, que contou com a aprovação dos credores devidamente representados pelas respectivas classes (providência, portanto, que converge, numa ponderação de valores, com os interesses destes majoritariamente), o que importa, reflexamente, na observância do § 1º do art. 50 da Lei n. 11.101/2005, e, principalmente, na vinculação de todos os credores, indistintamente. 5. Recurso especial provido.] [45: Ibid. 2017a.] [46: Ibid. 2017b.] [47: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial: REsp – 1634844 SP. Relator: Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva. 12 março 2019. Disponível em: < https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=CONTROLE+JUDICIAL+DE+LEGALIDADE+DO+PLANO+DE+RECUPERA%C7%C3O+JUDICIAL+APROVADO+PELA+ASSEMBLEIA+GERAL+DE+CREDORES&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 10 nov. 2019. Ementa: RECURSO ESPECIAL. EMPRESARIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PARIDADE. CREDORES. CRIAÇÃO. SUBCLASSES. PLANO DE RECUPERAÇÃO. POSSIBILIDADE. PARÂMETROS. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código deProcesso Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a definir se é possível a criação de subclasses de credores dentro de uma mesma classe no plano de recuperação judicial. 3. Em regra, a deliberação da assembleia de credores é soberana, reconhecendo-se aos credores, diante da apresentação de laudo econômico-financeiro e de demonstrativos e pareceres acerca da viabilidade da empresa, o poder de decidir pela conveniência de se submeter ao plano de recuperação judicial ou pela realização do ativo com a decretação da quebra, o que decorre da rejeição da proposta. A interferência do magistrado fica restrita ao controle de legalidade do ato jurídico. Precedentes. 4. A Lei de Recuperação de Empresas e Falências consagra o princípio da paridade entre credores. Apesar de se tratar de um princípio norteador da falência, seus reflexos se irradiam na recuperação judicial, permitindo o controle de legalidade do plano de recuperação sob essa perspectiva. 5. A criação de subclasses entre os credores da recuperação judicial é possível desde que seja estabelecido um critério objetivo, justificado no plano de recuperação judicial, abrangendo credores com interesses homogêneos, ficando vedada a estipulação de descontos que impliquem verdadeira anulação de direitos de eventuais credores isolados ou minoritários. 6. Na hipótese, ficou estabelecida uma distinção entre os credores quirografários, reconhecendo-se benefícios aos fornecedores de insumos essenciais ao funcionamento da empresa, prerrogativa baseada em critério objetivo e justificada no plano aprovado pela assembleia geral de credores. 7. A aplicação do cram down exige que o plano de recuperação judicial não implique concessão de tratamento diferenciado entre os credores de uma mesma classe que tenham rejeitado a proposta, hipótese da qual não se cogita no presente caso. 8. Recurso especial não provido.] 
Ainda, para Walfrido e Pereira[footnoteRef:48] o papel dos credores em sede de Assembleia é importantíssima, pois só dessa forma será possível dimensionar a extensão das dívidas e as reais possibilidades da empresa adimplir com os credores na medida em que consta na proposta, veja-se: [48: WARDE JUNIOR, Walfrido Jorge; PEREIRA, Guilherme Setoguti Julio. Um falso combate – discricionariedade da assembleia geral de credores por oposição aos poderes do juiz no escrutínio do plano de recuperação judicial. Revista dos Tribunais, nº 951, ano 104, janeiro de 2015, São Paulo, p. 445-457, especialmente na p. 453.] 
“Não há dúvida de que os credores têm, em geral, mais acesso à informação necessária à realização de um juízo sobre o plano de recuperação, quer porque, via de regra, alguns estão acostumados com o dia-a-dia empresarial e, portanto, detêm os conhecimentos necessários para realizar uma análise profissional da proposta, quer porque, mesmo não sendo profissionais de mercado, conhecem melhor do que o juiz os interesses envolvidos e, sobretudo, o compassamento do plano às suas necessidades particulares. Os credores teriam, nesse contexto, mais instrumentos cognitivos e incentivos para resolver o problema da forma mais eficiente possível.” [footnoteRef:49] [49: ] 
O que se extrai, portanto, é que a soberania dos credores deve ser preservada no que tange ao mérito do plano – mantendo-se a decisão de mercado quanto à solução para superação da crise da empresa devedora, ao passo que o critério utilizado pelo juiz em sua análise deve garantir a higidez da decisão dos credores e a compatibilidade dessa decisão com os fins sociais do processo de recuperação judicial.
2. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA ATUAÇÃO JURISDICIONAL NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO
Uma vez traçada visão da natureza jurídica do plano de recuperação judicial, bem como breve panorama jurídico e histórico da Lei 11.101/05, passa-se ao desenvolvimento da questão central do trabalho: os poderes do juiz em sua atuação no momento da homologação do plano de recuperação judicial aprovado.
Dessa forma, para que seja possível analisar o cerne da questão é necessário que se faça uma análise acerca dos princípios conectados a atuação do juiz dentro do âmbito processual. Para tanto irá ser analisado em primeiro plano os princípios constitucionais que guardam relação com o desenvolvimento processual e, em um segundo momento os princípios previstos no Código de Processo Civil, haja vista que o procedimento recuperacional ocorre perante o crivo judicial.[footnoteRef:50] [50: Art. 3º É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. (BRASIL, 2005).] 
2.1. Princípios Constitucionais
Inicia-se a análise pelo princípio do devido processo legal, que se encontra previsto no art. 5º, LIV da Carta Magna, que dispõe: “Ninguém será privado da liberdade ou seus bens sem o devido processo legal”, esta premissa é a base de diversos desdobramentos de outros princípios que irão balizar a atuação do Estado-juiz. 
Em estudo realizado por Castro, o acesso à justiça (exercício do direito de ação e do direito de defesa) e ao devido processo legal são as vertentes principiológicas que flui o direito à ordem jurídica justa, de modo que para o Estado-juiz ser capaz de atuar de forma que efetive com igualdade o acesso à justiça, é necessário que seja obedecido o modelo garantista previsto na Constituição Federal, pois o modelo de garantias formado pela Constituição Federal possui coercitivade e efetividade suficiente para dirigir a atuação dos magistrados, como se vê:
“(...)o que se extrai da própria síntese da consagração do princípio do devido processo legal como cláusula pétrea. Daí porque não faz sentido dizer que o aumento dos poderes do juiz, notadamente os poderes instrutórios, venha causar temor, a ponto de beirar o autoritarismo, ou que possa dar vazão ao exercício de condutas arbitrárias e teratológicas. Isso porque o próprio sistema, na Constituição Federal, consagra uma série de princípios que devem ser observados e obedecidos rigidamente pelo magistrado, e esses postulados nortes darão o mínimo de segurança para que se materialize um processo civil de índole democrática e regulado sob o manto de proteção de garantias fundamentais que se projetam no plano processual. Portanto, eventuais exageros ou arbitrariedades cometidas pelo juiz sujeitam-se ao controle jurisdicional, cuja ofensa, por si só, viola as garantias processuais constitucionais.”[footnoteRef:51] [51: CASTRO, Daniel Penteado de. Contribuições ao estudo dos poderes instrutórios do juiz no processo civil: fundamentos, interpretação e dinâmica. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Processual) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010, p. 179. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2137/tde-06072011 095806/publico/DissertacaoDanielPenteadodeCastro.pdf>. Acesso em: 25 mai. 2019] 
 Nesse sentido também entende a Professora Teresa Arruda Alvim[footnoteRef:52] ao dizer que “ é necessário o refinamento da compreensão do sistema de que dispomos para o controle da adequabilidade das decisões judiciais ao ordenamento jurídico”, a fim de que a prestação jurisdicional seja a mais adequada ao caso concreto. [52: ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos tribunais dos superiores no direito brasileiro. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 30.] 
Dessa maneira a conclusão que se extrai do entendimento dos autores acerca da aplicação do princípio constitucional do devido processo legal na atuação jurisdicional é que esta deve ser pautada de maneira que atenda a formalidade processual de cada procedimento de forma compatível e eficaz ao direito tutelado.
2.2. Princípios do Código de Processo Civil 
Partindo dessa premissa, passa-se a analisar os princípios presentes no Código de Processo Civil que norteiam a atuação do juiz dentrode qualquer processo.
A lei 13.105/15 que disciplina o processo civil brasileiro inovou em vários aspectos, sendo um deles os seus princípios, diferentemente da sistemática do código de 1973 a atuação do juiz não é mais vista puramente como algo a ser provocada, não cabendo exclusivamente as partes a demonstração de seus interesses, mas também ao juiz como parte da relação processual a busca pela verdade dos fatos na tentativa de melhor aplicação da justiça[footnoteRef:53]. [53: CÂMARA, Alexandre Freitas. Novo CPC ampliou sobremaneira os poderes do juiz. Conjur, 2017. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-jun-23/alexandre-freitas-camara-cpc-ampliou-poderes-juiz>. Acessado em: 20 de novembro de 2019.] 
O artigo sexto[footnoteRef:54] do diploma supracitado faz menção expressa de que todos os sujeitos que compõem o processo deverão cooperar entre si, sendo, portanto, o juiz uma das partes que forma a relação processual, é evidente que o referido princípio também se opera no âmbito da cooperação judicial no processo de recuperação judicial. [54: Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva (BRASIL, 2015).] 
Nelson Nery Junior e Maria Nery[footnoteRef:55] ao defenderem que a cooperação judicial vai além dos sujeitos do processo se estendendo aos “mandatários e funcionários da justiça no que lhe for cabível” que a prestação judicial cooperativa vai além da atuação do juiz, abrangendo o sistema judiciário como um todo. [55: NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado. Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 21.] 
Podemos notar que a cooperação como princípio na atuação judicial necessita estar presente em todos os procedimentos, não obstante o Legislador fez por bem em repetir no art. 69 §2[footnoteRef:56] do Código de Processo Civil que a cooperação judicial deverá se dar também no âmbito das habilitações e impugnações de crédito no processo recuperacional. [56: Art. 69. O pedido de cooperação jurisdicional deve ser prontamente atendido, prescinde de forma específica e pode ser executado como: § 2º Os atos concertados entre os juízes cooperantes poderão consistir, além de outros, no estabelecimento de procedimento para: V- a facilitação de habilitação de créditos na falência e na recuperação judicial (BRASIL,2015).] 
Ademais, também são princípios do Código de Processo Civil que norteiam a atuação do juiz, o princípio[footnoteRef:57] da busca pela verdade dos fatos, da efetividade e da eficiência do processo[footnoteRef:58]. [57: Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa (BRASIL, 2015).] [58: Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência (BRASIL, 2015).] 
O princípio da efetividade busca atender a celeridade processual que está diretamente conectada a necessidade que os sujeitos têm em ter sua prestação atendida, no procedimento da recuperação judicial o tempo é um fator crucial para o sucesso da empresa em seu pedido, assim o atendimento ao princípio da efetividade mais do que nunca se encontra extremamente subjugado ao tempo em que a prestação jurisdicional ocorre[footnoteRef:59]. [59: NETO, Elias Marques de Medeiros. O STJ e o princípio da efetividade. Migalhas, 2019. <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI301643,91041O+STJ+e+o+principio+da+efetividade>. Acessado em: 20 de novembro de 2019.] 
Assim se alinharmos os princípios constitucionais analisados, bem como os princípios presentes no Código de Processo Civil para a atuação do juiz iremos chegar à conclusão que a atuação jurisdicional deve se dar na medida exata da necessidade dos sujeitos de terem um bem juridicamente relevante tutelado, uma vez que a atuação judicial deve, ao mesmo tempo, preservar as garantias constitucionais, através da legalidade do procedimento específico, qual seja o pedido de recuperação judicial, sem afastar os princípios do processo civil.
2.3. Poderes do juiz na recuperação judicial
Como exposto no tópico anterior a atuação do juiz em todo procedimento de caráter judicial deverá ser pautado nos princípios norteadores do Código de Processo Civil e da Constituição Federal. 
Ademais, considerando que a análise do presente estudo se dá no âmbito da Lei 11.101/05, é necessário que se analise a prestação jurisdicional dentro do microssistema criado pelo pedido de recuperação judicial, pautada nos princípios já elencados, de modo que se coadunem aos princípios esculpidos na lei de recuperação judicial e falência, que como já exposto no primeiro capítulo são: a função social da empresa, preservação da atividade empresarial, manutenção da fonte produtora e, interesse público. 
Assim utilizando-se como base a divisão extraída de entendimento formado em análise ao trabalho realizo por VAZ em sua tese de mestrado, iremos nos debruçar em analisar três dos principais atos judiciais do magistrado dentro do processo de recuperação judicial, nos quais poderemos vislumbrar a aplicabilidade dos princípios supracitados em sua atuação. O primeiro ato: decisão de deferimento do processamento da recuperação judicial, o segundo ato: decisão de homologação do plano de recuperação judicial, este sendo o cerne do presente trabalho, será mais profundamente explorado no próximo tópico e, o terceiro ato: sentença de encerramento da recuperação judicial.
2.3.1. Deferimento do Processamento da Recuperação Judicial 
Conforme esposado acima, a organização desta exposição foi baseada no estudo realizado pela exímia Dra. Janaína Vaz, sendo que através do seu trabalho foi possível chegar até os autores José Miguel Garcia Medina e Samuel Hubler[footnoteRef:60], que defendem que a atuação do juiz no processo recuperacional não é meramente formal, com a checagem do preenchimento dos requisitos de maneira taxativa, pois, sendo o pedido de recuperação um processo como qualquer outro, cabe ao juiz realizar juízo de admissibilidade com a verificação dos pressupostos processuais para preenchimento do direito ação. [60: MEDINA, José Miguel Garcia, HUBLER. Samuel, Juízo de admissibilidade da ação de recuperação judicial – Exposição das razões da crise econômico-financeira e demonstração perfunctória da viabilidade econômica. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais, Editora RT, ano 2017, volume 63, jan. p. 131-147, especialmente na p. 135.] 
Manoel Bezerra em manifestação acerca do tema, cristalizou com maestria o entendimento de que:
“Este tipo de interpretação, aliás, é previsto especificamente pela própria LREF, como se pode ver da leitura do art. 126. Tal artigo embora no capítulo relativo à falência, ainda assim faz parte da lei que cuida de ambos os institutos e pode, portanto, ser aproveitado também para o caso de recuperação judicial. Estabelece que tal artigo que se não houver regulação expressa na lei para determinada situação, o juiz decidirá o caso à luz da unidade, da universalidade, do concurso e da igualdade de tratamento. Ou seja, estabeleceu a lei aqui uma cláusula aberta ou cláusula geral, por meio da qual permite ao juiz uma acentuada elasticidade na aplicação da lei, quando não houver norma clara a respeito.”[footnoteRef:61] [61: JUSTINO, Manoel Bezerra Filho. Lei de Recuperação de Empresas e Falência: Lei 11.101/05 comentada. Editora Revista dos Tribunais. São Paulo, 2018, p. 221.] 
Daniel Cárnio Costa, juiz da 1ª vara cível especializada de falência e recuperação judicial na capital de São Paulo, defende que apesar de não haver previsão legal que determine a realização de perícia prévia, ainda é dever do juiz em requerê-la, como se vê:
“É evidente que o juiz não pode exercer uma conduta meramente formal, fazendo apenas um check list da documentação apresentada pela devedora, mas deve analisaro seu conteúdo a fim de aferir a eventual e patente inviabilidade da empresa. É certo, também, que são os credores os maiores interessados na análise das condições da empresa, a fim de que tenham subsídios para analisar o plano de recuperação que será apresentado pela devedora. Todavia, também é certo que a recuperação judicial é um instituto aplicável apenas para empresas viáveis, a fim de que a manutenção da atividade empresarial possa fazer gerar os benefícios sociais e econômicos que são decorrentes do exercício dessa atividade. Se não é possível aferir a viabilidade da empresa nesse momento inicial, pode ser possível aferir-se, ao contrário, a sua evidente inviabilidade. Essa deve ser a preocupação do juiz nesse momento inicial.”[footnoteRef:62] [62: COSTA, Daniel Carnio. Reflexões sobre processo de insolvência: divisão equilibrada de ônus, superação do dualismo pendular e gestão democrática de processos, Cadernos Jurídicos, v. 16, n. 39. Escola Paulista da Magistratura (EPM): São Paulo, p. 59.77, jan. / mar. 2015.p. 59-77. Disponível em:<http://www.tjsp.jus.br/download/EPM/Publicacoes/CadernosJuridicos/37de%2004.pdf?d=636688261614679211>. Acessado em: 20 nov. 2019.] 
Ainda, para o mesmo autor a análise mais profunda dos documentos contábeis apresentados é necessária para a aferimento do juiz acerca da situação da empresa, pois, o simples preenchimento dos requisitos não comprova a viabilidade econômica, como explorado no tópico 1.2 necessária para o deferimento do pedido formulado:
“Não seria razoável que o juiz deferisse o processamento da recuperação judicial, blindando o patrimônio dessa empresa em relação aos seus credores, se já é possível concluir desde logo que não será possível a divisão equilibrada de ônus e que não serão obtidos os benéficos resultados sociais e econômicos decorrentes da atividade empresarial..”[footnoteRef:63] [63: COSTA, Daniel Carnio. Ops. Cit.] 
Para Costa[footnoteRef:64], a perícia prévia ao deferimento do processamento se trata de postura necessária para a atuação jurisdicional justa, pautada nos princípios supra mencionados, para ele tal fato se comprova na medida em que 81,7% dos pedidos que tramitaram em sua vara obtiveram sucesso, em razão da perícia realizada que comprovou a real viabilidade econômica das empresas que possuem capacidade de assumir com ônus em mesma proporção que seus credores. [64: COSTA, Daniel Carnio. O critério tetrafásico de controle judicial do plano de recuperação judicial. Migalhas. 24 out. 2017. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/InsolvenciaemFoco/121,MI267199,41046O+criterio+tetrafasico+de+controle+judicial+do+plano+de+recuperacao>. Acesso em: 11 nov. 2019.] 
Conclui-se, portanto, que apesar da Lei 11.101/05 não fazer nenhuma menção quanto a atuação do juiz no âmbito da análise de admissibilidade, o entendimento sistematizado do ordenamento que tem sido aplicado e compreendido pelos doutrinadores especializados é no sentido positivo de aplicar os princípios da lei de recuperação judicial e falência conjugado aos princípios do Código de Processo Civil.
2.3.2. A Homologação do Plano de Recuperação Judicial
Assim, passa-se para análise do segundo ato processual a ser analisado: a homologação do Plano de Recuperação Judicial, momento crucial ao devedor, pois, como se depreende do art. 55[footnoteRef:65] e 56[footnoteRef:66] da LRF, o plano ao ser apresentado aos credores deverá passar pela análise destes que não concordando poderão rejeitá-lo e, rejeitando-o convola a recuperação da empresa em falência. [65: Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei.Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o caput deste artigo, não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53, parágrafo único, desta Lei, contar-se-á da publicação deste o prazo para as objeções (BRASIL, 2005).] [66: Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz convocará a assembléia-geral de credores para deliberar sobre o plano de recuperação. § 1º A data designada para a realização da assembléia-geral não excederá 150 (cento e cinqüenta) dias contados do deferimento do processamento da recuperação judicial. § 2º A assembléia-geral que aprovar o plano de recuperação judicial poderá indicar os membros do Comitê de Credores, na forma do art. 26 desta Lei, se já não estiver constituído. § 3º O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na assembléia-geral, desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes (BRASIL, 2005).] 
Como já tratado no tópico 1.4 deste trabalho a homologação do Plano de Recuperação Judicial irá ocorrer após a convocação de Assembleia Geral de Credores, na qual os credores poderão opinar acerca do Plano apresentado, analisando a viabilidade deste e da empresa em cumprir com a proposta formulada.
	Sendo que como brilhantemente sintetizado por Medina e Hübler[footnoteRef:67], a viabilidade poderá ser verificada a partir da lógica recuperacional que é: [67: MEDINA, José Miguel Garcia, HUBLER. Samuel, Juízo de admissibilidade da ação de recuperação judicial – Exposição das razões da crise econômico-financeira e demonstração perfunctória da viabilidade econômica. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais (RT), ano 2017, volume 63, p. 131-147, especialmente em p. 141.
] 
A lógica primeira sob a qual se funda a recuperação judicial é a de que o custo social de preservação da empresa economicamente viável, em situação de crise econômico-financeira temporária, por meio de um regime especial de benefícios, é menor do que o custo social do encerramento de suas atividades.
No emblemático Recurso Especial n° 1359311/SP o Superior Tribunal de Justiça cristalizou o entendimento de que a viabilidade econômica financeira da empresa deve ser analisada pelos credores, uma vez que tal questão desrespeita a competência assemblear, em seu voto o Ministro Luis Felipe Salomão aduziu que: 
“Se é verdade que a intervenção judicial no quadrante mercadológico de uma empresa em crise visa tutelar interesses públicos relacionados à sua função social e à manutenção da fonte produtiva e dos postos de trabalho, não é menos certo que a recuperação judicial, com a aprovação do plano, desenvolve-se essencialmente por uma nova relação negocial estabelecida entre o devedor e os credores reunidos em assembleia. É exatamente por força deste cariz negocial do plano de recuperação que o crédito tributário a ele não se submete, porque não é possível, em linha de princípio, que a Fazenda Pública transacione seu direito público e indisponível, fazendo as vezes de credor particular.”[footnoteRef:68] [68: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial: REsp – 1.359.311 SP. Relator: Ministro Luis Felipe Salomão. Jusbrasil. 09 set. 2014. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/diarios/documentos/142376292/recurso-especial-n-1359311-sp-do-stj>. Acesso em: 2 nov. 2019. Ementa: ref. 26.] 
O posicionamento da Corte tem se mantido desta forma pelos últimos seis anos, que como se depreende edição número 37 de jurisprudência em tese restou-se cristalizado que:
“Embora o juiz não possa analisar os aspectos da viabilidade econômica da empresa, tem ele o dever de velar pela legalidade do plano de recuperação judicial, de modo a evitar que os credores aprovem pontos que estejam em desacordo com as normas legais”[footnoteRef:69] [69: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Jurisprudência em Tese número 37. Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/jt/toc.jsp> . Acessado em: 20 de novembro de 2019.] 
	Com base no entendimento do Superior Tribunal de Justiça, se denota que a atuação do juiz no momento da homologação do Plano de Recuperação Judicial será exclusivamente no sentido de operar um Controle de Legalidade no Plano de Recuperação Judicial, verificando-se

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