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(20200603-PT) Negócios

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Quarta-feira, 3 de junho de 2020 | Diário | Ano XVI | N.º 4257 | € 2.50 
Diretor André Veríssimo | Diretor adjunto Celso Filipe
Crescimento dos inativos 
esconde desemprego de 8% 
Navigator avalia 
alternativas no 
negócio do papel 
O CEO, António Redondo, diz que o grupo 
está a olhar para a pasta, o “tissue” 
e produtos alternativos ao plástico. Pagamento 
de dividendos deve avançar até ao final do ano.
“Custo 
reputacional” 
do Novo Banco 
acaba este ano 
EMPRESAS 14 e 15 
PRIMEIRA LINHA 4 e 5
EMPRESAS 16 e 17
A taxa reportada pelo INE para abril, de 6,3%, ainda não conta a história toda sobre o impacto 
da crise. Forte subida da população inativa indica que desemprego é muito mais elevado. 
O que está a mudar na 
logística e nas cadeias 
de abastecimento. A polémica tem dominado a vida da 
instituição. Presidente garante que 
reestruturação é para fechar em 2020. ESPECIAL 20 e 21
PRIMEIRA LINHA 6
Segurança social 
Empresas que não 
queiram reabrir 
arriscam perder 
acesso ao lay-off
Sustentabilidade 
Compras 
a produtores 
locais ganham 
força com 
a pandemia 
Investimento de 105 milhões é inaugurado no final 
de julho nas antigas caves da Croft e da Taylor’s. 
World of Wine 
abre em Gaia 
sem previsão 
de visitas 
EMPRESAS 18
Parlamento alarga 
proteção a diabéticos 
e hipertensos 
ECONOMIA 10 e 11
PRIMEIRA LINHA 8 e 9
Comércio 
Restaurantes 
rejeitam proteções 
em acrílico 
HOMEPAGE 2
Imobiliário 
Suíça Mexto 
investe 30 milhões 
nos Olivais 
Ti
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
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OPINIÃO
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A pós três anos a in-vestir em Portugal apenas no segmen-to de luxo, com um valor total de apro-
ximadamente 200 milhões de eu-
ros, a suíça Mexto avança agora 
para o primeiro projeto destinado 
à classe média portuguesa. 
Fonte oficial da Mexto indicou 
ao Negócios que o novo empreen-
dimento, designado O’Living, re-
presenta “um investimento de 30 
milhões de euros”. 
O novo projeto, localizado nos 
Olivais, em Lisboa, conta com a 
assinatura do arquiteto Miguel 
Saraiva, do ateliê Saraiva e Asso-
ciados, e é composto por dois edi-
fícios com um total de 86 aparta-
mentos. 
Os apartamentos terão tipolo-
gias de T1 a T3 duplex e áreas en-
tre os 70 metros quadrados (m2) 
e os 180 m2, contando com gara-
gem individual. O projeto inclui 
ainda cinco unidades de retalho 
com áreas de 97 m2 a 198 m2, mas 
que poderão ser tornadas numa 
loja única para acomodar um su-
permercado, refere a Mexto, em 
comunicado. 
A empresa considera que o 
novo empreendimento, para o 
qual assinou recentemente a es-
critura do lote, vem dar resposta à 
“à falta de oferta destinada ao 
mercado residencial nacional”. 
O empreendimento O’Living 
aposta numa “oferta de qualida-
de, com uma arquitetura versátil 
e com preços em linha com a pro-
cura nacional”, considera Elson 
Angélico, diretor-geral e “partner” 
da Mexto, citado no comunicado. 
“Temo-nos apercebido do in-
teresse crescente por este tipo de 
produto imobiliário e por isso fez 
todo o sentido enquadrar a quali-
dade da Mexto neste segmento”, 
acrescenta. 
 
Um portefólio de luxo 
Entre os projetos já desenvolvidos 
ou em curso em Portugal, a imo-
biliária helvética conta, por exem-
plo, com o Avencas Ocean View 
Residences, em Carcavelos. Este 
edifício com nove apartamentos 
apresenta preços que oscilam en-
tre os 1,4 milhões de euros para 
um T2 de 170 m2 e os 2,5 milhões 
para um T4 duplex com 342 m2. 
A Mexto tem ainda o em-
preendimento Prior do Crato, em 
Alcântara, o Ajuda Garden Resi-
dences, o Maison Eduardo Coe-
lho, no Príncipe Real, o São Gens 
Townhouse, no Castelo de São 
Jorge, ou a Rodrigo da Fonseca 
Prime Residences, onde um T3 de 
140 m2 custa 1,35 milhões de eu-
ros. 
A empresa imobiliária suíça entrou em Portugal em 2016 no mercado 
residencial de luxo e conta já com cerca de 200 milhões de investimento. 
Este empreendimento é a primeira incursão no segmento de classe média.
PEDRO CURVELO 
pedrocurvelo@negocios.pt
O projeto situado nos Olivais contará com 86 apartamentos destinados às famílias portuguesas, diz a Mexto.
Suíça Mexto investe 
30 milhões nos Olivais
“O impacto da 
pandemia afetará 
de forma mais 
gravosa as novas 
gerações.”
FILIPE SANTOS
Em três anos 
de atividade em 
Portugal, a Mexto 
já investiu cerca 
de 200 milhões.
PÁGINA 28
“A nossa relação 
com as marcas é 
ditada pelas 
emoções, bem mais 
do que pela razão.”
LUÍS NAZARÉ
PÁGINA 30
“A democracia 
húngara é uma 
verdade meramente 
formal. A verdade 
verdadinha, é que 
essa democracia 
não existe.”
FRANCISCO MENDES 
DA SILVA
PÁGINA 27
“Ao sacar 
o outro Costa 
da cartola está 
apenas a entreter 
a malta.”
CAMILO LOURENÇO
PÁGINA 27
DR
 QUARTA-FEIRA 
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3
DIA
P ortugal está a ser vítima do seu próprio sucesso no tu-rismo. O peso que ele atingiu na economia coloca-nos entre os países mais atingidos pela pandemia. Mas esse sucesso será também uma força na retoma que outros 
não têm: desde que o consigamos preservar. 
O Negócios promoveu ontem um debate sobre o Turismo no 
âmbito da iniciativa PME no Radar, em que ficou bem patente o di-
lema que o setor vive. Rodrigo Machaz, o diretor-geral da Memmo 
Hotels, descreveu os sentimentos contraditórios da reabertura: de 
um lado, a alegria e a emoção de ver o negócio voltar a existir, do ou-
tro, a enorme apreensão sobre o que ele vai ser nos próximos me-
ses. “Borboletas na barriga e uma enorme azia.” 
Para um setor que parou por completo, os últimos meses fo-
ram de custos sem qualquer receita. O lay-off ajuda, mas pouco. 
As linhas de crédito de nada servem. O mesmo aconteceu, de res-
to, na restauração. Reféns do tráfego aéreo, da abertura de fron-
teiras, do controlo efetivo da pandemia e do regresso da confian-
ça, as taxas de ocupação nos próximos meses não dão qualquer 
garantia de sustentabilidade. Depois do verão a incógnita é ainda 
maior. Quem não sentiria azia? 
O que for feito nos próximos meses e até ao final do ano vai de-
terminar se o país consegue preservar a sua capacidade instalada 
e competências num setor vital para a retoma e para o equilíbrio 
do saldo externo. No meio de tanta incerteza, há uma previsibili-
dade que tem de chegar o quanto antes: os apoios e as medidas que 
serão tomadas para suportar o turismo. 
Que ajudas haverá a fundo perdido? Os vistos gold vão ser rea-
nimados para incentivar o turismo residencial? Chitra Stern, dos 
hotéis Martinhal, revelou que há uma maior procura por cidadãos 
de Hong Kong e da África do Sul em busca da segurança e hospi-
talidade que Portugal oferece. E o regime dos residentes não ha-
bituais? Todos salientam o elevado número de novos turistas que 
as rotas criadas pela TAP para os EUA e o Brasil trouxeram – para 
quando uma solução que dê estabilidade à companhia aérea? 
O Governo está a negociar, e bem, corredores com países emis-
sores, como a Alemanha. Não está apenas nas suas mãos. A União 
Europeia tem de definir regras claras e iguais para todos, que trans-
mitam confiança aos turistas e a quem os recebe. 
Claro que os privados são a chave sem a qual a retoma não che-
gará. Há que repensar estratégias e encontrar oportunidades na 
inovação, na transição digital, no turismo associado à educação 
superior, na sustentabilidade. 
“O Ronaldo da economia portuguesa não foi o ministro das Fi-
nanças, foi o turismo”, disse às tantas Rodrigo Machaz. Precisa-
mos mesmo que o craque volte à sua antiga forma.  
EDITORIAL
Turismo, azia 
e borboletas 
11%
ANDRÉ VERÍSSIMO 
Diretor 
averissimo@negocios.pt
BCP dispara à boleia do setor 
bancário que espera pelo BCE
Variação este ano: -45,46% 
Valor em bolsa: 
1.671 milhões de euros
O Banco Comercial Português fechou 
o dia a valer 11,06 cêntimos por ação, 
um máximo desde 25 de março des-
te ano, subindo mais de 10%. Num 
dia em que o setor da banca na Eu-
ropa esteve em ganhos, à espera que 
o BCE forneça novos estímulos ao se-
tor, na reuniãoda próxima quinta-
-feira. O banco liderado por Miguel 
Maya garantiu, assim, uma subida 
que diminuiu para 48% a queda 
anual que está a protagonizar.  
AÇÃO
FOTOFRASE
NÚMERO
10,38% 
Manequins a fazerem 
figura de corpo presente
A pandemia de covid-19 obrigou a apertadas 
regras de distanciamento social nos espaços 
públicos. Para contrariar esta sensação de vazio e 
também como forma de impor o distanciamento, 
o café Varuna Gezgin, em Istambul, teve a ideia 
de ocupar esse espaço com manequins que 
fazem figura de corpo presente. Além de serem 
uma ótima operação de marketing. 
Fotografia: Erdem Sahin/EPA
Se Trump 
tivesse 
cérebro, 
mesmo que 
fosse 99% 
cínico, ele 
diria algo 
que unisse 
as pessoas.
O governo francês 
antecipa uma queda 
no PIB de 11% este 
ano. A previsão 
inicial era de 8%.
“
GREG POPOVICH 
Treinador de basquetebol 
dos San Antonio Spurs
Miguel Maya viu as ações do 
BCP dispararem.
A taxa de desempre-go caiu em março para 6,2%, revelou ontem o Instituto Nacional de Esta-
tística. Este é um valor mais baixo 
do que o do mês passado, do que o 
verificado três meses antes e do 
que o do mesmo mês de 2019. 
Para abril, o cálculo provisório – 
que é bastante falível, assume o or-
ganismo de estatísticas – indica 
uma subida muito ligeira, para 
6,3%. Mas onde estão, afinal, os 
desempregados da era covid-19? 
Estão escondidos entre a popula-
ção inativa, explicam os especia-
listas. Não fosse este efeito, a taxa 
estaria agora na casa dos 8%. 
Não é nenhuma teoria da 
conspiração, nem nenhuma deci-
são premeditada pelo INE, mas a 
taxa de desemprego reportada 
para o mercado de trabalho por-
tuguês não está a contar a história 
toda do que se está a passar no 
país. Segundo os dados do INE, a 
taxa de desemprego baixou, quan-
do todos os economistas e espe-
cialistas têm vindo a alertar para 
a previsível subida do desempre-
go, na sequência das medidas de 
confinamento aplicadas à econo-
mia para travar o contágio pelo 
novo coronavírus. 
A taxa está correta e respeita 
os critérios que sempre respeitou: 
são consideradas desempregadas 
as pessoas que, não tendo traba-
lho, fizeram diligências ativas para 
o encontrar e estavam disponíveis 
para começar a trabalhar. A ques-
tão é que com o confinamento da 
economia, muitas das pessoas que 
caíram em situação de desempre-
go não puderam procurar traba-
lho, ou não estavam disponíveis 
por estarem a cuidar dos filhos ou 
de alguém doente, explica o pró-
prio INE. 
Isto atirou muitas destas pes-
soas para a lista dos inativos, em 
vez de serem contabilizados como 
desempregados. E o mais prová-
vel é que, num prazo relativamen-
te curto e à medida que a econo-
mia for sendo desconfinada, pas-
sem a ser considerados desempre-
gados – porque voltam a poder 
procurar trabalho. 
A este efeito, soma-se o das 
pessoas em lay-off. Segundo da-
dos avançados pela ministra do 
Trabalho, Ana Mendes Godinho, 
na semana passada, este apoio 
protegeu já 804 mil trabalhado-
res. A generalidade destas pessoas 
estará a ser contabilizada como 
empregada, porque não perdem 
mais de metade da sua remunera-
ção, mesmo estando sem ativida-
de, nem perde o vínculo à empre-
sa. Mas teme-se que muitas delas 
acabem por se ver numa situação 
de desemprego, quando as empre-
sas avaliarem os novos níveis de 
atividade do pós-confinamento. 
 
Uma subida previsível 
“Os últimos dados do INE mos-
tram que há cerca de 102 mil em-
pregos a menos do que em janei-
ro. E mostram que há mais de 130 
mil novos inativos”, nota Francis-
co Madelino, ex-presidente do 
Instituto do Emprego e Formação 
Profissional (IEFP). Ao mesmo 
tempo, poderá haver quem, estan-
do em lay-off, apareça como de-
sempregado ou como inativo, ad-
mite, lembrando as situações em 
que no inquérito estas pessoas res-
pondem não ter disponibilidade 
para o trabalho, ou ter perdido 
mais de 50% da sua remuneração 
(porque anteriormente faziam 
horas extraordinárias, por exem-
plo). 
Conjugando os vários efeitos, 
“há pelo menos 100 a 110 mil pes-
soas que se arriscam a vir a ficar 
desempregadas”, analisa. Isto im-
plica que “a taxa de desemprego 
andaria na casa dos 8%”, não fos-
sem os constrangimentos do in-
quérito ou dos conceitos. 
João Cerejeira, economista e 
PRIMEIRA LINHA COVID-19
Aumento dos inativos 
esconde desemprego de 8%
Com a pandemia de covid-19, e as medidas de confinamento, a expectativa é de subida 
da taxa de desemprego, mas os números do INE ainda não mostram isso. A explicação 
está nos inativos – é que o mercado não está bom nem para procurar trabalho.
MARGARIDA PEIXOTO 
margaridapeixoto@negocios.pt 
TAXA DE DESEMPREGO ESTÁVEL 
Taxa de desemprego (% da população ativa) 
Nos primeiros meses deste ano, a taxa de desemprego manteve-se 
estável, pouco acima dos 6%. A expectativa é de uma subida em breve.
Fonte: INE
PESO DOS INATIVOS DISPARA 
Número de pessoas inativas (em milhares) e taxa de inatividade (em %) 
Os dados até abril, ainda provisórios, dão conta de uma subida 
significativa do número de inativos e do seu peso no total da população.
Fonte: INE
+134,4 
INATIVOS 
Este é o aumento dos 
inativos em abril, face 
a janeiro deste ano, 
segundo dados 
preliminares do INE.
-102,7 
EMPREGADOS 
Esta foi a descida do 
número de empregados 
em abril, face a janeiro. 
Os dados ainda são 
preliminares. 
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
As restrições ao movimento por motivos de saúde pública dificultaram a ida dos desempregados aos centros de emprego. 
David Cabral Santos
professor na Universidade do Mi-
nho, corrobora a ideia: “Muitos 
dos classificados agora como ina-
tivos vão parar a desempregados”, 
antevê. Além disso, lembra que a 
probabilidade de os inativos vin-
dos dos setores do turismo virem, 
nos próximos meses e admitindo 
que a economia começa a reabrir, 
a ser considerados desemprega-
dos é grande. Além disso, “no final 
do ano escolar vão também tran-
sitar muitos jovens para o desem-
prego”, antecipa, explicando que 
os processos de recrutamento es-
tão também interrompidos, ou 
muito lentos. Por tudo isto, diz, é 
natural que “o desemprego que 
habitualmente aparece no segun-
do trimestre se prolongue por 
mais tempo”. 
A previsão preliminar do Go-
verno para a taxa de desemprego 
este ano é de 10%, idêntica à da 
Comissão Europeia.  
Um indicador que permite contor-
nar as dificuldades metodológicas 
do INE é o número de desemprega-
dos inscritos nos centros de empre-
go. No mês de abril, inscreveram-se 
mais 74% do que no mesmo mês do 
ano passado e mais 23% do que no 
mês anterior, mostram os dados do 
Instituto do Emprego e Formação 
Profissional (IEFP). No final do mês 
de abril, o stock total de desempre-
gados inscritos nos centros de em-
prego atingia assim 392.323 pes-
soas. Um quarto (25,3%) eram tra-
balhadores não qualificados e 
21,1% eram trabalhadores de servi-
ços pessoais, de proteção e segu-
rança e vendedores. Havia ainda 
11,9% de trabalhadores qualifica-
dos da indústria, construção e artí-
fices e 11,5% eram pessoal adminis-
trativo. MP 
Desempregados 
inscritos disparam
 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020 
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 PRIMEIRA LINHA 
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PRIMEIRA LINHA COVID-19
O novo mecanismo de lay-off que o Governo está a preparar para depois de junho será 
atribuído principalmente às em-
presas que retomem a atividade, 
sendo modelado consoante a que-
bra de faturação das empresas. 
As pistas sobre o novo meca-
nismo foram dadas pela ministra 
do Trabalho, Solidariedade e Se-
gurança Social no final de uma 
reunião da Concertação Social, 
que decorreu nesta terça-feira. 
“Neste momento estamos a 
adaptar o lay-off para ter um ins-
trumento que apoia o regresso à 
atividade das empresas. Não esta-
mos a apoiar a suspensão da ativi-
dade, mas o regresso das empre-
sas”, afirmou Ana Mendes Godi-
nho. Segundo a governante, a 
grande prioridade é apoiar a ativi-
dade. Ou seja, as empresas que 
mantiverem a atividade suspensa 
arriscam-se a perder o acesso ao 
lay-off. Ainda assim, as empresasque tiverem de manter portas fe-
chadas por causa de normativos 
legais, como por exemplo as dis-
cotecas, que continuam sem data 
para abrir, “continuam a ter as re-
gras do lay-off”. 
O mecanismo extraordinário 
de lay-off simplificado, que está 
em vigor até ao final deste mês, 
aplica-se a empresas com encer-
ramento ou paragem total ou par-
cial da empresa, com quebras de 
faturação de pelo menos 40%. 
Agora o objetivo é apoiar a ativi-
dade. Além disso, a governante 
disse que a “evolução do apoio” vai 
assentar também numa modela-
ção em função da quebra de fatu-
ração. O apoio terá fases e inten-
sidades diferentes, para chegar a 
quem mais precisa, acrescentou 
Ana Mendes Godinho. 
A ministra recusou dar mais 
detalhes sobre a nova medida, dei-
xando para o Conselho de Minis-
tros da próxima quinta-feira. 
 
Parceiros desiludidos 
À saída da reunião, os parceiros 
sociais lamentaram que tenham 
sido apresentados poucos porme-
nores sobre o Plano de Estabiliza-
ção Económica e Social, sobretu-
do sobre o prolongamento do lay-
-off simplificado. 
“Foi uma desilusão. Estáva-
mos à espera de um plano, mas 
não ouvimos nada de concreto”, 
resumiu ao Negócios Sérgio Mon-
te, secretário-geral-adjunto da 
UGT. Também o líder da CIP, An-
tónio Saraiva, disse que da reunião 
não saíram grandes novidades. 
Além do anunciado pela mi-
nistra à comunicação social, hou-
ve mais uma pista deixada na reu-
nião: em setembro deve estudada 
a isenção das contribuições sociais 
pagas pelas empresas em nome do 
empregador, para que fique “inde-
xada à dimensão da empresa”, dis-
se Sérgio Monte. 
A reunião de concertação social desta terça-feira não foi conclusiva e os parceiros 
saíram descontentes. A ministra sugeriu que as empresas que persistam em ficar 
fechadas perderão os apoios do lay-off. 
A ministra Ana Mendes Godinho deixou ontem desapontados os parceiros sociais que esperavam apoios mais concretos. 
SUSANA PAULA 
susanapaula@negocios.pt
Empresas que optem por não 
reabrir arriscam perder lay-off 
Miguel A. Lopes
Não estamos a 
apoiar a suspensão 
da atividade, 
mas o regresso 
das empresas. 
ANA MENDES GODINHO 
Ministra do Trabalho 
“ Foi uma desilusão. 
Estávamos à espera 
de um plano, mas 
não ouvimos nada 
de concreto. 
SÉRGIO MONTE 
Secretário-geral adjunto da UGT 
“
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
A reabertura da economia, como 
era expectável, está a ter um im-
pacto positivo na atividade das 
empresas: há mais empresas de 
portas abertas, há menos empre-
sas com perda de volume de ne-
gócios e há mais trabalhadores ao 
serviço. 
Os dados são do Instituto Na-
cional de Estatística (INE) e do 
Banco de Portugal (BdP), que 
ontem completaram dois meses 
de um inquérito às empresas so-
bre a evolução da covid-19. Os da-
dos recolhidos incluem o mês de 
abril, de estado de emergência e 
de duras medidas de contenção 
social e económica, e o mês de 
maio, que ditou o início do des-
confinamento. 
“Em geral, e como seria ex-
pectável, esta comparação reve-
la uma melhoria, embora ligeira, 
da situação das empresas”, afir-
ma o INE. A percentagem de em-
presas em funcionamento, ainda 
que algumas ainda parcialmen-
te, aumentou de 83% na primei-
ra semana de inquérito para 91% 
nesta última quinzena de maio. 
O inquérito foi evoluindo com a 
pandemia: inicialmente as ques-
tões eram colocadas semanal-
mente; desde maio que são feitas 
de 15 em 15 dias. 
Apesar de a grande maioria 
das empresas continuar a repor-
tar perdas no volume de negócio, 
há agora também uma recupera-
ção: em abril 80% diziam ter que-
bras nas receitas, contra 75% 
agora em maio. No estado de 
emergência, quase metade das 
empresas dizia ter reduções 
iguais ou superiores a 50%; ago-
ra, esta proporção de empresas 
também desceu. 
Nestes dois meses, houve 
também um aumento dos traba-
lhadores efetivamente ao servi-
ço. Em abril, 60% das empresas 
reportaram uma redução do nú-
mero de funcionários; em maio, 
a proporção de empresas com 
esse problema diminui para 48%. 
Os dados mostram que a 
maioria das empresas (71%) con-
tinua a não notar diferenças no 
pessoal ao serviço efetivamente 
na segunda quinzena de maio. 
Mas dos 19% que já tiveram um 
aumento dos trabalhadores ao 
serviço justificam essa melhoria 
com a redução do número de pes-
soas em lay-off (citado por 66% 
das empresas). No entanto, o te-
letrabalho e o trabalho presencial 
alternado continuam a ser opção 
da mesma proporção das empre-
sas. 
Por outro lado, entre abril e 
maio houve um aumento das em-
presas que beneficiaram das me-
didas de resposta à pandemia de-
finidas pelo Governo, à exceção 
do lay-off simplificado. Em par-
ticular, destaca-se o aumento da 
percentagem de empresas que 
recorreram à suspensão do paga-
mento de obrigações fiscais e 
contributivas (20% em maio 
contra 12% em abril) e à morató-
ria ao pagamento de juros e capi-
tal de créditos já existentes (17%, 
contra 10%). Ainda assim, a pro-
porção das empresas que não 
planeiam beneficiar das medidas 
apresentadas pelo Governo au-
mentou ligeiramente, estando 
entre os 53% e 61% em maio, 
consoante a medida. 
As empresas de alojamento e 
restauração, que foram as mais 
afetadas pelas medidas de con-
tenção, são agora as que mais re-
cuperam: as empresas do setor 
com as portas abertas subiram de 
45% para 58%. Além disso, 26% 
destas empresas reportaram au-
mento no pessoal efetivamente 
ao serviço.  
SUSANA PAULA
Em maio, foram menos as empresas que reportaram uma redução dos trabalhadores ao serviço. 
Atividade empresarial 
cresce, mas de forma ligeira 
Com o desconfinamento, a atividade empresarial começa a recuperar da covid-19: 
há mais empresas de portas abertas, menos redução do volume de negócios e mais 
trabalhadores ao serviço. Setor da restauração e alojamento é o que mais recupera. 
Paulo Calado
Apesar dos sinais de melhoria, 
a covid-19 continua a ter impac-
tos negativos na atividade das 
empresas portuguesas. 
Principais 
efeitos da covid 
nas empresas
TOME NOTA
8% DAS EMPRESAS 
CONTINUAM FECHADAS 
Na segunda quinzena de maio, 
houve um ligeiro aumento das 
empresas que voltaram a reto-
mar a atividade, sendo agora 
92%. No entanto, há ainda 8% 
das empresas encerradas: a 
quase totalidade de forma tem-
porária. Só 1% das empresas fe-
charam definitivamente. 
 
73% COM QUEBRA NO 
VOLUME DE NEGÓCIOS 
Apesar de ter havido uma me-
lhoria, na segunda quinzena de 
maio a grande maioria das em-
presas (73%) continua a repor-
tar quebras no volume de negó-
cios. Dessas empresas, 31% de-
clarou reduções iguais ou supe-
riores a 50% à pré-pandemia. 
 
45% COM MENOS 
TRABALHADORES 
Face à situação expectável sem 
pandemia, 45% das empresas 
referiram um impacto negativo 
no pessoal ao serviço efetiva-
mente a trabalhar na segunda 
quinzena de maio. Nas duas se-
manas anteriores, 50% das em-
presas ainda reportavam redu-
ções nos trabalhadores. 
 
MAIOR RECURSO ÀS 
MEDIDAS DO GOVERNO 
Entre as medidas de resposta à 
covid-19, 21% das empresas já 
beneficiaram da suspensão do 
pagamento de obrigações fis-
cais e contributivas, 17% da mo-
ratória ao pagamento de juros 
e capital de créditos já existen-
tes e 9% do acesso a novos cré-
ditos com juros bonificados ou 
garantias do Estado. No entan-
to, as empresas que não pre-
veem recorrer a estas medidas 
de apoio voltaram a aumentar, 
atingindo valores entre 54% e 
62% consoante as medidas.
91% 
ATIVIDADE 
Em maio, 92% das 
empresas já tinham 
regressado à atividade. 
Em abril, eram apenas 
83% as que 
continuavam a laborar. 
 QUARTA-FEIRA 
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 PRIMEIRA LINHA 
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7
M ais de duas sema-nas depois da rea-bertura, os restau-rantes ainda ten-
tam servir doses reforçadas de 
confiança aos clientes. A ocupa-
ção diária continua “fraca”, segun-
do associações do setor, com ní-
veis inferiores a 30%. Esse é um 
dos principais motivos que está a 
levar os empresários a rejeitar a 
brecha aberta na semana passada 
pelo Governo, que pretende ali-
viaros limites impostos à ocupa-
ção dos espaços. 
A resolução do último Conse-
lho de Ministros, que renovou o 
estado de calamidade, determina 
que a “ocupação no interior do es-
tabelecimento seja limitada a 50% 
da respetiva capacidade” ou, em 
alternativa, devem ser “utilizadas 
barreiras físicas impermeáveis de 
separação entre os clientes que se 
encontrem frente a frente e um 
afastamento entre mesas de um 
metro e meio”. 
A medida terá um impacto “re-
sidual”, antecipa Ana Jacinto, se-
cretária-geral da Associação da 
Hotelaria, Restauração e Simila-
res de Portugal (AHRESP). “Os 
empresários não têm clientes. A 
taxa de ocupação é inferior a 50% 
pelo que, para a maioria dos res-
taurantes, a medida é irrelevante. 
Tomara o setor estar com ocupa-
ções de 50%. Além disso, está 
sempre tudo a mudar, e os empre-
sários devem ter cautela quando 
fazem este tipo de investimento”, 
ressalva a porta-voz da AHRESP. 
Também junto dos associados 
da Associação Portuguesa de Ho-
telaria, Restauração e Turismo 
(APHORT), a medida “não foi re-
cebida com entusiasmo”, revela 
António Condé Pinto, presidente 
da organização. 
Os primeiros sinais “indicam 
claramente que a maior parte dos 
empresários não vai aderir” à pos-
sibilidade de instalar barreiras de 
acrílico nas mesas, em troca do au-
mento de capacidade das salas. 
Também Tiago Carvalho, fun-
dador da União de Restaurantes 
de Braga de Apoio à Covid19 (Ur-
bac19), afirma não ter “conheci-
mento de nenhum restaurante” 
que vá aproveitar a possibilidade, 
entre os cerca de 150 espaços que 
a associação representa. 
“Os restaurantes não têm es-
tado cheios. Durante a semana a 
ocupação tem rondado os 20% a 
25%. Só aos fins de semana é que 
alguns conseguem atingir a lota-
ção máxima permitida, sobretu-
do os que têm esplanada”, aponta 
o porta-voz da APHORT. 
“Não há clientes. Nem 20% 
das salas estão a ser ocupadas”, 
corrobora Tiago Carvalho, que 
fala em quebras de faturação na 
ordem dos 60% a 70% já durante 
o desconfinamento. 
É por isso, acrescenta o res-
ponsável da APHORT, que “a 
maior parte dos empresários não 
está disposta a fazer um investi-
mento avultado num equipamen-
to que requer mais gastos, e que 
daqui a algumas semanas poderá 
já nem ser necessário”. 
E mesmo que optem por ins-
talar as barreiras, os empresários 
não vão poder contar com o apoio 
do programa Adaptar, criado pelo 
Governo para financiar a compra 
de equipamento de proteção. “A 
linha para as microempresas es-
gotou em 10 dias”, lembra Ana Ja-
cinto. 
 
“É como comer 
nas Finanças” 
Entre os empresários ouvidos 
pelo Negócios, a opinião é unâni-
me. “Sou contra divisões com acrí-
licos, prefiro que as pessoas te-
nham espaço”, declarou o empre-
sário e chef José Avillez, durante 
a iniciativa PME no Radar, orga-
nizada esta terça-feira pelo Negó-
cios e o Santander, e centrada na 
retoma do turismo. “Estamos a fa-
lar de uma experiência de entre-
tenimento e não num simples ato 
de alimentação. Com a colocação 
de barreiras, parece que estamos 
a comer nas finanças. Não é essa a 
experiência que queremos dar ao 
cliente e, se assim for, as pessoas 
vão preferir ficar em casa”. 
Nos restaurantes do grupo 
Olivier, os acrílicos também não 
vão fazer parte do menu. “Prefe-
rimos faturar menos do que impor 
essa barreira. Os acrílicos desvir-
tuam o conceito da restauração e 
não são confortáveis para os clien-
tes”, explica ao Negócios o diretor 
de marketing do grupo, Joel Pires. 
Para catapultar a retoma da 
restauração, os empresários e as-
sociações defendem a adoção “ur-
gente” de outro tipo de medidas, 
“que têm de ser a fundo perdido”, 
ressalva Tiago Carvalho. Para o 
empresário de Braga , a restaura-
ção precisa que o lay-off simplifi-
cado seja prolongado até ao final 
do ano, com o Estado a garantir 
50% dos salários. 
O apoio a fundo perdido, “que 
pode passar pela redução do IVA 
e da TSU”, é também a solução 
pedida por José Avillez. O empre-
sário acredita que “tudo vai voltar 
a ser como era”, mas nunca antes 
da primavera de 2022. 
“Vai dar muito trabalho re-
construir um setor que foi tão im-
portante na recuperação da crise 
anterior. Nesta altura do ano, de-
víamos estar a alimentar mais três 
milhões de pessoas. O limite de 
50% à ocupação dos restaurantes 
é um falso problema”, ressalva o 
empresário 
Para António Condé Pinto, o 
principal travão é “a falta de con-
fiança nos espaços fechados”. O lí-
der da APHORT também não 
poupa críticas à proliferação de 
medidas de desconfinamento, que 
classifica como “fator de pertur-
bação” da retoma. 
PRIMEIRA LINHA COVID-19
Restaurantes rejeitam 
investimento em acrílicos
A restauração já pode funcionar com mais de 50% da lotação, 
em troca de barreiras que separem os clientes. A medida não 
convence os empresários, que preferem “perder dinheiro”.
Em Paris, o designer francês Christophe Gernigon apresentou a sua criação em acrílico, o Plex’Eat, no restaurante H.A.N.D.
Com a colocação 
de barreiras, parece 
que estamos 
a comer nas 
finanças. Não é essa 
a experiência 
que queremos 
dar aos clientes. 
JOSÉ AVILLEZ 
CEO do Grupo José Avillez
“ A taxa de 
ocupação é 
inferior a 50%, 
pelo que, 
para a maioria 
dos restaurantes, 
a medida é 
irrelevante. 
ANA JACINTO 
Secretária-geral da AHRESP
“ANA SANLEZ anasanlez@negocios.pt
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
O Governo vai reforçar a dota-
ção das linhas de crédito ga-
rantido pelo Estado, atual-
mente de 6,2 mil milhões de 
euros e já praticamente esgo-
tada, anunciou o ministro da 
Economia, Pedro Siza Vieira, 
esta terça-feira, 2 de junho, no 
Parlamento. Desta vez, a prio-
ridade serão as micro e as pe-
quenas empresas. 
“Temos capacidade de abrir 
novas linhas de crédito, esta-
mos autorizados pela Comis-
são Europeia, e vamos fazê-lo”, 
declarou Siza Vieira, acrescen-
tando que “a experiência com 
as atuais linhas de crédito foi 
importante para continuar a fa-
zer chegar dinheiro às empre-
sas ao longo do ano”. O minis-
tro da Economia não adiantou 
qual será a dotação das novas li-
nhas de crédito. O Governo 
português tem autorização de 
Bruxelas para conceder garan-
tias estatais até ao limite de 13 
mil milhões de euros. Já foram 
lançadas linhas no valor de 6,2 
mil milhões, que se somaram a 
uma inicial de 400 milhões. So-
bram, assim, 6,6 mil milhões de 
euros em garantias estatais que 
poderão ser concedidas. 
Sobre as novas linhas, Pedro 
Siza Vieira esclareceu apenas o 
Governo de que está a “discutir 
com o sistema bancário a me-
lhor forma de satisfazer a pro-
cura que não foi satisfeita”. E fo-
ram as micro e as pequenas em-
presas que ficaram com maio-
res necessidade de crédito sem 
resposta, esclareceu. 
Na semana passada, segun-
do os dados do IAPMEI que fo-
ram avançados pelo Negócios, 
já tinham sido aprovadas ope-
rações de financiamento no va-
lor total de 6,2 mil milhões de 
euros, mas menos de um terço 
deste montante tinha chegado 
às empresas. Entretanto, o 
montante das operações já con-
tratadas entre a banca e as em-
presas acelerou e, até à data, se-
gundo revelou Pedro Siza Viei-
ra, totaliza 3.583 milhões de eu-
ros. “Estas linhas fizeram che-
gar às empresas, em dois meses, 
o equivalente a um trimestre de 
todo o crédito concedido pela 
banca. O sistema bancário aca-
bou por fazer chegar muito cré-
dito às empresas”, sublinhou o 
ministro que adiantou, ainda, 
que também o programa Adap-
tar, destinado a apoiar as em-
presas no regresso à atividade, 
está perto de esgotar. 
No que diz respeito ao pe-
ríodo inicial do regime de lay-
-off simplificado, Siza Vieira 
revelou que foram aprovados 
99 mil pedidos e foram feitos 
pagamentos de 321 milhões de 
euros, que correspondem a 
99,9% dos pedidos aprovados. 
Foram ainda feitos 46.448 pe-
didos de prorrogação do regi-
me especial de lay-off e pagos 
130 milhões de euros.  
RAFAELA BURD RELVAS
Governo vai reforçar 
linhas de crédito 
garantidas pelo Estado 
As linhas de crédito de 6,2 mil milhõesde euros estão praticamente esgotadas 
e o Governo vai lançar novas linhas, 
assegurou Pedro Siza Vieira. 
Em Paris, o designer francês Christophe Gernigon apresentou a sua criação em acrílico, o Plex’Eat, no restaurante H.A.N.D.
Christophe Petit Tesson/EPA
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LAY-OFF 
Foram feitos 
46.448 pedidos de 
prorrogação do 
regime especial de 
lay-off e pagos 130 
milhões de euros 
neste âmbito.
 QUARTA-FEIRA 
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 PRIMEIRA LINHA 
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
ECONOMIA
Devem os diabéticos e hipertensos que não possam realizar tele-trabalho ter direito a faltas justificadas ao 
abrigo do regime especial criado 
no âmbito da pandemia? PSD, 
PCP e Bloco entendem que sim e 
pediram a apreciação parlamen-
tar do diploma do Governo que 
inicialmente previa que assim fos-
se, mas depois foi alterado, fican-
do os doentes em causa impedi-
dos de invocar a sua patologia para 
justificar as ausências ao trabalho. 
O PAN está de acordo, e vai apre-
sentar também uma iniciativa e o 
CDS-PP entende igualmente que 
estas faltas devem ser justificadas. 
Contas feitas, e com a discussão 
parlamentar agendada para esta 
quinta-feira, há um consenso entre 
a oposição no sentido de que os 
doentes hipertensos e diabéticos 
voltem a constar no rol das patolo-
gias que permite que as faltas ao 
trabalho sejam consideradas justi-
ficadas e, durante 30 dias, pagas 
pelo empregador. Tudo indica que 
a alteração seja aprovada na vota-
ção de sexta-feira. 
Em traços gerais, o diploma 
que agora vai ser apreciado no Par-
lamento determinou a criação de 
um regime excecional de proteção 
dos trabalhadores com doenças 
crónicas e imunodeprimidos, cujas 
funções não possam ser desempe-
nhadas à distância. Estas pessoas 
“podem justificar a falta ao traba-
lho mediante declaração médica, 
desde que não possam desempe-
nhar a sua atividade em regime de 
teletrabalho ou através de outras 
formas de prestação de atividade”. 
Quatro dias depois da publica-
ção do diploma, o Governo fez uma 
retificação ao mesmo, retirando da 
lista de doenças que dão lugar a fal-
ta justificada os diabéticos e os hi-
pertensos. Estas patologias podem 
ter diferentes graus de gravidade, 
sendo que, como o Negócios então 
escreveu, de acordo com as estima-
tivas da Direção-Geral da Saúde 
(DGS), as diabetes têm uma taxa de 
prevalência junto da população en-
tre os 20 e os 79 anos de 13%, o que 
se traduz em cerca de um milhão de 
pessoas. No caso da hipertensão, os 
números oficiais apontam para 
APRECIAÇÃO PARLAMENTAR
Parlamento alarga proteção 
a diabéticos e hipertensos 
São discutidas esta quinta-feira três apreciações parlamentares do diploma do Governo que criou um regime 
excecional de proteção para os trabalhadores com doenças crónicas, excluindo diabéticos e hipertensos. PSD, 
PCP e Bloco querem voltar a incluí-los e tudo indica que conseguirão derrotar o PS na votação na sexta-feira. 
O Parlamento debate esta quinta-feira as propostas do PSD, PCP, Bloco de Esquerda e PAN. Votações serão na sexta-feira. 
Pedro Ferreira
FILOMENA LANÇA 
filomenalanca@negocios.pt 
“
Só queremos corrigir 
uma situação que a 
própria comunidade 
médica vê como de 
elementar justiça. 
RICARDO BATISTA LEITE 
Deputado do PSD 
 
É incompreensível 
uma retificação para 
retirar pessoas do 
regime especial, 
principalmente 
porque doentes com 
diabetes e hipertensos 
são de especial risco e 
vulnerabilidade em 
relação à covid-19. 
MOISÉS FERREIRA 
Deputado do Bloco de Esquerda 
 
Temos de ser reativos 
e não esperar que as 
pessoas 
descompensem para 
depois lhes 
reconhecer o direito à 
falta justificada. 
JOÃO DIAS 
Deputado do PCP 
 
Tem de haver uma 
regra com um critério 
clínico, em função do 
que o médico disser. 
ANA RITA BESSA 
Deputada do CDS 
“
 QUARTA-FEIRA 
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 ECONOMIA 
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A informação que 
temos, da DGS, é que 
estas pessoas 
continuam a ser grupo 
de risco para a covid-
-19. Não faz sentido 
excluí-las. 
BEBIANA CUNHA 
Deputada do PAN 
“
uma taxa de prevalência de 27%, 
pouco mais do que dois milhões de 
pessoas. Claro que o número das 
pessoas que poderiam solicitar bai-
xas justificada seria muito menor 
porque muitas destas pessoas estão 
reformadas e entre as que traba-
lham uma parte poderá exercer as 
suas funções a partir de casa. 
 
Descompensados estão 
protegidos, diz o Governo 
A retificação foi polémica e muito 
contestada e a explicação que viria 
a ser dada publicamente, de que os 
hipertensos e diabéticos descom-
pensados continuam ao abrigo do 
regime excecional de proteção la-
boral para imunodeprimidos e 
doentes crónicos no âmbito da pan-
demia de covid-19 não foi, contudo, 
considerada suficiente. “Não faz 
sentido. Temos de ser reativos e não 
esperar que as pessoas descompen-
sem para depois lhes reconhecer o 
direito à falta justificada”, sublinha 
João Dias, do PCP. “E onde é que 
essa explicação do Governo está na 
lei?”, questiona, por seu turno, Ri-
cardo Batista Leite, do PSD. 
 Também para o Bloco de Es-
querda a resposta não é suficiente. 
Ao retirar estas doenças do regime 
especial, “a imagem que passa, 
mesmo para os médicos de família 
que teriam depois de emitir a justi-
ficação, é que estas pessoas não fa-
zem parte do regime excecional de 
proteção”, sublinha o deputado 
Moisés Ferreira. Além disso, acres-
centa, há outro aspeto importante, 
à luz da última lei que regula agora 
o teletrabalho e segundo a qual os 
doentes imunodeprimidos ou com 
doenças crónicas podem exigir à 
entidade empregadora continuar 
em teletrabalho. “Se não se mudar 
a lei, estes doentes ficam também 
fora do regime de teletrabalho a pe-
dido”, sublinha o deputado. 
Esta terça-feira, a Associação 
Protetora dos Diabéticos de Portu-
gal veio apelar ao Governo para que 
“reavalie a exclusão das pessoas 
com diabetes do regime excecional 
de proteção para que não sejam 
obrigadas a voltar a local de traba-
lho, expondo-se ao risco de com-
plicações associadas à covid-19”. 
Também a Sociedade Portu-
guesa de Hipertensão, através de 
declarações à Lusa do seu presi-
dente, Vítor Paixão Dias, entende 
que a opção do Governo , revela um 
“mau princípio” e poderá ter sido 
tomada “numa perspetiva orça-
mental, porque há muitos hiper-
tensos e diabéticos”. 
Os apelos deverão encontrar 
eco junto do Parlamento. Os pedi-
dos de apreciação parlamentar 
apontam todos no sentido de in-
cluir as duas doenças de novo no 
conjunto das suscetíveis de, depois 
de uma apreciação médica, conce-
der ao doente faltas justificadas. O 
PAN vai apresentar ainda uma ini-
ciativa no mesmo sentido, disse ao 
Negócios a deputada Bebiana Cu-
nha, salientando que “a informação 
que temos é que estas pessoas con-
tinuam a ser grupo de risco para a 
covid-19 pela DGS”, pelo que a ex-
clusão não faz sentido. “Tudo o que 
vá neste sentido, nós acompanha-
mos”, garante. O CDS-PP não tem 
iniciativa própria, mas também está 
contra a opção do Governo, embo-
ra sublinhe que tenha sempre de 
“haver um critério clínico”. “Acom-
panharemos a proposta do PSD”, 
diz a deputada Ana Rita Bessa. 
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
ECONOMIA
A s reações críticas face às declarações de Do-nald Trump defen-dendo o uso de forças 
militares contra as manifesta-
ções pela morte de George 
Floyd extravasaram fronteiras e 
chegaram a países onde não é 
costume ver comentários sobre 
os assuntos domésticos dos Es-
tados Unidos. Da União Euro-
peia ao Canadá, passando pelo 
Reino Unido, todos condena-
ram a morte de George Floyd às 
mãos das autoridades policiais 
mas também a forma como o 
Presidente dos EUA está a lidar 
com o assunto. 
“Nós aqui na Europa, tal 
como as pessoas nos Estados 
Unidos, estamos chocados e es-
tupefactos com a morte de Geor-
ge Floyd”, disse Josep Borell. O 
alto representante da União Eu-
ropeia para os Negócios Estran-
geiros aproveitou também para 
sublinhar o “direito a protestos 
pacíficos” e condenar “todos os 
atos de violência e de racismo,de 
qualquer tipo”, apelando à con-
tenção de todas as partes para re-
duzir o clima de grande tensão a 
que se assiste hoje nos Estados 
Unidos. 
Do Canadá também veio 
uma reação forte. “Todos vemos 
com horror e consternação o que 
se passa nos Estados Unidos. É 
altura de juntar as pessoas, mas 
é tempo também de ouvir”, afir-
mou o primeiro-ministro Justin 
Trudeau após uma longa pausa 
de 20 segundos. 
Na Alemanha, as declarações 
também soaram igualmente du-
ras: o ministro dos Negócios Es-
trangeiros, Heiko Maas, disse 
que os protestos nos EUA são 
“compreensíveis e mais do que 
legítimos”. “Apenas posso expri-
mir a minha esperança de que os 
protestos pacíficos não conti-
nuam a levar à violência, mas 
ainda mais a esperança de que 
estes protestos tenham um efei-
to nos Estados Unidos”, afirmou, 
citado pelo Washington Post. 
Mesmo do Reino Unido, cujo 
primeiro-ministro tem mantido 
uma boa relação com a administra-
ção de Donald Trump, vieram pa-
lavras amargas: “A violência a que 
estamos a assistir é muito alarman-
te. As pessoas têm de ser autoriza-
das a protestar pacificamente”, dis-
se um porta-voz de Boris Johnson. 
 
Trump “é parte 
do problema” 
Nos Estados Unidos, os protestos 
prosseguiram ontem, inflamados 
agora pelas declarações de Do-
nald Trump sobre o recurso às 
forças militares para travar os 
protestos que têm conduzido a 
distúrbios e violência. “Sou o vos-
so Presidente da lei e ordem. Vou 
mobilizar todos os recursos fede-
rais disponíveis, civis e militares, 
para pôr fim aos motins e pilha-
gens, para acabar com a destrui-
ção e os fogos postos e para pro-
teger os direitos dos americanos 
cumpridores da lei”, declarou 
Trump na noite de segunda-feira. 
A resposta do seu rival na cor-
rida à Casa Branca surgiu no dia 
seguinte: “O Presidente dos Es-
tados Unidos deve ser parte da so-
lução e não o problema. Hoje, o 
Presidente é parte do problema e 
acelera-o”, disse Joe Biden, can-
didato democrata às eleições pre-
sidenciais. 
Outra reação notada, e con-
tundente, foi a de Gregg Popovich, 
treinador dos San Antonio Spurs, 
equipa da NBA: “É mais impor-
tante para ele (Trump) tranquili-
zar o pequeno grupo de seguido-
res que valida a sua insanidade. O 
sistema tem de mudar. Farei tudo 
o que puder para ajudar, porque 
é isso que os líderes fazem. Mas 
ele não pode fazer nada que nos 
coloque num caminho positivo 
porque ele não é um líder.” 
O senador democrata do Ore-
gon, Ron Wyder, classificou as pa-
lavras de Trump como um “dis-
curso fascista” e a também sena-
dora democrata, Kamala Harris, 
asseverou que “estas não são pa-
lavras de um Presidente, são pala-
vras de um ditador”.  
ESTADOS UNIDOS 
Comunidade internacional 
critica palavras de Trump 
Com os Estados Unidos imersos em protestos, uns agressivos, outros pacíficos, o Presidente 
americano subiu a parada ameaçando recorrer ao exército para pôr cobro às ações violentas. 
A reação foi imediata e extravasou fronteiras, com críticas vindas até de países aliados. 
Alyson Mcclaran/Reuters
MANUEL ESTEVES 
mesteves@negocios.pt 
DAVID SANTIAGO 
dsantiago@negocios.pt
As manifestações de indignação contra a morte de George Floyd multiplicam-se por todo o país. 
Todos vemos 
com horror e 
consternação 
o que se passa 
nos Estados Unidos. 
JUSTIN TRUDEAU 
Primeiro-ministro do Canadá 
“ A violência que 
estamos a ver é muito 
alarmante. As pessoas 
têm de poder protestar 
pacificamente. 
PORTA-VOZ DE BORIS JOHNSON 
“Nós aqui na Europa, 
tal como as pessoas 
nos EUA, estamos 
chocados com a morte 
de George Floyd. 
JOSEP BORELL 
Líder dos Negócios Estrangeiros UE 
“
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
EMPRESAS
T rês anos depois de ter sido vendido aos norte-americanos do Lone Star, o No -vo Banco continua a 
estar no centro de várias polémicas. 
Há uma que se repete todos os 
anos: as injeções de capital que o 
banco pede ao Fundo de Resolu-
ção para repor os rácios de capital. 
Um “custo reputacional” que An-
tónio Ramalho, presidente da ins-
tituição que resultou da resolução 
do Banco Espírito Santo (BES), 
garante que vai terminar este ano. 
“O custo reputacional que o 
BANCA
“Custo reputacional” 
do NB é para 
terminar este ano
António Ramalho, presidente do Novo Banco, garante que o processo 
de reestruturação ficará concluído este ano. E, com isto, terminará também 
o que chama de “custo reputacional” que o banco “suporta anualmente”. 
RITA ATALAIA 
ritaatalaia@negocios.pt 
 
1 2 3 
As polémicas em torno do Novo Banco 
O cheque que chegou 
sem auditoria concluída 
O Novo Banco já esteve envol-
vido em várias polémicas este 
ano. E uma delas colocou An-
tónio Costa e Mário Centeno 
em rota de colisão. Tudo por 
causa de uma “falha de comu-
nicação” entre o primeiro-mi-
nistro e o ministro das Finan-
ças em torno da injeção de ca-
pital de 1.035 milhões na ins-
tituição financeira. 
Tudo aconteceu nos pri-
meiros dias de maio depois de 
António Costa ter garantido 
ao Bloco de Esquerda que “até 
haver resultados da auditoria” 
que está em curso ao Novo 
Banco “não haverá qualquer 
reforço do empréstimo do Es-
tado ao Fundo de Resolução” 
para financiar o banco. Mas a 
injeção tinha sido feita no dia 
antes, avançou o Expresso. Ao 
todo, já foram injetados 2,9 mil 
milhões do total possível de 
3,89 mil milhões de euros. 
No dia seguinte, o primei-
ro-ministro dizia que não ti-
nha sido informado da trans-
ferência, enquanto Mário 
Centeno garantia que não ti-
nha sido feito “à revelia”. A 
questão, que quase levou à saí-
da do ministro, acabou por fi-
car resolvida. Em causa está a 
auditoria aos atos de gestão, 
entre 2000 e 2018, que a De-
loitte está a realizar e que deve 
ficar fechada em julho. Arran-
cou agora uma nova auditoria 
referente à nova injeção. 
Ao que apurou o Negócios, 
a Deloitte deverá também as-
sumir esta análise – desta vez 
apenas aos atos de gestão em 
2019 – considerando as limi-
tações das outras auditoras. 
O aumento dos salários 
dos gestores
Os salários da administração 
do Novo Banco foram outro 
dos motivos para a instituição 
financeira ficar novamente em 
foco. Isto depois de ter sido 
avançado que os rendimentos 
sofreram um aumento signifi-
cativo desde que o banco foi 
vendido. 
Foi no mês passado que o 
Público escreveu que, desde 
que o fundo norte-americano 
Lone Star entrou no capital do 
banco, em 2017, os salários pa-
gos à administração do Novo 
Banco, liderada por António 
Ramalho, dispararam 75%, 
considerando que a remune-
ração anual dos seis gestores 
executivos do Novo Banco, em 
2017, se fixou em 1.336.000 
euros, mas não levando em 
conta que três desses adminis-
tradores entraram em funções 
apenas em abril e maio, pelo 
que não receberam o ano com-
pleto. Por isso, o jornal escla-
receu depois que o aumento 
seria de 53%, assumindo um 
salário anual completo dos 
três gestores face a 2019. Nes-
se ano, tal como o Negócios 
avançou, o salário do CEO do 
Novo Banco cresceu 4,7% em 
relação ao ano anterior. 
Este tema levou a que os 
deputados chamassem Antó-
nio Ramalho ao Parlamento, 
numa audição ainda sem data 
definida. “Como nem os bónus 
foram pagos nem os aumentos 
existiram, será uma audição 
curiosa. Pena que ninguém te-
nha perguntado. Poupar-se-ia 
tempo de antena”, comentou, 
no Twitter, o presidente exe-
cutivo do Novo Banco.  
O bónus que 
o Fundo de 
Resolução 
recusou pagar 
Outra questão polémica foi a atri-
buição de um prémio de perto de 
dois milhões de euros, diferido e 
condicionado ao cumprimento de 
metas, à gestão executiva do Novo 
Banco. A decisão foi tomada pela 
comissão de remunerações da ins-
tituição financeira, tal como o Ex-
presso avançou, num bónus que 
será pago em 2022, depois de con-
cluído o plano de reestruturação. 
Esta questão agitou a opinião 
pública, mas também provocou 
uma discórdia com o Fundo de 
Resolução. O Expresso escreveu 
que o fundo se recusou a pagar o 
prémio, retirando esse valor da 
nova injeção de capital:transferiu 
1.035 milhões, menos dois mi-
lhões do que estava inicialmente 
previsto. 
De acordo com informação 
obtida pelo Negócios, no centro 
deste desacordo está o facto de o 
auditor do banco ter exigido que 
2,9 
INJEÇÕES 
O Novo Banco 
já pediu perto de 
2,9 mil milhões ao 
Fundo de Resolução. 
4,7 
SALÁRIO 
O salário de António 
Ramalho cresceu 
4,7% em 2019, face 
ao ano anterior.
 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020 
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 EMPRESAS 
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15
Novo Banco suporta anualmente 
só terminará com o sucesso do pro-
cesso de reestruturação que este 
ano se pretende concluir”, afirma o 
gestor, que assumiu a liderança do 
banco em 2016, numa declaração 
escrita enviada ao Negócios. “Hoje 
estamos mais próximo deste obje-
tivo e mais seguros da sua viabili-
dade”, garante António Ramalho. 
O gestor mantém, portanto, o 
objetivo de concluir este processo 
este ano, apesar do impacto da 
pandemia. Ou seja, um ano antes 
do prazo definido com Bruxelas – 
de 31 de dezembro de 2021 – e po-
dendo o mecanismo de capital 
contingente continuar até 2026. 
É este mecanismo que prevê 
as injeções de capital do banco 
pelo Fundo de Resolução, que 
têm criado celeuma. Há cerca de 
um ano, quando o presidente do 
Novo Banco anunciou que iria pe-
dir 1.149 milhões de euros, com 
base nas contas de 2018, o minis-
tro das Finanças acabou por en-
viar um comunicado a anunciar 
uma auditoria. “Dado o valor ex-
pressivo das chamadas de capital 
em 2018 e 2019 [1.900 milhões de 
euros], o Ministério das Finanças, 
em conjugação com o Fundo de 
Resolução, considera indispensá-
vel a realização de uma auditoria 
para o escrutínio do processo de 
concessão dos créditos incluídos 
no mecanismo de capital contin-
gente”, lia-se no documento. 
Mas o “cheque” deste ano foi 
ainda mais polémico a ponto de 
quase provocar uma crise política. 
Tudo aconteceu no início de maio 
depois de o primeiro-ministro ter 
garantido ao Bloco de Esquerda 
que “até haver resultados da audi-
toria” que está em curso ao Novo 
Banco “não haverá qualquer refor-
ço do empréstimo do Estado ao 
Fundo de Resolução” para finan-
ciar o banco. Mas a injeção tinha 
sido feita precisamente um dia an-
tes, no prazo limite definido no con-
trato, como o Expresso noticiou. 
No dia seguinte, António Costa 
dava uma explicação pública, di-
zendo que não tinha sido informa-
do da transferência. Uma “falha de 
comunicação”, considerou Mário 
Centeno, que quase saiu do Gover-
no por conta desta polémica. 
Em causa está a injeção de 
1.035 milhões de euros, referente 
às contas de 2019, que o Novo 
Banco recebeu do Fundo de Re-
solução para reforçar os rácios de 
capital. Somando às outras inje-
ções, falta agora perto de mil mi-
lhões para o banco chegar ao tec-
to máximo de 3,89 mil milhões. 
 
Injeção única pouparia 
dinheiro e polémica? 
Em cima da mesa chegou a estar 
a hipótese de uma injeção única. 
O Governo e o Banco de Portugal, 
através do Fundo de Resolução, 
bem como o Lone Star, dono de 
75% do Novo Banco, chegaram a 
discutir essa possibilidade, tal com 
o Expresso escreveu em novem-
bro do ano passado. 
E chegaram a ser avançados nú-
meros. De acordo com o Público, 
esta injeção de uma só vez seria de 
1.400 milhões de euros (tendo aca-
bado por se fazer a de mil milhões 
ditada pelos resultados), o que per-
mitiria uma poupança de 600 mi-
lhões face ao valor máximo que o 
fundo pode injetar. Chegou entre-
tanto uma pandemia com forte im-
pacto na economia e na banca. Este 
cenário deverá ditar um aumento 
do crédito malparado, gerando no-
vas perdas para o Novo Banco, o 
que poderá levar o banco a recor-
rer à totalidade do dinheiro.  
54
Os prejuízos de quase 5 mil 
milhões em quatro anos
O Novo Banco foi vendido há 
três anos. Neste processo, 75% 
ficaram nas mãos do Lone Star 
e os restantes 25% do lado do 
Fundo de Resolução. E, ao 
longo deste período, o banco 
tem registado prejuízos avul-
tados, com os resultados a se-
rem pressionados pelas perdas 
associadas à venda de crédito 
malparado e imóveis. 
No total, entre 2016 e 
2019, os prejuízos acumulados 
do Novo Banco chegam perto 
dos 5 mil milhões de euros, 
num período que foi marcado 
pela aposta na “limpeza” do 
crédito malparado. No ano 
passado, o Novo Banco ven-
deu uma das maiores carteiras 
alguma vez transacionadas em 
Portugal, de perto de três mil 
milhões de euros. Isto além de 
outros dois portefólios, como 
o caso dos projetos Sertorius e 
Albatros, em Espanha, e da 
GNB Vida. 
Estas operações geraram 
perdas de 350 milhões de eu-
ros para a instituição financei-
ra liderada por António Ra-
malho, no ano passado. 
A deputada Helena Rose-
ta chegou a afirmar, no Parla-
mento, que, na “limpeza do ba-
lanço que o Novo Banco tem 
vindo a fazer, estão a ser vendi-
dos ‘ativos imobiliários não es-
tratégicos’, ao desbarato e com 
grandes perdas, ao primeiro 
que se apresente”. Fonte oficial 
do banco contra-argumentou, 
dizendo que o Novo Banco 
“não vende, nem pretende vir 
a vender, quaisquer imóveis a 
preços desajustados de valores 
de mercado”.  
A devolução do dinheiro 
se houver má gestão 
Depois das “falhas de comuni-
cação” entre António Costa e 
Mário Centeno, os bónus atri-
buídos aos gestores e os au-
mentos salariais, também o 
contrato de venda do Novo 
Banco ficou em xeque. 
António Costa, em respos-
ta à coordenadora do Bloco de 
Esquerda, Catarina Martins, 
afirmou no Parlamento que, 
“se a auditoria [da Deloitte] 
concluir que houve má gestão, 
o Fundo de Resolução tem 
toda a legitimidade para agir 
no sentido da recuperação do 
dinheiro que desembolsou” e 
que não tinha de o fazer. 
Como o Negócios avan-
çou, caso venha a ser detetada 
uma violação grosseira e reite-
rada de uma ou mais das obri-
gações definidas no contrato 
assinado com o Lone Star – 
nomeadamente a obrigação 
de gestão sã e prudente -, o 
Fundo de Resolução pode de-
nunciar o contrato e recorrer 
aos tribunais. Uma questão 
que levou o Bloco de Esquer-
da a requerer o acesso ao con-
trato, um pedido já aprovado 
por unanimidade. 
O conselho de administra-
ção do Novo Banco também 
reagiu a esta questão, dizendo 
“não aceitar e lamentar pro-
fundamente que o bom nome 
da instituição continue a ser 
usado como arma de arremes-
so político e/ou manobras po-
lítico-mediáticas”. O banco 
acredita ser “seguramente 
uma das entidades bancárias 
mais escrutinadas, tanto a ní-
vel nacional como a nível eu-
ropeu”.  
fosse criada uma provisão para o 
bónus. Um reforço com o qual o 
fundo não concordou, perante as 
recomendações europeias para 
que não sejam pagos prémios aos 
gestores dos bancos, num período 
marcado pela incerteza quanto ao 
impacto e duração da pandemia. 
Para esta entidade, não fazia 
sentido constituir uma provisão 
para algo que poderá não aconte-
cer, penalizando entretanto os re-
sultados do banco, explica fonte 
próxima, notando que esta ques-
tão será novamente analisada pela 
comissão de remunerações, mas 
só em 2022, ano em que o paga-
mento poderá, ou não, avançar. 
O custo reputacional 
que o NB suporta 
anualmente 
só terminará 
[com a conclusão] 
da reestruturação. 
ANTÓNIO RAMALHO 
CEO do Novo Banco 
“
2 
BÓNUS 
A comissão de 
remunerações do NB 
atribuiu um bónus de 
2 milhões aos gestores. 
350 
PERDAS 
As carteiras de ativos 
vendidas em 2019 
geraram perdas de 
350 milhões de euros. 
2017 
VENDA 
O contrato de venda 
do Novo Banco foi 
assinado em outubro 
de 2017. 
16 
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
EMPRESAS
A The Navigator Company vai desen-volver até ao fim do ano uma pesquisa de 
mercado para procurar com-
preender quais vão ser os hábi-
tos de consumo no futuro em 
consequência do novo corona-
vírus. É que, com o encerramen-
to de escolas e universidades e o 
recurso por parte de muitas em-
presas ao teletrabalho, o grupo 
prevê já para o ano de 2020 uma 
quebra de 15% no volume do 
segmento de papéis finos de im-
pressão e escrita não revestidos 
(“uncoated woodfree”, ou 
UWF), área na qual ainda emabril decidiu reduzir a produção. 
Por essa razão, o presidente 
executivo do grupo, António Re-
dondo, disse, na conferência te-
lefónica com analistas para 
apresentação dos resultados do 
primeiro trimestre deste ano, 
que “obviamente estamos a 
olhar para alternativas para de -
senvolver o negócio”. 
“É cedo para saber o que vai 
acontecer estruturalmente no 
mercado UWF. Não sabemos 
qual o impacto do teletrabalho 
ou se, no futuro, as escolas vão 
ter um misto de online e aulas 
presenciais”, afirmou o respon-
sável, revelando que o grupo está 
a analisar as mudanças nos há-
bitos de consumo. 
António Redondo frisou que 
a Navigator está confortável 
com a sua posição neste merca-
do, “mas isto só significa que te-
mos tempo para ajustar”, disse. 
Entre as alternativas considerou 
que “a pasta é a mais imediata”, 
garantindo que a empresa “tem 
capacidade de estar mais pre-
sente no mercado da pasta se for 
preciso”. Também no “tissue” – 
utilizado em produtos como pa-
pel higiénico, rolos de cozinha 
ou lenços de papel – sublinhou 
que o grupo tem “capacidade de 
otimizar mais as operações” e 
“retirar mais valor do mercado”. 
Para o CEO da Navigator há ain-
da produtos que, de alguma for-
ma, estão relacionados com pa-
pel, que são alternativos ao plás-
tico, que irão “ter um desenvol-
vimento mais forte nos próxi-
mos anos”. Estes produtos re-
presentavam há dois anos me-
nos de 2% do portefólio da Na-
vigator e hoje pesam cerca de 
4,5%, disse. 
O grupo começou ainda em 
2018 à procura de novos seg-
mentos de negócio, estudando a 
possibilidade de produção de 
produtos alternativos ao plásti-
co como copos descartáveis em 
papel, palhinhas ou cotonetes. 
 “Queremos ter um papel na 
substituição do plástico e acha-
mos que algumas das nossas má-
quinas de papel podem ser adap-
tadas facilmente para isso”, afir-
mou António Redondo, frisando 
que “temos de ser adaptativos 
nas máquinas de papel mais pe-
quenas para produtos que não 
sejam o tradicional papel”. 
Já as três máquinas maiores, 
acrescentou, “continuarão a ser 
muito competitivas na área do 
UWF”, sendo que neste seg-
mento de negócio a estratégia 
passa pela “eficiência”. Aos ana-
listas, o CEO da papeleira sub-
linhou que a pandemia começou 
ainda em abril a ter um “impac-
to significativo no mercado de 
papel”, sendo que quer na pasta 
quer no “tissue” as unidades do 
grupo têm continuado a funcio-
nar normalmente. 
INDÚSTRIA
Navigator avalia alternativas 
para enfrentar queda no papel
O grupo vai analisar até ao fim do ano as mudanças que a pandemia provocou nos 
hábitos de consumo de papel. A Navigator quer olhar para alternativas, que podem 
passar pelo reforço na pasta e no “tissue” e por produtos alternativos ao plástico.
MARIA JOÃO BABO 
mbabo@negocios.pt
António Redondo, que é CEO da Navigator desde janeiro, participou segunda-feira num seminário online sobre exportações organizado pela Nova SBE. 
Queremos ter 
um papel na 
substituição do 
plástico e achamos 
que algumas das 
nossas máquinas 
de papel podem 
ser adaptadas 
facilmente 
para isso.
“ Estamos a tentar 
perceber com um 
pequena pesquisa 
de mercado até ao 
fim do ano quais 
vão ser os hábitos 
de consumo daqui 
para a frente. 
ANTÓNIO REDONDO 
CEO da Navigator
“
70 
INVESTIMENTO 
A Navigator decidiu 
cortar mais de metade 
do investimento 
que tinha previsto 
realizar este ano, 
adiando-o para 2021. 
46 
CUSTOS 
A produtora de pasta 
e papel estipulou uma 
meta anual de redução 
de custos fixos em 
2020 de 46 milhões 
de euros, face a 2019. 
256 
LIQUIDEZ 
Em março o grupo 
aumentou a liquidez 
para 256 milhões 
de euros e assegurou 
as necessidades 
financeiras para 2020.
INVESTIMENTO CORTADO 
EM 88 MILHÕES 
Por causa da pandemia a Naviga-
tor decidiu reduzir o plano de in-
vestimento para este ano, dos 158 
milhões de euros inicialmente pre-
vistos para 70 milhões. No primei-
ro trimestre, o grupo despendeu 
22,7 milhões em investimento em 
manutenção, recorrente e ambien-
te, um montante que fica aquém 
dos 32,5 milhões alocados nos pri-
meiros três meses de 2019. 
As respostas do grupo à pandemia 
REVISÃO DO PROGRAMA 
DE REDUÇÃO DE CUSTOS 
Outra das medidas tomadas de 
imediato para preservar o grupo 
foi a revisão da profundidade das 
iniciativas de corte de custos, ten-
do sido determinada uma meta de 
redução dos custos fixos para este 
ano de 46 milhões de euros, com-
parativamente com 2019. O grupo 
já tinha um plano previsto para 
2020 mas foi revisto, envolvendo 
toda a organização. 
TOME NOTA
AUMENTO DA LIQUIDEZ 
NO IMEDIATO 
A Navigator decidiu ainda no final 
de março um aumento da liquidez 
imediata para 256 milhões de eu-
ros, assegurando que todas as ne-
cessidades financeiras para 2020 
estão garantidas. O aumento da li-
quidez resultou do incremento de 
linhas de crédito. Adicionalmente 
assegurou em abril 65 milhões de 
euros adicionais de financiamen-
to de curto prazo. 
 QUARTA-FEIRA 
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 EMPRESAS 
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António Redondo, que é CEO da Navigator desde janeiro, participou segunda-feira num seminário online sobre exportações organizado pela Nova SBE. 
DR
Papeleira ainda conta pagar 
dividendos até ao final do ano
A The Navigator Company can-
celou em maio passado a propos-
ta de pagamento de 99 milhões de 
euros em dividendos, relativos ao 
exercício de 2019, mas o grupo 
ainda considera remunerar os 
acionistas até ao final deste ano. 
Na conferência telefónica com 
analistas para a apresentação dos 
resultados do primeiro trimestre, 
realizada na semana passada, An-
tónio Redondo, CEO da Naviga-
tor, explicou que devido à queda 
da procura de papel provocada 
pela pandemia o grupo decidiu es-
tender a redução da produção e 
recorrer ao lay-off simplificado 
em junho. Um regime que, subli-
nhou, pela legislação portuguesa, 
impede a empresa de pagar divi-
dendos durante o período em que 
estiver a receber o apoio. Por essa 
razão, o conselho de administra-
ção da papeleira alterou esse pon-
to da ordem de trabalhos da as-
sembleia-geral que se realizou a 
28 de maio para os resultados se-
rem integralmente aplicados na 
rubrica de reservas livres. 
Aos analistas, António Redon-
do salientou que estes “tempos de 
grande incerteza requerem uma 
aproximação prudente”, adian-
tando que quando a pandemia co-
meçou o grupo construiu vários 
cenários, estimando que o pior pe-
ríodo terá lugar entre abril e junho. 
Como garantiu, “até agora, os ce-
nários mais drásticos não se con-
firmam”, sendo que mesmo nos 
piores cenários a Navigator acre-
dita ter possibilidade de remune-
rar os acionistas, disse. “Como ve-
mos hoje a situação acreditamos 
que a companhia vai ter possibili-
dade, se os acionistas o quiserem, 
de pagar dividendos no final do 
ano”, afirmou o CEO. Nesse caso 
terão de ser os acionistas a convo-
car nova assembleia-geral, uma 
vez que o conselho de administra-
ção pode propor a distribuição de 
resultados mas não de reservas. 
Apesar de ter cancelado a en-
trega de dividendos agora, o gru-
po tinha já em janeiro entregue aos 
acionistas cerca de 100 milhões de 
euros através da distribuição de 
reservas livres.  
MARIA JOÃO BABO
A decisão do grupo de recorrer ao lay-off simplificado em junho impede-o 
por lei, de pagar dividendos durante um período. António Redondo acredita 
que até ao final do ano a Navigator irá remunerar os acionistas. 
A produtora intensiva de enguias FindFresh 
foi licitada por três investidores, mas o leilão 
terminou sem atingir o valor mínimo fixado.
Enguia da Foz com 
disputa online depois 
de afundar 12 milhões
Colocada em leilão eletrónico 
por um valor base de 1,407 mi-
lhões de euros, a primeira 
grande unidade de aquacultu-
ra em Portugal destinada à 
produção intensiva de enguias, 
que faliu com dívidas de mais 
de 12 milhões de euros, deve-
rá continuar na praça pública 
em busca de comprador. 
É que a primeira tentativa 
de venda, através de leilão on-
line, terminou sem que fosse 
atingido o valor mínimo fixa-do pelos credores – a compe-
tição fechou nos 996 mil eu-
ros, muito abaixo do valor mí-
nimo fixado de 1,217 milhões 
de euros. 
Houve um despique final, 
iniciado a dois minutos do ter-
mo do leilão, quando surgiu 
uma licitação 10 mil euros aci-
ma dos 956,5 mil euros ofere-
cidos uns dias antes. Ora, de 
acordo com as regras desta 
competição, o fim da sessão só 
se verificaria após a ausência 
de licitações nos últimos cin-
co minutos anteriores ou de-
pois da hora-limite. Neste 
caso, ocorreram ainda três lan-
ces, cada um 10 mil euros aci-
ma do anterior. 
De acordo com fonte pró-
xima do processo, as licitações 
foram acionadas por três in-
vestidores, dos quais dois têm 
participação internacional. 
Mais: “Antes do leilão, tivemos 
a manifestação de interesse 
por parte de investidores suí-
ços e ingleses, por exemplo, 
mas que não conseguiram vi-
sitar a unidade devido à pan-
demia”, garantiu a mesma fon-
te ao Negócios. 
Demonstrado que ficou o 
interesse junto do mercado na 
compra da unidade industrial 
da falida FindFresh, tudo indi-
ca que os credores, após deixa-
rem achatar os tempos críticos 
em que vivemos, deverão vol-
tar à carga com um novo pro-
cedimento de venda do único 
ativo da insolvente empresa. 
Instalada na Figueira da 
Foz, a FindFresh, que surgiu 
no mercado com a marca pró-
pria “Enguia da Foz”, entrou 
em atividade em maio de 2016 
pelas mãos do seu mentor e 
principal acionista – o empre-
sário Paulo Vaz. 
Financiada em oito mi-
lhões de euros pelo banco pú-
blico norueguês Eksportkre-
ditt Norge e em 3,9 milhões 
pelo programa comunitário 
Promar, faturou apenas 100 
mil euros em 2017 e 457 mil 
no ano seguinte. Parou na pri-
mavera do ano passado e foi 
declarada insolvente em se-
tembro com dívidas superio-
res a 12 milhões de euros.  
RUI NEVES
AQUACULTURA
1,4 
VALOR BASE 
A produtora de 
enguias foi colocada à 
venda por 1,4 milhões 
de euros, com o valor 
mínimo fixado em 
1,217 milhões de euros. 
996 
LICITAÇÃO 
O leilão online teve 
cinco licitações, com 
a disputa a fechar 
nos 996,5 mil euros, 
abaixo, portanto, 
do valor mínimo. 
18 
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
EMPRESAS
A Fladgate agendou para o final do próximo mês a inauguração do World of 
Wine (WoW), um projeto turísti-
co em que investiu 105 milhões de 
euros nos antigos armazéns da 
Croft e da Taylor’s que, como ou-
tras marcas de vinho do Porto, saí-
ram do centro histórico de Gaia. 
Este quarteirão cultural vai estar 
em modo de “abertura suave”, se-
guindo o ritmo das contratações e 
as expectativas sobre o número de 
visitas, que também foram mode-
rados devido à pandemia. 
“Estamos felizes com o rigor 
nas obras. A partir do momento 
em que surgiu a covid-19 tivemos 
de adaptar procedimentos e tive-
mos atrasos na receção de mate-
riais de fornecedores, mas não pôs 
em causa a data de abertura”, que 
antes do vírus já tinha sido adiada 
um mês face à estimativa original, 
relata ao Negócios o diretor-geral 
do grupo, Adrian Bridge. Sobre os 
visitantes anuais, que no lança-
mento arriscou que chegariam a 
560 mil, diz agora que “dado o 
contexto torna-se mesmo impos-
sível” fazer uma previsão. 
“Temos condições de higiene 
e segurança para receber o merca-
do nacional, sem constrangimen-
tos. Não queremos apontar núme-
ros, nem vamos estar reféns deles 
neste período. Queremos manter 
o investimento e acreditar que va-
mos contribuir para a retoma do 
turismo no Porto e em Portugal, 
de forma cautelosa, progressiva e 
sustentada”, responde o gestor, 
lembrando que o setor “não de-
pende apenas e só do seu traba-
lho”. “Ainda assim, estamos cien-
tes de que a vontade de viajar e de 
usufruir de experiências novas é 
inerente ao ser humano e intrín-
seca nos hábitos”, completa. 
Com pontos em comum com 
a La Cité du Vin, em Bordéus 
(França), o WoW conta com seis 
museus – sobre vinho, copos, cor-
tiça, chocolate, moda e design e a 
história da cidade Invicta –, nove 
espaços de restauração, uma es-
cola de vinhos e várias lojas, num 
total de 55 mil metros quadrados. 
Quando abrirem todos os serviços 
vão trabalhar ali 350 pessoas. O 
recrutamento foi interrompido 
em meados de março devido ao 
novo coronavírus – o grupo colo-
cou mais de 400 funcionários em 
lay-off – e recomeçou em maio 
com “as adaptações necessárias”. 
 
Turismo perde 50% 
Foi em 2010 que a casa de vinho 
do Porto entrou no setor turístico 
com o hotel The Yeatman, vizinho 
do WoW, reforçado depois com as 
compras do Infante Sagres (Por-
to) e do Vintage House (Pinhão). 
Adrian Bridge, genro de Alistair 
Robertson (sócio maioritário e 
atual presidente não executivo da 
Fladgate), confia que “o mercado 
nacional pode ser um bom início 
de retoma”. Porém, com 85% da 
faturação do ramo hoteleiro de-
pendente de clientes estrangeiros, 
prevê que “o decréscimo de recei-
ta no setor seja de 50%” em 2020. 
No ano passado, o turismo 
contribuiu com 36 milhões para 
as vendas totais de 125 milhões 
de euros. A distribuição (Herita-
ge e OnWine) valeu 27 milhões 
e o vinho gerou os restantes 62 
milhões, enfrentando um “mo-
mento desafiante”. O líder da 
Taylor’s, Croft, Fonseca e Krohn 
não arrisca “deduzir as perdas” 
quando exporta para 103 países, 
mas invoca os 328 anos da em-
presa para concluir que “já foram 
ultrapassadas muitas crises e 
esta não será diferente”.  
TURISMO
Projeto de 105 milhões abre 
em Gaia sem previsão de visitas
O World of Wine arranca no final de julho no espaço reabilitado das antigas caves 
da Croft e da Taylor’s. A pandemia não atrasou as obras, mas adiou o recrutamento 
dos 350 trabalhadores e “impossibilita” a estimativa sobre o número de visitantes. 
O novo “vizinho de baixo” do hotel The Yeatman ocupa 55 mil metros quadrados no centro histórico de Gaia. 
Paulo Duarte
ANTÓNIO LARGUESA 
alarguesa@negocios.pt 
36 
RECEITAS DO TURISMO 
Em 2019, o segmento 
turístico contribuiu 
com 36 milhões para 
a faturação recorde 
da Fladgate, a rondar 
os 125 milhões de euros. 
Não queremos 
apontar números, 
nem vamos estar 
reféns deles neste 
período [de incerteza]. 
ADRIAN BRIDGE 
Diretor-geral do grupo 
The Fladgate Partnership 
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Pr
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 c
om
pr
a 
da
 e
di
çã
o 
do
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ia
.
O CM e a KARCHER oferecem, no próximo sábado, dia 6, 
máscaras a todos os leitores do Correio da Manhã.
A máscara é para uso pessoal/individual e não para fins médicos.
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 QUARTA-FEIRA 
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 3 JUN 2020
NEGÓCIOS SUSTENTABILIDADE
A
sustentabilidade, 
nas suas três ver-
tentes, e um maior 
interesse dos con-
sumidores pelos 
produtos nacionais, tem levado 
as cadeias de retalho a aumen-
tarem as suas compras nacio-
nais e até locais, rentabilizando 
também da melhor forma as 
suas cadeias logísticas. 
Ondina Afonso, presidente do 
Clube de Produtores Continen-
te (CPC), assegura ao Negócios 
que “independentemente da si-
tuação económico-financeira do 
nosso país, a Sonae MC desen-
volve, desde 1998, uma relação 
próxima com produtores do se-
tor agroalimentar e agropecuá-
rio – através do Clube”. Mas sa-
lienta: “Ajudar os produtores por-
tugueses no escoamento de pro-
dutos essenciais, nesta fase de 
emergência nacional, foi e conti-
nua a ser o objetivo do Continen-
te ao abrir a integração de novos 
membros no CPC. Em março 
lançámos o convite e, em apenas 
duas semanas, acolhemos mais 
de 40 novos membros”. 
Também Bruno Pereira, ad-
ministrador de compras do Lidl 
Portugal, nos diz que “faz parte da 
génese do Lidl o apoio à produção 
nacional ea garantia de um traba-
lho de proximidade com os seus 
fornecedores e produtores nacio-
nais, privilegiando parcerias de 
longo prazo”. E, “neste momento 
difícil, estamos conscientes da im-
portância dos nossos compromis-
sos perante um contexto adverso 
(…). Podemos afirmar que, na ca-
tegoria de Frutas e Legumes, nos 
meses de março e abril, aumentá-
mos a compra de artigos nacionais 
em aproximadamente 25%, quan-
do comparado com o ano passa-
do”. 
A presidente do CPC adianta 
que “já estávamos a aumentar as 
compras à produção nacional 
mesmo antes da pandemia. A tí-
tulo de exemplo, no 1.º trimestre 
do ano, comprámos mais de 71,3 
milhões de euros à produção na-
cional, um aumento de cinco mi-
lhões face ao período homólogo 
(…) de um modo transversal, em 
todas as categorias, desde a carne 
– com forte incidência junto dos 
produtores das raças autóctones – 
aos queijos tradicionais a frutos e 
legumes”. 
 
Setor dos queijos muito 
afetado com covid-19 
Ondina Afonso refere que “de fac-
to, os queijos tradicionais foram 
uma das categorias mais ‘fustiga-
das’ com a crise sanitária e, como 
forma de ajudar ao escoamento de 
produtos únicos e de excelência, 
organizámos a Feira de Queijos de 
Portugal, onde ao final de três se-
manas se venderam mais de 100 
toneladas de queijos portugue-
ses”. 
Bruno Pereira afirma igual-
mente que “o Lidl está a traba-
lhar com outros fornecedores 
não habituais, no seguimento 
do apelo do Ministério da Agri-
cultura, para que os retalhistas 
alimentares associados da 
APED [Associação Portuguesa 
de Empresas de Distribuição] 
aumentassem as suas compras 
a categorias de produto como, 
por exemplo, os queijos, por 
forma a garantir o escoamento 
de pequenos produtores, que vi-
ram encerrados os seus canais 
tradicionais de venda. Nesse 
sentido, temos disponíveis no-
vos queijos nacionais em loja, 
como forma de apoio à produ-
ção nacional. O setor dos quei-
jos está a ser bastante afetado 
pelo contexto da covid-19, ao 
perder, no canal Horeca, mui-
tas das suas vendas”. 
O CPC trabalha com várias 
organizações de produtores “con-
seguindo-se uma otimização no 
armazenamento e transporte (…) 
facilitando assim os processos lo-
gísticos”, por seu lado, o Lidl 
“aposta já numa estratégia de sim-
plificação da logística e da sua ca-
deia de distribuição, prezando não 
só por uma otimização da ocupa-
ção dos camiões, mas pela otimi-
zação das rotas”, sulinha Bruno 
Pereira.  
A covid-19 levou as grandes cadeias de retalho a apostarem ainda 
mais na compra a produtores locais, reforçando uma estratégia que 
já vinham a implementar para aumentarem a sua sustentabilidade. 
O setor dos queijos foi um dos que mais sofreram com a crise sanitária.
EMÍLIA FREIRE 
Pandemia 
reforça aposta 
em compras 
locais 
“A situação dos 
produtores nacionais 
motivou (…) ações por 
parte do Ministério 
da Agricultura, no 
sentido de promover 
o consumo junto 
das populações. 
NUNO RUSSO 
Secretário de Estado 
da Agricultura 
“Ajudar os produtores 
portugueses no 
escoamento de 
produtos essenciais, 
nesta fase de 
emergência nacional, 
foi e continua a ser 
objetivo do Continente. 
ONDINA AFONSO 
Presidente do Clube 
de Produtores Continente 
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 SUSTENTABILIDADE 
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1.000Número de produtores que se inscreveram na plataforma “Alimente quem o Alimenta”, criada pelo Ministério da Agricultura, para mitigar os efeitos da pandemia.
DR
Para responder à pandemia covid-19, o Ministério da Agricultura lançou um 
conjunto de medidas, “com o objetivo de assegurar o funcionamento do se-
tor agrícola e mitigar as quebras de procura”, explica ao Negócios o secre-
tário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Nuno Russo. 
“A situação dos produtores nacionais motivou desde logo um conjunto 
de ações por parte do Ministério da Agricultura, no sentido de promover 
o consumo junto das populações, sensibilização dos grandes grupos de 
retalho alimentar para a compra destes produtos, dos mercados abaste-
cedores ou das autarquias para se assegurar o funcionamento regular 
dos mercados locais e municipais”. 
Especificamente para as cadeias curtas, Nuno Russo adianta que “foram 
alargadas as possibilidades de escoamento, além dos mercados locais, 
incluindo apoios diretos às deslocações aos pequenos produtores. Para-
lelamente, criámos a Plataforma ‘Alimente quem o Alimenta’ que, no se-
guimento de uma campanha de incentivo ao consumo de produtos nacio-
nais, a qual alcançou mais de quatro milhões de pessoas, procurou apro-
ximar produtores e consumidores e agilizar o escoamento. Esta platafor-
ma (https://www.alimentequemoalimenta.pt/) registou, no primeiro 
mês, a inscrição de cerca de mil produtores e, no mesmo período, obteve 
mais de cem mil interações”. 
Ministério apoia mercados 
locais e cadeias curtas 
“O Lidl está 
a trabalhar 
com outros 
fornecedores 
não habituais, 
no seguimento do 
apelo do Ministério 
da Agricultura. 
BRUNO PEREIRA 
Administrador de compras 
do Lidl
As vias para 
uma logística 
mais sustentável
As empresas de logística e trans-
porte têm apostado em estraté-
gias e iniciativas para tornarem 
as suas operações mais susten-
táveis, com o objetivo de cum-
prirem as metas da União Euro-
peia (UE) ao nível da descarbo-
nização da economia e da elimi-
nação do desperdício, mas tam-
bém pela imposição do merca-
do e dos clientes. 
A sustentabilidade torna-se, 
assim, um importante fator de 
competitividade. 
O presidente da Associação 
Portuguesa de Logística 
(APLOG) diz ao Negócios que 
“a logística tem tido um papel 
determinante na procura e im-
plementação das melhores prá-
ticas ao nível da sustentabilida-
de (…) em todas as dimensões da 
sua atividade”, ou seja, ao nível 
dos “ativos, processos, transpor-
tes, energia e pessoas”, refere 
Raul Morais Magalhães. 
As embalagens têm um peso 
muito grande na logística e as 
empresas têm procurado dar 
resposta às metas da União Eu-
ropeia (UE), nomeadamente ao 
objetivo de todas as embalagens 
de plástico serem reutilizáveis 
até 2030. A UPS, por exemplo, 
lançou no início do ano passado, 
um projeto inovador na área da 
reutilização e reciclagem de em-
balagens. O sistema Loop, que 
elimina a dependência da utili-
zação única de embalagens. Ou 
seja, os consumidores recebem 
as suas encomendas em emba-
lagens duráveis e específicas 
para cada marca, que uma vez 
utilizadas, são recolhidas, lim-
pas, recarregadas e reutilizadas 
noutras entregas. 
“Os resíduos sempre foram 
uma preocupação nesta ativida-
de e têm constituído casos de es-
tudo, quer na sua racionalização, 
quer no seu aproveitamento”, 
afirma o presidente da APLOG. 
Um desses casos é o projeto 
Zero Waste World lançado pela 
australiana Brambles, que de-
tém a marca CHEP (paletes), e 
que se baseia em três pilares des-
tinados a ajudar os clientes na 
Europa e Estados Unidos a re-
duzir desperdício e melhorar a 
eficiência nas suas cadeias de 
abastecimento. Os pilares são a 
eliminação de desperdício, des-
de o packaging de utilização úni-
ca até aos produtos não “vendá-
veis”; a erradicação de quilóme-
tros em vazio; e o corte das ine-
ficiências e melhoria da rastrea-
bilidade na cadeia de abasteci-
mento. 
No futuro, Raul Morais Ma-
galhães considera que “a utiliza-
ção de inteligência artificial, o re-
curso crescente à automação e à 
digitalização é o caminho para 
uma logística mais sustentável” 
e “os recentes acontecimentos, 
crise pandémica, serão um ace-
lerador destas tendências”. 
A covid-19 provocou altera-
ções “a todos os níveis da cadeia 
de abastecimento” e o presiden-
te da APLOG frisa que “o incre-
mento das compras locais foi 
uma necessidade imediata nos 
últimos meses, caso contrário 
corríamos o risco de ter ruturas 
ou disrupções nas cadeias de 
abastecimento em particular 
nas alimentares e de bens de pri-
meira necessidade”. 
Raul Morais Magalhães de-
fende que “a crise provocada 
pela covid-19 veio, se necessário 
fosse, evidenciar algum

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