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Farmacologia veterinária - Sistema nervoso autônomo Quando o veterinário medica um paciente com um fármaco autonômico, deve-se ter cuidado, porque estará mexendo com funções vitais, como coração, vaso sanguíneo e assim por diante. Um dos aspectos mais importante do autônomo é ter uma base sólida sobre ele, por isso será bastante repetida. Na maioria das funcionais orgânicas, podemos ter quatro tipo de desfecho e isso causa bastante confusão. Imagine um coração: ele é inervado tanto pelo simpático quanto parassimpático, só aí já devemos ponderar em qual dos dois o medicamento atuará, ou seja, 50% de acerto. Para cada divisão, pode-se estimular ou inibir, isto é, podemos atuar um simpatomimético ou simpatolítico; então, para cada órgão, olhando sob o âmbito do autônomo, temos que tomar a decisão entre quatro possíveis medicamentos. “Como se organiza a mente sobre isso, então?” Formando uma base sólida da neurofisiologia do autônomo. O autônomo inicia o seu trabalho dentro do sistema nervoso central - tronco cerebral e segmentos medulares -, porque ali se situa os corpos celulares da fibra pré-ganglionar, o qual projeta um axônio que realiza uma conexão sináptica com o chamado gânglio autonômico. Costumamos chamar a fibra que antecede a região de conexão sináptica de fibra pré-ganglionar, em que estabelece uma conexão sináptica, em sua extremidade, com outro neurônio, o qual necessariamente está fora do sistema nervoso central, na periferia. Este neurônio também tem seu axônio; a região de conexão entre a fibra pré e pós-ganglionar recebe o nome de gânglio (autonômico). (Alguns autores simplificam citando que o gânglio é basicamente uma região que contém corpos celulares de neurônios.) O neurônio pós-ganglionar estabelece conexões sinápticas com os efetores do sistema nervoso autônomo, que são basicamente três tipos de células: do músculo liso, glandulares e cardíacas. Há um outro tipo de conexão, que não se encaixa muito nessas três anteriores, que se refere a célula parietal gástrica. Falando de mensagens emitidas e recebidas por células, só haverá sentido se os mecanismo de comunicação forem muito bem sucedidos. “Como que essas células ‘dialogam’ clinicamente?”: o neurônio pré-ganglionar recebe um estímulo, daí se tem uma condução de potencial de ação ao longo dessa fibra e ela libera, finalmente, o neurotransmissor na região de conexão da terminação nervosa pré-ganglionar com o neurônio, chamada fenda sináptica. A sinapse depende da fenda sináptica e do receptor. No caso do autônomo, o receptor supracitado é para a acetilcolina e, por isso, denomina-se “colinérgico”. Com uma sinapse colinérgica, a acetilcolina é liberada e se acopla ao seu receptor do gânglio autonômico, o qual se chama nicotínico. Ele é um receptor de resposta rápida, ionotrópico. A informação, depois de uma conexão bem sucedida, segue e se forma um novo potencial de ação na fibra pós-ganglionar e, no final deste processo, vai ser realizado novamente a liberação da acetilcolina. Os receptores colinérgicos muscarínicos, como lembrando, divide-se em principalmente em M1, M2 e M3. O M2 trata-se do cardíaco (o qual recebeu o nome de cardíaco, causa a diminuição de adenilato ciclase), enquanto o M1, ou neural, é encontrado nas células parietais gástricas e o M3, nas glândulas e músculo liso, estes dois últimos têm o mesmo acoplamento na fosfolipase C . Os fármacos que modulam estes receptores colinérgicos muscarínicos ou nicotínicos se organizam em cinco categorias, basicamente: (as mais importantes, pelo número de moléculas e de aplicações, são categorias 1 e 2, que estimulam ou bloqueiam os receptores muscarínicos) tanto os que estimulam quanto bloqueiam - os quais são utilizados como drogas hipertensivas - os gânglios vão atuar nos receptores colinérgicos nicotínicos; os anticolinérgicos não atuam em receptores, mas sim em enzimas que degradam a acetilcolina. Começando pela primeira divisão, agonistas muscarínicos: fármacos que têm capacidade de atuar sobre o receptor colinérgico que está presente nos efetores do parassimpático. Há dois grupos aqui: o primeiro tem uma estrutura que imita a conformação da acetilcolina, para produzirem efeitos colinérgicos, e são denominados derivados sintéticos da acetilcolina, e o segundo grupo foi descoberto na natureza, chamados colinérgicos naturais. Partindo dos derivados sintéticos da acetilcolina, temos que a ACh, atuante tanto nos gânglios quanto pós-ganglionar, tem o lado direito da molécula um grupo amônio quaternário e o esquerdo possui um grupo éster; ela possui uma peculiaridade, é hidrolisada rapidamente pela acetilcolinesterase, a qual está próxima a região sináptica. A partir dessa estrutura já conhecida, podemos obter fármacos sintéticos, os quais são o carbacol, metacolina e betanecol. Essa derivação é bem simples de se entender: o carbacol possui a substituição do carbonila pelo nitrogenado de carbamida; quando a ponta da molécula é mexida, a capacidade enzimática da acetilcolinesterase é inibida. Porém, o carbacol possui um fator inconveniente: para ser um agonista muscarínico, ele não respeita a regra básica de atuar preferencialmente nos receptores muscarínicos, pois realiza ação sobre os nicotínicos também. A metacolina já é um agonista muscarínico de carteirinha, porque não atua em receptores nicotínicos. Apesar de ser boa, ela tem um componente que a faz voltar a ter o grupamento metil, voltando a ser suscetível a acetilcolinesterase. O betanecol possui duas alterações, a substituição do grupo carbonila, semelhante ao carbacol, e a retirada do grupamento metil, fazendo assim com que ele não sofra ação da acetilcolinesterase e ainda atue somente sobre os receptores muscarínicos. Lembrando do Loewi, quem manda no nosso coração é o nervo vago e a acetilcolina, mantendo o automatismo do coração no nível correto. Então, a ação colinérgica atua sobre o coração de forma crono inotrópica negativa. Ainda não temos neurônios colinérgicos chegando aos vasos. Mas temos uma ativação colinérgica grande sobre o sangue, causando vasodilatação, que envolve um grande transmissor denominado óxido nítrico e o endotélio. Os efeitos colinérgicos são dicotômicos, pois temos o efeito sobre o coração que vai num sentido que faz o coração bater mais devagar, porém, ao olhar os outros órgãos,eles se aceleram em resposta ao estímulo autonômico. “Em algumas situações, teremos uma resposta cardíaca, em outras, uma resposta mais digestório, como será que o sistema nervoso autônomo se organiza para realizar tais ações?” Uma maneira que essas funções foram organizadas - naturalmente, claro, uma parte foi pela própria fisiologia em si - foi por via receptor. Então, se colocarmos um receptor M2 no coração, quando a acetilcolina for liberada nesse órgão, por força da eletrofisiologia do receptor M2, o coração baterá mais devagar, pois ele não terá outra opção senão a de diminuir a força e bater mais devagar, obtendo assim o efeito bradicárdico inotrópico negativo. Da mesma maneira, temos uma resposta sobre vísceras, músculo liso e glândulasque vai num sentido oposto e que é mediada pelo receptor M3; sua eletrofisiologia leva ao aumento de cálcio e assim gera o aumento de produção das glândulas e peristaltismo. O betanecol, sendo um simpatomimético, não tem uma especificidade por receptor e atua estimulando-os todos. Pode ser usado, particularmente, numa contração da musculatura lisa da vesícula urinária e trato digestório em condições em que o animal não consegue executá-la, mas para isso, mesmo com a patologia, ele ainda precisa ter o receptor funcional para que haja efeito sobre o órgão-alvo. As doses recomendadas para cães e gatos são diferentes (bem menor em gatos), é administrada por via oral, usado para bexiga ou esfíncter do trato digestório; no equino, as doses são menores, mesmo em relação às dos gatos. Em algumas situações, o estímulo colinérgico da vesícula urinária pode gerar uma contração desse órgão, que é positiva pro esvaziamento dela. Ocorre que a urina não consiga sair porque a uretra pode estar obstruída por algum motivo, e há alguns medicamentos responsáveis pela resolução desse problema, são eles os fenoxibenzamínicos, que é um bloqueador alfa-adrenérgico, e os benzodiazepínicos também. O betanecol tem contraindicações em situações que o problema não é a falha neurológica de inervação da vesícula urinária, porque, caso contrário, só pode complicar a situação; não é recomendado em casos de o paciente já apresentar problemas gástricos também, pois o betanecol estimula também o H1 a secretar HCl. A função colinérgica deste fármaco pode estar envolvida em eventuais complicações do hipertireoidismo e função cardíaca, assim como epilepsia, asma e problemas cardiovasculares (pois o betanecol deprime o coração). Os efeitos adversos - não significando contraindicações, mas sim respostas que o animal pode dar ao uso do medicamento - envolvem vômito e salivação excessiva. Se houver quadro de toxicidade colinérgica, deve-se efetuar o antagonismo dele, porque, se há uma ativação excessiva dos receptores colinérgicos, a melhor estratégia para reversão deste quadro é usar atropina, que é um agonista colinérgicos. Há colinérgicos naturais que vieram de plantas, não havendo nem síntese química e nem modificações, sendo eles três: muscarina, pilocarpina e . A muscarina vem dos cogumelos vermelhos presente na natureza, e deles derivam o termo efeito muscarínico. A pilocarpina provém de pilocarpus e é um medicamento bastante utilizado no campo da oftalmologia. Os três componentes têm uma característica de produzir um efeito colinérgico muscarínico sobre glândulas e músculos lisos, sem afetar tanto ao coração. A pilocarpina, na musculatura lisa da pupila, é esfincteriana, estimulando o esfíncter da pupila para contrair; sendo usada em controles emergenciais de glaucoma. Os efeitos colinérgicos muscarínicos envolvem aumento da contração da musculatura lisa, um pouco de urina e assim por diante. Em glândulas exócrinas é muito evidente os efeitos desses agonistas colinérgicos (costumamos dizer que o cavalo perde litros de suor em resposta a pilocarpina). Existe um efeito sobre o coração, claro, porém não é tão visível sobre como o músculo liso; há uma queda de pressão arterial e da frequência cardíaca, e é óbvio que as respostas bradicárdicas, num sentido terapêutico, são de pouquíssima utilidade clínica. Sobre o SNC, esse estímulo colinérgico pode causar sua hiperatividade, em particular os receptores M1. A nível de excitação, uma dose de pilocarpina pode causar uma crise convulsiva no indivíduo - o que retira a convulsão é com a administração de diazepam (isso indica que o indivíduo entra numa fase silenciosa da doença, não apresentando comportamento convulsiva. Mas dali duas ou três semanas, ele volta a apresentar as convulsões e entra num estado epiléptico, em que esse quadro é chamado de epileptogênese, onde o SN começa a apresentar sinais de neuroinflamação, morte de células…). Alguns bloqueadores muscarínicos são usados para o controle de salivação excessiva em casos de quadros epilépticos, mas esses fármacos não ultrapassam a barreira hematoencefálica, por isso não conseguem controlar os quadros epilépticos. A pilocarpina, como agente terapêutico, pode ser usada no tratamento sintomático do glaucoma - lembrando que essa é uma patologia bastante complexa, envolvendo diversos outros tratamentos com prostaglandinas, diuréticos, etc. Contudo, em casos de emergências clínicas, usa-se a pilocarpina para fechar a pupila e aumenta a produção de lágrimas, pois atua em receptores M3 das glândulas lacrimais. O efeito aqui causado não é tão importante quanto o uso de imunossupressores, pois é uma doença imunomediada. Os efeitos colinérgicos em diferentes órgãos: quem manda no coração é o parassimpático - em que o nervo vago estimula a liberação de acetilcolina nos receptores M2, que está acoplado a uma proteína G inibitória, ocorrendo uma diminuição da função cardíaca -; da mesma forma em que controla o coração, quase não afeta em nada nos vasos sanguíneos; os brônquios (e todos os outros músculos lisos) são inervados pelo sistema colinérgico e contêm receptores muscarínicos M3; o M3 aumenta motilidade do estômago, enquanto os receptores M1 estão localizados nas células parietais estomacais; nos órgãos sexuais masculinos, o M3 é responsável pela ereção; no olho, há constrição da musculatura ciliar, para um visão mais próxima (e o adrenérgico é responsável por uma visão mais longa); nas glândulas sudoríparas, a transmissão é simpatocolinérgica, sendo uma exceção.
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