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1Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 2 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 3Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 3 Jomar Carvalho Filho Biólogo e Editor A Editorial Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 pós três anos e três meses à frente da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP), o Ministro José Fritsch se despede do cargo neste fi nal de março, ocasião em que passará a se dedicar inteiramente à sua campanha para o governo do Estado de Santa Catarina. Em janeiro de 2003, a criação da Secretaria e a nomeação de Fritsch, um nome até então desconhecido no universo aqüícola, foram as melhores notícias que circularam entre os aqüicultores, tendo sido recebidas e comemoradas com muito entusiasmo por todos nós. Afi nal, uma pasta com status de Ministério, passaria a divulgar a desconhecida palavra “Aqüicultura” para um público que jamais ouvira isso ou soubera o seu signifi cado. À frente da SEAP, a pasta comprometida com o aumento da produção de pescados, o discurso de Fritsch se caracterizou pela excessiva cautela no trato dos assuntos relacionados à aqüicultura, diferente- mente do seu entusiasmo tantas vezes demonstrado na abordagem de temas ligados ao setor pesqueiro. Seria porque Fritsch se sensibilizou mais com as fortes pressões da pesca, feitas por assíduos e calejados freqüentadores dos principais gabinetes da Esplanada dos Ministérios ou porque o tema vinha de encontro aos seus interesses nas urnas catarinenses? O fato é que nesses três últimos anos, fomos bombardeados por seguro-desemprego, novas carteiras gratuitas para pescador, pescarias de letras, arrendamentos, pró-frota e outras ações que certamente benefi ciaram a categoria dos pescadores, mas que em nada contribuíram para aumentar efetivamente as capturas das pescarias marinhas e continentais, que até diminuíram ao longo da sua gestão, segundo dados do IBAMA. Por outro lado, a excessiva cautela na abordagem dos temas aqüícolas levou Fritsch a fazer discursos previsíveis, sempre calcados na velha retórica da necessidade de se desenvolver uma aqüicultura sustentável, como se isso fosse algo novo para o setor, ou mesmo algo que necessitasse ser lembrado a todo o momento aos aqüicultores. Seus discursos, por vezes, se confundiram com puxões de orelhas, constrangendo mais do que estimulando o único setor produtivo capaz de aumentar de forma signifi cativa a produção de pescados nacional. O que se viu nesses três anos foi uma SEAP pressionada e acuada por ONG’s autodenominadas ambientalistas, que o levavam a não se posicionar claramente diante da carência de políticas de estímulo à produção de pescados via aqüicultura. A grande dúvida agora é quanto ao futuro da SEAP. Na pesca e na aqüicultura pouco se especula acerca da substituição de Fritsch e nenhum movimento tem sido visto para que a SEAP se transforme num Ministério, uma condição que parece estar atrelada apenas à reeleição do Presidente Lula. É curioso notar também que nada está sendo feito para que a condução das políticas aqüícolas volte a ser feita a partir de uma diretoria de um outro ministério, a exemplo do que foi o extinto Departamento de Pesca e Aqüicultura (DPA) do Ministério da Agricultura. A SEAP não conseguiu sequer, criar um quadro próprio de carreira. Seus atuais funcionários são cedidos de outras instituições e isso preocupa, na medida em que podem simples- mente voltar às suas origens e fi ngirem que a Secretaria nunca existiu. Seja lá qual for o seu futuro, fi caremos com algumas certezas: a de que a aqüicultura tem que se separar da pesca; que faltou um incentivo contundente para o cultivo de pescados no nosso País, diferentemente do Chile, como pode ser visto na matéria de capa dessa edição e, que os políticos passam e a aqüicultura segue o seu curso... A todos, uma boa leitura. 4 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 5Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 Edição 93– janeiro/fevereiro, 2006 Editor Chefe: Biólogo Jomar Carvalho Filho jomar@panoramadaaquicultura.com.br Jornalista Responsável: Solange Fonseca - MT23.828 Direção Comercial: Solange Fonseca publicidade@panoramadaaquicultura.com.br Colaboradores desta edição: Adalto Bianchini Alfredo Olivera Carlos Wurmann Donald V. Lightner Eduardo Gomes Sanches Helio Laubenheimer Itamar de Paiva Rocha Luís André Sampaio Luis Otávio Brito Marco Antonio Mathias Philip C. Scott Raul F. Marinheiro Neto Raúl Malvino Madrid Ricardo Berteaux Robaldo Thales Passos de Andrade Waleska Melo Costa Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores. Assinatura: Fernanda Carvalho Araújo e Daniela Dell’Armi assinatura@panoramadaaquicultura.com.br Para assinatura use o cupom encartado, visite www.panoramadaaquicultura.com.br ou envie e-mail. ASSINANTE - Você pode controlar, a cada edição, quantos exemplares ainda fazem parte da sua as si na tu ra. Basta conferir o número de créditos des cri to entre parênteses na etiqueta que endereça a sua revista. Números atrasados custam R$ 15,00 cada. Para adquiri-los entre em contato com a redação. Edições esgotadas: 01, 05, 09, 10, 11, 12, 14, 17, 18, 20, 21, 22, 24, 25, 26, 27, 29, 30,33, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 41, 44, 45, 59, 61, 62, 63, 65, 76, 77, 78, 79, 80, 81, 82, 83, 84, 85, 87, 88 Projeto Gráfi co: Leandro Aguiar leandro@panoramadaaquicultura.com.br Design & Editoração Eletrônica: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Impresso na SRG Gráfi ca & Editora Ltda. Os editores não respondem quanto a qua li da de dos serviços e produtos anunciados. A única publicação brasileira dedicada exclusivamente aos cultivos de organismos aquáticos Uma publicação Bimestral da: Panorama da AQÜICULTURA Ltda. Rua Mundo Novo, 822 # 101 22251-020 - Botafogo - RJ Tel: (21) 2553-1107 / Fax: (21) 2553-3487 www.panoramadaaquicultura.com.br revista@panoramadaaquicultura.com.br ISSN 1519-1141 Capa: Arte Panorama da Aqüicultura ...Pág 44 ...Pág 40 ...Pág 40 ...Pág 43 Í N D I C E ...Pág 35 ...Pág 39 ...Pág 43 ...Pág 06 ...Pág 03 ...Pág 14 ...Pág 25 ...Pág 10 SALMONICULTURA NO CHILE No Brasil, onde os resultados alcançados pela aqüicultura brasileira ainda estão longe de mostrar o seu potencial, muitos projetos aqüícolas defi nem estratégias que, mesmo parecendo novas, já foram intentadas ou comprovadas em outros países, com diferentes graus de êxito. Dado o estado atual da carcinicultura brasileira e a urgente necessidade de ter sua competitividade fortalecida, é interessante observar alguns aspectos do vigoroso desenvolvimento chileno no campo dos cultivos aqüícolas, particularmente com o salmão, e analisar sua eventual pertinência no caso brasileiro. Editorial Notícias & Negócios Notícias & Negócios on line Salmonicultura chilena: lições para o cultivo do camarão no Brasil Enfermidades da carcinicultura brasileira: métodos de diagnóstico e prevenção Importância da fertilização em viveiros de camarão marinho Carta do prof. do Instituto de Biociências da USP, Eurico Cabral de Oliveira Lançamento Editorial: Engenharia para Aqüicultura Lista dos encarregados pelo Licenciamento Ambiental está no site da Panorama Importação de larvas de ostras se assemelha a uma ópera bufa Pesquisador Brasileiro concorre a presidência da WAS Boas perspectivas para o cultivo de garoupa, meros e badejos no Brasil Reprodução do linguado A Doença do Caranguejo Letárgico LAQUASIG viabiliza o cultivo de camarões ornamentais marinhos Calendário Aqüícola ...Pág 52 ...Pág 41 ...Pág 59 ...Pág 66 6 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 AQUIVEST NA FENACAM – A Rodada In- ternacional de Negócios Aquivest 2006 Tecnologias e Benefi ciamentos Aplicados às Culturas de Pescados, promovida pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte, com apoio da Codevasf, acontecerá durante a FENACAM – Feira Nacional do Camarão, e tem como objetivo reunir empresários europeus e brasileirosem um seminário técnico e rodada de negócios, visando a abertura de novos mercados para os produtos do setor aqüicola brasileiro, em particular da carcinicultura e piscicultura. A Rodada de Negócios Aquivest conta com a colaboração das federações de indústrias do Ceará, Pernambuco, Pará e Santa Catarina, além do Promo Bahia, da própria CODEVASF, e de organizações da Espanha, Itália e França, que estarão enviando empresários interessados em oferecer e adquirir produ- tos da aqüicultura e da pesca, insumos e tecnologias para o setor. A agenda de reu- niões de cada participante é elaborada com antecipação, de acordo com o seu perfi l e as suas expectativas de negócios. Caso sejam necessários, serviços de tradução são ofere- cidos gratuitamente. Podem participar dos encontros os pequenos e médios produtores e empresários do setor de aqüicultura que buscam novos mercados e/ou equipamentos e tecnologia de produção, processamento e embalagem. Interessados em participar das rodadas de negócios organizadas no âmbito do Programa Al-Invest devem en- trar em contato com a Codevasf. Não há taxa de inscrição. Participarão dos eventos importadores, exportadores, fornecedores de serviços, insumos e tecnologia. A Rodada de Negócios acontecerá de 23 e 24 de março, no Centro de Convenções de Natal, Rio Grande do Norte. Mais informações, pelo site www. codevasf.gov.br/menu/eurocentro - e-mail: eurocentro@codevasf.gov.br BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO - A Rações Fri-Ribe S/A, que atua há 34 anos no ramo de nutrição animal, sempre com o compromisso de produzir produtos com qualidade, con- quistou recentemente o certifi cado de Boas Práticas de Fabricação – BPF, um método de controle aplicado e evoluído ao longo do tempo envolvendo todas as etapas produ- tivas, desde a aprovação dos fornecedores de matérias primas, até a distribuição dos produtos acabados. A rastreabilidade total foi fundamental para a conquista do BPF, que atende a legislação atual do Ministério da Agricultura e Abastecimento, sendo auditada pela Fundação Carlos Alberto Van- zolini e certifi cado pelo Sindirações, Anfal e Asbram. A Rações Fri-Ribe S/A foi uma das primeiras empresas de nutrição animal do Brasil a conquistar o certifi cada de Boas Praticas de Fabricação. AUDITORIA DE PESCADOS - No início de junho, processadoras brasileiras de pescado e derivados, que exportam para a comunida- de européia, serão visitadas por auditores. Antes da chegada da missão européia, técnicos do MAPA verifi carão, nos Estados, o cumprimento das regras exigidas junto às indústrias processadoras. Dúvidas podem ser esclarecidas pelo DIPES-DIPOA/MMA pelos telefones: 61 3218-2775 e 3218-2778. UM FILME JÁ VISTO – Foi noticiado recente- mente que quase mil agricultores familiares de Pernambuco serão benefi ciados com a ins- talação de um laboratório para produção de alevinos de tilápias no açude Entremontes, na região do Araripe. O projeto é uma parceria do governo federal e o Banco do Nordeste, com o objetivo de promover a inclusão social. Os pequenos agricultores receberão apoio fi nan- ceiro para produzir tilápia e contarão com a assistência de pesquisadores da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Cuidados devem ser tomados para que não haja a repetição de fi lmes semelhantes já vistos em outras oportunidades, com o enredo baseado na distribuição de alevinos produzidos por la- boratórios do governo, que passam também a ser utilizados por políticos para atender interesses eleitoreiros. A iniciativa privada, que investe do próprio bolso e assume todos os riscos montando seus laboratórios de ale- vinos, sempre fi ca fragilizada em decorrência dessas novas “concorrências”. PIRARUCU - O Pirarucu chegou às prateleiras dos supermercados de Fortaleza, através das lojas do Pão de Açúcar e Extra. De carne bran- ca, nobre e bastante apreciada pela culinária japonesa, o pirarucu comumente ofertado em mantas salgadas, está sendo apresentado congelado, em cortes de lombo e fi lé ao preço de R$ 19,80 o quilo, e em cubos, a R$ 16,45 o 7Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 quilo. O consumo do peixe vem crescendo no País, a partir do "Programa Caras do Brasil", que é desenvolvido pelo Grupo Pão de Açúcar, com a fi nalidade de introduzir nos seus super- mercados todo tipo de produto que defenda o meio ambiente e a responsabilidade social. O peixe é fornecido pelo Frigorífi co Frigopesca, localizado no município de Manacapuru, que dá suporte à produção de 200 famílias de pisci- cultores de Fonte Boa e Manacapuru. Com esse acordo a carne do pirarucu, passa a ser o mais novo produto a conquistar o mercado nacional, com a marca 'Amazônia', por meio das ações de desenvolvimento sustentável do "Programa Zona Franca Verde". O produto é considerado diferenciado, já que seu manejo envolve pro- cessos de organização social e qualifi cação profi ssional. O governo do Amazonas incentiva a produção do peixe e ajuda na comercializa- ção entre produtores e o mercado. O contrato comercial estabelecido com o Grupo Pão de Açúcar, é o primeiro grande negócio fi rmado e possui cláusulas que obrigam o frigorífi co a pagar preços justos aos pescadores que traba- lham com o manejo. O programa renderá cerca de R$ 350 mil, que irão diretamente para as populações envolvidas no manejo do pirarucu. A parceria difunde também as características nutricionais do peixe. PEIXE E CÉREBRO – Uma dupla de pesquisado- res canadenses encontrou uma correlação entre o consumo de peixe e o avanço da inteligência humana. O fi siologista Stephen Cunnane, da Universidade de Sherbrooke e sua colega Ka- thy Stewart, do Museu Canadense de História Natural em Ottawa, têm concentrado suas pesquisas na evolução humana. Seus estudos podem ajudar a entender o surpreendente cres- cimento do volume cerebral dos hominídeos, os ancestrais da humanidade moderna. Até 2,5 milhões de anos, o cérebro do hominídeo nunca ultrapassava os 600 cm3; porém 500 mil anos depois, o valor já se aproximava dos 1.000 cm3, cerca de 80% da média atual do Homo sapiens. Essa expansão cerebral só aconteceu porque os primeiros membros do gênero Homo aprenderam a armazenar gordura por meio de uma fonte alimentar altamente nutritiva e fácil de capturar. A aposta deles recai sobre peixes, moluscos e afi ns, que contêm substâncias gordurosas como o DHA e nutrientes como o iodo, essenciais para o desenvolvimento do cérebro. Em sítios arque- ológicos distribuídos ao longo da rede de rios e lagos que recobriam o Grande Vale do Rift, na África Oriental, foi encontrada uma grande quantidade de ossos de bagre africano, com marcas de mordida ou ferramentas. DENÚNCIA - Exportadores de camarão estão protestando contra as novas exigências do governo para liberar o produto para expor- tação. O Ministério da Agricultura, que já exige Certifi cado Sanitário de Trânsito Interno, emitido na origem, ou Certifi cado Sanitário Internacional, quando os containeres são la- crados para exportação via marítima ou aérea, e em carretas frigorífi cas, nas exportações via terrestre, está agora obrigando os empresários a abrirem seus containeres no porto. Além de pôr em risco a qualidade do produto, o exportador ainda é obrigado a pagar mais por esse serviço. Inadequadamente os containe- res são abertos em câmaras frigorífi cas com temperatura de 5 graus positivos, quando a temperatura adequada é de -20 graus. Falta também uma higienização correta para manuseio da carga, fato que poderá ser questionado posteriormente pelo importador, trazendo prejuízos para o exportador. Por essa manobra, executada no Porto do Pecém, foi cobrada a quantia de R$ 1,5 mil. TECNOLOGIA DE PESCADOS - O Instituto de Pesca vai promover, de 6 a 8 de junho, o II Simpósio de Controle do Pescado, que será realizado no Centro de Convenções da Costa da Mata Atlântica, no Parque Bitaru, em São Vicente. O tema central é Segurança Alimentar, e envolvedesde a rastreabilidade na cadeia produtiva do pescado até a manipulação e processamento. Como reunião técnico-cien- tífica envolvendo especialistas da cadeia produtiva do pescado, o II SIMCOPE conta com a presença de especialistas do Brasil e do exterior e busca consolidar-se como um foro reconhecidamente qualifi cado para a discussão dos problemas e perspectivas para esse setor. Na oportunidade acontecerá também o I Encontro de Tecnólogos de Pescado, reunindo os profi ssionais que cumprem um papel espe- cializado, necessário ao bom desempenho da cadeia produtiva do pescado. Mais informações podem ser obtidas no site http://www.pesca. sp.gov.br/2simcope.shtml REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL – Repre- sentantes da Associação de Piscicultores das Águas Públicas - ANPAP, da Associa- ção de Aqüicultores de Monte Aprazível - AQUAMAR, da Associação dos Amigos 8 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 do Lago Três Irmãos – AALTI e da As- sociação dos Pescadores Profissionais de Buritama e Região – AAPBR junto a pesquisadores do Instituto de Pesca e da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios do Médio Paranapanema – APTA, reuniram-se em São Paulo – SP, com o objetivo de discutir a necessi- dade de agilização do licenciamento ambiental, destinado a projetos de aqüicultura em tanques-rede, em águas de domínio da União. Na ocasião, en- tre outras recomendações, foi feito à Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA, um alerta sobre a urgência da definição dos procedimentos relativos ao licenciamento ambiental, bem como sobre a necessidade de investimentos em pesquisas. De acordo com dados do Sis- tema de Informações das Autorizações de Uso de Águas de Domínio da União para fins de Aqüicultura (SINAU-SEAP), cerca de 40 processos de regularização de projetos de cultivo em tanques-rede do Estado de São Paulo deram entrada na Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP). Desse total, 28 processos encontram-se na SEAP de São Paulo aguardando o necessário licenciamento ambiental. ESCAMA FORTE – A Escama Forte Pisci- cultura, que há cinco anos se dedica à produção de peixes de água doce, está de telefone e endereço novos. A empresa, que se caracteriza por ter a sua produção em tanques-rede totalmente rastreada e desenvolvida com responsabilidade social e respeito ao meio ambiente, também presta serviços de consultoria e comercializa o Fish Control, um software de gerenciamento aqüícola desenvolvido para a rotina de controles da atividade. Anote o novos contatos da Escama Forte Piscicultura – Sítio Tambiú - Zacarias – SP, Fone (18) 3694-7266 – email: es- camaforte@escamaforte.com.br VINHO PROLONGA VIDA DE PEIXES – Uma notícia curiosa foi divulgada recentemente e agradou, não somente os amantes do vinho, mas também os piscicultores. De acordo com pesquisadores italianos, um composto chamado resveratrol presente no vinho tinto, tem o poder de prolongar a vida dos peixes. A pesquisa, publicada na última edição da revista Current Biology, é a primeira a mostrar o efeito do composto em um ser vivo mais complexo. As proprie- dades do composto encontrado nas cascas das uvas, já haviam sido comprovadas com células de levedura, moscas de frutas e mi- nhocas. Para seres humanos, são crescentes as evidências de que o vinho tinto, tomado em quantidades moderadas pode benefi ciar a saúde, reduzindo problemas cardíacos e atuando como um anti-oxidante. Para as pesquisas foi utilizada uma espécie de peixe do leste da África que tem uma ex- pectativa de vida média de nove semanas. Depois de alimentados com suplementos de resveratrol, os peixes jovens viveram até 50% mais e os peixes mais velhos permaneceram em boas condições físicas. Os pesquisadores se impressionaram com a condição atlética dos peixes tratados com resveratrol em comparação com os peixes do grupo de controle. WSSV NO MÉXICO – O desastre causado pelo vírus da Mancha Branca no sul de Sonora, no México, está ameaçando deixar nas ruas e sem alternativas de trabalho, mais de 3.500 famílias. O impacto da crise é estimado em mais de 67 milhões de dó- lares em perdas para a aqüicultura no sul do Estado e atingiu tanto o setor público como o privado. Com isso os produtores dessa região não possuem condições para seguir com os cultivos no ano de 2006. Esta é a mais grave crise que a carcinicultura mexicana enfrenta. LACC – A atual diretoria do Capítulo Latino Americano (LAC) aprovou, com o referendo da Diretoria da WAS, a mudança de nome e agora passa a se chamar Capítulo Latino Americano e Caribenho (LACC). O LACC organizou para o Congresso Mundial de Aqüicultura (AQUA 2006) que acontecerá entre os dias 09 e 13 de maio em Floren- ça, na Itália, uma sessão especial sobre a Aqüicultura na América Latina e no Caribe, que irá abordar temas como a criação de camarões de água doce e marinhos, peixes marinhos e tilápia na América Latina e no Caribe, pesquisas prioritárias para o Brasil, dentre outros. Já confi rmaram a presença nesta sessão os brasileiros Eric Routledge, Luis André Sampaio, Wagner C Valenti, Rodrigo Roubach, Sérgio Zimmerman e Ricardo C. Martino. 9Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 A PROVA D’ÁGUA- A Alfakit é a primeira empresa brasileira a desenvolver um oxí- metro à prova d’água. Saiu na frente com o lançamento do seu Oxímetro Microproces- sado AT 150, um equipamento super leve, que cabe na palma da mão. Um produto prático e de alta qualidade. A Alfakit é uma empresa catarinense que desenvolve também kits e equipamentos para análise de água e solo para a aqüicultura nacio- nal, e está prometendo para breve novos lançamentos www.alfakit.com.br PITU - Um estudo desenvolvido pelo bió- logo Edson Pereira, aluno de mestrado da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), pode ajudar no repovoamento do pitu (Macrobrachium carcinus) com base na introdução de uma dieta alimentar adequada para o processo de larvicultu- ra. O estudo foi realizado na Estação do Instituto de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco (IPA), onde foram testados quatro tipos de rações em um período de seis meses, obtendo-se 48% de sobrevi- vência das larvas. Segundo Edson Pereira, o resultado alcançado por pesquisadores em experimentos anteriores foi de, no máximo, 10%. O projeto de mestrado foi fi nanciado pela Pitú, indústria pernam- bucana produtora de cachaça, que tem o crustáceo como sua marca. REDUÇÃO DO ICMS PARA TILÁPIA – O governo do Estado da Bahia publicou em janeiro, no Diário Ofi cial do Estado, a redução do ICMS de 17% para 1,7% nas operações internas e externas com a tilápia beneficiada, proveniente de cultivos. Em 2005, a produção de tilápias cultivadas em tanques-rede no Baixo do São Francisco, foi estimada em 1,4 mil toneladas e, deste total, 91,5% foram produzidas no Estado da Bahia. A região de Paulo Afonso conta hoje com cerca de 100 produtores e 1,6 mil tanques-rede. A maior parte da produção segue para o mercado norte-americano através de empresas exportadoras. ALERTA IMPORTANTE – O diretor do Centro Nacional de Aqüicultura em Águas Quentes, do Estado do Mississipi (EUA), Craig Tucker, durante sua palestra no Fish Farming Trade Show em Greenville, no Mis- sissipi, intitulada “Minimizando o Impacto Ambiental no Cultivo do Catfi sh”, alertou que o mesmo que ocorreu com a imagem do camarão marinho proveniente de fazen- das de cultivo, pode vir a acontecer com o catfi sh, ou seja, a associação do produto ao estigma de ser uma forma de aqüicul- tura que não é ambientalmente amigável. Para Tucker, este estigma pode ser aplicado ao catfi sh norte-americano de forma muito rápida e fácil. Para ele, existem várias razões para que os produtores norte-ame- ricanos fi quem atentos a este tema, e por isso, devem se preocupar principalmente com alguns pontos bastante visados pelos “ambientalistas”, como: a poluição; o uso da farinha de peixe na ração; impactos dos animais queescapam dos cultivos; propa- gação de doenças; uso da água, conversão de habitats; uso de drogas e produtos químicos; controle de predadores e, uso de energia. Considerando que o cultivo do catfi sh é tido como uma das formas de aqüicultura mais ambientalmente amigá- veis, bem como a força dessa indústria nos EUA em termos de mercado consumidor, e levando em conta a tendência real do consumidor moderno de preferir cada vez mais o consumo de produtos certifi cados, esse alerta deve ser visto com bastante atenção e aproveitado por todo o setor de aqüicultura brasileira. 10 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções. De: Luis Nakanishi nakanishi@terra.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Aquariofi lia - doença Gostaria de contatos (e-mail) de pessoas que possam dar uma dica sobre formas de tratamen- to de Ictio (doença dos pontos brancos) em peixes ornamentais. Das informações que tenho, este parasita se manifesta preferencialmente em temperatura baixas, mas minha situação é de temperatura da água entre 26 e 28ºC. De: Ricardo Ribeiro rpribeiro@uem.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Aquariofi lia - doença Luís, se possível tente aumentar a temperatura para 31 graus, é a forma mais efi ciente. De: Santiago Hamilton shamilha7@docd3.ub.edu Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Aquariofi lia - doença Os parasitas que provocam a doença dos "pon- tos brancos", são: Ichthyophthirius multifi liis, se seus peixes forem de água doce; e, Crypto- caryon irritans - se eles forem de água salgada. Esta parasitose indica problemas de qualidade de água, alimetação inadequada, e/ou oscila- ções de temperatura. Se o volume de aquários e peixes que você tiver for reduzido, um dos tratamentos indicados é o uso de formalina comercial numa solução de 1:4000 (1ml de formol para 4l de água), banho de uma hora, por três vezes, com intervalo de três dias entre cada aplicação. (informações retiradas do livro "Doenças de Peixes: Profi laxia, Diagnóstico e tratamento" do Gilberto Pavanelli, Jorge Eiras e Ricardo Takemoto). De qualquer forma, você terá que identifi car/combater o problema que iniciou a infestação. De: Vitor Porto vporto@prontonet.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Aquariofi lia - doença O aumento da temperatura é um bom trata- mento, mas vou falar o que eu geralmente faço neste caso: 1- Transfi ra seus peixes para um recipiente hospital e faça o tratamento com sal e aumento gradual da temperatura; 2- Faça uma desinfecção do recipiente onde se encontravam os peixes (com água sanitária), esfregue bem todos as partes de seu aquário, se for o caso, preste atenção nos pequenos poros ou buracos, geralmente na emenda de silicone, pois os cistos fi cam lá. Se você não fi zer isso, o ictio sempre voltará em situações oportunas, como estresse; 3-Lave bastante para tirar o excesso de cloro; 4- transfi ra novamente os peixes. De: Thiago Trombeta thiago_trombeta@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Aquariofi lia - doença O ictio ocorre muito quando há uma mudança brusca na temperatura, como por exemplo de um dia para o outro e principalmente em regiões de grandes altitudes. Tente manter a temperatura há 32ºC por algum tempo, e diminua a quantidade de ração ofertada. De: Manuel Vazquez Vidal Junior mvidal@uenf.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Aquariofi lia - doença O sal é excelente para controlar o ictio e a elevação da temperatura para 30ºC. No caso do sal aqui na UENF temos usado em banhos com 8 a 15 partes por mil, dependendo da espécie (em geral 8). Esses banhos não excedem cinco minutos. Esse parasita é oportunista e, por experiência própria e acompanhando produto- res, vemos que ele se manifesta mais quando ocorre elevação da amônia. Alguns produtores usam permanganato de potássio, mas seu efei- to não é satisfatório. Já os banhos de longa duração em azul de metileno após qualquer manejo, se mostraram bons profi láticos. De: Bruno jacomel bruno_jacomel@yahoo.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Abalone Andei estudando sobre uma espécie de mo- lusco muito interessante, o abalone, e fi quei interessado em saber se no Brasil existe algu- ma espécie similar? Se não, o que eu também acredito, gostaria de saber qual a possibilidade de se trazer espécies exóticas pra dentro do território? Como anda a lei para isso? Usando sistema fechado, pra começo de pesquisa. De: Ricardo Tsukamoto bioconsu@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Abalone Não existe abalone nativo da América do Sul. No Chile, a estação experimental de Coquimbo, implantada pelos japoneses há duas décadas, faz pesquisas com o abalone trazido do Japão. Porém, acho que não há uma perspectiva para larga escala, pois lá não existem algas naturais que servissem como alimento para o abalone. Também não há fundos rochosos para as algas se desenvolverem e os abalones poderem ser criados ao natural (sea farming) como se faz no Japão. Como alternativa para o Chile, há várias décadas os japoneses importam um molusco nativo, conhecido como "loco". Já no Brasil, seria impossível criar o abalone, uma vez que ele requer águas muito frias, que não ocorrem por aqui. De: Luis Poersch lpoersch@mikrus.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Abalone Atualizando as informações repassadas ao Bruno, posso dizer que o Chile produz comer- cialmente abalones. Tanto a Universidade Ca- tólica do Norte (Coquimbo) como a Fundação Chile. Inicialmente trabalhavam com o abalone japonês, mas agora estão produzindo em larga escala o abalone "americano", com a diferença de que a engorda é feita em tanques de fi bra ou plástico. Acredito que por uma questão legal, já que as condições no ambiente são propícias ao seu desenvolvimento. O cultivo da espécie nativa "loco" ainda é um sonho para os chilenos. O problema está no desenvolvimento larval, que apresenta taxa de mortalidade extremamente alta. No Brasil, fora a questão legal de introdução do gênero, acredito que a região de Cabo Frio seria a ideal para o de- senvolvimento dos abalones (dependendo da espécie a ser trazida), já que lá a temperatura 11Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 é mais fria e constante ao longo de todo o ano. Esta condição se tornaria necessária, pois o tempo de cultivo nos tanques até o ponto de abate, é relativamente longo. Por outro lado, o preço de mercado deve valer a pena! De: Paulo Afonso pafonso@infonet.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Energia para piscicultura Sou um médio piscicultor e sabendo do direito de consumir energia com tarifa reduzida (Instrução Normativa n° 207, de 09 de janeiro de 2006 - ANEEL), procurei a concessionária em meu Estado, a Energipe, para implantar o novo sistema. Na minha piscicultura, produzo alevinos, engordo e pro- cesso o nosso peixe. Vejam o que a Energipe me respondeu: a) Tenho que mandar fazer um projeto elétrico detalhado; b) a minha casa e a casa do caseiro não serão benefi ciadas; c) a unidade de processamento também não; d) o laboratório de alevinagem, igualmente. Que absurdo!! Pergunto aos colegas: é assim mesmo? Será que o Governo mandou que fi zessem dessa forma? De: Carlos A S Suleiman suleiman@jupiter.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: Energia para piscicultura Aqui comigo foi a mesma coisa, fui atrás do desconto e me disseram que como sou con- sumidor de baixa tensão eu teria que passar para alta tensão, mediante projeto, troca de transformadores, contratação de demanda de energia mínima, etc... Quer dizer, uma buro- cracia danada pra poder fazer uso da energia no horário noturno, coisa que eu já sabia, e ter um desconto que seria possível depois de muita matemática. Bem, eu acho que se é pra dar desconto pra quem produz,devia ser desconto sobre o que já se usa e não conforme adaptações onerosas e burocráticas. Mas essa é só a minha opinião. De: Robert Krasnow robertkrasnow@hotmail.com Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: Energia para piscicultura Como tudo isto vai terminar eu não sei, mas posso lhes assegurar que nenhuma distribui- dora de energia vai ceder facilmente algum benefício ao consumidor em detrimento da sua arrecadação. Eles somente aceitarão algum benefício para o consumidor se forem forçados, de uma forma ou outra. Em tempos passados, referente o desconto "tarifa verde" para ir- rigação, a nossa distribuidora exigiu de um irrigante que colocasse um segundo medidor em separado para a única lâmpada (!!!) que proporcionava a iluminação das moto-bombas utilizadas para irrigação (possibilitando a sua ativação com segurança). Argumentaram que a lâmpada não se enquadrava na legislação que cede o desconto. Ou seja, depois de alguns lutarem por um bom tempo para conseguir este benefício (quem conhece a história, sabe que não foi fácil!), agora vamos ter que lutar para sua real implementação. A bola está conosco. De: Edson Falcão efalcao@webone.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: Energia para piscicultura Desde 1992 temos por aqui efetivado o subsidio da energia. Primeiro para irrigação e depois para aqüicultura, é fato. Tem todo um ordenamento em função do tamanho do módulo rural, e seu benefício vai até 100ha. O benefi ciário requer, a Emater faz o laudo e envia para a concessionária, que faz avaliação de carga e cadastro do medidor, enviando o processo para SDR, onde o benefício fi nalmen- te é concedido, e isso vai 20 dias. De: Jorge Nicolau jorgengoncalves@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: Energia para piscicultura A EMATER fez o laudo, mas estou esperando há dois anos a resposta da CEPISA. Não é assim tão simples e eu só conheço um carcinicultor que conseguiu o benefício, através de mandado de segurança. De: Christopher Denmark cbdenmark@hotmail.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Evergreen Alguém tem informação a respeito de um pro- duto chamado “Evergreen”? Ele é usado como uma alternativa ambientalmente amigável para o uso do metabissulfi to de sódio utilizado na prevenção da melanose. De: Srini srinipapl@vsnl.net Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Evergreen Este produto está disponível na Índia. É basi- camente um vinagre de madeira, processado por meio de destilação a seco. Estudos têm demonstrado que o produto reduz a melanose, não considerando a sua atuação como desin- fetante para uso antes do processamento de peixes e camarões. Visto que é um produto biodegradável, e uma fonte orgânica, não possui efeitos colaterais. De: Dominique Gautier dgautier@aquastareu.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: Evergreen Informações à respeito de um estudo inte- ressante sobre esse tema, foi recentemente apresentado no Seafi sh: www.seafi sh.org/ whatsnew/detail.asp?p=ca&id=1239 12 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 De: Vijayan KK vijayankk@gmail.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: White Spot Freqüentemente escutamos dos produtores a respeito da relação com a salinidade e a temperatura da água de cultivo. Um dos meus estudantes de doutorado trabalhou o perfi l de virulência do WSSV proveniente das fazendas na Índia e interessou-se pelo papel da salini- dade e da temperatura sobre a virulência do WSSV. Coletamos informações de campo e con- duzimos estudos de laboratório com diferentes tratamentos de salinidade e de temperatura. Experimentos com salinidade variando entre 1 e 45 ppt não mostraram nenhuma variação na virulência do WSSV. Nossos dados de campo também sugerem que a defl agração da en- fermidade ocorreu em todos os tratamentos, variando desde 1 ppt (quase água doce) até 60 ppt (países do Golfo). É interessante notar que a temperatura mostrou uma infl uência clara na virulência. Temperaturas baixas mostraram maior virulência, e provavelmente o WSSV prefere baixas temperaturas para a multipli- cação viral. Nas regiões tropicais, quando a temperatura cai para menos de 28oC, a en- fermidade mostrou um surgimento repentino e os nossos dados de laboratório corroboram esse fato. Em nossos experimentos, quando a temperatura foi mantida acima de 30oC e 32oC, a virulência do WSSV chegou a diminuir e os animais expostos a essas condições puderam sobreviver melhor e por períodos maiores, quando comparado aos animais controle, mantidos em 28oC. No entanto, existe uma visão de que em climas temperados as coisas possam ocorrer de forma oposta, ou seja, em temperaturas mais elevadas a virulência será maior e em condições de temperaturas baixas a virulência seja menor. Não sei se alguém tem alguma evidência que confi rme isso. Geralmente, os produtores na Índia também observam que quando a temperatura da água está acima de 30oC, a defl agração da Síndrome da Mancha Branca é considerada baixa, enquanto que quando a temperatura cai para menos de 28oC, freqüentemente devido a chuvas repentinas ou em dias nublados, então a incidência da defl agração da WSSV e as mortalidades aumentam. De: Saji Chacko chacko.saji@gmail.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: White Spot Minha experiência na India (Gujarat), nos úl- timos 10 anos, mostra que as defl agrações do WSSV se dão em salinidades variando desde 5 a 52 ppt. Tenho notado que o agente causador, normalmente são as fl utuações na temperatura e os dias nublados. De: Eric De Muylder Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: White Spot Não sou um especialista, mas tenho escutado que o WSSV não ocorre acima de uma determi- nada temperatura (creio que acima de 35oC), e não acima de uma determinada salinidade. O White Spot se defl agrou na província de Bushehr, no Irã, no ano passado, quando as temperaturas ainda eram moderadas, mas a salinidade muito provavelmente estava acima de 40 – 45 ppt. Infelizmente quase todos os produtores interromperam os cultivos. De: Laurence Evans ecotao@yahoo.com Para: shrimp@yahoogroups.com Assunto: Re: White Spot Uma fazenda na Arábia Saudita atualmente também se encontra enfrentando o WSSV e as salinidades são maiores que 42 ppt. De: Carlos A S Suleiman suleiman@jupiter.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: PH, Dureza e Alcalinidade Apesar de estar usando calcário dolomítico nas proporções adequadas não consigo ele- var a alcalinidade e a dureza para os níveis ideais, o pH até que se mantém em 6,5. Estou pensando em usar aquele pozinho utilizado em construção, que é cal com elevadas quantidades de magnésio, minha pergunta é: é o ideal pra ser usado? Não tem perigo de ser agressivo pras larvas (ainda faltam cinco dias para a soltura)? Tem algo melhor para se usar? De: Luis Vinatea vinatea@mbox1.ufsc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: PH, Dureza e Alcalinidade Tanto o calcário calcítico quanto o dolomí- tico fi cam insolúveis a partir de 40 mg/L de alcalinidade. Essa pode ser a resposta do porquê sua alcalinidade custa a subir. O pozinho a que você faz referência deve ser o hidróxido de cálcio Ca(OH)2, que pode, sim, ser usado para elevar a alcalinidade e a dureza. Porém, existe o risco de elevar demais o pH e, com isso, tornar mais tóxica a amônia presente na água. O sulfato de cálcio poderia ser usado para elevar a dure- za da água e o bicarbonato de sódio NaHCO3 para elevar a alcalinidade, pois são mais solúveis que os calcários. Porém, se após alguns dias a alcalinidade da água cair, e se esta queda não é devido à renovação da água, é provável que você esteja com o seu solo ácido, o qual deve estar seqüestrando íons bicarbonato para neutralizar os pró- tons liberados pelas reações próprias do ferro e do alumínio. 13Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: PH, Dureza e Alcalinidade Trocando emmiúdos, quais os produtos comer- ciais e em que situação usá-los. Quando minha água tem 20 mg/L de alcalinidade e dureza e necessito aumentar para 60. De: Luis Vinatea vinatea@mbox1.ufsc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: PH, Dureza e Alcalinidade Se sua água tem 20 mg/L de alcalinidade e dureza, você mata dois coelhos de uma tacada só usando carbonato de cálcio, porém, a sua alcalinidade e dureza irá aumentar só até 40 mg/L. Os 20 mg/L restantes (para chegar em 60 mg/L) terá que ser aumentado por meio de bicarbonato ou calcário de elevada solu- bilidade (que é bem caro e não sei se existe no Brasil). A maioria dos peixes de água doce vão se contentar com 40 mg/L de alcalinida- de e dureza, mas, é claro, seu pH vai oscilar muito de dia e de noite, devido ao fraco poder tampão da água. Neste caso, fi que de olho no fi toplâncton e nunca permita transparências menores de 40 cm. Os produtos comerciais e as situações em que podem ser usados são: CaCO3 (carbonato de cálcio) para corrigir pH do solo e aumentar alcalinidade e dureza simultaneamente (até o limite de 40 mg/L); CaMg(CO3)2 (dolomita) idem; CaSO4 (sulfato de cálcio) para aumentar só a dureza e não a alcalinidade (até o limite de 40 mg/L); NaHCO3 (bicarbonato de sódio) para aumentar a alcalinidade e não a dureza (para aumentar a alcalinidade acima de 40 mg/L); Ca(OH)2 (hidróxido de cálcio) para aumentar a alca- linidade da água e neutralizar ácidos fortes, precipitar fi toplâncton (+ de 50 kg/ha) e fazer desinfecção da água e do solo; CaO idem, mas é melhor não usar este produto pela sua elevada periculosidade. De: Alvaro Graeff agraeff@epagri.rct-sc.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto Re: PH, Dureza e Alcalinidade Com certeza outros como eu, aproveita- rão estas suas informações. O calcário de grande solubilidade chama-se FILLER com prnt de mais de 90% e a um custo a mais do que calcários comuns de 35% (em nossa região/Santa Catarina). De: Sérgio Alberto Almeida salbertoalmeida@uol.com.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Contato Univ. Est de Londrina Alguém teria o contato do Dep.Medicina Veterinária da UEL em Londrina-PR? Preciso de uma análise confi rmativa microbiológica em tilápias cultivadas em tanques-rede. A suspeita é de infecção por bactérias e a mor- talidade vem aumentando dia após dia. De: Fábio Sussel sussel@aptaregional.sp.gov.br Para: lista@panorama-l.com.br Assunto: Re: Contato UEL O telefone do Laboratório de Microbiologia da UEL é (43) 3372-4259. Pode falar também com o Prof. Júlio Hermann, que não só te en- caminhará para pessoa certa neste laboratório, mas também poderá te dar algum parecer a respeito do problema com seus peixes, já que ele é pesquisador em aqüicultura. Prof. Júlio: (43) 3327-1920, (43) 9118-2146, e-mail: leonhard@uel.br. 14 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 Por: Carlos Wurmann G. Engenheiro Civil, M.Sc. Economista, Director Ejecutivo AWARD Ltda., Consultor Internacional em Aqüicultura e Pesca Membro do Comitê Executivo do International Institute of Fisheries Economics and Trade Membro do Comitê de Aqüicultura e Pesca do FONDEF. Comissão Nacional Científi ca e Tecnológica – Chile e-mail: carwur@award.tie.cl Raúl Malvino Madrid Engenheiro de Alimentos. Dr. em Tecnologia de Alimentos. IBAMA-CE/LABOMAR-UFC e-mail: raul@labomar.ufc.br Não há dúvida de que o Brasil é uma nação destinada a ser um importante país no setor da aqüicultura, tão ou mais importante do que o é na agropecuária: líder mundial em vários segmentos produtivos. Os resulta- dos da aqüicultura brasileira estão longe de mostrar o seu potencial, e são na verdade, uma simples amostra do que este país continental é capaz de realizar. Em muitos projetos aquícola, no entanto, a busca por sis- temas de desenvolvimento adequados às circunstâncias locais faz com que os produtores, técnicos e políticos tratem de defi nir estratégias que, parecendo novas, já foram tentadas ou comprovadas em outras latitudes, com diferentes graus de êxito. Dado o estado atual da carcinicultura brasileira e a urgente necessidade de ter sua competitividade global fortalecida, nos parece interessante comentar alguns aspectos do vigoroso de- senvolvimento chileno no campo dos cultivos aqüícolas, particularmente com o salmão, e analisar sua eventual pertinência ao caso do Brasil. Da mesma forma que o Brasil, o Chile é um país que conta com um extenso litoral e com uma variedade de climas e de temperatura das águas. No caso do Brasil, destaca-se o fato de ser o país possuidor de enormes corpos de água doce com temperaturas adequadas para a aqüicultura, característica esta que supera, com sobras, o potencial dos rios chilenos nas suas áreas mais accessíveis. Assim, a aqüicultura chilena desenvolve sua estratégia sobre a base de produtos cultivados no mar, como moluscos, algas e, especialmente, peixes diádromos como o sal- mão e a truta, enquanto que o Brasil centra sua produção aquática em peixes de água doce e, em menor proporção, em mexilhões e ostras nos seus mares do Sul. Só mais recentemente o Brasil tem direcionado sua grande energia ao êxito do cultivo do camarão do Pacífi co Litopenaeus vannamei em ambientes estuarinos. Os resultados da produção de camarão marinho em viveiros são os mais auspiciosos da aqüicultura nacional até a presente data, tendo-se desenvolvido, neste setor, a primeira produção aqüícola brasileira com categoria e qua- lidade internacionais. Lições de um modelo vigoroso e sua possível aplicação na indústria do cultivo do camarão no Brasil 15Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 O caminho do desenvolvimento da carcinicultura brasileira, entretanto, não tem sido fácil. Após o fracasso comercial dos cultivos experimentais com espécies asiáticas e dos intensivos esforços de mais de uma década com espécies nativas (1986/1995), somente com a introdução do camarão do Pacífi co – espécie já cultivada com êxito no Equador e Panamá – foi possível conquistar resultados positivos, que a partir de 1996 permitiram o começo exitoso do desenvolvimen- to da indústria camaroneira do Brasil e sua expansão para chegar ao nível em que se encontra a atividade neste momento. Em ambos os países, a razão que impulsiona os cultivos aquícolas é muito clara: os mercados internacionais continuam demandando peixes, crustáceos e moluscos de forma crescente, enquanto a pesca extrativa não é capaz de satisfazer essas demandas. Essa disparidade, segundo as previsões, continuará acentuando-se nas próximas décadas. De fato, espe- ra-se que entre os anos 2000 e 2030 a demanda mundial por produtos pesqueiros comestíveis cresça em 60 milhões de toneladas, ou seja, ao ritmo de cerca de 2 milhões de toneladas anuais, cujo suprimento deverá ser realizado principalmente por meio da produção derivada da aqüicultura. Atualmente a aqüicultura mundial está concentrada em um nú- mero limitado de países e de espécies, situação esta que permite realçar a presença brasileira e a chilena nessa atividade produtiva. As 11 nações que geraram os maiores valores nos cultivos aquícolas entre 2001-2003 (o Chile como o sexto e Brasil, décimo primeiro) representam 88% do volu- me total e 82% do valor da aqüicultura mundial. A China, por si só, no refe- rido triênio, foi responsável por 69% das despescas aqüícolas mundiais e por 51% de seu valor. Também, as 10 principais espécies mais cultivadas – entre elas o salmão e o camarão – representam 56% do volume e 52% do valor da produção total. O Brasil e o Chile enfrentam uma situação especialmente promissora, já que os dois países foram capazes de superar barrei- ras de produção na aqüicultura que a grande maioria das nações ainda não conseguiu. Assinala-se como exemplo o fato de que entre 2001-2003 a grande maioria dos países produtores (105 dos 170), individualmente, gerou menos de 10 milhões de dólares anuais. Além dos níveis de produção e produtividade alcançados emrelação aos cultivos marinhos e estuarinos, o Chile concentra sua produção basicamente em salmonídeos e o Brasil em camarões, as duas espécies que fi guram entre aquelas de maior produção e deman- da no cenário mundial. Foto: Revista Panorama da AQÜICULTURA Foto: Revista AQUA Chile 16 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 O desenvolvimento dos cultivos de salmão no Chile e de camarão no Brasil depende não somente do potencial de condi- ções naturais insuperáveis para esses fi ns, mas também, de cada um desses países estarem participando da produção de espécies de elevado valor unitário, com demandas bem estabelecidas em praticamente todos os mercados dos países industrializados. Certamente que o alto preço de ambos os produtos, com demanda internacional crescente, tem atraído mui- tos países competidores, com aumentos consideráveis e consistentes de produção e oferta em escala mundial, cuja conseqüência é o declínio acentuado dos preços. Igualmente, na medida em que o conhecimento tecnológico avança, os produtores se sentem atraídos para trabalhar com densida- des cada vez maiores na busca de melhores rendimentos econômicos, o que, infelizmente, tem redundado no apare- cimento de doenças e mortalidades preocupantes, situação que neste momento, para o caso do salmão, já é controlável no Chile. No cenário atual do mercado, os preços do salmão e do camarão continuarão declinando nos próximos anos, embora provavelmente de maneira muito menos pronuncia- da do que o registrado nos anos recentes. Esse fato impõe respostas precisas e certeiras dos países produtores que de- sejam continuar expandindo os seus cultivos e que queiram manter sistemas sustentáveis a médio e longo prazo. Outra preocupação ocorre com as temidas doenças, que devem ser pronta e eficientemente prevenidas e, evitadas com medidas profiláticas e de ordenamento territorial. Sobre essas preocupações, bem como às relativas aos aspectos de tecnologia, de investimentos, de meio ambiente, de organização, de participação do Estado, etc., o Brasil e o Chile têm opções estratégicas, das quais dependerá o êxito dos aqüi- cultores nacionais, algumas das quais serão aqui analisadas. Por certo que a grande vantagem do Brasil em rela- ção ao Chile está representada pelo seu enorme mercado interno, já que no caso chileno, com a demanda local para a produção aqüícola extremamente limitada pelo número reduzido da população consumidora, a produção deve des- tinar-se basicamente às exportações. As maiores vantagens do Chile com relação ao Brasil parecem estar nos níveis de organização da indústria chilena, com uma presença mais bem estabelecida em seus principais países compradores, especialmente com produtos de maior valor agregado, e um amplo reconhecimento da atividade aqüícola e de seu impacto na economia nacional, por parte dos políticos, empresários e da comunidade nacional, fatores que facilitam o trabalho atual e favorecem a implantação de novos empreendimen- tos e planos para o futuro. Em ambos os países, por certo, as oportunidades comerciais de exportação são atrativas e, embora por motivos distintos, a aqüicultura tem em ambos o potencial de adquirir uma dimensão considerável e uma categoria de nível mundial. 17Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 As Estruturas Produtivas Chile Atualmente, o Chile tem uma indústria de classe mun- dial que cultiva salmão e truta e que, embora esteja atrás da Noruega em termos de volume de produção, é a primeira do planeta quanto ao atributo de efi ciência econômica. A indústria chilena trabalha com três fundamentos básicos para possibilitar a sustentabilidade a médio e longo prazo: 1) o país dispõe de uma base produtiva com cultivos massivos de cerca de 600 mil toneladas anuais; 2) essas produções são conseguidas com os menores custos médios em nível mundial e, 3) destaca-se a excepcional capacidade que o Chile desenvolveu de comer- cializar seus produtos nos principais países importadores de produtos pesqueiros do mundo, como os Estados Unidos e o Japão, nos quais é o primeiro fornecedor de salmão e trutas. Na União Européia, a cada ano o Chile consegue captar porções crescentes do mercado, apesar da competição da Noruega, Escócia, Irlanda, etc.. Na indústria chilena do salmão caracteriza-se, entre outros aspectos relevantes, a presença da grande empresa de ca- pitais nacionais e estrangeiros (Noruega, Países Baixos, Estados Unidos, Canadá, etc.), considerada a mais efi ciente do mundo do ponto de vista de manejo econômico. As empresas chilenas são de dimensões consideráveis e mostram uma capacidade média que fi ca entre 20 e 30 mil toneladas anuais por unidade, cifra esta que tende a crescer. Esses níveis de produção por empresa são 100 vezes superiores às cifras médias, com as quais foi iniciada a indústria nos anos 80. O cultivo está altamente tecnifi cado, o país dispõe de uma indústria de serviços conexos extremamente bem desenvolvida e sofi sticada, e os níveis de qualidade da produção são excelentes. Trabalha-se com uma altíssima proporção de produtos com alto valor agregado (fi lés defumados, salgados, etc.), de qualidade sanitária impecável, e embalados de maneira a serem ofereci- dos diretamente aos consumidores fi nais das grandes cadeias de supermercados, restaurantes e outros tipos de clientes em diversas partes do mundo. Junto à produção massiva de diversos itens (praticamente commodities), com a qual o país aproveita de maneira efi ciente suas vantagens competitivas na produção primária e na elabo- ração de produtos, inclui-se um esforço especial e crescente para atender mercados mais seletivos e em menor escala pela via de produtos orgânicos, produtos funcionais (mais rico que o normal em vitaminas, em ácidos graxos poliinsaturados e em outros elementos), produtos especiais para grupos étnicos (comunidades de origem asiática) ou religiosos (alimentos kossher). Esse setor produtivo, além de crescer constantemen- te, reinveste sistematicamente em melhorias tecnológicas, em capacitação de pessoal, em superaração de seus níveis de gestão e na comercialização de seus produtos. O Chile tem visto crescer sua enorme indústria, apesar das reduções de preços ao longo do tempo, da existência de inúmeras e variadas difi culdades administrativas, da falta de legislação adequada em certas áreas e das crescentes pressões ambientalistas, parte importante das quais parece ser exagerada. Pode-se afi rmar que o êxito da indústria chilena está radicado na determinação do setor empresarial em realizar um trabalho dedicado para a obtenção de um produto diferenciado pela qualidade, no excelente nível de organização associativa, na incorporação permanentemente de tecnologias e no melhora- mento da gestão em todos os níveis. Brasil Pode-se dizer que o cultivo do camarão é a iniciativa mais auspiciosa da aqüicultura brasileira. Em sua relativa curta história, já conseguiu a maior produtividade do mundo (6.084 kg/ha/ano em 2003), superando em volume a produção dos países tradicionais do hemisfério ocidental (Equador, Hondu- Foto: Revista Panorama da AQÜICULTURA Foto: Revista AQUA Chile 18 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 ras, Panamá e México), se revelando como o setor de maior desenvolvimento da indústria aqüícola nacional. Já em 2003, o setor implantava um modelo exigente de cultivos intensivos, com densidades superiores a 40 pl/m2, que permitia produzir camarões com peso médio de 12 gramas, três vezes ao ano. Aproveitavam-se assim, as condições climáticas favoráveis do país, principalmente da Região Nordeste, onde se concentravam 91% dos produtores nacionais em uma área instalada de 14.824 ha, com uma produção total, no referido ano, de 90.100 toneladas. Setenta e cinco por cento dos produ- tores eram considerados pequenos, com até 10 ha de viveiros, sendo responsáveis por 17,4% da produção com 18,8% da área total implantada. No outro extremo,só 50 produtores eram classifi cados como grandes, com área de cultivo superior a 50 ha cada, responsáveis por 55,3% da produção e 53,3% da área implantada. Ainda em 2003, a indústria do camarão dispunha de 36 laboratórios de pós-larvas, 17 fábricas de rações e 42 centros de processamento para o mercado, além de uma série de empresas complementares. Na maior parte dos casos, as unidades produ- tivas de cultivo eram de propriedade de empresários brasileiros e, em geral, a indústria apresentava pouca integração vertical. Uma parte importante dos investimentos foi realizada com re- cursos próprios, muitas vezes provenientes dos lucros obtidos no início das atividades aqüícolas. Da produção de camarão cultivado em 2003, 77,7% se destinou ao mercado externo com produtos de pouquíssimo valor agregado. Do total exportado, 35% foram enviados aos Estados Unidos (camarão sem cabeça) e 62% aos países euro- peus (camarão inteiro). As exportações geraram naquele ano US$ 226,0 milhões. Assim, em pouco tempo, concentrada no Nordeste, a indústria do camarão cultivado se posicionava em segundo lugar entre as exportações do setor primário da Região. Do ponto de vista social, também se evidenciava a importância da carcinicultura na zona costeira como empregadora de mão- de-obra local, gerando mais empregos por hectare do que as atividades agrícolas irrigadas do Nordeste. Entre os anos 2000 a 2003, a indústria do cultivo do camarão mostrou uma impressionante trajetória de crescimento, apesar das reduções de preços nos mercados internacionais, que se compen- savam com as contínuas desvalorizações da moeda nacional em relação ao dólar. As reduções médias dos preços das importações americanas de camarão das classifi cações 41/50, 51/60, 61/70 e > 70 (unidades por kg), foram -25,9%, -19,9% e -11,9%, respectivamente para os biênios 2000-2001, 2001-2002 e 2002-2003. Entretanto, a não recuperação dos preços internacionais, a mudança da situação cambiária com a valorização do real, o processo de dumping movi- do pelos pescadores americanos e, o surgimento e disseminação do Vírus da Mionecrose Infecciosa no Nordeste, contribuíram para a súbita perda de dinâmica da indústria camaroneira brasileira, com a apreciável diminuição da produção nos anos de 2004 e 2005, em 15,8% e 27,9%, respectivamente, em comparação com o nível alcançado em 2003. Das 90.000 toneladas produzidas nesse ano, que colocaram o Brasil como líder do Hemisfério Ocidental, a pro- 19Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 dução brasileira de camarão cultivado, afetada em seu desempenho global, fi cou reduzida a 65.000 toneladas em 2005. Lições e Estratégias do Processo de Desenvolvimento O crescimento da aqüicultura comercial no Chile remonta a um pouco antes do início da década de 1980. O processo chile- no respondeu a vários fatores que se conjugaram favoravelmente num momento oportuno e foi iniciado com o cultivo comercial do salmão e da truta, espécies que foram introduzidas no país. Por essa época, são registradas em diversas partes do mundo as novas tecnologias para engorda de peixes em gaiolas, o que se complementava com melhoras de desempenho na produção de juvenis, fatos que já eram conhecidos em muitos países, inclusi- ve no próprio Chile. Rapidamente, o país decidiu experimentar esse tipo de cultivo com maior dedicação por parte do Governo e de instituições nacionais relacionadas com o desenvolvimento tecnológico (Fundação Chile, entre outras), e de maneira tímida das empresas privadas. No andamento desse processo, a situ- ação do mercado internacional passou a favorecer, em termos defi nitivos, a intensifi cação de cultivos dessas espécies, apesar da enorme competição com grandes volumes capturados da pesca extrativa. O Chile começou a sua nova aventura produtiva, basica- mente sem esperar o desenvolvimento científi co nacional, adap- tando, sim, a tecnologia estrangeira. Projetos demonstrativos com investimentos do Estado e de fundações sem fi ns lucrativos foram então estruturados e operacionalizados, com o convite amplo a muitos atores a excursionarem nas novas tarefas produ- tivas da aqüicultura nacional. Paralelamente na medida em que cresceu o interesse do setor privado, foram criados serviços de assistência técnica, que ajudaram enormemente a desenvolver a indústria. O aparelho governamental, mesmo sem dispor de uma legislação específi ca, atuou com fl exibilidade normativa, não se limitando no substantivo processo de implantação de novas empresas com capitais nacionais e estrangeiros. Os aspectos ambientais, na época ainda não recebiam atenção preferente no país, nem em outras latitudes do mundo. A indústria reconheceu, desde o início, sua vocação ex- portadora, assumindo voluntariamente o controle da qualidade de seus produtos de exportação e trabalhando de maneira sin- cronizada na promoção do “produto chileno”, que se estabeleceu de forma exitosa nos Estados Unidos e Japão. Essa efi ciente associação voluntária de empresas com seus planos de auto- regulamentação da qualidade do produto fi nal constituiu-se, de fato, no posicionamento chave para o êxito da nova atividade. As primeiras instalações eram rudimentares. As empresas se equipavam com tecnologias básicas, empregando mão-de- obra pouco qualifi cada e disponível nos próprios locais de cul- tivo, onde não existiam outras fontes de emprego alternativas, o que lhes permitiu produzir de forma competitiva e auspiciosa. Com o transcorrer do tempo, a competição internacional se fez intensa, evidenciando-se a necessidade de aumentar a dimensão das empresas e de mecanizar operações manuais. Só assim foi possível conseguir custos razoáveis para satisfazer os requeri- mentos dos clientes cada vez mais exigentes, que demandavam confi abilidade nas entregas, produtos de maior valor agregado e uniformidade e qualidade constantes. Paralelamente se apre- sentaram as primeiras doenças graves e perdas massivas, que foram neutralizadas com um rápido e efi caz sistema de controle, mediante a instalação de laboratórios; uso crescente de antibió- ticos e vacinas; melhoras importantes nos métodos profi láticos e na redução das densidades de cultivo; nas rotações dos locais de cultivos e, no sangramento controlado, etc. Os aspectos ambientais se incorporaram paulatinamen- te à “equação produtiva”. Por sua parte, o Estado se mostrou lento e só conseguiu se modernizar parcialmente, retardando a produção quando da necessidade de outorga de autorizações, e difi cultando a vigilância para um desenvolvimento equilibrado e oportuno em muitos aspectos, embora tenham sido publicadas medidas para melhorar as questões sanitárias, regulamentar as distâncias entre os centros de cultivo e para limitar a implantação de cultivos nas lagoas. Contudo, o processo produtivo em vários países gera- va sobre-produções de salmão/trutas em escala comercial no mundo, as quais foram contornadas com êxito no Chile, mas que causaram enormes perdas na Noruega e Canadá. Essas desfavoráveis situações de mercado, em última instância, termi- naram fortalecendo a indústria como um todo, que continuava Foto: Ricardo Albuquerque Foto: Revista AQUA Chile 20 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 a enfrentar baixa de preços com a realização do esforço conse- qüente de melhorar sua efetividade de forma sistêmica. Isso se conseguiu por meio de um processo praticamente contínuo de aumento da capacidade de produção do cultivo, conexo com a mecanização das principais tarefas. No caminho fi caram as pequenas empresas ao serem fechadas ou transferidas para unidades maiores que as absorveram rapidamente. Assim, no decorrer de 20 anos, o Chile registrou um aumento de quase 100 vezes no tamanho médio das empresas de salmonicultura, a melhora substantiva do nível dos produtos (valor agregado) exportados e a sua qualidade, uniformidade e condições sanitárias. O Chile alcançou o segundo lugar entre os produtores mundiaisde salmão e truta e se destacou como o mais efi ciente, apoiado por um forte aparelhamento de formação e aperfeiçoamento de técnicos e profi ssionais através das universidades, institutos tecnológicos e instituições similares. Somente com esta exigente e disciplinada dinâmica organizacional foi possível a sobrevivência e o progresso da salmonicultura chilena. Ainda que timidamente, em anos recentes, começou no Chile um processo de busca da diversifi cação produtiva com a exploração de outras espécies, não menos de 15 a 20, entre as quais se destaca a merluza austral, instalando-se novos cultivos exóticos (turbot e abalone) e intensifi cando outros (vieiras, mexilhões, algas e ostras). Essas iniciativas são fi nanciadas com fundos de pesquisa e desenvolvimento do Governo que são administrados pela Corporação de Fomento da Produção - CORFO, pela Comissão Nacional Científi ca e Tecnológica - CONICYT, por diversos fundos (FONDEF, FONDECIT), e ainda por recursos regionais. A verdade é que a combinação equilibrada e oportuna de esforços entre o Governo e a iniciativa privada contribuiu decisivamente para que a aqüicultura chilena tenha conseguido estabelecer-se como uma grande indústria de nível mundial – a do salmão - acompanhada de medianos e pequenos produtores de mexilhões, ostras, vieiras e de empreendimentos emergentes como o turbot e o abalone. A análise que se pode fazer em relação ao Brasil, cuja indústria camaroneira depois de várias experiências fracassa- das cresceu em produção e produtividade com a introdução do camarão do Pacífi co e manteve lucros, apesar da redução dos preços internacionais, permite formular o seguinte comentário: o aumento de produtividade, principalmente entre os pequenos e médios produtores, não foi acompanhado de melhoramento da tecnologia, nem tampouco de assistência técnica e, menos ainda, da mecanização dos trabalhos manuais. A crise posterior a 2003, que incidiu sobre o setor e que descapitalizou os produtores, por certo, fez afl orar as defi ciências de toda a cadeia produtiva, evidenciando: um marco regulatório incompleto e inefi ciente; alimentos balanceados de qualidade irregular; sistemas de controle governamental defi cientes ou inexistentes; pós-larvas de baixa qualidade genética e muitas 21Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 vezes transmissoras de doenças; confl itos não resolvidos na área ambiental; difi culdades de obtenção de fi nanciamento a custos adequados; recursos fi nanceiros para pesquisa incompatíveis com o aporte e importância regional da atividade; falta de pessoal preparado em todos os níveis para tratar de problemas relacionados com a biossegurança dos cultivos nas unidades de produção e, principalmente, a falta uma política pública federal, mesmo com a criação da Secretaria Especial da Aqüicultura e Pesca (SEAP). Além desses fatores internos, o desafi o da carcinicul- tura brasileira fi ca aumentado com a exitosa introdução do cultivo do camarão do Pacífi co nos países asiáticos, o que difi cultará a recuperação dos preços internacionais. Apesar da crise por que passa o camarão em con- finamento no Brasil, seu cultivo é muito importante para o setor pesqueiro nacional, já que contribui com mais de 40% das exportações totais e 32,5% da produção pesqueira marinha de toda a Região Nordeste, na qual se sobressaem o Estado do Ceará com 50,6% e o Rio Grande do Norte com 64,1%. O Futuro O Chile também enfrentou acusações de dumping no mer- cado norte-americano, o que resultou na aplicação de sobretaxas alfandegárias por vários anos. Também, a sua indústria de sal- mão, embora recentemente favorecida com preços internacionais em alta, maiores que em temporadas anteriores, tem enfrentado um cenário de preços fortemente decrescente nos últimos 10 anos e em ocasiões – como neste último ano – uma forte valo- rização do peso chileno em relação ao dólar, que tem afetado negativamente os ingressos associados às exportações. Então, cabe a pergunta: qual é a fórmula que tem permi- tido a indústria chilena do salmão seguir progredindo? Qual a receita para sustentar o crescimento futuro? Sem dúvida, trata-se da combinação de muitos fatores que fi nalmente incidem num conceito global que é a chave de tudo: a profi ssionalização da atividade. Trata-se de um processo de maturidade crescente, no qual se deixam de lado os “adjetivos” e os problemas menores, para concentrar-se no “substantivo” e no essencial. Trata-se tam- bém de apreciar que existem interesses coletivos na indústria, que podem e devem ser assumidos por todos seus participantes, embora sem postergar de forma desmedida as legítimas dife- renças e interesses entre os seus membros. Finalmente, mas não menos importante, conclui-se que a sociedade deve fazer parte do processo de crescimento, neces- sitando-se cada vez mais de uma aliança e de um entendimento entre a empresa e o Governo, que devem fi nalmente buscar afi nar a maneira de satisfazer o interesse público e privado de maneira harmônica. Aqui devem ser destacados os fatores essenciais nos quais tem sido sustentada a profi ssionalização da salmonicultura no Chile. Eles mostram claramente não apenas os “eixos” sobre os quais se tem atuado no passado, mas também constituem os pilares sobre os quais se cimentará o desenvolvimento futuro. São os seguintes: • Aumento contínuo e importante da capacidade média de cada empresa; • Forte tendência à integração vertical das atividades; • Incorporação permanente de tecnologia aos processos de pro- dução com o aumento da mecanização e da melhoria do equipamento físico; • Preocupação crescente e incorporação da biotecnologia e da genética aos processos produtivos; • Capacitação permanente da força de trabalho; • Maior efi ciência das rotinas de gestão em todos os níveis e, es- pecialmente, o dos corpos gerenciais; • Melhorias substantivas nos procedimentos sanitários em todas as fases de produção, para prevenir e se necessário tratar as doenças; • Terceirização dos trabalhos não essenciais, contratando empre- sas especializadas capazes de oferecer melhores contribuições a menores custos; • Incorporação efetiva do tratamento oportuno dos problemas ambientais na “equação produtiva”, eliminando e mitigando os efeitos indesejáveis; • Atenção e esforço permanente para produzir e vender somente produtos de qualidade e sanidade garantidas a toda prova; • Melhoramento substantivo das plantas de processamento de pescado no que se refere a seus equipamentos, procedimentos fabris e sanitários; • Busca constante da lealdade dos clientes nos mercados internacionais; • Estrito cumprimento dos contratos comerciais; • Preocupação permanente por aprofundar a presença nos merca- dos já tradicionais e por abrir novas oportunidades de negócios; • Fortalecimento do nível de organização e contribuição da indús- tria de serviços correlatos, provedores de insumos, equipamentos diversos e maquinaria; • Fortalecimento do trabalho associativo, uma forte liderança entre a Associação de Produtores de Salmão (SalmónChile) e seu instituto tecnológico associado, a INTESAL. • Crescente nível de entendimento e de apoio mútuo entre Empresa e Governo, para enfrentar situações confl itantes, dentro e fora do país. 22 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 23Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 Essas medidas têm signifi cado para o Chile a necessidade de destinar boa parte dos lucros das empresas para sua constante implementação, melhoria e ampliação permanentes e, para manter reduzidos os níveis de endividamento com os fornecedores de equi- pamentos, insumos e serviços. Como contrapartida, têm permitido à indústria chilena manter-se efi ciente e altamente competitiva, com a habilidade de converter cada problema ou desafi o numa oportunidade para melhorar a efi ciência e a competitividade do setor. Só assim o Chile pôde continuar avançando e chegar a dispor de uma indústria de categoriainternacional e sustentável de longo prazo. Essas medidas deverão intensifi car-se no futuro, embora com mudanças de ênfase. Sem dúvida, também existem frustrações e problemas pen- dentes que estão sendo enfrentados da melhor forma. Entre várias outras situações não desejáveis, porém esperadas, observou-se a perda dos pequenos e médios produtores, que tiveram que aban- donar os cultivos pela incapacidade do sistema em acolhê-los e/ou acomodá-los ao processo de modernização e crescimento. Muitos deles têm deixado o setor, mas alguns, reconhecendo sua vocação empresarial, estão recomeçando a trabalhar em outros cultivos menos exigentes e/ou dando origem a novas empresas de serviço e de abastecimento de insumos e equipamentos de variados tipos que acompanham o processo de produção central. Outra grande frustração, que ainda não foi possível resol- ver completamente, é a necessidade de uma legislação moderna, administrada por um aparato governamental que seja ágil e que apresente uma atitude e vocação real de apoio sistemático à aqüi- cultura. É reconhecido que ultimamente têm ocorrido avanços, porém não sufi cientes. Finalmente, estão presentes os confl itos entre a indústria do salmão e as organizações ambientais que não podem ser desconsiderados, ao contrário, devem ser enfrentados com diálogo, com maiores investimentos em sustentabilidade e em informações adequadas e oportunas à comunidade, aos políticos, aos formadores de opinião e, principalmente, ao Governo. Por certo, não se deve esperar que os mercados para o sal- mão e trutas continuem crescendo com as impressionantes taxas de incremento do passado. Já se evidenciam certos sinais de saturação que pressagiam períodos de crescimento mais moderados. Se este é o caso, a competição entre países produtores se intensifi cará e deverá continuar o processo de melhoria na competitividade para garantir a sustentabilidade a longo prazo. Nesse contexto, será importante pensar em criar valores, não tanto pelo aumento dos volumes exportados, senão muito mais, baseados no incremento do preço médio do que se exporta. Isso signifi ca que a indústria deverá distanciar-se, na medida do possível, dos mercados de commodities, e atender cada vez com maior ênfase mercados mais especializados e com maior demanda. Isto posto, que lições se podem tirar da salmonicultura chilena para que a carcinicultura brasileira se torne cada vez mais sustentável? Em realidade são muitas, mas inicialmente se deve fazer o dever de casa. Para o desenvolvimento sustentável do cultivo de camarão é fundamentalmente necessária a existência de uma vontade política dos governos, federal e estaduais, como um todo, reconhecendo e assumindo as oportunidades e ameaças, por um lado, e suas forças e fraquezas, por outro. Se deve usar as vantagens comparativas e os ganhos de ordem política conseguidos recentemente: preço da energia e isenção do pagamento do ICMS, para explorar ao máximo as oportunidades que se apresentam como, por exemplo, a exploração efi ciente do mercado interno. Se deve trabalhar adequadamente as fragilidades internas de ordem ambien- tal e de biossegurança e as ameaças externas de natureza comercial e de competitividade. Deve-se considerar principalmente a força da iniciativa privada, que mesmo com todos os problemas pela qual hoje passa a atividade, ainda acredita nela, e continua produzindo e visualizando dias melhores. É preciso trabalhar incansavelmente sua fraqueza principal: dar uma base organizacional e institucional ao desenvolvimento sustentável da carcinicultura, devendo progre- dir a capacidade de preparar uma organização pautada em diretrizes coerentes e em recursos humanos capacitados para fazer frente a um mundo globalizado. Só assim, se poderá constituir uma parce- ria forte entre a iniciativa privada, incluindo o agronegócio como um todo. O Governo, não deve perder a perspectiva de que a área privada visa o lucro e a administração pública dirige o olhar para sua função social, só então, será possível seguir os ensinamentos e caminhos que a salmonicultura nos oferece. Salvo escassas exceções, e solucionados os problemas de ordem organizacional e institucional, os conceitos descritos ante- riormente poderiam aplicar-se ao caso do Brasil e à sua indústria de cultivo de camarão. Certamente, haverá que trabalhar com diferentes matizes, mas os problemas e as opções são extraordi- nariamente similares. Admitimos, portanto, que o caminho já percorrido pela salmonicultura chilena é um bom indicativo de alguns aspectos que já ocorreram ou que ocorrerão na carcinicultura brasileira, e que as opções estratégicas para continuar desenvolvendo essa importante atividade econômica no Brasil não distam muito daquelas que enfrentam os produtores de salmão do Chile. Essa constatação convida a um melhor e maior intercâmbio de opiniões e experiências entre técnicos e líderes empresariais e governamentais de ambas as nações, com vistas a compartilhar inquietações e explorar soluções criativas a problemas que às vezes parecem insolúveis, mas que, curiosamente, são um dejá vu em outras latitudes. Foto: Revista Panorama da AQÜICULTURA 24 Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 25Panorama da AQÜICULTURA, janeiro/fevereiro, 2006 Enfermidades da Carcinicultura Brasileira: Por: Thales Passos de Andrade*1 Donald V. Lightner1 Itamar de Paiva Rocha2 1Aquaculture Pathology Laboratory, University of Arizona – USA, e-mail: thpa@email.arizona.edu 2Associação Brasileira dos Criadores de Camarão - ABCC O Brasil dentre outros países produtores de camarão marinho em cativeiro tem enfrentado, nos últimos anos, vários impactos causados por enfermidades que contribuíram para a queda dos índices de desenvolvimento da carcinicultura. O risco do aparecimento de novas ou emergentes enfermidades sempre estará presente, porém, a dimensão do seu impacto dependerá da capacidade da indústria em controlar o grau de saúde dos camarões estocados. Diante deste quadro, é urgente a criação de uma força tarefa, com a participação de representações dos setores público e privado, visando estabelecer tecnologias que venham minimizar as perdas causadas por agentes pato- gênicos, como o vírus da mionecrose infecciosa (IMNV) e da mancha branca (WSSV). A atuação desta força tarefa deverá ser efi cientemente padronizada e coordenada pelos órgãos de gestão do setor, e ser implementada em fazendas e laboratórios regionais e nacionais. O presente artigo tem por fi nalidade, destacar importan- tes conceitos, dados e ações que possuem o intuito de colaborar, de forma signifi cativa, na prevenção de um possível prejuízo ocasionado pelas mortalidades apresentadas durante o ciclo produtivo do camarão L. vannamei no Brasil. Métodos de diagnóstico e prevenção Principais agentes patogênicos importantes para a carci- nicultura brasileira Entre cinqüenta tipos de vírus que podem ser hospedeiros em crustáceos, um número superior a vinte pode infectar o camarão marinho. Apesar deste grande número, os produtores brasileiros devem fi car atentos ao controle de apenas quatro vírus: Vírus da Mionecrose Infecciosa (IMNV), Vírus da Mancha Branca (WSV), Vírus da Infecção Hypodermal e Necrose Hematopoiética (IH- HNV) - Tipo 1 e o Vírus causador da Síndrome de Taura - (TSV) - Tipo A. Acrescentam à lista de patógenos relevantes: um agente bacteriano causador da Necrose Hematopoiética (NHP) e um protozoário (gregarina). Todos estes patógenos são endêmicos e possuem histórico de terem gerado perdas no Brasil. As espécies que pertencem ao gênero Okavirus: Vírus da Cabeça Amarela (YHV) e o Vírus Associado às Brânquias (GAV), apesar de não estarem presentes no Brasil, são exemplos de outros agentes virais que vêm causando perdas econômicas em outros países. Para prevenir a introdução desses patógenos na indústria brasileira, faz-se necessária a inclusão do trinômio YHV/GAV/LOV em programas de biossegurança que
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