Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
POLÍTICA SOCIAL Daniela Doreto Políticas de promoção e defesa de direitos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer políticas de direitos. Identificar as políticas por segmentos populacionais. Caracterizar a política de seguridade social. Introdução A Constituição Federal de 1988 elencou direitos e deveres dos cidadãos brasileiros, concretizados a partir do surgimento das políticas públicas. Podemos entender políticas públicas como a intervenção do Estado na questão social e suas múltiplas expressões mediante a formulação e a implementação de ações voltadas para assegurar a proteção social, cujo início está relacionado ao desenvolvimento do sistema capitalista. No Brasil, várias políticas públicas foram implementadas para assegurar direitos a segmentos populacionais específicos. Neste capítulo, discutiremos sobre as políticas de direitos, estratifi- cando-as por segmentos populacionais e com enfoque na política de seguridade social. Política de direitos Quando falamos em políticas públicas de direito, referimo-nos à intervenção do Estado na questão social e suas múltiplas manifestações mediante a formulação e a implementação de ações voltadas para assegurar a proteção social. Essas ações são materializadas por meio de programas, projetos e serviços com o objetivo de garantir condições de vida aos cidadãos com base nos princípios de equidade e justiça. Em outras palavras, podemos pensar as políticas sociais como resultado da dinâmica social e da relação entre os diversos sujeitos, em seus espaços e a partir de interesses diversos, servindo como “[...] instrumen- tos de legitimação e consolidação hegemônica que, contraditoriamente, são permeadas por conquistas da classe trabalhadora” (MONTAÑO, 2007, p. 39). O surgimento das políticas públicas de direito está relacionado ao desenvol- vimento do sistema capitalista e às contradições que este promove, bem como à consequente articulação dos movimentos sociais na luta por melhores condições de vida e trabalho. Behring e Boschetti (2011, p. 64) apontam que as políticas sociais não iniciaram do mesmo modo em todos os países; na verdade, esse processo “foi gradual e diferenciado, dependendo dos movimentos e pressão por parte das classes trabalhadoras, do grau de desenvolvimento das forças produtivas e das correlações e composições de força no âmbito do Estado”. Para compreender as relações imbricadas no desenvolvimento da política social de direito brasileira, as autoras recorrem ao ano de 1923, no qual se aprovou a Lei Eloy Chaves, que criou as Caixas de Aposentadoria e Pensão para uma categoria estratégica de trabalhadores (ferroviários e marítimos): Por que estratégicas, e consequentemente com maior poder de pressão? Naquele momento, o Brasil tinha uma economia basicamente fundada na monocultura do café voltada para a exportação — eis aqui a base da nossa heteronomia —, produto responsável por 70% do PIB nacional. Por isso os direitos trabalhistas e previdenciários foram reconhecidos para aquelas categorias de trabalhadores inseridos diretamente nesse processo de produção e circulação de mercadorias (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 80). Nessa perspectiva, Faleiros (1991, p. 8) refere que: [...] as políticas sociais ora são vistas como mecanismos de manutenção da força de trabalho, ora como conquista dos trabalhadores, ora como arranjos do bloco no poder ou bloco governante, ora como doação das elites domi- nantes, ora como instrumento de garantia do aumento da riqueza ou dos direitos do cidadão. Dessa forma, evidencia-se que, no Brasil, as políticas sociais, que se ori- ginaram no século XX, apareceram como uma possibilidade de minimizar os conflitos resultantes das desigualdades provenientes do sistema capitalista, ou seja, não teriam como finalidade principal o bem-estar dos indivíduos. O processo de instituição das políticas sociais no país foi lento e resultado da mobilização da classe trabalhadora. Behring e Boschetti (2011, p. 51) indicam que as políticas sociais e a forma como estão estruturados os padrões de proteção social são respostas e formas de enfrentamento às manifestações da Políticas de promoção e defesa de direitos2 questão social, muitas vezes fragmentadas e setorizadas, no contexto atual do capitalismo. Para as autoras, o fundamento principal dessa questão consiste na relação entre capital e trabalho. No entanto, mudanças quanto à instituição e à operacionalização das políticas começam a acontecer na década de 1980, mais especificamente com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que elencou grandes avanços em relação aos direitos sociais (BRASIL, 1988). Na mesma década, Piana (2009) aponta que houve formulações muito importantes para a vida dos trabalhadores e que ganharam impulso após o processo de transição política e o agravamento da questão social. Segundo a autora, [...] não obstante, as políticas sociais brasileiras sempre tiveram um caráter assistencialista, paternalista e clientelista, com o qual o Estado, por meio de medidas paliativas e fragmentadas, intervém nas manifestações da questão so- cial, preocupado, inicialmente, em manter a ordem social (PIANA, 2009, p. 38). Ainda, Piana (2009) refere que as políticas sociais mantêm uma intrín- seca relação com o contexto social, político e econômico vigente no país e, portanto, citando Pastorini (apud PASTORINI, 1997, p. 84-92), devem ser consideradas uma extensão do capitalismo, de suas contradições, da acumulação de capital e um produto histórico, e não um resultado de um desenvolvimento natural. Para a autora, as políticas sociais estão, desse modo, “[...] no centro do embate econômico e político deste início de século, pois a inserção do Brasil (país periférico do mundo capitalista) no mundo globalizado, o fará dependente das determinações e decisões do capital e das potências mundiais hegemônicas”. E, mais uma vez citando Pastorini (1997, p. 88), Piana entende que as políticas sociais têm as seguintes funções: social — atendimento redistributivo dos recursos sociais por meio da prestação de serviços assistenciais; econômica — função do Estado na transferência direta ou indireta de recursos, bens e serviços visando à acumulação de capital; política — conflito e luta de classes, com o objetivo de obter legitimidade e o controle social. Com base no exposto, podemos inferir que as políticas sociais consistem em formas de favorecer a manutenção da força de trabalho de modo a não afetar a exploração capitalista no processo de lutas de classes. Segundo Faleiros: 3Políticas de promoção e defesa de direitos [...] as políticas sociais, apesar de aparecerem como compensações isoladas para cada caso, constituem um sistema político de mediações que visam à articulação de diferentes formas de reprodução das relações de exploração e dominação da força de trabalho entre si, com o processo de acumulação e com as forças políticas em presença (FALEIROS, 1991, p. 80). A Constituição de 1988 promoveu grandes avanços em relação às políticas de direitos; no entanto, Piana (2009) faz uma crítica quanto ao que se tem observado nas últimas décadas: muitos desrespeitos às leis e à sociedade brasileira como um todo, o que fica evidente por meio de fraudes, violações, corrupções cometidas pelo Estado, etc., constituindo uma “política social sem direitos”. Vale destacar que a Constituição Federal de 1988 também inovou ao conferir à sociedade civil a possibilidade de participar do controle das políticas sociais pelo chamado “controle social” (BRASIL, 1988). Assim, com base no que você leu até agora, as políticas de direito estão no bojo da sociedade capitalista, mas, apesar dos avanços obtidos com a Constituição Cidadã, ainda temos políticas de direitos focalizadas, restritivas e, muitas vezes, com um alcance pequeno. No entanto, por meio do controle social e da constante luta via movimentos sociais,podemos encontrar uma maneira de as políticas atingirem os fins para os quais foram pensadas e consigam, de fato, promover mudanças na vida dos cidadãos. Políticas por segmentos populacionais Como já afi rmado, a Constituição Federal de 1988 elencou os direitos e deveres dos cidadãos e pauta-se em valores de equidade e direitos universais (BRASIL, 1988). Além disso, reafi rmou conquistas transformadas em direitos sociais nas áreas de saúde, assistência social, educação, Previdência, trabalho, entre outras (PIANA, 2009). Algumas leis complementares, por exemplo, foram regulamentadas posteriormente, tendo como base a Constituição Federal, resultado de um intenso movimento de determinados segmentos da sociedade. A Lei nº. 8.069, de 13 de julho de 1990 (BRASIL, 1990), representa um exemplo de lei complementar, que detalha o art. 227 da Constituição Federal, definindo direitos das crianças e adolescentes, quem deverá aplicá-los e como Políticas de promoção e defesa de direitos4 isso será efetivado na prática. Assim, trata-se de um conjunto de normas que busca assegurar a proteção integral da criança e do adolescente, aqui entendidos como criança o indivíduo com até 12 anos de idade incompletos e adolescente entre 12 e 18 anos de idade. Em seu art. 3º, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) assegura que essa população goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana (assegurados na Constituição Fe- deral), mas sem os prejuízos da proteção integral de que trata essa lei, o que implica dizer que crianças e adolescentes devem ser protegidos pelo Estado, pela família e pela sociedade com absoluta prioridade. E, ainda: Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem (art. 3º, parágrafo único) (BRASIL, 1990, documento on-line). O ECA assegura também o direito a vida, saúde, liberdade, cultura, esporte e lazer, respeito, dignidade, convivência familiar e comunitária, profissio- nalização e proteção no trabalho, detalhando os direitos relativos a guarda, tutela e adoção, bem como a prevenção de situações em que uma violação de qualquer um de seus direitos possa acontecer. Assim como as crianças e os adolescentes, os idosos foram alvo de uma legislação específica, complementar à Constituição. O Estatuto do Idoso (Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003) foi criado para regular os direitos daqueles com 60 anos ou mais. Além de estabelecer os direitos e as responsabilidades na efetivação da proteção dos direitos dos idosos, o Estatuto do Idoso assegura a prioridade do atendimento em órgãos públicos e privados, estabelecendo prio- ridade especial aos maiores de 80 anos, devendo atender às suas necessidades preferencialmente em relação aos demais idosos (art. 3º, parágrafo 2º) (BRASIL, 2003). De modo geral, esse documento afirma que o idoso goza de todos os direitos fundamentais da pessoa humana, sem prejuízo dos demais previstos nessa Lei. O Estatuto também estabelece que a Assistência Social será prestada con- forme os princípios contidos na Lei Orgânica da Assistência Social (BRASIL 1993), prevendo a garantia de 1 salário mínimo ao idoso, a partir de 65 anos, que não tenha condições de prover a própria subsistência nem tê-la provida por sua família, além do “[...] benefício já concedido a qualquer membro da família nos termos do caput não será computado para os fins do cálculo da renda familiar per capita a que se refere a Loas” (parágrafo único) (BRASIL, 2003, documento on-line). 5Políticas de promoção e defesa de direitos Como foi possível observar, além das garantias fundamentais, priori- dade e renda, estão assegurados aos idosos direitos relativos, entre outros, a transporte gratuito, liberdade, educação, cultura, alimentação, saúde e proteção contra violação de direitos. Todos os direitos mencionados são trabalhados no Estatuto de modo bastante aprofundado, o que representa um avanço para essa população. O número de idosos tem aumentado significativamente no mundo todo, inclusive no Brasil. Estimativas apontam que, até o ano de 2020, o país será o sexto em número de idosos. Apesar de todos os avanços já observados nessa área, o Brasil é um país em desenvolvimento e não está preparado para o rápido envelhecimento da população, realidade somente possível em países desenvolvidos. Organismos internacionais e nacionais de proteção ao idoso trabalham hoje para efetivar a política do envelheci- mento ativo, que, de modo abrangente, implica proporcionar qualidade de vida, por meio do desenvolvimento de atitudes saudáveis. O Brasil também avançou na promoção dos direitos das pessoas com defi- ciência por meio de políticas que as valorizam como cidadãs, respeitando suas características e sua condição (BRASIL, 2012), como ao materializar o Estatuto da Pessoa com Deficiência — Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº. 13.146, de 6 de julho de 2015), destinada “[...] a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015, documento on-line). Para tanto, considera a pessoa com deficiência: [...] aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (BRASIL, 2015, art. 2º). Do mesmo modo como observamos nas políticas citadas anteriormente, são assegurados às pessoas com deficiência direitos relativos a educação, saúde, assistência social, trabalho, Previdência, esporte, lazer, etc. Outro segmento que teve seus direitos complementados por legislação específica são as pessoas Políticas de promoção e defesa de direitos6 que vivem em situação de rua (Decreto nº. 7.053, de 23 de dezembro de 2009), que institui a Política Nacional para População de Rua, considerada: [...] o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza ex- trema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma tempo- rária ou permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou como moradia provisória (art. 1º, parágrafo único) (BRASIL, 2009, documento on-line). Importante destacar que, além das garantias fundamentais, a referida Lei tem como princípios igualdade, equidade, respeito à dignidade da pessoa humana, direito à convivência familiar e comunitária, valorização e respeito à vida e à cidadania, atendimento humanizado e universalizado e respeito às condições sociais e diferenças de raça, origem, orientação sexual e religiosa, idade e nacionalidade (art. 5°) (BRASIL, 2009). Em julho de 2010, foi promulgada outra legislação que merece destaque: a Lei nº. 12.228, que institui o estatuto da Igualdade Racial, assegura à população negra, em seu art. 1º, “[...] a efetivação da igualdade de opor- tunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica” (BRASIL, 2010, documento on-line). Esse estatuto define o que compre- endem desigualdade e discriminação, apontando como dever do Estado e da sociedade garantir oportunidades iguais a todo cidadão brasileiro independentemente da etnia ou da cor da pele. Além disso, reafirma os direitos e as garantias fundamentais previstos na Constituição Federal e adota como diretrizes a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, a valorizaçãoda igualdade étnica e o fortalecimento da identidade nacional (BRASIL, 2010). Destacamos até aqui algumas políticas direcionadas a grupos específicos da população, no entanto vale dizer que há outras que buscam assegurar o direito de grupos em situação de vulnerabilidade ou desigualdade social. Um exemplo é a Lei Maria da Penha (Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de 2006), que busca coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher (BRASIL, 2006). Também podemos apontar as mobilizações a favor da população LGBT, que ainda luta e discute questões (por exemplo, casamento, adoção, etc.) que aguardam regulamentação legal. 7Políticas de promoção e defesa de direitos Política de seguridade social A seguridade social consta na Constituição Federal como uma maneira de organizar a política de proteção social no país no que se refere à saúde, à as- sistência e à Previdência Social (BRASIL, 1988). Nessa perspectiva, compete ao Poder Público organizar a Política da Seguridade Social com base nos seguintes princípios: I — universalidade da cobertura e do atendimento; II — uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às popula- ções urbanas e rurais; III — seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV — irredutibilidade do valor dos benefícios; V — equidade na forma de participação no custeio; VI — diversidade da base de financiamento; VII — caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos em- pregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Nesse sentido, consideram-se: saúde — “[...] direito de todos e dever do Estado, garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (art. 196); Previdência Social — “[...] organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial [...] e [que] atenderá eventos específicos da vida como doença, invalidez, morte e idade avançada; proteção à maternidade, em especial à gestante; proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário; salário família e auxílio-reclusão para os dependentes de baixa renda e pensão por morte do segurado” (art. 201); assistência social — prestada “[...] a quem dela necessitar, indepen- dentemente de contribuição à seguridade social” (art. 203) e que tem como objetivos: proteção à família, maternidade, infância, adolescência e velhice; amparo a crianças e adolescentes carentes; promoção da integração ao mercado de trabalho; habilitação e reabilitação das pes- Políticas de promoção e defesa de direitos8 soas com deficiência e integração de sua vida comunitária; e garantia de 1 salário mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não ter meios de garantir a própria subsistência nem tê-la provida por sua família. Diante do exposto, você pode observar que a Constituição Federal ampliou o sistema previdenciário, favorecendo o acesso dos trabalhadores rurais aos benefícios — com destaque para o caráter contributivo dessa política —, elevou a assistência social à condição de política pública não contributiva e consolidou a política de saúde por meio da criação do Sistema Único de Saúde (SUS). Para Boschetti (2009), o Brasil ainda está distante de dispor de um sistema de seguridade social, uma vez que o capitalismo favoreceu a construção de uma política baseada na lógica do seguro. Ainda segundo a autora, o resgate histórico das políticas que integram a seguridade social nos mostra que, na Lei Eloy Chaves (1923), o acesso às políticas de saúde e previdência restringia-se apenas àqueles que contribuíam com a Previdência Social. A assistência social, por sua vez, manteve-se distante do reconhecimento legal como direito e, ao longo do tempo, esteve ligada à Previdência Social. Boschetti complementa: Foi somente com a Constituição de 1988 que as políticas de previdência, saúde e assistência social foram reorganizadas e reestruturadas com novos princípios e diretrizes e passaram a compor o sistema de seguridade social brasileiro. Apesar de ter um caráter inovador e intencionar compor um sistema amplo de proteção social, a seguridade social acabou se caracterizando como um sistema híbrido, que conjuga direitos derivados e dependentes do trabalho (previdência) com direitos de caráter universal (saúde) e direitos seletivos (assistência). [...] aquelas diretrizes constitucionais, como universalidade na cobertura, uniformidade e equivalência dos benefícios, seletividade e distributividade nos benefícios, irredutibilidade do valor dos benefícios, equidade no custeio, diversidade do financiamento e caráter democrático e descentralizado da administração (CF, art. 194), não foram totalmente materializadas e outras orientaram as políticas sociais de forma bastante diferenciada, de modo que não se instituiu um padrão de seguridade social homogêneo, integrado e articulado (BOSCHETTI, 2009, p. 8). Em sua análise, a autora afirma também que a seguridade social manteve o princípio da universalidade e da integralidade no âmbito da saúde com a criação do SUS, que, por sua vez, foi reestruturando a política de assistência social a partir de 2004 apoiada no Sistema Único de Assistência Social, o que fortaleceu suas bases na lógica do seguro na Previdência Social, com reformas entre os anos de 1998 e 2003. Nessa lógica, ela refere que a seguridade social 9Políticas de promoção e defesa de direitos brasileira não prosperou quanto ao objetivo de favorecer uma lógica social. Pelo contrário, avançou na direção do fortalecimento da “lógica do contrato”, e o sistema público “foi-se “especializando’ cada vez mais no (mau) atendimento dos muito pobres”, ao mesmo tempo em que “o mercado de serviços médicos, assim como o de previdência, conquista adeptos entre a classe média e o opera- riado” (BOSCHETTI, 2009, apud VIANNA, 1998, p. 142). Assim, tenha havido avanços em relação à seguridade social evidenciada na Constituição Federal, as políticas que a integram ainda sofrem os reflexos do contexto atual neoliberalista e capitalista, que acabam impondo às políticas características como redução de investimentos, mínima participação do Estado, focalização e seletividade. BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2011. BOSCHETTI, I. Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação. In: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009. BRASIL. Código de Ética do Assistente Social. Lei n°. 8.662/93 de regulamentação da profissão. Conselho Federal de Serviço Social, 10. ed., Brasília, 2012. Disponível em: <http:// www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf>. Acesso em: 23 ago. 2018 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/consti- tuicao/constituicao.htm>. Acesso em: 23 ago. 2018. BRASIL. Decreto nº. 7.053, de 23 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 24 dez. 2009. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/ decreto/d7053.htm>. Aceso em: 23 ago. 2018. BRASIL. Lei federal nº. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispões sobre o estatuto da criança e do adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l8069.htm>. Aceso em: 23 ago. 2018. BRASIL. Lei Federal nº. 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe sobrea organização da assistência social e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 dez. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L8742compilado. htm>. Acesso em: 23 ago. 2018. Políticas de promoção e defesa de direitos10 BRASIL. Lei Federal nº. 10.741, de 01 de outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 out. 2003. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/Leis/2003/L10.741.htm>. Acesso em: 23 ago. 2018. BRASIL. Lei Federal n°. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 8 ago. 2016. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/ fed/lei/2010/lei-12288-20-julho-2010-607324-publicacaooriginal-128190-pl.html>. Aceso em: 23 ago. 2018. BRASIL. Lei Federal nº. 12.288, de 20 de julho de 2010. Institui o Estatuto da Igualdade Racial. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 jul. 2010. Disponível em: <http://www2. camara.leg.br/legin/fed/lei/2010/lei-12288-20-julho-2010-607324-publicacaoorigi- nal-128190-pl.html>. Aceso em: 23 ago. 2018. BRASIL. Lei Federal nº. 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 7 jul. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCiVil_03/_Ato2015- 2018/2015/Lei/L13146.htm>. Acesso em: 23 ago. 2018. FALEIROS, V. P. O que é política social. 5. ed. São Paulo; Brasiliense, 1991. PIANA, M. C. A construção do perfil do assistente social no cenário educacional. São Paulo: Editora UNESP; 2009. Leituras recomendadas BAPTISTA, M. V. Planejamento: introdução à metodologia do planejamento social. 4. ed. São Paulo: Moraes, 1998. BERTOLLO, K. Planejamento em Serviço Social: tensões e desafios no exercício pro- fissional. Temporalis, ano 16, n. 31, 2016. Disponível em: <http://periodicos.ufes.br/ temporalis/article/view/11943>. Acesso em: 23 ago. 2018. BOMTEMPO, T. V. Revisitando o Estatuto do Idoso na perspectiva do Estado Democrá- tico de Direito. Estudos interdisciplinares do Envelhecimento, v. 19, n. 3, p. 639-653, 2014. Disponível em: <http://www.seer.ufrgs.br/RevEnvelhecer/article/viewFile/47231/33277>. Acesso em: 23 ago. 2018. CASTILHO, D. R.; LEMOS, E. L. S.; GOMES, V. L. B. Crise do capital e desmonte da Segu- ridade Social: desafios (im)postos ao Serviço Social. Serviço Social & Sociedade, n. 130, p. 447-466, 2017. 11Políticas de promoção e defesa de direitos IAMAMOTO, M. V. O Serviço Social na cena contemporânea. In: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009. LEWGOY, A. M. B. Supervisão de estágio em serviço social: desafios para a formação e o exercício profissional. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2010. MIOTO, R. C. T.; NOGUEIRA, V. M. R. Política social e serviço social: desafios da intervenção profissional. Katalysis, v. 16, n. esp., p. 61-71, 2013. MONTAÑO, C.E. A natureza do serviço social. Cortez, São Paulo, 2007. RAICHELIS, R. Intervenção profissional do assistente social e as condições de trabalho no SUAS. Serviço Social & Sociedade, n. 104, p. 750-772, 2010. SALVADOR, E. S. O desmonte do financiamento da seguridade social em contexto de ajuste fiscal. Serviço Social & Sociedade, n. 130, p. 426-446, 2017. YASBEK, M. C. O significado sócio-histórico da profissão. In: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Serviço social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS, 2009. Políticas de promoção e defesa de direitos12
Compartilhar